31 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 171

BELEZA DO CÉU

Quando o príncipe Humberto de Sabóia, em 1929, esteve na Somália, prometeu aos meninos negros que, um dia, lhes mostraria a casa do rei seu pai. E, realmente, alguns daqueles meninos foram com os missionários a Turim. O príncipe acolheu-os com muita bondade e mostrou-lhes, sala por sala, todo o palácio real. Os meninos ficaram extasiados e olhavam com seus grandes olhos arregalados aquela quantidade de luzes, espelhos, lampadários, quadros e objetos de ouro e prata. A certa altura um deles perguntou ao príncipe:
— No céu será tão belo assim?
— Oh! — respondeu o príncipe — será mais belo, muito mais belo! Olhem, esta é apenas, a casa de meu pai, que é um rei da tetra; mas o céu é a casa do próprio Deus, que é o Rei de todos os reis, de todo o mundo, de todo o céu e de toda a terra.

30 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XVII

Parte 9/9

Duas grandes e admiráveis pinturas históricas ornam a grande escadaria do Novo Museu de Berlim: obras primas de Kaulbach.
Uma destas pinturas representa a destruição de Jerusalém. Sob um aspecto terrificante, vemos a ruína do povo judeu, outrora eleito, mas que se afastou de Deus. O templo de Jerusalém esta em chamas, anjos tendo nas mãos espadas flamejantes indicando que executam um castigo divino. À direita, pode-se ver, à frente das legiões, Tito, o general romano vitorioso; à esquerda num plano atrás, os antigos chefes do povo judeu se retiram, com uma cólera impotente. No centro do quadro, no primeiro plano o Sumo Sacerdote que quer embeber sua espada no coração, mas sua esposa e seus filhos suplicam-no matá-los antes... O horror, o desespero, a ruína irremediável ressaltam de todo este quadro.
Mas o segundo quadro fala-nos todo, de outra coisa. Vemos aí uma família cristã. Ela se salva com dois animais, da cidade em ruínas; sobre um dos animais assenta-se a mãe com dois filhinhos apertados ao coração, e atrás, às suas costas, assenta-se um outro filho; mas sobre o outro animal não há senão crianças. Adiante, caminha uma outra criança, ou melhor um jovem, que canta um salmo, olhos levantados para o céu. Atrás deles, o pai que também parece cantar. Acima do grupo, pairam os anjos, anjos da fé, da esperança e da caridade, mas não têm espadas flamejantes em suas mãos ; a família em fuga leva com segurança, a força e entusiasmo, um cálice donde irradia o Santo Sacramento.
E para que a lição seja ainda mais completa, para que possamos de algum modo dizer que este quadro monumental foi feito para ilustrar nosso tema de pregação, apresenta-se ainda um outro episódio: três judeus esmagados sob o peso da justiça divina, crianças mal vestidas, e com gestos de súplica, lançam-se diante da família cristã que foge: levai-nos convosco, não nos deixeis perecer. E com olhar sorridente e amável, uma das crianças cristãs lhe faz sinal com a cabeça.
E é, pois, neste gesto amável da criança que repousa toda a nossa confiança. Pois quem não sentiria a significação para nós deste quadro? Quem não veria que, para a família que resiste às leis de Deus haverá a cólera do juízo de Deus? Quem não ouviria o fragor com que se desmoronam as muralhas, outrora tão sólidas do santuário familiar, e como se sepultam com elas todos os valores, as virtudes, a felicidade e a civilização que o homem criara na terra.
Se a humanidade quiser escapar ao juízo divino, não há senão um meio; antes de tudo, é preciso que as famílias cristãs se libertem dos sofismas, da frivolidade moral, das frases vãs e das águas lodosas, é preciso que elas retornem ao ideal familiar e que elas irradiem no mundo inteiro a força de uma elevação moral. 
Hoje, mais do que nunca, precisamos de famílias cristãs pois se existe ainda um meio de salvação para o mundo que cambaleia é a família cristã ideal que o fornecerá.
A família donde nascerão moças de alma pura e moços de olhos brilhantes como estrele.
A família donde se irradiarão o contentamento, a harmonia e felicidade.
A família que será a nova base, a célula e estrutura de uma vida humana melhor.
A família que rejuvenescerá e purificará a humanidade que se arrasta para a ruína.
Senhor, eis a nossa última prece: defendei, salvaguardai, fortificai e abençoai a família cristã. Amém. 


29 de agosto de 2016

Missa Tridentina - Padre Renato - IBP


Tesouro de Exemplos - Parte 170

COROA OU ESPADA

Carlos V, reí de França, mandou certa vez preparar, duas mesinhas no seu quarto. Sobre uma delas colocou o cetro e a coroa; e sobre a outra a sua espada. Chamando, depois, o filho, disse-lhe: “Escolhe o que te agradar”. O príncipe, sem hesitar, tomou logo a espada, dizendo ao pai: “Tomo a espada, porque a coroa eu a devo ganhar. Com a espada combaterei valorosamente, e assim merecerei cetro e coroa”.
Eis o que devem fazer os cristãos: combater valorosamente contra as tentações e suportar com paciência as dores desta vida. Só assim chegarão a conquistar a coroa do reino eterno, isto é, a eterna felicidade do céu.

28 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XVII



Parte 8/9


C - Mas quando se constata, dolorosamente, que dificilmente há um estado moderno, cuja legislação não seja, mais ou menos, contrária à instituição do casamento, sente-se o quanto se deve agradecer à Igreja Católica o ter sempre mantido e manter até hoje ainda o casamento cristão contra o divórcio.
a - Quantos, contudo, não lhe predisseram que isto seria sua perda! Sua perda, se ela continuasse a mostrar "um rigorismo atrasado" nesta questão e se ela não se tornasse "mais indulgente e tolerante" quanto a estas correntes modernas. Não. A Igreja Católica não pode ser tolerante, onde a indulgência seria correr para o abismo e para a ruína. Ela tem a santa obrigação de manter a família à altura do ideal onde o Criador a colocou desde a sua origem, e onde - após uma aberração milenária - Nosso Senhor Jesus Cristo, não só a colocou, mas ainda a pôs entre os sacramentos.
Não sabemos qual a sorte reservada ao Ocidente civilizado e à  Igreja de Cristo que aí se encontra. Mas é certo que a sorte da Europa depende do modo pelo qual ela conseguir edificar em si mesma, a nova civilização cristã, porque a antiga não mais existe, desapareceu. É certo que não se pode modificar esta nova civilização cristã enquanto não se conseguir elevar, às alturas do cristianismo, a sua base, a família cristã.
Não são somente os padres, mas também os fiéis que devem trabalhar, para edificar, consolidar, embelezar o corpo místico de Cristo. "Que não haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igualmente cuidado um dos outros", escreve São Paulo (1 Cor 12, 25). Só teremos, na Igreja, uma primavera de vida nova, quando não só os bispos e os padres, mas também todo o corpo e cada membro do corpo construam o templo de Deus. Se o casamento se torna cristão, se a família se cristianiza, se os pais e os filhos se cristianização, então a Igreja de Cristo, se rejuvenescerá, tornar-se-á cada vez mais bela.
b - Hoje o mundo cambaleia ao redor de nós, como um gigante ébrio. Quase acreditamos que o mal e a revolução sangrenta se preparam para inundar o  mundo, como novos rios de sangue no tempo de Noé. Mas, se assim for, e se realmente se chegar à destruição de tudo quanto o espírito humano criou de belo e grande durante os séculos, mesmo então entre o desencadear das vagas espumantes, a nova arca de Noé, a Igreja Católica, continuará a flutuar sã e salva, e levará com ela a segunda família de Noé que conseguiu salvar de novo a humanidade em ruínas: a família robusta, pura, ideal. Não serão as conferências que salvarão o mundo, nem as máquinas, nem as associações, nem os sindicatos, mas sim os pais e as mães. Os pais com seus braços robustos, e as mães com o seu coração ardente, os pais com o seu trabalho, e as mães com as suas mãos ativas, os pais e as mães: o ideal da família católica.
A humanidade, hoje, já vê, alarmada, que a família esta no declive, e que um perigo mortal ameaça todos os valores da civilização. Biologistas, políticos e pedagogos, procuram, tremendo, uma saída. Milhares de projetos e planos jorram da humanidade. Mas não há outros meios para tirar a família da crise, senão o retorno às leis divinas e naturais que foram abandonadas, o retorno ao ideal cristão do casamento. O penhor mais seguro de um novo milenário para a nossa nação, o melhor eugenismo, o racismo mais seguro, é a lei do evangelho: Salvai o santo ideal do matrimônio, e salvareis a Pátria.

27 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 169

A DEVOÇÃO DE UMA VARREDORA

Faz poucos anos — diz o Padre Fessart, jesuíta — eu pregava a Quaresma numa paróquia de Paris. Era um domingo. Pelo meio-dia, pouco antes da Missa, fui ao confessionário. Apresentou-se-me ali uma moça de aspecto simples e pobre. Desejoso de melhor ajudar a alma que Deus me enviava, perguntei-lhe pela sua condição.
— Padre, respondeu-me, de manhã estou no emprego de varrer rua e, depois do meio-dia, ganho um dinheirinho consertando roupas velhas.
E começou a sua confissão.
Foi-me dado penetrar no santuário de uma alma muito humilde e muito pura, que se julgava à luz d’Aquele que descobre manchas até nos Anjos.
Profundamente comovido ao considerar o que Deus devia ter feito naquela alma privilegiada, e pensando nos perigos que a cercavam, perguntei-lhe:
— Minha filha, como vos conservais fiel a Deus, achando-vos continuamente no meio de gente sem fé e sem lei, que tem no coração ódio e nos lábios blasfêmias contra Deus?
— Padre, eu comungo todos os domingos...
— Mas o que vedes e ouvis no meio daqueles varredores de rua não faz alguma impressão em vós, em vossa alma?
E sempre com a mesma simplicidade aquela seráfica menina me respondeu:
— Padre, eu não vejo nada; vivo no meu coração e nele só há lugar para a minha Comunhão. Jesus veio esta manhã, Jesus virá domingo próximo; este é o meu único pensamento, e o domingo me absorve.
— Comungaste esta manhã?
— Ainda não, Padre; ganho muito pouco, apenas o necessário para o sustento de minha pobre mãe doente, tanto que sou constrangida a varrer também nos domingos; mas largo da vassoura às 11 horas e assim posso, depois de confessar-me, fazer a Comunhão na Missa do meio-dia...

