30 de novembro de 2019

...E Arrisco os Pedidos mais Audazes - Santa Teresinha

Devia ter começado por agradecer-lhe o presente que quer me oferecer para a minha festa. Estou muito sensibilizada, pode estar certa, mas perdoe-me se digo com simplicidade minhas preferências. Já que deseja dar-me prazer, em lugar de peixe eu preferiria um modelo de flores. Você vai pensar que sou muito egoísta, mas veja, o meu tio anima as suas queridas carmelitas, elas estão seguras de que não morrerão de fome... A Teresinha que nunca gostou do que se come, gosta muito das coisas úteis à Comunidade, ela sabe que com modelos pode-se ganhar dinheiro para comprar peixe... Mas enfim ficarei muito contente se me der um ramo de rosinhas silvestres, ou na falta destas, pervincas ou botões de ouro, ou mesmo qualquer outra flor das mais comuns me agradaria.

28 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

UNIÃO DA VIDA ATIVA E DA VIDA INTERIOR

Prioridade aos olhos de Deus da vida interior sobre a vida ativa

Parte 1/2

Em Deus esta a vida, toda a vida, ele é a própria vida. Ora, não é nas suas obras exteriores, por exemplo, na criação, que o Ser infinito manifesta essa vida da maneira mais intensa, mas no que a teologia chama operações adintra, nessa atividade inefável cujo termo é a geração perpétua do Filho e a incessante processão do Espirito Santo. Essa é, por excelência, a sua obra essencial, eterna.
Consideremos a vida mortal de Nosso Senhor, realização perfeita do plano divino. Trinta anos de recolhimento e de solidão, depois quarenta dias de retiro e de penitência preludiam a sua curta carreira evangélica; e, durante as suas excursões apostólicas, quantas vezes ainda o vemos retirar-se às montanhas ou aos desertos, a fim de orar: Secedebat in desertum et orabat, ou passar a noite em oração: Pernoctans in oratione Dei. Rasgo ainda mais significativo: Marta deseja que o Senhor, condenando a suposta ociosidade da irmã, proclame a superioridade da vida ativa; a resposta de Jesus: Maria óptimam partem elegit, consagra a proeminência da vida interior. Que concluir daqui senão o desígnio bem patente de nos fazer sentir a preponderância da vida de oração sobre a vida ativa?
Depois do Mestre, os apóstolos, fiéis aos seus exemplos, reservaram antes de mais nada para si o ofício da oração, pois, para se consagrarem ao ministério da palavra, deixaram as ocupações mais exteriores aos diáconos: Nos vero orationi et ministério verbi instantes erimus.
Os papas, por sua vez, os Santos Doutores, os teólogos afirmam que a vida interior em si é superior à vida ativa.
Há alguns anos, uma mulher de fé, de virtude e de grande caráter, superiora geral de uma das mais importantes congregações ensinantes do Aveyron, fora convidada por seus superiores eclesiásticos a favorecer a secularização de suas religiosas.
Deveria acaso sacrificar as obras à vida religiosa ou abandonar esta para conservar aquelas? Perplexa, não sabendo como conhecer a vontade de Deus, parte secretamente para Roma, obtém uma audiência de Leão XIII, expõe-lhe suas dúvidas e a pressão exercida sobre ela a favor das obras.
O augusto ancião, após alguns instantes de recolhimento concentrado, deu-lhe esta resposta categórica: "Antes de tudo, de preferência a todas as obras, conserve na vida religiosa suas filhas que realmente tiverem o espírito do seu santo estado e o amor à vida de oração. E, caso lhe seja impossível conservá-las nesse espírito e nessa vida, continuando as obras, Deus saberá, sendo necessário, suscitar em França  outras operárias. Quanto as religiosas, pela sua vida interior, sobretudo pelas suas orações, pelos seus sacrifícios, elas certamente serão mais úteis à França, ficando verdadeiramente religiosas, embora longe dela, que continuando a viver no solo da pátria, privadas dos tesouros de sua consagração a Deus."

27 de novembro de 2019

Podemos ser Repelidos como Mendigos - Santa Teresinha

Muitas vezes é preciso coisas indispensáveis, mas fazendo-o com humildade não se falta ao mandamento de Jesus. Pelo contrário, procedemos como pobres que estendem a mão para receber o que lhes é necessário. Quando são repelidos, não se admiram, porque ninguém lhes deve coisa alguma... Não, não existe alegrai comparável à que goza o verdadeiro pobre de espírito. Se pede, com desprendimento, uma coisa necessária, e não só lhe recusam, mais ainda, tomam-lhe o que tem, ele segue o mandamento de Jesus: "A quem quiser citar-vos em juízo para vos tirar a túnica, largai-lhe também o manto..."

