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10 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

10 de Julho

Salomão e Jó

Salomão e Jó, observa Pascal, foram os que até hoje falaram melhor da miséria do homem. Um feliz, o outro desgraçado. Aquele conheceu pela experiência a vaidade dos prazeres; este, a realidade dos males. A pompa de Salomão deslumbrou todo o mundo. Foi o mais rico e feliz dos monarcas. Que lhe faltou? Tudo quanto pode desejar um coração, ele o possuía. A glória, o gênio, a beleza, o prazer, as honras, o ouro! E termina seus dias na solidão, no abandono! E tamanha glória passa como o vento.

Vanitas, vanitatum et omnia vanitas! – “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!”

Salomão é a triste experiência da vaidade, dos prazeres e de toda felicidade terrena. Que vale apegar-se loucamente ao que tão depressa se vai deixar? Não nos deslumbre a pompa de Salomão. Também não nos assuste a desgraça de Jó. Este começou feliz e rico, amigo do Senhor. Veio a sofrer as maiores desventuras e calamidades. Conheceu a realidade dos males. E a prosperidade faz Salomão pecador e idólatra. A desgraça purifica ainda mais e santifica maravilhosamente o pobre Jó. Livre-nos o Senhor da prosperidade de Salomão, que acaba no pecado e é vaidade das vaidades. E lembremo-nos de Jó, do qual diz a Escritura: “não pecou contra o Senhor, não blasfemou contra o Céu, na desgraça.”

Ó pobreza de Jó sem pecado, és verdadeira riqueza!

Ó riqueza de Salomão com o pecado, és verdadeira e real pobreza!

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

9 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

9 de Julho

Caminho da Casa Paterna

"Há muitas moradas na casa de meu Pai”, disse Nosso Senhor, mas, segundo comenta piedoso autor, é um só o caminho para lá chegar: o da Santa Cruz, de que nos fala a Imitação. O filho pródigo não teria voltado à casa paterna se a dor e a miséria o não tivessem batido. É tão grande a misericórdia Divina que nos obriga pelo sofrimento a ter saudades do Céu, desapegando-nos assim de toda vaidade e ilusão deste mundo. E, quando o coração se desiludiu das criaturas e já sofreu bastante, toma uma resolução:

Surgam et ibo ad Patrem – “Eu me levantarei e irei a meu Pai”.

E se põe sem demora a caminho da casa paterna. A Divina Providência, em Sua Misericórdia, de tal modo dispõe as coisas neste mundo, que nos coloca na feliz impossibilidade de nos acostumarmos com a felicidade e o paraíso que a terra nos promete e oferece. O sofrimento é o nosso caminho para a casa paterna.

"Creio, no fundo de minha alma, e sinto em minha consciência – escreveu Demaistre – que, se o homem pudesse viver neste mundo isento de todo sofrimento, acabaria por se embrutecer a ponto de ficar inteiramente esquecido de todas as coisas celestes e do próprio Deus. E como nos poderíamos ocupar de uma ordem superior de coisas, se, nada em que vivemos, as misérias que nos acabrunham não nos desiludissem dos encantos enganadores desta vida infeliz!”

Dor bendita! És o caminho da casa de meu Pai!

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

8 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

8 de Julho

Exílio do Coração

O mais triste dos exílios é o do coração. Faz sofrer mesmo dentro da família e da pátria. Sofrimento do amor, é inevitável, pois, no dizer do fino psicólogo da Imitação, “não se vive sem amar e não se ama sem sofrer”. As almas nobres sentem no coração um abismo, que nada pode encher. Nem o prazer dos sentidos, nem as honras, nem as glórias, nem o amor da terra. Daí a melancolia dos grandes corações, prova evidente de que esta vida é um exílio, no qual quem mais sofre é o coração. Bendita seja a Misericórdia Divina por nos trazer o coração sempre inquieto e insatisfeito até que repouse plenamente em Deus. Esse exílio do coração foi o tormento de Santo Agostinho:

Inquietum est cor nostrum donec requiescat in Te, Domine – “Nosso coração está sempre inquieto, Senhor, enquanto não descansa em Vós”.

