31 de maio de 2015

Comungai Bem - Padre Luiz Chiavarino.

PODEMOS SER GENEROSOS

D. — Padre, será possível a repetição de tais exemplos de generosidade?
M. — De certo. Podem e devem ser repetidos por muitas almas generosas, inflamadas de amor por Jesus Cristo.
D. — Mas, nem em toda parte se encontram Padres tão zelosos e jovens de tanta virtude.
M. — Se não existem vigários e jovens tão entusiastas, pelo menos deveriam existir. A falta de tais jovens numa cidade já é um atestado certo de um castigo e no mais das vezes a prova do abandono de Deus.
Comunismo, socialismo, maçonaria, maus costumes, irreligião, não são sinais evidentes do abandono de Deus e muitas vezes do caminho certo que conduz à perdição eterna?
Apressemo-nos em reparar nossas faltas: o caminho mais seguro para isso é a Comunhão. Assim o assegurou Jesus Cristo pela boca do Papa Pio X, o Papa da Eucaristia.
Ouça a história. Este Papa, em poucos anos, de 1905 a 1910, promulgou cerca de oito decretos com o fito de estimular a todos, até às crianças e aos enfermos para que comungassem com frequência. Pois bem, poucos dias antes de lançar o último decreto, enquanto estava fazendo a ação de graças após a Missa, repentinamente o aposento em que se iluminou de uma luz celestial, e no meio da luz apareceu Jesus Cristo, que congratulando-se com ele lhe disse: — Muito bem, meu bom Vigário. Estou muito contente com a tua obra em prol da comunhão frequente, entre as crianças e adultos.
Em seguida, continuando no mesmo tom, disse: — Mas, ainda não basta. Deves fazer ainda mais, pois que somente a comunhão poderá salvar o mundo nesses dias tão difíceis que estão para vir.
D. — Coisa admirável, Padre. E esse fato é fidedigno?
M. — Sem nenhuma dúvida, pois foi publicado e verificado pelo Cardeal Merry Del Val, então secretário do estado que teve a felicidade de presenciar a aparição.
Calcule, pois, se após tantos testemunhos, não devemos organizar uma Cruzada em prol da Comunhão frequente. Devemos trabalhar até ao ponto em que os Cristãos convencidos disso, exclamem: — Se esta é a vontade de Deus, se assim o quer o Vigário de Jesus Cristo, nós também o queremos, embora à custa dos maiores sacrifícios.
Do contrário, se formos negligentes em receber frequentemente a Comunhão corremos risco de ouvir no dia do juízo final aquele terrível anátema divino, que equivale a uma condenação eterna — Não vos conheço!
* * *
São João Bosco foi sem dúvida alguma o maior incentivador da Comunhão frequente. Pois bem, um dia apresentou-se-lhe um dos seus alunos mais fervorosos e devotos e contou-lhe o seguinte sonho:
Parecia-lhe haver morrido e se achar na presença de Jesus, a fim de ser julgado. Ficou, porém, assombrado com o rosto divino que tomando aspecto ameaçador lhe perguntou:
— Quem és tu?... Não te conheço.
O jovem, trêmulo e surpreendido respondeu:
— Como, meu Jesus? Não me conheceis, após vos ter amado e servido tanto na terra? Após tantas vezes ter implorado o vosso amor?
— Sim, — respondeu Jesus — Eu sei que muito me amaste e serviste, porém pouquíssimas vezes me recebeste na Santa Comunhão.
E quase ia repetir o horrível "Não te conheço" quando o jovem entre lagrimas o interrompeu com estas palavras:
— Meu Jesus, daqui para a frente não será mais assim.
Acordei — terminou o jovem — suado e impressionado. Imediatamente corri para aqui para que o senhor me tranquilize.
Dom Bosco, olhando-o com suma complacência, disse-lhe:
— Bem, meu filho, agora já sabe qual é a vontade de Jesus Cristo, e o seu desejo mais ardente: Comungue, pois, o mais frequentemente possível e assim não haverá perigo de que Jesus em atitude ameaçadora lhe diga: Não te conheço.
Só assim o jovem ficou satisfeito e tranquilo.
Eis aqui, pois, o meio mais adequado para sermos reconhecidos e amados por Jesus Cristo: Frequentar a Santa Comunhão com a maior generosidade.
D. — Padre, agora estou convencidíssimo da necessidade dessa generosidade ampla e desinteressada para com Jesus Cristo, tão bondoso para nós. Porém, será necessário formar em todos os lugares essas almas generosas?
M. — É coisa indispensável. Ou se formam essas almas, ou será preciso renunciar ao desejo de possuir almas verdadeiramente cristãs, prodígios de fé e de amor para com Jesus Cristo.
D. — Quem não sente o desejo e a necessidade de se unir a Jesus Cristo por meio da comunhão menos ainda sentirá o desejo e a necessidade de viver cristãmente, não é, Padre?
M. — Exatamente. E outro requisito necessário para que a Comunhão seja estimada e apreciada é o de cuidar da formação de almas puras e santas, como veremos em seguida.

30 de maio de 2015

Comungai Bem - Padre Luiz Chiavarino.

GENEROSIDADE

M. — Já leu, meu querido Discípulo, o trecho evangélico que nos fala de Zaqueu descendo da árvore em que havia subido, a fim de honrar a Jesus?
D. — Parece-me que sim. Porém queira repetir-mo mais uma vez.
M. — Le-se no Evangelho, que Zaqueu, um usurário, isto é, avarento e ladrão, tendo ouvido dizer que Jesus ia passar perto da sua casa, sentiu grande desejo de O conhecer.
Sendo, porém, pequeno de estatura e também por uma pontinha de respeito humano e vergonha, subiu a uma árvore, e ali, oculto entre as folhas, esperou o momento oportuno. O Salvador, porém, ciente do estratagema de Zaqueu, ao passar perto da árvore, levantou os olhos e olhando-o fixamente lhe disse: Zaqueu, desce depressa, pois que hoje mesmo quero ir comer em tua casa.

O Salvador disse-lhe: Zaqueu, desce depressa...
Zaqueu, todo confuso por ver-se descoberto, e ao mesmo tempo desconcertado com as palavras de Jesus, desceu imediatamente da árvore e foi correndo para a casa e lá, todo alegre, conta aos seus familiares o encontro que tivera com o Divino Mestre e o modo pelo qual ele mesmo se oferecera para ir comer em sua casa. E imediatamente ordenou que preparassem um grande banquete, pois que com o Mestre viriam também os seus apóstolos.
A notícia inundou de alegria todos os corações: põem-se todos a preparar o banquete, e quando o Mestre chega já está tudo pronto.
Sentam-se à mesa em meio da maior cordialidade; dir-se-ia que são amigos há muito tempo. Zaqueu e a família não se cansam de ouvir as palavras de Jesus. Todos estão entusiasmados e muito admirados.
E pouco antes de acabar a refeição, Zaqueu dirigindo-se a Jesus diz:
— Mestre, quero acabar com essa vida avarenta que levei até agora, portanto, a todos que defraudei até agora, darei o quádruplo.
Todos ficaram admirados por essa resolução tão generosa. Jesus, visivelmente comovido, lhe apertou fortemente a mão, dizendo:
— Bravo! Assim é que me apraz.
D. — Que quadro magnífico. Zaqueu, usurário e, por conseguinte, avarento, prepara um banquete para Jesus e sua comitiva... Zaqueu, usurário e ladrão, arrepende-se e propõe restituir o quádruplo do que roubara... Milagre estupendo!
M. — Sim. De fato um milagre da bondade e misericórdia de Jesus para com os pobres pecadores. Jesus Cristo operou esse milagre, em vista da generosidade de Zaqueu para com Ele e, sobretudo vendo a boa vontade que ele tinha para beneficiar os pobres e infelizes. Jesus Cristo muitas vezes muda o coração daqueles que são generosos para com Ele, para com a sua Igreja e para com os pobres, suscitando em seus corações bons sentimentos, santos propósitos e dando-lhes ânimo e coragem para empreenderem grandes obras.
A vida de São José Cotolengo, São João Bosco e de muitos outros santos são testemunho patente de como Jesus Cristo abençoa e multiplica as obras de caridade daqueles que são generosos com Ele.
Jesus ama os corações generosos e aborrece as almas mesquinhas e avarentas.
D. — Padre, como fazer para demonstrarmos essa generosidade para com Deus?
M. — Podemos manifestá-la com a Comunhão frequente.
Assim como Jesus disse a Zaqueu: "Hoje mesmo irei comer em tua casa", da mesma forma também Ele todos os dias nos repete: "Tomai e comei", pois isso significam aquelas palavras: "Hoje mesmo irei comer em tua casa". É o mesmo que dizer: quero unir-me a ti, quero ser teu para que tu sejas meu.
Jesus todos os dias nos repete: "Tomai e comei"
Não sejamos, pois do número dos descuidados e nem dos empedernidos, mas bem pelo contrário imitemos Zaqueu, aquiescendo com prontidão, alegria e decisão ao convite divino. Nem que nos custe sacrifícios tenhamos sempre e a toda hora a mesa preparada, ou seja, vivamos sempre com a alma preparada para receber dignamente a Nosso Senhor.

* * *
Na festa do padroeiro em uma pequena paróquia dos Alpes, o Vigário organizou uma comunhão geral. Sucedeu, porém que outros organizaram para a mesma hora um baile público. Para lugarejo tão pequeno não havia lugar para as duas coisas. Ou Comunhão, ou baile. O vigário, após muito pensar e a fim de não perder a afluência à Comunhão, resolveu reunir as jovens da Ação Católica e as benjaminas, e fazer-lhes um apelo para que ao menos elas não faltassem à Comunhão, e que fizessem o possível para trazer também as outras.
Seu apelo foi tão sentido e tão ardoroso que no dia aprazado nenhuma das 114 moças deixou de comparecer e com elas todos os fiéis do lugarejo. De sorte que ao baile não foram mais do que alguns forasteiros e algumas solteironas impenitentes.
A Comunhão daquele dia foi toda especial não só pelo fervor mas, sobretudo, pela manifestação de fé e amor, tanto de fazer o Vigário e os fiéis derramarem lágrimas de alegria.
* * *
Em outra paróquia haviam organizado um passeio de trem para visitar um santuário distante 50 quilômetros da cidade. E como o trem chegava ao santuário um pouco antes do meio-dia, haviam combinado de assistirem à missa e comungar lá. Todos prontos, os cento e cinquenta jovens da Ação Católica com o Vigário à frente esperavam na estação a chegada do trem. Mas, em dado momento chega um telegrama anunciando estar o trem com uma hora de atraso.
O Vigário, ao participar tão triste notícia aos jovens, disse: — Queridos jovens: Deus quer provar a vossa generosidade. O trem está atrasado de uma hora. Por isso não posso ir para celebrar a Missa, pois chegaremos muito depois do meio-dia. De outra parte se voltardes para assistir à missa e comungar em nossa matriz, perdereis o trem. Portanto escolhei: ou renunciar ao passeio, ou renunciar à comunhão.
— Renunciamos ao passeio! Queremos comungar! — gritaram todos juntos aqueles denodados jovens. E imediatamente voltaram para a Igreja onde contente e felizes assistiram a Santa Missa e receberam a Comunhão.
Esses sim são exemplos de verdadeira generosidade, muitíssimo agradáveis a Deus. Oh! como seria de almejar que se multiplicassem tais exemplos.
Voltaram para a Igreja onde contente e felizes receberam a Comunhão.

