31 de maio de 2010

Festa da Santíssima Trindade - Comentário litúrgico - Dom Gaspar Lefebvre, O.S.B.

Festa da SS. Trindade
D. Gaspar Lefebvre



O Espírito Santo cujo advento celebramos no Pentecostes veio-nos recordar nesta última parte do ano (do Pentecostes ao Advento, 6 meses) o que Jesus nos ensinou já na primeira (do Advento à Santíssima Trindade, 6 meses). O dogma fundamental em torno do qual todo o cristianismo gravita é este da Santíssima Trindade, de Quem tudo nos vem e a Quem todos os que receberam o sinete do Seu nome devem regressar. Depois de nos lembrar no decorrer do ano litúrgico o Pai Criador, o Filho Redentor e o Espírito Santo Santificador e Regenerador das almas, a Igreja recapitula hoje antes de mais os elementos concernentes ao grande mistério em que adoramos a Deus uno em Natureza e trino em Pessoas.
Depois de celebrarmos a efusão do Espírito Santo, dizia S. Roberto no século XII, festejamos logo a seguir, no primeiro Domingo, a Trindade Santíssima; e é bem feita esta escolha, porque logo depois da vinda do Divino Espírito começou a pregação da fé e com a pregação da fé a administração do Batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
O dogma da Santíssima Trindade aparece constantemente na liturgia. É em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que se começa e acaba a Missa e o Ofício e se conferem os sacramentos. Todos os salmos fecham pelo Gloria Patri, os hinos pela doxologia, e todas as orações concluem em termos cheios de devoção e de ternura para com as três Pessoas Divinas. O dogma da Santíssima Trindade resplandece ainda nos nossos templos. Os nossos avós compraziam-se em simbolizá-lo na altura, na largura e no comprimento admiravelmente proporcionados das igrejas, no côro, nas naves, no trifório, nas três portas e, muitas vezes, até nas três torres. Sempre e em toda a parte, no mais pequeno pormenor da ornamentação, o número três tem lugar de honra, marca um plano refletido, um pensamento de fé na Santíssima Trindade. A iconografia cristã também nos traduz, de diferente maneira, o mesmo pensamento. Até o século XII era vulgar representar o Pai por uma mão que saía dentre as nuvens do Céu e abençoar. Nos séculos XIII e XIV, começou a aparecer primeiramente a face e depois todo o busto. A partir do século XV começou o Pai a ser figurado por um ancião revestido das vestes pontificais. - Até o século XII a segunda Pessoa da Santíssima Trindade era figurada, com mais freqüência, pela cruz ou pelo cordeiro, e ainda por um gracioso jovem no jeito do Apolo do paganismo. Do século XI ao XV, é o Cristo forte, já no vigor da idade, que nos aparece. A partir do século XVI entra o costumo de lhe pôr a cruz e de o representar freqüentemente pelo cordeiro. - O Espírito Santo aparecia nos primeiros séculos sob a figura tradicional da pomba, tocando com as asas abertas na boca do Pai e na do Filho como argumento de sua precedência. A partir do século XI é na figura dum menino que o encontramos por vezes. No século XV a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, assume as proporções dum homem feito semelhante ao Pai e ao Filho, somente com a pomba na mão ou na cabeça, para se distinguir das outras Pessoas. Depois do século XVI a pomba volta a tomar o lugar exclusivo na representação do Espírito Santo. A geometria concorreu também para simbólica da Santíssima Trindade. O trevo teve, por sua vez, lugar de relevo na simbologia tradicional, e igualmente os três círculos enlaçados com a palavra unidade inscrita no lugar vazio pela intersecção. Foi ainda representada por uma cabeça com três faces distintas. Urbano VIII, porém, em 1628 proibiu reproduzir essa perigosa e ridícula interpretação do grande mistério do cristianismo.
A festa da Santíssima Trindade deve a sua origem ao fato de as ordenações do Sábado das Quatro Têmporas se celebrarem a tarde e se prolongarem até de manhã, não tendo o Domingo por este motivo liturgia própria. Como todos os Domingos são consagrados à Santíssima Trindade, celebra-se no primeiro depois de Pentecostes a Missa Votiva, composta no século VII em honra desse mistério. Façamos hoje, conformando-nos ao espírito da Liturgia, profissão de fé na Santíssima e Eterna Trindade, e na sua indivisível unidade.

Ad Cæli Reginam


Depois de atentas e ponderadas reflexões, tendo chegado à convicção de que seriam grandes as vantagens para a Igreja, se essa verdade solidamente demonstrada resplandecesse com maior evidência diante de todos como luz que brilha mais, quando posta no candelabro, - com a nossa autoridade apostólica decretamos e instituímos a festa de Maria rainha, para ser celebrada cada ano em todo o mundo no dia 31 de maio. Ordenamos igualmente que no mesmo dia se renove a consagração do gênero humano ao seu coração imaculado. Tudo isso nos incute grande esperança de que há de surgir nova era, iluminada pela paz cristã e pelo triunfo da religião.

Clique aqui para ler a encíclica Ad Cæli Reginam, do Santo Padre o Papa Pio XII, explicando a Realeza de Nossa Senhora e instituindo sua festa no dia 31 de maio.

31 de maio: Nossa Senhora Rainha

Sermão de São Pedro Canísio Presbítero (1521-1597)

Da incomparável Virgem Maria Mãe de Deus, livro 15, c. 13

Por que não haveríamos de chamar Rainha a beatíssima Virgem Maria, como fizeram o Damasceno, Atanásio e outros, sendo que o Seu pai, Davi, gloriosamente honrado como rei, e o Seu Filho, como Rei dos reis e Senhor dos senhores imperando sem fim, são louvados sobremaneira pelas Escrituras? É Rainha, sobretudo, se comparada com aqueles [Santos] postos como reis no reino celeste, com Cristo, sumo Rei, como seus co-herdeiros, e colocados como no mesmo trono que Ele, como diz a Escritura. E, como Rainha, ela não está abaixo de nenhum dos eleitos, mas elevada em dignidade tão alta sobre tanto Anjos como homens que nada pode ser maior ou mais alto que Ela, só a Qual tem o mesmo Filho que Deus Pai, e que acima de Si só vê a Deus e Cristo, e abaixo, todas as demais criaturas.

