31 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 385

COMUNGAR TODOS OS DIAS

Na penúltima vez que S. José Cottolengo foi visitar o estabelecimento de Oassino, soube que as Irmãs deviam abster-se da comunhão duas vezes por semana, porque assim determinara o vigário forâneo Belmondo. Ouvindo isso, o Santo exclamou:
— Ó santa paz! — e, voltando-se para a Irmã Eufrásia, disse-lhe: — Faça-me o favor: diga ao senhor Vigário que venha cá!
Falou-se, entre os dois, da comunhão freqüente. A certa altura, Cottolengo disse sorrindo:
— Eu quisera, se fôsse possível, que as Irmãs comungassem três vezes ao dia.
E o Vigário replicou:
— Nem sequer, uma vez todos os dias, mas somente em cinco dias por semana; porque veja, Sr. Cônego, pelo respeito que se deve ao Sacramento, e ainda por humildade, eu mesmo me abstenho uma vez por semana de celebrar.
— Caríssimo Vigário, — disse Cottolengo — faça como eu, por humildade, tenha o desejo de celebrar três missas cada dia.
A graça de Deus acompanhou as palavras do Santo e aquele bom Vigário mudou de opinião.

30 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 384

A COMUNHÃO DE UM HERÓI

O capitão G. Negri, do batalhão Val Piave, era um herói e um católico fervoroso. Dele diz o capelão militar P. José Ghibaudo:
“Conhecia o capitão Negri apenas de nome. Foi numa de nossas posições mais avançadas (na primeira grande Guerra) que o fiquei conhecendo. O seu nome completo é Dr. Guido Negri di Este, morto gloriosamente rio Monte Colombara a 26 de junho de 1916.
Uma quinta-feira, à tarde, recebi dele o seguinte bilhete:
“Amanhã, sexta-feira, às trés da tarde, irei procurá-lo para fazer a santa comunhão”.
Celebrada a santa missa, reservei uma partícula consagrada e coloquei-a no rude tabernáculo feito de pedras, debaixo da minha tenda. A hora marcada, eis que chega o capitão todo ofegante e procura-me para receber Nosso Senhor.
— Espero — disse-lhe — que não tenha querido ficar em jejum até esta hora, capitão...
— Sim, estou em jejum — respondeu-me, — mas a santa comunhão por si só basta para saciar a minha fome.
E recebeu a comunhão com a devoção de um anjo.
Soube, depois, que passara toda a noite vigiando com os seus soldados, e toda a manhã trabalhara em reforçar as trincheiras. E para chegar até a minha tenda tivera que fazer uma caminhada difícil de mais de uma hora".
A fé deste bravo capitão é parecida com a dos primeiros cristãos, e foi ela que o animou no cumprimento de seus deveres, e o conduziu, no Trentino, a uma morte heroica pela Pátria.

29 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 383

A COMUNHÃO DO CEGO

Nas Índias Inglesas, um pobre cego andara cinco léguas para comungar num domingo. Estando a assistir à missa, não percebeu o momento em que devia aproximar-se do altar para comungar; quando se levantou para ir à comunhão, um dos vizinhos advertiu-o que já era tarde. No dia seguinte, às seis horas, chegava o cego à igreja para fazer a santa comunhão; mas o padre, chamado para um doente, celebrara a missa às quatro horas, e não voltaria antes do meio-dia. Não se pode descrever a desolação do pobre cego, que tendo feito algumas orações, voltou para casa soluçando.
Na terça-feira, de madrugada, notam que o velho cego está à porta da igreja quase desmaiado. O Missionário, que narra este fato, corre e chama-o pelo nome.
— Padre, dai-me a santa comunhão! Desde domingo que estou em jejum.
— É demais! é demais! Olhe que nem pode ficar em pé; venha tomar antes um pouco de alimento.
— Não, Padre, não! tenho mais fome do bom Deus do que de comida. Dai-me a santa comunhão.
O Missionário deu-lhe imediatamente a comunhão e o bom velho antes de qualquer alimento, quis fazer ainda quinze minutos de ação de graças.
Que lição para tantos cristãos, que teriam tanta facilidade de comungar, e não o fazem!

28 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 382

PARA QUE SERVEM OS PADRES?

Este episódio deu-se na França. Um cavalheiro e um operário tomaram o trem. Na próxima estação sobe um padre, e o cavaleiro, dirigindo-se ao operário, diz:
— Para que servem os padres?
O operário não respondeu. O trem corria. Chegados a uma região despovoada através de floresta, o operário disse:
— Cavalheiro, estamos sós, ninguém nos vê, ninguém nos ouve. Que faria o sr. se eu o estrangulasse agora mesmo e lhe tomasse todo o dinheiro que leva?
Pálido de medo, o cavalheiro disse:
— O sr. se engana, eu não levo dinheiro.
— Mentira! o sr. tem ai trinta mil francos, que recebeu no Banco.
— Então faria muito mal; cometeria um assassínio e um roubo.
Assassínio e roubo nada significam para quem não conhece a doutrina cristã e não crê em Deus! Se eu pensasse como o sr. seria um néscio se não me aproveitasse da ocasião. Mas o sr. não tenha medo: fui educado por padres e eles ensinaram-me no catecismo, entre outras coisas, a amar a Deus e ao próximo. O sr. vê para que eles servem: hoje salvaram-lhe a vida.