Jesus é a pátria do nosso coração. Só Nele se encontram repouso, alegria e paz. E fora de Jesus, fora do Seu amor, não há sossego, viveremos inquietos, agitados e tristes como o peregrino cansado, saudoso e faminto, em viagem penosa, à procura da pátria.

Quando o coração experimenta as tristezas do exílio, do abandono das criaturas, da incompreensão dos amigos, da ingratidão do amor, volte-se depressa para Jesus, verdadeira pátria dos corações.

Para o exílio do meu coração, ó Jesus, só a pátria de Vosso Coração!

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

7 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

7 de Julho

Imobilidade Penosa

Imóvel num leito, a sofrer, horas e horas eternas num quarto, silencioso, a contemplar as paredes, os móveis, a contar as tábuas do forro! Gemidos a cada agulhada que fere o corpo, na dor sem alívio! E sempre ali o pobre enfermo, condenado à imobilidade penosa, que já dura, talvez, meses e até anos. É preciso ter experimentado o peso dessa cruz para se avaliar como é duro!

Com razão escreveu Lacordaire:

“A doença me parece o que, neste mundo, mais virtudes exige, porque abate as forças justamente quando mais delas precisamos”.

São horríveis a tortura física e a tortura moral que nos vêm particularmente da inação a que ficamos condenados. Eis porque devemos ter paciência com os enfermos, que, por sua vez, devem ser pacientes consigo mesmos. Essa inação e imobilidade irritam, abatem e até desesperam certas almas acostumadas à vida e à luta.

Dizia o apostólico e ardente cardeal Lavigerie:

“O inferno, para mim, seria uma eternidade na imobilidade”.

Numa provação tão dura, quanto merecimento! Ah! Se soubéssemos aproveitar o tesouro de graça que acompanha essa cruz! Nessas horas de penosa imobilidade, precisamos lembrar-nos da imóvel eternidade do inferno! Sempre! Nunca! Eternamente! Sofrei a imobilidade de vossa doença, e vos fixareis um dia na Imobilidade Eterna, que é Deus, que é o Céu!

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

6 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

6 de Julho

Agricultura de Deus

Diz o Apóstolo que somos a agricultura de Deus – “Vos agricultura Dei estis.”

Nossa alma é o campo. Deus, o Agricultor Celeste. Na parábola do semeador, Jesus compara também o nosso coração à terra, onde cai a boa semente da palavra de Deus. Que faz o bom agricultor? Prepara a terra, cortando-a, revolvendo-a a golpes de enxada e arado. Depois semeia. E, quando nasce a planta, cuida que não a sufoquem os espinhos ou a má erva. Vem a poda e são cortados os ramos. Certas árvores, como as mangueiras, exigem até golpes incisivos no tronco. Outras ficam reduzidas a uns poucos e bem podados galhos. Aos menos entendidos, o trabalho do agricultor parece mais obra de destruição que de cultura. Entretanto, vem o outono, vem a colheita, e que riqueza, que belos frutos, que delícia!

Somos a agricultura de Deus, no expressivo dizer do Apóstolo, e não queremos o trabalho do Agricultor celeste no campo de nossas almas? Sob a forma de um agricultor apresentou-se Jesus a Madalena, na madrugada da ressurreição. Que simbolismo tocante! O Divino e bom Agricultor quer trabalhar. Dai-lhe o campo de vosso coração. Para a sementeira da graça deixai que a dor, bom arado, rasgue nele sulcos profundos. A sementeira da graça e do amor será tanto maior quanto maior o terreno preparado. E vereis depois, no outono da vida, que rica e bela colheita para a Eternidade!

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

5 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

5 de Julho

“Quo Vadis?”