29 de maio de 2015

Comungai Bem - Padre Luiz Chiavarino.

OS QUATRO GRAUS DO AMOR
D. — Senhor Padre, queira dizer-me mais alguma coisa sobre esse amor que devemos a Jesus Cristo e o modo pelo qual devemos manifestá-lo.
M. — Esse amor, para ser perfeito, precisa manifestar-se de quatro modos:
1º. - Com a presença do Amado:
2º. - Entregando-se ao Amado:
3º. - Unindo-se à pessoa amada:
4º. - Sacrificando-se pela pessoa amada.

Dos lábios de pessoas que se amam intimamente é comum ouvir-se expressões como estas: "Quisera estar sempre em tua companhia", "ser sempre tua", "fazer sempre o que tu queres", "morrer por ti", etc.
Pois bem, o amor de Jesus Cristo não se satisfaz somente com tais expressões; faz mais; realiza-as plenamente na Santíssima Eucaristia.
Vejamos só o que Ele fez e continua, a fazer na Eucaristia:
Primeiro: Permanece conosco noite e dia encerrado nos Sacrários.
Segundo: Entrega-se completamente a nós: Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Ele quer ser todo nosso e está sempre à nossa disposição.
Terceiro: Une-se intimamente a nós, e pela Comunhão torna-se uma coisa só conosco.
Por último, renova todos os dias na Santa Missa, o Sacrifício que Ele ofereceu por nós no monte Calvário. Assim é que Jesus completa e aperfeiçoa o seu amor para conosco.
D. — Se Jesus Cristo fez e faz todos os dias isso por nosso amor, nós também devemos fazer outro tanto, por Ele, não é Padre?
M. — Certo que sim: Antes de tudo devemos desejar ardentemente sua companhia e depois tornarmo-nos deveras seus companheiros ficando o maior tempo possível na Igreja, de onde Ele nos chama e onde nos espera com verdadeira ansiedade: "Vinde a mim todos, porque minhas maiores delícias consistem em estar com os filhos dos homens".
São João Batista Vianney, cura de Ars, certo dia notou que um pobre camponês passava longas horas na Igreja com o olhar fixo no Sacrário. Dirigiu-se a ele e perguntou:
— Que fazes aí tanto tempo?
O camponês, com a maior simplicidade respondeu:
— Olho para Jesus e Ele olha para mim, e ficamos ambos satisfeitos.

Ditosos de nós, se chegarmos a satisfazer a Jesus, que exige nossa correspondência ao seu amor infinito. Dar-lhe prazer passando as horas de nossa vida em sua companhia a olhá-Lo somente, sem nenhuma outra preocupação... Oh! Se assim fizermos Ele nos contemplará satisfeito com nosso amor.
D. — Se nossa preparação para a Comunhão e a ação de graças consistissem nisso, não seria bom, Padre?
M. — Certamente. Seria ótimo, pois esse é o melhor meio para nos santificarmos.
O camponês respondeu: Olho para Jesus e Ele olha para mim
* * *
O Venerável servo de Deus André Beltrami, sacerdote salesiano, após uma grave doença que lhe esgotou completamente as forças, foi coagido a um longo repouso, a fim de restabelecer-se. Impetrou, então, dos Superiores, um quarto cuja janela olhasse para a capela e ali passava longas horas, dia e noite, olhando para Jesus, conversando com Ele, fazendo guarda de honra. E Jesus em troca lhe dava as forças necessárias para suportar pacientemente os sofrimentos e dores, sofrer e cantar e até sentir-se feliz com a própria sorte, apesar de sua contínua imolação e incessante martírio.
D. — E santificou-se?
M. — Sim. E talvez daqui há poucos anos será elevado às honras dos altares.
Em segundo lugar devemos corresponder mutuamente ao dom inefável de Si mesmo que Jesus Cristo nos fez e continuamente faz. Portanto, toda vez que o vamos receber na santa Comunhão ofereçamos-lhe nossas mentes, nossos corações, nossas alegrias e tristezas, nossas boas obras e todo o nosso ser, demonstrando isso também com ofertas materiais tais como: flores, velas e esmolas para a manutenção do culto. Assim faziam os primeiros cristãos e fazem-no também agora os verdadeiros amigos de Jesus.
* * *
O S. Evangelho nos fala dos pastores que ofereceram cordeirinhos ao Menino Jesus; dos Reis Magos que lhe ofereceram ouro, incenso, e mirra; de Maria Madalena e das piedosas mulheres que embalsamaram o corpo de Jesus com essências aromáticas, e é de notar principalmente como Jesus agradecia e ficava satisfeito com esses presentes e até um dia repreendeu severamente a Judas porque não via bem tais a tos de gentileza.
D. — Padre, será verdade, que Deus apesar de infinitamente sábio e poderoso não pode e nem pode legar-nos um dom mais precioso do que a SSma. Eucaristia?
M. — É um fato, meu amigo. A Eucaristia é tudo, pois é Deus conosco.
Perguntaram um dia ao Padre Segneri, qual teria o presente mais precioso que Jesus poderia fazer a sua Mãe Santíssima, e ele prontamente respondeu: — Nenhum presente mais formoso e querido Ele poderia dar à sua mãe do que uma pequena hóstia, isto é a Eucaristia, a Comunhão.
Toda vez que vamos comungar, do íntimo de nosso coração digamos a Jesus: — Oh! Jesus em troca de Vosso amor ofereço-Vos minha mente; em troca de Vosso amor ofereço-Vos todas as minhas forças; em troca de Vosso amor aceitai todas as minhas boas obras; em troca de Vosso amor ofereço-Vos tudo o que sou. Oh! Jesus, em troca de Vosso amor ofereço-Vos minha vida.
Em terceiro lugar, Jesus Cristo deseja ardentemente unir-se a nós e realiza esse anelo por meio da Santa Comunhão, que efetivamente é o encontro, a união mútua da alma com Deus. Meu querido discípulo, já pensou algumas vezes no que acontece realmente quando vamos comungar? Pois bem, na Comunhão, o Senhor dos Céus se une intimamente a nós, com uma união, a mais perfeita possível.
E Jesus Cristo, realiza por nós esse ato heroico de amor, à custa de horrendas ofensas e profanações que lhe são inferidas pelos sacrílegos.
D. — Oh! Como Jesus é bom!
M. — Boníssimo! Nós é que somos uns perversos não dando importância à honra que Jesus Cristo nos fez por meio da Eucaristia. Permanecemos, indiferentes, indolentes, diante de tanto amor.
* * *
Na vida do Padre Turneff, fundador da congregação do Sagrado Coração, lê-se que durante sua longa enfermidade, não fazia outra coisa senão suspirar por essa união com Deus. De manhã a primeira coisa que fazia era exclamar: — Dai-me Jesus, dai-me Jesus! Não posso viver sem Ele. — Certa manhã, como não pudesse reter nada no estômago, acharam conveniente não lhe dar a Comunhão. Ao saber disso o enfermo pôs-se a gritar: Por que não me trazeis Jesus? E nesse desejo ardente de unir-se ao Divino Amigo, entregou sua bela alma ao Criador.
D. — Oh! Padre, diante de tanto amor, sinto-me envergonhado por ter deixado tantas comunhões, e isso só por negligência e ignorância.
M. — Ainda há tempo. Supra essas omissões comungando o mais frequentemente possível. E para que sejam mais fervorosas procure repetir em todas elas as seguintes invocações:
Unir-me-ei a Vós, ó Jesus, com uma fé mais viva.

Unir-me-ei a Vós, ó Jesus, com uma esperança mais firme.
Unir-me-ei a Vós, ó Jesus, com maior caridade.
Unir-me-ei a Vós, ó Jesus, o mais frequentemente possível.
Todos os dias ó Jesus hei de unir-me a Vós. Nem que seja a custa de grandes sacrifícios, ó Jesus, hei de unir-me a vós.
Enfim em quarto lugar, por meio da Santa Missa e da Sagrada Comunhão procuremos agradecer a Jesus Cristo pelo sacrifício que Ele todos os dias oferece por nós, na Santa Missa, em reparação dos nossos pecados.
* * *
Lê-se na História Romana que Agripa tendo sido prisioneiro de Tibério durante seis meses, foi posto em liberdade pelo sucessor deste, que ao dar-lhe a liberdade, o presenteou com uma corrente de ouro tão pesada como a corrente de ferro com que havia sido acorrentado na prisão. Com isso demonstrou querer elevá-lo tanto quanto havia sido humilhado por Tibério.
Precisamente, a mesma coisa nos faz Jesus na Santa Comunhão: liberta-nos das correntes de ferro com que o demônio nos aprisionara, e nos ata com as correntes do seu amor.
Agora você bem poderá compreender por que devemos corresponder a tanta generosidade.
D. — Diga-me, Padre, um que assiste a Missa sem comungar, poderá desfrutar também esses privilégios?
M. — Não. Quem assiste à Missa e não comunga, é como aquele que só presencia a Paixão e Morte de Jesus Cristo: recebe somente uma parte dos frutos; em vez quem comunga se une ao mesmo sacrifício de Jesus e, portanto desfruta inteiramente aquele tesouro.
D. — Sendo assim, procurarei com o maior empenho possível assistir todos os dias a Santa Missa e comungar também afim de participar e desfrutar completamente de tão grande tesouro.
M. — Agradeça ao Senhor estes bons propósitos e renove-os com as seguintes jaculatórias.
Por Vós, Jesus, sacrificarei o prazer dos sentidos.
Por Vós, ó Jesus sacrificarei os prazeres do mundo.
Por Vós, ó Jesus, sacrificarei o meu amor próprio.
Por Vós, ó Jesus, sacrificarei as comodidades e o orgulho desta vida.
Por Vós, ó Jesus, sacrificarei tudo quanto seja pecado.
Por Vós, ó Jesus, mortificarei tudo quanto me induza a pecar.

28 de maio de 2015

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino.