O grande Atanásio disse claramente: Maria não é somente a Mãe de Deus, mas também pode ser chamada em verdade Rainha e Senhora, visto que o Cristo Que nasceu da Virgem Mãe é Deus e Senhor e também Rei. É a Esta Rainha, portanto, que se aplicam as palavras do Salmista: À Vossa destra estava a Rainha num vestido de ouro. Assim, Maria é retamente chamada Rainha, não só do céu mas também dos céus, como Mãe do Rei dos Anjos, e como Esposa e amada do Rei dos céus. Ó Maria, augustíssima Rainha e fidelíssima Mãe, a Quem ninguém reza em vão se reza devotamente, e a Quem todos os homens mortais estão ligados pela memória duradoura de tantos benefícios, repetidamente Vos imploro que aceiteis e Vos agradeis com todas as demonstrações da minha devoção para conVosco, deis valor ao pobre dom que eu ofereço de acordo com o zelo com que é oferecido, e o recomendeis ao Vosso Filho onipotente.

29 de maio de 2010

Domingo da Santíssima Trindade: Batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo

Homilia de São Gregório Nazianzeno

Tratado sobre a fé, após o início

Qual católico ignora que o Pai seja verdadeiramente o Pai, o Filho seja verdadeiramente o Filho, e o Espírito Santo seja verdadeiramente o Espírito Santo, como o mesmo Senhor disse aos Seus Apóstolos: "Ide e batizai todos os Povos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo."? Essa é a Trindade perfeita consistente na unidade, de que claramente professamos a unidade da substância. Porque não fazemos em Deus divisão segundo a condição dos corpos, mas segundo o poder da divina natureza, que não está na matéria, e cremos que verdadeiramente existem as pessoas correspondentes a cada nome, e somos testemunhas da unidade da essência da divindade. Não dizemos ser o Filho de Deus extensão de uma parte a outra parte de alguma outra pessoa divina, como alguns opinaram, nem dizemos que ele é meramente a "palavra" no sentido do som da voz, mas cremos que os três nomes e as três pessoas sejam unidade de essência, unidade também de majestade e de poder. E do mesmo modo professamos um único Deus, porque a unidade da majestade proibe de chamar "deuses", no plural. Por isso, catolicamente chamamos Pai e Filho, mas dizer que hajam dois Deuses, não podemos nem devemos. Não que o Filho de Deus não seja Deus, senão Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; mas, como conhecemos que o Filho de Deus não provém de outro lugar que não Esse mesmo único Pai, por isso dizemos que Deus é uno. Isso ensinaram os Profetas e os Apóstolos, e isso ensinou o mesmo Senhor, quando disse: "Eu e o Pai somos um". Dizendo "um", refere-se à unidade da divindade, e dizendo "somos", no plural, designa as pessoas.

Louvemos a Santa Trindade e também indivisa unidade, porque fez conosco a Sua misericórdia. (Intr.)

Do livro de São Fulgêncio Bispo (c. 468 - 533) para o diácono Pedro sobre a fé.

Entre as obras de Agostinho, tomo 3

A fé, que os santos Patriarcas e Profetas, antes da encarnação do Filho de Deus, receberam de Deus, a mesma que ouviram os santos Apóstolos d'Esse mesmo Senhor, encarnado, e, instruídos pelo magistério do Espírito Santo, não só pregaram com o sermão, como também deixaram em seus escritos, para salutaríssima instrução da posteridade, essa fé prega a Trindade do Deus único, isto é, Pai e Filho e Espírito Santo. Não seria verdadeiramente uma Trindade se se dissesse que fosse uma e a mesma pessoa o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Se, como é única a substância do Pai e do Filho e do Espírito santo, assim única fosse a pessoa, não haveria em Deus absolutamente nada de que se afirmasse verazmente que fosse Trindade.

Por outro lado, sendo verdadeira a mesma Trindade, essa Trindade não seria um só Deus se, do mesmo modo que o Pai e o Filho e o Espírito Santo distinguem-Se entre Si pela propriedade de cada pessoa, assim também fossem separados pela diversidade das naturezas. Mas, como, na Trindade do único verdadeiro Deus, naturalmente é verdadeiro não só o que Deus é único, mas também o que é Trindade, por isso o verdadeiro Deus é Trindade nas pessoas, e uno na natureza única.

Por essa unidade natural, todo o Pai está no Filho e no Espírito Santo; todo o Filho, no Pai e no Espírito Santo; e todo o Espírito Santo, no Pai e no Filhio. Nenhum d'Eles está fora de qualquer Um d'Eles, porque Nenhum dos Outros O precedeu na eternidade, ou excede em magnitude, ou supera em poder; porque nem que o Filho nem que o Espírito Santo, quanto diz respeito à unidade da natureza divina, é maior ou anterior o Pai; nem a eternidade e imensidão do Filho, como se fosse maior ou anterior, poderia naturalmente exceder a imensidão e eternidade do Espírito Santo.

Sábado da Têmpora de Pentecostes: Ordenou à febre, e ela deixou-a.

Homilia de Santo Ambrósio Bispo sobre o Evangelho de hoje: Lucas, 38, 44.

Lib 4 in cap. IV Lucae, sub finem.

Vê a clemência do Senhor Salvador: não deixou a Judeia, nem quando comovido pela indignação, nem ofendido pelas culpas, nem agredido pelas injúrias: antes esquecido das injúrias e lembrado da clemência, já ensinando, já livrando, já curando, move os corações do povo sem fé. Bem lembrou São Lucas que Ele antes livrou um homem de um espírito imundo, e então curou uma mulher, porque o Senhor veio para ambos os sexos que criou, mas antes deveria ser sanado o que primeiro fora criado, e, depois, não negligenciar aquela que, mais pela inconstância de ânimo que por depravação, pecou.