Contam as tradições de Roma que São Pedro fugia, medroso, da perseguição de Nero quando encontrou Jesus no caminho, com a cruz às costas.

“Para onde vais, meu Senhor?”, pergunta o apóstolo. “Para Roma, diz Jesus, e para ser de novo crucificado”.

Pedro compreendeu a lição. Voltou e sujeitou-se corajosamente ao martírio. Jesus continua ainda a sofrer. E até o fim dos séculos há de carregar, em seus ombros feridos, o peso enorme de nossos pecados. A paixão de Jesus continua no Sacrário, no Altar, no seio da Igreja. No Sacrário, abandonado; o Altar, profanado; nos filhos ingratos da Santa Igreja; nessa legião de almas tíbias, pusilânimes em face da cruz e da perseguição dos maus. E quando fugis do sofrimento, e não quereis lutar por amor de Deus nesse dever penoso, nessa obra de apostolado difícil e na vocação a que fostes chamados, Jesus se vos apresenta no caminho da vida com a sua cruz. E para onde vai? Para o calvário do vosso coração ingrato, onde será de novo crucificado. Perguntai-Lhe como São Pedro:

“Para onde vais, Senhor?” – “Quo vadis?”

E que a resposta do Senhor, como ao Apóstolo, faça-vos retroceder, corajosamente, lutar pela vossa salvação eterna e sofrer em união com os méritos do Sangue Divino derramado na cruz!

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

4 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

4 de Julho

A Hora das Grandes Almas

A hora da desgraça e dos grandes sofrimentos, de golpes e reveses, é a hora das grandes almas. Quantas, na prosperidade, mostravam-se insignificantes, mesquinhas, acanhadas. Veio o golpe das adversidades, soou a hora da desgraça, e que prodígios e transformações! Vede Inácio de Loyola. Simples soldado iludido, como tantos, pelas vaidades da terra, egoísta, orgulhoso. A ferida o prostrou num leito. E, ferido o corpo, uma leitura, verdadeiro golpe da graça, transforma-o e santifica-o. Não foi um golpe assim motivo de conversão para Margarida de Cortônia e Francisco de Borgia? Quando já tudo parece perdido, quando Nosso Senhor nos reduz ao pó, ao nada que somos, pela humilhação, o abatimento; quando reveses e, principalmente, grandes calamidades nos ferem, é então chegada a nossa hora, ou melhor a hora de Deus. Esperemos confiantes! A Providência vai, talvez, realizar os grandes e eternos desígnios que tem sobre nós:

“Quando tudo está perdido – dizia Lacordaire – então é a hora das grandes almas”

Na desgraça, não nos mostremos mesquinhos, espíritos acanhados e eternos queixosos da Divina Providência. As desgraças são golpes do Artista Divino e dão, no mármore de nossas almas, uma expressão de beleza encantadora. Não quereis que, para esse bloco informe de vossa alma egoísta, chegue a hora de ser obra-prima da graça e enlevo de estetas espirituais, os Anjos do Senhor?

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

3 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

3 de Julho

Sofrer Amando e Sofrer sem Amar

“Há duas maneiras de sofrer – dizia o santo Cura d’Ars: sofrer amando e sofrer sem amar. Uns sofrem como o Bom Ladrão; outros, como o mau. Ambos sofreram pena igual, mas só um tornou meritório o seu sofrimento.”

Sem Deus não é possível a um pobre e fraco mortal o peso de tantos sofrimentos! Do berço ao túmulo, é nossa vida um gemido entrecortado de uns poucos sorrisos. Sofrer, sempre sofrer, é o destino de todo mortal. Mas é mister aproveitar o sofrimento. Soframos bem, já que não é possível evitar as cruzes. E o amor, só o amor nos pode consolar e aliviar o coração. Não sejamos quais mercenários que trabalham com má vontade e a se queixarem. Trabalhemos e soframos alegremente.

