31 de janeiro de 2011

31 de janeiro: São João Bosco, Confessor

João Bosco, nascido num local humilde em Caltelnuovo, em Asti, e, perdendo o pai, foi bem santissimamente educado pela mãe; desde a primeira idade se previa a maravilha de Santo que haveria de ser. De caráter manso e inclinado à piedade, gozava de uma especial autoridade entre os seus pares, entre os quais ele, maduramente, resolvia as brigas, acabava com as rixas, e combatia as palavras torpes e jogos lascivos. Ocupava-se com eles atraindo-os com seu modo gracioso de falar, inserindo-os nas orações por meio de brincadeiras, repetindo-lhes a doutrina sagrada que ouvia na igreja com um admirável número de doces sermões, e instigando os menininhos a, o quanto antes e amiúde, frequentar os sacramentos da Penitência e Eucaristia. Sendo modesto no falar e na aparência, atraía todos a si pela beleza dos seus costumes e pela candura da sua inocentíssima vida. Entretanto, devido à penúria da família, passou toda uma adolescência de trabalhos e tribulações, nos quais, porém, sempre esteve alegre e em Deus confiando que se tornaria sacerdote.

Feitos os votos, esteve primeiro na cidade de Chieri, e depois na Augusta de Turim, sendo seu mestre São José Cafasso, com grande aplicação, fez progressos na ciência dos santos, e no aprendizado de teologia moral. Aí também, sua vontade se inclinava, como por uma inspiração sobrenatural, a dedicar-se aos jovens, para ensinar-lhes os rudimentos da doutrina cristã. Quando o número deles cresceu, fundou, com inspiração celestial, uma sede estável para reuni-los, na cidade chamada Valdocco, tendo de superar ásperas e quotidianas dificuldades, e gastava todas as suas energias nisso. Um pouco depois, com o auxílio da Virgem Mãe de Deus, que lhe aparecera quando criança, revelando-lhe o seu futuro, João fundou a Sociedade dos Salesianos, cujo principal fim fosse ganhar para Cristo as almas dos jovens; fondou ainda uma outra congregação, de virgens consagradas, chamada de Nossa Senhora Auxiliadora, para dirigir as jovens nos caminhos do Senhor; por fim, fundou a Ordem Terceira dos Cooperadores, para, com zelo e piedade, ajudar na obra Salesiana. Assim, em breve tempo, fez grandes contribuições tanto à sociedade cristã quanto à civil.

Cheio de zelo pelas almas, ele não se poupava nenhum trabalho e nenhum gasto para construir centros recreacionais para os jovens, orfanatos, escolas para crianças trabalhadoras, escolas e casas para a instrução dos jovens, e igrejas longe e largamente pelo mundo. Ao mesmo tempo, ele não cessou de espalhar a Fé por todo o país Subalpino, por palavra e pelo exemplo, e por toda a Itália, escrevendo e editando bons livros e distribuindo-os, e nas missões estrangeiras, às quais enviou numerosos pregadores. Um homem simples e reto, inclinado a toda boa obra, ele brilhou em todas as virtudes, principalmente por sua intensa e ardente caridade. Com a alma sempre aplicada a Deus, e agraciada com dons celestiais, esse santo homem de Deus não tinha medo das ameaças, nem se cansava com o trabalho, nem era oprimido pelos cuidados, nem se perturbava pela adversidade. Ele recomendou três obras de piedade aos seus seguidores: receber tão frequentemente quanto possível os sacramentos da Penitência e da Santa Eucaristia, cultivar a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora, e ser um fidelíssimo filho do Soberano Pontífice. Também deveria ser mencionado que João Bosco, nas circunstâncias muito difíceis, ia ao Papa mais de uma vez, para consolá-lo nos males vindos de leis que naquele tempo foram promulgadas contra a Igreja. Com uma vida de tantas realizações, ele morreu no dia 31 de janeiro de 1888. Ilustre por seus muitos milagres, o Sumo Pontífice, Pio XI, beatificou-o em 1929. Cinco anos depois, no dia solene da Páscoa, no nongentésimo aniversário da Redenção do gênero humano, ele foi canonizado, em meio a uma multidão vinda a Roma de todas as partes do mundo.

