30 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

30 de Abril

As Duas Coroas

Nosso Senhor apareceu a Santa Catarina de Sena com duas coroas nas mãos, uma de espinhos e outra de flores.

“Minha filha – disse Jesus, – terás de receber, necessariamente, uma destas coroas e depois a outra. Se quiseres receber nesta vida a coroa de espinhos, eu te reservarei a outra, a de flores, para a vida eterna. Se ao contrário, quiseres agora a de flores, eu te reservarei a de espinhos para depois de tua morte.”

Respondeu a santa:

“Senhor, desde muito tempo renunciei minha vontade, mas se quereis minha resposta, digo-Vos que, acima de tudo, quero viver toda a minha vida com a Vossa Paixão e achar minha consolação em sofrer por Vós”.

Esta é a lei: uma coroa de espinhos, e depois outra de rosas. Primeiro a Cruz, depois a Luz. Felizes os que, na vida, podem sofrer um pouco por amor de Deus. A Santa escreveu numa de suas cartas:

“Devemos suportar tudo, porque o sofrimento é pequeno e a recompensa é grande. O servo do mundo traz a sua cruz, a cruz do demônio. E nós não queremos a cruz de Jesus Cristo?”.

“Minha filha – disse Nosso Senhor a Santa Catarina – o justo é capaz de sofrer e eu o privo dos bens da terra para lhe dar maior abundância dos bens do Céu”.

Ó grande santa, dai-nos a vossa inteligência da cruz!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

29 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

29 de Abril

Bem-Aventurados os que Choram

“Bem-aventurados, isto é, felizes – diz Nosso Senhor – “os que choram.”

Este mundo é o vale das lágrimas. Nosso Senhor também chorou. Chorou a ingratidão de Jerusalém, chorou na sepultura de Lázaro, no Horto das Oliveiras e, antes, havia chorado nas palhinhas da manjedoura de Belém. Oh! Lágrimas Divinas e redentoras, sois nosso conforto! E, para santificar nossa dor, Jesus abençoa nossas lágrimas do alto da Montanha. “Beati” – “Felizes…” Então será feliz quem chora? Sim, porque a lágrima salva, desafoga o coração. Lembremo-nos das lágrimas de Madalena e das do filho pródigo. Como é bom chorar de amor e de arrependimento! Santifiquemos nossas lágrimas na paciência e na resignação. Deus não nos proíbe chorar; quer, porém, que o nosso pranto seja, não como o de quem não tem esperança, mas o que suaviza, desafoga o coração, paga o tributo à natureza e se transforma depois em pérolas de abandono à Vontade Santíssima de Deus. No Céu, onde não haverá mais dores nem gemidos, Ele, Nosso Divino Consolador, enxugará nossas lágrimas.

“Como eu tenho sede do Céu – dizia Santa Teresinha, – dessa mansão bem-aventurada, onde amarei para sempre a Jesus! Mas… para chegar até lá, é preciso sofrer e chorar”.

Soframos, pois, choremos, resignados, nas trevas dessa noite da vida. Paciência! Logo há de raiar a madrugada do Céu!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

28 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

28 de Abril

Refúgio Seguro

Onde haverá um refúgio seguro para nossa pobre alma, quando abatida pelo sofrimento? E, nas tentações e perigos, onde nos abrigaremos? Santo Agostinho responde:

“Nas chagas de meu Jesus e, principalmente, na chaga do Seu coração.”

São Boaventura estava bem certo de que as Santas Chagas de Nosso Senhor são o melhor refúgio na vida e na morte, quando dizia:

“Se eu nada mais puder fazer, meu Jesus, procurarei vossas chagas e aí permanecerei”.

Beijemos, em nossos crucifixos, as Chagas Divinas das mãos. Elas nos ensinam a aceitar as amarguras, as contradições que encontramos com o trabalho de nossas mãos. As Chagas dos pés nos ensinarão a caminhar corajosamente na via dolorosa do Calvário. A chaga do Coração nos dirá o amor infinito com que somos amados e a nossa ingratidão sem par. Olhemos, sim, Nosso Deus cravado na cruz e aprendamos a amá-lo com generosidade. Aos devotos das Chagas do seu Coração, prometeu Nosso Senhor a Margarida Maria:

“Eu serei seu refúgio seguro na vida e, principalmente, na hora da morte.”

A uma alma provada, dizia Nosso Senhor:

“Minha filha, molha no sangue de minhas Chagas o pão duro de tuas amarguras e sofrimentos, e serás feliz”.

Ó doce e terno Coração, morada e refúgio de nossas almas! Tende piedade de nós!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

27 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

27 de Abril

Dias Perdidos

O Imperador Tito, quando passava o dia sem fazer algum bem, costumava dizer:

“Perdi o meu dia”.

Para nós, o dia perdido é o que passamos sem sofrer.

“A cruz – diz a Autora dos Avisos Espirituais – preserva os nossos dias da esterilidade”.

Portanto, receemos inutilizar nossa vida, tão preciosa, desprezando a cruz. O sofrimento enche nossos dias de bênçãos e graças do Céu. Que boa escola a em que se aprende a ver o que é caduco!

“Quem não sofre, que é que pode saber?”, pergunta o Espírito Santo. Se somos tão ignorantes do mistério da cruz, é porque temos preguiça de frequentar a nossa escola Divina do Calvário! Que vida inútil a nossa! Oh! Aproveitemos o tempo. Temos só esta vida para sofrer e dar a Nosso Senhor as provas de um amor generoso.

“O sofrimento, unido ao amor – dizia Santa Teresinha – é a única coisa que me parece desejável neste vale de lágrimas”.

Na hora da morte, as alegrias efêmeras desta vida, os loucos prazeres que nos seduziram, hão de nos atormentar horrorosamente. O sofrimento, ao contrário, há de consolar-nos. Veremos dias cheios de méritos, dias passados no Calvário, bem junto à cruz. Oh! Sim, ao deixarmos este mundo, só uma coisa nos há de consolar imensamente: termos sofrido por amor de Deus!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

26 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

26 de Abril

Palavras de Conforto

O bem-aventurado Henrique Suzo era um apaixonado amante da cruz. Sua vida foi um martírio contínuo. Eis as palavras de conforto que o Beato dirigia sempre aos que sofriam:

“Se estais doentes, regozijai-vos, porque o Senhor está pensando em vós.”

“Cada enfermo se julga o mais enfermo, cada pobre, o mais indigente. E nem um nem outro pensa em encher as mãos com os tesouros da graça que nos vêm pelo sofrimento.”

“O sofrimento é o exercício mais salutar que Deus impõe à nossa alma e ao nosso corpo. E é mais difícil sofrer com paciência e em silêncio do que fazer milagres, mesmo o de ressuscitar os mortos.”

“Quando Jesus Cristo vos deixa sofrer sem consolação, como Ele sofreu no Jardim das Oliveiras, não a procureis fora do Seu coração cheio de dor. Quereis gozar, quando Jesus sua sangue, para expiar os nossos prazeres culpáveis?”

“Para o enfermo, a mais bela das ocupações e das artes deve ser a dos atos de resignação, enquanto espera pacientemente o socorro do Céu.”

Guardemos sempre tão belos pensamentos, que tanto nos podem ajudar no tempo das provações, isto é, quando Nosso Senhor pensa em nós e nos acha dignos de sofrer alguma coisa por seu amor. Na verdade, é tão grande e preciosa a graça de sofrer, que não a merecemos!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

25 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

25 de Abril

Cruzes Pequeninas

As cruzes grandes assustam, mas são raras. As pequeninas acompanham-nos por toda parte. Não damos um passo sem as encontrar. Uma palavrinha seca, um olhar indiferente, uma pequenina dor, um contratempo, uma pessoa importuna, a chuva, o vento, a falta de qualquer objeto, são tantas pequeninas cruzes e aborrecimentos no curto espaço de um dia! Por que havemos de nos impacientar com isso e aspirar a sofrimentos, grandes perseguições etc., que talvez nunca teremos que experimentar? Contentemo-nos com as cruzes pequeninas. Elas são preciosas. Santa Teresinha as amava tanto!

“Longe de me querer igualar às grandes almas que, desde a sua infância, praticam toda espécie de macerações – escreve a Santinha – fiz consistir minhas penitências em quebrar minha vontade, reter uma palavra de réplica, prestar pequenos serviços sem dar a entender que o faço, e mil outras coisas deste gênero.”

Não é um meio eficaz de santificação? Talvez custem mais essas cruzes pequeninas do que muitas das grandes. Desde o amanhecer até o repouso da noite, encontramos as pequeninas. Aproveitemos essa riqueza. Sejamos avaros das coisas celestes. Quanta abnegação e espírito de sacrifício na prática da aceitação quotidiana das cruzes pequeninas.

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

24 de abril de 2022

O BREVIÁRIO A CONFIANÇA

24 de Abril

Migalhas e Iguarias

Da mesa do Senhor, preparada para os seus eleitos, caem migalhas, que são as riquezas, a prosperidade, as honras e prazeres deste mundo. Há, porém, na mesa, iguarias finas, alimento substancial, que Deus só concede aos amigos mais íntimos e queridos, aos que, dedicadamente e cheios de gratidão, aceitam o seu convite. Essas iguarias finas da mesa Divina são as cruzes e provações da vida. Elas sustentam admiravelmente nossa vida espiritual. E Nosso Senhor convida todos ao Seu Banquete substancial de Amor, onde cada alma encontra a iguaria do sofrimento que a deve sustentar e robustecer para a luta. Só os amigos de Jesus, e amigos generosos, aceitam o amoroso convite. Muitos se contentam com as migalhas. Mas, de migalhas, não pode viver nossa pobre alma. Ela precisa de bom alimento. O amigo senta-se à mesa do amigo e, saboreando as iguarias, entretém-se com ele em doces palestras, firmando os laços de recíproca amizade. Por que havemos de viver, como os cães, a esperar as migalhas da mesa de Nosso Senhor e a disputa, vergonhosamente, com aqueles que as procuram, na avidez de honras, prazeres e riquezas? Não prefiramos roer o osso duro de tantas desilusões e prazeres loucos do mundo, alimentar-nos de migalhas, a sentarmo-nos, felizes e confiantes, à mesa saborosa e substancial de Nosso Senhor!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

23 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

23 de Abril

Juiz e Pai

Deus nos há de julgar! Este pensamento, que aterroriza tantas almas, deveria consolar-nos. Como poderemos pensar sem tremer no juízo Divino, quando santos como São Bernardo e São Jerônimo tremiam só à meditação dessa verdade eterna? Quem nos vai julgar? Um Deus, sim, um Deus de justiça, que encontra imperfeições até nos seus Anjos! Mas esse Deus é nosso Pai e Pai por toda a eternidade, Pai das misericórdias – “Pater misericordiarum”. Deus é justo, sim, e por isso mesmo é que devemos ter confiança. Sendo justo, saberá levar em conta a nossa fraqueza, a nossa ignorância e miséria, verá a nossa boa vontade, a pureza de nossas intenções. Temê-Lo, por quê? Ele bem sabe de que barro somos feitos.

Portanto, confiança! Perguntaram a Santo Ambrósio, quando moribundo, se não temia os juízos de Deus.

“Ah! – respondeu o santo – temos um mestre tão bom!”…

“Tenha confiança em Nosso Senhor”, dizia o sacerdote a Frederico Ozanan.

“Ó meu padre – respondeu o servo de Deus, em agonia – como ter medo de Nosso Senhor? Amo-O tanto!”

Amemos o Coração de Jesus, fonte de misericórdia e perdão. É nosso Juiz, sim, mas também é nosso Pai.

“Como é doce morrer – dizia Santa Margarida Maria – para ser julgada por Aquele em cujo Coração vivemos!”

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

22 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

22 de Abril

O Medo da Cruz

Nosso Senhor abraçou amorosamente a cruz, levou-a até o Calvário e nela morreu por amor de nós. Por que ter medo da cruz? Santo André, ao vê-la, não pôde conter os transportes de júbilo de sua alma e exclamou:

“Ó boa cruz!” – Ó boa cruz!”