27 de julho de 2017

Sacerdotes tui induantur iustitiam et sancti tui exultent.”
Os teus sacerdotes se cobrirão de justiça e os teus santos se alegrarão.
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Hoje é um dia de grande alegria para nós e para toda a Igreja. Hoje nasce mais um pai que, com a graça de Deus, terá muitos filhos espirituais e muitos anos de vida sacerdotal. Tendo ele mesmo me dado a honra e o difícil encargo de pregar nessa primeira missa solene, onde o sermão é tradicionalmente dirigido ao neossacerdote, gostaria de usar essas palavras do Salmo CXXXII para dizer ao senhor, Padre Marcos, e a todos fiéis o quanto da sua santidade dependerá a santidade dos fiéis. Fiéis que lhe serão por Deus confiados ao longo dessa vida sacerdotal que começou uma semana atrás, pela imposição das mãos do Bispo sobre sua cabeça.
Os sacerdotes se cobrirão de justiça e os santos se alegrarão. Que o povo exultasse com a justiça dos sacerdotes parece normal. Mas porque chama o salmo de santo o povo que exulta com a justiça dos sacerdotes? Para compreender a profundidade da afirmação do salmo é de se notar, antes de mais nada, a equivalência que existe na Sagrada Escritura entre o santo e o justo. São José foi, senão o maior, um dos maiores santos de todos os tempos, pela sua proximidade com Nosso Senhor, modelo e fonte de toda santidade. Como é que a Escritura descreve toda essa santidade? Numa simples palavra: “José era um homem justo”. Assim, fica claro que a Escritura falando de justiça quer significar a santidade.
E os santos quem são? A Sagrada Escritura, ao falar de santos, evidentemente não trata daqueles que foram canonizados, pelo simples fato das canonizações serem posteriores ao Novo Testamento. O termo santo é usado para designar os cristãos que buscam a santidade por uma vida segundo a justiça. Assim diz São Paulo escrevendo aos Coríntios: “ à Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Jesus Cristo, chamados santos com todos os que invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo…” Assim sendo, se a Escritura chama de justo o santo e de santos os justos, é porque esses termos diante de Deus se equivalem. E, consequentemente, o Salmo diz: “os teus sacerdotes serão recobertos de justiça e os teus justos exultarão”, ou “os teus sacerdotes serão recobertos de santidade e os santos exultarão”. Seja como for que entendamos, uma coisa é certa: assim como forem os sacerdotes, assim também será o povo por Deus confiado a eles.
Para melhor compreendermos essa verdade, peçamos à Mãe dos sacerdotes e de todos nós que se digne mais uma vez hoje, nos ensinar o caminho que leva até o seu Filho, único caminho de justiça e de santidade. AVE MARIA
O sacerdote, como Cristo, é o mediador entre Deus e os homens. Que missão tão divina que Deus quis confiar a cada um de nós, que exigência essa de buscar e conseguir o que está infinitamente acima das nossas forças! O homem pequeno e frágil deve buscar, na sua vida, a união com Deus onipotente e infinito, para poder gozar do céu. E como se já não fosse difícil o bastante, nossos primeiros pais pecaram nos privando da graça de Deus, garantia da nossa salvação. Mas Deus, no seu amor que é infinito, quando dá um desejo ou uma missão, dá sempre os meios de conseguir, e os dá sempre com grande abundância. Assim, sendo o homem o culpado do pecado, quis Deus também fazê-lo responsável por sua redenção e, para isso, não poupou nem o seu próprio Filho, mas o entregou para a salvação de todos nós, fazendo-o primeiro homem na sua Encarnação e, em seguida, vítima de expiação na sua Paixão e Morte.
Mais ainda: tendo Deus entregado seu Filho, para que o Homem pagasse pelo pecado do homem, Ele quis ainda que cada um de nós tivesse parte e responsabilidade na nossa redenção para que, tendo sido cada um de nós responsáveis pelos nossos pecados, possamos dizer, com toda propriedade e verdade, que também somos responsáveis pela nossa salvação. Que mistério insondável esse de Deus, que entrega seu Filho à morte para salvar os que o ofendem! E que mistério mil vezes mais insondável de Deus que quer depender dos homens para cumprir seus planos! De Deus que quer que cada homem seja responsável por sua salvação!
As maravilhas de Deus não param por aí. Cabe ao homem o querer e cabe a Deus o salvar. Cabe ao homem pedir, cabe a Deus o dar. Mais ainda naquilo que toca exclusivamente a Deus, Ele quis depender do homem e de homens que a sua Providência escolheria ao longo da História da Igreja. Os romanos, que foram um povo dotado de grande habilidade em engenharia, desejosos de ter água corrente em suas casas, criaram pontes que trouxessem a água das altas montanhas que circundavam a Roma antiga, pontes que se chamaram aquedutos. Dizem os especialistas, que essas grandes construções exigiam uma precisão quase que cirúrgica porque, se a inclinação fosse menos do que a devida, a água não escorria, mas se fosse maior, chegava nas casas com tanta força que destruía o que encontrasse pela frente.
Na engenharia divina, Deus também quis construir os seus aquedutos, entre o céu e a terra, entre Aquele que dá e o aquele que pede, entre o que quer e o que salva, entre Ele mesmo e os homens, sendo a água que corre nos canais a sua Graça. O padre toca de um lado o céu e de outro a terra. Toca o céu para dar, como faz o próprio Deus, toca a terra para pedir, em nome dos homens que lhe foram confiados. Toca o céu para poder salvar pela Graça que é dada por Deus, toca a terra para abrir o coração do homem que é capaz de se fechar a ela. Toca o céu porque Deus se deixa tocar infalivelmente pela oração do padre, que age in persona Christi, toca a terra porque só pelo sacrifício por ele oferecido os homens se tornam agradáveis a Deus. Toca o céu porque deve viver na Terra como se já estivesse no céu, toca a terra porque é o meio mais eficaz de antecipar nela o céu. Toca o céu enfim porque se entregou inteiramente a Deus, toca a terra enfim porque deve ser totalmente entregue ao bem dos homens.
Que mistério insondável, repito, esse de Deus que entrega seu Filho à morte para salvar os que o ofendem! E que mistério mil vezes mais insondável de Deus que quer depender dos homens para cumprir seus planos, de Deus que quer que cada homem seja responsável por sua salvação! Ó mistério muito mais que mil vezes insondável, esse, no qual Deus quis fazer de simples homens outros Cristos! Que missão belíssima essa, missão que não há nem pode haver mais bela no mundo!
O padre é um verdadeiro aqueduto, saído da engenharia divina para trazer aos homens as graças vindas do céu. O primeiro aqueduto que Ele construiu foi de pedra, segundo as palavras de Cristo: Pedro, tu és pedra e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado também nos céus. Os seguintes, seguindo o selo da ação de Deus, que se compraz em usar instrumentos impróprios nas suas obras, apesar de fundados na pedra angular que é o Cristo, são feitos de carne e osso, e esses são os padres. E como já bem sabiam os romanos, o aqueduto deve estar bem constituído e ter água para que ele seja eficaz.
Para que o padre seja bem o que ele é, o canal da graça de Deus, é necessário que seja um exemplo de vida e cheio da graça de Deus, ou seja, santo. Assim como os romanos só tinham água se o aqueduto fosse bom, assim os cristãos só poderão receber a graça de Deus, da forma como eles necessitam, se o padre a quem foram confiados por Deus for santo. E assim, com muita razão diz o salmo, sacerdotes tui induantur iustitiae et sancti tui exultent: Os teus sacerdotes se cobrirão de justiça e os teus santos exultarão.
Haverá quem argumente dizendo que a graça de Deus age independentemente da santidade do padre nos sacramentos, o que em teologia se chama ex opere operato. De fato, nesse aqueduto divino, a água passa infalivelmente quando se trata das graças sacramentais. Mas, assim como a forma como a água chegava aos romanos dependia das características do aqueduto, assim também é impossível que não haja uma ligação direta entre o que são os padres e o que são os seus fiéis.
Entre milhares de outros exemplos, pensemos hoje no Cura d’Ars: homem simples e ignorante, feio e caipira. De uma Igreja vazia no interior de Lion na França, fez um lugar de referência para todo o país. E, em seguida e ainda hoje, mesmo morto, continua a ser canal da graça de Deus para o mundo todo e tem sido dado como modelo aos padres já por vários Papas. Conta-se que, quando ele foi nomeado pároco de Ars, ele vinha chegando na cidade a pé e penava a encontrar o caminho. Passava por ali um menino, ao qual o padre pediu informação. Para agradecer o favor que o menino lhe fazia, o santo lhe disse: “Você me mostrou o caminho de Ars, eu lhe mostrarei o caminho do Céu.” O Cura d’Ars foi fiel cumpridor de sua promessa.Não só mostrou o caminho para esse, mas também foi o aqueduto da graça de Deus para milhares de outras pessoas, que concorriam a Ars para se aproximar de Deus.
Ora, a missa que celebrava o Cura d’Ars não era a mesma que nós celebramos? A absolvição que dava o Cura d’Ars não era a mesma que nós damos? Os sacramentos todos não eram os mesmos? A comunhão que dava o Cura d’Ars, não era do Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, em tudo igual àquela que todos nós padres também damos? Sim, a água que passava naquele aqueduto, feito de uma constituição humana tão frágil, era a mesma que passou e que passa em cada um dos padres. Mas aquele aqueduto foi tão bem construído que toda água que nele passava podia ser aproveita pelos fiéis e, por isso, a santidade desse sacerdote foi e sempre será motivo de júbilo para todos os cristãos.
Caríssimo Padre Marcos, Deus o fez, pela imposição das mãos do Bispo, um aqueduto da sua Graça. Um aqueduto que toca o que há de mais alto nesse mundo, pois em toda verdade o senhor dirá daqui a pouco: Este é o meu Corpo e este é o meu Sangue; e que na outra extremidade toca o que há de mais vil nesse mundo quando o senhor dirá, também em toda verdade: Eu te absolvo dos teus pecados. A Igreja, em nome de Deus, o julgou capaz de receber essa dignidade altíssima, depois de tê-lo examinado durante estes seis anos de seminário. Não se esqueça de que sua função, a partir de agora, é ser canal da graça de Deus e que, da perfeição desse canal, ou seja, da sua santidade, dependerá a santidade daqueles que lhe forem confiados.
O milagre do ex opere operatur ultrapassa em muito nossas forças e nossa capacidade de compreensão… mas talvez seja ainda mais impressionante que ele o querer Deus fazer depender de homens a vinda de sua graça até nós. Se quiser um povo santo, não basta rezar a missa, confessar, dizer o que deve ser feito no sermão. Tudo isso é importantíssimo, e mesmo essencial, mas não basta. Se quiser um povo que reze, comece por rezar. Se quiser um povo penitente, faça penitência. Se quiser um povo que faça apostolado, não poupe suas forças. Se quiser um povo feliz, seja um padre santo, se quiser um povo santo, seja um padre feliz. Feliz daquela mesma felicidade de que gozam os bem aventurados. Feliz daquela mesma felicidade que todos nós, católicos viatores, buscamos. Feliz da verdadeira felicidade, que é ter por único fim, a glória e honra de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Que cada um de nós peça hoje especialmente a Deus para que Ele se digne tornar perfeita a obra que Ele começou e que, tendo esse novo sacerdote sido recoberto de justiça e de santidade, nos alegremos todos um dia junto a ele no céu.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Pe. José Luiz de Oliveira Zucchi
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26 de julho de 2017

Sermão para o 6º Domingo depois de Pentecostes/Nossa Senhora do Carmo – Pe. Daniel Pinheiro, IBP