Fonte: Breviário Romano

30 de janeiro de 2011

30 de janeiro: Santa Martina, Virgem e Mártir

Martina, donzela romana, filha de um cônsul, nascida numa família ilustre, órfã desde a infância, encendida do ardor da piedade cristã, distribuía em profusão aos pobres as riquezas que ganhava. Sob o imperador Alexandre, foi mandada sacrificar aos falsos deuses, e recusou-se firmemente a cometer tão grande crime. Por isso, foi muitas vezes molestada por palavras, ganchos, unhas de ferro, cacos de louças; cortada, membro por membro, com espadas afiadíssimas; escaldada em gordura fervente; mandada para o anfiteatro para ser publicamente devorada por feras. Saindo ilesa, por Deus, dessas torturas, foi jogada numa pira ardente, da qual saiu igualmente incólume.

Alguns dos seus torturadores, edificados pela notícia dos milagres, por graça de Deus, abraçando a fé de Cristo, mereceram a gloriosa palma do martírio, após serem torturados. À oração da santa, terremotos e fogos do céu trovoante derrubaram os templos dos deuses e demoliram os simulacros. Enquanto isso, das suas chagas, além do sangue, saía um certo leite, e emanavam do seu corpo um resplendor nitidíssimo e um suavíssimo odor, e, enquanto isso, foi vista num trono real, louvando a Deus junto com os bem-aventurados.

Esses prodígios, e, principalmente, a sua repetição, moveram fortemente o juiz a mandar decapitar a virgem. Cumprida a ordem, e ouvida do céu uma voz como que a chamando para o Paraíso, toda a cidade tremeu, e muitos idólatras se converteram à fé de Cristo. O corpo sagrado de Martina, martirizado no pontificado de Urbano I, foi descoberto pelo Sumo Pontífice Urbano VIII, na antiga Igreja da santa, perto da prisão de Marmetino, ao pé da colina do Capitólio, junto com os corpos dos santos mártires Concórdio, Epifânio e seus companheiros, e, com grande concurso de povo e toda a cidade feliz, foi reposto com solenidade e pompa, no mesmo lugar, reformado e mais formoso.

Do Breviário Romano.

29 de janeiro de 2011

29 de janeiro: São Francisco de Sales, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

Francisco, nascido na cidade de Salésio, donde o sobrenome da família, desde os tenros anos mostrou indícios da futura santidade, pela inocência dos costumes e pela gravidade. Adolescente, foi educado nas disciplinas liberais, e então empenhou-se em estudar filosofia e teologia em Paris, e, para que nada faltasse à cultura de sua mente, graduou-se ainda, em Pádua, com sumo louvor, em leis civil e eclesiástica. Na Santa Casa de Loreto, renovou o voto de virgindade perpétua com que se ligara já em Paris, propósito de virtude que não pôde vencer nenhum engano do demônio, nenhuma excitação dos sentidos.

Recusando uma enorme dignidade no senado de Sabaudia, inscreveu-se à milícia clerical. Iniciado no sacerdócio e encarregado da igreja de Genebra, cumpriu seu papel com tanta perfeição que Granier, o Bispo, para retomar da heresia calvinista os povos de Chablais e das proximidades de Genebra, dedestinou-o à pregação da divina palavra. Tomando essa missão, tomada com agudeza de alma e asperamente levada a cabo, amiúde foi perseguido pelos hereges para matá-lo, e vexado com muitas calúnias e insídias. Porém, entre tantas oposições e lutas, sempre evidenciou-se a sua constância insuperável, e, protegido pelo poder de Deus, consta que converteu setenta e dois mil hereges à fé católica, entre os quais muitos insignes por sua nobreza e cultura.