Boa cruz, diz o Apóstolo. E nós a achamos sempre tão má quando vem a hora de abraçá-la! Como somos fracos e imperfeitos! E o medo da cruz, diz o santo Cura d’Ars, é a nossa maior cruz. O sofrimento, quando acha almas decididas e corajosas que o enfrentem, fica sempre reduzido à metade. Nossos nervos e imaginação costumam exagerar muito o peso e o tamanho da cruz. Se soubéssemos o valor desta, andaríamos à sua procura como o avarento à procura do ouro. Quem menos sofre é quem não teme a cruz. Para fugir dela, atiram-se almas, como loucas mariposas, ao fogo de tanto falso brilho do mundo e dos prazeres e, pobrezinhas, sofrem mais. A cruz de Nosso Senhor é pesada, mas temos quem nos ajude a carregá-la. Ele mesmo, o nosso doce Jesus, transformado em Cirineu da Misericórdia depois de Sua paixão, vem carregar a nossa cruz ou, melhor, ajudar-nos a carregá-la até ao Calvário. E não quereis carregar, com o Vosso Pai Celeste, a cruz que Ele vos oferece com tanto amor e para o vosso bem, ajudando-vos, ainda, a carregá-la, como Divino Cirineu da Misericórdia?

Por que tanto medo da cruz?…

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

21 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

21 de Abril

Largura, Comprimento e Altura da Cruz

A piedosa autora dos “Avisos espirituais” escreve, no seu livro de consolações, que devemos aceitar a cruz que Nosso Senhor nos envia, sem a diminuir em largura, nem em comprimento ou em altura. Tal como a recebemos, devemos levá-la até ao calvário, como o fez o nosso Divino Redentor. Aceitai vossa cruz na sua largura, que abraça todas as coisas e circunstâncias capazes de vos fazerem sofrer, todas as penas, tudo o que vier! Aceitai-a no seu comprimento, isto é, na duração. Dizei assim:

“Quanto tempo Nosso Senhor me quiser no sofrimento, sofrerei por seu amor, até à morte, se for de Sua Vontade!”

Aceitai a vossa cruz na sua altura, isto é, na grandeza dos tormentos que vos acabrunham. Às vezes a cruz é muito alta. Que fazer? Por ser maior, será mais preciosa. A medida de nossa felicidade e glória no Céu será a medida da nossa cruz. Esperai a cruz que Nosso Senhor vos mandar e não procureis cortá-la para diminuí-la no cumprimento. Sofrei quanto tempo Ele quiser! A cruz que vem do Céu é uma obra de arte bem talhada e bela. Foi preparada pelo Artista Divino. Por que estragar, com a nossa ignorância, o trabalho tão rico do Divino Carpinteiro da Judeia? É ridículo e estúpido um operário boçal mutilar o trabalho de um artista.

Não estraguemos a obra-prima do Divino Artista que talhou nossa cruz!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

2 - Deus não abondona os seus filhos - A luta pela Missa de Sempre (Tridentina) em Curitiba

Prezados Amigos, Salve Maria!

As pessoas que fazem ou fizeram parte em algum momento do grupo São Pio V tem muitas histórias para contar. Acredito que seria necessário um livro bem volumoso para descrever as situações vividas. A nossa história passou pela Igreja da Ordem, pela Paróquia Imaculada Conceição no Guabirotuba, na Capela da Polícia Militar (AVM), na Capela do Convento das Irmãs de São José de Chambéry, entre outras e hoje em um salão de festas no bairro do Taboão. Deus permite as tribulações para o crescimento da nossa fé e não para nos punir, principalmente quando procuramos ser fiéis aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Recentemente tivemos uma live para contar um pouco da história do grupo e da fundação da Associação Civil São Pio V. Tentamos continuar a luta pela missa de sempre, iniciada pelo Coronel Roberto (já falecido!) do Exército Brasileiro em Curitiba, mas não somos dignos de nos comparar com a luta empreendida pelo coronel por tantos anos. Um homem firme e sem respeito humano. Que Deus o tenha em sua infinita misericórdia.

No final do ano passado constatamos que a luta pela missa não terminou, ficando evidenciado com o problema que tivemos com o nosso Arcebispo, não permitindo o uso das capelas do Hospital Militar e do Convento de São José de Chambéry pelo apostolado do IBP. Rogamos para que todos rezem pelo nosso Arcebispo.

Novamente a Associação teve participação efetiva tentando reverter a situação junto ao Arcebispo. Agendamos reunião com Dom José Antônio Peruzzo e em uma reunião de quase duas horas de duração, buscamos convencer o Arcebispo para não continuar com a ideia de afastar o IBP de nossa capital. Não conseguimos!

Um fato que nos chamou a atenção foi o respeito que ele teve com a Associação, pois sabemos que muitas reuniões na Cúria não superam os quinze minutos, mas ele escutou todas as nossas considerações, assim como apresentou sua posição em diversos assuntos discutidos, inclusive doutrinais. Ao final da reunião  deixamos um relatório assinado pela associação, com todas atividades desenvolvidas pelo IBP e apoiadas por nós.

Publicamos em nosso canal do youtube, a live completa ocorrida em nosso canal do Instagram. Divulgue o nosso canal para atingir o maior número de pessoas que amam a Santa Igreja Católica Romana e são Fiéis ao Santo Padre.

Convidados: Padre Marcos Mattke (IBP -Belém), Jorge Mattke (Presidente anterior da Associação) e Jesuan Godke (Presidente atual da Associação). Mediadora do evento: Aline de Oliveira (Fiel integrante do apostolado IBP - Curitiba) Os convidados contaram um pouco sobre o início do apostolado do grupo e as dificuldades enfrentadas na luta pela Santa Igreja Católica e pela Missa Tridentina.

Um grande abraço em Cristo e agora assista a live.

 




20 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

20 de Abril

Escolho Tudo!

Não estejamos a medir os nossos sofrimentos, a compará-los com os dos outros, a desejar este, rejeitar aquele e pedir a Nosso Senhor que deles nos poupe. O melhor e mais perfeito é não escolher, deixando que se cumpra inteiramente a Vontade Divina.

“As melhores mortificações – dizia São Francisco de Sales – não são as que escolhemos, mas as que Deus escolhe.”

A cruz que Ele talha nos vem coberta de preciosas graças, que não seriam concedidas se nós tivéssemos escolhido nossa cruz. Ou nada escolher, ou escolher tudo que Ele quiser, tudo, com generosidade, como o fez Santa Teresinha. Leônia, irmã da santa, apresentando a esta e a Celina uma cesta cheia de retalhos, fitas e galões, disse-lhes:

“Tomem lá e escolham.”

Celina escolheu um novelo de cordão. Teresinha, porém, refletiu e exclamou:

“Eu cá escolho tudo”.

Ao lembrar esse episódio de sua infância, na História de uma alma, comenta o Anjo do Carmelo:

“Neste episódio vejo resumida a minha vida. Quando, mais tarde, descobri os caminhos da perfeição, compreendi que, para se chegar a ser santa, é necessário sofrer muito, ambicionar sempre o que há de mais perfeito e esquecer-se de si mesma. Entendi que há numerosos graus na escola da santidade, e que cada alma é livre de fazer pouco ou muito por seu amor, de escolher, numa palavra, entre os diversos sacrifícios que lhe pede. Exclamei, então, como outrora, na quadra infantil: “Escolho tudo!” Não me amedronta ter que sofrer por Vós! Escolho tudo O que Vós quereis!”.

Que generosidade! Não quereis escolher tudo que Nosso Senhor vos mandar do Céu com a cruz?

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃o

19 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

19 de Abril

Deus tarda mas não Falha

Assim diz o povo, cheio de confiança na Divina Providência. De fato, experimentamos, a cada passo, os efeitos da Misericórdia Divina, sempre solícita em nos socorrer. Deus tem a sua hora e é mister esperá-la. Nossa oração deve ser perseverante e humilde. A impaciência e a revolta afastam-nos a graça.

“Não vos desespereis – diz o Pe. Luiz Dupont – quando Vosso Pai Celeste demora em vos atender”.

Quando Deus tarda é porque nos prepara surpresas de Sua bondade e misericórdia. Ele não é só Pai, mas é o mais solícito e carinhoso dos pais. Esperemos. Tudo quanto Ele faz tenho-o repetido mil vezes – é para nosso bem; se nem sempre para o bem temporal, sempre, sempre, para o bem eterno. Por que nos desesperarmos? Seria loucura. Santa Mônica, cheia de dor, rezou durante quase vinte anos, pedindo uma graça exclusivamente de interesse da glória de Deus: a conversão de Agostinho, seu filho. E não desanimou. Que bela recompensa de tão longa espera! Teve o filho batizado, bom cristão, sacerdote, bispo, doutor da Igreja e santo. Deus tardou mas foi generoso. Tantos anos de lágrimas e orações foram generosamente, super abundantemente pagos!

Quando se trata com Deus, não se perde em esperar. Ao contrário, lucra-se tanto quanto mais se espera, porque – diz o povo, com sabedoria, “Deus tarda mas não falha.”

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

1 - Deus não abondona os seus filhos - A luta pela Missa de Sempre (Tridentina) em Curitiba

Prezados Amigos, Salve Maria!

Muitas vezes não valorizamos o que recebemos, pois esquecemos que os frutos de hoje pertencem a uma árvore semeada muitos anos atrás.

Por questão de justiça, pretendemos mostrar uma história de oração, vitórias, derrotas, sofrimentos, lágrimas, dificuldades, mas principalmente de perseverança de pessoas que acreditaram que Deus não abandona os seus filhos.

Mostrar como é possível que leigos católicos possam obter de Deus, com suas orações e penitências, graças que nunca imaginamos receber. Não pretendemos seguir uma ordem cronológica e vamos oferecer muitas imagens, pois elas traduzem de forma mais clara o que a boca não consegue descrever.

Em 2015 tivemos um grande Congresso São Pio V e fomos brindados pela apresentação dos seminaristas (na época) do Instituto Bom Pastor. Cabe salientar a participação efetiva da Associação Civil São Pio V na organização do evento, oferecendo tudo o que foi necessário para a realização das palestras proferidas pelos padres e seminaristas do IBP. Uma parceria que gerou muitos frutos, culminando com a instalação da casa em nossa cidade. Um fato que poucos tem conhecimento que o pedido para a instalação definitiva da casa do IBP em Curitiba foi efetuada pela associação, antecipando a visita dos representantes (Padre Raffray e Padre Thiago) do instituto na Arquidiocese de Curitiba. Em nossa conversa com o Arcebispo Dom José Antônio Peruzzo obtivemos a garantia do apostolado e a autorização para usar a Capela Nossa Senhora das Vitórias (Capela do Hospital Militar de Curitiba). A história da Missa Tridentina em nossa capital tem um capítulo especial que envolvem a nossa associação e posteriormente o IBP. Nunca deve ser tirado o crédito de uma dezena de pessoas que iniciaram a luta pela Missa de Sempre em Curitiba desde 2004. Ofuscar ou diminuir a participação do grupo São Pio V seria uma desonestidade.

Estaremos publicando a partir de hoje, agora em nosso canal (Associação São Pio V) no youtube, a apresentação completa da Schola Cantorum Seminário São Vicente de Paulo (França). Divulgue o nosso canal para atingir o maior número de pessoas que amam a Santa Igreja Católica Romana e são Fiéis ao Santo Padre.

Um grande abraço em Cristo e agora assista a primeira apresentação.

Veni, Veni Emmanuel


 

18 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

18 de Abril

A Graça e a Cruz

Perguntaram ao santo Cura d’Ars o que era preciso para alcançar o Céu. “A graça e a cruz”, respondeu o santo. Que precisamos mais? A graça faz-nos dignos do Céu pela Misericórdia Divina; a cruz nos enriquece de méritos, desapega-nos da terra e nos ajuda a morrer para nós e a ressuscitar para a vida do Amor, que aqui começa e se consuma na glória. Deus nos promete a sua graça, mas, para que a conservemos, são-nos necessários o sofrimento, a mortificação, a paciência, a conformidade com a vontade de Deus, o que, tudo, só na cruz podemos encontrar. A graça é o diamante que o Divino Rico nos dá e que a cruz lapida, tornando-a uma joia brilhante e bela aos olhos Divinos. Ah! Como será bela, no Céu, a coroa de graças, toda cravada de diamantes lapidados nas amarguras, nas doenças, nas contradições, calúnias, perseguições e reveses! Sofrer é uma riqueza!

“Não lamentemos a sorte dos que padecem – dizia o Pe. Ravignan – mas sim a dos que padecem sem mérito.”