26 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XVII


Parte 7/9


B - É impossível não se ver, após um exame profundo de todas essas coisas, quão funesta foi para a humanidade a instituição do divórcio contra a vontade de Deus. Foi um flagelo que minou e abalou a moralidade pública, arruinou suas bases, e na questão mais importante abriu de par em par as portas às paixões humanas, aos prazeres, e aos caprichos humanos contra as leis de Deus. Mas a vantagem da comunidade humana esta acima dos interesses e vantagens particulares; por causa de interesses particulares; não se podem enfraquecer os princípios que servem os interesses de toda a comunidade. Atenuando-os como fizera a humanidade permitindo o divórcio, abre-se diante de si um abismo do qual não se pode sair.
Não constatamos desde já o terrível e continuo aumento dos divórcios? Outrora era apenas em casos muito graves que se pensava em divórcios: aos poucos o número de causas do divórcio aumentou cada vez mais, ao ponto que hoje se quer suprimir a própria instituição do casamento. Em suma, não se deve admirar disto. É simplesmente a lógica que levou o homem até lá: Quando se deixa rasgar o vestido, ninguém mais pode usá-lo.
Mas sabemos que entre as paredes do santuário familiar cresce e se desenvolve o futuro da nação. Sabemos bem que o mais belo programa social permanece em palavrório vazio, se o primeiro cuidado não for com a família. Sabemos bem que o que é mais necessário ao país em nossos dias é reforçar a família, e garantir a sua felicidade e sua harmonia. Ao contrário, a decadência da família significa sempre uma perda de valores morais irreparáveis, e o povo, entre o qual se decompôs, terminou seu papel na história.

25 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 168

OS BILHETES DE PÁSCOA

Um dia, pouco antes da Páscoa, um pregador de Quaresma fez uma prática especial aos homens da paróquia e disse-lhes entre outras coisas o seguinte:
— Meus caros homens, atenção! O que vou contar-vos não aconteceu propriamente no céu, mas é uma pequena lenda muito instrutiva.
Um homem, logo depois de falecer, foi bater à porta do céu. Queria entrar. S. Pedro, o chaveiro fiel, pediu-lhe os papéis. O pobrezinho apresentou-lhe o atestado de terceiro ano elementar; e S. Pedro lho devolveu dizendo que aquilo não tinha valor no céu. O pobre homem tirou do bolso a carteira de reservista; S. Pedro examinou-a e disse: Isto vale para o teu país, mas para o Rei do céu não vale.
Puxou o homem o passaporte para o estrangeiro.
— Não serve para nada, explicou o Apóstolo. Apresentou-lhe os recibos do imposto, a caderneta da Caixa
Econômica, alguns bilhetes de Banco... mas nada tinha valor para S. Pedro.
— Então, que papéis quereis? — perguntou o homem.
— Bilhetes de Páscoa, respondeu S. Pedro; tens 60 anos e, portanto, deves ter uns 50 bilhetes desses que os vigários costumam dar aos paroquianos que fazem a Páscoa. Sem esses bilhetes não se entra no céu...
Meus caros — acrescentou o pregador — provei-vos de tais bilhetes; eles são o passaporte para o céu. Quem não faz a Páscoa não entra no Paraíso.

24 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XVII


III - QUAIS SÃO OS INTERESSES INERENTES AO REFORÇO DA FAMÍLIA?


Parte 6/9

Quantas opiniões não circulam hoje a respeito da reforma do casamento. No entanto vimo-lo claramente, não há senão um caminho a seguir para esta reforma: recolocar o casamento inteiramente sobre a base de Cristo, salvar a sua indissolubilidade e sua pureza; é disto que depende o futuro da humanidade.
A - Se o Estado não pode passar sem a família, não é menos verdade que o Estado é incapaz, por suas próprias forças, de criar estas bases morais que garantem a força da família. 
a - Não há, com efeito um só Estado no mundo, que veja com alegria a decomposição do casamento de seus súditos. Cada um sabe, pela experiência, quais as consequências do divórcio para os interesses bem compreendidos da nação. Cada Estado gostaria, em seu território, que os santuários da família fossem sólidos... Verificou-se, porém, que sem o auxílio da religião, aos maiores esforços, sucederá o que sucedeu a semelhantes esforços do imperador Augusto.
b - Na época de Augusto, entre os romanos, o número de divórcios elevou-se muito. Ele promulgou, pois,  sobre esta questão duas leis severas: 
Um no ano quarto, a "Lex Iulia", outra no ano nono, a "Lex Papia". Por essas leis instituía ele prêmios para os casamentos, e de outra parte apenas contra os que não se casavam, ou casando-se, não tinham filhos.
E qual o resultado? Nulo. De nada serviu tudo isto. Por que? A história nos responde: O próprio Augusto, que trouxera essas leis severas, era divorciado, dando assim o testemunho berrante de que as leis civis são insuficientes por si mesmas, quando para o seu êxito há necessidade de apelar para a consciência dos cidadãos.
Compreende-se, agora, que trabalho abençoado realizou o cristianismo, elevando o matrimônio à dignidade de sacramento. Na árvore da redenção o primeiro fruto foi a criação do ideal cristão do casamento; e foi este um fato histórico pelo qual o cristianismo sobre as ruínas do mundo antigo lançou as bases do desenvolvimento da civilização cristã.

23 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 167

SAROU PARA SUA RUÍNA

Uma mãe queria bem demais a um filhinho. Ora, aconteceu que o menino adoeceu gravemente e a mãe, quase desesperada, não cessava de pedir, a Deus que o curasse. Parecendo-lhe que suas orações não eram ouvidas, procurou o pároco para desabafar-se.
O pároco deu-lhe o conselho de rezar, pedindo que se fizesse a vontade de Deus; pois, se a cura não fosse da vontade de Deus, ela deveria conformar-se. A mãe, porém, não aceitou esse conselho e gritava como desesperada: “Não, não, não deve morrer! deve sarar como eu quero”.
E o filho sarou, mas levou uma vida péssima, vindo a morrer na forca, castigo de seus crimes.
Que felicidade para ele, se tivesse morrido daquela enfermidade, quando ainda era inocente.
É, pois, melhor fazer nossa oração, confiando na providência divina, que conhece o nosso futuro e faz tudo para o nosso bem.

22 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XVII


Parte 5/9


B - Mas, dirão alguns, é razoável que a Igreja, hoje, ainda faça brilhar esta imagem ideal do casamento quando deveria Ela ver bem quanto a realidade é muito outra? Quando deveria ver a que distancia medonha do ideal da Igreja está a fria realidade ? 
a - De fato ninguém sofre mais que a Igreja de Cristo o grande abismo que se estende, no domínio do casamento, entre o ideal cristão e a triste realidade. E não se pode sequer tirar um iota a este ideal cristão. Pois há valores e consequências absolutas, a propósito das quais não se pode nem resgatar, nem tergiversar, mesmo que ninguém os observe no mundo inteiro.
Vou repetir uma comparação tantas vezes citada. suponhamos que por uma causa qualquer todos os pêndulos do mundo se desconcertem, e andem mal, ter-se-ia por isso o direito de retificar o sol, e colocar sua marcha de acordo com a dos pêndulos? Não seria, porventura, mais necessário, nesta circunstâncias, ter o sol como ponto de mira, a fim de que haja ao menos um ponto seguro, pelo qual se regulariam os pêndulos, se um dia eles caminhassem novamente?
Depois do pecado do primeiro homem o ideal nunca existiu na terra, a realidade sempre esteve longe do ideal. Mas enquanto viver e brilhar acima de nós a imagem do ideal a vida será mais suportável. Cairá ela, porém, na ruína definitiva e se tornará intolerável, se o perdermos.
b - Compreendemos, agora, por que a Igreja Católica novamente luta de modo sobre-humano em favor do ideal cristão que se realiza perfeitamente na indissolubilidade do casamento. Compreendemos por que ela considera como pupila dos olhos a pureza da vida conjugal, que ela guarda, defende, e fortifica com uma solicitude toda particular. Eis por que na família ela defende a fonte secreta, onde se renova constantemente a raça humana, e de onde surgem sem cessar novos membros para o corpo místico de Cristo. Se a família desaparecesse da terra, que terrível queda aniquilaria a sua lembrança, se a Igreja de Cristo não se pusesse ao lado dela com suas palavras diretrizes, seu amor cheio de solicitude, e muitas vezes também com seu braço vingativo e ameaçador.
Não há talvez questão que mais tenha atraído ataques à Igreja, do que a do casamento, por causa de sua atitude intransigente. Por causa desta atitude, muitos deles se afastaram da Igreja loucamente, ou de modo revoltante. Tempo virá em que toda a humanidade será reconhecida à Igreja, por ter mantido, com uma coragem inabalável, a indissolubilidade e unidade do casamento. Porque se é a verdade que a civilização é o resultado da vida familiar, e que se pode saudar a família como o último degrau da civilização, então se vê claramente o quanto ela deve ao cristianismo pelo que ele fez e faz ainda em defesa da família.
Não seria compreensível que na crise atual da família a nossa legislação civil adotasse as diretrizes de nossa Igreja milenária, que tem tanto valor a respeito da célula fundamental da vida social, para a consolidação da vida familiar do que qualquer outra questão?

21 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 166

FUGIR DAS MÁS COMPANHIAS

Um juiz inglês, de nome Holt, homem distintíssimo no seu oficio, quando jovem se ajuntara a alguns amigos libertinos, que, sem escrúpulo, profanavam os dias santos, jogando, embriagando-se e cometendo toda sorte de desordens.
Holt teve, porém, a felicidade de desligar-se a tempo daquela companhia e, entregando-se seriamente aos estudos, fez ótima carreira.
Ora, aconteceu que, sendo juiz, um dia apresentaram ao seu tribunal um miserável que ele teve de condenar à pena de morte: era um dos seus velhos amigos. A vista daquele homem desfigurado, magro maltrapilho, fez sobre o juiz uma profunda impressão. Movido de compaixão e curiosidade, perguntou ao réu que era feito dos outros amigos de outrora.
— Oh! respondeu o condenado: fora de mim e do senhor, todos já morreram de morte violenta em mãos do algoz ou do sicário.
Ao ouvir essas palavras, o juiz lançou um profundo suspiro e agradeceu a Deus por havê-lo afastado daquela companhia. Atribuía o triste fim de seus amigos companheiros principalmente à profanação do dia do Senhor.