Morto Granier, que o procurara como coadjutor, e sendo ele sagrado Bispo, espalhou por toda a volta os raios da sua santidade, notável pelo zelo da disciplina eclesiástica, amor pela paz, misericórdia para com os pobres, e todas as virtudes. Para o engrandecimento do culto divino, instituiu uma nova ordem de freiras, chamada da Visitação da Bem-Aventurada Virgem, sob a regra de Santo Agostinho, a cujas constituições conferiu sabedoria, discrição e suavidade admiráveis. Também ilustrou a Igreja por seus escritos, plenos da celeste doutrina, que mostram, seguro e reto, o caminho da perfeição cristã. Com 55 anos de idade, retornando da França para Annecy, após celebrar em Lião a festa de São João Evangelista, acometido de uma grave moléstia, passou ao céu no dia seguinte, no ano do Senhor de 1622. Seu corpo foi levado a Annecy, e honrosamente sepultado na igreja das monjas da referida ordem, e imediatamente começou a se fazer notar pelos milagres. Esses foram comprovados, e, pelo Sumo Pontífice Alexandre VII, ele foi admitido no número dos santos, marcada sua festa para o dia 29 de janeiro; e, pelo Sumo Pontífice Pio IX, consultando a Congregação dos Sagrados Ritos, foi declarado Doutor da Igreja.


O Doctor óptime, *
Ecclésiæ sanctæ lumen,
beáte Francísce, divínæ legis amátor,
deprecáre pro nobis Fílium Dei.



Ó Doutor boníssimo, luz da Santa Igreja, bem-aventurado Francisco, amante da divina lei, rogai pro nós ao Filho de Deus.



Fonte: Breviário Romano

28 de janeiro de 2011

28 de janeiro: São Pedro Nolasco, Confessor

Pedro Nolasco, nascido de nobres pais em Recaudun, perto de Carcassonne, na França, distinguiu-se pela excelência da sua caridade com o próximo. Houve um presságio da sua virtude quando ele ainda estava no berço: um enxame de abelhas voou até ele, e construiu um favo de mel na sua mão direita. Feito órfão na adolescência, por ódio à heresia albigense, que então grassava na França, vendeu o patrimônio, e partiu para a Espanha, e cumpriu um voto que havia feito à Santa Virgem de Monserrat. Indo, depois, a Barcelona, gastou todo o seu dinheiro para libertar os fiéis cristãos da escravidão dos inimigos (mouros), e dizia que gostaria de vender-se a si mesmo para isso, ou ir para as cadeias desses.

Deus, numa ocasião seguinte, declarou o quanto ficou agraciado com o desejo deste santo homem: rezando durante uma noite, e aplicando-se com muito ânimo aos meios de livrar os cristãos cativos, apareceu-lhe a Virgem, e disse-lhe que lhe agradaria muitíssimo a Ela e a Seu Filho, se ele instituísse uma ordem religiosa, cujo principal cuidado fosse libertar os cativos da tirania dos infiéis. Conformando-se com esse conselho celestial, uniu-se a São Raimundo de Peñafort e Tiago I, rei de Aragão, aos quais a mesma revelação havia sido feita na mesma noite, e instituiu a Ordem Religiosa de Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos. Com seus companheiros, ligou-se por um quarto voto: o de permanecer na prisão, sob o poder dos pagãos, se fosse útil para a libertação dos cristãos.

Desde que fez o voto de virgindade, conservou perpetuamente imaculada a castidade. Aproveitou admiravelmente na paciência, humildade, abstinência, e demais virtudes. Iluminado pelo dom da profecia, predisse coisas futuras: delas, a mais famosa é que fez ao rei Tiago, de que tomaria Valência, ocupada pelos mouros, feita antes que houvesse certeza da vitória. Era frequentemente recreado com a aparição do Anjo da Guarda e da Virgem Mãe de Deus. Ancião, sendo-lhe revelado que a morte era iminente, caiu doente, e, tomando os santos sacramentos, exortou os seus irmãos à caridade para com os cativos, e, recitando devotissimamente o Salmo "Confitebor tibi Domine in toto corde meo" (Professar-Vos-ei, Senhor, de todo o meu coração), quanto chegou às palavras "Redemptionem misit Dominus populo suo" (O Senhor mandou a redenção para o seu povo), entregou o espírito a Deus, na meia-noite da Vigília do Natal do Senhor, do ano 1256. Alexantre VII mandou que sua festa fosse celebrada no dia 31 de janeiro.
Fonte: Breviário Romano

28 de janeiro: Santa Inês (Agnes), Virgem e Mártir

Santa Inês, seus pais vindo assiduamente vigiar junto ao seu sepulcro, apareceu-lhes certa noite, acompanhada de um coro de virgens, e disse-lhes: Pais, não me choreis como morta, pois, junto com estas virgens, vivo, nos céus, com aquele que na terra amei de todo o coração. Alguns anos depois, quando Constância, filha do imperador Constantino, buscando o remédio para uma úlcera incurável, nem sendo ainda cristão, veio ao mesmo sepulcro, adormecendo, viu e ouviu Inês dizendo: Constância, age com constância: crê em Jesus Cristo Filho de Deus, que curar-te-á. Curada ela, um pouco depois, recebeu o batismo, junto com muitos da família imperial, e aí edificou uma igreja com o nome de Santa Inês.