É lamentável, sim, que se deixe perder tanta riqueza da graça, porque se rejeita a cruz. A graça e a cruz são irmãs. A graça é a riqueza que o Rico por excelência nos dá, e que, neste mundo, precisamos colocar no Banco da Cruz, para que nos renda juros de cem por um, garantindo-nos a Vida Eterna!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

17 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

17 de Abril

Minha Coroa de Espinhos

Há pessoas que são vítimas de um mal intolerável: a dor de cabeça. Dor como a do martírio de uma coroa de espinhos. Outras, esgotadas pelo trabalho intelectual ou por preocupações e desgostos sérios, sentem-se enlouquecer de dor. Oh! Como é preciso ter paciência! A agitação aumenta o sofrimento. Para se poder suportá-lo, é mister que se encha a cabeça de pensamentos bons e consoladores!

“Não nos admiremos – dizia o mártir Santo Agapito – se a cabeça que deve ser coroada no Céu, sofra aqui na terra.”

Unamo-nos a Jesus Cristo no Pretório coroado de agudos e penetrantes espinhos, e contemplemos um quadro do “Ecce Homo”. Quão doloroso foi o suplício da coroação de espinhos! Ofereçamos os espinhos de nossa coroa de dores a Jesus, coroado de espinhos. Que tesouro de graças não podemos obter por esse sofrimento bem suportado, em união com Deus Nosso Senhor! Santa Margarida Maria sofreu, sem cessar, durante longos dias e noites, uma terrível dor de cabeça, a cujo propósito disse:

“Devo ao meu Salvador mais reconhecimento por esta coroa, que ninguém pode tirar de minha fronte, do que a que lhe deveria pela dádiva de todos os diademas do Universo. Esta coroa me põe muitas vezes na feliz necessidade de passar noites sem sono e, assim, poder pensar mais no meu Doce Jesus.”

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

16 de abril de 2022

Maria Santíssima recebe o corpo dilacerado de Jesus

É entregue a Maria o corpo dilacerado de Jesus. Não podemos imaginar a dor da Virgem naquele momento. Nunca houve mãe alguma que mais amasse o seu filho como Maria amou Jesus; o seu coração materno fora formado pelo Espírito Santo para amar a um Homem Deus. Jamais coração humano pulsou com mais ternura para com o Verbo Incarnado do que o de Maria; ela era cheia de graça e o seu amor não encontrava obstáculo ao seu pleno desabrochar.
 Depois, devia tudo a Jesus: a sua Imaculada Conceição, os privilégios que fazem dela criatura sem par, foram-lhe concedidos em previsão da morte do seu Filho. Que dor inexprimível não foi a dela, quando recebeu em seus braços o corpo ensanguentado de Jesus!
Lancemo-nos a seus pés, pedindo-lhe perdão dos nossos pecados, que foram causa de tanto sofrimento. «Ó Mãe, fonte de amor, fazei-me compreender a intensidade da vossa dor, para compartilhar da vossa aflição: fazei que o meu coração se abrase de amor a Jesus Cristo, meu Deus, para que só pense em Lhe agradar.
(Dom Columba Marmion, OSB)

15 de abril de 2022

PALAVRAS DE CRISTO NA CRUZ

Primeira palavra de Cristo na Cruz

“Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”

Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus; os soldados zombavam da Sua condição humilhante e vergonhosa; um dos ladrões blasfemava e O desafiava a provar que era o Messias descendo da Cruz.

Não havia tradição religiosa no tempo de Nosso Senhor que não
esperasse dos seus falsos deuses intervenções cheias de poder e de majestade, que não esperasse o triunfo sobre os inimigos. Não havia sentido cultuar aqueles falsos deuses senão para obter proteção e prosperidade sobre si. O culto dos deuses, nas religiões pagãs, era um culto meramente formal, exterior, era uma troca de favores: os deuses eram honrados e os homens recebiam de retorno algum benefício material.

Assim também pensavam os judeus no tempo de Nosso Senhor. O Deus de Israel havia necessariamente de obter vitórias políticas contra os gentios, o Deus de Israel havia de elevar Israel sobre todos os povos. De Deus não se esperava uma derrota, uma humilhação, porque nenhuma bênção divina poderia ser melhor que a prosperidade e o triunfo do povo eleito.

O que esta visão estreita da Providência não conseguia admitir é que Deus havia permitido o mal desde o pecado de Adão. O mal tem um lugar no plano da Providência, o mal está misteriosamente a serviço da glorificação de Deus e da nossa santificação. E se o mal tem um lugar no plano da Providência, Deus, que não pode querer propriamente o mal, pode, no
entanto, permitir males de todo tipo para deles extrair sempre um bem maior, para deles obter uma maior dilatação da Sua glória, uma maior manifestação da Sua bondade e misericórdia.

Voltemos agora o nosso olhar ao divino Crucificado. Ele é escarnecido, zombado e blasfemado por aqueles que se escandalizam com o mistério do
mal, que não admitiam um lugar para o mal no plano da Providência, que só esperavam de Deus a prosperidade e o triunfo. Aqueles homens blasfemavam, isto é, maldiziam a Deus, porque, a seu entender, se Deus permite o mal, então Ele não pode ser bom. A blasfêmia é o grito de ódio de uma alma que nega a bondade dos desígnios de Deus.

Mas o que aqueles homens não podiam perceber é que a crucifixão de Nosso Senhor é a maior manifestação da bondade de Deus no mundo. Deus não apenas permite que Seus filhos sofram o mal, Ele envia o Seu próprio Filho diletíssimo para assumir sobre Si o mistério do mal sofrendo a Paixão; e nenhum sofrimento, nenhuma dor humana no mundo foi superior aos trabalhos do Salvador durante a Paixão.

A vitória de Deus sobre o mal, portanto, é o próprio Deus sofrendo o mal; a maior manifestação da bondade de Deus no mundo é o próprio Deus sendo inundado de blasfêmias contra a Sua bondade. E o que Ele faz diante deste dilúvio de blasfêmias, zombarias e escárnios? Ele perdoa, Ele dilata ainda mais a Sua bondade e misericórdia, perdoando os blasfemadores.

A bondade de Deus, aos nossos olhos tão miseráveis de criaturas,
parece uma loucura, loucura por se servir mesmo do mal para se dilatar, loucura por procurar-nos a nós, os blasfemadores, a fim de fazer de nós filhos diletos.

Senhor, perdoai-nos, porque blasfemamos contra a Vossa bondade quando julgamos não haver bem algum em nossas cruzes—porque as cruzes contrariavam o nosso amor-próprio desordenado; perdoai-nos porque nos escandalizamos com a Vossa Cruz, com Deus crucificado por amor, porque não quisemos servir um Rei que nos obriga à renúncia de si, ao dom de si, ao perfeito esquecimento de si e tentamos por inúmeros artifícios conciliar nossos caprichos com o Vosso serviço. Perdoai-nos, Senhor, porque não sabemos o que fazemos ao fugir das cruzes que Vossa Providência nos envia, a cruz que é sinal da Vossa suma bondade e da Vossa vitória contra todo mal.

Segunda palavra de Cristo na Cruz

A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus! Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam: Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus. Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou: Senhor, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso. Amen dico tibi hodie mecum eris in paradiso.

Nós temos diante de nós a representação daquilo que nós realmente somos, e da forma como podemos agir diante da Cruz de Cristo e diante de nossas próprias cruzes. Afinal os ladrões somos nós, e da mesma forma que aqueles dois ladrões tiveram a grande graça de ser crucificados junto de Cristo – graça aproveitada somente por São Dimas, o bom ladrão -, também nós, caríssimos, também nós temos a graça de poder sofrer a cruz junto de Cristo.

Olhando esses dois ladrões, devemos reconhecer, seguindo o exemplo de São Dimas, que nós merecemos muito, mas muitos castigos por nossos pecados. Como exclamava outrora da cátedra de Poitier sua Eminência o Cardeal Pie, o homem pecador merece somente três coisas, sofrer, morrer e ir para o inferno. E se nós contemplamos hoje um espetáculo atroz, daquele que é a própria inocência, injustamente condenado, daquele que é a própria bondade, tão flagelado, daquele que é a própria santidade, escarnecido, daquele é fonte da vida, agonizante; se contemplamos tudo isso, contemplamos o que fizemos nós mesmos, que fizeram os nossos pecados, as nossas infidelidades a Deus, a nossa preferência pelo mundo, pelos seus prazeres, pelos seus entretenimentos, pelos seus passatempos, que nos fazem jogar fora o tempo que Deus nos dá, e nos fazem desprezar o sangue que ele derramou por nós.

Caríssimos, vejamos bem o que acontece na cruz, fomos nós que fizemos isso cada vez que nós pecamos gravemente. Foram nossos pecados que o colocaram na cruz. Mas se nós somos culpados, confessemo-lo. Confessemos essa culpa e, como Cristo não nos deixa, aproveitemos a oportunidade da
penitência.

O que faz São Dimas, caríssimos? Ele aproveita a graça que lhe é dada e olha a Cristo com os olhos da fé. Ele confessa a realeza daquele que se encontra despido, flagelado e agonizante na Cruz. Ele compreende que a realeza de Cristo não é a realeza do mundo e que a porta pela qual
ele entrará no seu reino é aquela Cruz. Ele o reconhece como sendo o seu Senhor, do qual ele se faz servo, e ao qual ele se submete em uma verdadeira vassalagem. Ele suplica da benignidade de Cristo que se lembre dele e lhe de alguma coisa, o que Cristo quiser lhe dar. Ele se entrega inteiramente à bondade divina de Cristo. Vejam bem, caríssimos, a fé, a confiança, o amor, a humildade e a devoção desse bom ladrão. Ele não coloca nenhuma condição, não diz a Cristo “se puderdes, pois sabe que nada lhe é impossível”; também não diz “se quiserdes”, pois está certo da caridade e da misericórdia daquele que perdoara seus carrascos; também não pede uma parte no Reino, pois, em sua humildade, não se julga digno; não pede ainda nada terreno, pede que lhe seja dado o que é do alto, aquilo que Cristo pode lhe dar quando estiver no reino; enfim, não pede nada em particular, ele confia na bondade de Cristo que lhe dará aquilo que lhe
é o necessário, como se dissesse, basta que olhes para mim em sua misericórdia. Enfim, como Cristo se dá inteiramente por ele, ele se abandona inteiramente a Cristo, pois só Deus basta.

Caríssimos, vejamos como Cristo é bom, e o quanto importa nos entregarmos inteiramente a ele e servirmos a ele, a ele que nos deu tudo, nos deu a existência e nos oferece, com seu sangue, a vida eterna. Vejamos como, mesmo com tantas maldades nossas, ele, em sua bondade, ainda assim nos promete o céu se confessarmos nossos pecados, nos arrependermos, recorrermos a ele, reconhecendo-o como nosso redentor, e, com ele suportarmos nossas cruzes. Cruzes teremos sempre, e diante de cruzes maiores, flagelos maiores, como nos dias que estamos
vivendo, demos graças a Deus, pois é a oportunidade de amarmos mais e repararmos mais, como tão bem fez São Dimas, o bom ladrão, que, amando muito, piedosamente roubou o céu.

Terceira palavra de Cristo na Cruz
Mulher, eis aí teu filho. Eis aí tua Mãe

Simeão havia profetizado que uma espada de dor transpassaria a alma da Santíssima Virgem (cf. Lc. II, 35). Esta espada de dor, em certo sentido, foi a lança com a qual o centurião feriu o lado de Nosso Senhor. A lança feriu o lado, mas não produziu nenhum sofrimento ao Salvador, que já havia rendido o espírito. Ao abrir o lado do Salvador, a lança fere, na verdade, a alma de Nossa Senhora; ao penetrar a carne do Salvador, a lança fere de dor o Coração de Maria Santíssima, fere a Mãe ao rasgar o Filho.As dores de Maria Santíssima são um paraíso para a alma devota, um paraíso de amor e de dor, que nos atrai irresistivelmente a amar e a sofrer com ela.

Isso porque, ao pé da Cruz, o amor infinito de Nosso Senhor reverbera, compenetra e inebria a alma de Nossa Senhora, o que é uma grande consolação para a humanidade pecadora: enquanto o Coração imaculado de Maria recolhe os frutos da Paixão, recolhe o Sangue do Cordeiro, podemos lucrar da Paixão no Coração de Maria Santíssima, podemos recolher nela o que perdemos por nós mesmos, podemos beber do Sangue do Cordeiro banhando-nos nas lágrimas da Mãe dolorosa.

De fato, o que são as dores de Nossa Senhora senão o mais profundo eco, o mais límpido espelho da Paixão de Nosso Senhor? Sem a Santíssima Virgem ao pé da Cruz, algumas almas se lançariam no desespero diante do amor infinito de Nosso Senhor, infinitamente distante da nossa miséria, enquanto outras almas cairiam na presunção de já terem feito o suficiente.