20 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XVII


II - NÃO SE TEM O DIREITO DE 'REFORMAR' O CASAMENTO


Parte 4/9

"A reforma do casamento". Será necessário e permitido "reformar" o casamento?
Os espíritos superficiais poderiam facilmente responder com um "Sim" a esta questão. Pois, como dizem eles, se tudo evolui ao redor de nós se vivemos em condições de vida e condições econômicas inteiramente diferentes das de outrora, é preciso também adaptar o casamento a esta nova "situação". Tal é o raciocínio de muitos de nossos contemporâneos. Que lhes responderemos?
A - Em primeiro lugar, ninguém quer negar o progresso imenso que a humanidade realizou no decurso último século, no domínio da ciência e da técnica.
a - Realmente as descobertas extraordinárias sucederam-se no último século. A técnica colocou ao nosso serviço métodos e forças sempre mais novas, tornando a vida humana mais fácil, mais bela, mais salubre e mais longa. Não é para admirar que estas invenções tenham transformado inteiramente não só o aspecto da terra, mas, também, as ideias da humanidade fascinada, ensoberbecida e conquistada por elas, ela acredita que não há mais segredos.
Contudo, ainda há. Há, hoje ainda, uma multidão de mistérios ao redor de nós, e entre estes mistérios levanta-se sempre diante de nós como de sob um véu o maior de todos os mistérios: o mistério da vida. A ciência e a técnica humana são capazes de uma multidão de coisas, e contudo permanecem impotentes ante o mistério da vida; hoje ainda não se chegou e certamente não se chegara a criar a vida, mesmo sob a forma mais elementar.
b - O foco da vida humana permanece, pois, ao abrigo das grandes transformações exteriores atuais, permanece aquilo que era: a família. Não é permitido tocar com mãos ineptas esta fonte de vida.
A vida familiar deve permanecer até o fim a fonte em que a humanidade de quando em vez se rejuvenesce. A família deve ser até o fim a porta pela qual entra para a vida a nova geração humana, a fim de tomar o lugar vazio deixado por aquela que desceu ao túmulo. A família deve ser até o fim o santuário onde brotam as mais belas virtudes: amor, devotamento e ardor ao trabalho. A família deve ser até o fim a célula sobre a qual esta edificada a humanidade, a coluna sobre a qual se eleva a civilização.
não é, pois, necessário "reformar" o matrimônio, no sentido da opinião originada da sede atual de prazeres: "o casamento de camaradagem", o "casamento de weekend", e não sei que outros termos. Não, não há necessidade. É preciso, porém, salvar, fortificar, restaurar o "velho casamento" que foi a base de todo o desenvolvimento de nossa civilização, e que a Igreja de Cristo não cessará nunca de defender, salvaguardar e exigir.

19 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 165

CASOS QUE OBRIGAM A PENSAR

Um dos muitos casos que fazem pensar seriamente é o seguinte: Em Roma, a 7 de setembro de 1872, um engenheiro, inspecionando os trabalhos dos operários que construíam o edifício destinado ao Ministério de Industria e Comércio, começou a dar ordens a serem executadas no dia seguinte. Observaram-lhe que o dia seguinte era festa de Nossa Senhora e que os trabalhadores iriam guardar aquele dia festivo. Ouvindo isso, o engenheiro gritou: “Que Nossa Senhora que nada! amanhá se deve trabalhar, e quem não quiser vir trabalhar desde já está despedido”.
Subiu, depois, a um andaime e repetia com maior furor a alguns operários as mesmas invectivas. Apenas acaba de falar, eis que, pisando em falso, precipita-se do andaime abaixo, sofrendo graves ferimentos, em conseqüência dos quais ali mesmo expirou.

18 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth,

Conferência XVII


Parte 3/9

B - Mas veio Cristo, o Filho de Deus. Veio não só para resgatar o homem do pecado, mas também, para restituir ao matrimônio a sua forma primitiva que Deus lhe dera, a princípio no paraíso terrestre, e elevar mesmo à dignidade de sacramento a união conjugal. Também ele o proclamou formalmente: "Que o homem não separe o que Deus uniu" (Mc 10, 9).
Ensinou também que a união e a fidelidade conjugal deviam ser absolutas e sem reservas, de modo que não se pode tocá-la nem sequer em pensamento: "Eu vos digo que quem olhar uma mulher cobiçando-a já pecou com ela em seu coração" (Mt 5, 28).
Eis o ideal do casamento para todos que querem ser verdadeiros discípulos de Cristo.
Mas o que Cristo proclamou e exigiu tão categoricamente, alguém teria um momento qualquer o direito de querer "reformá-lo"?
C - Devemos, pois, confessar abertamente esta verdade, que não foi o homem quem inventou o casamento, mas sim que ele foi estabelecido pelo Criador da natureza humana, Deus. Devemos confessar que no casamento, já em épocas anteriores ao cristianismo, havia traços sobrenaturais: sua instituição divina; mas que o casamento cristão tornou-se alguma coisa mais: um sacramento.
Mas, se é assim, se o casamento é por sua natureza uma "res sacra', uma "coisa santa", se o próprio casamento cristão é um "sacramentum", um "sacramento", é claro que o homem não pode mudar suas leis fundamentais; é claro que sua essência não depende da vontade do homem, e que o homem na questão do matrimônio não pode reivindicar para si mesmo autonomia, "poder legislativo".
Mas, após isto, é claro que o caos atual e a funesta situação atual que justamente reinam nesta questão tem por causa os ataques audaciosos das paixões humanas contra as leis eternas do casamento e a extirpação de suas raízes vivificantes. Extirpação que consiste em arrancá-los do solo divino, e querer "reformar" o casamento segundo as exigências da natureza humana sensual.

17 de agosto de 2016

V Congresso São Pio V

Prezados Amigos, Salve Maria!

Entre os dias 29 e 31 de Julho de 2016,  realizamos o V Congresso São Pio V. O congresso foi realizado pela Associação Civil São Pio V e pelo Instituto Bom Pastor, com apoio da Associação da Vila Militar. O evento favoreceu aos fiéis católicos com palestras de alto teor doutrinário e espiritual, com Ofícios Litúrgicos (Missas, Confissões, Vésperas, Completas, Orações do Santo Terço, entre outros), bençãos neo-sacerdotais dos Padres José Zucchi e Padre Thiago Bonifácio, benção solene com a Relíquia do Véu de Nossa Senhora, atividades de catequese para crianças, congraçamento dos participantes do congresso, oriundos de diversas localidades do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, entre outros estados e um movimentado coffee break.
Agradecemos encarecidamente à Associação da Vila Militar, por ceder graciosamente suas instalações para a realização das palestras e catequese, possibilitando oferecer conforto e tranquilidade a todos os assistentes do evento em questão.
Ficamos gratos aos Padres, Diáconos e Seminaristas do Instituto Bom Pastor pelo zelo e esforço empreendidos para o sucesso alcançado pelo V Congresso São Pio V.
Agradecemos a todos os integrantes da Associação Civil São Pio V, que ofereceram o seu tempo e recursos para promover, organizar, auxiliar e participar de forma ativa na realização do congresso.
Congratulamos a todos que participaram, divulgaram, rezaram e financiaram a realização do Congresso, pois sem os mesmos não haveria sentido na realização do mesmo. Aproveitamos também para pedir desculpas por eventuais atrasos, problemas técnicos, entre outros, mas acreditamos que para o próximo ano os mesmos devem ser minimizados.
Agradecemos ao Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, que nos cumula de graças diariamente para manter a nossa fé e intenção reta para alcançar o fim último que é a Salvação Eterna, Nossa Querida Mãe sob o título de Nossa Senhora Aparecida que nos protege das insídias do demônio que tenta destruir todas as obras oferecidas à Deus, nosso Padroeiro São Pio V e todos os Santos e Anjos do Céu, pois tudo o que fazemos tem um único propósito, que sejam agradáveis à Deus.

Um grande abraço em Cristo Nosso Senhor

Associação Civil São Pio V

A seguir, vamos apresentar em imagens, tudo o que aconteceu em nosso V Congresso São Pio V, principalmente para os amigos que estiveram impossibilitados de participar do mesmo.

Sexta-Feira - 29 de Julho 2016
Capela da PMPR
Missa Cantada - Padre Pedro Gubitoso - IBP

Tesouro de Exemplos - Parte 164

SOB AS RODAS

O escritor Wetzel conta o seguinte episódio por ele presenciado. Um domingo, em Rorschach, um camponês conduzia um pesado carro por um caminho pelo qual, naquela hora, grande multidão se dirigia à igreja. A certa altura um velho gritou ao condutor:
Para, para! Colocaste-o sob as rodas!
O condutor parou imediatamente, olhou e não vendo nada, perguntou:
— Afinal, que é que eu coloquei sob as rodas?
— O terceiro Mandamento de Deus! — respondeu o velho — E, cuidado que não fiques também debaixo das rodas!
Estas palavras foram como que proféticas. Num passeio, que o camponês fez pouco depois, os cavalos espantaram-se e ele caiu sob as rodas. Esmagado horrivelmente, foi levado para casa, vindo a falecer pouco depois.
Antes de expirar, lembrando-se das palavras do velho e querendo reparar seu erro, chamou os filhos para junto do leito e exortou-os a não transgredirem jamais o descanso dominical e a santificação das festas.

