31 de janeiro de 2010

SANTA MISSA EXPLICADA - PARTE 8

A MISSA DE SÃO PIO V EXPLICADA

Fontes:
- Explicações sobre as partes da Missa: "Curso de Liturgia" - Pe.Reus;
- Citações: "Suma Teológica", de Santo Tomás de Aquino; e "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre;

PARTE VIII - CÂNON - ORAÇÕES DEPOIS DA CONSAGRAÇÃO

“Unde et Memores”

O Unde et memores (anamnese = recordação). "Fazei isto em memória de mim" são as palavras do Senhor. O celebrante em nome do clero (servi tui) e dos fiéis (plebs tua) cumpre esta vontade divina de três modos, pela recordação verbal, real e simbólica. Com palavras repassadas de gratidão enaltece durante o sacrifício incruento em primeiro lugar o mistério do sacrifício cruento, a saber, a sagrada paixão e depois também a glorificação do Redentor. Anuncia, como quer S. Paulo (I Cor 11, 26), "a morte do Senhor". Antigamente, às vezes, se acrescentavam os mistérios da incarnação, do nascimento ou do segundo advento. Porém havia sempre reação contra êstes acréscimos menos aptos.

A recordação real já se efetuou na consagração. Contudo o celebrante torna a fazê-la oferecendo em sacrifício a vítima pura, a vítima santa, a vítima imaculada, o pão santo e o cálix da salvação. A recordação simbólica pode-se ver pelas cinco cruzes que acompanham as últimas palavras e lembram a morte na cruz e as cinco santas chagas.

Unde et mémores, Dómine, nos servi tui sed et plebs tua sancta, ejúsdem Christi Fílii tui Dómini nostri tam beatæ passiónis, nec non et ab ínferis resurrectiónis, sed et in cælos gloriósæ ascensiónis: offérimus præcláræ majestáti tuæ de tuis donis ac datis, hóstiam puram, hóstiam sanctam, hóstiam immaculátam, Panem sanctum vitæ ætérnæ, et Cálicem salútis perpétuæ.

Por este motivo, Senhor, nós, vosso servos, e o vosso povo santoa, recordando a feliz Paixão do mesmo Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, bem como a sua Ressurreição de entre os mortos e a usa gloriosa Ascenção aos céus, oferecemos à vossa preclara Majestade, dos dons de que Vós próprio nos fizestes mercê, a hóstia pura, hóstia santa, hóstia imaculada, o pão santo da vida eterna e o cálix da eterna salvação.

“4ª etapa da Paixão: A própria paixão de Cristo. Por isso, para simbolizar as cinco chagas, traçam-se uma quarta vez cinco cruzes, ao se proferirem as palavras: “hostiam puram, hostiam sanctam, hostiam immaculatam, panem sanctum vitae aeternae, et calicem salutis perpetuae” (“hóstia pura, hóstia santa, hóstia imaculada, o pão santo da vida eterna e o cálice da salvação perpétua”)” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3).

“Supra quae”

O Supra quae. De novo o celebrante pede a Deus que se digne aceitar êste sacrifício, "com rosto propício e sereno" corno aceitou os sacrifícios prefigurativos antigos de Abel, que ofereceu um cordeiro, de Abraão, que ofereceu o seu filho, e de Melquisedeque, que ofereceu pão e vinho, e que se digne conceder aos suplicantes as virtudes da inocência, da fé firme e da santidade, com que êstes três santos varões agradaram a Deus e se ofereceram em holocausto.

Supra quæ propítio ac seréno vultu respícere dignéris: et accépta habére, sícuti accépta habére dignátus es múnera púeri tui justi Abel, et sacrifícium patriárchæ nostri Abrahæ: et quod tibi óbtulit summus sacérdos tuus Melchísedech, sanctum sacrifícium, immaculátam hóstiam.