Todavia, a Santíssima Virgem estando ao pé da Cruz, ela recolhe em seu Coração todas as dores de Nosso Senhor e as imprime no coração dos seus filhos e devotos. A lança que abriu o lado de Nosso Senhor feriu o Coração de Maria Santíssima de dor e de amor, e não é possível ser devoto de Nossa Senhora sem ser atraído irresistivelmente à dor e sem ser inebriado de amor pelo divino Crucificado.

Mas de todas as dores da Paixão, qual dor poderia ser maior do que o próprio Filho crucificado dizendo à Mãe: “Eis aí teu filho”? Que dor poderia ser maior do que o Filho anunciando a Sua separação da Mãe, o Filho anunciando que um discípulo, uma criatura, seria o substituto de Deus encarnado na vida da Mãe? “Eis aí teu filho.” Nada poderia mortificar mais o Coração de Nossa Senhora do que se separar do seu divino Filho. Ela, porém, o aceita, porque em São João estão representados todos os filhos que Maria Santíssima deverá gerar para Deus, moldando em nossa alma o Coração do seu próprio Filho, Coração que uma vez foi tecido em seu puríssimo ventre.

O anúncio da Vossa separação fez sofrer sobremaneira a Santíssima Virgem. Nós, porém, Senhor, separamo-nos de Vós inúmeras vezes pelos nossos numerosos e graves pecados, e à diferença do puríssimo Coração de Vossa Mãe, a ausência de Deus não nos causou nenhuma dor, nenhum sofrimento; nós também nos revoltamos incontáveis vezes contra as desolações na vida espiritual, quando Deus fez silêncio e parecia estar ausente. Que Vossa Mãe faça arder o nosso coração, que ela o torne mais parecido com o dela, porque somente assim permaneceremos fiéis ao Vosso Coração durante as desolações e não abandonaremos o Vosso amor para procurar algum amor deste mundo. Fac ut ardeat cor meum, fazei arder o meu coração, ó minha Senhora e minha Mãe.

Quarta palavra de Cristo na Cruz

E, chagada a hora nona, ou seja, para nós três horas da tarde, Nosso Salvador exclama com uma grande voz, Elí, Elí, lama sabactani, ou seja, Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?

Eis que as trevas cobriam a terra já há três horas, quando Nosso Senhor soltou esse grito, primeira palavra dos momentos maiores e finais de sua agonia. Com essas palavras ele expressa quão enorme é a sua dor, quão enorme é a sua angústia por carregar em sua carne todos os pecados de todos os tempos e de todo o mundo. E, assim sendo, caríssimos, como diz Santo Afonso, “ainda que pessoalmente fosse o mais santo de todos os homens, tendo de satisfazer por todos os pecados deles, era tido pelo pior pecador do mundo e como tal fez-se réu de todos e ofereceu-se para pagar por todos. E porque nós merecíamos ser abandonados eternamente no inferno, no desespero eterno, quis ele ser abandonado ou entregue a uma morte privada de todo o alívio, para assim livrar-nos da morte eterna”. Ao se encarnar, ele, com efeito, tomou a nossa natureza, fazendo-se semelhante a nós em tudo, exceto no pecado. Faz-se semelhante a nós em tudo, inclusive em nossas fraquezas, dores e angústias. E qual não é a angústia do Santos dos Santos ao sentir em sua carne o peso atroz de tantas ofensas, malícias e verdadeiras podridões. Qual não é sua angústia e tristeza ao ver tantos homens desprezarem e jogarem ao chão o sangue precioso derramado amorosamente pelo Senhor? Consideremos, caríssimos, quantas vezes não somos nós culpados desse grito de angústia do Senhor, quando pelos pecados graves rejeitamos e desperdiçamos o sangue que ele derramou por nós?

E tudo o que o Redentor diz a partir de agora, ele o diz sob as trevas que por intervenção divina cobrem o mundo, maravilhando até mesmo os pagãos, como os gregos Phlegon e Apolófano, bem como o autor dos Anais da época de Pilatos, citado por Rufino. São Leão Magno vê nessas trevas, a cegueira orgulhosa do povo judeu que cometia naquele instante o ato mais abominável, o deicídio. São Jerônimo vê a enormidade do pecado que era cometido. Ora, caríssimos, quantas vezes não nos cegamos para as oportunidades que Deus dá a nós de repararmos um pouquinho por nossos pecados? Seja por uma reprimenda mal recebida e não seguida, por um bom conselho ignorado, por um conforto retirado, por um desconforto, por uma tribulação que aparece a nós, e nós só pensamos em nosso orgulho ferido? Quanta vezes estamos mais interessados no prazer do pecado, no conforto de deixar para lá alguma obra espiritual, e nos cegamos para a angústia que causamos a Cristo? Quantas vezes não nos portamos como esse povo deicida, cegando-nos para Cristo, fazendo-o sofrer e matando-o em nossa alma?

Consideremos o quanto nossos pecados o fazem sofrer! Lembremos que do alto da cruz ele pensou em cada um de nós, em cada pecado nosso que estava lá ele expiando, para que pudéssemos ter com ele o céu!

Vejamos, caríssimos, o quanto quis Nosso tão Bom Senhor sofrer por nós: vamos por acaso
aumentar a sua angústia? Ou vamos buscar consolá-lo, e isso com verdadeiro espírito de
penitência e oração? Ao pecarmos, imediatamente peçamos perdão, e busquemos o quanto antes a confissão. Ao vermos alguém pecar, façamos imediatamente uma reparação, com uma jaculatória, como oração. Consolemos, consolemos o sagrado Coração que tanto nos amou!

Quinta palavra de Cristo na Cruz

“Tenho sede”

Se a Paixão de Nosso Senhor consistisse apenas na flagelação, já seria suficientemente horrível, de uma violência impressionante. O açoite romano, o flagellum, era composto de várias tiras de couro, às quais se atavam minúsculas bolas de ferro ou fragmentos de ossos a vários intervalos. E como os algozes açoitaram sem piedade o delicado corpo do Salvador, o flagelo romano causava tanto contusões profundas quanto rasgos de pele; e à medida em que a flagelação avançava, as lacerações cortavam até os músculos e produziam tiras sangrentas de carne rasgada. Nosso Senhor foi praticamente triturado durante a Paixão. Como diz o profeta Isaías: “[...] ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades.” (Is. LIII, 5)

Tamanha violência na flagelação foi o início da perda do Sangue do Salvador. Para compensar tal perda, o organismo precisa aumentar o ritmo cardíaco. A respiração também acelera, o pulso enfraquece, a pele esfria e a sede aumenta. Quando Nosso Senhor disse, do alto da Cruz: “Tenho sede”, sintoma do choque hipovolêmico, podemos presumir que aquele não foi o início, mas o ápice da Sua sede, porque naquele momento Ele já havia perdido um grande volume de Sangue, desde que a Sua carne foi cruelmente aberta na flagelação. Se José de Arimatéia se apressou para descer o Corpo de Jesus da Cruz e sepultá-Lo, isso se deve não apenas porque era preciso guardar o repouso do sábado desde o entardecer da sexta-feira, mas também porque segundo a tradição judaica, o sangue do morto faz parte dele e deve ser sepultado com ele. Os amigos de Nosso Senhor temiam que Ele não tivesse mais Sangue ao sepultá-Lo e por isso se apressaram.

A morte por crucifixão é uma das piores mortes das quais se tem notícia, porque o crucificado sente instante por instante sua vida se esvair com a perda de sangue, e por causa da perda de sangue, soma-se o sofrimento de uma sede ardente, da qual nenhum de nós teve experiência.

Nosso Senhor tem sede, porque na Cruz, Seu Sangue escorre lentamente das feridas e das chagas. Mas é preciso considerar que, de uma certa maneira, Ele também tem sede durante a Santa Missa. Quando o sacerdote consagra separadamente o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor, esta separação mística do Corpo e do Sangue torna presente sobre o altar o mesmo Sacrifício da Cruz, com a diferença, porém, de que o Sacrifício da Cruz se torna presente de maneira incruenta, isto é, sem sofrimento. A sede de Nosso Senhor, de certa maneira, durante a Missa, quando o Seu Corpo e Seu Sangue são misticamente separados não é a sede física, é a sede das almas. Durante a Missa, não precisamos dar de beber Nosso Senhor com água, mas com nosso coração, nossos afetos, nossa alma, nosso ser. Ele disse: “[…] quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim.” Ele tem sede do dom inteiro da nossa pessoa, Ele tem sede de verter a Sua caridade em nossa alma, como a alma da Sua Santíssima Mãe esteve inebriada de caridade.

Quantas vezes, Senhor, prometemos dar-Vos de beber com o nosso coração, e quantas vezes retiramos de Vossas mãos este mesmo coração porque queríamos nos saciar de criaturas. Vós tendes sede, e no entanto, sois Vós mesmo a água viva. A nós cabe ouvir aquelas palavras que dissestes à samaritana: “Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva.” Dai-nos, Senhor, da Vossa água viva, para que peçamos sempre desta água e saciemos a Vossa sede de almas.

Sexta palavra de Cristo na Cruz

_Tudo está consumado _

Cristo diz tudo está consumado. Ele cumprira todas as profecias: encarnara-se para publicar a Nova e Eterna Aliança, com seu sacrifício perfeito, e, com sua morte, redimir o gênero humano. Com essas palavras indica a iminência de sua morte e que tudo aquilo que fora anunciado havia sido cumprido. Sela, Nosso Senhor, todas as profecias a respeito de sua obra redentora. O amargo cálice de sua Paixão, do qual deveria beber até o fim para satisfazer a vontade do Pai Eterno, encontrar-se-ia então vazia. Tudo estava consumado. Nesse momento, diz Santo Afonso, Jesus, antes de expirar, pôs diante dos olhos todos os sacrifícios da antiga lei (todos eles figuras do sacrifício da cruz), todas as súplicas dos antigos padres, todas as profecias realizadas na sua vida e na sua morte, todos os opróbrios e ludíbrios preditos que ele devia suportar, e vendo que tudo se havia realizado, disse: Tudo está consumado. O poder que havia sido dado aos pérfidos homens e aos demônios para dar curso a sua sanha contra Nosso Senhor seria então cassado, diz São João Crisóstomo, e assim consuma-se a derrota da morte, do pecado, do demônio e dos maus, e a vida é dada aos filhos de Deus. Como diz São Leão Magno, é sua vitória, e a vitória da Igreja que é consumada.

Pois bem, caríssimos, é a vitória da Cruz que é consumada. É nossa vitória que é consumada.
Mesmo diante das mais pesadas cruzes, mesmo diante da sanha dos inimigos da nossa alma e da Santa Romana Igreja, mesmo no mais austero dos desertos, não temos o que temer, pois Cristo vence, Cristo reina e Cristo impera. Como bem diz Santo Agostinho, caríssimos: “O que te ensinou pendente da cruz, não querendo dela descer, senão que fosses forte em teu Deus? Jesus quis consumar o seu sacrifício com a morte, para nos persuadir de que Deus não recompensa com a glória senão aqueles que perseveram no bem até ao fim, como o faz sentir por S. Mateus: “Quem perseverar até ao fim será salvo”. Quando, pois, ou seja por motivo de nossas paixões ou das tentações do demônio ou das perseguições dos homens nos sentirmos molestados e levados a perder a paciência e a ofender a Deus, olhemos para Jesus crucificado que derrama todo o seu sangue por nossa salvação e pensemos que nós ainda não derramamos uma só gota por seu amor. É o que diz S. Paulo: Pois ainda não tendes resistido até ao sangue combatendo contra o pecado”. Ouçamos bem caríssimos. É na cruz, caríssimos, que também nós consumaremos nossa vitória.

Sétima palavra de Cristo na Cruz

“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”

Depois de ter sofrido Sua cruentíssima e crudelíssima Paixão, estando já pendurado no madeiro desde a hora terça, isto é, as nove da manhã, ferido pelos açoites, afligido pela coroa de espinhos, machucado pelo carregamento da Cruz até o alto do Calvário, extenuado pela perda contínua de Sangue, perfurado por pregos, tendo que apoiar-Se nos próprios pés cravados para tomar ar, num esforço violento de sobrevivência, Nosso Senhor pronuncia a Sua última palavra ao dizer “Pai”.