FÉ E AMOR

D. — Diga-me, Padre; quais são as disposições necessárias para fazer bem e com fruto a Santa Comunhão?
M. — Antes de tudo: não devemos ir comungar como autômatos, isto é, com frieza, indiferença e apatia, mas sim com devoção e fervor, transbordantes de fé e de grande amor. Por acaso a Eucaristia não é o Misterium fidei, o mistério da fé por excelência? Sim, é o grande mistério da fé porque cremos que ali está Jesus Cristo com seu Corpo, Sangue, Alma e
Divindade, embora nossos sentidos não vejam na hóstia branca e no cálice, mais do que pão e vinho, não percebam senão o gosto, o cheiro e o tato de pão e vinho.
Diante disso, se estamos convencidos de que quando vamos comungar, vamos receber o mesmo Jesus Cristo Deus e homem verdadeiro, quais não devem ser os sentimentos e os afetos que devem ornar nossa alma perante ato tão augusto? Que alegria não devemos experimentar? Que esperanças de consolo e de proteção? Qual não deve ser a exuberância de nossa vontade e a devoção em recebê-lo? Com que ardor não havemos de suspirar, invocar, suplicar e agradecer a Deus?
* * *
Lê-se na vida de São Filipe Neri, que ele demorava longo tempo na celebração da Santa Missa, principalmente na ação de graças após a comunhão. Muitas vezes, logo após a consagração, mandava embora o coroinha, com estas palavras: Podes ir embora. Voltarás somente daqui a uma ou duas horas quando te chamar. E durante esse tempo entrava em conversação íntima com Jesus realmente presente sobre o Altar. Conversava com Ele como se falasse com o seu amigo mais íntimo.
D. — Eu também já ouvi dizer que muitos santos durante a Missa, mormente na consagração tiveram a grande ventura de sentir e ver realmente a Jesus Cristo na hóstia consagrada.
Entre muitos, lembro-me do Bem-aventurado João de Ribeiro, Bem-aventurado Eymard, São José Cotolengo, São João Bosco, etc.
M. — Sem falar em Padres santos, é coisa certa que muitas outras pessoas como Santa Teresa, Santa Teresinha do Menino Jesus, Domingos Sávio e muitos outros, quedavam-se em êxtases logo após a comunhão, alheios a tudo, mergulhados completamente neste sono divino onde recebiam as carícias e os consolos do Divino Amigo.
D. — Ah! Se Deus me concedesse essa felicidade, ao menos uma vez!
M. — Sim. Ele pode conceder-lhe isso. Quem seria capaz de calcular o número de almas às quais Jesus se manifestou visivelmente na Eucaristia? Havendo fé e amor, não é impossível o milagre.
D. — Quanto à fé, penso que a tenho suficiente pois acredito firmemente em tudo; mas tenho ainda muito pouco amor, por isso peço que me diga algo sobre isso.
M. — Santo Tomás, o serafim de amor, diz que devemos ir comungar com o mesmo impulso com que a abelha se precipita sobre a flor para sugar-lhe o pólen que será convertido em doce mel; com a mesma ansiedade com que o febricitante bebe a água para acalmar a sede; com a mesma impetuosidade com que o nenezinho suga do seio materno o leite que será convertido em sua mesma substância. O amor é um fogo que tudo abrasa. Oh! Se amássemos realmente a Jesus, como arderíamos em desejos de recebê-lo frequentemente na comunhão. Enternecida em lágrimas, exclama Santa Tereza: "O amor não é amado".
D. — Oh! Padre que coisas lindas! Porém na prática, o que é preciso fazer para ter essa fé e esse amor?
M. — É só questão de costume que se consegue mediante o esforço contínuo sobre a vontade. Melhor ainda, devemos ser eternas criancinhas e considerar a Comunhão como o leite que nos deve dar a vida, o crescimento, a robustez, a perfeição, a santificação e por fim até a divinização de nossa alma. Ou em vez de criancinhas consideremo-nos como o mendigo que pede esmolas, como o enfermo que pede a saúde no médico, como o náufrago que implora auxílio e salvação.

Devemos ir comungar com a mesma impetuosidade com que o nenezinho suga o leite do peito materno.
* * *
Anos atrás fui chamado à cabeceira de um doente em estado grave que não cessava de chamar o médico. Os parentes fizeram-lhe a vontade. E quando este chegou ele pôs-se a chamar: "Doutor, doutor! não me deixes morrer!" "Doutor, não me deixes morrer!" Esse grito de angústia expressava a confiança ilimitada que o pobre enfermo depositava no médico. Nós também somos outros enfermos; necessitamos continuamente da Eucaristia, esse tesouro inesgotável, remédio e bálsamo para todos os males. Vamos, pois frequentemente receber a Jesus Cristo na Eucaristia, repelindo também a súplica daquele moribundo: — Jesus, não me deixeis morrer! Fazei que eu viva para amar-vos cada vez mais!
* * *
Lourdes, a cidade dos milagres, desde 1848 tornou-se a meta de contínuas peregrinações. Pois bem, sempre que chega uma peregrinação é celebrada uma função especial que consiste em abençoar os doentes com o SSmo. Sacramento, levado em procissão por um dos Bispos presentes.
É nessa hora que se desenrolam cenas tocantes de fé e amor. Milhares de fiéis — prostrados de joelhos, — sob um sol canicular, não cessam de clamar: Jesus Cristo, tende piedade de nós! Jesus, fazei que eu veja! Fazei que eu ouça! Senhor, fazei que eu ande! Ó Jesus, curai-me!
Espetáculo emocionante que não pode ser presenciado sem lágrimas nos olhos. A oração que espontaneamente brota dos lábios e impetuosamente ressoa pelo espaço, é capaz de por si só abrandar os corações mais empedernidos e convencer os incrédulos devido aos estrondosos milagres que continuamente se realizam.
Pois bem, quando assistirmos à Missa e formos comungar, lembremo-nos de Lourdes, e com todo o ardor de nossa alma lancemos a Jesus essas mesmas exclamações de fé, de esperança e de amor.
D. — Só assim poderíamos dizer que nossas Comunhões são frutuosas e muito agradáveis a Deus, não é Padre?
M. — Sim. Seriam conformes ao desejo de Jesus e como devem ser sempre: operadoras de milagres.

27 de maio de 2015

Sermão para o Domingo de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] O fogo do Espírito Santo: suavidade e força

Em nome do Pai…
Ave Maria…
Festejamos hoje, caros católicos, Pentecostes. Pentecostes é a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora no cenáculo em Jerusalém. A descida do Espírito Santo em Pentecostes é importantíssima. Ela é a festa da promulgação da Igreja e a festa da promulgação da nova lei.
No Antigo Testamento, a festa de pentecostes comemorava a promulgação da lei mosaica, dada por Deus a Moisés no Monte Sinai, e que constituiu perfeitamente os judeus como o povo eleito. Podemos dizer que Pentecostes, que nós comemoramos hoje, foi a promulgação da Nova Lei, a promulgação da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a Cruz. Assim, no Monte Sinai, nos diz a Sagrada Escritura que houve (Êxodo, 16 e seguintes) “um estrondo de trovões e de relâmpagos; uma espessa nuvem cobria a montanha e o som da trombeta soava com força. Toda a multidão que estava no acampamento tremia. Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor tinha descido sobre ele no meio de chamas; o fumo que subia do monte era como a fumaça de uma fornalha, e toda a montanha tremia com violência. O som da trombeta soava ainda mais forte; Moisés falava e os trovões divinos respondiam-lhe.” No cenáculo (Atos 2, 1 e seguintes), “chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua.” Destaque-se que o falar em línguas dos apóstolos não era algo irracional e sem sentido, com palavras desconexas e repetidas, mas falavam de modo que cada um dos presentes ouvia na própria língua a pregação do Evangelho. As duas promulgações guardam semelhanças. Mas as leis são distintas. Se a Antiga Lei se baseava sobretudo no temor a Deus, a Nova Lei se baseia, antes de tudo, no amor a Deus, no verdadeiro amor a Deus. A diferença entra a antiga lei e a nova lei, diz Santo Agostinho, é uma sílaba (breve): temor, amor. Apenas uma sílaba é trocada. É uma diferença breve na palavra, mas longa no significado.
Nosso Senhor começou, então, a fundar a Igreja por sua pregação. Ele a fundou meritoriamente quando estava pregado na Cruz, consumou a fundação dando o primado a Pedro após a ressurreição e, finalmente, Ele promulgou a sua Igreja aos olhos de todos quando mandou o Espírito Santo aos apóstolos, para que começassem efetivamente a pregar o Evangelho a toda a criatura. Portanto, Pentecostes é um acontecimento capital na vida da Igreja e um acontecimento único.
Veni Sancte Spiritus, reple tuorum corda fidelium, et tui amoris in eis ignem accende. Vinde, Espírito Santo, echei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.
Essas são as palavras que a Igreja nos faz cantar no segundo aleluia da Festa de Pentecostes. E ela nos faz cantar essas palavras de joelhos. São verdadeiramente raros os momentos em que textos litúrgicos são ditos de joelhos. No mais das vezes, é quando se fala do mistério da Encarnação, como no último Evangelho ou no Credo. Mas a Igreja nos coloca de joelhos aqui. A Igreja nos coloca nessa posição de súplica para mostrar a importância do que está sendo dito. Nesse caso, é um pedido, para que venha o Espírito Santo, para que encha os corações dos fiéis e que acenda neles o fogo do amor divino. E mostra como devemos pedir: com humildade, em adoração e com fervor.
O que pedimos, com tanta ênfase e com tanto ardor, ao Espírito Santo nada mais é do que a santificação de nossas almas. Ao Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho por via de amor, se atribui a obra de santificação, que é obra de amor de Deus para conosco. As três pessoas agem unidas para nos santificar, mas atribuímos as obras de amor – tal como a santificação – ao Espírito Santo porque Ele procede de Deus Pai e de Deus Filho por via de amor. Assim como atribuímos as obras de potência – como a criação – a Deus e as de sabedoria a Deus Filho, que procede do Pai por via da inteligência, embora as obras de potência e de sabedoria sejam também das três pessoas.
Pedimos de joelhos a santificação de nossas almas. Pedimos que o Espírito Santo possa encher as nossas almas, para que estejam cheias do amor a Deus. Pedimos a graça de reconhecer a infinita bondade de Deus, de reconhecer que Ele é infinitamente amável.  Pedimos a graça de estarmos realmente unidos a Ele. E para estarmos unidos a Ele é preciso fazer a vontade dEle, observar as suas palavras. É o que nos diz Nosso Senhor: se alguém me ama, guardará as minhas palavras. Guardar as palavras de Cristo não é simplesmente ouvi-las, mas imprimi-las em nossa alma, de tal forma que toda a nossa vida seja orientada pelas palavras de Nosso Senhor, pelos seus mandamentos. Aquele que ama a Deus, guarda a sua palavra e os seus mandamentos. E que esse amor seja um fogo que incendeie, realmente. Não um fogo com ardores sensíveis passageiros, que vão e que voltam, não um fogo transitório, não um fogo de dons carismáticos[1], mas o fogo do amor a Deus e ao próximo, o fogo que está na vontade, que a faz pronta para servir a Deus em todas as coisas, em todas as circunstâncias. O fogo que nos fixa em Deus. O fogo que está na vontade para buscar fazer Deus mais conhecido e amado, o fogo que está na vontade para ajudar o nosso próximo a ir para o céu. O fogo do amor à Verdade Suprema, o fogo do amor ao Bem Supremo, o fogo do amor à Beleza Suprema.  O fogo da caridade, enfim.
E como é suave o fogo do amor a Deus. Suave, mesmo nas maiores e mais profundas dores e provações. Suave quando precisamos dar as maiores provas de fortaleza. Suave mesmo quando exige a prova máxima do amor, que é a nossa própria vida. Suave no martírio. Suave nos nossos sacrifícios cotidianos. Suave nas mais simples e esquecidas ações de nossa vida. Suave quando nos exige as maiores firmezas. Suave quando devemos lutar arduamente pela nossa salvação e pela salvação do próximo. Suave nas alegrias, suave nas consolações. Suave porque o amor a Deus é um jugo suave e leve.
Esse fogo nos faz semelhantes a Deus, que dispõe todas as coisas suaviter et fortiter, com suavidade e força. Não é tão simples colocar em palavras essa força suave da ação do Espírito Santo em nossa alma, ao acender o fogo do amor a Deus nela. Mas as palavras e a melodia dos aleluias e da Sequência Veni Sancte Spiritus expressam isso muito bem. A música autêntica da Igreja expressa sempre com perfeição as disposições de alma que devemos ter para uma determinada festa. Mas na Festa de Pentecostes, podemos ver claramente que está aí o dedo de Deus, na melodia e nas palavras. Está o dedo de Deus nesses monumentos de nossa santa religião. Quão bem o canto da Igreja expressa hoje, com sua melodia e palavras, a verdade e a graça que nos quer transmitir: suavidade com força no amor a Deus. Portanto, imploremos ao Espírito Santo que acenda em nossa alma esse fogo suave da graça, que nos dá força para fazer tudo por Deus, que nos dá a força para fazer tudo por amor a Deus, por Deus que tudo fez por nós.
Em nome do Pai…
[1] O Espírito Santo não veio nos trazer, em primeiro lugar, dons extraordinários, como o dom de línguas, o dom de cura e outros. Tudo isso é bem secundário. Tudo isso não santifica a pessoa que os possui, mas se ordena para o bem do próximo.  Como dizem os autores espirituais clássicos. O Padre Royo Marín diz que “seria temerário desejar ou pedir a Deus essas graças gratis datae, uma vez que não são necessárias nem para a salvação nem para a santificação, e requerem – muitas delas ao menos – uma intervenção milagrosa de Deus. Vale mais um pequeno ato de amor a Deus que ressuscitar um morto.” (Royo Marín, Teologia de la Perfección Cristiana, p. 888). O Padre Jordan Aumann diz também que “uma pessoa pode ficar sob o poder do demônio em razão de um desejo descontrolado de experimentar fenômenos místicos extraordinários ou graças carismáticas.” (Jordan Aumann, Spiritual Theology, p. 411). Em outra ocasião trataremos mais propriamente da questão dos dons carismáticos e de como são muito mal compreendidos hoje pelos movimentos que pretendem possuí-los.