16 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XVII


O IDEAL CRISTÃO DO CASAMENTO


Parte 2/9

A - Nas primeiras instruções dessas séries vimos que já o primeiro matrimônio fora mais que uma união puramente natural do primeiro homem com a primeira mulher. Pois lemos, nas primeiras páginas das Sagradas Escrituras, que a santa vontade do Criador arrancou essas relações naturais fora do quadro da natureza pura, e colocou-as em uma altura sobrenatural. É o que proclamam todas as primeiras páginas da Bíblia. Deus criou-os "macho e fêmea". É Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, e multiplicai-vos e enchei a terra e submetei-a (Gn 1, 27-28).
Não se podem ler essas linhas sem emoção. Quando Deus muniu de uma força e de uma missão criadora, o primeiro homem e a primeira mulher, "Ele os abençoou". Está, pois, perfeitamente claro, que Ele não só fez descer uma bênção especial sobre o primeiro casamento, como também, pela vontade divina, este casamento foi de um só homem com uma só mulher.
O primeiro casamento na sua forma primitiva, foi certamente um casamento monogâmico. Foi após o pecado original que o homem se afastou da vontade divina, que nele a matéria superou a alma, e que a dolorosa aberração da poligamia e da poliandria apareceu nos caminhos da história.

15 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 163

PENSAR NA ALMA ANTES QUE NO CORPO

O general Luís Zanchi, o primeiro general que mereceu uma medalha de prata pelo valor militar, e que tomou parte em 39 combates durante a primeira grande guerra, morrendo, vítima do dever, deixou este nobilíssimo testamento: “Ordeno que, no meu enterro, não me ofereçam flores: pensem na minha alma, mais do que no meu corpo; faça-se, pois, um funeral modesto; mas, enquanto meu corpo estiver ainda em casa e durante o trajeto ao cemitério, sejam celebradas Missas em meu sufrágio”.
Sirva este exemplo às famílias que tão pouco pensam nas almas de seus caros defuntos, e menos ainda na própria. Infelizmente muitos julgam ter cumprido seu último dever de piedade acompanhando seus falecidos com numerosas e ricas coroas de flores.

14 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 162

O SENHOR RENEGOU À DEUS

Em 1862, a menina Dan, chinesa, embora açoitada até derramar sangue, não quis saber de renegar a sua fé cristã. Seu pai, que havia apostatado, e se achava ali perto, esforçou-se por persuadi-la a apostatar, também. A menina, verdadeira heroína, disse: “O senhor renegou a Deus! eu não o reconheço mais por meu pai! Saia daqui! Deus tenha compaixão do senhor!” Sempre flagelada, morreu no cárcere após indizíveis sofrimentos e dores. Permaneceu, porém, fiel a Deus e conquistou a palma do martírio.

13 de agosto de 2016

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios - 2

INTRODUÇÃO

CONSENTINDO na publicação das conferências reunidas no Volume "LE CHRIST VIE DE L'AME", o autor apenas tinha em vista expor, segundo e Evangelho, as Epístolas de S. Paulo e as conclusões da doutrina teológica, os caracteres fundamentais da vida cristã. Esta é essencialmente sobrenatural e só pode encontrar-se em Jesus Cristo, modelo único da perfeição, tesouro infinito de graças e causa eficiente de toda a santidade.

As conferências de que se compõe o presente volume são, pois, uma continuação lógica das do precedente.

A vida de Jesus Cristo, exemplar divino mas acessível da "Vida cristã, manifesta-se aos nossos olhos pelos estados e mistérios, pelas virtudes e atos da Sua santa Humanidade. Humana na expressão exterior, a vida do Verbo encarnado é toda divina na sua origem.

Por isso, os mistérios do Homem-Deus não são apenas modelos que devemos considerar; encerram também em si mesmos tesouros de merecimento e de graça. Pela Sua virtude omnipotente, Jesus Cristo, sempre vivo, produz a perfeição interior e sobrenatural dos Seus diversos estados naqueles que são animados do desejo sincero de O imitar e de se pôr em contacto com Ele, pela fé e pelo amor.

Foi à luz destas verdades que o autor expôs os principais mistérios de Jesus.

O plano é simples.

As duas conferências preliminares mostram como os mistérios de Jesus Cristo são também os nossos, e como, de modo geral podemos assimilar os seus frutos.

Não compreenderemos bem o valor transcendente destes mistérios, seu esplendor admirável sua conexão lógica, união profunda que os liga, se não considerarmos primeiro Aquele que por nós os viveu. Por isso, na primeira parte, procuramos delinear os traços essenciais da própria pessoa de Jesus, Verbo eterno feito carne, que veio a resgatar o mundo pelo Seu Sacrifício.

A segunda parte é consagrada à contemplação dos misté­rios do Homem-Deus. Com o auxilio dos dados do Evangelho e dos textos litúrgicos, o autor procurou determinar a realidade humano-digna desses mistérios, descohrir o seu significado e indicar as aplicações que deles se podem fazer à alma fiel. Quanto à seleção desses mistérios, pensamos que nada poderia haver de melhor do que escolher aqueles que a Igreja nos propõe no ciclo litúrgico. Com efeito, quem melhor do que ela poderá conhecer os segredos do Esposo? Quem com mais perícia poderá ministrar-nos as lições evangélicas? Quem melhor do que ela sabe guiar-nos para o Salvador?

O acolhimento deveras benévolo com que foi recebido "LE CHRIST VIE DE L'ÂME" sobretudo pelos leigos, não foi apenas para o estímulo: foi também um sintoma dos mais reconfortantes, no meio das tristezas e preocupações duma época particularmente agitada como a nossa. Isto mostra que, sob a pressão dos tristes acontecimentos que agitaram a Europa e o mundo, muitas almas, dóceis à voz de Deus, entraram dentro de si e, sedentas de salvação, de paz e de luz, se voltaram para Aquele que é o caminho infalível, a verdade que ilumina todo o homem que vem a este mundo, a vida que salva da morte eterna.

É n'Ele que, como diz S. Paulo, é preciso "restaurar todas as coisas" : Omnia instaurare in Christo. Porque, segundo o pensamento do mesmo Apóstolo, fora deste fundamento divino não há estabilidade nem duração. A única ambição do autor, ao consentir na publicação destas conferências, é contribuir, pouco que seja, para a grande obra da restauração cristã.

Que Nosso Senhor se digne abençoar estas páginas, que escrevemos para honra d'Ele, e que só d'Ele se ocupam. Oxalá elas possam revelar melhor às almas os segredos do amor dum Deus que desceu até nós. Praza a Deus que elas possam leva-las a procurar dessedentar-se com mais freqüência nas fontes de água viva que jorram do Coração trespassado de Jesus, para nossa salvação e para nosso conforto: Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris.

Festa da Anunciação, 25 de março de 1919.


                                                                             D. COLUMBA MARMION.

12 de agosto de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XVII

O CASAMENTO CRISTÃO

Parte 1/9

Nesta introdução, com a qual terminarei esta série de instruções sobre a família cristã, quereria realizar uma tríplice tarefa.
I - Primeiramente desejava resumir brevemente as ideias expressas nas primeiras instruções sobre o ideal cristão do casamento: sobre a união indissolúvel, até a morte, de um só homem e de uma só mulher, como a Igreja Católica, conforme o mandamento muito claro de Nosso Senhor Jesus Cristo, sempre compreendeu e compreende ainda hoje o casamento.
II - Em seguida mostrarei novamente a cegueira daqueles que com belas palavras querem "reformar" o casamento.
III - Não é de uma reforma do casamento que o mundo tem necessidade. É o que veremos na terceira parte de nosso resumo. Nem de novas espécies de casamento. Mas, ao contrário, os imensos interesses nacionais e religiosos pedem reforçarmos a antiga vida de família, o retorno à sua pureza e ao seu ideal primitivo; ao casamento cristão casto e indissolúvel.

11 de agosto de 2016

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo em seus Mistérios - 1

DOM COLUMBA MARMION


JESUS CRISTO EM SEUS MISTÉRIOS


CONFERENCIAS ESPIRITUAIS


TERCEIRA  EDIÇÃO PORTUGUESA
PELOS MONGES DE SINGEVERGA

EDIÇÕES  ORA & LABORA,
MOSTEIRO DE SINGEVERGA 1958


NIHIL OBSTAT
Singeverga, die 29  Septcmbris 1958
D. Thomas Gonçalinho, O. S. B.
Cens. deput.

IMPRIMI POTEST
Singeverga. die  29  Septembris 1958
+ Gabriel Ab.  Singeverga.

PODE IMPRIMIR-SE
Porto. 15 de Novembro de 1958.
M. Pereira  Lopes, Vig. Gcr.

AO
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
EM QUEM RESIDE
TODA A  PLENITUDE  DA DIVINDADE
EM QUEM ESTÃO ENCERRADOS
TODOS OS TESOUROS DE SABEDORIA
E DE  CIÊCIA
QUE SE TORNARAM PARA NÓS
FONTE  DE VIDA E DE SANTlDADE


AO NOSSO CARÍSSIMO  FILHO COLUMBA MARMION, ABADE DE MAREDSOUS
BENTO  XV,  PAPA
CARÍSSIMO FILHO,  SAÚDE E BENÇÃO APOSTÓLICA

Tendo folheado  pessoalmente nestes últimos dias, conforme No-lo pcrmitiram as Nossas ocupações, os vossos dois livros que tão atenciosamente Nos tínheis oferecido, e dos quais um se intitula  "LE CHRIST VIE  DE  L'ÂME"  e o outro "LE CHRIST DANS SES MYSTÈRES", facilmente verificamos serem justíssimos os louvores a eles tecidos, como próprios para excitar e alimentar nas almas a chama do amor divino.

Embora neles se não ache exposto tudo o que tendes explicado a vossos filhos espirituais nas vossas conferências sobre Jesus Cristo, exemplar e autor de toda a santidade, todavia logo se vê que oportunamente fomentam o zelo em imitar e em viver d'Aquele que "por Deus foi feito para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção".

Foi pois ótima idéia dar à publicidade estes volumes, para que não só os vossos filhos espirituais mas muitos outros se aproveitassem deles na prática de todas as virtudes; e, segundo ouvimos dizer, andam já largamente nas mãos de numerosos leigos. Por tudo isso, não só vos damos graças, como também vos felicitamos; e benévola e  paternalmente vos concedemos, caríssimo filho, a Bênção Apostólica, como auspício das graças celestes sobre vós.

Dado em Roma junto a S. Pedro, no dia  10 de Outu­bro de  1919,  ano sexto do Nosso Pontificado.

BENTO XV,  PAPA.