“No serviço de Deus – dizia São Francisco de Sales – devem-se considerar mais os advérbios do que os verbos. Não está o nosso mérito em servir a Deus ou sofrer, mas em servi-lo BEM e sofrer BEM”.

E, para bem servir a Deus e bem sofrer, é preciso amar. O amor ajuda a sofrer e o sofrimento ajuda o amor. Um não vive sem o outro. Sofrer bem ajuda a bem amar. E quanto mais se ama ainda mais se sofre. Há, porém, uma diferença entre sofrer amando e sofrer sem amar: quem sofre amando, sofre em paz e, quem sofre sem amar, sofre em desespero. Pode-se dizer com Santo Agostinho:

Si amatur non laboratur, aut si laboratur, labor amatur – “Quem ama não sofre e, se sofre, ama o sofrimento.”

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

2 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

2 de Julho

A Visitação

A dor te veio visitar, como Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel, para te fazer bem e te encher de graças. Que fazer? Recebê-la com muito amor. Entoar um “Magnificat”. Com ela vem Jesus. O sofrimento é a visitação do Senhor! Não maltrates o Hóspede Divino. É a Misericórdia que procura a miséria. Recebe a visita honrosa, se não com alegria ao menos pacientemente. E sabe Deus como te é necessária! A visita que recebes é de caridade, como a de Maria à Isabel. O anjo do Carmelo, Santa Teresa do Menino Jesus, aconselhava sempre as suas noviças que dessem bom agasalho ao sofrimento, recebendo-o com um sorriso nos lábios. Custa – é verdade – a princípio. Depois se adquire o hábito, aprende-se a ser bem polido e amável para a visita inevitável de quase todos os dias. A dor não é má. Vem visitar-nos em nome do Senhor. Por que não a receber bem? Traz notícias do Céu, fala-nos de Jesus, ensina-nos o desapego dos prazeres e mostra-nos a realidade da vida. Oh! Não sejas grosseiro! Recebe essa dama celeste com amabilidade. Ela é a embaixatriz do Céu e nos faz tanto bem! Sê amável e agradecido ao Senhor, que mandou fazer-te uma visita.

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

1 de julho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

1 de Julho

Meu Crucifixo

Encontramos Jesus no Evangelho. Saboreamos toda a infinita doçura da Sua palavra. Quando o coração, este nosso pobre coração, sentir-se mal, desconfiado e triste, vamos ao Evangelho. Uma página do Evangelho consola mais do que os mais belos e sublimes tratados saídos das mãos dos homens. E um olhar ao Crucifixo, o livro querido dos santos.

À Santa Teresa disse Jesus: “Eu te darei um livro vivo”, era a cruz. “Dai-me o meu livro”, dizia São Felipe Benício. Apresentaram-lhe um Breviário e uma Imitação. Faz ele um gesto e mostra o Crucifixo. Era o seu livro querido.

Com meu Evangelho e meu Crucifixo, que não suportarei? Dois livros inseparáveis. O Evangelho contém a lição do sofrimento e o Crucifixo nos mostra a prática do sofrimento. Bom amigo, bom conselheiro e bom mestre é meu Crucifixo. “A Cruz é uma escola”, dizia Santo Agostinho. E que se aprende nessa escola? A sofrer pacientemente, a perdoar e a suportar o peso da vida. Olhando a Cruz, minha alma reza, perdoa, espera, confia, abandona-se. A um pobre leigo de convento, humilde e analfabeto, perguntou-se onde aprendera tanta ciência das coisas espirituais, incrível num ignorante como ele. Respondeu:

“Aprendi num livro de cinco letras vermelhas”.

Referia-se ao Crucifixo, com suas Chagas abertas. Meu Crucifixo! Nunca te deixarei, mestre querido de minha alma!