Não fazia muito tempo que Ele havia Se despedido da Sua Mãe, entregando-Lhe o discípulo amado como Seu substituto, quando a dor da separação dilacerou o Seu Coração de Filho. Mesmo os atrozes sofrimentos da Paixão não podiam superar a dor de alma de Nosso Senhor diante da compaixão de Nossa Senhora. Mas Sua última palavra, Seu último discurso se dirige ao Pai. Os príncipes dos sacerdotes, os soldados e o ladrão impenitente blasfemavam contra Nosso Senhor, desafiando-O a descer da Cruz. Ele, por Sua vez, não desce da Cruz e não pede para descer da Cruz; mesmo estando imerso num oceano quase infinito de dores, Ele Se dirige a Deus e O chama de Pai.

Nosso Senhor Se dirige a Deus e O chama de Pai, o Pai que, no Horto das oliveiras, não afastou dEle o cálice de dor da Paixão, apesar da Sua oração insistente, apesar da agonia mortal do Salvador. Nosso Senhor bebeu do cálice de dor até a última gota; não houve sentido Seu que não tivesse sofrido durante a Paixão, desde o tato ao paladar; Seus membros, Suas faculdades de alma, toda a Sua Humanidade, em suma, foi reduzida a dor e sofrimento. O Pai quis que Ele bebesse deste cálice até a última gota, e o Salvador não hesita em chamá-Lo de Pai, entregando-Lhe em Suas mãos o espírito.

A confiança filial de Nosso Senhor é inabalável, porque Ele tem ciência de que Deus é Pai não porque nos livra de todo sofrimento, mas porque nos glorificará após o sofrimento. A filiação divina de Jesus vem da Sua natureza divina, Ele é Filho de Deus porque gerado pelo Pai desde toda a eternidade.

Todavia, pelos méritos da Sua Paixão, Ele nos dá a graça e o exemplo para adquirirmos um título cada vez superior de filiação adotiva por meio do sofrimento aceito por amor. O “segredo” da santidade é a nossa configuração em Cristo crucificado, pela qual o Pai nos ama com amor semelhante ao amor
que Ele depositou em Seu Filho crucificado. A recompensa do sofrimento aceito por amor, de uma generosa configuração ao Cristo crucificado, é poder dizer como Ele disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”, é poder chamar a Deus de Pai e esperar deste Pai amorosíssimo que Ele nos consuma de caridade, que Ele nos faça semelhantes a Si mesmo, isto é, que Ele nos faça bons como Ele é bom.

Ó bom Jesus, extirpai da nossa alma o temor do Pai e dos Seus amorosos desígnios. Dai-nos daquela mesma confiança inabalável pela qual Vós aceitastes beber o cálice de dor da Vossa Paixão e por fim entregar o espírito nas mãos do Pai. Dai-nos daquela mesma confiança inabalável, pela qual recebemos todos os sofrimentos, especialmente aqueles que mais nos contrariam, como vindos do mais amoroso e bondoso dos pais, do Vosso Pai, que é Pai Nosso.

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

15 de Abril

Em Liberdade

Ninguém é mais livre do que a alma inteiramente abandonada à Vontade de Deus. Nada a perturba e embaraça. Luta, sofre, trabalha, sempre feliz, numa paz inalterável. As almas imperfeitas sofrem muito. Uma palavrinha as perturba, qualquer moléstia ou contrariedade as atira num mar de aflições e queixas desesperadas. A alma abandonada, confiante, só tem um ideal: fazer a vontade de Deus. Passará da saúde para a doença, da secura para as consolações, da calma para a tentação, dos reveses da sorte para a prosperidade, sempre conformada, humilde, feliz por cumprir a Vontade Daquele que tudo dispõe, neste mundo, para nosso bem.

É a santa liberdade dos filhos de Deus, dos discípulos fiéis da cruz.

“Se há alguma coisa – diz Bossuet – capaz de tornar livre um coração, é o perfeito abandono a Deus, à Sua Santíssima vontade”.

A mortificação, o espírito de sacrifício, a humildade provada das humilhações, ajudam-nos muito na conquista dessa liberdade do coração. Vamos romper as cadeias que nos prendem a este eu orgulhoso e tirano, que nos escraviza. E cantaremos então como o salmista:

“Quebrai, Senhor, minhas cadeias. Eu Vos sacrificarei uma hóstia de louvor!”

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

MEDITAÇÃO PARA SEXTA-FEIRA MAIOR

E eis que estamos na Sexta-feira Maior, com um antiquíssimo e belíssimo ofício chamado de Missa dos Pré-Santificados. Ofício que está dividido em três partes, como toda Missa: pré-missa, a ação do sacrifício e a comunhão; hoje encontramos uma celebração tripartida, semelhante à da Missa. Em vez da Consagração, realiza-se a Elevação e Adoração da Cruz. A primeira parte é uma pré-missa, é mesmo um venerável monumento da missa dos catecúmenos na antiga liturgia; a segunda parte é a adoração da Cruz, ponto alto do dia; a terceira parte é a comunhão do celebrante. A liturgia chama este ofício de Missa dos Pré-santificados pois que a hóstia foi consagrada no dia anterior.

O ofício começa com uma pré-missa antiga, como eram celebradas durante os primeiros quatro séculos. Não havia introito, os sacerdotes prostravam-se silenciosamente nos degraus do altar. Havia três leituras entre as quais salmos inteiros eram cantados como cânticos intermediários e a oração pelas necessidades gerais dos cristãos. A primeira parte do Ofício da Sexta-feira Maior preservou esta antiga prática. A primeira lição (do profeta Oséias) deve nos colocar nos sentimentos de tristeza e arrependimento apropriados para este dia. Ela também nos faz ouvir, já, o anúncio da festa da Páscoa: “Ele nos dará vida nova em dois dias; ao terceiro dia nos ressuscitará”.

Canta-se então um trato retirado de Habacuc: “Senhor, eu ouvi vossa mensagem e temo; Considerei vossas obras e estremeci. Vós sereis encontrado no meio de duas criaturas”. O Profeta vê com horror o espantoso espetáculo da crucificação: "o Senhor" entre dois malfeitores.

A segunda lição nos mostra o tocante símbolo do cordeiro pascal. Este símbolo é realizado hoje. O verdadeiro Cordeiro Pascal, Cristo, é morto. Não é por acaso que Jesus ofereceu seu sacrifício no próprio dia da festa da Páscoa dos judeus; às três horas, exatamente quando os cordeiros da Páscoa estavam sendo mortos no templo, o Senhor expirou. O canto salmódico que se segue descreve a traição de Judas e a Paixão de Jesus.

Agora, depois do símbolo do cordeiro Pascal, ouvimos o relato da realidade e o cumprimento deste símbolo: canta-se a Paixão. Desta vez, a Paixão nos é contada pelo discípulo predileto de Jesus, o Apóstolo São João, que junto com a Santíssima Virgem esteve junto à Cruz e foi testemunha ocular destes grandes acontecimentos. Enquanto os outros evangelistas descrevem sobretudo o lado humano da Paixão, São João mostra-nos o Salvador sofrendo como Deus, como Rei. Seu relato da Paixão tem um caráter de grandeza e poder: o Rei no trono da Cruz.

Três intérpretes se nos apresentaram até agora: o Profeta, a Lei, o Evangelista. Passamos, agora, às antigas intercessões por todos os estados da humanidade. É hoje que estas orações são particularmente apropriadas: Jesus, o Rei do Reino de Deus, foi “ressuscitado” e agora “ele atrai tudo para si”. Jesus, o segundo Adão, dorme o sono da morte, e do seu lado sai a segunda Eva, a Igreja. Nas intercessões, rezamos primeiro pela Igreja, a Esposa de Cristo; rezamos por todos os estados, mesmo por cismáticos e hereges. A cada vez, o sacerdote e o povo se ajoelham ao chamado do diácono: Flectamus genua (dobremos os joelhos). Levantamo-nos então a convite do subdiácono: Levate (Levantai-vos). A genuflexão é omitida apenas no momento da oração pelos pérfidos judeus, isto é, infiéis, porque, naquele dia, eles se ajoelharam em escárnio diante de Cristo. Eis a ordem destas orações: rezemos pela Santa Igreja, pelas Ordens eclesiásticas e pelas várias classes de cristãos leigos, pelos catecúmenos, pelas necessidades espirituais e temporais de todo o mundo, pelos cismáticos e hereges, pelos os judeus e finalmente para os gentios.

O ponto alto do ofício é a adoração da Cruz, sinal da nossa salvação. Esta cerimónia também é muito antiga e teve origem em Jerusalém, onde se honrava e beijava o madeiro da verdadeira Cruz. O sacerdote depõe seus ornamentos, coloca-se ao lado da Epístola e começamos a desvelar solenemente a cruz. Se a Cruz está velada desde o Domingo da Paixão, é para que a Igreja possa desvelá-la solenemente, hoje, numa cerimónia impressionante. O diácono descobre a imagem do Crucificado três vezes, e cada vez o sacerdote entoa em tom cada vez mais alto: "Eis o madeiro da Cruz, no qual pendeu a salvação do mundo". O canto é continuado pelo coro, e as pessoas caem de joelhos cantando: “Vinde, adoremos”.

A cruz colocada sobre uma almofada é então colocada nos degraus do altar. O celebrante e os eclesiásticos tiram os sapatos, aproximam-se da cruz depois de três genuflexões e beijam os pés de Cristo para honrar o Salvador e o sinal da nossa redenção. O povo também se aproxima e vem beijar a cruz. Meus caros, adoremos o rei ensanguentado e coloquemos toda a nossa alma em nosso ósculo. Durante a adoração da Cruz, o coro canta um cântico impressionante. Estes são os "impróprios", as queixas e reprovações de Jesus ao seu povo infiel. Em suas queixas, doces e fortes, ele lembra ao seu povo as bênçãos que ele concedeu a eles no Antigo Testamento e a ingratidão que ele recebeu em troca. Estas queixas dirigem-se também a nós e exortam-nos, perante a morte de Cristo, a uma conversão séria. Ouvimos constantemente esta queixa: “Meu povo, o que eu fiz para você, e como eu entristeci você? responda-me ". É difícil encontrar um canto mais tocante que esse, uma cena mais terrível. Há ainda outra canção muito mais antiga que celebra a divindade daquele que se encontra crucificado. É cantado em duas línguas, grego e latim: “Agios o Theos — Sanctus Deus” — Santo Deus, santo e forte, santo e imortal, tende piedade de nós. É uma magnífica homenagem a Deus, na presença do sinal triunfal da Redenção. Enfim, canta-se até um hino de alegria à Cruz e à Redenção. “A tua Cruz, Senhor, nós adoramos, louvamos e glorificamos a tua santa Ressurreição; eis que por causa do madeiro da Cruz, a alegria chegou ao mundo inteiro”.

A terceira parte da liturgia da Sexta-feira Maior é a comunhão do celebrante. O santo sacrifício foi omitido hoje desde os primeiros tempos, mas não se abre mão da presença de Cristo. Por isso, na missa de ontem uma hóstia foi consagrada e reservada para a comunhão de hoje. Esta comunhão sem sacrifício prévio — que aliás acontece com frequência entre os gregos durante a Quaresma — chama-se Missa dos pré-santificados

Em procissão solene, o cálice com a hóstia consagrada é retirado da capela onde foi carregado ontem e levado de volta ao altar-mor, cantando o "Vexilla Regis”, hino de triunfo que celebra "avanço do estandarte do Rei". Queremos assinalar hoje, cantando este hino, que carregamos o corpo imolado de Cristo, o mesmo que pendeu na Cruz. O celebrante coloca a hóstia no corporal. O diácono derrama o vinho e o subdiácono derrama a água no cálice. Este vinho, hoje, não será consagrado e será usado apenas para abluções.

Em seguida, o sacerdote incensa a hóstia e o altar, como em todas as missas solenes. Ele lava as mãos em silêncio. Ele recita a oração de oferenda pessoal (In spiritu) e o Orate fratres que não é respondido. Faz parte do Ofertório. O sacerdote imediatamente começa o Pater e recita o Libera em voz alta. Ele então levanta a hóstia com a mão direita para mostrá-la ao povo, faz a fração habitual da hóstia, recita a última das orações preparatórias para a comunhão (porque, nesta última, trata-se apenas da recepção da hóstia, o corpo) e, depois dos três “Domine, non sum dignus”, recebe a comunhão. Ele é o único a comungar pois ele, enquanto sacerdote, é outro Cristo, e assim ele se une ao sacrifício do Altar - mas a tristeza e o luto deste dia, em que Cristo é desfigurado, sofre, morre por nossos pecados e é sepultado, apartando-se de nossas vistas, levam a Igreja a restringir a comunhão dos fiéis somente ao santo viático, em caso de risco de morte. O sacerdote então bebe o vinho e purifica o cálice. Assim termina a cerimônia de comunhão.