O início da medicina do Senhor num sábado significa que a nova criação começou onde acabou a velha. Além disso, mostra que o Filho não está sob a lei, mas sobre ela, e que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la. De fato, não foi pela lei, senão pelo Verbo que o mundo foi feito, como se lê: Os céus foram firmados pelo Verbo do Senhor (Salmo 32, 6). Portanto, a lei não é abolida, mas cumprida, de modo que se faça a renovação do homem já decaído. Por isso mesmo o Apóstolo diz: Despojai-vos do homem velho, revesti-vos do novo, que foi criado segundo Deus (Efésios 4, 22).

28 de maio de 2010

Sexta-feira da Têmpora de Pentecostes: Vendo-lhes a fé, disse: "Homem, teus pecados estão perdoados".

Homilia de Santo Ambrósio Bispo sobre o Evangelho de hoje: Lucas 5, 17-26, sobre o auxílio espiritual que se deve dar aos doentes.

Lib 5 in cap 5 Lucae post initium

Não foi sem razão nem desproposita essa cura que o Senhor operou com o paralítico, pelo fato de ter orado: isso Ele mandou não por que precisasse, mas por causa do exemplo. Fez isso para dar-nos um modelo a ser imitado, e não porque necessitasse da oração para curá-lo. E aos que ali vieram de toda a Galileia e Judeia, e os doutores da lei de Jerusalém, entre os demais remédios dos débeis, é demonstrada a medicina que ele usou com esse paralítico. Primeiro de tudo, segundo o que dissemos antes, que todo doente convide os seus amigos a rezar pela sua salvação, para que reformem-se, pelo remédio do verbo celestial, os defeitos da estrutura da nossa vida e as pegadas coxas dos nossos atos.

Deve haver, também, admoestadores das almas dos doentes, para que, a despeito da debilidade do corpo exterior, elevem o ânimo dos homens às coisas mais altas. Nas costas desses, ele é facilmente erguido e colocado diante de Jesus, digno de ser olhado pelo Senhor. Porque o Senhor volta sua atenção à humildade: "Porque olhou para a humildade da sua serva" (Lucas 2, 48). "Vendo a fé deles, disse: Homem, teus pecados estão perdoados". Grande é o Senhor, Que, pelo mérito de uns perdoa outros; Que, enquanto prova uns, releva os erros de outros. Por que não valorizas o teu igual, ó homem, se, junto de Deus, o servo tem o mérito da intercessão e o direito de impetrar o que pede?

27 de maio de 2010

Quinta-feira na Oitava de Pentecostes: Deu-lhes virtude e poder sobre todos os demônios e para curar enfermidades.

Homilia de Santo Ambrósio Bispo sobre o Evangelho de hoje: Lucas, 9, 1-6.

Lib. 6. in cap. 9. Lucae.

Pelos preceitos do Evangelho é definido como deve ser aquele que anuncia o Reino de Deus: que, sem vara, sem bolsa, sem calçado, sem pão, sem dinheiro, isto é, que, sem requerer nenhum subsídio secular, e, só pela fé, considere-se como quem de menos precisa, e que mais se satisfaz com o que tem. Se quisermos, podemos dar uma interpretação espiritual para essa questão: que se dispa da carne como de uma roupa, não apenas rejeitando o poder das riquezas desprezadas, mas abdicando também dos prazeres da carne. A esses apóstolos, foi dado, por primeiro, o mandamento geral da paz e concordância [constantia], para que tragam a paz*, conservem a constância, observando as obrigações e normas da casa do hospedeiro: é estranho a um pregador do reino dos céus mudar de casa em casa, e mudar as leis invioláveis da hospedaria.

Por outro lado, de modo a recomendar às pessoas o favor de dar-lhes hospedagem, Ele manda também: se não fordes recebidos, batei o pó e saí da cidade. Ensina ainda Ele que não são pequenos os bens com os quais são remunerados os hospedeiros, pois nós não apenas damos paz à hospedagem, como também, se houver aí alguém ofuscado pela leviandade dos delitos terrenos, será libertado recebendo as pegadas do pregador apostólico. Segundo Mateus, a escolha da casa na qual o apóstolo entrará não deve ser descurada**, para que não seja necessário violar os costumes da hospedagem. Mas tanta precaução não é recomendada àquele que oferece abrigo, para que a sua hospitalidade não seja diminuída, se se puser a escolher o hóspede.

* Mateus, 10, 13: Ao entrardes numa casa, dizei: Paz a esta casa!
** Mateus, 10, 11.

26 de maio de 2010

Missa Tridentina em Curitiba: Sermão do Pe. Paulo Iubel no Domingo de Pentecostes (22/05/2010)

Pe. Paulo Iubel
Paróquia Imaculada Conceição
Curitiba/PR



Quarta-feira da Têmpora de Pentecostes: Ninguém pode vir a mim se o Pai não o atrair.

Homilia de Santo Agostinho Bispo sobre o Evangelho de hoje: João 6, 44-52

Tratado 26 sobre João, após o início

Não penses que podes ser atraído à revelia: a alma é atraída pelo amor. Nem devemos temer que os homens, que medem as palavras mas estão maximamente distantes de entender as coisas divinas, nos repreendam com a palavra evangélica destas Escrituras santas, dizendo-nos: Como creio por minha vontade, se sou atraído? Eu digo: Pouco o és pela vontade [voluntate]: mais és atraído pelo prazer [voluptate]. O que é ser atraído pelo prazer? Deleita-te no Senhor, e Ele te dará as petições do teu coração. É um prazer para coração daquele para o qual Ele é um doce pão celeste. Além do mais, se o Poeta [Virgílio] pôde dizer "O prazer de cada um o atrai; não a necessidade, mas o prazer; não a obrigação senão o deleite", com quanto mais razão devemos nós dizer que o homem é atraído para Cristo, aquele que se deleita na verdade, na bem-aventurança, na justiça, na vida sempiterna, em tudo isso que é Cristo? Ou será que os sentidos do corpo têm os seus prazeres, e a alma é desprovida dos seus? Se a alma não tem os seus prazeres, por que se diz: Os filhos dos homens esperarão sob a proteção das tuas asas: inebriar-se-ão com a exuberância da tua casa, e lhes darás de beber da torrente do teu prazer. Porque junto de ti está a fonte da vida, e na tua luz veremos a luz.