[Sermão] Virgem do Carmo: Porta do Céu, Ianua Caeli



Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Caros católicos, querendo a providência que coincida nesse ano o dia 16 de julho, Festa de Nossa Senhora do Carmo, com o domingo, não podemos deixar passar a oportunidade de dizer algumas palavras a propósito de Nossa Senhora e de Nossa Senhora do Carmo.
Nas Ladainhas de Nossa Senhora, nós temos diversas invocações que exprimem a dignidade ou a função de Maria Santíssima, na sua relação com Deus, com os anjos e com os homens. Uma dessas invocações é a invocação de Ianua Coeli, Porta do Céu. Nessa invocação, podemos considerar Nossa Senhora como medianeira entre Deus e os homens. Ao dizer que Nossa Senhora é porta do céu, muita coisa é dita em duas palavras. Nossa Senhora é porta do céu nos dois sentidos: para que Deus venha até os homens e para que os homens possam ir até Deus.
Foi por Nossa Senhora que o próprio Deus, que a segunda pessoa da Santíssima Trindade veio ao mundo. Claro, o Verbo poderia ter se encarnado e vindo ao mundo de outro modo, mas Ele quis fazê-lo por Maria. Ele quis passar por Nossa Senhora. Quis nascer de uma mulher, de uma virgem. E essa mulher virgem é Maria, preparada desde o primeiro instante de sua concepção ao ser preservada do pecado original e ao ser concebida em uma graça imensa (maior que a graça consumada de todos os anjos e santos no céu). Foi preparada até o momento da anunciação do anjo Gabriel, avançando no amor a Deus em passos largos a cada ato seu, ato que sempre fazia com uma caridade mais perfeita.
Nosso Senhor poderia ter vindo ao mundo de outro modo. Todavia, quis nascer de uma mulher. Quis nascer de uma mulher para que a participação de Eva, uma mulher, no pecado original fosse mais claramente e com maior justiça reparada. Para que não restasse dúvida que não só o homem foi redimido por Cristo, mas também a mulher. Assim como uma mulher cooperou com a entrada da morte e do pecado, assim uma mulher cooperou de modo ainda mais enfático na redenção. Que sabedoria a divina. É com o cristianismo que a mulher encontrará a sua verdadeira dignidade. É o cristianismo que coloca a mulher no seu lugar com a sua devida dignidade. É com o cristianismo que as mulheres passam a ser conhecidas pelas suas virtudes, pela sua honra, pelas qualidades de sua alma. No paganismo antigo e no paganismo atual, as mulheres são mais conhecidas pelos seus vícios, infelizmente. Nosso Senhor quis, então, nascer de uma mulher. E quis nascer de uma mulher virgem, cumprindo a profecia feita por Isaías. Virgem para deixar muito clara e fora de qualquer dúvida a sua origem divina, a sua filiação divina. Nosso Senhor, Deus e homem verdadeiro, vem ao mundo por Maria. O fiat de Maria na anunciação do anjo é a porta pela qual Deus vem habitar entre os homens. Maria é a porta pela qual veio Cristo, o autor de todas as graças. Maria é a porta pela qual passam todas as graças. Ela é a medianeira de todas as graças. Porque Deus assim quis e porque assim está muito bem feito. Maria é o aqueduto, como a chama São Bernardo de Claraval. Ela é o canal por onde passam todas as graças. A fonte das graças é Cristo. O aqueduto que conduz as águas da graça é Maria. Maria é também o pescoço. Cristo, a cabeça. Nós, os membros do Corpo Místico. As graças da cabeça, que é Cristo, passam para os membros, que somos nós, pelo pescoço, que é Maria. Maria é a Rainha, Mãe do Rei, que não quer nada a não ser a vontade de seu Filho. Ela é a porta do céu. E Maria é uma larga porta do céu, sendo mui generosa medianeira das graças divinas, mui generosa tesoureira e distribuidora das graças divinas. Ianua Coeli.
Mas Nossa Senhora é porta do céu também no sentido contrário. Ela é porta do céu também no sentido ascendente. Como diz tão bem São Luís Maria Grignon de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção a Maria, Cristo quis vir à terra por Maria; Ele quer que cheguemos ao céu também por Maria. Maria é a porta que nos conduz a Cristo, que nos conduz ao céu, pois é por ela que recebemos as graças para irmos ao céu, é por ela que podemos dirigir mais eficazmente nossas súplicas a Deus. É como filhos de Maria que seremos realmente discípulos de Cristo. É pela devoção a Maria que formamos mais rápida e facilmente Cristo em nossa alma. A porta da salvação é estreita como diz Nosso Senhor (Mt. 7, 13): “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.” Maria alarga um pouco a porta, não diminuindo as exigências da vida cristã, mas nos ajudando a nos conformar a Cristo. Estreita é a porta da salvação porque a verdade é uma só e os erros múltiplos. Estreita porque é mais árduo praticar a virtude do que os inúmeros vícios. Mas Maria Santíssima nos ajuda a perseverar na fé, como ela perseverou até o fim e nos ajuda a praticar as virtudes.
Maria é a porta que leva à outra porta que é Cristo. Como Ele mesmo o diz (jo. 10, 9): “Eu sou a porta, aquele que entrar por mim, se salvará.” A porta que conduz a essa porta é Maria. Maria é porta que leva a Cristo, é a porta que nos dá todos as graças para entrarmos na porta da salvação que é Cristo. E poderíamos continuar falando de Maria ainda muito. De Maria nunquam satis. Nunca se fala o suficiente de Maria, sendo ela a mais perfeita criatura da Santíssima Trindade, sendo ela a Mãe de Deus e Porta do céu.
O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo traduz muito bem essa verdade de Maria como porta do céu. O Escapulário de tecido significa o hábito, a veste de Nossa Senhora. Vestir o hábito de Nossa Senhora significa procurar imitar as suas virtudes. Vemos isso na Sagrada Escritura. O profeta Elias ao ser arrebato aos céus deixa parte de seu manto com o profeta Eliseu e diz-se, então, que o profeta Eliseu adquiriu as virtudes de Elias. São Paulo diz que devemos nos revestir de Cristo, isto é, que devemos ser imitadores dEle e trazer em nós as mesmas disposições que Ele. Portar o Escapulário deve significar isso: o desejo de imitar as virtudes de Nossa Senhora. O escapulário permite também que nós nos lembremos dos novíssimos, dos nossos últimos fins. O Escapulário nos lembra do inferno, do purgatório, do céu, da nossa morte, do nosso juízo. Devemos meditar frequentemente nos novíssimos, se queremos nos salvar. O Escapulário nos lembra disso.
O Escapulário é um dos mais poderosos sacramentais, ele nos alcança muitas graças, é uma excelente devoção a Maria, justamente porque nos leva a imitá-la. É, muito provavelmente, a devoção mais popular a Maria depois do Santo Terço. Com o escapulário, que Maria nos entregou pela mão de São Simão Stock, a Mãe de Deus nos traz abundantes graças do céu e nos leva ao céu.
São bem conhecidas as duas promessas principais para quem recebe o escapulário com uma reta intenção: a salvação eterna e a liberação da alma do purgatório no sábado seguinte à morte. Para a primeira promessa, a condição é morrer usando o escapulário. Para a segunda promessa, as condições são: usar constantemente o escapulário, guardar a castidade segundo o próprio estado de vida e fazer as orações em honra de Nossa Senhora do Carmo impostas pelo sacerdote. Além disso, nos dois casos, é preciso que a imposição do Escapulário tenha sido feita.
Não se trata, claro, de superstição. Alguém poderia pensar que, tendo recebido o escapulário, pode viver mal a vida inteira, pois tem certeza de sua salvação. Ora, nada garante que a pessoa morra com o escapulário. Na sua impiedade, certamente acabará se desfazendo dele. A história guarda o registro de uma pessoa que queria matar-se e não conseguia. Percebeu que era por causa do escapulário. Arrancou o escapulário e cometeu o pecado gravíssimo do suicídio. Nada garante que morreremos usando o escapulário, se vivemos como ímpios. Além disso, como usar algo que tem a finalidade de honrar Nossa Senhora para mais ofendê-la pela obstinação no pecado? Seria absurdo. O escapulário deve ser usado com reta intenção.
Quantos relatos de conversão em razão do escapulário, nas mais diversas circunstâncias. O Papa Pio XII dizia do escapulário: “Não se trata de algo de pouca importância, mas de adquirir a vida eterna em virtude desta promessa da Bem-aventurada Virgem que a tradição relata; trata-se, pois, de um assunto que é o mais importante de todos e de conduzi-lo seguramente ao seu termo. O Escapulário como veste da Virgem é o sinal e o penhor da proteção da Mãe de Deus”. Esse mesmo Papa dizia também: “Quantas almas, em circunstâncias humanamente desesperadas, devem sua suprema conversão e sua salvação eterna ao Escapulário do qual estavam revestidos! Quantas também, nos perigos do corpo e da alma, sentiram, graças a ele, a proteção maternal de Maria!”.
É uma devoção excelente para honrar Maria, nos leva a imitar suas virtudes, nos promete a salvação eterna. Uma devoção tão simples. Carregar um pedaço de tecido pendurado no pescoço e que podemos portar com toda a discrição dentro dos trajes, o que alguns não querem fazer por questão de estética, porque o escapulário não combina com a roupa… O traje de Nossa Senhora deve combinar com toda a nossa vida em todos os seus aspectos.
Com o escapulário, Nossa Senhora alarga a porta do céu, como falamos antes. Que bondade a de Nossa Senhora ao nos dar a sua veste, ao nos dar ajuda tão preciosa, tão eficaz e tão simples ao mesmo tempo! Honra a Maria Santíssima, Mãe de Deus e Porta do Céu.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

25 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 381

NÃO QUEREMOS SERMÕES

O zelo de D. Bosco pelo ensino do Catecismo era grande. Onde quer que encontrasse meninos e jovens, logo se punha a explicar-lhe a doutrina. Um dia, em 1849, achava-se numa praça rodeado da criançada e ensinava o Catecismo. Havia ali alguns rapazotes que não queriam ouvi-lo e o estorvavam. D. Bosco admoestou-os várias vezes, mas sem resultado. Um deles, chamado Botta, chegou a dizer-lhe:
— Nós não queremos sermões!
Dom Bosco respondeu-lhe:
— E se neste momento ficasses cego, escutarias a palavra de Deus?
O rapaz, como que desafiando-o, replicou:
— Quero ver quem é capaz de cegar-me!
E cheio de raiva, voltou para seu companheiro:
— Por que foges? Tens medo? Vem aqui!
— Mas não vês que estou a teu lado? — disse o outro.
— Mas eu não te vejo! Ai! não vejo nada!
Todos constataram com espanto que o rapaz ficara cego, e suplicaram a D. Bosco que lhe restituísse a vista. O próprio culpado, chorando, ajoelhou-se e pediu perdão. O Santo mandou que rezasse o ato de contrição e prometesse confessar-se. O rapaz queria fazê-lo ali mesmo. Dom Bosco, porém, levou todos à igreja para rezarem. Depois, tendo-se o cego confessado, logo recuperou a vista.