História Eclesiástica - Quarta Época Capítulo 4

CAPÍTULO IV

Jubileu - Décimo quinto concílio geral – Flagelantes - Santa Brígida - Santa Catarina de Sena.

Jubileu - Era tradição constante entre os cristãos que, indo a Roma no ano secular para visitar a Igreja de s. Pedro e as outras principais basílicas, ficavam perdoados todos os seus pecados. No ano 1300, foi tão grande o concurso, que pareceu se tivessem aberto ali as portas do céu. Muitos peregrinos por causa do aperto de tamanha multidão, pereciam esmagados ao passar a ponte de Sant'Angelo para ir ao Vaticano. Então o papa Bonifácio VIII, reuniu todas as notícias anteriores e publicou uma bula, em que, depois de indicar a origem e o fim do jubileu, concedeu indulgência plenária a todos os fiéis que confessados e arrependidos visitassem as quatros basílicas principais; indulgência que se devia renovar cada cem anos. Uma pintura, obra do célebre Giotto que vivia naquele tempo, e que ainda existe na basílica de Latrão, representa o Papa Bonifácio VIII no ato de publicar dita bula. Clemente VI querendo imitar o jubileu dos judeus, limitou o tempo a 50 anos para que participassem dele maior número de fiéis. Urbano IV considerando ainda que este prazo era demasiado longo, o reduziu a 33 anos. Mais tarde Xisto IV o diminuiu ainda mais, reduzindo-o a 25. Às vezes concedem os Papas jubileus por extraordinárias necessidades da Igreja. Em outros tempos, nas épocas de jubileu, acorria a Roma grande multidão de fiéis; mas agora, os sumos pontífices permitem aos católicos que gozem do jubileu em seus próprios países.

Décimo quinto concílio geral - Ao Papa Bonifácio VIII sucedeu Benedito XI, e a este Clemente V, que convocou, no ano 1311, um Concílio geral na cidade de Viena, em França. Tomaram parte nele mais de 300 bispos sem contar um número enorme de prelados inferiores. Foi presidido pela Papa em pessoa, que para isso partiu de sua residência em Avignon. O que principalmente motivou a reunião deste concílio, foram os erros dos Templários. Esta ordem militar instituída em Jerusalém no tempo das cruzadas, tinha tomado esse nome pela habitação que fizera construir perto do templo levantado sobre o sepulcro de Nosso Senhor. Tinham os Templários por ofício defender a Terra Santa, mas depois de terem prestado importantes serviços à Igreja, degeneraram miseravelmente; muitos deles foram acusados dos mais horríveis sacrilégios e desenfreada licença. Por isso o concílio de Viena, tendo ouvido e examinado as acusações apresentadas contra eles, e achando-as bem fundadas, suprimiu a ordem e mandou que transmitissem todas as suas propriedades aos cavaleiros de Malta. Foram condenados também outros hereges; entre eles os chamados Beguardos, a Beguinas, e os Irmãozinhos, que junto com a fé cristã, tinham infringido os bons costumes. Para paralisar mais e mais a impiedade dos hereges que afirmavam que não se devia tributar culto divino à Eucaristia, tornou a confirmar o concílio o decreto de Urbano IV; o qual prescrevia, que se celebrasse em todo o mundo e com o maior esplendor a solenidade do Corpo de Deus. Declarou-se também inocente a memória do Papa Bonifácio VIII, que fora acusado injustamente de heresia por Felipe o Belo, rei de França. Não satisfeito este de ter perseguido de diferentes modos ao santo pontífice em vida, tão pouco o queria deixar descansar em paz depois de morto, infamando seu nome. Tratou-se finalmente no concílio, de iniciar uma nova expedição à Terra Santa contra os Turcos.

Flagelantes - Como se achasse oprimida a Itália por graves calamidades, despertou-se singular entusiasmo de penitência para aplacar a cólera de Deus. Grandes multidões de gente andavam pelas ruas em procissão, para rezar, e se açoitavam até tirar sangue com o fim de implorar a misericórdia do Senhor. Para que tivesse maior êxito esta obra de penitência, formaram-se irmandades, cujo fim era rezar e açoitar-se publicamente; donde tomaram o nome de flagelantes. Semelhante entusiasmo dilatou-se rapidamente no Piemonte e em toda Itália, produzindo em todas as partes grandes frutos espirituais. Não tendo, porém, o Papa nem os bispos aprovado semelhante instituição, degenerou mui depressa em superstição, e pouco depois em heresia. Entre outras extravagâncias, sustentavam os flagelantes que ninguém poderia alcançar o perdão dos pecados, se não se sujeitasse àquela maceração e penitência, proveitosa também, segundo eles para os condenados. Clemente VI condenou formalmente esta heresia, e dirigiu-se, por meio de cartas, a muitos bispos e príncipes seculares, exortando-os a combater aqueles erros e a dissolver reuniões dos que os professavam. Ano 1349.

Santa Brigida - O século décimo quarto teve um exemplo claríssimo de virtude em Santa Brígida, descendente da real família da Suécia. Na idade de sete anos já deu a conhecer tal desejo de chegar à perfeição, que admirava a todos. Aos dez anos não podia pensar na paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo sem sentir-se comovida até derramar lágrimas. Seu pai, a seu pesar, a fez contrair matrimônio com um príncipe; porém neste novo estado continuou cumprindo com maior fervor ainda suas práticas de piedade, e induzindo a seu esposo a que fundasse um hospital próximo à casa em que viviam, encarregando-se ela própria de cuidar dos enfermos e prover-lhes o que necessitavam. Ia diariamente visitá-los, e todos os dias fazia assentarem-se doze deles a uma mesa e os servia com suas mãos. Morto seu esposo, não pensou senão em Deus, em sua alma, e no Paraíso. Cingia suas carnes um áspero cilício composto de pungentes correntezinhas de ferro, servindo-lhe de cama, ainda mesmo no rigor do inverno, umas taboas de madeira. Jejuava quatro vezes na semana, e na sexta-feira a pão e água. Passava a maior parte da noite em oração, confessava-se com frequência e comungava todos os dias. Levada por um espírito de viva fé, empreendeu a trabalhosa peregrinação aos Santos Lugares: porém à sua volta adoeceu gravemente em Roma e no ano 1375 entregou placidamente sua alma ao Senhor, tendo 71 anos de idade. Santo Antonino refere muitos milagres operados por Santa Brigida, entre outros a ressurreição de dez mortos. Deixou-nos também esta santa oito livros de revelações, que foram elogiados pelos padres do concílio de Basiléia.

Santa Catarina de Sena - Outra santa de vida muito maravilhosa foi santa Catarina de Sena. Na idade de 5 anos já era chamada a santinha. A solidão, a oração e a abstinência formavam todas suas delícias. Abstinha-se do uso da carne e do vinho, e só se alimentava de ervas cruas. Duas taboas nuas serviam-lhe de cama, de mesa e de cadeira. Uma pesada corrente de ferro servia-lhe de cilício. Não dormia mais do que algumas horas durante a noite e passava o resto no trabalho e na oração. Esteve desde o princípio da quaresma até a festa da Ascensão sem tomar mais alimento do que a santa Eucaristia. Possuía conhecimentos maravilhosos; sabia profundamente a teologia, a filosofia e o que ainda mais admira, é que também entendia do governo dos estados. Indubitavelmente sua ciência não podia ser senão inspirada. Amava em extremo sua pátria; esse amor foi o que a levou a ir a Avignon, para tratar com Gregório XI, sobre a reconciliação dos Florentinos que se tinham rebelado contra a Igreja. O Papa e os cardeais receberam-na com grande respeito e fizeram-na árbitro da paz entre seus concidadãos. Mas a glória que lhe deu maior lustre foi a de ter contribuído poderosamente para a volta dos Papas de Avignon à sua legítima morada de Roma. Enviada pelo Papa para tratar de alguns assuntos com a Rainha de Nápoles, caiu enferma em Roma no ano 1380, e entregou ali sua alma a seu celestial Esposo. Suas visões celestiais e as graças singulares que a adornaram, são extraordinárias entre os mesmos santos, e demonstram até que ponto pode uma alma chegar a ser aceita ao Senhor.

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino.