Fonte: Breviário Romano

27 de janeiro de 2011

27 de janeiro: São João Crisóstomo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

João, da Antioquia, chamado Crisóstomo (em grego: boca de ouro) devido à sua áurea eloquência, formou-se em direito e nos saberes do século, antes de entregar-se, com engenho e esforço, às divinas letras. Então, iniciado no clero, e feito presbítero da igreja de Antioquia, com a morte de Nectário, por ordem do imperador Arcádio, tomou o governo da igreja de Constantinopla. Recebendo o encargo de pastor, começou a repreender veementemente os costumes depravados, e a licenciosidade da vida dos homens de nobreza. Por isso, foi alvo da grande inveja de muitos. Foi gravemente ofendido inclusive pela Imperatriz Eudóxia, que havia repreendido por causa do dinheiro da viúva Calítropa, e do campo de uma outra viúva.

Alguns bispos fizeram um conciliábulo na Calcedônea, ao qual ele não quis ir, porque não era um concílio legítimo nem público; fazendo pressão contra Crisóstomo, em primeiro lugar a própria Eudóxia, expulsou-o para o exílio, mas, pouco depois, como o povo fisesse uma sedição pedindo por ele, foi trazido de volta do exílio, com a admirável aprovação da cidade. Entretanto, não deixando ele de reprovar os maus costumes, e proibindo a celebração de jogos públicos para a estátua de prata de Eudóxia na praça de Santa Sofia, por conspiração de bispos inimigos foi novamente exilado, para a tristeza de todas as viúvas e pobres, privados, então, do pai de todos eles. É incrível o quanto Crisóstomo sofreu no exílio, e quantos converteu à fé de Jesus Cristo.

Entretanto, sendo celebrado um concílio em Roma, foi restituído por decreto do Pontífice Inocêncio I, mas era afligido por muitos males e calamidades pelo caminho, por parte dos soldados que o guardavam. Sendo conduzido pela Armênia, apareceu-lhe, de noite, São Basilisco Mártir, em cujo templo antes orara, dizendo-lhe: Irmão João, amanhã estaremos no mesmo lugar. No dia seguinte, tomando o sacramento da Eucaristia e munindo-se com o sinal da cruz, entregou a alma a Deus, no dia 14 de setembro*. Morto ele, caiu um Constantinopla um terrível granizo, e, após quatro dias, a Imperatriz deixou a vida. No dia 27 de janeiro, o seu corpo, com insigne pompa e celebrado por multidões de homens, foi levado a Constantinopla por Teodósio, filho de Arcádio, e sepultado com honra. Venerando as suas relíquias, esse pediu perdão pelos seus pais. Depois, o corpo foi trasladado a Roma, na basílica Vaticana. A multidão, piedade e esplendor dos seus sermões e demais escritos, a sabedoria de sua interpretação e explicação das sentenças dos livros sagrados são admirados por todos, e muitos dos seus escritos e pregações são julgados dignos de ter sido ditados pelo próprio Apóstolo Paulo, pelo qual ele tinha grande devoção.

* de 407.

Fonte: Breviário Romano

26 de janeiro de 2011

26 de janeiro: São Policarpo, Bispo e Mártir


Do livro de São Jerônimo Presbítero sobre os Escritores eclesiásticos.