25 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 4/4

A muitas safiras, prefere o  joalheiro o mínimo fragmento de diamante. Da mesma forma, consoante a ordem estabelecida por Deus, a nossa intimidade com ele muito mais o glorifica do que todo o bem possível proporcionado por nós a grande número de almas, mas com prejuízo de nosso progresso. Nosso Pai celeste, que mais se aplica ao governo do coração onde reina, do que ao governo natural de todo o universo e ao governo civil de todos os impérios, exige em nosso zelo essa harmonia. E, se vê que qualquer obra serve de obstáculo ao aumento da caridade na alma que dela se ocupa, prefere , as vezes, deixar desaparecer essa obra.
Pelo contrário, Satanás, por seu turno, não hesita em favorecer êxitos inteiramente superficiais, caso possa, mediante desse resultado, impedir que o apóstolo progrida na vida interior, tanto sua raiva adivinha onde estão os verdadeiros tesouros aos olhos de Jesus Cristo. Para suprimir um diamante, de bom grado ele concede algumas safiras.

24 de novembro de 2019

Podemos ser Repelidos como Mendigos - Santa Teresinha

Os bens da terra renunciei-os por voto de pobreza. Não tenho, pois, direito de queixar-me, quando me tiram uma coisa que não me pertence. Devo, pelo contrário, alegrar-me quando me acontece sentir a pobreza. Dantes, parecia-me não fazer questão de nada, mas desde que compreendi as palavras de Jesus, vejo que, na prática, sou muito imperfeita. No ofício de pintura, por exemplo, nada me pertence, bem o sei. Mas, se no início do trabalho dou com pincéis e tintas em desordem; se desapareceu uma régua ou um canivete, quase perco a paciência e devo agarrar minha coragem com as duas mãos para não reclamar, com azedume, os objetos que me faltam.

22 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 3/4

"Eu amo a Jesus Cristo, dizia Santo Afonso de Ligório, e por isso mesmo abraso-me em desejos de lhe dar almas, primeiramente a minha, depois um número incalculável de outras'. É o cumprimento do tuus esto ubique de São Bernardo: "Não é sábio quem o não é consigo mesmo."
O santo abade de Claraval, verdadeiro fenômeno de zelo apostólico, seguia essa ordem. Godofredo, seu secretário, no-lo descreve: Totus primum sibi et sic totus omnibus.
Não vos digo, escreve esse mesmo santo ao Papa Eugênio III, que ponhais completamente de parte as ocupações seculares. Exorto-vos apenas a que não vos dediqueis inteiramente a elas. Se sois o homem de todos, sede-o também para vós mesmo. Do contrário, de que vos serviria ganhar os outros todos, se viésseis a perder vossa alma? Reservai, portanto, alguma coisa para vós mesmo e se todos vêm beber à vossa fonte, vós mesmo não vos priveis de beber nela. Pois só vós haveis de ficar com sede? Começai sempre por vos considerar a vós mesmo. Debalde vos consagraríeis a outros cuidados, se chegásseis a tratar a vós mesmo com negligência. Todas as vossas reflexões devem, portanto, começar por vós e terminar da mesma forma. Sede para vós o primeiro e o último, e lembrai-vos que, no negócio de vossa salvação, ninguém tem maior parentesco convosco do que o filho único de vossa mãe.
Bastante sugestiva a seguinte Nota de retiro do Monsenhor Dupanloup: " Tenho uma atividade terrível que me arruína a saúde, me perturba a piedade e de nada serve à minha ciência. Isto deve ser regulado. Fez-me Deus a graça de reconhecer que a atividade natural e o incitamento das ocupações são os principais obstáculos que vejo em mim para a conservação da vida interior tranquila e frutuosa. Reconheci também que esta falta de vida interior é a origem de todas as minhas faltas, perturbações, securas, repugnâncias, de minha saúde precária.
"Resolvi, portanto, dirigir todos os meus esforços para a aquisição dessa vida interior que me falta e, com esse fito, regulei, merce de Deus, os pontos seguintes:
1° -  Reservarei sempre algum tempo além de necessário para fazer qualquer coisa: este é o meio de nunca ter pressa nem aceleramento.
2° -  Como tenho sempre mais coisas a fazer do que tempo para as fazer, e como esta perspectiva me preocupa e me causa demasiada viveza, não mais hei de pensar nas coisas que tenho para fazer, e sim no tempo que devo consagrar-lhes. Hei de empregar esse tempo sem perder um minuto, começando pelas coisas mais importantes; e, se algumas não puder fazer, nem por isso me hei de inquietar, etc ..."