NEM TOLERÂNCIA EXCESSIVA NEM EXIGÊNCIA DEMASIADA

D. — Muito obrigado, Padre. Agora acho-me suficientemente instruído no que se refere às três condições para bem comungar.
Todavia, ainda tenho algumas dúvidas.
M. — Exponha-as. Estou pronto para resolvê-las.
D. — Ao ver, por exemplo, alguns que vão comungar diariamente distraídos ou às carreiras, dissipados, com pouca modéstia e muitas vezes pouco decentemente vestidos, e às vezes até homens de proceder irregular, chego a dizer comigo mesmo: Não seria melhor que não comungassem? Faço mal, pensando assim, Padre?
M. — Sim, meu filho, faz mal pensando assim dos outros. Na maioria das vezes tais indivíduos têm defeitos é verdade, todavia, não cometem faltas graves e por isso podem
comungar não só de quando em quando, mas sim até diariamente, pois o único proibitivo da comunhão é o pecado mortal.
D. — Portanto não devemos ser demasiado exigentes?
M. — Nunca. Nem mais exigentes do que a Igreja, nem mais papistas que o Papa, diz o rifão popular. A exigência excessiva pode afastar muitas almas da mesa da comunhão e, por conseguinte, ocasionar o decréscimo da graça santificante em muitas almas, predispondo-as mais facilmente para o pecado mortal. Jesus Cristo disse claramente: “Os sãos não precisam de médicos, mas sim os que estão doentes”.
Portanto, aplique essas palavras ao seu caso e verá que aqueles indivíduos têm o direito de comungar, pois que estão doentes e precisam que Jesus os cure.
D. — São doentes crônicos, não é padre?
M. — Isso mesmo. Por acaso os médicos desprezam os doentes crônicos ou cuidam menos deles do que dos outros?
D. — Absolutamente não; dá-se bem o contrário. A eles dispensa maiores cuidados e mais remédios.
M. — Pois bem, com as doenças da alma se deve agir igualmente.
D. — Às vezes, entretanto, existem pessoas que abusam e se aproximam da mesa sagrada com modos tão estudados, maneiras tão estranhas, vestidos tão raros que...
M. — Nesses casos convém e até é obrigatório — sem dizer nada e nem deixar que os outros o notem — passar de largo sem dar-lhes a comunhão.
D. — Que está dizendo, Padre? E eles não se queixarão?
M. — Por qual motivo? Acaso, o Padre não é o ministro e o guarda dos sacramentos? Se ele tolerar e consentir ou até fomentar tais abusos, não será responsável diante de Deus, diante da Igreja e diante dos seus superiores?
D. — Então, também aqui, pés de chumbo mãos de ferro?
M. — Perfeitamente. Pés de chumbo, prudência e serenidade na medida do possível; mas também mãos de ferro no cumprimento do dever e na repressão dos abusos.
A tolerância excessiva arruína tudo e ocasiona verdadeiros abusos e escândalos deploráveis.
D. — No entanto, será melhor prevenir e avisar antes, não é Padre?
M. — É claro. Se for possível é muito melhor antes chamar a atenção dessas pessoas. Mas se os avisos e as advertências forem inúteis então aplicar o corretivo imediatamente sem nenhuma consideração pessoal ou preferência de classe. Do contrário o remédio seria mais nocivo do que a doença.
D. — E no caso de que se apresentem para comungar, pessoas de costumes suspeitos ou proceder reprovável e até escandaloso? Que fazer?
M. — Então o caso já é difícil e delicado e não se deve deixar passar de qualquer forma. É preciso muitas vezes cortar o mal pela raiz. Jesus Cristo não teve nenhuma consideração para com aquele que não tinha o traje nupcial: expulsou-o imediatamente. O Corpo do Senhor não deve ser aos cães, diz Santo Tomás no hino que compôs para a festa de "Corpus Christi".
* * *
Narra a história, que Santo Ambrósio, arcebispo de Milão, um dia impediu o imperador Teodósio de entrar na Igreja devido a uma falta grave que havia cometido. O imperador, para desculpar-se disse a Santo Ambrósio: — Também o rei Davi foi adúltero e homicida.
— Está certo, respondeu Santo Ambrósio, já que imitaste Davi na culpa imita-o também na penitência: fora daqui.
Diante da firmeza e retidão do Santo, Teodósio retirou-se e cumpriu a penitência pública que lhe fora imposta. Só assim pôde entrar livremente na Igreja e participar da comunhão dos fiéis.
D. — Esses é que são homens de têmpera!
M. — Sim! Homens de têmpera e verdadeiros santos!
Quantos abusos a menos e, quanto melhor não seriam feitas as comunhões, se ainda hoje existissem outros Ambrósios capazes de resistir até diante de imperadores prepotentes, para impor respeito à tão grande sacramento!
D. — De fato, Padre. Por isso não é de estranhar certas palavras muitas vezes pronunciadas por ignorantes tais como estas: "Que coisa especial encerra a Comunhão quando tão facilmente a recebem pessoas que fariam melhor não comungando?" Outras chegam ao cúmulo de exclamar: "Os que comungam são piores que os outros".
M. — Tais expressões vulgares não merecem nenhuma consideração. Assim falam aqueles que veem uma palhinha no olho dos outros e não reparam na trave que têm no próprio, como disse Jesus no Evangelho. As pessoas sérias nem lhes prestam atenção.
E agora basta. Já falamos sobre a comunhão mal feita: Vamos falar um pouco sobre o que é preciso para fazer uma boa comunhão, a fim de que se possa aproveitar de todas as graças e tesouros extraordinários e admiráveis encerrados em tão grande Sacramento.
Jesus está presente nas milhões de hóstias consagradas em todo o mundo.

26 de maio de 2015

[Sermão] A Ascensão do Senhor - Capela N. Sr.ª das Dores Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A Ascensão do Senhor

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Quarenta dias após a sua ressurreição, Nosso Senhor sobe ao céu. Durante quarenta dias Nosso Senhor quis ainda aparecer aos seus discípulos na terra e quis instruí-los nas coisas do reino de Deus. Muitas vezes, esses quarenta dias são quase esquecidos. Não deveria ser assim. São importantíssimos. Importantíssimos porque mostram a realidade da ressurreição de Cristo, nos confirmando na fé. Importantíssimos para a constituição e a vida da Igreja.
Nosso Senhor quis, durante esses quarenta dias, aparecer aos discípulos para mostrar que tinha verdadeiramente ressuscitado, com um corpo real, com o seu corpo. Assim, apareceu a eles, falou com eles, mostrou as cicatrizes de seu corpo, alimentou-se, fez milagres, e citou as Sagradas Escrituras. Tudo isso como prova de sua verdadeira ressurreição. E passou esse tempo a instruir os discípulos nas coisas do reino de Deus, que é a Igreja. Vemos expressamente que, nesses quarenta dias, Nosso Senhor instituiu o batismo, como nos deixa claro o Evangelho de hoje. Foi nesses quarenta dias também que Nosso Senhor instituiu o sacramento da penitência, soprando sobre os apóstolos e dizendo: “recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.” Foi também nesses quarenta dias entre a ressurreição e a ascensão que Nosso Senhor conferiu realmente o primado a São Pedro, dizendo ao apóstolo: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Antes, Nosso Senhor tinha prometido isso a São Pedro: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e te darei as chaves do reino dos céus… Tudo no plural. Aqui, entre a ressurreição e a ascensão, Nosso Senhor confere realmente a jurisdição universal a São Pedro: apascenta os meus cordeiros, que são os fiéis, e apascenta as minhas ovelhas, que são os membros do clero, bispos e padres. Esses quarenta dias são, portanto, de suma importância para a nossa fé e para a Igreja em sua constituição e nos seus sacramentos.
No quadragésimo dia, Nosso Senhor subiu ao céu, onde está sentado à direita de Deus Pai. Nosso Senhor subiu com seu corpo e sua alma, por sua virtude própria, quer dizer, em virtude de sua divindade e em virtude dos atributos de seu corpo glorioso. Com seu corpo glorioso, imortal e incorruptível após a ressurreição, já não convinha que Nosso Senhor continuasse nesse mundo cheio de vicissitudes. O lugar do corpo ressuscitado, do corpo glorioso, é o paraíso.
Ao ascender ao céu levou consigo as almas dos santos do Antigo Testamento, que estavam no limbo dos justos, aguardando a vinda do Messias prometido. Limbo dos justos que é o inferno mencionado no Credo. Diz-se, então, que Jesus está sentado e sentado à mão direita de Deus Pai. Diz-se que Jesus está à direita de Deus Pai. Evidentemente, Deus, sendo puro espírito, não tem direita nem esquerda. Empregamos aqui termos humanos para melhor compreender e explicar as verdades sobrenaturais. À direita de Deus Pai significa que Cristo, enquanto Deus, não está nem acima nem abaixo de Deus Pai. Ele é Deus como o Pai e como o Espírito Santo. Eles são um só Deus. À direita de Deus Pai significa que Cristo, enquanto homem, foi exaltado acima de todos os santos e anjos, estando no lugar mais nobre, à direita. E se diz que Nosso Senhor está sentado, para significar a posse pacífica dos poderes de rei e de juiz, poderes que Nosso Senhor tem como Filho de Deus e como redentor nosso. A coleta de hoje nos fala justamente dos dois motivos pelos quais Jesus mereceu ser exaltado acima de todas as coisas: Ele mereceu ser exaltado assim porque é o Filho unigênito de Deus, quer dizer, Ele é Deus, e porque ele é o nosso redentor.
A coleta nos indica, ainda, a graça própria dessa festa da Ascensão do Senhor: que tenhamos o nosso espírito nas coisas celestes. Que vivamos aqui no tempo, procurando alcançar os bens eternos, que vivamos aqui na terra procurando os bens celestes.Sursum corda, devemos ter o coração voltado para o alto. É esse um dos objetivos de Nosso Senhor com a Ascensão também: que tenhamos o espírito nas coisas celestes.
E podemos ver, ainda, uma circunstância interessante no mistério da Ascensão. Ela ocorre no monte das Oliveiras. No mesmo local em que Nosso Senhor teve a agonia tremenda na noite da Quinta-Feira Santa, após a Última Ceia. Que lição nos dá Nosso Senhor! As dores e as tribulações são caminho para subirmos ao céu. Pelo calvário chegaremos ao céu. Os sofrimentos e provações bem suportados nos levarão ao céu.
Alegremo-nos, caros católicos, porque Nosso Senhor, sentado à mão direita de Deus Pai, todo poderoso, governa todas as coisas com justiça e bondade, e prepara, para seus discípulos fiéis, uma morada na casa do Pai.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino.