Cap. 17

Policarpo, discípulo de João Apóstolo, e por ele ordenado bispo em Esmirna, foi cabeça dos cristãos em toda a Ásia, porque conheceu e teve por mestres muitos dos Apóstolos e daqueles que viram o Senhor. Durante o reinado do imperador Antonino Pio, Aniceto regendo a Igreja em Roma, veio à Cidade, para resolver algumas questões sobre o dia da Páscoa. Aí, conduziu de volta à fé muitos crentes que haviam sido enganados pelas heresias de Marcião e Valentino. Um dia, encontrando Marcião por acaso, esse lhe perguntou: Conhece-me? Respondeu-lhe o Santo: Conheço seres o promogênito do diabo. Depois, reinando Marco Antonino e Lúcio Aurélio Cômodo, na quarta perseguição desde Nero, em Esmirna, com o procônsul e todo o povo sentados no anfiteatro e clamando contra ele, foi lançado ao fogo. Escreveu aos Filipenses uma epístola muito edificante, que até hoje é lida nas igrejas da Ásia.

25 de janeiro de 2011

25 de janeiro: Conversão de São Paulo

Sermão de Santo Agostinho Bispo
Sermão 14 sobre os Santos


Hoje proclamou-se esta leitura dos Atos dos Apóstolos: aquela onde diz que Paulo Apóstolo tornou-se, de perseguidor dos cristãos que era, anunciador de Cristo. Cristo prostrou o perseguidor, para fazer dele doutor da Igreja: ferindo-o, e curando-o: matando, e vivificando: morto o Cordeiro pelos lobos, faz dos lobos cordeiros. Já fora predito na famosa profecia, em que o Patriarca Jacó abençoa os seus filhos (tocando o presente, e prevendo o futuro), o que se realizou em Paulo. Paulo era, como ele mesmo atesta, da tribo de Benjamim. Jacó, abençoando seus filhos, quando chegou a vez de abençoar Benjamim, dele disse: Benjamim é um lobo ladrão.

Que então? Lobo ladrão para sempre? Não; mas aquele que, pela manhã, rouba a presa, pela tarde divide o alimento. Isso se cumpriu em Paulo Apóstolo, porque fora dito também sobre ele. Agora, se o desejais, ouçamo-lo roubando pela manhã, e dividindo o alimento pela tarde. A manhã e a tarde são como se fossem, para ele, o antes e o depois. Portanto, entendamos assim: Primeiro rouba, depois divide o alimento. Atentai para o ladrão. Saulo, está escrito, recebendo cartas dos príncipes dos sacerdotes, partiu, para que, onde quer que encontrasse cristãos, prendesse e trouxesse aos sacerdotes, para serem punidos.

Partia bufando, e anelando por carnificina; isto é: de manhã, rouba. Também quando Estêvão, o primeiro Mártir, foi apedrejado pelo nome de Cristo, evidentemente estava presente Saulo, e estava tão unido aos apedrejadores, mais do que se estivesse apedrejando com suas próprias mãos. Para estar nas mãos de todos os apedrejadores, ele conservava as vestimentas de todos: mais atacava ajudando a todos, do que se estivesse apedrejando com suas próprias mãos. Ouvimos como roubou pela manhã: vejamos como dividiu o alimento pela tarde. Prostrado pela voz de Cristo do céu, e recebendo de cima a proibição de continuar fazendo mal, prostrou-se com a face em terra, primeiro sendo prosternado, e depois erguido; primeiro ferido, depois curado.


Tu es vas electionis sancte Paule Apostole,
praedicator veritatis in universo mundo,
Per quem omnes Gentes cognoverunt gratiam Dei.
Intercede pro nobis ad Deum, qui te elegit.

21 de janeiro de 2011

A educação cristã dos filhos - Santa Catarina de Sena

Carta 156
Para João Perotti

1 - Saudação e objetivo

Caríssimo e muito querido filho (João Perotti, casado com dona Lippa, era de Luca, Catarina lhe escreveu as cartas 156 e 160), no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no Seu precioso sangue, desejosa de vos ver como autêntico pai que nutre, orienta e governa vossa família no santo temor de Deus, de modo que vós sejais uma árvore frutífera e vossos filhos sejam bons e virtuosos.

2 - Na educação, Cristo é o exemplo

Meu filho, sabeis que uma árvore, para produzir frutos, deve ser de boa qualidade e bem formada. Assim, afirmo que vossa alma também deve ser formada no autêntico e santo temor e amor de Deus. Se por acaso disséssemos: "Eu não sei como aperfeiçoar-me", eis que o Verbo, Filho de Deus, tornou-se nosso exemplar. Ele disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Quem vai por esse caminho, não poderá errar e produzirá o fruto da vida.