Mᴏɴs. Asᴄᴀɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀᴏ

30 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

30 de Junho

Olhai para Minhas Mãos e Pés

“Mas eles, perturbados e espantados, cuidavam que viam algum espírito. E disse-lhes: Por que estais vós turbados e que pensamentos são estes que vos sobem aos corações? Olhai para as minhas mãos e pés, porque sou eu mesmo. E, dizendo isto, mostrou-lhes suas mãos, os pés e o lado”. (1)

Não há outro recurso quando a gente se vê pobre, miserável e coberto de pecados: olhar as mãos, os pés e o lado de Jesus, isto é, as suas Chagas Sagradas! “Meus méritos são as Vossas Chagas”, dizia São Boaventura.

“Perturbados e espantados, diz o Evangelista, os discípulos receberam o Mestre.

– Por que estais perturbados e que pensamentos são esses que vos sobem aos corações?”

Assim fala Nosso Senhor às almas tímidas e desconfiadas, e atormentadas de pensamentos tristes e desesperadores. E, para lhes dar confiança, mostra-lhes as Chagas:

“Olhai para minhas mãos e pés e o lado”.

Quando o desespero de Caim e de Judas me tentar dizendo: “Teu pecado é grande demais para que tenhas perdão”, meu Jesus Crucificado, lançarei, cheio de confiança, um olhar às Vossas Santas Chagas e, principalmente, às Chagas de Vosso Coração aberto pela lança. Tenho certeza do perdão, com a firmeza do meu bom propósito. Meu Jesus, ainda que a minha alma se cubra de todos os pecados que, por desgraça, podem se cometer, nunca permitais cometa eu o monstruoso pecado de Caim e de Judas: a desconfiança de Vossa Misericórdia!

(1) Jo 20, 26-29; Mc 16,14; Lc 24,36-39

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

29 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

29 de Junho

A Paz Esteja Convosco!

“Ora, estando ainda falando nisto, chegada, porém, a tarde daquele dia, o primeiro imediato ao sábado, e estando fechadas as portas onde se achavam os discípulos, por medo dos judeus, apareceu aos onze, estando eles à mesa, e disse-lhes: A paz esteja convosco. Sou eu, não temais”. (1)

Diversas vezes se encontram no Evangelho estas palavras de Jesus:

“Sou eu, não temais”

Ao surgir maravilhosamente entre os discípulos, estando eles de portas fechadas e medrosos dos judeus, Nosso Senhor repete a senha da confiança:

“Sou eu, não temais”.

Vem trazer a paz:

“A paz esteja conosco!”

Paz e confiança! Deus da paz, Deus de misericórdia e Pai de toda a consolação, Jesus não quer ser temido. O Amor misericordioso há de vencer tudo.

“A paz esteja convosco!”

Não é a paz que o mundo promete, mas a doce paz que se conquista na luta, no sacrifício, quando se conseguiu abafar a voz das paixões, fazer um silêncio interior no cenáculo do coração. O mar é agitado e terrível na superfície. Diz-se, porém, que nas profundezas dos oceanos reinam calma e silêncio eternos. Assim as almas verdadeiramente amantes de Jesus. Sofrem mil provações! Que martírios e que cruzes! A natureza chora, clama e se agita. Mas lá, bem nas profundezas da alma, que paz, que doce paz!

(1) Jo 20, 19-20; Mc 16, 12-14; Lc, 24, 36-38

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

28 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

28 de Junho

Mulher, por que Choras?

“Ditas estas palavras, olhou para trás e viu a Jesus em pé, sem saber que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras?” (1)

Maria viu Jesus e não O reconheceu. Continua a chorar. E a voz consoladora pergunta:

“Mulher, por que choras?”

Depois, que alegria! Maria!

– “Rabboni!”

Uma só palavra e se dissipam as trevas, abre-se o coração da pecadora arrependida.

