13 de novembro de 2019

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 3/3

Não tenhamos dúvida alguma, a principal razão de esperar a ressurreição da França e de numerosos outros países é que talvez em nenhuma outra época tenha havido o que de há alguns anos a esta parte se verifica, mesmo entre simples fiéis, a saber: uma porção de almas tão ardentemente desejosas de viver unidas ao Coração de Jesus e de dilatar o seu reinado, fazendo germinar em derredor delas a vida interior. Ínfima minoria, essas almas de escol? Talvez. Mas que importa o número, havendo a intensidade? A reconstrução da França após a Revolução, deve-se atribuir a essa plêiade de sacerdotes amadurecidos na vida interior pela perseguição. Por meio deles, uma corrente de vida divina veio reanimar uma geração que a apostasia e a indiferença pareciam ter votado a uma morte que nenhum esforço humano vingaria conjurar.
após cinquenta anos de liberdade de ensino em França, após esse meio século que viu a eclosão de obras inumeráveis e durante o qual nos passou pelas mãos a mocidade francesa e logramos, nós católicos, o apoio quase completo dos governantes, qual a razão por que, a despeito de resultados aparentemente gloriosos, não pudemos formar na nação maioria tão profundamente cristã que lutasse contra a coligação dos sectários de Satanás? Certo que o abandono da vida litúrgica e a cessação da sua irradiação sobre os fiéis contribuíram para esta impotência. A nossa espiritualidade tornou-se acanhada, árida, superficial, exterior, ou inteiramente sentimental, e não mais possui aquela penetração e aquele incitamento da alma que causa a liturgia, essa grande força de vitalidade cristã.
Mas não existirá também outra causa no fato de nós, padres, educadores, à míngua de vida interior intensiva, não termos podido gerar senão almas de uma piedade superficial, sem ideal poderoso e sem profundas convicções? professores, não temos sido nós mais zelosos em alcançar o êxito dos diplomas e o prestígio da obra do que em dar às almas uma solidíssima instrução religiosa? Não temos despendido as nossas forças sem visar sobretudo à formação das vontades, para gravar em caracteres de rija têmpera a imagem de Jesus Cristo? E essa mediocridade não terá tido tantas vezes por causa a banalidade da nossa vida interior?
A sacerdote santo, houve quem dissesse, corresponde povo fervoroso; a sacerdote fervoroso, povo piedoso; a sacerdote piedoso, povo honesto; a sacerdote honesto, povo ímpio. Sempre um grau de vida a menos naqueles que são gerados.
Seria talvez exagero admitir esta proposição; julgamos, porém, que as seguintes palavras de Santo Afonso exprimem suficientemente qual a causa a que se devem atribuir as responsabilidades de nossa atual situação:
" Os bons costumes e a salvação dos povos dependem dos bons pastores. Se à frente de uma paróquia estiver um bom pároco, depressa nela se verá a devoção florescente, os sacramentos frequentados, a oração mental praticada. Daí o provérbio: Qualis pastor talis paróchia, segundo esta palavra do Eclisiástico (10, 2): Qualis est rector civitatis, tales et inhabitantes in ea.

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