Essa vida alimentará os vossos filhos espirituais, mas sobretudo os filhos naturais, que receberão o perfume e a essência daquela vida.

Qual foi a maneira de viver do bondoso Mestre, o imaculado Cordeiro? Ele viveu em profunda humildade. Sendo Deus, humilhou-se diante dos homens. Sua vida foi de sofrimentos, tormentos, acusações, dores e cansaços e por fim acabou na terrível morte de cruz.

Desprezando prazeres e satisfações pessoais, sempre caminhou pelas estradas mais humildes e desprezadas. E qual foi o resultado dessa caminhada para nós? Que qualquer pessoa pode segui-lO, se quiser. Já ouviste contar de um ato de paciência semelhante ao Seu, quando estava pregado na Cruz? Ao grito dos judeus: "Crucifica-o", Ele respondia: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).

Desmedida bondade divina! Além de perdoar, apresenta justificações ao Pai! Cristo é um manso Cordeiro e d'Ele ninguém ouviu qualquer queixa. Ele nos revelou um grande amor, pois foi o amor que O conservou pregado na Cruz. Não foram os cravos, nem a madeira. Unicamente o amor. Cristo foi obediente ao Pai celeste, nunca pensou em Si, mas somente na glória do Pai e em nossa salvção.

Meu bondoso filho, eis o caminho que desejo que sigais, para serdes um bom pai, nutrindo vossa alma e a alma dos filhos que Deus vos deu, fazendo-os crescer de virtude em virtude.

Lembrai-vos, porém, que não podemos obter as virtudes por nós mesmos. Somos todos árvores silvestres. Temos de fazer um enxerto naquela doce árvore de Cristo crucificado, mediante o amor e o desejo. Vendo-nos tão amados por Cristo que por nós deu a vida, sentimo-nos obrigados a formar uma só coisa com Ele.

Inebriada de amor, a pessoa não aceita seguir outro caminho senão o seu Mestre. Despreza o prazer e as consolações do mundo, porque Cristo os evitou. Ama a virtude, despreza o vício. Prefere morrer a ofender o Criador. Nem suportará que os próprios filhos e a família O ofendam. Repreenderá até, como autêntico pai. E quanto pode, exige que sigam o próprio exemplo.

É sobre isso que vos peço atenção. Lembranças à vossa família e muitas recomendações à mãe e à esposa. De modo especial abençoai aquela filha, que eu quero que seja religiosa e consagrada a Cristo.

3 - Conclusão

Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor.

20 de janeiro de 2011

Oração à Virgem Imaculada antes do estudo


Debaixo do vosso patrocínio, ó Mãe diletíssima, e invocando o mistério da vossa Imaculada Conceição, quero prosseguir os meus estudos e trabalhos literários; e protesto fazê-lo principalmente a fim de servir melhor para propagar a honra divina e o vosso culto. Rogo-Vos, pois, Mãe amantíssima, sede da sabedoria, que favoreçais benigna os meus trabalhos; e eu, de boa vontade, piedosamente Vos prometo o que é justo: todo o bem que me provier dos meus estudos, hei de atribuí-lo inteiramente à vossa intercessão diante de Deus. Amém.

19 de janeiro de 2011

19 de janeiro: Santos Mário, Marta, Audifax e Ábaco, Mártires

Mário era um Persa de alta posição social, que veio a roma no reinado do Imperador Cláudio, com sua esposa Marta, que era igualmente nobre, e seus dois filhos, Audifax e Ábaco, para rezar nos túmulos dos Mártires. Aí, eles confortaram os cristãos que estavam na prisão, a quem eles sustentaram com suas obras e posses, e enterraram os corpos dos Santos. Por essas obras, todos foram presos, mas nenhuma ameaça nem terror podia movê-los a sacrificar aos ídolos. Eles foram, portanto, mutilados com porretes, depois amarrados em cordas, após o que foram queimados pela aplicação de lâminas de metal incandescente aos seus corpos, e sua carne foi arrancada com ganchos de metal. Por último, suas mãos foram cortadas, e amarrados pelo pescoço, estado no qual foram levados pelo meio da cidade para a rocha a treze mílias, pela Via Corneliana, a um lugar hoje chamado Santa Ninfa, onde foram mortos. Marta dirigiu uma comovente exortação a seu marido e filhos, para suportarem bravamente até o fim, pelo amor de Jesus Cristo; e então foi afogada. Os outros três mártires foram, então, degolados no mesmo areal. Seus corpos foram lançados ao fogo. Felicidade, matrona romana, juntou os restos meio queimados, e fê-los enterrar em sua própria fazenda.