Em certas provações da vida espiritual, Jesus se oculta ou fica desconhecido a certas almas que Lhe choram a ausência aparente. Tão perto de Jesus, falando e tratando com Ele no Sacrário, na Comunhão, e não O reconhecem, não O sentem! É um martírio! Só quem ama O pode compreender! Tratar com Jesus e não O reconhecer, adorá-Lo na Eucaristia, no Sacrário, no Altar, na Mesa Santa, e tudo no suplício de uma aridez, de uma frieza, de uma indiferença aterradora! Como não há de chorar a pobre alma? Como Madalena, ela interroga a quem encontra nos caminhos:

“Onde O puseram?”

Como a Esposa dos Cantares suspira, desolada, pelo seu Amado. Esperai com paciência, almas escolhidas. Logo virá o Amado, e O vereis, e em transportes do Amor O reconhecereis.

–Maria! – “Rabboni!” Esperai! Por que chorais?

(1) Mt 28, 5-7; Mc 16, 5-7; Lc 24, 5-6

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

27 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

27 de Junho

Tudo está Consumado!

“Jesus, havendo tomado o vinagre, disse: Tudo está consumado. Clamando então, segunda vez, com grande voz disse: Pai, nas Tuas Mãos encomendo o meu espírito. E, dizendo isto, abaixando a cabeça, rendeu o espírito”.

Sim, estava consumada a obra do Amor Misericordioso.

Sic Deus dilexit mundum ut Filium Suum Unigenitum daret – “Assim amou Deus o mundo até dar por ele a vida de seu Filho Unigênito”.

E, cumprida a sua missão, cumprida a Vontade de seu Pai Celeste, entregou-Lhe Jesus o Seu Espírito:

“Pai, em Tuas Mãos encomendo o meu espírito”.

Tudo estava consumado, porque estava cumprida a vontade do Pai, até o horror das agonias do Calvário e a morte no patíbulo da cruz. Jesus morre num ato de abandono e conformidade à vontade de Seu Pai. Naquela última hora, quando se aproximar o momento decisivo em que nossa pobre alma, no tormento da agonia, há de lutar nas trevas de um calvário de tentações e sofrimentos, vinde Jesus, vinde socorrer-nos! Que a lembrança de Vossa agonia na cruz venha confortar-nos. E possamos, naquela hora derradeira, ter a consciência de que cumprimos a Vossa Santíssima Vontade. Queremos também dizer:

“Tudo está consumado!”

Sim, consumada a obra do Vosso Amor Misericordioso em nossa pobre alma. E, sossegados, diremos ao Senhor:

“Pai, em Vossas Mãos encomendo o meu espírito”.

(1) Mt 27, 50; Lc 23, 46

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

26 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

26 de Junho

Eu tenho Sede

"Depois sabendo Jesus que tudo estava cumprido para se acabar de cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! Tinha, porém, ali perto um vaso cheio de vinagre. Então, correndo logo um deles, tomando uma esponja, a ensopou em vinagre e a pôs sobre uma cana e Lhe dava de beber”. (1)

Jesus, agonizante, na cruz! Tem sede!

“Sitio!” – “Eu tenho sede!”

De suplícios mais horrorosos não se queixou e nem pediu alívio. E clama:

“Tenho sede!”

Ah! É a sede de nossas almas, sede de amor, que O devora. Jesus quer na linfa cristalina das almas remidas, água pura, de puro amor de nossos corações. Corações cheios de confiança, de abandono, que O amem e Lhe deem almas, muitas almas. E, quando na tortura horrorosa dessa sede de Amor, Jesus nos pede o coração pela confiança, chegamos-Lhe aos lábios em brasa e ressequidos a esponja ensopada em vinagre de desespero, de dúvida e desconfiança da sua Misericórdia. E como não a rejeitar, triste e amargurado? Ah! Demos a Jesus agonizante e sequioso, todo o amor de nosso coração, e que esse amor seja um amor confiante na sua Misericórdia infinita. Aliviemos a sede abrasadora de Nosso Divino Redentor, a nos pedir almas, muitas almas que podemos salvar pregando a Sua Bondade e o Seu Amor Misericordioso! Afastai dos lábios do Divino agonizante o fel do desespero e o vinagre da desconfiança, que perdem tantas almas!