É PRECISO ESTAR EM JEJUM DESDE A MEIA-NOITE

D. — Padre, diga-me algo sobre o jejum prescrito antes de receber a comunhão.
M. — Quem vai comungar sabendo não estar em jejum comete um sacrilégio, exceto no caso de dispensa por motivos de doença ou por outras razões graves.
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D. — E quais seriam esses motivos?
M. — Preste atenção e procure entendê-lo bem: A Igreja permite aos moribundos e doentes em estado grave, que comunguem sem estar em jejum. Nesses casos a Comunhão lhes é administrada como Viático. Permite também a Comunhão duas vezes por semana, aos que a mais de um mês se acham doentes sem esperança de melhora. Esses, se não podem ficar em jejum, podem tomar algum líquido como café, leite, remédios, ovos batidos, caldo, etc.
D. — Padre, não haverá perigo de abusos?
M. — Certo que sim. Feita a lei, feita a trapaça, diz o provérbio. Enganam-se nisso os mesmos doentes, os padres e confessores. Mas, a trapaça é sempre trapaça e, portanto uma ação perversa.
Piedade que nos induza a desobedecer à Igreja nunca será agradável a Deus.
D. — E os que estão dispensados?
M. — Desses existem muito poucos, pois a Igreja é prudente e rigorosa e procede com pés de chumbo ao conceder tais dispensas. E os que gozarem desse privilégio deverão ater-se estritamente ao que lhes foi concedido sem alargá-lo nem interpretá-lo conforme o próprio capricho. E para norma segura em questão tão importante submetam-se ao juízo do confessor que certamente saberá interpretar tal dispensa conforme as diretrizes eclesiásticas, antes que condescender com os caprichos individuais.
D. — E se alguém se achar nas mesmas condições de outrem que obteve a dispensa do jejum, poderá conforme seu critério, ir comungar sem estar em jejum?
M. — Por mais critério que um tenha, não poderá ir comungar sem estar em jejum, antes de pedir a devida dispensa à legítima autoridade eclesiástica. E se for comungar sem ela, cometerá toda vez um sacrilégio.
D. — O confessor poderá dispensá-lo?
M. — De modo algum. O confessor nunca pode conceder tais dispensas. Quem não puder ficar em jejum e desejar comungar após ter ingerido qualquer alimento líquido ou remédio, precisa pedir a dispensa ao Bispo, que a concederá segundo os ditames da Santa Sé. O confessor agiria muito mal intrometendo-se em tal assunto mesmo com o pretexto de piedade, mas em vez, fará bem se ele mesmo se dirigir ao Bispo para obter tal dispensa.
D. — Ele não pode dar essa dispensa?
M. — Absolutamente. Sei que existem confessores que por ignorância ou presunção pretendem saber mais que a Igreja e concedem facilmente aos seus penitentes essas dispensas. Fazem, porém, muito mal. Deus certamente não aprovará tal procedimento.
D. — E como se explica que Jesus Cristo distribuiu a Comunhão aos Apóstolos, sem que eles estivessem em jejum ? E também nos primeiros tempos da Igreja eram as crianças que sem estarem em jejum consumiam as sagradas espécies.
M. — É certo o que você diz: Porém, mais tarde por surgirem inconvenientes e abusos, a Igreja sempre inspirada por Deus achou melhor estabelecer o jejum absoluto (natural) para todos que quisessem comungar; portanto, precisamos abaixar a cabeça às determinações dos Papas, isto é, da Igreja; quem ouve e obedece a Igreja, escuta e obedece a Deus. Quem não faz assim não está com Deus.
Um zeloso missionário contou-me que um seu companheiro missionário, movido pelas insistências de uma sua penitente, permitiu-lhe comungar algumas vezes sem que estivesse em jejum. Vindo a saber disso o Bispo suspendeu-o de confessar por três meses e ameaçou suspendê-lo até da Missa se tornasse a dar tais permissões. Daqui você pode deduzir como os Bispos não concedem levianamente tais dispensas.
D. — Padre, mais uma pergunta: Não poderá suceder que algumas pessoas principalmente mulheres, levadas por falsa piedade, ousem comungar duas ou mais vezes no mesmo dia?
M. — Não só poderá suceder, mas sim muitas vezes já sucedeu isso. Um santo Bispo costumava dizer que as mulheres, (não todas) são como os chifres dos bois: duros, torcidos e http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ocos. Duros, isto é, cerrados nas próprias ideias, quase sempre erradas; torcidos, no que se refere à instrução, no mais das vezes deficiente; ocas no sentido comum da palavra. Admitido isso não é de estranhar que algumas delas repitam a Comunhão duas ou três vezes por dia ocasionando assim grande desordem na própria alma.
D. — Logo, não é permitido comungar mais de uma vez no mesmo dia?
M. — Não, pois que depois da comunhão, verdadeira comida, não se está mais em jejum.
Há, porém, um caso excepcional: Se alguém de manhã, suponhamos, recebeu a comunhão e à tarde sobrevem-lhe um perigo de morte, então a Igreja permite que o doente receba pela segunda vez a comunhão em forma de Viático.
Impossível calcular o número de profanações que tem que aguentar na Eucaristia

25 de maio de 2015

História Eclesiástica - Quarta Época Capítulo 3

CAPÍTULO III

São Tomas de Aquino - São Boaventura - Segundo Concilio de Lion - O jovem Vicente Verner - São Celestino.

São Tomas de Aquino - Entre os santos que brilharam neste tempo por grande saber e virtude, merecem singular menção os doutores. São Boaventura, toscano, e Santo Tomas de Aquino. Este último, nascido, de nobre família napolitana aos cinco anos de idade entrou para ser educado no convento dos Beneditinos do Monte Cassino. Mais tarde, ao manifestar seus desejos de se consagrar a Deus na ordem dos Pregadores, os parentes para impedi-lo encerraram-no em um calabouço. Pessoas infames tentaram-no ali gravemente para ver se lhe faziam perder a pureza, porém saiu Tomas vencedor, afugentando-as com um tição aceso. Saindo do cárcere, foi a Paris, onde estudou teologia sob a direção do célebre Alberto Magno. Ainda que fizesse maravilhosos progressos nas Ciências e na piedade, sabia ocultar de tal sorte seu talento, que seu silêncio era julgado necessidade, pelo que seus condiscípulos chamavam-lhe boi mudo. Mas o mestre, que bem o conhecia, dizia aos que mofavam dele, que algum dia os sábios mugidos do boi mudo ressoariam em toda a terra. Aos 25 anos tomou a seu cargo a cadeira de filosofia e teologia na universidade de Paris. Os ouvintes que corriam para aprender em tão célebre mestre, apelidaram-no o Anjo das Escolas. Certo dia, estando em Nápoles, falou-lhe a Imagem de Jesus Cristo e disse-lhe: "Tomas tens escrito bem de mim; que prêmio desejas?”, Respondeu-lhe: "A Ti somente, ó meu Deus!" Sentado um dia à mesa de São Luiz rei da França, recordando uma questão teológica, encontrou de pronto a solução e dando um golpe com a mão sobre a mesa, exclamou: "Achei o argumento contra Manés". Lembrando-lhe seu superior que se achava em presença do rei, pediu humildemente perdão; porém o príncipe chamou logo um secretário, a quem ordenou escrevesse os argumentos do Santo Doutor. Ofereceram-lhe o arcebispado de Nápoles, que ele por humildade jamais quis aceitar. O Papa Gregório o convidou para o concílio ecumênico que devia reunir-se em Lion. O santo já se encaminhava para aquela cidade, ao chegar, porém, ao mosteiro de Fossanova adoeceu pediu o viático e completamente absorto em pensamentos celestiais, descansou no Senhor no ano 1274 aos 49 de idade.

São Boaventura - Boaventura chamou-se João até os quatro anos. Nessa idade foi curado de grave enfermidade pelas orações de São Francisco, que, ao vê-lo são, exclamou: Ó boa ventura! Desde então o menino se chamou Boaventura. Aos vinte e um anos professou as regras de São Francisco. Alexandre de Rales, seu mestre admirando a candura e inocência de seus costumes, costumava dizer: "Parece não ter entrado em Boaventura o pecado de Adão". Conhecido o talento e a rara prudência que o adornavam, foi eleito geral de sua ordem. Em seguida o Papa Clemente IV o elevou ao arcebispado de Iorque. na Inglaterra, porém fez o santo tantas instâncias junto ao Papa, que este o dispensou de tal encargo. Gregório X o obrigou a aceitar a dignidade de cardeal e de bispo de Albano. Quando lhe Comunicaram a notícia, acharam-no lavando o material da cozinha. Continuou em sua tarefa como se nada tivesse acontecido; tomou depois a carta e tendo-a examinado, prorrompeu em sinais de repugnância, e só para obedecer ao Papa aceitou a dignidade que este lhe propusera. O mesmo Pontífice ordenou-lhe que se preparasse sobre as matérias do concílio de Lion. Falou nele na segunda e terceira sessão, porém depois da quarta foi surpreendido por uma enfermidade que em pouco tempo causou-lhe a morte. Morreu no ano de 1274, aos 53 anos de idade. Tendo ido visitá-lo um dia seu grande amigo são Tomas de Aquino, achou-o escrevendo a vida de São Francisco. "Que não o interrompam, disse: deixemos que um santo escreva a vida de outro santo". Em outra ocasião perguntou-lhe o mesmo, onde tinha aprendido aquelas coisas admiráveis que ensinava em seus escritos: e ele apontando para o crucifixo respondeu-lhe: "Eis o livro onde aprendo o que ensino".

Segundo Concílio de Lion - O XIV concílio geral, II de Lion, foi convocado na cidade deste nome, no mês de maio do ano de 1274. Principal fim deste Concílio era a reunião da Igreja grega cismática com a Igreja católica. Já havia quatro séculos que a Igreja grega, como já dissemos, por obra de Fócio, se tinha separado da Santa Sé apostólica. Ainda que pouco depois tivesse voltado à unidade, todavia pela soberba de Miguel Cerulário, patriarca de Constantinopla, tornou a separar-se completamente da obediência ao romano Pontífice. Porém Deus, no século XIII a chamou de novo à verdade por meio de gravíssimos castigos. Ameaçavam-na continuamente os Turcos e para não cair em suas mãos, necessitava da assistência do Papa. Por isto, o Imperador Miguel Paleólogo mandou uma carta por um legado seu, ao bem-aventurado Gregório X, protestando que ele e todos os seus súbditos desejavam tornar a fazer parte da unidade católica. Alegrou-se muitíssimo o Papa e, para que se tratasse o assunto com a maior, circunspeção, convocou o Concílio de Lion. Assistiram a ele, além dos patriarcas latinos, os representantes do Imperador de Constantinopla e vários patriarcas e bispos orientais, 500 bispos e 1070 abades e insignes teólogos. Os Gregos abjuraram seus erros, declararam acreditar que o Espírito procede não somente do Pai senão também do Filho, admitiram a existência do purgatório, a validade do Sacramento da Eucaristia consagrada com pão ázimo, e confessaram finalmente, que o romano Pontífice é o verdadeiro e legítimo sucessor de São Pedro, e que é impossível se salvar quem não permanecer unido a ele. O Papa que presidia o Concilio em pessoa, vendo voltar ao redil de Jesus Cristo, a tantos filhos extraviados, em um transporte de alegria, entoou um solene Te Deum, que a uma voz cantaram todos os presentes.

O jovem Vicente Verner - Naqueles tempos aconteceu um fato atroz que deu a conhecer quanto ódio abrigavam os Judeus contra nossa santa religião. Um jovem camponês de Treves (França) chamado Vicente Verner, tinha-se empregado, na idade de 15 anos, com alguns judeus de Vesel, para trabalhar a pagamento em uma adega. Um dia a mulher que caritativamente lhe dava morada lhe disse: "Verner, chegou a sexta-feira santa, os judeus te vão matar". O inocente jovem respondeu-lhe: "Eu não posso viver senão trabalhando; minha vida está nas mãos do Senhor." Na quinta-feira santa confessou e comungou e depois voltou para seu trabalho. Os judeus desceram com ele à adega: puseram-lhe uma bola de chumbo na boca para não se ouvirem os gritos, e em seguida ataram-no a um pau de cabeça para baixo, para que vomitasse a santa Hóstia; porém não podendo consegui-lo, açoitaram-no cruelmente. Abriram-lhe logo as veias e o espremeram com tenazes para que saísse todo o sangue de seu corpo. Foi conservado suspenso no ar durante três dias, já pelas pernas, já pela cabeça, até que exalou o último suspiro. Isto se deu no ano 1287. Seu cadáver ainda que enterrado em uma gruta, foi descoberto por luz portentosa que apareceu no lugar onde se achava sepultado. Foi tirado dali e com a honra devida, enterrado em uma capela. Martírio parecido a este sofreu em Damasco o Pe. Tomas de Sardenha, nos últimos anos do pontificado de Gregório XVI.