18 de janeiro de 2011

O terrível enterro do Heresiarca Lutero

O corpo de Lutero, bastante desfigurado e mal suportado pelos circunstantes, foi transportado no dia 20 para HALLE, e no dia 22, pelo madrugada, para WITTEMBERG, onde, por ordem do landgrave, devia ser sepultado na igreja, junto ao púlpito donde havia lançado a semente da revolta.

Dizem os escritores da época que, ao ser ele para lá transportado, o mau cheiro do cadáver se tornou tão penetranto e insuportável que, diversas vezes, os carregadores foram coagidos e deixá-lo por algum tempo, só, no meio dos campos, para poderem respirar um pouco de ar puro.

Contam ainda ter um bando de corvos, aliciados pela petrefação, seguido o cortejo lúgubre, como se fossem demônio montando guarda de honra a um de seus chefes.

Foram tais as diversas opiniões veiculadas a respeito da morte e do interro do fundador do protestantismo.

Haverá qualquer exagero nestas narrações?

É difícil dizê-lo; só me foi possível reproduzir o que os contemporâneeos narraram a respeito.

Que Justo Jonas, Célio, Aurifaber e, provavelmente, os filhos de Lutero tenham guardado silêncio sobre o fato é natural, pois a verdade seria a desmoralização da pessoa de seu amigo, de seu pai e até da reforma que este havia pregado e que eles mesmos seguiam.

É por isso, conforme o testemunho citado, que todos juraram nada revelar da morte de seu chefe; é por isso também que ficou envolta em tantos mistérios e incertezas uma morte que devia ser notória para todos.

CONCLUSÃO

Lutero desceu ao túmulo, como qualquer mortal; e, infelizmente, parece que acabou impenitente: a alma envenenada por sentimentos rancorosos, o coração transviado pelas paixões humanas, o espírito obcecado pela falsa idéia de um desígnio que o destinava para reformador.

A existênica do herói de Vittemberg desconcerta o mais arguto psicólogo; é um complexo contraditório e um triste acúmulo de ócio e de atividade, de obsessão e de força, de baixezas e de elevação, mas tudo isso, tão entrelaçado, que querendo-se delinear a sua fisionomia, chega-se necessariamente à de um de seus contemporâneos: "Lutero é um tresloucado, ou, então, vítima de influência diabólica"

Cada vez se robustece em minha mente este mesmo conceito sobre o pai das seitas protestantes. Iludido por sucessos passageiros, que as circunstâncias favoreceram, ele se julgou um gênio, um astro, um arauto do céu.

A morte implacável deitou no túmulo a sua audácia de deformador, porém o espírito de revolta que havia insuflado no mundo, o ódio ao Papa, que acendera nas almas, continuou, firmando o credo fundamental do protestantismo.

Um homem que se ufana de raciocinar sem preconceitos teria de parar diante deste quadro horripilante, como se detém diante da forca de Judas, e exclamar instintivamente: Não, a verdade não está aqui; só posso estar diante do mal, diante do vício, da perdição... e a verdade continua estar ao lado de Jesus Cristo, mesmo estando ele diante de Caifaz, de Pilatos ou de Herodes... A verdade está com ele, exclusivamente com ele e com seus sucessores: o Papa imortal de Roma, sucessor de S. Pedro, representante visível do Cristo invisível.

Para tornar esta verdade palpável, permitiu Deus fosse Lutero, sepultado no mesmo dia em que o povo católico celebrava a festa da "Cathedra Petri", dia comemorativo da fundação da primazia do Papa... data em que a Igreja canta as palavras do Salvador a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela” (São Mateus 16, 18).

Lutero procurou prevalecer contra a Igreja... mas terminou esmagado sob o peso da rocha de Pedro; e o Papa continua, como sempre, abençoando os seus filhos e suplicando que Deus se compadeça dos seus perseguidores.