Sobre estas ofertas, dignai-Vos lançar olhar propício e complacente; aceitai-as, assim como Vos dignastes aceitar os dons do justo Abel, vosso servo, o sacrifício de Abraão, nosso pai, e que vos ofereceu o vosso sumo sacerdote Melquisedeque, sacrifício santo, hóstia imaculada.

“Ainda que este sacrifício em si mesmo seja superior a todos os sacrifícios antigos, contudo estes foram muito agradáveis a Deus por causa da devoção de quem os oferecia. Portanto, o sacerdote pede que este sacrifício seja aceito por Deus, em vista da devoção dos que o oferecem. Assim como foram aceitos os sacrifícios antigos” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.4 ad8).

“Supplices”

O Supplices. Não contente com a própria santidade, o sacerdote, humildemente inclinado, pede que um anjo leve a oferta à presença da divina Majestade e que os fiéis, pelo santo sacrifício, sejam "cheios de toda a bênção celeste e graça". A estas palavras o celebrante se benze, como para tomar parte nesta bênção divina.

O anjo de que aqui se fala é um, ou, em sentido coletivo, o côro dos espíritos celestes. Pois a eles, conforme a revelacão (Apoc 8, 3), compete este serviço sublime. Alguns julgam que este anjo seja Jesus Cristo, "o anjo do testamento" (Mal 3, 1). Mas as Liturgias orientais falam dos anjos em geral. Outros vêem no anjo o Espírito Santo. Mas esta explicação é hipótese duvidosa.

Súpplices te rogámus, omnípotens Deus: jube hæc perférri per manus sancti Angeli tui in sublíme altáre tuum, in conspéctu divínæ majestátis tuæ: ut quoquot ex hac altáris participatióne sacrosánctum Fílii tui Corpus, et Sánguinem sumpsérimus, omni benedictióne cælésti et grátia repleámur. Per eúmdem Christum Dóminum nostrum. Amen.

Suplicantes Vos rogamos, Deus omnipotente, façais que estas ofertas sejam levadas pelas mãos do vosso santo Anjo para o vosso sublime altar, à presença da vossa divina Majestade, a fim de que todos nós, que, comungando deste altar, recebermos o sacrossanto Corpo e Sangue do vosso Filho, sejamos cumulados de todas as bênçãos e graças celestes. Por Jesus Cristo Senhor nosso. Ámen.

“5ª etapa da Paixão: Os suplícios do corpo e o derramamento do sangue, e o fruto da paixão são simbolizados por meio das três cruzes traçadas com as palavras: “corpus et sanguinem sumpserimus, omni benedictione” (“a fim de que recebendo o corpo e sangue sejamos repletos de toda bênção”)” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3).

“O sacerdote não pede que sejam levadas ao Céu as espécies sacramentais, nem o Corpo real de Cristo, que não cessa de lá estar presente. Mas pede isto para o Corpo Místico, que é significado neste sacramento, isto é, para que o anjo, presente aos divinos mistérios, apresente a Deus as orações dos fiéis e do sacerdote, conforme o dito do Apocalipse: “E a fumaça dos perfumes, com as orações dos santos, subiu diante de Deus pelas mãos do anjo” (Ap VIII, 4). Pois, “o sublime altar de Deus” significa ou a própria Igreja triunfante, para a qual pedimos ser transportados; ou o mesmo Deus, a quem pedimos ser unidos. Pois, é dito deste altar: “Não subirás a meu altar por degraus” (Ex XX, 26), isto é: “não farás degraus na Trindade”. Ou pelo anjo se entende o próprio Cristo, que é o “Anjo do Grande Conselho”, que une seu Corpo Místico a Deus Pai e à Igreja triunfante” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.4 ad9).