Eis a Sexta-feira Maior: nas matinas, consideramos Cristo em sua humilhação humana, “como um verme, o desprezo dos homens”. Na Missa dos pré-santificados, ele se apresenta a nós como Redentor e como Rei no trono da Cruz. Este aspecto encontra-se nas três partes: na primeira parte, com a Paixão de São João e as intercessões; na segunda parte, com o desvelamento e adoração da Cruz; na terceira parte, com a cerimônia de comunhão onde Cristo é o Cordeiro morto, mas glorificado. Há uma progressão nestas três partes: a morte do Senhor na Cruz é representada na primeira parte da pré-missa (o Profeta, a Lei, o Evangelho); na segunda parte, pela ação e símbolo, na terceira parte pelo sacramento.

14 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

14 DE ABRIL

O BRAÇO DA MISERICÓRDIA

Conta-se, na vida prodigiosa de Santa Catarina de Racconigi, da Ordem Terceira de São Domingos, morta em 1547, que a Santa vira Nosso Senhor de tal modo crucificado, que um braço estava mais longo do que o outro. Jesus lhe disse então que o braço mais curto representava a Sua Justiça e o mais longo a Sua Misericórdia. “Eles são iguais, minha filha, disse o Crucificado – mas neste século corrompido, a misericórdia se estende mais do que a justiça”. Sim, vivemos no tempo da misericórdia. Quanto maior é a ingratidão dos homens, maior é a Misericórdia Divina. Nosso Senhor quer vencer-nos nesta batalha terrível da nossa maldade contra a Sua bondade, da nossa miséria contra a Sua misericórdia. Ah! Não desça sobre nós o braço terrível da Justiça Divina! Quem poderia subsistir ante o rigor dessa Justiça Eterna? Desça, sim, o braço da Misericórdia. Ele é bem longo, alcança a terra, chega até as profundezas do abismo insondável de nossa miséria.

Mais ainda do que no século de Santa Catarina de Racconigi, o Vosso braço de Misericórdia, ó Jesus, deve socorrer-nos e sustentar. Mistério de Amor! Quanto maior é o pecado dos homens, quanto mais Vos fere a nossa ingratidão, tanto mais nos amais e nos cumulais dos tesouros de Vossas misericórdias!

Braço Divino da misericórdia, descei sobre nós!

Mᴏɴsenhor Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

MEDITAÇÃO PARA QUINTA-FEIRA MAIOR

Meus caros conspícuos, a missa da Quinta-feira Maior tem uma importância particular,:é a comemoração da instituição da Sagrada Eucaristia e do sacerdócio. Esta missa é bastante impressionante e tocante. Na Igreja, estamos como que reunidos no Cenáculo, ao redor do Mestre que lava nossos pés e nos dá, com seu corpo e seu sangue como alimento. A Missa apresenta uma dupla tonalidade, uma expressão de alegria e uma expressão de tristeza. Em primeiro lugar, é um sentimento de alegria. O altar é adornado; a cruz do altar-mor é velada de branco; o sacerdote sobe ao altar com ornamentos brancos; cantamos a alegre Glória que há tanto tempo não ouvíamos; durante o Glória, os sinos são tocados pela última vez e então são silenciados. Há poucos dias no ano que nos tocam tanto o coração, mas nesta alegre festa, dedicada à instituição do Sacramento do Altar, estende-se um véu de profunda tristeza. Hoje, em todas as igrejas, é permitida apenas uma missa. O sacerdote mais digno substitui Cristo; os outros são, por assim dizer, os Apóstolos e recebem a Sagrada Comunhão de suas mãos; a Missa é, de fato, a celebração da Última Ceia.

No intróito cantam-se as fortes palavras de São Paulo: "Devemos nos gloriar na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo..." Vemos diante de nós toda a felicidade da redenção. Quase esquecemos a amargura da Paixão por já ver a Ressurreição. O pensamento da Ressurreição, que já ouvimos no Introito, continua na Oração e no Gradual (“por isso Deus o exaltou”). A Missa, portanto, já pertence à páscoa.

A oração traz à tona dois novos pensamentos que estão ligados a duas pessoas, o bom ladrão e Judas. O bom ladrão representa os penitentes que hoje se reconciliam. É por isso que o Ofertório canta em seu nome: "Não morrerei, mas viverei e contarei as obras do Senhor". O pensamento de Judas e sua reprovação hoje ocupa a liturgia em algumas passagens; na Epístola (pelo menos, por alusão, quando fala de comunhão indigna); no Evangelho (“quando o diabo já havia inspirado Judas Iscariotes com o pensamento...”); no Cânon, inclusive, fica patente o contraste: “o dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo foi entregue por nós (traditus)”: — “por causa do dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo entregou a seus discípulos a celebração dos mistérios de seu corpo e seu sangue (tradit)”.

O Evangelho nos fala do ato de humildade de Jesus no lava-pés e do preceito da caridade fraterna que ele nos dá. As duas leituras são um testamento do Mestre no momento de sua partida. Ele nos dá o seu corpo e o seu amor. No entanto, hoje, omite-se o ósculo da paz, para que não seja feita alusão ao beijo traidor de judas no dia mesmo da pérfida traição.

A comunhão une a memória das duas grandes provas de amor dadas pelo Senhor neste dia: a Eucaristia e o lava-pés. É o lava-pés que é o tema da antífona. Há um significado profundo nisso. Não podemos imitar o dom eucarístico, mas podemos e devemos imitar o exemplo dado no lava-pés: caridade e sacrifício pelos irmãos. Esta caridade é a expressão e a consequência da nossa união com Cristo fundada na Eucaristia.

Após a missa, a hóstia consagrada para o dia seguinte é levada, juntamente com a reserva sagrada, para uma capela lateral: o Esposo é removido, a igreja permanece vazia. É uma procissão solene que se dirige ao local onde repousará a Santa Hóstia, que será consumida amanhã. O celebrante o leva sob o pálio, como na festa do Santíssimo Sacramento; mas hoje o corpo sagrado do Redentor contido no cálice está velado e não cercado de raios como no dia de seus triunfos. Adoremos este divino Sol da Justiça, cujo nascimento saudamos com tanta alegria; ele se põe na escuridão; mais algumas horas, e sua luz se apagará. As sombras então cobrirão a terra; e será só no terceiro dia que a veremos reaparecer todo fulgurante na glória

Após a missa, os altares são despojados; retiramos todas as toalhas de mesa, assim como as relíquias. O altar é o símbolo de Cristo; o despojamento do altar, portanto, significa o despojamento de Cristo antes da crucificação. É por isso que, também, durante esta cerimónia, cantamos o Salmo 21 com esta antífona: "Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sortes sobre o meu vestido" (Salmo 21 é o salmo messiânico da Paixão em que David contempla o abandono de Jesus na cruz). A igreja, desprovida de qualquer ornamento, apresenta-nos a imagem da solidão e da desolação. O santo sacrifício é interrompido até que o Senhor saia do sepulcro.

Após tudo, em outro local, com paramentos roxos, ocorre o lava-pés: esta cerimônia é chamada de "mandato", o mandamento do Senhor. Enquanto o superior lava os pés de treze clérigos (ou treze homens), o coro canta o hino por excelência da caridade fraterna:

Onde há caridade e amor, Deus está presente.
Regozijemo-nos e exultemos nele!
Vamos temer e amar o Deus vivo
E amar uns aos outros com um coração puro.

Treze por ser o número perfeito do colégio apostólico (Judas, o traidor, tendo sido substituído por São Mathias, e São Paulo tendo sido feito apóstolo por disposição divina); e por um fato da vida de São Gregório Magno que, recebendo sempre doze pobres em sua mesa, um dia recebeu um décimo-terceiro que era um anjo do Senhor.

Cristo lava os pés dos primeiros sacerdotes: evidencia-se a caridade fraterna que deve haver no serviço da autoridade para com os súditos e entre os membros da Santa Igreja, que, em Cristo, são irmãos e herdeiros do céu, e devem, como Cristo, se sacrificar pela salvação uns dos outros.

13 de abril de 2022

CONFITEOR



O Confiteor é uma oração penitencial que tem origem nos primórdios do cristianismo. Nela, nós reconhecemos os nossos pecados, e buscamos junto ao Bom Deus a Sua misericórdia e o perdão. Na missa tradicional faz-se a recitação do Confiteor duas vezes: durante as Orações ao Pé do Altar (missas rezadas) e antes da Comunhão.

Para as missas cantadas, o Confiteor é recitado (no início da Missa) apenas pelo padre e os acólitos no Altar, pois eles fazem em voz baixa as "Orações ao Pé do Altar" (Introibo ad Altare Dei), enquanto o coro da Igreja canta o Introito do dia. Para antes da Comunhão, todos o recitam normalmente.

A forma completa da oração foi introduzida no rito da Missa por volta do Século XI, ainda que seu uso anterior fosse bem comum. Nela, ao pedirmos pelo "mea culpa", batemos três vezes no peito:

- CONFITEOR Deo omnipotenti, beatae Mariae semper Virgini, beato Michaeli Archangelo, beato Ioanni Baptistae, sanctis Apostolis Petro et Paulo, et omnibus Sanctis, quia peccavi nimis cogitatione, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Ioannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, et omnes Sanctos, orare pro me ad Dominum Deum nostrum. Amen.

(Tradução no vernáculo):
Confesso a Deus Todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e ações, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Por isso, peço à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que oreis por mim a Deus, Nosso Senhor. Amém.

📸 por Jesuan Godke, no Domingo de Ramos, Capela Militar do Exército, Curitiba-PR. 2019.

#missatridentina
#tridentinemass
#catholic

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

13 de Abril

O Escultor Divino

Para construir a Jerusalém celeste, quer o Senhor, pedras bem talhadas, obras-primas de arte e estátuas belas e vivas de amor. E Ele, o Divino Escultor, é quem prepara, talha e aperfeiçoa, com o cinzel das criaturas, as pedras vivas da Pátria celeste. O escultor, ante o bloco de mármore, sente palpitar a chama do seu ideal de artista. E bate, corta, desbasta, até que apareça aos seus olhos a estátua que idealizou. Assim faz Nosso Senhor conosco. Somos pedras vivas, destinadas à construção da Jerusalém celeste.

"O mundo – diz São Francisco de Sales – é uma oficina, na qual são batidas e talhadas as pedras vivas que devem servir na construção da Jerusalém celeste”.

Que belo destino é o nosso! Se o mármore pudesse sentir como nós, que honra e glória não teria em ser trabalhado nas mãos de um Miguel Ângelo, de um Cellini, e admirado nos templos e museus! Haverá maior e mais genial artista do que Deus? E não havemos de querer que Ele trabalhe em nós? Deixemos, sim, que, com o cinzel da enfermidade, do martírio quotidiano de mil contrariedades, Ele, o Divino Escultor, bata, corte, desbarate e faça da pedra dura e fria de nossa pobre alma uma estátua viva do seu Amor misericordioso!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

MEDITAÇÃO PARA QUARTA-FEIRA MAIOR

Estamos na Quarta-feira Maior, caríssimos, e a Santa missa começa com grande solenidade: o reino de Deus, em seus três estados, está em adoração diante do Senhor obediente até a morte na cruz. Diante dele se prostram a Igreja triunfante, a Igreja militante e a Igreja padecente. Mas a Igreja já o vê em sua glória à direita de seu Pai. Ainda hoje, um salmo se destaca na liturgia: o salmo 101. Ele é colocado na boca de Cristo, a quem os fiéis se unem. Podemos ver no Introito o contraste entre a antífona e o versículo: na antífona vemos o Senhor na glória do Pai; já o versículo nos mostra Cristo obediente até a morte de cruz, mostra-nos Cristo humilhado.

Rogamos ao Senhor, na coleta, que, pelos méritos da paixão de seu bendito Filho, ele nos salve dos castigos que merecemos por nossos pecados. Nada é mais agradável a Deus do que apresentar-lhe os méritos da paixão de Jesus, pois é precisamente em seu Filho único que ele recebe todas as suas delícias; e a ele nada recusar.