24 de julho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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Mas, perguntar-me-eis, por que é que a Igreja parece reduzir à «veneração» todas as disposições para com este divino Sacramento? Que razão tem para assim proceder?
É que este respeito é uma homenagem de fé. O homem que não tem fé não dobra o joelho diante da hóstia consagrada. Esta reverência nasce e alimenta-se unicamente da fé.
Ora já vos tenho dito muitas vezes que a fé, base de toda a justificação e condição fundamental de todo o progresso na vida sobrenatural, é a primeira das disposições para receber o «fruto da Redenção» de Cristo.
Com efeito, que fruto é este para as nossas almas? Resume-se numa palavra: renascer para a vida divina da graça, tornar-nos participantes da adoção eterna. E isto não o conseguiremos senão pela fé. A fé é a condição primordial para nos tornarmos filhos de Deus e colhermos, na sua substância, o fruto da árvore divina da cruz: Quotquot autem receperunt eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri, HIS QUI CREDUNT IN NOMlNE EJUS . . . qui ex Deo nati sunt.
A recepção da Eucaristia une-nos primeiramente à santa Humanidade de Cristo; e esta união opera-se
pela fé. Quando credes que a Humanidade de Jesus é a Humanidade do Filho de Deus, a própria Humanidade do Verbo, e que n'Ele há só uma pessoa divina, quando, com toda a força e plenitude da vossa fé, adorais esta santa Humanidade, por ela entrais em contato com o verbo, pois é ela o caminho que vos leva à Divindade.
Quando Jesus Cristo Se dá a nós na Sagrada Comunhão, faz-nos a pergunta que fazia aos Apóstolos: Quem dicunt homines esse Filium hominis? Que dizem de mim os homens? Ao que devemos responder com Pedro: « Tu es Christus, Filius Dei vivi - «Vós sois o Cristo, o Filho do Deus vivo». O que vejo é apenas um pedaço de pão e um pouco de vinho: mas Vós, que sois o Verbo, a Sabedoria Eterna e a Verdade infinita, dissestes: Hoc est corpus meum, hic est sanguis meus -  «Este é o meu corpo, este é o meu sangue»; e por isso que o dissestes, creio que estais presente sob estas humildes e ínfimas aparências. Os nossos sentidos nada nos dizem, a fé é que nos faz penetrar até à realidade divina oculta sob os véus eucarísticos: Praestet fides supplementum sensuum defectui.
E Nosso Senhor diz-nos, como ao centurião: Sicut credidisti, fiat tibi - «Faça.-se conforme a tua fé».
Porque acreditais que sou Deus, dou-me a vós com todos os tesouros da minha Divindade, para vos cumular e transformar em mim; dou-me a vós com as inefáveis relações da minha vida íntima de Deus.
É que não nos unimos apenas com Cristo; Cristo é «um com o Pai» - Ego et Pater unum sumus - um, na unidade do Espírito Santo. A Comunhão une-nos ao mesmo tempo ao Pai e ao Espírito Santo. Jesus Cristo, Verbo Incarnado, é todo para o Pai. Quando comungamos Ele toma conta de nós, une-nos ao Pai como Ele mesmo Lhe está unido. Na última Ceia, depois de instituir a Sagrada Eucaristia, dizia Jesus: «Rogo-te, ó Pai, não só pelos meus Apóstolos, mas também por todos aqueles que, pela sua palavra, acreditarem em mim, para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que sejam um em nós . . . Que eles sejam um, como nós somos um, eu neles e tu em mim»:
Ego in eis et tu in me.
O Verbo une-nos também ao Espírito Santo. Na adorável Trindade, o Espírito Santo é o amor substancial do Pai e do Filho, Jesus Cristo dá-no-Lo como O dava aos Apóstolos, para nos dirigir por Ele; comunica-nos este Espírito de adoção, o qual, provando-nos que somos realmente filhos de Deus, nos auxilia, pelas Suas luzes e inspirações, a viver como « filhos prediletos ».
Que santuário não é a alma que acaba de comungar! A Eucaristia dá-lhe primeiramente o Corpo e o Sangue de Cristo, dá-lhe a Divindade do Verbo indissoluvelmente unida, em Jesus, com a natureza humana; pelo Verbo, a alma fica unida ao Pai e ao Espírito Santo, na indivisibilidade da Sua natureza incriada. A SS.ma Trindade habita em nós; a nossa alma torna-se o céu onde se realizam as misteriosas operações da vida divina. Podemos então oferecer ao Pai o Filho da Sua predileção para que ponha de novo n'Ele as Suas complacências; podemos oferecer estas complacências a Jesus para que na Sua santa alma se repitam as inefáveis alegrias que sentiu no momento da Incarnação; podemos pedir ao Espírito Santo que seja o laço de amor que nos una ao Pai e ao Filho.
Só a fé nos pode fazer compreender estas maravilhas e penetrar nestes abismos: Mysterium fidei . . .

23 de julho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

À Luz da Tradição

Parte 7/7

Todos estes pormenores do retrato da Virgem devemo-los à pena do grande Doutor Santo Ambrósio, e expunha-os diante das jovens do século IV. Necessitavam disso aquelas jovens, como o necessitam as jovens de todos os tempos; mas nunca foram tão necessários como agora.
Agora que a jovem não quer que seus pais lhe exijam que saia bem acompanhada.
Agora que a jovem reclama absoluta liberdade para ir com quem quiser.
Agora que a jovem se irrita se seus pais seguem os seus passos e querem saber por onde anda e com quem sai e diz que isto é desconfiar dela.
Agora que a jovem começou por afastar de si o companheiro defensor da sua pureza, que é o pudor, porque já o perdeu desde muito pequena.
Infeliz a jovem sem pudor que sai sem guarda e se mete indefesa entre manadas de feras.
E são assim a maioria das jovens. Por isso há tão poucas jovens que tenham uma pureza sem dilaceração de lobos carniceiros.
Por isso há tão poucas jovens que tenham uma alma semelhante à da Santíssima Virgem, e que verdadeiramente mereçam chamar-se suas filhas.
Quereis sê-lo vós? Aí tendes o seu retrato. O retrato da Virgem jovem. Levai-o continuamente gravado no vosso coração, que é o retrato da vossa Mãe do Céu. Da vossa mãe quando era jovem como vós.

22 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 380

VÁ APRENDER O CATECISMO

Garcia Moreno, presidente do Equador, gostava de assistir aos exames dos universitários, para ver a capacidade dos futuros funcionários do Estado. Um dia, depois de felicitar a um deles pelo brilhante exame de direito que havia prestado, disse-lhe:
— O sr. está muito bem versado em direito; entretanto, um bom advogado deve conhecer antes de tudo a lei de Deus.
Fez-lhe, em seguida, algumas perguntas sobre religião, que o jovem não soube responder.
Então disse-lhe o presidente:
— O sr. não deixe de ir por algum tempo ao convento dos padres franciscanos para aprender o Catecismo, cujo conhecimento lhe será de grande utilidade.