Dá-me um amante, e ele sentirá a verdade do que eu digo: dá-me um desejoso, um faminto, um peregrino nesta solidão, e um sedento, e um suspirante pela fonte da pátria eterna: dá-me tal, e ele saberá do que eu falo. Mas se falo a um frio, ignorará o que eu falo. Tais eram aqueles que murmuravam entre si. Aquele que o Pai atrair, disse Ele, vem a Mim. Mas por que "Aquele que o Pai atrair", se o próprio Cristo atrai [a Ele]? Por que Ele quis dizer "Aquele que o Pai atrair". Se somos atraídos, somos atraídos por aquele de quem dizem os que amam: Após o odor dos teus unguentos corremos. Mas quem quiser entender, advirtamos os irmãos, e, o quanto pudermos, entendamos. Atrai o Pai ao Filho aqueles que por isso mesmo creem no Filho, porque creem que o Seu Pai é Deus. Porque Deus Pai gerou o Filho igual a Si; e o Pai atrai ao Filho aquele que, na sua fé, pensa, sente e medita que é igual ao Pai Aquele em Quem crê.

Ario creu na criatura, não o atraiu o Pai, porque não vê o Pai aquele que não crê que o Filho Lhe é igual. Que dizes, ó Ario? Que dizes, herege? Que falarás? O que é Cristo? "Não é, diz ele, verdadeiro Deus, mas Aquele a Quem o verdadeiro Deus fez." Não te atraiu o Pai, porque não entendeste o Pai, Cujo Filho negas. Outra coisa pensas, que não é o Filho, pois não és atraído pelo Pai se não és atraído para o Filho. Uma coisa, pois, é o Filho, e outra coisa é aquilo de que falas. Fotino diz: Cristo é apenas homem, não é também Deus. Quem crê assim, não é o Pai que o atrai. Quem o Pai atrai? Aquele que diz: Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo. Mostra um ramo verde a uma ovelha, e a atrairás. Mostra uma noz a um menino, e o atrairás, e todo homem que corre é atraído, amando é atraído, sem injúria do corpo é atraído, pelo laço do coração é arrastado. Se, portanto, essas que estão entre as delícias e prazeres terrenos, quanto mostrados aos amantes, os atraem (já que é verdade que "O prazer de cada um o atrai"), não atrai o Cristo, revelado pelo Pai? O que a alma deseja mais fortemente do que a verdade?

25 de maio de 2010

Terça-feira na Oitava de Pentecostes: Eu sou a porta das ovelhas.

Homilia de Santo Agostinho Bispo sobre o Evangelho de hoje: João, 10, 1-10.

Tratado 45 sobre João, após o início

Na leitura de hoje, o Senhor propôs uma comparação do Seu próprio rebanho, e da porta pela qual se entra ao aprisco. Digam, então, os pagãos: Bem vivemos! Se não entram pela porta, de que lhes serve aquilo de que se gloriam? Para uma só coisa aproveita viver bem: para que se lhe dê viver para sempre - de que adianta, pois, viver bem, àquele a quem não é dado viver para sempre? Porque não são dignos de se dizer que vivam bem os que, pela cegueira, ignoram, ou, pela soberba, desprezam qual seja o fim de um viver bem. Mas ninguém tem por verdadeira e certa a esperança de viver para sempre, senão quem conhece a vida, que é Cristo, e, pela porta, entre no aprisco.

Muitos desses homens procuram até persuadir os homens a viver bem, e não são cristãos. Por outra parte querem entrar, roubar e matar; não querem, como o bom pastor, conservar e salvar. Houveram certos filósofos que, muito detalhadamente, das virtudes e vícios trataram, dividiram, definiram, com agudíssimos raciocínios concluíram, livros encheram, sua sabedoria com estrondo espalharam pelos ventos, que chegaram a dizer aos homens: Segui-nos, guardai a nossa seita, se quereis viver bem-aventuradamente. Mas não entravam pela porta: queriam perder, sacrificar e assassinar.

Que direi desses? Eis que os próprios fariseus liam, e, no que liam, de Cristo diziam, esperavam-n'O por vir, mas, presente, não O reconheceram. Jactavam-se de estar entre os Videntes, ou seja, entre os sábios, e negavam Cristo, e não entravam pela porta. Também esses, se acaso seduzirem alguns, o será para sacrificá-los e assassiná-los, e não para livrá-los. Deixemo-los, e vejamos se talvez entram pela porta os que se gloriam do próprio nome de Cristo. Mesmo entre esses, são inumeráveis os que não apenas se jactam de ser Videntes, mas querem ser vistos como iluminados por Cristo; no entanto, são hereges.

24 de maio de 2010

Segunda-feira na Oitava de Pentecostes: Quem faz a verdade vem à luz.

Homilia de Santo Agostinho Bispo, sobre o Evangelho de hoje: João 3, 16-21.

Tratado 12 sobre João, perto do fim

Tudo o que há num médico, vem no sentido de sarar o doente. E mata-se aquele que não quer observar os preceitos do médico. Da mesma forma, por que Aquele é chamado Salvador do mundo, senão para que salve o mundo, e não o julgue? Não queres ser salvo por ele? Por teus [feitos] serás julgado. E por que eu digo "Serás julagdo"? Vê o que disse [São João]: "Quem crê n'Ele não será julgado. Aquele, porém, que não crer..." Que esperavas que dissesse, senão: "Será julgado"? Porém, ele diz: "Já está julgado". Não aparece o juízo, e no entanto já está feito.

O Senhor conehce os que são d'Ele: conhece os que continuarão até a coroa, e os que continuarão até a chama. Ele conhece, no seu campo, o trigo assim como conhece o abrolho; conhece o cereal, conhece também a cizânia. Já está julgado o que não crê. Por que julgado? Porque não creu no nome do Filho unigênito de Deus. Esse é o juízo: a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. Meus irmãos, obras de quem o Senhor achará boas? De ninguém. Acha todas obras más. Como, pois, alguns fizeram a verdade e vieram à luz? Porque está escrito: Quem faz a verdade, vem à luz.