“Memento etiam”

O Memento dos mortos. Tendo rezado na oração procedente pelos vivos, o celebrante lembra-se etiam, também, das almas no purgatório. É esta recordação o resto da leitura dos dípticos antigos. Mas reza só pelos que, com caráter do batismo (signo fidei), em paz com Deus e com a Igreja (in somno pacis), passaram para a eternidade. Tendo recomendado à divina misericórdia as pessoas designadas nomeadamente, suplica também por todos os fiéis.

A Igreja como boa mãe não esquece nem o mais desconhecido dos seus filhos.

Durante o Memento o celebrante olha para a S.hóstia como num gesto natural de se dirigir a Deus presente, e motivado pelo fato de serem os fiéis "in Christo quiescentes". Ao Per eundem Christum, inclina a cabeça, o único lugar na Liturgia, em que se prescreve a inclinação ao nome de Cristo.

Meménto étiam, Dómine, famulórum famularúmque tuárum N. et N., qui nos præcessérunt cum signo fídei, et dórmiunt in somno pacis.
Ipsis, Dómine, et ómnibus in Christo quiescéntibus, locum refrigérii, lucis et pacis, ut indúlgeas, deprecámur. Per eúmdem Christum Dóminum nostrum. Amen.

Lembrai-Vos também, Senhor, dos vossos servos e servas (NN. e NN.), que nos precederam, marcados com o sinal da fé, e agora dormem no sono da paz.
A estes, Senhor, e a todos aqueles que repousam em Cristo, Vos pedimos concedais misericordioso o lugar do refrigério, da luz e da paz. Pelo mesmo Jesus Cristo Senhor nosso. Ámen.

“Nobis quoque”

O Nobis quoque peccatoribus. O celebrante pede para si e para o clero o que acaba de desejar às almas do purgatório. Com muita humildade e batendo no peito se declara satisfeito com uma parte pequena (partem aliquam) da glória dos santos, confiando só na misericórdia divina (non aestimator meriti sed veniae largitor). Pelas palavras cum tuis sanctis Apostolis et martyribus a oração continha a série dos santos do Communicantes. Segundo Batifol (Leçons sur la Messe 229 sq) o papa Símaco deu-lhe a última redação. João, i.é, João Batista; que este João é o Batista é certo pela Liturgia de S. Tiago: "S. João, o profeta magnífico, precursor e Batista." Liturgistas orientais concedem que a palavra "mártires" do cânon romano se pode aplicar ao Batista (Inn. III P. L. 894; Sicardo P. L. 133; Durandus IV c. 46 n. 7. S. Aug. in P 5. 148 chama-o mártir); Alexandre I (+119); Marcelino, sacerdote romano (+304); Pedro exorcista romano (+304); Felicidade e Perpétua, duas mulheres de Cartago (+ 202), cuja festa se celebrava em Roma já pelos anos 330-350, fato comprovado pelo antigo calendário romano. Segundo alguns, Felicidade seria a matrona romana (23 de nov.). Agueda (+251) e Luzia (+ 304) são sicilianas; Inês, virgem romana de 13 anos (+304); Cecília (+203?); Anastásia, mártir, sepultada em Roma.

Nobis quoque peccatóribus fámulis tuis, de multitúdine miseratiónum tuárum sperántibus, partem áliquam, et societátem donáre dignéris, cum tuis sanctis Apóstolis et Martýribus: cum Joánne, Stéphano, Matthía, Bárnaba, Ignátio, Alexándro, Marcellíno, Petro, Felicitáte, Perpétua, Agatha, Lúcia, Agnéte, Cæcília, Anastásia, et ómnibus Sanctis tuis: intra quorum nos consórtium, non æstimátor mériti, sed véniæ, quaésumus, largítor admítte. Per Christum Dóminum nostrum.

A nós também, pecadores, vossos servos, confiados nas vossas infinitas misericórdias, dignai-Vos conceder entremos a fazer parte da sociedade dos vossos Santos Apóstolos e Mártires, João, Estêvão, Matias, Barnabé, Inácio, Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade, Perpétua, Águeda, Lúcia, Inês, Cecília, Anastásia e todos os vossos Santos, em cujo consórcio Vos pedimos nos admitais com vossa liberalidade, não já em consideração dos nossos méritos, mas sim pela vossa indulgência.Por Jesus Cristo Senhor nosso.