Tesouro de Exemplos - Parte 161

HEROÍSMO DE S. CRISTINA

S. Cristina, menina de doze anos apenas, foi tentada e atormentada por Urbano, prefeito da cidade. Os seus tormentos foram: açoites, cavalete, unhas de ferro e brasas ardentes; amarrada a uma grande pedra, foi lançada numa fogueira, da qual um anjo a salvou; foi metida num forno ardente, onde ficou fechada durante cinco dias, mas o fogo não lhe fez mal algum. Finalmente, amarrada a uma estaca, recebeu inúmeras flechadas: foi, então, que a sua alma, como uma branca pomba, voou para o céu.
Os mártires, mesmo em tenra idade, assistidos por Deus nos seus tormentos, preferiram a morte ao pecado, o céu à terra, a salvação à vida.

10 de agosto de 2016

Sermão para o 11º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP


[Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 10: O Cânon Romano II – Te igitur e Memento vivorum



Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
 Ave Maria…
Caros católicos, continuamos hoje a tratar do significado espiritual das cerimônias da Santa Missa no Rito Romano Tradicional. Na última oportunidade, fizemos um comentário geral sobre o Canon Romano, a única oração eucarística na Missa Tradicional. O Canon Romano que, nas palavras do Concílio de Trento, é tão “puro de todo o erro, que nele não há nada que não exale a suma santidade e piedade, não há nada que não eleve a Deus as almas dos que o oferecem. O Cânon Romano que se compõe das palavras do próprio Senhor, das tradições dos Apóstolos e das piedosas instituições dos Sumos Pontífices. ” Vimos como o Canon Romano é uma fortaleza inviolável contra todo erro e toda heresia.
Começamos, hoje, a considerar cada oração do Canon Romano em particular. A primeira delas é o Te igitur. E a primeira letra dessa oração, quer dizer, a primeira letra do Canon Romano, é um T, que é uma das formas da cruz. Já a primeira letra do Canon nos indica, então, aquilo que ocorrerá durante a sua recitação pelo padre: a renovação do sacrifício da Cruz. Esse T do Te igitur foi sendo ornado, como cruz, nos Missais, até que, com o tempo, se começou a colocar Nosso Senhor Crucificado na página ao lado do início do Canon.
igitur significa a continuidade do Canon com o prefácio e o ofertório que lhe antecederam. No Te igitur nós pedimos e rogamos, suplicantes, para que Deus aceite o sacrifício que lhe será oferecido. Para exprimir a nossa humilhação diante de Deus e a nossa súplica, o padre, antes de pronunciar as palavras, faz gestos de súplica. Primeiro, eleva as mãos e os olhos, para dirigir-se a Deus, confiado na clemência divina. Depois, juntando as mãos apoiadas sobre o altar, inclina-se profundamente. Apoia-se no altar porque o altar representa Nosso Senhor Jesus Cristo. Somente apoiados em Cristo é que ousamos pedir algo a Deus. Profundamente inclinado, mostrando a nossa miséria diante de Deus, o padre começa a oração. Essa inclinação mostra também a humildade de Nosso Senhor no momento de seu sacrifício e as suas quedas durante o caminho da cruz. O Padre dirige-se a Deus chamando-o de clementíssimo, pois confia na misericórdia divina e sabe que Deus não usa de todo o rigor da sua justiça. A clemência é a virtude que tempera o rigor do castigo. O sacerdote dirige-se a Deus clementíssimo por meio de Jesus Cristo, o perfeito intermediário, pois é Filho de Deus e Senhor nosso. É pelo nome de Jesus que conseguimos todas as graças. É por Cristo que, suplicantes, ousamos rogar e pedir a Deus que aceite e abençoe esses dons, essas dádivas e esse santo sacrifício sem mancha. Rogar e pedir parecem ser sinônimos, mas, na verdade, não são. Rogamos quando não temos direito algum de exigir aquilo que desejamos. Pedimos quando temos o direito de sermos atendidos. Nessa oração, na Missa de um modo geral e mesmo na vida, não temos, por nós mesmos, direito algum de obter de Deus o que desejamos. Podemos apenas rogar. Todavia, unidos a Jesus Cristo e em nome dEle, podemos pedir. O sacerdote, aqui no Te Igitur, não só roga, mas ousa pedir, porque o faz em nome de Jesus Cristo e porque participa do sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Padre, oscula (ósculo é o beijo litúrgico) o altar, ergue-se e, com as mãos estendidas, pede que Deus aceite e abençoe estes dons, estes presentes, e esse sacrifício. Dons e presentes podem também parecer sinônimos, mas os termos latinos empregados têm uma nuance importantíssima: donna, os dons, é aquilo que o superior dá ao inferior.Munera, presentes, é aquilo que o inferior dá ao superior. O sacrifício da cruz é um dom porque nos vem de Deus e é munera, um presente, porque nós o oferecemos a Deus. Para deixar ainda mais claro o que são esses dons e esses presentes, o padre fala em sacrifício ilibado, sem mancha, perfeito, que só pode ser, então, o sacrifício do Corpo e do Sangue de Cristo, Deus e Homem. Como no ofertório, o Te igitur considera, por antecipação, que o Corpo e o Sangue de Cristo já estão presentes, para mostrar que no momento da consagração é o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor que são oferecidos a Deus. Tendo pedido a Deus que abençoe esse sacrifício, o próprio Padre traça sobre as oblatas, isto é, sobre o pão e vinho, três sinais da cruz ao dizer dons, presentes e sacrifício ilibado. Antes de fazer o sinal da cruz, o padre osculou o altar para mostrar que a bênção procede de Nosso Senhor. O Te igitur mostra que a Missa é um sacrifício e ao dizer que se trata de um sacrifício ilibado, sem mancha, perfeito, nos mostra que é o sacrifício de Cristo.
Continua o Te igitur: In primis, em primeiro lugar esse sacrifício é oferecido pela Santa Igreja Católica. Em cada Missa, graças imensas são dadas à Igreja. São essas graças que mantêm a Igreja sempre santa, nunca pecadora. O padre, mantendo as mãos estendidas, pede quatro graças para a Igreja: a paz, a proteção, a manutenção da unidade e para que Deus a governe. Pede-se primeiro a paz. Uma paz exterior e uma paz interior. Que a Igreja possa ter a tranquilidade na ordem e possa assim propagar o Evangelho, a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todavia, uma paz completa não é possível. A Igreja é combatida pelo mundo, cheio de descrença e de imoralidades. Ela deve resistir ao mundo. A sua paz não pode ser feita de acordos com o mundo. A Igreja é muitas vezes atacada também pelos seus próprios membros. A Igreja deve, então, combater e ser protegida por Deus. Vem, assim, o segundo pedido, para que Deus proteja a sua Igreja diante de todos os assaltos, para que seus membros permaneçam fiéis. Pede-se, em terceiro lugar, para que Deus mantenha a unidade de sua Igreja, para que todos permaneçamos na unidade da Igreja, unidade que se faz pela mesma fé, pela submissão à autoridade eclesiástica em suas ordens legítimas e pelos mesmos sacramentos.  Finalmente, pede-se para que Deus governe a sua Igreja por meio de bons pastores por toda a terra. Feito esse pedido, o padre reza especificamente pela hierarquia da Igreja. Primeiramente, o sacerdote reza pelo Papa, a quem professa estar unido. Depois, reza pelo bispo local, a quem também professa estar unido. Finalmente, reza pelos que professam a verdadeira fé e propagam a fé católica e apostólica, incluídos aí o restante do clero e os fiéis.
Nessa segunda parte do Te igitur, nós vemos as quatro notas da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo: santa, católica, una e apostólica.
O sacerdote passa, após o Te igitur, à segunda oração do Canon: o Memento dos vivos. Após rezar pela hierarquia e pelos fiéis em geral, a Igreja dá ao Padre a possibilidade de rezar por algumas pessoas em favor de quem o sacrifício será oferecido de modo mais particular. Ora, no Calvário, pouco antes do sacrifício de Cristo, o bom ladrão pede a Jesus para que se lembre dele. E esse pedido do bom ladrão é atendido. Assim, o sacerdote pede a Deus que se lembre de algumas pessoas especificamente pouco antes da renovação de seu sacrifício. Esse pedido de lembrança dará frutos como deu o pedido de lembrança do bom ladrão, que se converteu. Ao dizer o nome das pessoas por quem reza especificamente, o padre une as mãos em posição de submissão completa a Deus, suplicando para que seja atendido.  Não custa lembrar: essa posição das mãos – juntas, com os dedos estendidos, polegares cruzados, direito sobre o esquerdo – é a posição do vassalo diante de seu suserano ao prometer fidelidade e submissão a ele. A simples posição da mão do padre mostra a sua inteira submissão diante de Deus.
Após nomear algumas pessoas especificamente, o padre pede por todos aqueles que estão presentes na Missa, por todos aqueles que estão diante do altar assistindo à Missa. Uma graça particular é dada na Missa para aqueles que a ela assistem. Daí, entre outras razões, a importância de se assistir à Missa com a maior frequência possível. Daí a importância de trazer à Missa os bebezinhos, pois também eles recebem graças ao estarem diante do altar. Daí valer a pena o esforço dos pais de trazer as crianças para a Missa. Todavia, as graças recebidas por cada um na Santa Missa dependem das disposições interiores. O sacerdote menciona, então, a fé e a devoção de cada um, conhecidas por Deus. Aqueles que têm uma fé mais firme, que vivem da fé, aqueles que têm a prontidão em fazer a vontade de Deus em todas as coisas (isso é a devoção), receberão mais e maiores graças. Por esses presentes que têm a fé e a devoção conhecidas por Deus, o sacerdote oferece esse sacrifício de louvor, quer dizer, esse sacrifício de adoração, pelo qual reconhecemos o soberano domínio de Deus e queremos nos submeter a Ele. Esse sacrifício é também oferecido pela redenção da alma dos presentes e dos seus. Quer dizer, é sacrifício que aplaca a ira divina, pagando o preço do ultraje de nossos pecados e é sacrifício que dá para a nossa alma a graça do arrependimento. É um sacrifício também oferecido pela esperança de salvação e para a proteção, quer dizer, para nos alcançar as graças de que precisamos para a nossa salvação. E esses por quem o sacrifício é oferecido dirigem a Deus as suas preces. Mas o vota sua em latim é mais do que as simples preces. É no fundo a própria vida que a pessoa oferece a Deus em união com o sacrifício de Cristo. Aqueles que querem se beneficiar profundamente do sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, renovado no altar, devem colocar nas mãos de Deus a própria vida, oferecendo a Ele tudo o que são e tudo o que possuem.
É interessante notar um detalhe importante nessa oração do Memento dos vivos. Nela, o padre diz que os próprios fiéis oferecem o sacrifício. Todavia, não se trata de igualar fiéis e padre. Os fiéis oferecem esse sacrifício no sentido de que o oferecem a Deus por meio do sacerdote e no sentido de que podem apresentar as suas intenções pessoais em união com o sacrifício realizado pelo sacerdote. Lembremo-nos aqui das palavras ditas no Orate Fratres: Orai irmãos para que o meu e o vosso sacrifício seja agradável diante de Deus Pai. Nessas palavras, está dito “meu e vosso sacrifício”, pois distinto é o papel do sacerdote e dos fiéis no sacrifício da Missa. O sacerdote age na pessoa de Cristo, como outro Cristo, oferecendo realmente o sacrifício. Os fiéis se unem ao sacrifício oferecido pelo sacerdote, do qual tiram grande proveito. Sacerdote e leigos têm função bem distinta durante a Santa Missa.
Nessa segunda oração do Canon Romano, o Memento dos vivos, nós vemos claramente a Missa como sacrifício de louvor e como sacrifício de redenção, isto é, para o perdão de nossas faltas. Vemos, ainda, nessa oração, a Missa como sacrifício de salvação, ou seja, como sacrifício que nos obtém as graças para a nossa salvação. A Missa como sacrifício de ação de graças estava mostrada claramente no Prefácio.
Essas duas primeiras orações são um pedido pela Igreja militante, pela sua hierarquia, por todos os seus membros, por aqueles que o padre menciona em particular, pelos que estão presentes e pelas intenções dos presentes. São orações que mostram claramente a natureza da Missa: o sacrifício do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. São orações belíssimas, de profunda espiritualidade e de profunda doutrina. Por isso mesmo, os inimigos da Igreja sempre quiseram destruir o Canon Romano.
Aproveitemos, caros católicos, o melhor conhecimento dessas orações, para nos unirmos mais perfeitamente ao sacrifício de Cristo, que se renovará em instantes sobre o altar, rezando por toda a Igreja militante, em particular pela hierarquia, e oferecendo-nos inteiramente a Deus.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