"Mas amaram, disse, mais as trevas que a luz." Aí puseram a vontade. Pois muitos amaram os seus pecados, outros muitos, porém, confessaram os seus pecados. E os que confessam e acusam os seus pecados já obram com Deus. Deus acusa os teus pecados: se tu também os acusardes, juntas-te a Deus. Como que duas coisas diferentes são o homem e o pecador. Deus fez o homem, mas o pecador foi feito pelo homem. Destrói o que fizeste tu, para que Deus salve o que Ele fez. Convém que odeies em ti a tua obra, e ames em ti a obra de Deus. Quando começarem a desagradar-te os teus feitos, então começarão as tuas boas obras, porque estarás acusando as tuas obras más. O início das obras boas é a confissão das obras más.

22 de maio de 2010

Domingo de Pentecostes: Nele faremos morada.

Homilia de São Gregório Papa
Homilia 30 sobre os Evangelhos

Convém, caríssimos irmãos, tratar com brevidade das palavras da leitura evangélica, para que, depois, possamos permanecer mais tempo na contemplação de tamanha solenidade. Eis que hoje o Espírito Santo vem sobre os discípulos com um estrondo repentino, mudando as suas idéias das coisas carnais para o seu amor, e, por fora aparentando como línguas de fogo, por dentro se fizeram labaredas no coração, porque, enquanto recebiam Deus na visão de fogo, ardiam suavemente por amor. Este Espírito Santo, pois, é o amor: por isso mesmo diz João: "Deus é amor". Portanto, aquele que deseja a Deus com reta intenção, já possui Aquele Que ama, visto que ninguém poderia amar a Deus se não tivesse Aquele Que ama.

Mas vede: se qualquer um de vós for perguntado se ama a Deus, com toda confiança e segurança responda: Amo. No começo dessa leitura ouvistes o que a Verdade diz: Se alguém Me ama, guardará Minha palavra. A prova do amor, portanto, é a manifestação das obras. Sobre isso, em sua epístola, o mesmo João diz: Quem diz "Amo a Deus" e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso. Verdadeiramente amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos se refreamos os nossos apetites. Quem se dissipa pelos desejos ilícitos, por isso mesmo não ama a Deus: porque Lhe diz "Não" com a sua vontade.

"E o Meu Pai o amará, e a ele viremos, e nele faremos morada." Pensai, irmãos caríssimos, quão grande seja esta dignidade: ter à habitação do coração a vinda de Deus. Certamente que se em nossa casa fosse entrar um amigo rico e poderoso, toda a casa seria depressa limpa, para que não ocorresse que houvesse algo que ofendesse os olhos do amigo que entra. Lave, pois, as sujeiras das obras más, aquele que prepara a casa da alma para Deus. Mas vede o que diz a Verdade: Venhamos, e façamos nele morada. Porém, com alguns, vem-lhes ao coração, mas não faz aí morada, porque, ainda que, pela compunção, recebem a atenção de Deus, no tempo da tentação esquecem-se daquilo mesmo de que se tinham arrependido, e voltam a fazer os pecados como se nunca se houvessem arrependido.

19 de maio de 2010

Missa Tridentina em Curitiba: Sermão do Pe. Paulo Iubel no Domingo da Ascensão (15/05/2010)

Pe. Paulo Iubel
Paróquia Imaculada Conceição
Curitiba/PR

Declaração sobre a Maçonaria - Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé

DECLARAÇÃO SOBRE A MAÇONARIA

Foi perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da maçonaria pelo facto que no novo Código de Direito Canônico ela não vem expressamente mencionada como no Código anterior.

Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redacional seguido também quanto às outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.

Permanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.

Não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçônicas com um juízo que implique derrogação de quanto foi acima estabelecido, e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação, de 17 de Fevereiro de 1981 (cf. AAS 73, 1981, p. 240-241).

O Sumo Pontífice João Paulo II, durante a Audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente Declaração, decidida na reunião ordinária desta Sagrada Congregação, e ordenou a sua publicação.

Roma, da Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 26 de Novembro de 1983.

Joseph Card. RATZINGER
Prefeito

+ Fr. Jérôme Hamer, O.P.
Secretário

Fonte: Fratres in Unum

12 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Final

Final) Rogar a Deus pelos vivos e defuntos.
Judas Macabeu, invicto condutor dos filhos de Israel, enquanto se procedia à sepultura dos soldados caídos em batalha, descobriu debaixo da roupa deles objetos idólatras, proibidos pela Lei, isto é, pelos mandamentos de Deus. Pôs-se então, a rezar com todos os que estavam ali presentes, para que aqueles pecados dos soldados mortos fossem perdoados. "E, tendo feito uma coleta, mandou doze mil dracmas de prata a Jerusalém, para serem oferecidas em sacrifício pelos pecados dos mortos, crendo bem e religiosamente na ressurreição (porque se ele não esperasse que os que tinham sido mortos haviam um dia de ressuscitar, teria por coisa supérflua e vã orar pelos defuntos); porque ele considerava que, aos que tinham falecido na piedade, estava reservada uma grandíssima misericórdia. É pois um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (2º Macabeus, 12, 43-46).
A oração é a preciosa chave que abre os tesouros das celestes misericórdias. Deve o cristão rezar não só por si, mas também por seus irmãos, especialmente pelos pecadores e pelos que mais necessitam. Deve rezar pelos vivos e pelos mortos e, de modo particular, pelas almas mais abandonadas do Purgatório.

Os nossos mortos esperam,
Sempre, com os olhos fixos
Como o mendigo que estende a mão,
Aquelas orações...
(Pascoli: "A minha moléstia").

Rezemos...
Rezemos pelos que dormem
No cemitério,
Quer sejam culpados ou inocentes,
Pois o mistério da morte
Só Tu o sabes, ó Deus!
(Fogazzaro: "A noite".