“Per quem”

O Per quem haec omnia. A explicação mais simples mais sublime do texto atual vê nesta oração uma glorificação do Verbo divino. "Pelo qual", refere-se à terminação da oração precedente: "Por Cristo Senhor Nosso", que não conclui com "Amém". Deus criou pelo Verbo divino o pão, o vinho e a água (haec omnia) e ainda cria conservando-os (semper creas), santifica (pela consagração), fá-los alimento vivo e vivificante (vivificas), comunica a bênção essencial, i.é, a união íntima de Cristo com os seus membros místicos (benedicis; Bellarm. II. c. 26 de Missa), e os distribui (praestas nobis). É um hino de louvor ao poder e à liberalidade de Cristo eucarístico.

Quanto à origem e ao sentido primitivo, a hipótese mais provável vê nesta fórmula uma bênção ou a conclusão de uma bênção de frutos e outros objetos de uso humano e litúrgico. Provas encontram-se nos antigos sacramentários e nos ritos orientais. A bênção dos santos óleos na quinta-feira santa ainda subsiste. As cruzes faziam-se sôbre os objetos. A bênção nupcial provavelmente dada aqui, foi transferida para o fim do Padre Nosso.

Per quem hæc ómnia Dómine, semper bona creas, sanctíficas, vivíficas, benedícis, et præstas nobis.

Por Ele, Senhor, criais sempre todos estes bens, os santificais, vivificais, abençoais e no-los concedeis.

“6ª etapa da Paixão: A tríplice oração que Cristo fez na cruz, uma pelos pecadores, quando disse: “Pai, perdoai-lhes”, a segunda para livrar-se da morte, quando disse: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” e a terceira se refere à obtenção da glória, quando disse: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Para significar isso, fazem-se três cruzes com as palavras: “sanctificas, vivificas, benedicis” (“pela qual santificais, vivificais, abençoais”)” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3).

“Per ipsum”

O Per ipsum. Por Jesus Cristo, pelo qual tudo foi feito, com Jesus Cristo, que tudo conserva, em Jesus Cristo (Rom 11, 36), a quem tudo foi subordinado, e que é, por conseguinte, a hóstia mais sublime, presta-se a Deus o culto mais sublime, "tôda a honra e glória". O celebrante acompanha estas palavras com cruzes: três sôbre o cálix que contém o SS. Sangue, fora do cálix uma a Deus Padre que entregou seu Filho à morte na cruz, uma ao Espírito Santo que preparou a Vítima divina na incarnação. Às palavras omnis honor et gloria, elevam-se a hóstia e o cálix ao alto. Antigamente só havia esta única elevação, que agora tem o nome de "elevação menor". Assim termina o cânon belissimamente, com uma solene profissão de fé na SS. Trindade, e a solene conclusão: Per omnia saecula saeculorum. Amen.

Per ipsum, et cum ipso, et in ipso, est tibi Deo Patri omnipoténti, in unitáte Spíritus Sancti, omnis honor et glória.
Per ómnia saecula saeculórum.
Amen.


Por Ele, com Ele e n’Ele, a Vós, Deus Pai omnipotente, na unidade do Espírito Santo, é dada toda a honra e glória.
Por todos os séculos dos séculos.
Ámen.


“7ª etapa da Paixão: As três horas em que Cristo esteve pregado na cruz, isto é, da hora Sexta à nona. Para simbolizar isto, traçam-se três cruzes com as palavras: “per ipsum, et cum ipso et in ipso” (“por ele, e com Ele e n’Ele”)”

“8ª etapa da Paixão: A separação da alma e do corpo é representada por duas cruzes feitas em seguida fora do cálice” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3).

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