21 de julho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV

Na exposição que vos acabo de fazer, dei-vos a entender que a mais perfeita participação deste divino mistério é a Comunhão sacramental.
Sabeis, porém, que a Comunhão supõe o Sacrifício. Eis por que, pela assistência ao Sacrifício da Missa, nos associamos já ao mistério do altar.
Daríamos tudo para ter estado ao pé da cruz com a Virgem, S . João e Madalena. Ora a oblação do altar reproduz e renova a imolação do Calvário para perpetuar a sua recordação e nos aplicar os seus frutos.
Durante a Missa devemos unir-nos a Cristo, mas a Cristo imolado. Ele é, no altar, o Agnus tamquam occisus - «o Cordeiro oferecido como vítima» - e é ao Seu sacrifício que Jesus nos quer associar. Vede depois da consagração. O sacerdote, apoiando as mãos juntas no altar (gesto que significa, a união do sacerdote e de todos os fiéis com o sacrifício de Cristo ), faz esta oração; «Nós Vos suplicamos, Deus todo-poderoso, que ordeneis que todas estas coisas sejam levadas ao Vosso altar sublime, à presença da Vossa divina Majestade».
A Igreja põe aqui em relação dois altares; o da terra e o do céu; não porque no santuário dos céus
haja um altar material; mas é que a Igreja quer indicar que há só um sacrifício: a imolação que misticamente se realiza na terra é uma só com a oblação que Jesus Cristo, nosso Pontífice, faz de Si mesmo no seio do Pai, a quem oferece por nós as satisfações da Sua Paixão.
«Estas coisas, diz Bossuet, são na verdade o corpo e o sangue de Jesus, mas são este corpo e este sangue com todos nós, com nossos votos e orações; e tudo isto junto forma uma mesma oblação».
Assim, neste momento solene, somos introduzidos ad interiora velaminís - no santuário da Divindade -,  mas somo-lo por Jesus e com Ele; e ali, diante da Majestade infinita, na presença de toda a corte celestial, somos apresentados com Cristo ao Pai para que o Pai «nos cumule de todas as graças e bênçãos celestes »: Omni benedictione caelesti et gratia repleamur.
Oh! Se a nossa fé fosse viva, com que respeito assistiríamos a este Santo Sacrifício! Com que cuidado procuraríamos purificar-nos de qualquer mancha, a fim de sermos menos indignos de entrar, após o nosso chefe, no Santo dos Santos, para ali sermos, com Cristo, « hóstia viva»! Como muito bem diz S. Gregório, Jesus Cristo só será nossa hóstia quando nos oferecermos a nós mesmos, para participarmos, pela nossa generosidade e pelos nossos sacrifícios, na Sua vida de imolação: « Tunc ergo vere pro nobis hostia erit Deo, cum nos ipsos hostiam fecerimus» .
O sacrifício eucarístico dá-nos o Sacramento. Só unindo-nos à Vítima é que participamos perfeitamente do Sacrifício. Na oração que vos acabo de explicar, a Igreja pede que sejamos «cheios de toda a graça e bênção celeste», mas com a condição de «nos associarmos a este sacrifício, recebendo o Corpo e o Sangue " de Jesus: Quotquot ex ac altaris participatione sacrosanctum Filíi tui corpus et sanguinem sumpserimus.
Portanto, só pela Comunhão é que penetramos perfeitamente nos pensamentos de Jesus, realizamos inteiramente os desejos do Seu coração ao instituir a Eucaristia: «Tomai e comei»; «se não comerdes a carne do Filho do Homem, não tereis a vida em vós». A Comunhão é o primeiro dos deveres eucarísticos.
Mas aproximemo-nos deste banquete eucarístico com as melhores disposições. Sabeis muito bem que
este divino Sacramento produz os seus frutos na alma que o recebe em estado de graça e com reta intenção. Mas sabeis também que a abundância dos seus frutos é proporcional ao grau de fervor de cada um.
Já vos expliquei largamente noutro lugar, como estas disposições se reduzem à fé, confiança e abandono de nós mesmos a Cristo e aos membros do Seu corpo místico. Não vou agora repetir o que já ficou dito.
Há, todavia, uma disposição a que me quero referir aqui, porque nos é indicada pela própria Igreja na oração do SS. Sacramento; é a veneração: «Dai-nos, Senhor, uma tal veneração pelos sagrados mistérios do Vosso Corpo e Sangue, que possamos sentir constantemente em nós os frutos da Vossa Redenção»: Ita nos corporis et sanguinis tui sacra mysteria VENERARI, ut redemptionís tuae fructum in nobis jugiter sentiamus.
A Igreja pede que «veneremos» Jesus Cristo na Eucaristia. E qual a razão? É dupla.
Primeiramente, porque Jesus Cristo é Deus.
A Igreja fala de «sagrados mistérios ». A palavra, «mistérios» indica que sob as espécies eucarísticas se oculta uma realidade; ao acrescentar «sagrados», dá-nos a entender que esta realidade é santa e divina. Com efeito, Aquele que se oculta na Eucaristia é Aquele que, com o Pai e o Espírito Santo, é o Ser infinito. o Todo poderoso, o princípio de todas as coisas. Se Nosso Senhor nos aparecesse no esplendor da Sua glória, a nossa vista não poderia suportar aquele esplendor. Para se dar a nós, oculta-se, não sob a fraqueza duma carne passível, como no mistério da Incarnação, mas sob as espécies do pão e do vinho. Digamos-Lhe: « Senhor Jesus, por amor de nós, para nos atrairdes a Vós, para Vos tornardes nosso alimento, velais a Vossa Majestade. Mas nada perdeis das nossas homenagens. Quanto mais ocultais a Vossa Divindade, mais queremos adorar-Vos, prostrar-nos diante de Vós com respeito e amor ».
Adoro te devote, latem; Deitas,
Quae sub his figuris vere latitas.
A segunda razão é que Jesus Cristo se humilhou e entregou por nós.
A Igreja lembra-nos que «este admirável Sacramento é o memorial por excelência da Paixão de Jesus
 Cristo». Ora, durante a Sua santa Paixão, Jesus Cristo sofreu humilhações inauditas e ignomínias sem nome.
Mas, diz S. Paulo, por isso mesmo que Jesus Cristo se aniquilou e desceu a tais humilhações, o Pai O exaltou e Lhe deu um nome acima de todo o nome, a fim de que diante d'Ele se dobrasse todo o joelho e toda a língua proclamasse que Jesus Cristo, Filho de Deus, reina para sempre na glória do Pai.
Aprofundemos este pensamento do Eterno Pai que o Apóstolo nos revela. Quanto mais Cristo se humilhou e aniquilou, mais devemos nós, como o Pai, exaltá-Lo neste Sacramento que nos recorda a Sua Paixão; mais Lhe devemos prestar as nossas homenagens. Exigem-no a justiça e o amor.
E afinal de contas, não foi «por nós» que se entregou? Propter nos et propter nostram salutem. Se sofreu, foi por amor de mim; se a Sua alma santíssima foi invadida pela tristeza, pelo tédio e pelo pavor, foi por amor de mim; se suportou tantas injúrias da parte duma soldadesca grosseira, foi por amor de mim; se foi flagelado e coroado de espinhos, se morreu no meio de indizíveis tormentos, foi por amor de mim, para me atrair a Si: Dilexit me et tradidit semetípsum pro me. Nunca nos esqueçamos de que cada um dos episódios dolorosos da Paixão foi antecipadamente disposto pela
Sabedoria e aceite pelo Amor para nossa salvação.
Cristo Jesus, realmente presente no altar, eu me prostro aos Vossos pés. Seja-Vos prestada toda a adoração no Sacramento que quisestes deixar-nos na véspera da Vossa Paixão, como prova do excesso do Vosso amor!
Daremos ainda provas desta «veneração", visitando Jesus no tabernáculo. Realmente, não seria faltar ao respeito abandonar este hóspede divino que está à nossa espera? Ali está, realmente presente, Aquele que estava presente no presépio, em Nazaré, nas montanhas da Judeia, no Cenáculo, na cruz. É Aquele mesmo Jesus que dizia à Samaritana: «Se conhecesses o dom de Deus! Tu, que tens sede de luz, de paz, de alegria, de ventura, se soubesses quem sou, pedir-me-ias água viva . . . aquela água da graça divina que se torna uma fonte a jorrar incessantemente para a vida eterna.».
Ali está, realmente presente, Aquele que disse: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida . . . Aquele que me segue não caminha nas trevas . . .  Ninguém vai ao Pai senão por mim . . . Eu sou a vida, vós os ramos; aquele que permanece em mim e eu nele, esse dará frutos, pois sem mim nada podeis fazer... Não rejeito aquele que vem a mim . . . Vinde a mim, todos vós que es tais sobrecarregados e eu vos aliviarei . . . As vossas almas só em mim acharão repouso .. . »
Ali está o mesmo Cristo que curava os leprosos, acalmava as ondas em fúria e prometia ao bom ladrão um lugar no Seu reino. Ali encontramos o nosso Salvador, o nosso amigo, o nosso irmão mais velho, na plenitude da Sua omnipotência divina, na virtude sempre fecunda dos Seus mistérios, com a infinita superabundância dos Seus merecimentos e a inefável misericórdia do Seu amor.
Ali nos espera, no Seu tabernáculo, não só para receber as nossas homenagens, mas também para nos
comunicar as Suas graças. Se a nossa fé na Sua palavra não é um sentimento vão, iremos até junto d'Ele, pôr a nossa alma no aconchego da Sua santíssima Humanidade. Tende a certeza de que, como outrora, «d'Ele sairá uma virtude» que nos encherá de luz, de paz e de alegria.
Só na medida em que esta atitude de respeito e veneração penetrar profundamente nas nossas almas, poderemos esperar «participar sempre do fruto da Redenção de Jesus». É preciso que esta veneração seja tal que nos faça atingir o dom divino na sua maior plenitude: ITA venerari UT fructum jugiter sentiamus.

20 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 379

AS INFÂMIAS DA IGREJA

Em 1852, apresentou-se a D. Bosco um notável protestante e entregou-lhe um livro, dizendo:
— Neste livro encontrará o sr. todas as infâmias da Igreja Católica.
Era um livro de Triviéres, cujas mentiras e calúnias eram mais numerosas do que as palavras que continha.
— Indique-me o senhor as infâmias — disse D. Bosco.
O protestante respondeu:
— Não é uma infâmia o Papa fazer-se adorar como se fosse Deus? Não é coisa de pagãos adorar os santos e suas imagens? Não é indigno proibir a leitura do Evangelho?
Dom Bosco, com toda a calma, disse-lhe que lhe mostrasse um só decreto emanado da Igreja Católica em que se encontrasse alguma das três acusações. O luterano revolveu o seu livro, mas, não encontrando nada, disse que voltaria mais tarde com as provas. S. João Bosco tomou então a palavra:
— O sr, tome o tempo necessário — disse — para ler e procurar as provas; mas, se não conseguir provar o que afirmou, tenho razão de afirmar que os protestantes sempre foram e continuam sendo os caluniadores da Religião da Igreja Católica.
O ministro protestante não voltou: com certeza ainda está procurando as tais provas!