Ambas as epístolas nos dão as mais belas profecias de Isaías sobre a Paixão. A primeira nos fala sobre o ceifeiro divino. “Quem é este que vem de Edom, de Bozra, em vestes escarlates? Ele é magnífico em seu vestido, brilhando com força. Sou eu (o Messias) que prometo justiça, que puno apenas para salvar. Mas por que sua vestimenta é vermelha, e por que suas vestimentas são como as dos que lagam a vindima no lagar? Na prensa, eu andava sozinho e, entre os povos, ninguém estava comigo. Espremi os povos em minha ira e os esmaguei em minha fúria. Mas o sangue deles jorrou em minhas roupas e eu sujei todas as minhas roupas.” Cristo, na sua Paixão, espremeu o vinho eucarístico para nós. Assim, o filho de Amós descreve Jesus que, com suas roupas manchadas de sangue, se vinga terrivelmente dos inimigos de nossa alma. Sua paixão esconde de fato um mistério de humildade inefável e poder terrível, e as humilhações e tormentos que ele aceitou por nosso amor são precisamente as armas com as quais ele esmagou o orgulho humano, a sensualidade e reduziu a nada o poder de Satanás.

Depois da leitura vem o responsório, retirado do Salmo 68, que descreve a angústia do Coração de Jesus durante a sua Paixão: “Não voltes o rosto para o teu servo”. O Salvador levou o pecado dos homens e, portanto, sujeitou-se à penalidade do abandono por parte de Deus, que com justiça desvia o rosto do pecador culpado. É este duro sacrifício que corresponde de alguma forma à dor dos condenados pela qual são eles atormentados no inferno. “Ouvi-me rapidamente, porque estou angustiado. Salvai-me, Senhor, porque as ondas subiram à minha alma” – isto é, o pecado que encheu de amargura as profundezas da minha alma, de modo que sou aprisionado pela mais terrível desolação, sem sua união hipostática com a pessoa do Verbo trazendo o menor alívio para a parte inferior da minha alma. “Caí em um poço lamacento – a iniqüidade do mundo inteiro – e não encontrei socorro". Este abandono de que Jesus se queixou na cruz não deve ser entendido em sentido absoluto, pois, mesmo durante a sua angustiante agonia no patíbulo da infâmia, a alma abençoada do Redentor foi abençoada na visão clara de Deus; mas deve ser tomado em um sentido relativo, pois Deus, para abandonar seu Filho unigênito nas garras do sofrimento, decidiu que essa bem-aventurança da alma não se refletiria no corpo.

Temos então uma outra coleta que associa a dor da paixão à beleza da ressurreição. Devemos crer de fato que Jesus Cristo une, em uma única pessoa, a natureza divina e a natureza humana, sem qualquer confusão, mas, ao contrário, com uma perfeita distinção de propriedades. É, portanto, como homem que sofre e morre; no entanto, sua humanidade, estando hipostaticamente unida à Divindade, não pode ser corrompida no túmulo, mas deve receber a mais esplêndida glorificação ao ressuscitar. Primogênito dentre todos os mortos é ele causa e protótipo de nossa ressurreição universal: "Ó Deus que, para nos salvar do poder do inimigo, quisestes que seu Filho subisse no patíbulo da cruz, concedei a seus servos o poder de obter os frutos de sua ressurreição”. Esses frutos da ressurreição são a ressurreição espiritual das almas pela graça, e então sua salvação final na glória. Sem estes frutos, a paixão de Jesus Cristo permaneceria estéril, como diz o Apóstolo: Ergo gratis Christus mortuus est? Portanto, é fácil compreender como a ressurreição é parte integrante da paixão, e é por isso que a liturgia nunca separa essas duas lembranças sagradas, que se iluminam e se complementam reciprocamente.

A segunda epístola é particularmente impressionante. Ela nos descreve o “homem de dores” a quem Deus imputou todos os nossos pecados. “Era desprezado, o último dos homens, homem de dores e familiarizado com o sofrimento; seu rosto estava como que velado e desprezado, por isso não o reconhecemos. Ele realmente carregou nossas doenças e carregou nossas dores. Nós o víamos como um leproso, como um homem ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi ferido por causa de nossas iniqüidades, ele foi esmagado por causa de nossos pecados. O castigo que traz a paz estava sobre ele, e foi pelas suas feridas que fomos curados. Estávamos todos vagando como ovelhas; cada um de nós seguiu seu próprio caminho. O Senhor colocou sobre si todas as nossas iniqüidades. Ele foi sacrificado porque quis; não abriu a boca: como ovelha, será levado ao matadouro e, como cordeiro diante do seu tosquiador, ficará calado e não abrirá a boca”. Pode justamente ser essa leitura chamada de Proto-evangelho, porque o profeta de Judá contempla ali, vários séculos antes de sua realização, as humilhações e dores sofridas por Jesus durante sua paixão, e descreve os mínimos detalhes. O título característico atribuído aqui ao Messias é o de servo de Deus; pois assim como pelo pecado o homem tentou se retirar do império de Deus, o Redentor, para expiar essa rebelião, teve que se dedicar inteiramente a cumprir a vontade do Pai. Jesus é de Deus, escreve São Paulo: Christus autem Dei. Ele é de Deus, tanto como Filho quanto como servo; e sobretudo como vítima. Os direitos divinos sobre Jesus são, portanto, afirmados de maneira absoluta e perfeita, sobretudo por meio da união hipostática do Verbo com a natureza humana do Salvador; em virtude desta união, a humanidade de Jesus é perfeitamente de Deus. Este título de Servo de Deus é melhor explicado pelo Profeta em toda a passagem que ouvimos hoje na Missa. Este é um aspecto novo e especial pelo qual o Messias se apresenta a nós. Seu reinado certamente deve ser glorioso e triunfante, mas o começo será humilde; e, antes de Jesus entrar em sua própria glória, será necessário que ele sofra muito e seja pregado na cruz. Mas por que o Servo de Deus deve sofrer? O Profeta responde: “Ele tomou sobre si nossas iniquidades e nossos pecados; o Senhor o acusou de nossas faltas e nós somos curados graças às suas feridas. Morre sem reclamar, será sepultado entre os ímpios e seu túmulo se erguerá entre os poderosos. Mas graças ao seu sacrifício livre o Senhor lhe concederá uma posteridade inumerável, e ele, por sua palavra, levará muitos à justiça”.

O responsório que segue é tirado do Salmo 101, e descreve os sentimentos de Jesus em sua suprema agonia, sentimentos de dor e humilhação, mas de perfeita confiança em Deus que, no devido tempo, se levantará em seu auxílio e o levantará. "Senhor, ouvi minha oração, que meu clamor chegue até vós. Não vire o rosto para longe de mim; ouvi-me sempre que estou na tribulação. No dia em que eu vos invoco, apressai-vos em me ouvir, pois meus dias estão desaparecendo como fumaça, e meus ossos estão queimando como uma grande chama. Fui cortado como grama, meu coração murchou, de modo que esqueci de comer meu pão. Vós vos levantareis, no entanto, para vos compadecerdes de Sião, porque é hora de ter pena dela, o momento chegou”. Com que tremor e com que respeito não devemos meditar no Saltério sobre estes sentimentos de Jesus crucificado! Este livro sagrado de oração é o melhor comentário do santo Evangelho, pois enquanto os evangelistas se ocupam preferencialmente em descrever a vida externa e os ensinamentos do Salvador, o salmista nos retrata os sentimentos íntimos de seu coração.

Enfim, hoje temos a Paixão do Senhor segundo São Lucas, o Evangelista do Amor Misericordioso, que reflete perfeitamente a pregação evangélica de São Paulo, com quem concorda até nos termos da fórmula da a instituição eucarística. No caminho para o Gólgota, Jesus conforta as piedosas que choram o seu tormento e adverte-as de que a devoção à sua paixão não deve limitar-se ao sentimentalismo estéril, mas servir para corrigir as suas vidas. Aquele que chora, de fato, pela morte do Senhor, deve arrancar e desarraigar o pecado de seu próprio coração, pois foi o pecado que foi o carrasco de Jesus. Si in viridi ligna haec faciunt, in arido quid fiet? Ou seja, se a justiça divina é tão severa em punir o pecado sobre seu próprio Filho inocente, o que não fará com o pecador obstinado, quando, no momento do julgamento final, o tempo da misericórdia tiver esgotado e chagar o momento da terrível e santa justiça?

A morte do Filho de Deus por nós deve ser sempre motivo de nossa confiança na misericórdia divina. Essa confiança é um dos primeiros elementos de nossa salvação e é o que a Igreja pede para nós na Pós-Comunhão. A morte de Jesus é fonte de vida. Esta é a realização mais esplêndida daquela profecia de Oséias: Ó mors, ero mors tua! morsus tuus ero, inferne. Teria sido muito pouco provar-se superior à morte por não sucumbir a ela. Jesus quis triunfar sobre ela mais completamente e, para isso, ao morrer, ele acorrenta a morte e Satanás aos pés da cruz, para que sua morte seja para a humanidade o princípio e a fonte de uma vida indefectível.

A oração sobre o povo é tão bela que a Igreja usa esta coleta para encerrar, durante os três dias seguintes, todas as Horas do Ofício Divino: "Olhai, Senhor, para a vossa família, pela qual Nosso Senhor Jesus Cristo não hesitou em entregar-se nas mãos dos carrascos e sofrer o tormento da crucificação”. Não há nada que toque mais o Pai e o leve à misericórdia do que a memória da paixão de seu Filho e, sobretudo, a imensa caridade com que nos amou.

Toda a teologia católica se resume no Crucifixo. É a razão íntima de todos os outros mistérios da fé, pois foi em Jesus que Deus nos amou e nos predestinou para a glória. O Crucifixo é o epítome das obras de Deus e a obra-prima de seu amor. Deleita-se ele tanto com isso — et vidit cuncta quae fecerat et erant valde bona — que não consegue contemplar esta imagem sem se comover de compaixão por nós. Com que devoção, portanto, não deveríamos contemplar também Jesus crucificado, e apresentar ao Pai suas dores e seus méritos para curar nossos próprios pecados!

12 de abril de 2022

MEDITAÇÃO PARA A TERÇA-FEIRA MAIOR

Caríssimos, eis que nesta Terça-feira Maior lemos a Paixão segundo São Marcos, companheiro de São Pedro. Nenhum outro evangelho relata a negação de São Pedro de maneira tão humilhante: esta é a humilde confissão do príncipe dos apóstolos.

Encontramo-nos diante da Passio beata, a feliz Paixão de Cristo. A glória da Ressurreição, que brilhará no final desta semana, já reluz com seus primeiros raios nas trevas da Semana Santa. Vejamos que todos os introitos desta semana manifestam a confiança e nos fazem ver, através dos sofrimentos da Cruz, a alegria da Ressurreição.

A coleta pede a remissão dos pecados em consideração dos "sacramenta Dominicae Passionis", os mistérios da Paixão do Senhor. E assim, caríssimos, imploramos ao Senhor a graça de nos prepararmos adequadamente para celebrar os mistérios da Paixão do Redentor, para dela tirar aquele fruto que a Igreja se propõe a si mesma na santa liturgia. Não se trata, evidentemente, uma simples comemoração cronológica, nem uma data histórica. Não, meus caros: as obras de Jesus, as suas palavras, contidas no santo Evangelho, têm sempre a sua própria eficácia, cada vez que são dignamente celebradas. A proclamação das santas leituras é um ato primeiramente sacrificial e não catequético! A santa Igreja, pelo seu culto, oferece a Deus um sacrifício de louvor e roga para os fiéis as graças que Cristo mereceu em seus mistérios! Assim, também aquela mesma virtude que possuíam aquelas obras de Cristo, quando, pela primeira vez, foram realizadas ou pronunciadas diante dos judeus, elas possuem ainda hoje, quando são repetidas pela Santa Romana Igreja em seu culto público. Por isso mesmo o diácono recebe a benção particular para anunciar o evangelho digna e competentemente, e com que reverência devemos nós ouvir as divinas perícopes!

Na epístola ainda ouvimos o profeta Jeremias, que é a figura do Cristo sofredor: "Fui, como um cordeiro manso, levado à imolação" e ouvimos também a voz dos inimigos: "Coloquemos lenha no seu pão ” (alusão misteriosa à morte na cruz e à Eucaristia). Jeremias, perseguido pelo sacerdócio corrupto de seu tempo, é um dos tipos proféticos mais parecidos com Jesus Cristo. Na passagem que a liturgia romana apresenta hoje, Jeremias apela ao juízo de Deus contra a iníqua trama de fixar o pão no patíbulo, o que, como observam os santos padres, é uma expressão profética que prenuncia o milagre eucarístico onde, sob a espécie do pão se encontra realmente o corpo do Senhor.