11 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 197

197) Sofrer com paciência as fraquezas do próximo.
Jó era um príncipe ilustre em todo o Oriente.
Havia-lhe Deus dado tudo o que o homem pode desejar na Terra: honras, riquezas, família numerosa ...
Querendo Deus, porém, provar-lhe a virtude, permitiu que ele perdesse os seus bens de fortuna. Pereceram depois trágicamente os seus filhos e, enfim, assaltou-o uma atroz moléstia, que o tornava insuportável a todos. Precisou transferir seu leito para um lugar infecto.
Certa vez, três de seus amigos vieram de longe para visitá-lo. Vendo-o tão deformado pela lepra, começaram a acusá-lo, dizendo-lhe que ele havia merecido de Deus todos aqueles infortúnios em castigo de seus pecados.
Jó, no entanto, sofreu tudo com paciência: a perda das riquezas, dos filhos, da saúde e mesmo as estultas acusações dos amigos desleais. Deus, como recompensa, restituiu-lhe a saúde, uma nova família e o dobro das riquezas que possuía antes.
Lembremo-nos que todos temos defeitos e que por isso, devemos compadecer-nos mútuamente. Trazemos o fardo de nossas misérias sobre nossos ombros mas, quando vemos os defeitos do próximo, esquecemo-nos dos nossos. Aprendamos de Jesus a doçura e a mansidão de trato e de coração.
"Procurai ser paciente, suportando os defeitos alheios" (Imitação de Cristo).

10 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 196

196) Perdoar as injúrias.
Com o auxílio de Deus, José, vendido por seus irmãos, tornou-se vice-rei do Egito.
Quando seus irmãos, levados pela fome, foram ao Egito à procura de trigo, a ele se apresentaram, sem reconhecê-lo. José, porém, reconheceu-os. Levado pela torrente de afeto que a eles o prendia, fêz com que todos saíssem da sala afim de dar-se a conhecer a seus irmãos. Levantou a voz chorando, no que foi ouvido pelos egípcios e pelos moradores da casa de Faraó. Disse em seguida aos irmãos: "Eu sou José, vosso irmão, a quem vós vendestes para o Egito. Não temais nem vos pareça ser coisa dura o terdes-me vendido para este país, porque para vossa salvação me mandou Deus adiante de vós para o Egito... E José beijou todos os seus irmãos, e chorou sobre cada um deles" (Gênesis,45, 4-15). Eis a vingança dos santos - o perdão!
Lembra-te que perdoar de coração aos que te ofenderam é mandamento expresso de Jesus: "Porque se vós perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará os vossos pecados. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados" (Mateus, 6, 14-15).
Há meninos que guardam rancor de alguns companheiros que os ofenderam com palavras ou maneiras. Não está bem. O ensinamento de Jesus Cristo é este: "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe. E se pecar sete vezes no dia contra ti, e sete vezes no dia, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido: perdoa-lhe sempre" (Lucas, 17, 3-4).

9 de maio de 2010

Missa Tridentina em Curitiba: Sermão do Pe. Paulo Iubel no V Domingo depois da Páscoa (09/05/2010)

Pe. Paulo Iubel
Curitiba - Paróquia Imaculada Conceição
09/05/2010

Domingo das Rogações: Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo dará!

Tract. 102 in Joannem

Agora é oportuno tratar destas palavras do Senhor: Em verdade, em verdade vos digo que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará. Já foi dito nas partes anteriores desse sermão dominical, pelo bem daqueles que muito pedem ao Pai em nome de Cristo, sem receber, que não é pedido em nome do Salvador aquilo cujo fim é contra a salvação. Porque não é ao som das letras e sílabas, mas ao sentido do mesmo som e ao que dele honesta e verazmente se entende, que se referem as palavras: Em meu nome.

Donde se conclui que aquele que pensa em relação a Cristo aquilo que não é próprio de ser pensado em relação ao Filho único de Deus, este não pede em Seu nome, ainda que não deixe de pronunciar, com letras e sílabas, "Cristo", pois pede no nome daquele ser que ele imaginou, no qual pensa enquanto pede. Por outro lado, aquele que sente em relação a Ele aquilo que é próprio de ser sentido em relação a Ele, este pede em Seu nome, e recebe o que pede, se não pedir contra a sua eterna salvação. Recebe, porém, quando deve receber. Portanto, isso que ele pediu não lhe é negado, mas fica pendente até que chegue o tempo oportuno. Esta é a interpretação saudável das palavras: Dar-vo-lo-á: que se saiba que os benefícios significados por estas palavras são aqueles que pertencem propriamente àqueles que pedem. Serão atenditos, portanto, todos os Santos quando pedirem para si mesmos, mas nem sempre quando pelos seus amigos ou inimigos, ou quaisquer outros, porque não é dito simplesmente: Dará, senão: Dar-vo-lo-á.

Até agora, Ele diz, não haveis pedido nada em Meu nome. Pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja plena. Isso que Ele diz: Alegria plena, entenda-se que não é da alegria carnal, mas da espiritual que Ele diz, a qual, quando tanta for que não seja passível de ser aumentada, então sem dúvida será plena. Sendo assim, tudo aquilo que for pedido, que se refira a atingir essa alegria, isso deve ser pedido em nome de Cristo, se aspiramos à graça divina, se pedimos a vida bem-aventurada. Fora disso, tudo sendo pedido, não é pedido nada - não porque todas as coisas não sejam nada, mas porque, em comparação a isso, é nada tudo o que possa ser desejado.

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 195

195) Consolar os aflitos.
No imortal romance "Os noivos", são célebres as figuras do Cardeal Frederico Borromeu e do Inominado.
O Inominado, depois de haver levado uma vida de grandes perversidades, acabou por atender à voz da divina graça. Encontrou no santo Arcebispo um amigo e um consolador, que o acolheu carinhosamente e o reconduziu ao perdão e à paz.
É maravilhosa a descrição de seu primeiro colóquio com o Arcebispo de Milão.
Desprendendo-se dos braços do Cardeal Frederico, exclamava o Inominado: "Deus verdadeiramente grande, Deus verdadeiramente bom! Agora me conheço, compreendo quem sou eu! As minhas iniquidades estão diante de meus olhos. Horrorizo-me de mim mesmo!
Todavia, sinto um refrigério, uma alegria que nunca provei nesta minha horrível vida" (A. Manzoni, "Os noivos", cap.XXIII).
São chamados aflitos os que se sentem oprimidos por dores físicas e morais, por desventuras e tribulações de todo o gênero. Foi Jesus quem nos ensinou a dizer plavras de conforto a essas almas atribuladas, para nelas reavivar a esperança cristã, infundindo-lhes coragem e resignação. Essa obra de caridade é bem rara mas é pródigamente recompensada por Deus.
Lembremo-nos aqui da exortação divina: "Não deixeis de consolar os que choram, e anda com os aflitos" (Eclesiástico, 7,38).