19 de julho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

À Luz da Tradição

Parte 6/7

Se temos de fazer o retrato completo da Virgem jovem, temos que examinar também como procedia nas suas relações sociais.
A necessidade do seu espírito arrastava-a para a solidão, e depois de Deus, os seus principais amigos, eram os livros santos. Lendo-os sentia-se rodeada dos personagens bíblicos: de anjos, patriarcas, profetas, reis, heroínas de Israel, e não notava a falta da companhia dos homens; não podia contudo afastar-se do trato com as pessoas que viviam à sua volta.
Com os superiores, era respeitosa. Porém ocorre perguntar, e quem era superior à rainha dos céus, se ela era mais santa que todos os homens e todos os anjos?
No entanto, Ela olhava como superiores a todos os que ostentavam a representação de Deus.
Os seus superiores eram: seus pais, seu esposo e as autoridades civis e religiosas.
Em todos eles via a Deus, infinitamente superior a ela; e como a representantes de Deus, os respeitava e lhes obedecia.
Jamais desgostou a seus pais, nem sequer com um olhar.
Um desgosto que desse a seus superiores, era um desgosto que dava a Deus. E Maria, desgostar a Deus?!
Quantos desgostos dão hoje as jovens a seus pais! Desgostos com os seus olhares iracundos, com os seus gestos de desprezo, com as suas palavras insultuosas e sobretudo com as suas desobediências e a sua conduta escandalosa.
Talvez que mais de uma vez os encontrasses chorando a sós por tua culpa. Tanto os fazes sofrer.
E não pensas que fazê-los sofrer é fazer sofrer a Deus; que fazendo-os chorar fazes chorar a Jesus Cristo?
A Virgem não era como algumas jovens: amáveis e simpáticas só com os de fora. Pacífica consigo mesma, difundia em volta de si a paz.
Com os iguais, era também amável. Sendo superior a eles, nunca fez alarde da sua superioridade; abstinha-se da mínima ostentação; porque nada afasta mais o carinho das companheiras como o alarde de superioridade.
Era a companheira humilde que servia as outras.
A Virgem quis bem a todas, porque cumpria o mandamento de Deus, de amar a todos como a nós mesmos; porque imitava o Pai celeste que faz nascer o sol para todos, e sobre os campos de todos faz cair a chuva benéfica.
Como seu filho mais tarde, ela quis passar pela terra fazendo bem a todos, e em toda a sua vida não fez mal a ninguém.
Que norma de conduta tão formosa: não fazer mal a ninguém. A todos fazer bem.
A Virgem, como vistes, era recolhida, amava o retiro e a solidão, mas necessariamente tinha que sair de casa.
Quando saía? Aonde ia?
Assistia somente aquelas reuniões de homens em que não tinha de envergonhar-se a misericórdia, nem teria de fechar os olhos ao pecado.
E quando saía de casa, nunca saía só, ia sempre acompanhada.
É verdade que o seu primeiro anjo da guarda era o pudor, o defensor que Deus deu à pureza. O pudor acompanhava-a sempre, mesmo quando se dirigia ao templo; porque no caminho do templo podiam aparecer-lhe os inimigos.
E além do pudor, levava sempre alguma companhia para maior decoro e dignidade.

18 de julho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 378

QUEM FEZ ISTO?

S. Rosa de Lima, primeira santa americana, consagrara-se totalmente a Deus e desprendera-se das coisas criadas. Para ter algum descanso em meio as suas quase continuas meditações, pôs-se a cultivar uma linda flor. Regava-a com grande diligência e alegrava-se de vê-la crescer tão formosa.
Um dia encontrou o vaso virado, a terra espalhada e a flor esmagada. Afligiu-se muito a Santa e exclamou:
— Jesus, quem fez isto?
Apareceu-lhe no mesmo instante o Salvador e disse-lhe:
— Fui eu que o fiz com minhas próprias mãos, porque não quero no teu coração nenhum afeto que não seja para mim.
A Santa, de joelhos, pediu perdão a Jesus.

17 de julho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

III

Entre todas as propriedades que a Sagrada Escritura atribui ao maná, há uma particularmente digna de nota: o maná era «um alimento que se adaptava aos desejos e gostos de quem o comia»: Deserviens uniuscujusque voluntati, ad quod quisque volebat cotebatur.
No pão celeste, que é a Eucaristia, podemos também encontrar, se assim me posso exprimir, o gosto de todos os mistérios de Cristo e a virtude de todos os Seus estados. Aqui não consideramos a Eucaristia como memorial, mas como fonte de graça. É este um aspecto fecundo do mistério eucarístico em que quero deter-me convosco uns momentos. Se deixarmos que ele penetre nas nossas almas, sentiremos aumentar em nós o amor e desejo deste alimento divino.
Nosso Senhor, como sabeis, dá-se em alimento para conservar em nós a vida da graça; além disso, pela união que este Sacramento estabelece entre as nossas almas e a Pessoa de Jesus - in me manet et ego in illo -, pela caridade que esta união alimenta, Jesus Cristo opera em nós aquela transformação que levava S. Paulo a dizer: «Vivo; não, já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim». Eis a virtude própria deste inefável Sacramento.
Esta transformação, porém, admite para nós muitos graus e compreende múltiplas facetas. Não podemos realizá-la duma só vez; produz-se pouco a pouco, à medida que mais profundamente penetramos no conhecimento de Jesus Cristo e dos Seus estados, pois a Sua vida é o nosso modelo e a Sua perfeição o exemplo da nossa.
A piedosa contemplação dos mistérios de Jesus constitui para nós um dos elementos desta transfiguração. Já vô-lo disse: quando, por uma fé viva, nos pomos em contacto com Cristo, Ele produz em nós, pela virtude sempre eficaz da Sua santa Humanidade unida ao Verbo, aquela semelhança que é o sinal da nossa predestinação.
Se isto é verdade da simples contemplação dos mistérios, quanto mais profunda e extensa não será, 
neste caso, a ação de Jesus, quando habita em nossas almas pela Comunhão sacramental? A união maior e mais íntima que neste mundo podemos ter com Cristo é a mesma que se dá entre o alimento e aquele que o toma. Cristo dá-se para ser nosso alimento; mas, ao contrário do que sucede com o alimento corporal, nós é que somos assimilados por Ele; Jesus Cristo torna-se nossa vida.
O primeiro fruto do maná era sustentar; a graça própria da Eucaristia é igualmente manter a vida 
divina da alma, fazendo-nos participar da vida de Cristo.
Mas assim Como o «maná se adaptava aos desejos daqueles que o tomavam», assim também a vida que Jesus Cristo nos dá pela Comunhão é toda a Sua vida, que passa às nossas almas para ser o exemplar e a forma da nossa, para produzir em nós os diversos sentimentos do Coração de Jesus, para nos fazer imitar todas as virtudes que Ele praticou em Seus estados e derramar em nós as graças especiais que nos mereceu quando por nós viveu os Seus mistérios.
Não percamos nunca de vista que sob as espécies eucarísticas está tão somente a substância do corpo
glorioso de Jesus, tal qual está agora no Céu, e não como estava, por exemplo, no presépio de Belém.
Mas, quando o Pai contempla o Filho nos esplendores celestes, que vê n'Ele? Vê Aquele que por amor de nós viveu sobre a terra trinta e três anos; vê tudo quanto aquela vida mortal conteve de mistérios, e as satisfações e merecimentos de que estes mistérios foram origem; vê a glória que este Filho Lhe deu, vivendo cada um deles. Em cada um desses mistérios vê ainda e sempre o mesmo Filho das Suas complacências, conquanto Jesus Cristo esteja agora sentado à Sua direita no estado glorioso.
Do mesmo modo, Aquele que recebemos é Jesus que nasceu de Maria, viveu em Nazaré, pregou aos judeus da Palestina; é o bom Samaritano; é Aquele que curou os doentes, livrou Madalena do demônio e ressuscitou Lázaro; é Aquele que, cansado, dormia no barco; é Aquele que agonizava, esmagado pela angústia; é Aquele que foi crucificado no Calvário; é o glorioso ressuscitado do túmulo, o misterioso peregrino de Emaús que se dá "a conhecer na fração do pão »; é Aquele que subiu aos céus, à direita do Pai; é o Pontífice eterno, sempre vivo, que sem cessar intercede por nós.
Todos estes estados da vida de Jesus, com as suas propriedades, com o seu espírito, com os seus méritos e virtude no-los dá a Comunhão; sob a diversidade dos estados e variedades dos mistérios, perpetua-se a identidade da pessoa que os viveu e agora vive eternamente no céu.
E assim, quando recebemos Jesus Cristo na sagrada Mesa, podemos contemplá-Lo e entreter-nos com Ele sobre qualquer dos Seus mistérios; conquanto esteja agora na sua vida gloriosa, n'Ele achamos Aquele que viveu para nós e nos mereceu a graça que estes mistérios contêm; vindo a nós, Jesus Cristo comunica-nos esta graça para operar pouco a pouco a transformação da nossa vida na Sua, que é o efeito próprio do sacramento. Para compreender esta verdade, basta percorrer as orações «secreta» e «postcommunio» da Missa das diferentes festas do Salvador. O objeto destas orações, que ocupam um lugar especial entre as do sacrifício, é diverso conforme a natureza dos mistérios celebrados.
Podemos, por exemplo, unir-nos a Jesus como vivendo in sinu Patris, igual ao Pai, Deus como Ele; Aquele que adoramos em nós, adoramo-Lo como Verbo co-eterno do Pai, o próprio Filho de Deus, objeto das complacências do Pai. Sim, adoro-Vos em mim, Verbo divino; pela união tão íntima que neste momento tenho convosco, concedei-me a graça de estar também convosco in sinu Patris, agora pela fé, mais tarde na eterna realidade para viver a vida própria de Deus, que é a Vossa vida.
Podemos adorá-Lo como O adorou a Virgem Maria, quando o Verbo Incarnado vivia nela, antes de vir à luz do mundo. Só no céu saberemos com que sentimentos de respeito e amor a Virgem se prostrava interiormente diante do Filho de Deus que dela tomava a nossa carne.
Podemos ainda adorá-Lo em nós mesmos, como O teríamos adorado há dezanove séculos, na gruta de Belém, com os pastores e os Magos. Comunica-nos então a graça de imitar as virtudes especiais da humildade, pobreza, desprendimento, que n'Ele contemplamos neste estado da Sua vida oculta.
Se quisermos, será em nós o agonizante que, pelo Seu admirável abandono à vontade do Pai, nos obtém a força para levarmos a nossa cruz de cada dia; será o divino ressuscitado que nos permite desapegar-nos de tudo o que é terreno, «viver para Deus», com mais generosidade e plenitude; será em nós o triunfador que, cheio de glória, sobe aos céus e nos arrasta consigo para lá  vivermos desde já pela fé, pela esperança e pelos santos desejos.
Cristo, assim contemplado e recebido, é Cristo a reviver em nós todos os Seus mistérios, é a vida de Cristo a instilar-se na nossa, a substituir-se a ela com todas as Suas belezas próprias, os Seus méritos particulares e as Suas graças especiais: Deserviens uniuscujusque voluntati.