9 de agosto de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 160

UM SANTO E UM COMERCIANTE

É interessante o que se passou certa ocasião com S. João Bosco, grande amigo da mocidade e grande convertedor de pecadores. Apresentou-se-lhe um comerciante para tratar de assuntos relativos ao seu comércio. Mas, como para aquele grande mestre o maior negócio da vida era o da salvação eterna da alma, conhecendo sem dúvida por divina revelação que aquele homem andava muito bem de assuntos financeiros, porém muito mal de temor de Deus e muito afastado do cumprimento de seus deveres de cristão, disse-lhe sem mais preâmbulos:
— Já sabe, amigo, que é preciso confessar-se?
— D. Bosco — replicou o comerciante — deixemos esse assunto para outro dia.
— E contudo, este é o mais importante de todos. O amigo já sabe que é preciso confessar-se e fazer a páscoa.
— Ninguém o duvida!... mas eu não vim para isso.
— Pois eu para isso estou aqui, por isso vou repetir: Já sabe, amigo, que é preciso que se confesse e faça a páscoa?
O comerciante ficou um pouco agastado e disse:
— Mas, D. Bosco, o senhor me tem por um herege?
— Não, amigo — replicou o santo com seu sorriso imperturbável; — não o tenho por herege, mas digo-lhe unicamente que é preciso confessar-se e fazer a páscoa.
— Bem — exclamou enfadado o comerciante — e quem lhe disse que eu ainda não o fiz? Quem lhe disse que ainda não me confessei este ano?
D. Bosco, com as mãos cruzadas sobre o peito, e fixando-o com um olhar que penetrava até o fundo da consciência, disse-lhe acentuando bondosamente cada palavra:
— Está bem; eu apenas lhe recordo que é preciso...
— Pois eu lhe digo — insistiu o comerciante — que eu agora não tenho vontade nem tempo.
— E eu repito — acrescentou o santo — que é preciso...
Não pode resistir mais o comerciante a graça de Deus, que, pelas palavras do grande educador, lhe comovia o coração e respondeu:
— Meu Padre, faz mais de quarenta anos que não me confesso.
E o santo com maior bondade, maior doçura e compassivo olhar, respondeu:
— Por isso, meu filho, eu lhe dizia: É preciso confessar e fazer a páscoa.
E, após uma boa confissão, o comerciante, que fora tratar de assuntos comerciais, dali saiu mais rico e feliz do que nunca por haver comprado a graça de Deus e a paz da alma.

8 de agosto de 2016

Sermão para o 10º Domingo depois de Pentecostes – Pe Daniel P Pinheiro

[Sermão] A oração orgulhosa, oração humilde e o orgulho de uma sociedade


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Consideremos, caros católicos, a parábola de hoje. Nosso Senhor diz que dois homens subiram ao templo para rezar, um fariseu e um publicano. Subiram ao templo fisicamente, pois o templo se encontrava sobre um monte, chamado Moria, mas a subida significa também que a oração é a elevação da alma a Deus.
Todavia, bem diferente foi a oração de cada um desses dois homens. Vejamos o que podemos aprender com cada um deles. Primeiro, com o fariseu, para repetir o que ele fez bem e para evitar o que ele fez mal. O fariseu se dirige ao templo para rezar, o que é uma coisa boa. O templo é o lugar de oração por excelência. Devemos nós rezar na Igreja na medida do possível. Ele enumera boas obras, que devemos procurar também fazer: ele não é ladrão, não é injusto nem adúltero. Devemos nós ser justos e praticar a castidade segundo o nosso estado. Ele jejuava e pagava o dízimo. Devemos nós fazer mortificações e ajudar no sustento da Igreja e de seus ministros.
A oração do fariseu, porém, foi desagradável a Deus por dois motivos: orgulho e desprezo do próximo. Com a boca somente, o fariseu agradece a Deus pelas suas boas obras, pois fica claro que ele atribui as suas boas obras a ele mesmo e não a Deus. Ele se considera perfeito e não um pecador. O fariseu não pede nada a Deus, dando a entender que não precisa de nada de Deus, pois já tem todas as virtudes e perfeições adquiridas pelos seus próprios esforços. Ele não pede perdão pelos seus pecados, pois julga não possuí-los. Ele não pede perdão pelos pecados de que talvez não se lembre ou que foram cometidos sem que ele notasse. Ele basta a si mesmo e é ele – não Deus – a causa de suas boas obras. O fariseu faz uma oração orgulhosa, exaltando de modo desordenado a própria excelência, não reconhecendo que tudo o que fazemos de bem nos vem de Deus.
A oração do fariseu não foi uma oração humilde. A humildade é verdade e justiça. A humildade é verdade, quer dizer, é reconhecer nossas qualidades e defeitos, nossas virtudes e vícios. E a humildade é justiça (atribuir a cada um o que lhe é devido), quer dizer, atribuir a Deus as nossas qualidades e virtudes e atribuir somente a nós nossos defeitos e vícios. São Paulo, por exemplo, enumera várias de suas obras, mas não se vangloria nem se exalta, pois reconhece com profunda humildade que tudo isso se faz pela graça de Deus, reconhece que tudo de bom que ele tem lhe foi dado por Deus. Como estamos distantes da santidade de São Paulo, não convém muito enumerarmos nossas eventuais boas obras, pois dificilmente estaremos isentos de orgulho. O fariseu em sua oração não é humilde. Ele falta com a humildade porque não reconhece toda a verdade ao não reconhecer seus defeitos e pecados, mas apenas as suas boas obras. E ele falta com a humildade também porque não atribui realmente a Deus as boas obras, mas somente com a boca.
Do orgulho, o fariseu passa ao desprezo do próximo e ao juízo temerário com relação ao próximo. Ao nos exaltarmos indevidamente, é quase natural que passemos a desprezar os outros, pois ficamos cegos para os nossos defeitos, mas tendemos a ver facilmente os defeitos dos outros e a exagerá-los. Tendo se exaltado de modo tão desordenado e esquecido de Deus, saiu de lá o fariseu humilhado, isto é, sem a graça divina.
Devemos tirar de sua oração orgulhosa uma importante lição para a vida espiritual: quando fazemos boas obras, quando começamos a avançar no caminho da virtude, o demônio tentará nos fazer cair pelo orgulho, fazendo que nos exaltemos e que esqueçamos que a causa de tudo é Deus. Ao contrário, devemos sempre manter a humildade, reconhecendo que somos pobres pecadores e que, se fazemos algum bem, por menor que seja, é pela graça de Deus.
Nossa oração, ao contrário da oração do fariseu, deve ser humilde, o que nos leva à oração do publicano. O publicano não se atreve a se aproximar do altar. Aqui, devemos considerar não tanto o aspecto físico, mas o que significa isso espiritualmente. Essa distância significa que, se reconhecendo pecador, ele estima ser indigno de se aproximar de Deus, que é a própria santidade, como os leprosos que não ousavam se aproximar de Cristo e que de longe imploravam a sua misericórdia. Segundo, para significar que, por seus pecados, ele se afastou de Deus, como o filho pródigo que deixou a terra do pai e foi para uma terra longínqua. De fato, pelos nossos pecados, nos tornamos indignos de nos aproximar de Deus e nos afastamos dEle.
Em seguida, nos é dito que o publicano não levantava os olhos. Aqui também devemos considerar mais o significado espiritual do que o aspecto físico. Não ousava levantar os olhos por vergonha de ter pecado contra Deus, de ter ofendido a Deus, que é o sumo bem e infinitamente amável. Não levantava os olhos para significar que, com o pecado mortal, não poderemos chegar ao céu e ver Deus face a face.
E o publicano batia no peito, para significar o seu coração despedaçado pela ofensa cometida a Deus, para significar o arrependimento pelos seus pecados. O publicano sabe que Deus é misericordioso e que está pronto para perdoar, se estamos verdadeiramente arrependidos, isto é, se reconhecemos o mal que fizemos, se detestamos esse mal e se nos determinamos a não mais pecar.
A oração humilde do publicano agradou a Deus. Ele reconheceu seus pecados, reconheceu que a culpa era sua e, com verdadeiro arrependimento e grande confiança, pediu a Deus misericórdia. Tendo se humilhado ao reconhecer seus pecados e ao implorar a divina justiça, saiu de lá o publicano, exaltado, isto é, com a graça de Deus. É o que devemos fazer.
O orgulho, caros católicos, pode ser também coletivo, pode ser um orgulho da sociedade. Infelizmente, vivemos hoje em uma sociedade orgulhosa que se baseia no non serviam, no não servirei do demônio. Uma sociedade esquecida dos direitos invioláveis de Deus sobre a humanidade e sobre todas as coisas, uma sociedade que não cumpre os seus deveres para com Deus, mas que, ao contrário, se baseia na autonomia total com relação a Deus e à sua Igreja. E mais do que em uma autonomia, a sociedade moderna se baseia em uma revolta contra Deus e favorece essa revolta contra Deus nos indivíduos. Quantos, por um orgulho que os cega, terminam abandonando a Igreja ou terminam não praticando a religião católica. O orgulho pode ser não somente individual, mas também da sociedade. Vivemos em uma sociedade orgulhosa incapaz de reconhecer que seus problemas são causados por ela mesma e por seu abandono a Deus e incapaz de reconhecer que todo o bem tem Deus como fonte.
Quando os judeus, por orgulho, se tornavam infiéis a Deus, abandonando-o e confiando em falsos deuses, Deus os castigava, humilhando-os, de algum modo, muitas vezes entregando-os nas mãos de seus inimigos. Hoje, com a revolta da sociedade moderna, Deus usa basicamente dois castigos, para humilhá-la. O primeiro desses castigos é o islã, sempre considerado, ao longo da história, um flagelo na mão de Deus. Apenas o catolicismo foi capaz, ao longo da história de deter o islamismo. Em 732, com Carlos Martel, em Poitiers, praticamente no coração da França. Em 1456 com São João Capistrano, Franciscano, na Hungria. Em 1571 com os exércitos católicos reunidos por São Pio V, na batalha naval de Lepanto. Em 1601, com São Lourenço de Brindisi, capuchinho, também na Hungria. Em 1683, com Sobieski, rei da Polônia, em Viena. Em 722 com Don Pelayo, em Covadonga no norte da Espanha, marcando o início da reconquista da Espanha pelos católicos que se concluiu em 1492 com os chamados Reis Católicos, Isabel e Fenando. São alguns exemplos de como o catolicismo sempre resistiu frontalmente ao islã. O primeiro desses castigos é, então, o islã. O segundo castigo é o abandono dos homens à sua própria cegueira, ao seu próprio orgulho e às suas próprias paixões. Esse segundo castigo é, sem dúvida, o pior. Peçamos a Deus misericórdia, como faz o publicano, misericórdia para nós e para a sociedade.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