8 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 194

194) Castigar os que erram.
Narra o Santo Evangelho que "os escribas e os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher e disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi agora mesmo apanhada em adultério. Ora, Moisés na lei, mandou-nos apedrejar tais pessoas. Que dizes tu, pois? E diziam isto para O tentarem, a fim de O poderem acusar. Porém, Jesus inclinando-se, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Continuando, porém, eles a interrogá-Lo, levantou-se, e disse-lhes: O que de vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a pedra.
E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Mas eles, ouvindo isto, foram-se retirando um após outro, começando pelos mais velhos; e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio. Então Jesus, levantando-se disse-lhe: Mulher, onde estão os que te acusam? Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor. Então disse Jesus: Nem eu te condenarei; vai, e não peques mais" (João, 8, 3-11).
Com que divina doçura sabia Jesus comover os corações! Corrigir significa: admoestar o próximo com mansidão e caridade, a tempo e a hora, com o intuito de conduzi-lo ao bem.
Quantas vezes uma boa palavra, fecundada pela graça de Deus, não é o princípio das mais santas resoluções!
"Seria de lastimar um cirurgião que, desapiedadamente deixasse um homem morrer, por não ter coragem de lhe curar uma chaga! Muitas vezes, uma advertência feita em momento oportuno é tão útil para a alma como um golpe de bisturi, dado certamente, para a saúde do corpo" (S. Francisco de Sales).

7 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 193

193) Ensinar os ignorantes.
A maior necessidade da alma é a verdade, especialmente a verdade religiosa, que ensina aos homens o caminho da salvação.
Quem instrui os ignorantes sobre as verdades da fé e com eles reparte o pão da doutrina, cumpre uma sublime e meritória missão aos olhos de Deus. Torna-se continuador da obra de Jesus Cristo, que veio à Terra para ser nosso Mestre.
Este dever cabe sobre tudo aos pais, aos mestres, aos superiores. De certo modo, todos nós temos obrigação de ensinar a nosso próximo, ao menos pelo exemplo de uma perfeita prática de nossos deveres cristãos.
Grande figura de educador cristão é São João Batista de La Salle. Fundou muitas escolas gratuitas para crianças pobres. Seus continuadores, os irmãos das Escolas Cristãs (Lassalistas), continuam até hoje a educar cristãmente milhares de jovens.
Caro menino, estuda as verdades divinas, para um dia também ensiná-las aos outros.
"Sê liberal em qualquer gênero de auxílio, para com os necessitados - exorta o mártir de Spielberg - em dinheiro e proteção, quanto puderes; em conselhos, aproveitando as ocasiões; em boas maneiras e boas sugestões. É sempre linda a piedade para com os infelizes..." (Sílvio Pellico:"Sobre os deveres dos homens")

6 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 192

Obras de Misericórdia Espirituais

Às obras de misericórdia corporais, seguem-se as obras de misericórdia espirituais, que são igualmente sete.
1. Dar bom conselhos.
Apresentou-se um dia um jovem a Jesus e lhe perguntou: "Bom Mestre, que devo eu fazer para alcançar a vida eterna?" E Jesus disse-lhe: "Tu sabes os Mandamentos: Não cometas adultério, não mates, não furtes, não digas falso testemunho, não cometas fraudes, honra teu pai e tua mãe". E ele, respondendo, disse-lhe: "Mestre, todas estas coisas tenho observado desde a minha mocidade". E Jesus, pondo nele os olhos, mostrou-lhe afeto, e disse-lhe: "Uma coisa te falta: vai, vende quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem depois e segue-me" (Marcos, 10, 17-21).
Que santo conselho deu Jesus a esse jovem!
O que é dúvida? É estar-se incerto sobre uma decisão a tomar. Estamos todos sujeitos a enganos, especialmente quando nos apoiamos em nosso próprio juízo e quando rejeitamos os conselhos de pessoas sábias e virtuosas.
É portanto evidente que dar conselhos úteis, prudentes e sábios é uma especalíssima caridade para com o próximo.
Assim exorta o Apóstolo: "Enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos irmãos da fé" (Gálatas, 6,10).

5 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 191

191) Enterrar os mortos.
A Igreja sempre rodeou de veneração os corpos dos fiéis defuntos santificados durante a vida pelos sacramentos e destinados à ressurreição eterna. Eis por que se benzem as tumbas, onde repousam seus despojos. No tempo das perseguições eram subterrâneas e denominavam-se catacumbas.
Os primeiros cristãos tinham especial veneração pelos corpos dos mártires.
O quadro representa o enterro de S. Lourenço. Com tochas acesas, transportavam os fiéis o corpo do mártir através dos escuros corredores, até o lugar para ele preparado pelos coveiros. Logo depois, era adornado de flores e símbolos sacros.
Ainda hoje se conserva o costume de levantar a cruz sobre os túmulos dos fiéis e de cobri-los de flores.
Não neguemos aos nossos mortos a nossa oração de sufrágio. Tributemos-lhes nossa homenagem de caridade, acompanhando-os à derradeira morada e confiando-os à terra de onde ressuscitarão um dia para o juízo final.
Admoesta-nos o Espírito Santo na Sagrada Escritura: "A beneficência é agradável a todos os vivos, e não impeças que ela se estenda aos mortos" (Eclesiástico, 7,37).