São Celestino V - Foi São Celestino um dos Papas que deram mui singular exemplo de humildade. Nascido em Sulmona; desde jovem dedicou-se inteiramente à contemplação das coisas celestiais e ao exercício da penitência. Depois de ter levado setenta anos de vida austera e penitente, em um deserto tiraram-no, quase à força, dali no ano 1294 para torná-lo Papa em lugar de Nicolau IV que falecera em 1292. De todas as partes acudiam as multidões para verem o novo Pontífice, que com a fama de suas virtudes e milagres atraia a admiração de todos. Mas cinco meses depois de ocupar o trono pontifício, levado por sua humildade e amor ao retiro, renunciou ao Papado, coisa nunca vista até então; e apesar das vivas instâncias dos cardeais, quis tornar a vestir os humildes hábitos de anacoreta; no fim de dez meses morreu em Sulmona, na Campanhia, com fama de santidade. Ano 1296. Foi ele fundador dos monges chamados Celestinos.

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino.

COM DEUS NÃO SE BRINCA

Conta a História Sagrada no I Livro dos Reis de como os Filisteus, atemorizados por tremendos castigos, resolveram devolver a Arca Santa aos Judeus. Durante o regresso a Arca ficou por algum tempo entre os Betsamitas os quais fizeram grande festa por tão insigne acontecimento; mas alguns mais curiosos, desejando conhecer o que havia dentro da Arca, a abriram. Esta falta de respeito, para nós tão insignificante, custou a vida de mais de cinquenta mil pessoas, fulminadas repentinamente pela ira divina enquanto o povo gritava: Quão terrível é a presença de um Deus tão poderoso e santo!
D. — Pelo que vejo, Padre, com Deus não se brinca.
M. — De fato. E se tivéssemos verdadeira fé quando vamos comungar, deveríamos prorromper nas mesmas exclamações diante de Jesus realmente presente na Santíssima Eucaristia; em vez quantos betsamitas existem ainda hoje que se dizem cristãos, e vão alegres e desejosos de ver e receber a Jesus Cristo, porém não fazem o que devem para honrá-Lo dignamente. Não conseguem ver as purulentas feridas da própria alma, por estarem atolados na matéria, no sensualismo, no egoísmo.
Não advertem que, cometendo sempre as mesmas faltas e permanecendo sempre nos mesmos defeitos sem vontade de se corrigir, aproximando-se temerariamente daquele insondável Mistério do qual a Arca era uma simples imagem, convertem o remédio em veneno, e vão buscar a morte na fonte da vida.
* * *

No segundo livro dos Reis encontramos o seguinte episódio: O rei Davi determinara transladar a Arca para a cidade onde ele residia em meio de grandes e jubilosos festejos do povo. Para isso colocaram-na em um carro de bois, ricamente adornado para tal fim. Sucedeu, porém, que os bois a certo ponto pararam e aos coices fizeram a Arca tombar de um lado. Ora, um levita, que ia ao lado do carro, levantou a mão para sustê-la. Imediatamente a ira divina fulminou-o e o levita caiu morto no mesmo lugar.
D. — Coitado! O que havia na Arca?
M. — Na Arca Santa, além das tábuas da Lei e a vara de Arão, se achava um vaso com Maná símbolo da Eucaristia. Isso serve para advertir-nos de que não devemos consentir que almas indignas recebam o adorável Sacramento da Eucaristia.
São Paulo recorda esta semelhança da Eucaristia com a Arca santa, quando diz que nos primeiros tempos da igreja eram castigados muitos cristãos com enfermidades e até com a morte por se haverem atrevido a comungar indignamente.
D. — Atualmente não temos exemplos de semelhantes castigos?
M. — Temos muitíssimos. Ouça o seguinte: Uma senhorita de dezesseis anos havia pasmado a noite dançando. Pela manhã seguinte foi atrevidamente comungar a fim de encobrir sua falta perante o vigário e suas colegas. Pobrezinha! Apenas voltara ao banco, sentiu um calafrio e um desarranjo interno seguidos de vômitos que a fizeram lançar fora a sagrada Partícula e tudo quanto havia ingerido e por fim até as próprias entranhas.
Na Arca Santa achava-se um vaso com Maná símbolo da Eucaristia
D. — Coisa horrível! Com Deus verdadeiramente não se brinca. Por isso procurarei de comungar sempre dignamente, com o maior respeito e reverência a tão grande Sacramento.
M. — Muito bem! Esse é o propósito que todos deveriam fazer. Comungar sempre com as devidas disposições possíveis, com os melhores sentimentos de piedade e devoção de que é capaz.
D. — E que hão de fazer os que mesmo querendo não conseguem ter essa piedade e devoção?
M. — Para muitos será suficiente a fé interna e os esforços que fazem para manter-se em graça; outros suprem essa falha com o cuidado em evitar as faltas veniais.
O que Jesus detesta são os desgraçados maliciosos, os indiferentes, tíbios e, sobretudo, aqueles que pretendem servir a dois senhores, ser cristãos ou o pagãos, crentes e liberais, bons e maus, castos e desonestos.
D. — Aqueles enfim, que cantam para espantar os próprios males, não é, Padre?
M. — Isso mesmo: Mas chegará o dia da Justiça Divina. Dia em que lhes será tolhida a venda dos olhos e aparecerão claros e diáfanos todos os sacrilégios cometidos. Que confusão e vergonha não experimentarão todos os que profanaram a Pessoa adorável de Jesus Cristo. Agora Jesus se oculta e permanece caladinho, mas naquele dia aparecerá em todo seu poder e majestade como um Juiz rigoroso.
D. — Basta, basta, Padre, já estou com medo...
M. — Oxalá! Ficassem com medo todos os indignos, os traidores, os miseráveis sacrílegos... Jesus na sua infinita bondade lhes conceda conhecimento, temor e conversão.
Naquele dia Jesus aparecerá como um Juiz rigoroso

24 de maio de 2015

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino

DEVE-SE SABER O QUE SE VAI RECEBER E PENSAR NISSO

D. — Padre, para bem comungar requer-se algo mais do que o estado de graça?
M. — É claro, pois é coisa sabida que para bem comungar são necessárias três coisas, a saber:
1º. - Estado de graça;
2º. - Saber o que se vai receber e pensar nisso;
3º. - Estar em jejum desde a meia-noite até o momento da comunhão. A primeira condição já foi explicada. Falemos agora sobre as outras duas.
D. — Poderá haver comunhões mal feitas por falta da segunda disposição?
M. — Sim. Principalmente por ocasião da Páscoa e outras grandes festas sucede que muitos cristãos vão comungar sem saber e nem pensar em quem vão receber. Quantas não são as mulheres que se acostumaram a receber diariamente a Comunhão, somente para imitar o que outras fazem. Caro amigo, você deve saber que há muita ignorância religiosa entre o povo, sobretudo a respeito da Sagrada Comunhão.
Muitos, muitíssimos são os cristãos modernos que são "tábua rasa" no que se refere à presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, isso porque não tiveram uma instrução catequética adequada. Ora, tais pessoas vão comungar como se fossem beijar uma relíquia ou cumprir qualquer ato de religião.
Muitos cristãos há em nossos dias que ainda não aprenderam bem o que seja a Comunhão e ignoram a essência e substância de tão grande Sacramento. Existem também muitos outros que ignoram completamente os efeitos admiráveis que a comunhão produz e as disposições necessárias para bem recebê-la. Se lhes perguntarmos sobre isso, respondem como criancinhas que se preparam para a Primeira Comunhão: sabem o que aprenderam no colo materno e nada mais. Com uma instrução assim deficiente será possível comungar bem?
D. — Impossível, Padre.
M. — Calcule, pois, quantas não serão as comunhões mal feitas!
D. — Número impressionante. Esses tais não deveriam comungar.
M. — Infelizmente dá-se bem o contrário: nem se abstem, nem se instruem. Pois estão convencidos que já sabem tudo, e que são dignos de comungar como os outros.
D. — E então?
M. — Então é preciso pregar, instruir o povo, levantar a voz bem alto contra os abusivos, vigiar constantemente e sobretudo examiná-los com prudência e rigor.
D. — Tudo quanto o senhor disse até agora está bem quanto ao saber o que se vai receber; mas diga-me também alguma coisa sobre o pensar no que vamos receber.
M. — Com muito prazer. Diz o catecismo que é preciso pensar, refletir no que vamos receber, por isso fazem mal os que vão comungar distraidamente, isto é, sem fé e devoção.
D. — Na Igreja vejo muitas vezes alguns, mormente meninos, que brincam, falam e ficam distraídos durante a Missa e no momento da comunhão vão comungar sem nenhuma preparação.
M. — Fazem mal, muito mal. Sendo crianças ainda têm desculpas, pois Deus terá em consideração a pouca idade e juízo; mas se forem adultos não terão nenhuma desculpa.
D. — E as senhoras e moças que enquanto vão comungar viram a cabeça para todos os lados, rindo e fazendo graças com o fim de se exibirem e mostrarem a todos, seus vestidos elegantes e pouco decentes?
M. — Fazem muito mal. Todas elas fazem mal a comunhão.
D. — E são coisas sérias?
M. — Muito sérias, pois se trata nada mais nada menos que desprezar o mais augusto dos Sacramentos. São pobres desgraçados, almas sem fé.
D. — Que fazer para acabar com tais abusos?
M. — Vigiá-las, corrigi-las, reprovar-lhes o procedimento e se não for suficiente, proibi-las de comungar.
D. — E o povo não estranhará?
M. — Quando se acostumarem a ver os indignos afastados da Santa Comunhão ninguém mais haverá de estranhar e não só, até hão de aprovar tal procedimento que visa impedir o desrespeito à pessoa adorável de Jesus Cristo realmente presente na Eucaristia.
D. — Mas, com isso não haverá perigo de que muitos se afastem da mesa da comunhão?
M. — Mão importa. Antes de tudo deve-se ter em vista o respeito e a adoração devidas ao Santíssimo Sacramento. Diminuirão de muito as comunhões, não há dúvida. Porém diminuirão também os sacrilégios e os que comungam mal aprenderão a comungar dignamente.
Esta é uma doença como as outras; se não lhe for aplicado um remédio progredirá cada vez mais.
"Fora com os cães" gritava S. Agostinho. Nós também gritemos "Fora os cães" e procuremos expulsá-los verdadeiramente. Agindo assim e somente assim as bênçãos divinas descerão com mais abundância sobre as cidades e povoados.

23 de maio de 2015

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino.