7 de agosto de 2016

Missa Tridentina - Informação Incorreta

Prezados Leitores, Salve Maria!

No Domingo, dia 31/08/2016, comunicamos que a próxima Missa Tridentina seria no dia 14/08/2016, no entanto a informação estava incorreta, pois a mesma será apenas no dia 28/08/2016. Em breve estaremos divulgando a agenda do final de semana da missa em questão. Pedimos desculpas por nossa falha.

Associação Civil São Pio V

Tesouro de Exemplos - Parte 159

SÃO LUÍS BELTRÃO E A S. MISSA

S. Luís Beltrão, parente de S. Vicente Ferrer, e como este famoso por suas pregações, estimava infinitamente o favor, que Deus lhe fizera chamando-o ao sacerdócio.
Considerava a Festa do Natal como a mais bela de todo o ano, porque nesse dia lhe era permitido celebrar três Missas.
Todos os dias se confessava, a fim de levar ao altar uma consciência mais pura. Jamais elevava a Hóstia ou o Cálice, sem pedir a Nosso Senhor a graça de derramar o seu sangue pela conversão e salvação dos pecadores. “Senhor, dizia, concedei-me a graça de morrer por vós, como vós morrestes por mim”.
Nada comovia tanto os fiéis como as lágrimas que viam correr, de seus olhos desde a Elevação até a Comunhão. Viram-no, várias vezes, enquanto tinha nas mãos a Hóstia santa, circundado de uma luz sobrenatural resplandecente como o sol; era como se uma luz do céu inundasse toda a igreja.
A Hóstia divina era a alegria do seu coração e a glória de sua vida.

6 de agosto de 2016

Sermão para o 9º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] O combate pela virtude da castidade (2ª versão)