16 de julho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

À Luz da Tradição

Parte 5/7

Santo Ambrósio desce a examinar a moderação de Maria, até na comida e no sono, para que nisso também a imitem as virgens cristãs.
Não vos admireis disto, que ainda que as coisas pareçam pequenas, revelam muito do que é o homem. De aí o adágio popular: na mesa e no jogo, conhecem-se as pessoas; porque ali mais facilmente se desborda a paixão.
Diz o Santo: O alimento da Virgem era somente o necessário para impedir a morte.
A necessidade, não o prazer, nem muito menos a satisfação das paixões, era o que procurava a Virgem na comida.
Que longe esta de parecer-se com ela a que só procura manjares esquisitos porque satisfazem o gosto; a que se queixa de tudo o que não lhe agrada; a que não come para viver, mas sim que vive para comer.
E que dirá a Virgem das jovens que se gloriam de ser suas filhas, e bebem sem medida, superando a capacidade de resistência dos bebedores profissionais?
Que diria das jovens que alternam o cigarro com o copo de licor e voltam a casa com o conhecimento perdido?
Santíssima Virgem jovem, modelo das virgens cristãs, que dirás no céu ao contemplares estas cenas vergonhosas das que te invocam como mãe?
afastarás teus olhos destas cenas de ignomínia, e terás vergonha de que semelhantes jovens se atrevam a dizer que és sua mãe.
A necessidade, e não o regalo ou o prazer, era o que regulava também o sono da Virgem, aquele sono, que não era sono, pois quando o corpo dormia, o espírito velava e continuava pensando em Deus e nas leituras piedosas e nas empresas que planeava quando desperta.
Muitas vezes durante o sono revivem as cenas que se acumularam na imaginação durante a vigília.
E a jovem que se deita depois de vir do salão de baile, ou do salão de cinema com todas as imagens que gravaram na sua alma as películas e as conversas, e o convívio com rapazes descuidados; a jovem a quem o sono surpreende com a novela pornográfica na mão, que cenas revolverá durante o sono na sua imaginação?
A jovem que vive para gozar, que norma terá para regulamentar o seu sono?
Juventude moderna, que necessidade tens de levantar um pouco os olhos da terra e fixar-te no modelo eterno que Deus preparou: Maria, a Virgem jovem!

15 de julho de 2017

Primeira Missa Solene do Padre Ivan Chudzik - IBP - Guarapuava - Pr




Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

II

Se considerarmos agora a Eucaristia como Sacramento, descobriremos nela propriedades admiráveis de que só um Deus a podia dotar.
Tenho-vos dito muitas vezes, seguindo S. Paulo a quem é tão cara esta ideia, que os principais acontecimentos da história do povo judeu, no Antigo Testamento, eram o símbolo, umas vezes oculto, obscuro, outras patente, luminoso, das realidades que deviam iluminar a Nova Aliança estabelecida por Cristo. Ora, segundo as próprias palavras de Nosso Senhor, uma das figuras mais características da Eucaristia foi o maná. Com particular insistência, o divino Salvador estabelece comparações entre
este alimento que caiu do céu para sustentar os hebreus no deserto e o pão eucarístico que Ele devia dar ao mundo. E assim, será partilhar dos sentimentos de Cristo estudar a figura e o símbolo, para melhor compreender a sua realidade.
Eis, pois, em que termos o escritor sagrado, órgão do Espírito Santo, fala do maná: «Saciastes, ó Deus, o Vosso povo com o alimento dos Anjos, e do céu deste-lhe sem trabalho um pão já preparado, que lhe proporcionava inteiro prazer e satisfazia todos os gostos. Esta substância, por Vós enviada, mostrava a doçura que tendes para os Vossos filhos, e este pão, acomodando-se ao desejo de quem o comia, transformava-se no que ele quisesse»: Deserviens uniuscujusque voluntati, ad quod quisque volebat con vertebatur.
A Igreja tomou estas magníficas palavras para as aplicar à Eucaristia, no Ofício do SS.mo Sacramento. Vamos ver com que verdade e plenitude elas exprimem as propriedades do alimento eucarístico; vamos ver com quanto maior razão podemos cantar da sagrada Hóstia o que o autor inspirado cantava do maná.
Como o maná, a Eucaristia é alimento, mas alimento espiritual. Foi no meio dum banquete, sob forma de alimento, que Nosso Senhor a quis instituir. Jesus Cristo dá-se a nós como alimento das nossas almas: «A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida»; Caro mea vere est cibus, et sanguis meus vere est potus.
Como o maná, a Eucaristia é um pão descido do céu. O maná, porém, não passava de figura imperfeita; por isso, Nosso Senhor dizia aos judeus que Lhe recordavam o prodígio do deserto: «Moisés não vos deu o pão do céu; meu Pai é quem dá o verdadeiro pão do céu, porque o pão de Deus é Aquele que desce do céu e que dá a vida, não só a um povo em particular, mas a todos os
homens». 
E como os judeus murmurassem ao ouvirem-No chamar-se a si próprio «pão descido do céu», Jesus acrescenta: «Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná e morreram; este é o pão que desce do céu para que quem o comer não morra. Eu sou o pão vivo que desci do céu; se alguém comer deste pão viverá eternamente». Estas palavras são verdadeiras. Porque, de fato, esse pão deposita em nossos corpos o germe da ressurreição. «E este pão que eu darei é a minha carne para
vida do mundo».
Vede como Nosso Senhor mesmo nos mostra, nestas palavras, que a divina realidade da Eucaristia 
excede em plenitude, na sua substância e nos seus frutos, o alimento dado outrora ao povo judeu.
Este pão do céu dá-nos a vida, alimentando em nós a graça. «Contém igualmente toda a suavidade e doçura»: Omne delectamentum in se habentem, et omnis saporis suavitatem.
Nada tão alegre como um banquete. A comunhão é o banquete da alma, isto é, fonte de íntimas alegrias. Como é que Jesus Cristo, verdade e vida, princípio de todo o bem e de toda a felicidade, não havia de encher os nossos corações de alegria? Como é que, fazendo-nos beber do cálice do Seu Sangue divino, não havia de derramar em nossas almas aquela alegria espiritual que excita a caridade e sustenta o fervor? No Cenáculo, depois de instituir este divino Sacramento, fala aos Apóstolos da Sua alegria; quer que «esta alegria, a Sua própria alegria, toda divina, seja a nossa, e que dela se encham os nossos corações»: Ut gaudium MEUM in vobis sit.
Um dos efeitos da Eucaristia, quando recebida com devoção, é encher a alma de suavidade sobrenatural que a torna pronta e dedicada no serviço de Deus.
Não esqueçamos, no entanto, que esta alegria é antes de tudo espiritual. Sendo a Eucaristia o «mistério de fé» por excelência, segue-se permitir Deus que esta alegria, toda interior, não tenha repercussão alguma na parte sensível do nosso ser. Sucede a almas deveras fervorosas ficarem acabrunhadas pela aridez depois de terem recebido o pão da vida. Não se admirem; sobretudo não desanimem; se tiverem todas as disposições possíveis para receber a Cristo, se sofrerem com a sua impotência, fiquem tranquilas e conservem-se em paz. Jesus Cristo, sempre vivo, opera em silêncio, mas soberanamente, no íntimo da alma, para a transformar n'Ele; é o efeito mais precioso deste alimento celeste: « Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele».
Que mais? Este pão vivo, que dá vida, este manjar delicioso que traz alegria, é-nos dado "sem trabalho» - síne labore. É uma das propriedades do maná. E que bem se verifica no manjar eucarístico! 
Efetivamente, que é exigido de nós para nos podermos sentar ao «banquete do Rei» e comer com fruto o pão celeste? Que nos apresentemos revestidos de «vestido nupcial», isto é, que estejamos em graça e tenhamos reta intenção.
Nada mais é exigido da nossa parte. Mas, quanto a Jesus? Oh! não foi certamente «sem trabalho» que nos preparou este banquete. Foram precisas as humilhações Incarnação, a humildade e os trabalhos obscuros da vida oculta, as fadigas do apostolado, as lutas contra os fariseus, os combates contra o príncipe das trevas, enfim, resumindo, a coroar e rematar tudo, as dores da Paixão. Só à custa da Sua imolação cruenta e de sofrimentos sem nome, é que Jesus Cristo nos mereceu esta graça, na verdade, inaudita, de nos unir intimamente a Si, dando-nos a comer o Seu Corpo e a beber o Seu precioso Sangue.
Por isso, quis instituir este Sacramento na véspera da Paixão, como para «nos dar a mais tocante prova do excesso do seu amor para conosco»: Cum dilexisset suos . . . in finem dilexit eos. Porque se comunicou por um tal preço, é que a suavidade do amor infinito de Jesus Cristo enche este dom: Dulcedinem tuam . . . ostendebat.
Eis algumas das maravilhas figuradas pelo maná e realizadas, para vida e alegria das nossas almas, pela sabedoria e bondade do nosso Deus.
Como não as «admirar» com a Igreja? Como não «cercar de toda a nossa reverência, de todas as nossas adorações estes mistérios sagrados»? Tribue quaesumus, ita nos corporis et sanguinis tuí sacra mysteria venerari!