BASTA NÃO ESTAR EM PECADO MORTAL

D. — Agora, Padre, diga-me: Para comungar basta não estar em pecado mortal?
M. — Sim, para quem está em jejum desde a meia-noite e sabe o que vai receber, basta estar em graça de Deus, isto é, não ter pecado mortal. Todavia requer-se também a reta intenção, isto é, comungar por amor de Jesus Cristo, para obter a graças espirituais e temporais, etc.
O fruto da comunhão depende das disposições de cada um. Quanto melhores forem as disposições maior será o fruto. Jesus Cristo, encarnando-se, procurou acomodar-se, por assim dizer, ao nosso teor de vida. Não agimos assim com nossos amigos, parentes e conhecidos? Quando alguém nos ama, favorece e respeita, procuramos também de retribuir-lhe da mesma forma e quanto maior é o amor que ele tem por nós, tanto mais procuramos de amá-lo.
Com a comunhão sucede o mesmo. Jesus Cristo será bondoso, e generoso conosco em proporção à fé, piedade e devoção que tivermos.
D. — Como faziam os santos, não é, Padre?
M. — Sim, como faziam os santos e como fazem ainda agora os verdadeiros cristãos, os que desejam alcançar o Paraíso e amam realmente a Jesus Cristo.
D. — Serão muitos esses verdadeiros cristãos?
M. — Muitíssimos. Graças a Deus, existem muitas almas, em todas as condições sociais que diariamente recebem o alimento eucarístico como verdadeiros anjos. Há pais e mães cristãos, jovens de ambos os sexos que todos os dias, com as melhores disposições vão receber o Pão dos Anjos!
Existem muitas almas que recebem o alimento eucarístico como verdadeiros Anjos
Oh! Somente os ventoinhas, os dissipados, os tíbios, os que têm uma fé mesquinha, comungam com indiferença e sem reflexão.
D. — E esses tais farão mal a comunhão?
M. — Não; se não estiverem em pecado mortal não comungam mal, pois comungar, conforme o catecismo é sempre uma coisa boa, porém perdem muitas graças.
D. — Que quer dizer isso, Padre?
M. — Com alguns exemplos, talvez, você poderá compreender melhor. São um pouco triviais, mas tenha a santa paciência de ouvi-los.
Dois camponeses trabalham juntos na mesma terra: um a cultiva com cuidado, extirpando as ervas daninhas, arando-a de vez em quando; lança adubos para torná-la mais fecunda; cerca-a de todos os lados para que as sementeiras não sejam pisadas, enfim, cuida verdadeiramente do seu campo. O outro ao invés pouco se incomoda. Lança a semente de qualquer modo. Qual dos dois terá melhor colheita?
D. — Sem dúvida, o primeiro.
M. — Pois bem, na Comunhão acontece a mesma coisa. Conforme as disposições e o interesse de cada um; conforme a piedade e a devoção que tem; conforme, sobretudo, o nosso amor a Jesus Cristo, receberemos a abundância de graças e favores.
Suponhamos também dois amigos que vão à feira a pé. Um se satisfaz em passear, respirando o ar puro dos campos ou admirando a beleza dos prados floridos. E na feira somente olha as mercadorias expostas nas barracas. O outro ao invés colhe as flores mais bonitas que encontra e compra as mercadorias que acha úteis para a família. De volta; qual dos dois terá aproveitado melhor o passeio?
D. — Sem nenhuma dúvida aquele que levou para casa tudo quanto encontrou de bom e útil.
M. — Daqui se pode compreender que a comunhão é um tesouro de valor inestimável, inesgotável para os cristãos que delas se aproximam, mais desfrutando aquele que for mais esperto.
D. — Se é assim, até agora infelizmente obtive pouco fruto em minhas comunhões; porém, de ora em diante vou fazer o possível para que sejam bem fervorosas e devotas e assim se tornem um verdadeiro tesouro para minha alma.
M. — Muito bem; persevere nesse propósito e verá quão abundantes serão os frutos.
D.— Mais uma coisa, Padre: se alguém for comungar sem fé e devoção, comungará mal?
M. — Não. Já lhe disse: somente quem comunga em pecado mortal ou sem as devidas disposições faz a comunhão mal feita. Do contrário sempre será boa e proveitosa, pois que, como ensinam os teólogos, a comunhão opera ex opere operato, isto é, por sua própria virtude sobrenatural e divina.
D. — Quem não tivesse essas disposições seria melhor que não comungasse, não é, Padre?
M. — À sua pergunta respondo com uma terceira comparação:
Frequentemente se encontram pessoas que, ou por indisposição, ou por doença, não tem nenhuma vontade de comer. E, se engolem algum alimento é só forçadamente e com muita repugnância. Não obstante, aquela migalha de alimento ingerido lhes é de grande proveito transformando-se em carne e sangue. E assim vão arrastando a própria existência. Que seria melhor para elas: comer ou não comer?
D. — Comer, se não morreriam.
M. — Logo, o mesmo deve-se dizer quanto à Comunhão, alimento de nossas almas. Se não comungarem morrerão, caindo irremediavelmente no pecado mortal que é a morte da alma.
O Espírito Santo na Sagrada Escritura faz o pecador exclamar: “Estou murcho como a erva que foi cortada; meu coração está seco como o feno do prado porque deixei de comer meu pão.” Isto é, sabia que devia comer o pão que Jesus me deixou para sustentar minha vida espiritual, mas por indiferença, por desleixo, me descuidei disso. Eis o remorso que atormenta muitas almas que, embora vivam bem, todavia desprezam o mandamento de Cristo: Tomai e comei: isto é o Meu Corpo.
D. — Então fazem mal os que não comungam porque não sentem nem piedade nem devoção?
M. — Certamente. São uns iludidos como aqueles que não comem porque não sentem apetite, como aqueles que estão doentes e não tomam remédios, como aqueles que sentem frio e não se aproximam do fogo, ou têm sede e não bebem água.

22 de maio de 2015

Comungai Bem. Padre Luiz Chiavarino.

É SEMPRE PRECISO CONFESSAR-SE ANTES DE COMUNGAR?

D. — Diga-me, Padre, será preciso confessar-se toda vez que vamos comungar?
M. — Para quem se acha em pecado mortal é claro que a confissão é necessária.
D. —E se hoje por exemplo não tenho tempo ou não consigo confessar-me e digo: "Bom, amanhã me confessarei; no entanto hoje vou comungar", faço mal?
M. — Se você sabe que está em pecado mortal, cometerá um sacrilégio.
D. Então, não há exceção nem pretextos que valham?
M. — Absolutamente não. Nem razões, nem pretextos, nem desculpas; nada. Se alguém não pode ou não quer confessar-se, também não comunguem. Deixando a comunhão não fará nenhum pecado; invés, se comungar em pecado mortal, perpetrará sempre um sacrilégio. São Paulo e Santo Tomás dizem terminantemente: Examine-se antes o homem... Antes de comungar, entre cada um em sua consciência e veja se cometeu algum pecado mortal; se verdadeiramente certificar-se disso, deixe a comunhão, não vá receber a própria condenação.
D. — Então, Padre, não basta arrepender-se dos pecados e fazer o propósito? É preciso também a confissão?
M. — Certamente que em tais casos é necessária a confissão, pois para comungar é preciso estar em graça de Deus, isto é, com a alma livre de pecados mortais, e sem a confissão não se obtém o perdão dos pecados.
Que lhe diria o rei se você fosse à sua presença com as mãos sujas, dizendo-lhe: perdão, majestade, depois irei lavá-las?
D. — Na certa expulsar-me-ia de sua presença.
M. — Então quer que Deus proceda de outro modo?
D. — Mas Deus vê o interior, conhece todos os pensamentos e as intenções.
M. — Assim é de fato. Mas isso não é razão suficiente para que se lhe falte ao respeito. Lembrete daquele sujeito que não tinha o traje nupcial... Além disso, se a Igreja, por meio de seus doutores e Concílios prescreveu essa norma, com que autoridade quer você corrigi-la? Em matéria religiosa a Igreja é mestra única e infalível.
D. — Quanto a mim estou de acordo. Porém, há outros que desejariam as coisas diversamente.
M. — Esses outros pensam assim ou porque são ignorantes ou porque são malvados. Quem se confessa fica perdoado, quem não se confessa não fica perdoado e basta!
Conta a História Sagrada, que Naamão, generalíssimo do rei da Síria, um dia foi procurar o profeta Eliseu pedindo-lhe que o curasse da lepra.
O profeta como remédio mandou-o lavar-se sete vezes no rio Jordão. Ele, porém, levou a mal a ordem do profeta, e respondeu:
— Para que isto? Acaso na Síria não haverá rios mais caudalosos que o Jordão? E ainda mais: por que sete vezes? Não basta uma?
E voltando para os que o acompanhavam: Vamos, vamos embora! Este homem não vale nada.
Mas os da comitiva puseram-se a insistir:
— General, o remédio é tão simples. Experimente, não custa nada e pode ser que seja eficaz.
Naamão, diante dessas razões, deu-se por vencido. Foi ao Jordão, lavou-se sete vezes e ficou completamente curado. Se não tivesse seguido o conselho não teria obtido a cura.
O mesmo sucede em nosso caso: a lepra representa o pecado; a ordem de Cristo é que nos lavemos por meio da Confissão. Quem obedece fica purificado e poderá comungar; quem não obedece, continuará sempre imundo e por consequência lógica não poderá comungar.
D. — E se o confessor negar a absolvição?
M. — Quando o confessor por motivos graves nega a absolvição, não se pode ir comungar.
D. — E no caso em que o confessor der a absolvição, mas proibir de comungar?
M. — É bem possível que às vezes e por justos motivos o confessor proceda assim, e diga ao penitente: Absolvo-te de teus pecados, porém, até segunda ordem ficas proibido de receber a comunhão. Pois bem, em tais casos é preciso obedecer cegamente, sem discutir nem apresentar desculpas.
Em se tratando de sacramentos o confessor é juiz responsável por seus atos, e não o penitente.
D. — E em se tratando de pessoas que vão casar-se?
M. — Nem neste caso, se o confessor proibir não poderão comungar.
D. — E em perigo de morte?
M. — Em perigo de morte, se estiver em pecado grave, ninguém poderá comungar se antes não se tiver confessado, exceto no caso de absoluta impossibilidade. O exemplo do rei Saul poderá servir-nos de tremenda lição.
D. — Conte-o, Padre.
* * *
M. — Samuel havia ordenado a Saul que não oferecesse nenhum sacrifício antes que ele chegasse; mas, Saul, soberbo e orgulhoso, cansado de esperar com o fim de acalmar o povo, disse:
— Que nos importa Samuel? Eu mesmo vou oferecer o sacrifício. Acaso não sou rei de Israel?
E dito isto ofereceu o sacrifício. Mas nesse ínterim chegou o profeta. Com palavras severas condenou o ato de Saul, dizendo:
— Hoje mesmo vais ser castigado por teres desobedecido a ordem do Senhor. Teu nome já foi riscado da lista dos reis de Israel e a coroa de Israel já foi destinada a um outro mais digno do que tu.
D. — Portanto, quem se atreve a desobedecer a ordem do confessor, torna-se um sacrílego e inimigo de Deus?
M. — Certamente.