(1) Mt 27, 48; Mc 15, 36

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

25 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

25 de Junho

Meu Deus, por que me Desamparastes?

“Era então, quase a hora sexta, e toda a terra se cobriu de trevas até a hora nona, e escureceu-se o sol. E, perto da hora nona, exclamou Jesus: “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes?”

Deus permite que nossa alma fique, às vezes, como que abandonada. Nenhuma consolação, nenhuma luz. Provações de todo gênero e de todo lado. Tentações, angústias. Parece que vamos perecer, e o Braço forte e Divino que nos sustentava, já nem O percebemos. Que fazer então? Dizer como Jesus:

“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

E ficar em paz. É um exercício penoso o que faz então a pobre alma. Parece fria, insensível, como num túmulo. Não possui mais aquela doçura da presença de Jesus. Sente-se tão mal! É a agonia e o desamparo da cruz.

“Meu Jesus, Meu Deus, por que me abandonastes?”

Oh! Como é preciosa esta agonia! Suportada humilde e pacientemente, é uma fonte de graças escolhidas do Céu. É preciso que soframos e sejamos conformes a Jesus, e Jesus Crucificado, para que se complete em nós o mistério da salvação. E, nestas trevas horrorosas do Calvário, na provação dura e quase desesperadora do abandono aparente do Céu, quando nossa pobre alma se vê crucificada e batida pelo sofrimento, ficamos, como Jesus, a clamar:

“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

Nessas horas repitamos também:

“Sim meu Pai, aceito o cálice que me ofereceis!”

E hão de vir sobre nossa alma torrentes de graças, para nós e os pecadores, porque as trevas do Calvário, disse Elisabete Leseur, são fecundas.

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

24 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

24 de Junho

Eis a Tua Mãe!

“Entretanto estavam em pé, junto da cruz de Jesus, sua Mãe e a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, pois tendo visto sua Mãe e o discípulo que Ele amava, de pé, junto Dela, disse à Sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis a tua Mãe.” (1)

Eis a tua Mãe! Queria dizer Jesus:

“Eis a misericórdia, o perdão, a vossa riqueza, a salvação do mundo”.

Era o testamento da misericórdia. No Cenáculo, deu-nos o testamento do Amor, a Eucaristia. Na cruz o testamento da Misericórdia. Sua Mãe para nossa Mãe! Ó Maria, não nos podeis desamparar! Fomos entregues à vossa proteção num testamento de sangue e de lágrimas. Sangue de um Deus e lágrimas da Mãe de Deus!

“Mulher, eis aí o teu filho!”.

Desde aquela hora até hoje nunca foi desmentida a proteção materna de Nossa Senhora.

“Quem recorreu à vossa proteção e foi por vós desamparado ó Maria?” – pergunta São Bernardo.

Custamos o sangue de um Deus e foram bem amargas as lágrimas da Virgem ao pé da cruz. A alma do pecador, banhada no sangue de Jesus e orvalhada no pranto de Nossa Senhora, deve ter confiança no perdão, deve esperar misericórdia. Esperar contra toda esperança, porque fomos entregues no Calvário Àquela que foi chamada: Esperança até dos desesperados!

(1) Jo 19, 25-27

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

23 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

23 de Junho

Hoje estarás Comigo no Paraíso

“Ora, um daqueles ladrões, que estavam dependurados, blasfemava contra Ele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós. Mas o outro, respondendo o repreendia, dizendo: Nem ainda tu temes a Deus estando no mesmo suplício? E nós temos o castigo que merecem as nossas obras; mas este nenhum mal fez. E dizia a Jesus: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. E Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.” (1)

O Bom Ladrão é o mais tocante modelo das almas confiantes. Viu Jesus no patíbulo entre criminosos. Ouviu as acusações, os insultos e blasfêmias do povo. E, naquele homem desfigurado, ali na cruz, reconhece o Messias prometido, o Senhor que lhe pode abrir as portas do reino do Céu.

"Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino!”

Belo ato de confiança! Um criminoso, um infeliz salteador, um condenado e com justiça, por tantos crimes, tem confiança em Jesus e Lhe pede uma lembrança apenas, quando chegar ao Reino Eterno. E, como não é pequeno o mérito da confiança, responde Jesus ao ladrão:

"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso!”

Dois pecadores no Calvário. Um é o Desespero que blasfema. O outro, a Confiança, a pedir Misericórdia. Gestas se perde. Dimas se salva. O Bom Ladrão é o grande, talvez o maior dos missionários da Confiança! Imitemo-lo!

(1) Lc 23, 39-43

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

22 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

22 de Junho

Pai, se é possível, passa de Mim este Cálice

“E tendo-se adiantado um pouco apartou-se deles cerca de um tiro de pedra e, caindo de joelhos prostrou-se sobre a terra, com o rosto no chão, e orava para que, se fosse possível passasse dele aquela hora. E disse: Pai, se é possível, passa de mim este cálice! Pai, todas as coisas são possíveis; se é do teu agrado, aparta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas sim a tua, não seja como eu quero mas sim como tu queres.” (1)

Viu todo o suplício que O esperava. Viu suas carnes despedaçadas no Pretório, a face esbofeteada e coberta de escarros nojentos. Viu Pedro negando-O e blasfemando-O, os Apóstolos fugindo. A cruz e o Calvário. Maria chorando. Os insultos da plebe. O desamparo do Céu, o abandono horroroso de seu pai. E, prostrado em terra, banhado em sangue, Jesus só teve esta prece, o mais perfeito e sublime ato de abandono:

“Pai, se é possível, passa de mim este cálice. Contudo, não se faça a minha vontade, mas sim a tua. Não seja como eu quero, mas sim como tu queres!”

Nosso pobre coração espera talvez um golpe, o martírio de uma provação! É da vontade de Deus que soframos! Aos pés de Nosso Senhor podemos dizer:

“Meu Deus se é possível, afaste-se de mim tamanha desgraça, este cálice tão amargo!”

Mas saibamos acrescentar com o nosso Divino Modelo do Getsêmani:

“Contudo, faça- se a Vossa vontade, Senhor, e não a minha!”

(1) Mt 26, 36-38; Mc 14, 32-34; Lc 22, 39-46

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

21 de junho de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

21 de Junho

Minha Alma está Triste até a Morte

“E tendo tomado Consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, começou a entristecer-se a apavorar-se, a angustiar-se e ficar abatido. Disse-lhes então; Minha alma está triste até a morte; demorai-vos aqui e velai Comigo.” (1)

Notai nas expressões do Evangelista o horror da agonia de Jesus no Horto: começou a entristecer-se a apavorar-se, a angustiar-se e a ficar abatido.

Não é assim que nossa alma às vezes fica? Que agonia dolorosa! Há provações na vida espiritual que lembram os horrores do Getsêmani. Tristeza, pavor, angústia, abatimento…

Entre os seus amigos escolhe Nosso Senhor alguns para que participem das suas amarguras do Horto. Pedro, Tiago e João dormiram, não obstante o gemido angustioso do Coração de Jesus:

“Minha alma está triste até a morte!”

Alma generosa e fiel, repara a ingratidão do mundo nesta agonia eterna de Jesus, em face das iniquidades que cobrem a face da terra! Sê reparadora. Aceita pacientemente, pelos pecados do mundo, essas agonias horrorosas de tuas provações na vida espiritual. Contempla Jesus pálido, a suar sangue, triste, abatido, como que esmagado, no Jardim das Oliveiras. Sofre também com Ele! Ele te pede com amor:

“Vela Comigo, fica, demora-te aqui. Eu sofro. Chora, padece, agoniza Comigo pelos pecados do mundo!”

(1) Mc 14, 32-34

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