Os três cantos que se seguem no próprio (Gradual, Ofertório e Comunhão) são queixas da boca de Cristo. Eis, pois, diante de nós, o doloroso sacrifício de Cristo e levamos a memória de sua morte durante todo o dia. O gradual é retirado do Salmo 34, onde Cristo manifesta toda a ingratidão de seus adversários. Ele os amou tanto que, quando estavam doentes (as doenças da alma são os pecados e a febre das paixões desordenadas) vestiu um pano de saco, isto é, cobriu a glória de sua divindade com a humildade de sua humanidade, e mortificou o seu espírito com jejum. No entanto, seus inimigos responderam com ódio ao seu amor, e é por isso que Jesus se dirige ao Pai e diz: “Julgai, ó Senhor, meus adversários, atacai meus agressores; pegai o escudo e a égide e vinde em meu auxílio”.

Hoje canta-se a Paixão segundo São Marcos, que outra coisa não é senão a pregação de São Pedro. Como observam os exegetas, esse jovem de quem se fala, subitamente despertado pelo tumulto e pelo anúncio da prisão de Jesus, era provavelmente o próprio autor do Evangelho, Marcos, que, sem nomear-se diretamente, no entanto, coloca uma espécie de assinatura ao seu Evangelho escrito. São Marcos morava de fato com sua mãe em Jerusalém fora dos bairros habitados, de modo que os primeiros fiéis fizeram de sua casa seu ponto de encontro. Quando Jesus passou em frente à sua morada, o jovem já estava descansando e, segundo o costume palestino, tendo despido as roupas do dia, havia se enrolado em um grande lençol, que é indicado no texto como sendo do linho mais fino, já que eram de fato pessoas ricas. Com o barulho das tropas, ele acorda e, ao saber que Jesus, capturado, estava passando, corre como estava, sai de casa e começa a  discutir com os legionários, realizando até ameaças. Tentam agarrá-lo, mas o jovem, ágil, deixa o lençol na mão e se afasta. Como observa São Gregório Magno, quem quiser escapar da violência do demônio deve primeiro proceder a um perfeito desnudamento interior, como fazem os atletas na arena; é necessário que o demônio não tenha domínio sobre nós e devemos, portanto, abandonar de boa vontade os bens materiais para ele, a fim de resgatar a nossa alma de suas garras.

Deve-se observar que quando, na Sagrada Escritura, a vingança divina é invocada sobre os ímpios, isso deve ser entendido como o último julgamento de Deus após a impenitência final do pecador, ou então, se a frase se refere à vida presente, males físicos e temporais que Deus, na maioria das vezes, envia aos ímpios ainda neste mundo, seja para incitá-los a se afastar do mal e convertê-los, ou mesmo para privá-los da oportunidade de cometer novos pecados e correr mais certamente assim para sua condenação eterna.

Que o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre nós e nos mostre a sua misericórdia! Tal é o belo salmo messiânico que a Igreja, nestes dias, aplica aos triunfos do Crucificado. Com efeito, é do alto do patíbulo da infâmia que Jesus, segundo a sua própria palavra, levantado da terra, atrai a si todas as almas. É da Cruz que ele dirige seus olhos sofredores e amorosos para a humanidade que, ao longo dos séculos, desfila diante dele, e faz jorrar sangue e água para a salvação dos homens.

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

12 de Abril

Onde Cai a Árvore, aí Fica!

Quando se vive na casa de Deus e ao lado de Nosso Senhor, é preciso ter confiança, principalmente na hora da morte. Das almas devotas do seu Coração, disse Nosso Senhor a Santa Margarida Maria:

“Serei, na hora da morte, seu Refúgio seguro”.

Por que tremer? Nossos pecados? Oh! Basta um olhar de amor e de arrependimento e firme propósito. E o Bom Ladrão e Madalena, e o Publicano, e o Filho Pródigo? A hora da morte é a última hora do tempo da misericórdia. Não seremos abandonados. Confiança!

Da família abençoada de Santa Teresinha saíram, para a vida religiosa, muitas almas santas. Uma delas foi a sua tia materna Soror Maria Dositéa da Visitação de Santa Maria. Pouco antes de sua morte, após uma vida santa, recebeu ela a visita de Mons. Outremont, bispo de Mans. Disse-lhe o prelado:

"Nada de receios, minha filha. Onde cai a árvore, aí fica. Brevemente há de tombar no Coração de Jesus, para n’Ele permanecer eternamente.”

Essas palavras encheram de confiança e amor o coração da santa visitandina, que morreu toda abandonada no Coração de Jesus, aos 24 de fevereiro de 1877. Ah! Façamos com que a árvore de nossa vida se carregue de frutos de confiança, abandono e amor! E que, vergada ao peso desses frutos, incline-se para o Coração de Jesus e, com a morte, nele caia e permaneça para sempre!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

11 de abril de 2022

MEDITAÇAO PARA SEGUNDA-FEIRA MAIOR

Caríssimos, eis que estamos na Segunda-Feira Maior, e a liturgia de hoje é inteiramente dominada pelo tema da Paixão. Todo o próprio apresenta a Paixão e a morte do Senhor. No  intróito, gradual e comunhão temos o Salmo 34, com o qual imploramos, com Cristo, a ajuda de Deus contra os ímpios. Nosso Senhor mesmo aplicou este salmo a si mesmo (João, XV, 25). Este salmo é também uma maldição contra Judas, o traidor. Além disso, a liturgia apresenta-nos hoje duas figuras intimamente relacionadas à Paixão. Uma para nos consolar; a outra é uma seríssima admoestação para nós. Essas figuras formam um contraste marcante: Santa Maria Madalena e o o traidor Judas. Nosso Senhor se encontra na casa de Lázaro. Santa Maria Madalena unge seus pés para o seu "sepultamento" e os enxuga com seus longos cabelos. Judas, ganancioso, fica descontente ao que Jesus o repreende. Culpa esta que foi o ponto culminante que levou à determinação de Judas de trair o Bom Jesus. Foi, assim, uma importante refeição mortuária que trouxe a morte, por Judas, e preparou o sepultamento, por Santa Maria Madalena. E o Salvador entrega o seu corpo a ambos. À Madalena pela unção e a Judas pelo beijo traiçoeiro; e dá-o também aos bons que o cercam de afeto e respeito ao mesmo tempo em que ele o dá aos ímpios que o crucificam. É o que ele mesmo expressa, de maneira marcante, na Epístola, retirada do Profeta Isaías: “corpus meum dedi percutiéntibus et genas meas velléntibus : fáciem meam non avérti ab increpántibus et conspuéntibus in me”.

Isto também se aplica ao seu corpo místico. Cristo volta a percorrer a sua paixão através dos séculos, e de novo abandona o seu corpo às unções das Madalenas, bem como aos beijos pérfidos dos Judas; ele deixa que seu rosto seja golpeado e dilacerado. Santo Agostinho nos explica como devemos ungir seu corpo: “Unja os pés de Jesus com uma vida agradável a Deus. Siga seus passos, se tens alguma coisa supérflua, dá-a aos pobres, e terás enxugado os pés do Senhor”. Podemos assim consolar Cristo em sua paixão mística. Ele recebe tantos beijos de Judas pelos pecados dos cristãos!

Santa Madalena e Judas acompanham o Salvador sofredor durante toda a Semana Santa. Na quarta-feira maior, Judas vai procurar os príncipes dos sacerdotes para negociar sua traição, enquanto Madalena serve ao Senhor em sua casa; na quinta-feira maior, Judas pergunta insolentemente: Sou eu? E, à noite, no Horto das Oliveiras, dá um beijo traiçoeiro em Jesus. Madalena, por sua vez, despediu-se de Jesus com lágrimas. Na sexta-feira maior, Judas joga suas trinta moedas de prata no templo, depois se enforca, tendo seu ventre aberto e suas entranhas espalhadas pelo chão. A Madalena é um dos poucos fiéis que permanecem perto da Cruz cujo pé ela beija. No domingo, ela é a primeira mensageira da Páscoa, sendo chamada pela Santa Romana Igreja de apóstolo dos apóstolos, e possuindo o prefácio dos apóstolos em sua festa litúrgica.

O Senhor também segue seu caminho doloroso através de nossa vida pecadores. Há duas almas em nós, uma alma de Judas e uma alma de Madalena. A primeira é a causa de sua Paixão, é uma alma traidora, sempre pronta para o pecado, para a apostasia, para o beijo de Judas... Quem pode dizer que ele não tem essa alma de Judas em si? Mas a alma de Madalena consola o Senhor no seu caminho doloroso pela oração e pela penitência. Caríssimos, que o tempo da Quaresma, que estamos terminando com alegria, graças a Deus, nos permita sufocar a alma de Judas dentro de nós e fortalecer a alma da Madalena! Coragem!

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

11 de Abril

Hora Solene!

Soror Elisabete da Trindade dizia na hora da morte:

“Como é solene a hora em que me acho!”

Solene, sim, porque era a de sua passagem para a Eternidade, era a hora de se apresentar à Justiça Divina.

“Experimento – acrescentou ela – um sentimento indefinível, algo da Justiça e da Santidade de Deus. Acho-me tão pequenina e desprovida de méritos! Como é preciso dar confiança aos agonizantes!”.

Sim, as horas solenes fazem tremer. A natureza, no momento decisivo da partida do exílio, apavora-se e treme. Mais do que nunca, a confiança é necessária. Quem viveu no Coração de Jesus há de morrer nesse Divino Coração. A Misericórdia Divina jamais será tão pródiga como nos últimos instantes. Um ato de confiança, resignação e amor, nesses momentos, pode fazer do pecador miserável um justo, um santo. Precisamos aceitar a morte conformados com a vontade de Deus.

“Aceitarmos a morte que Deus nos apresenta e conformarmo-nos com a Vontade Divina – diz Santo Afonso – é merecermos uma recompensa semelhante à dos mártires”. E o Pe. Luiz de Blois assegura-nos “que, na morte, um ato de perfeita conformidade com a Vontade de Deus nos preserva, não somente do Inferno, mas até do Purgatório”. Também há de chegar para nós a hora solene. Seja solene pelo amor e a confiança a nossa entrada na vida eterna!

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

10 de abril de 2022

O BREVIÁRIO DA CONFIANÇA

10 de Abril

Tem paciência Contigo!

É preciso que tenhamos muita paciência conosco e ainda mais do que com outros. Somos, às vezes, insuportáveis a nós mesmos. Tanta miséria, quedas repetidas, defeitos incorrigíveis, fraquezas vergonhosas, covardia, desânimos, pecados sobre pecados! Oh! Que desolação! Não nos perturbemos. Calma e paciência. Quanto mais perturbação tanto pior. É orgulho não nos conformarmos com a nossa fraqueza e a nossa miséria. Às vezes é mais fácil termos paciência com os outros do que conosco. Com a natureza rebelde, atrevida, grosseira que possuímos, perdemos a calma!

Não maltratemos o nosso jumentinho a pancadas de impaciência. É pior. Será preferível que lhe demos boa ração de calma e tranquilidade e confiança. Um dia Nosso Senhor disse a uma dessas almas já quase desesperadas com a sua má natureza, sempre rebelde e recalcitrante:

"Minha filha, fui tão paciente contigo, pois é preciso que também tenhas paciência contigo mesma”.

Tenhamos então muita paciência conosco. Se Nosso Senhor, que é a Infinita Justiça, a própria Santidade, se Ele que tanto odeia o pecado nos suporta por misericórdia, por que não nos havemos de suportar na miséria?

Mᴏɴs. Asᴄᴀ̂ɴɪᴏ Bʀᴀɴᴅᴀ̃ᴏ

9 de abril de 2022

O DOMINGO DE RAMOS - O Sentido das Cermiônias do Rito Romano Tradicional

 

Ciclo De Formações Sobre a Semana Santa - O Domingo de Ramos: O Sentido Das Cerimônias No Rito Romano Tradicional. Formação sobre a reforma da semana Santa sob o pontificado do papa Pio XII , em 1954. Depois de 50 anos, tendo acesso aos documentos da época, vários estudos recentes identificaram quais os problemas e limites de uma reforma realizada às pressas, e que se afastou em diversos pontos dos ritos e da espiritualidade da semana Santa tradicional. Não se trata de criticar os sacerdotes tradicionais que fizerem uso desta versão da semana Santa em seus apostolados, mas sim, de argumentar em favor da versão mais antiga e tradicional, que paulatinamente tem retornado em diversas partes da cristandade nos últimos anos.