Em nome do Pai…
Ave Maria…
“Nem nos demos a impurezas, como alguns deles, e morreram num dia vinte e três mil.”
Diz o Santo Cura d’Ars que nenhum pecado destrói tão rapidamente a alma quanto esse pecado vergonhoso que nos tira da mão de Deus e nos joga na lama. São Tomás de Aquino diz algo semelhante: pela luxúria ou impureza somos afastados ao máximo de Deus. Os santos não estão dizendo aqui que o pecado da impureza é, em si mesmo, o pecado mais grave. O pecado de ódio a Deus ou um pecado contra a fé são em si mais graves, por exemplo. Todavia, os santos dizem que a impureza afasta mais de Deus que outros pecados em razão da dificuldade em emendar-se quando se contrai o mau hábito de cair nesses pecados vergonhosos de impureza. Levado pela ferida do pecado original, o ser humano se deixa escravizar facilmente por esse pecado. E daí vêm consequências gravíssimas.
Sobre as consequências drásticas desse pecado para uma alma e para a sociedade, sobre as filhas da luxúria ou impureza, falamos em um importante sermão nos dias do carnaval. Não custa enumerar essas consequências novamente. O vício da impureza gera: cegueira de espírito, precipitação, inconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego à vida presente, desespero com relação à salvação. A luxúria, por tudo isso, leva também a pessoa, com o tempo, a perder a fé, a desprezar as verdades reveladas e a se obstinar no pecado, esquecida do juízo e do inferno. Para fazer uma alma perder a fé, é muitas vezes mais eficaz fazê-la se afundar na luxúria do que combater a fé diretamente. As músicas sensuais pelas letras e ritmos, filmes, séries de TV, roupas indecentes, etc., contribuem muitíssimo para a perda da fé sem atacá-la diretamente. Os que combatem a Igreja sabem muito bem disso. Podemos citar ainda, entre as filhas da luxúria, o aborto, que é assassinato, e a eutanásia, que é suicídio ou homicídio. A luxúria leva ao aborto porque as pessoas querem satisfazer suas paixões desordenadas sem responsabilidade. Leva à eutanásia porque se a pessoa já não pode aproveitar a vida, melhor que morra. Quantos males gravíssimos e quantas calamidades espirituais são causados pela busca de um prazer desordenado instantâneo, passageiro. Se de nada vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma, o quanto vale ao homem cometer tão vergonhoso e torpe pecado, que lhe faz perder o céu e merecer o inferno? Diz Santo Afonso que, entre os adultos, são poucos os que se salvam por causa desse pecado. Ele dizia isso no século XVIII. Podemos imaginar a situação em nossos dias… Por tão pouca e vergonhosa coisa.
Tendo, então, uma breve ideia das consequências desse pecado, procuremos os meios para adquirir ou avançar na virtude oposta a esse vício, quer dizer, na virtude da castidade. A virtude da castidade é a virtude derivada da virtude de temperança que nos faz ordenar o apetite venéreo/carnal conforme a razão iluminada pela fé, que reconhece que tais atos se reservam aos cônjuges no bom uso do matrimônio, isto é, sem que a procriação seja impedida, podendo, nesse caso, ser verdadeiramente um ato meritório diante Deus. Nossa razão reconhece que esse ato é ordenado à procriação e à subsequente educação dos filhos, que se faz devidamente dentro de um matrimônio indissolúvel.
Para que possa haver castidade, é preciso que haja, primeiro, nos diz São Tomás, a vergonha e a honestidade. A vergonha é o sentimento louvável de temer a desonra e a confusão que são consequências de um pecado tão baixo. A honestidade é o amor à beleza que provém da prática da virtude. Devemos ter essa vergonha e essa honestidade. Outra raiz da pureza é a modéstia no nosso exterior, isto é, no falar (evitando palavrões, palavras de duplo sentido, piadas baixas, palavras chulas), nos modos, no vestir, etc. Sem a modéstia no nosso exterior, a pureza será impossível para nós e seremos também causa da queda para os outros. É impossível encontrar um homem imoral na linguagem e puro nos costumes (Catecismo Católico Popular).
Colocadas essas bases, para alcançar a castidade, é preciso também rezar muitíssimo, pedindo essa graça. Rezar, sobretudo, para Nossa Senhora, Mãe Castíssima, que sabe ensinar a seus filhos a castidade. A devoção das três Ave-Marias quando se acorda e antes de dormir, pedindo a graça da pureza é muito eficaz para se adquirir a pureza ou para perseverar nela. Também a devoção a São José é muito eficaz no combate pela pureza, pela castidade, sobretudo para os homens. São José ensina aos homens a verdadeira virilidade, que consiste em ter o domínio sobre suas paixões. O homem que se deixa levar pelas paixões, pela impureza, é considerado, em nossa sociedade decadente, como viril. Ora, esse homem é, ao contrário, efeminado, pois efeminado, tecnicamente, é aquele que se deixa levar pelas paixões, pelas más inclinações, que não tem força para combatê-las e vencê-las. O homem que se deixa levar pelas paixões é um fraco, pois não tem força para enfrentar as dificuldades que existem na prática da virtude. Portanto, a devoção a São José vai nos ensinar a verdadeira virilidade, que traz consigo a castidade. Como diz o Salmo (30, 25): Agi com virilidade e fortalecei o vosso coração, vós que esperais no Senhor. Viriliter agite et confortetur cor vestrum qui speratis in Domino.  Outro meio para manter a castidade é invocar o nome de Jesus, Maria e José na hora das tentações. Eles são de uma eficácia particular para se guardar a pureza.
Para sermos castos, é preciso também mortificar os sentidos, sobretudo os olhos. Jó fez um pacto com seus olhos para não olhar para as moças e, assim, se manteve casto. Diz-se de São Luís Gonzaga que, após passar um tempo na corte na Espanha, ele não conseguia distinguir visualmente a Rainha da Espanha das outras mulheres, pois jamais havia levantando seus olhos para vê-las. Evitar a vã curiosidade, não parar os olhos em algo que possa suscitar maus pensamentos ou imaginações. Mortificar a curiosidade mesmo no que é lícito, para mais facilmente vencer o que é ilícito. E é preciso mortificar nossa imaginação, controlando-a, ordenando-a, não a deixando passear por esses pensamentos.
É preciso evitar também as ocasiões de pecado, isto é, os ambientes, as pessoas, as coisas, as circunstâncias que podem levar a pecados contra a pureza. Muito cuidado é necessário no namoro ou no noivado. Namorados e noivos devem estar sempre em locais públicos com outras pessoas de boa consciência que lhes impeçam de cometer pecados contra a pureza. Devem evitar andar de carro sozinhos, por exemplo. Namoro e noivado devem durar entre um e dois anos, tempo suficiente para conhecer a alma do outro e que impede o surgimento de familiaridades indevidas. Bastaria um beijo apaixonado para haver um pecado grave entre (conforme decreto do Santo Ofício de 1666, sob o Papa Alexandre VII). Os pecados contra a pureza aqui prejudicam também o correto juízo que se deve fazer da alma do outro, de suas qualidades e defeitos, a fim de saber se é possível ou não viver uma vida inteira com a pessoa… Levada pelos sentimentos e paixões, o julgamento será falseado. Sobre isso já tratamos com detalhes em outro sermão.
Outra ocasião de pecado muito séria hoje é o computador, o celular, a internet. Deve-se usar a internet com um objetivo preciso, definido, fazendo uma oração antes ou depois. Quem navega à toa na internet dificilmente se preserva de pecado nessa matéria. Redes sociais também são grande fonte de perigo. Se uma pessoa já caiu várias vezes por meio de internet, reze antes de usá-la, coloque uma imagem de Nosso Senhor ou Nossa Senhora perto, para lembrar a presença de Deus, utilize o computador em local público, a que outras pessoas têm acesso. Se nada disso adianta, a solução é simples: renunciar à internet, ao menos temporariamente. Mais vale entrar no céu sem internet do que com ela ser condenado eternamente. O mesmo vale para TV, filmes, séries e coisas do gênero. É preciso lembrar-se sempre de que o mais oculto dos pecados é conhecido por Deus e será conhecido por todos no dia do juízo. É preciso fugir das ocasiões de pecado. Como diz São Felipe Neri, na guerra contra esse vício, os vitoriosos são os covardes, quer dizer, aqueles que fogem das ocasiões de pecado.
Além da oração, da mortificação dos sentidos e da fuga das ocasiões, é preciso evitar a ociosidade. A ociosidade é mãe de inúmeros pecados, a começar pela impureza. O Rei Davi pecou cometendo adultério e homicídio porque em um momento de ociosidade olhou para a mulher do próximo. Evitar a ociosidade organizando e ocupando bem o tempo.
É preciso também mortificar-se, fazendo penitências, jejuns, abstinência de carne. Devemos começar observando a penitência da sexta-feira imposta pela Igreja, procurando fazê-la do modo tradicional, quer dizer, nos abstendo de carne. As mortificações facilitam o domínio da razão e da vontade sobre as paixões. É preciso mortificar-se em coisas lícitas para aprender a vencer a si mesmo na hora da tentação. É preciso, de modo particular, ter uma sobriedade imensa no beber álcool.
No combate pela castidade, é preciso se aproximar dos sacramentos com frequência. É preciso se confessar com frequência não só depois da queda, mas também para evitá-la. Aqueles que têm o vício da luxúria ou impureza devem procurar a confissão uma vez por semana, ou pelo menos uma vez a cada duas semanas, mesmo que tenham apenas pecados veniais. É preciso comungar com frequência, estando em estado de graça, para evitar quedas futuras. Com o método preventivo e não só curativo, se impede que o pecado lance raízes mais profundas.
É preciso também pensar no inferno, na condenação eterna que se merece por tão pouca coisa, por algo tão passageiro e instantâneo. Perde-se o céu, se merece o inferno, se crucifica Nosso Senhor novamente por pecado tão baixo, tão vil. Usar dessa faculdade fora do matrimônio, nos assemelha aos animais brutos, irracionais. Como diz São Tomás, o impuro não vive segundo a razão. Portanto, é preciso pensar no inferno e na nossa morte, da qual não sabemos o dia nem a hora. Não devemos adiar nossa conversão. Pode ser que Deus não nos dê a graça da conversão depois. É preciso aproveitá-la agora. Aquele que vive afogado nesse pecado, está muito próximo da condenação eterna. Deve colocar a mão na consciência e emendar-se decididamente. Não falo isso para que haja desespero, mas para que a pessoa se emende o quanto antes com todo vigor, sendo fiel às graças divinas.
Na hora da tentação propriamente dita, é preciso rezar. Em particular, invocando o nome de Jesus, Maria e José. É preciso, igualmente, pensar em outra coisa, distrair o pensamento com algo bom, lícito, ainda que sem importância, como enumerar as capitais dos estados, por exemplo. O importante é que ocupemos a imaginação e o pensamento com outra coisa. É preciso cortar a tentação imediatamente. E enquanto durar a tentação, continuar o combate. Se cair, procurar levantar-se o quanto antes, buscando a confissão com verdadeiro arrependimento e propósito de emenda. Existe uma tendência em desmoronar depois da primeira queda, cometendo outros pecados de impureza. Isso agrava muitíssimo as coisas, multiplicando os pecados, as penas, solidificando o mau hábito, dificultando tremendamente a conversão.
Quem tem o vício da impureza não deve desesperar, mas deve se apoiar em Deus, em Nossa Senhora, nos anjos e santos e aplicar os meios que mencionamos com muita determinação. Não basta um eu quisera, um eu gostaria. Também não adianta dizer: eu não consigo. Com a graça de Deus, consegue. Mas a decisão de vencer o pecado impuro, contra a castidade, tem que ser um eu quero firme, disposto a empregar os meios necessários para atingir o fim buscado, que é a pureza.  Só vai conseguir vencer esse pecado aquele que empregar seriamente os meios que mencionamos. Ao ser humano, pode parecer impossível livrar-se de tal pecado uma vez que se contraiu o vício. De fato, não é fácil. Mas com Deus é perfeitamente possível. Quem realmente quer se livrar desse vício e se apoia em Deus, consegue ter uma vida pura. Aqueles que não têm tal vício devem continuar vigiando e rezando, desconfiando de si, pois se acharem que não estão mais em perigo de cair nesses pecados de impureza, cairão.
Combater pela pureza é necessário. Devemos fazê-lo com determinação e rezando muito. Diz Santo Agostinho que nessa espécie de pecado a batalha é de muitos, mas que a vitória é de poucos. Mas bem determinados, vigiando, rezando, empregando os meios que citamos, é plenamente possível. E que grande liberdade nos dá a castidade, que grande alegria viver segundo a razão e a fé e ter a nossa alma voltada para as coisas do céu e não mergulhada em coisas baixas desse mundo.
Dirijo-me agora aos pais e aos que ajudam na educação das crianças. Os pais devem vigiar e favorecer a pureza dos filhos desde a mais tenra idade, para que adquiram a vergonha e a honestidade, para que sejam modestos no falar, nos modos, nas vestes… Cabe aos pais evitar que os filhos adquiram maus hábitos nesse campo, ainda que os filhos não entendam a malícia do que estão fazendo, pois depois não conseguirão se livrar do vício. Cuidado pais, cuidado com as crianças. Vejamos o que diz Pio XII: “Por desgraça, às vezes acontece que pais cristãos com tantos cuidados na educação de um filho ou de uma filha, que são mantidos sempre longe dos perigosos prazeres e das más companhias, de repente vêem os filhos, com a idade de 18 ou 20 anos, vítimas de miseráveis e escandalosas quedas: o bom grão que semearam foi arruinado pela cizânia. Quem foi o inimigo do homem que fez tanto mal? O que ocorreu foi que no próprio lar, nesse pequeno paraíso, se introduziu furtivamente o tentador, o inimigo astuto, e encontrou ali o fruto corruptor para oferecer a mãos inocentes. Um livro deixado por acaso na mesa do pai foi o que destruiu no filho a fé de seu batismo, um romance abandonado no sofá ou no quarto pela mãe foi o que ofuscou na filha a pureza de sua primeira comunhão.” Até aqui o Papa. A cizânia pode entrar ao se folhearem revistas de notícias ou jornais largados na casa. A cizânia pode entrar pela televisão por um trecho do jornal televiso a que a criança assistiu por acaso. A cizânia pode entrar pelas propagandas e pelos vídeos sugeridos quando a criança assiste sozinha a vídeos inocentes na internet. Ela pode entrar ao se deixar a criança navegando na internet sozinha.  Vigiem, pais, vigiem pela alma dos filhos. Por favor, mantenham-nos longe de usar sozinhas a internet, smartphones e tablets, em que podem acessar verdadeiramente qualquer coisa. Muitas vezes, é procurando algo inocente que surgem as piores coisas na internet. E por curiosidade no início e malícia depois, a criança ou o jovem verá coisas impuras. Os pais que entregam aos filhos em formação coisas desse tipo odeiam os filhos. Que, antes de usar esses meios, já tenha sido formada neles uma virtude sólida.  Eles já veem tanta coisa ruim mundo afora. Que ao menos dentro de casa possam encontrar a pureza e a virtude, a começar pelo exemplo dos pais.
De que vale ganhar o mundo inteiro se viermos a perder a nossa alma? De que vale uma satisfação instantânea, tão passageira, tão baixa, e que nos faz perder o céu, merecer o inferno e que crucifica novamente Nosso Senhor? Confiando em Deus, desconfiando de nós mesmos, com uma determinação muito determinada, sejamos castos e puros.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo Amém.