4 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 190

190) Visitar os encarcerados.
S. Vicente de Paula foi apóstolo incansável da caridade. Aliviava todo o gênero de miséria humana. Quando era capelão geral das galés do rei da França, visitava freqüentemente os pobres galeotes condenados aos trabalhos forçados. Entre eles, havia um, condenado injustamente, que se mostrava cada vez mais desesperado. Chegou a ponto de recusar ouvir as exortações do santo capelão. Vicente, repleto do heroísmo da caridade, ofereceu-se para ficar em seu lugar na prisão, deixando-se prender aos pés com as pesadas cadeias dos condenados. É assim a caridade dos santos!
Quase não é mais costume visitar os encarcerados, que a lei segrega do convívio civil, em expiação de seus delitos.
Em séculos passados, a Igreja com suas Ordens religiosas, era pródiga em resgatar e assistir os prisioneiros de guerra, levando-lhes auxílio espiritual e material. Hoje continua a Igreja, com maternal solicitude, a proteger e amparar espiritual e materialmente, os infelizes detentos.
Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para os consolar. Consideremos esta caridade como um dever.
Antigamente, resgatar os prisioneiros de guerra, tratados como escravos, era obra tida por grande e heróica. A ela se dedicavam Famílias Religiosas inteiras, com grande vantagem para a civilização critã. Não raro, heróicos religiosos ofereciam-se voluntáriamente à escravidão, para resgatar seus irmãos. Tornavam-se, assim fiéis imitadores de Jesus, que se imolou por nosso amor.
"Estava no cárcere - dirá Jesus aos eleitos - e fôstes visitar-me" (Mateus, 25,36).

3 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 189

189) Visitar os enfermos.
São Caetano de Tiene, na flor da idade, abandonou uma carreira brilhante, para dedicar-se ao serviço de Deus, na pessoa dos doentes nos hospitais. Com que solicitude não lhes curava as chagas, ao mesmo tempo que com celestial eloqüência, elevava suas almas para o alto! Lembrava-lhes, então,as alegrias do Céu e o prêmio eterno que lhes estava reservado.
Tem os doentes grande necessidade de conforto, pois, enquanto os torturam as dores físicas, o espírito deprime-se e entrega-se ao desânimo.
Assim é que uma visita amiga, uma palavra cordial, muito contribuem para encorajar e acalmar os doentes.
Muitas vezes os doentes resistem às inspirações da graça e não concordam em pôr em dia a sua vida. Quanta solicitude não é então preciso empregar, para induzi-los a ajustarem suas contas com Deus! De outro modo, eles não conseguiriam a salvação eterna. Poucas palavras, mas cheias de unção e de caridade, reconduziram a Deus muitas almas das quais já nada mais se esperava, quando se verificaram verdadeiros milagres de conversão.
Menino, acostuma-te a considerar os enfermos como membros sofredores do Corpo Místico de Cristo. Eles são, entre todos os cristãos, os mais caros ao coração materno da Igreja que, desde os tempos mais remotos, vem neles pensando e para eles abrindo hospitais e sanatórios! São inúmeras as Congregações Religiosas fundadas para a assistência aos enfermos. Como é rica de heroísmo e de santidade sua história!
Recordemo-nos sempre da advertência do Espírito Santo: "Não sejas preguiçoso em visitar os enfermos, porque é assim que tu te fortificarás na caridade" (Eclesiástico, 7,39).

2 de maio de 2010

Missa Tridentina em Curitiba: Sermão do Pe. Paulo Iubel no IV Domingo depois da Páscoa (1º/05/2010)

Pe. Paulo Iubel
Paróquia Imaculada Conceição
Curitiba/PR

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 188

188) Dar pousada aos peregrinos.
Na terrível guerra de 1904 a 1945, os modernos aparelhos de bombardeio destruíram uma grande parte das cidades e municípios europeus. Assim foi que muitos se viram constrangidos a pedir abrigo e roupa a quem lhos pudesse dar. A caridade cristã não se fêz esperar. Abriram-se muitas portas aos fugitivos e nelas encontraram eles acolhimento cordial e fraterno.
A hospitalidade sempre foi, desde os primeiros tempos da Igreja, honroso apanágio dos cristãos. Era o peregrino recebido e tratado como se fôsse o próprio Jesus Cristo.
O quadro ilustra a caridade operosa de S. Juliano, o qual, com sua santa espôsa, consagrou sua vida a aliviar os cançados e as necessidades dos pobres viandantes.
Hospedava-os caridosamente em sua casa.
Todos admiram e conhecem a obra altamente humana e hospitaleira dos monges do grande São Bernardo. Ajudados por seus célebres cães, entregavam-se à procura e à defesa dos viadantes nos desfiladeiros alpinos, desafiando assim os turbilhões da neve e da tormenta. Era a caridade de Cristo que os animava e sustentava.
Quantos, porém, fecham-se em seu mesquinho egoísmo e não tem entranhas de piedade para com as necessidades alheias. No juízo divino, ouvirão a sentença que lhes está reservada: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o demônio e para os seus anjos; porque tive fome e não me destes de comer; tive sêde e não me destes de beber; era peregrino, e não me recolhestes... Todas as vezes que não o fizestes a um destes mais pequeninos, foi a mim que o não fizestes" (Mateus, 25, 41-42; 45).

1 de maio de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 187

187) Vestir os nus.
Santa Catarina de Sena não sabia negar esmola aos pobres que lha pediam em nome de Jesus, seu Deus e Senhor.
Um dia um mendigo seminu pediu-lhe uma roupa. Ela não duvidou em dar-lhe um vestido de lã que possuía. Depois, o pobre pediu-lhe também uma camisa e a santa deu-lhe uma, que pertencia a seu pai.
Na noite seguinte,enquanto Catarina estava rezando, apareceu-lhe Jesus sob o aspecto daquele pobre. Trazia nas mãos o vestido que recebera, ornamentado, porém, de pérolas e gemas preciosas. Dise-lhe então Jesus: Ontem tu me deste este vestido.
Agora eu te entrego outro vestido invisível, que cobrirá tua alma e teu corpo. - E assim falando, cobriu-a com aquela veste luminosa.
Desde esse dia, Catarina não sentiu mais frio e, mesmo durante o mais rigoroso inverno, trajava-se com roupas leves.
Aprende com esta santa a cobrir os membros sofredores de Jesus, os pobres, e serás por Ele revestido com o esplêndido hábito da sua graça.
Tu, a quem teus pais nada deixam faltar, não feches teu coração à miséria e às necessidades de tantos meninos pobres. Dá e ser-te-á dado.
Diz o Senhor: "Reparte o teu pão com o que tem fome, e introduze em tua casa os pobres e os peregrinos; quando vires alguém nu, cobre-o e não desprezes a tua (própria) carne (ou a do teu próximo)" (Isaías 58,7).