14 de julho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

                                                           À Luz da Tradição

Parte 4/7

Não só os olhares e as palavras, todo o porte do corpo era uma cópia da alma da Santíssima Virgem.
Como a sua alma estava em ordem e equilíbrio perfeito, por isso ninguém observou um gesto menos modesto nas suas ações.
Como a sua alma era tão reta e sensata, ninguém notou no seu corpo nenhuns ademanes de leviandade.
Falar de posições indecorosas tratando-se da Santíssima Virgem equivaleria a uma blasfêmia.
Quem tivesse contemplado aquela jovenzinha pelas ruas de Jerusalém e de Nazaré, simples, natural, mas ao mesmo tempo tão digna, tão reservada!
Que necessidade têm de olhar para esse modelo as nuvens de raparigas que de quando em quando aparecem pelas ruas, lançando risadas estrepitosas e atraindo os olhares de todos pela sua falta de compostura!
Que necessidade têm de olhar para esse modelo as jovens de mais idade e de malícia mais refinada, que estudam meticulosamente a arte de andar e de rir e de olhar e de vestir, para levantar nos que as encontram tempestades de paixão!

13 de julho de 2017

Sermão para o 3º Domingo depois de Pentecostes – 1ª Comunhão – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Sermão de 1ª Comunhão


Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Homero, Mateus, Miguel, Beatriz, Cecília, Natália.  Hoje é o dia mais importante da vida de vocês, pois hoje é o próprio Jesus Cristo que vocês irão receber na hóstia consagrada. Vocês vão receber pela primeira vez Nosso Senhor Jesus Cristo. Com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Vocês vão receber Nosso Senhor Jesus Cristo, que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Vocês vão receber Jesus Cristo, que passou a vida d'Ele fazendo o bem. Vocês vão receber Nosso Senhor, que fez os mais sublimes milagres. Vocês vão receber Nosso Senhor, que nos ensinou a Verdade. Vocês vão receber Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio ao mundo unicamente para nos salvar e obedecer assim a Deus Pai. Vocês vão receber Jesus, que nasceu de Maria Virgem, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado morto e sepultado para perdoar os pecados de vocês e para salvar a alma de vocês e de todas as pessoas. Vocês vão receber o próprio Deus, criador de todas as coisas, do céu e da terra, dos anjos, dos minerais, das plantas, dos animais, dos planetas, dos homens: criador de tudo o que existe. Que graça enorme e que bondade enorme a de Nosso Senhor Jesus Cristo: se entregar a vocês na Eucaristia para que possam se salvar. Portanto, vocês sabem muito bem que aquilo que vocês vão receber parece pão, tem gosto de pão, mas que é, na verdade, o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês: é o dia em que o próprio Deus vai se entregar a vocês como alimento espiritual, para dar forças para que vocês sejam pessoas boas, quer dizer, pessoas que seguem aquilo que Cristo ensinou.
Homero, Mateus, Miguel, Beatriz, Cecília, Natália, hoje deve ser o dia mais alegre da vida de vocês, pois vão receber o maior bem e o maior tesouro que vocês poderiam desejar. Não se trata de um brinquedo, de uma diversão ou de alguma coisa que passa e acaba rapidamente. Não. É o próprio Deus que vocês vão receber. Deus, que é infinito, que é nossa felicidade e nossa alegria. Vocês receberão o próprio Deus na Eucaristia e o receberão bem preparados, com a alma pura, com o desejo de serem melhores católicos: acreditando mais firmemente naquilo que Deus nos falou, praticando melhor os mandamentos, deixando de lado todo pecado, combatendo, com todas as forças de vocês, o pecado mortal e também o venial, que são os dois maiores males que existem. Se vocês receberem bem o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Cristo, e receberem com frequência, vocês irão ao céu, vocês serão eternamente felizes no céu e agradarão a Deus.
Lembrem-se de que vocês, como todas as outras pessoas, foram criados para conhecer, amar e servir a Deus aqui na terra, para poderem ser eternamente felizes com Ele no céu. Fazer uma coisa que não leve vocês a conhecer, amar ou servir a Deus é perder tempo. Lembrem-se, então, de que a primeira comunhão não é o fim, mas o começo de uma vida cristã.
A partir de hoje, Homero, Mateus, Miguel, Beatriz, Cecília, Natália,  vocês terão que se esforçar ainda mais para fazer aquilo que Deus manda, pois fazer o que Deus manda agrada a Ele e faz bem para vocês. A partir de hoje, vocês terão que rezar ainda mais: ao acordar, antes de dormir, antes das refeições, e várias outras vezes durante o dia vocês devem dirigir palavras a Jesus Cristo e à sua Mãe, Maria. Façam o esforço para rezar o terço diariamente, imitando o exemplo da Jacinta e do Francisco, crianças que viram Nossa Senhora em Fátima. Elas rezavam o terço todo dia e tinham a idade de vocês, aproximadamente. Peçam a ajuda dos pais de vocês para rezar. A partir de hoje, vocês terão que procurar conhecer ainda melhor aquilo que Cristo ensinou, para poder amar mais a Cristo e colocar em prática tudo o que Ele nos falou. Estudem o catecismo, perguntem aos pais, que têm obrigação de ensinar a doutrina cristã aos filhos, perguntem ao Padre. A partir de hoje, vocês terão que praticar ainda melhor os mandamentos, evitando com todas as forças de vocês o pecado, pois o pecado ofende a Deus e prejudica a alma de vocês. A partir de hoje, vocês devem receber com frequência a confissão e a comunhão. Se caírem em pecado mortal, procurem confessar rapidamente, fazendo o exame de consciência, com arrependimento, com o propósito de não mais voltar a pecar, confessando sem medo todos os pecados e cumprindo a penitência dada pelo Padre. Mesmo sem pecado mortal, procurem com regularidade a confissão.
A partir de hoje, vocês assistirão à Missa prestando ainda mais atenção no que está acontecendo, sem se distrair, sem conversar, sem brincar com os irmãozinhos ou coleguinhas. Vocês assistirão à Santa Missa com atenção e respeito, entregando tudo o que vocês são e tudo o que vocês têm para Deus. Lembrem-se sempre de que a Missa é a renovação do sacrifício do Calvário, a renovação da crucificação de Cristo. A Missa é o que tem de mais importante na face da terra. Na Missa, vocês devem adorar a Deus, reconhecendo que Ele é o Senhor e o Mestre de todas as coisas e se submetendo a Ele. Na Missa, vocês devem pedir a Deus o arrependimento por todos os pecados que vocês cometeram. Na Missa, vocês devem agradecer por todos os benefícios, por todas as graças que Deus deu a vocês: foi Ele que criou vocês, é pelo poder d'Ele que vocês continuam existindo, é pela bondade d'Ele que vocês vão receber a Sagrada Comunhão, é pela bondade d'Ele que vocês fazem coisas boas. Na Missa, vocês deverão pedir a Deus as graças, as ajudas, que vocês precisam para praticar o bem e para não praticar o pecado.
Homero, Mateus, Miguel, Beatriz, Cecília, Natália, peçam, principalmente, a graça de serem fortes: a graça de continuarem fazendo sempre a vontade de Deus, sem dar atenção aos colegas que zombam de vocês porque vocês praticam a religião, sem dar atenção a outras dificuldades. Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu muito, até a morte e morte de Cruz, mas sempre continuou fazendo o bem, fazendo a vontade de Deus. Vocês devem imitar Nosso Senhor. Nunca deixar de fazer o bem, por mais difícil que seja. Assim, vocês serão verdadeiros heróis, vocês serão santos.
A partir de hoje, vocês deverão ter uma devoção muito grande a Nossa Senhora, Maria. Ela é a Mãe de vocês. Ela é uma boa Mãe que sempre nos ajuda. Nas dificuldades, nos sofrimentos, nas tristezas, mas também nas alegrias e em todas as situações, rezem para Nossa Senhora, rezem o Terço. Ela sempre nos leva para o Filho dela: Jesus Cristo.
Hoje e todos os dias, vocês devem receber a comunhão com muita respeito, sempre na boca, de joelhos. Com muita fé, vestidos com modéstia, fazendo jejum de pelo menos uma hora. Devem receber a comunhão pedindo a Deus que Ele faça de vocês pessoas santas. Uma só comunhão basta para nos transformar, para nos fazer deixar os nossos erros e os nossos maus hábitos e costumes. Recebam a comunhão pedindo a Jesus Cristo a santidade, pedindo a Ele a graça de continuar com a alma pura até o dia da morte de vocês, para que, nesse dia, vocês possam ir para o céu, para que possam ser eternamente e infinitamente felizes.
Homero, Mateus, Miguel, Beatriz, Cecília, Natália, é o próprio Deus que vocês vão receber agora na alma de vocês. Façam para Deus uma morada, uma casa digna, com uma alma pura, uma alma que busca em todas as coisas agradar a Deus. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês. Vocês receberão o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.