Fonte: O Diabo, Lutero e o Protestantismo

17 de janeiro de 2011

Sacerdote Eternamente - Parte 34

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO XI
O Padre Dever ser Desinteressado



Avaro nihil est celestus (nada há mais perverso do que o avarento — Eclo 10,9), diz o Espírito Santo. Pode-se também dizer que nada é mais contrário ao espírito do Evangelho do que o amor ao dinheiro.

Deus não é ouro nem prata; e o homem de dinheiro não poderá ser homem de Deus.

O padre, se possível fosse, não deveria pousar na terra, quia Angelus Domini exercitum est (pois ele é o Anjo do Senhor dos exércitos — Mal 2,7).

Mensageiro celeste, embaixador de Deus, o pastor não deve aspirar senão o Céu, não desejar senão Deus, herança que escolheu quando se ordenou: Dominus pars haereditatis meae (O Senhor é o quinhão da minha herança — Sl 15,5).

Um pastor ocupado com Deus e com as almas não deve ter solicitude com o beber e o comer: Nollite solliciti esse dicentes: Quid manducabimus aut quid bibemus (Não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos ou que beberemos? — Mt 6,31). Ao pastor que para tais coisas se confiasse pura e simplesmente aos cuidados da Providência nada de necessário lhe faltaria.

É o que vemos muito claramente pelo que sucedeu aos Apóstolos. Nosso Senhor os enviou a pregar; enviou-os sem nada, mas nada lhes faltou. Quando misi vos sine sacculo et pera et calceamentis, nunquid aliquid defuit vobis? At illi dixerunt: Nihil! (Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje, sem sandálias, faltou-vos alguma coisa? Eles disseram: Nada! — Lc 22,35-36).

O pastor receberá de Deus seu pão de cada dia, mas não só para si como também para seus pobres. Receberá em uma das mãos e dará com a outra; e tanto mais terá para dar quanto mais somente de Deus espere o que lhe for necessário. Esse é o testemunho de São Vicente de Paulo, o homem que mais deu neste mundo.


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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

17 de janeiro: Santo Antão (Antônio), Abade

Antão, egípcio, nascido de pais nobres e cristãos, feito órfão na adolescência, entrando certa vez numa igreja, ouviu, do Evangelho: Se queres ser perfeito, vai, e vende tudo o que tens, e dá aos pobres: como se aquilo tivesse sido dito a ele, decidiu assim obedecer a Cristo Senhor. Porquanto, vendendo as propriedades da família, distribuiu todo o dinheiro aos pobres. Livre, assim, de todos os impedimentos, começou a levar na terra uma vida celeste. Mas, descendo àquela perigosa batalha, ao escudo da fé, com o qual se armava, quis ajuntar o auxílio das outras virtudes: abrasou-se delas com tanto zelo que, contemplando quem quer que fosse exemplar em alguma delas, esforçava-se por imitá-lo.

Ninguém era mais continente nem mais vigilante do que ele. Superava a todos na paciência, mansidão, misericórdia, humildade, laboriosidade, e no estudo das divinas Escrituras. Abominava a companhia e o diálogo com os hereges e cismáticos, principalmente arianos, dizendo que não se deve nem aproximar deles. Deitava-se sobre a terra, dormindo apenas o tanto necessário. Praticava tanto o jejum, que punha no pão somente sal, e bebia somente água o suficiente para matar a sede; nem tomava alimento algum antes do pôr-do-sol, e frequentemente fazia abstinência de alimento por dois dias; muito frequentemente pernoitava em oração. Sendo tão valoroso soldado de Deus, o santíssimo jovem foi atormentado por muitas tentações dos inimigos do gênero humana, que ele vencia com o jejum e a oração. Seus frequentes triunfos sobre satanás não faziam Atão sentir-se seguro, pois conhecia as inúmeras artes que o diabo pode usar para fazer o mal.

Então, dirigiu-se para o vastíssimo deserto do Egito, onde, aproveitando todo dia para a perfeição cristã, tanto espezinhou os demônios (cuja violência era tanto mais sagás quanto mais fortemente Antão resistia) que reprovou a impotência deles; e amiúde instigava os seus discípulos a lutar contra o diabo, ensinando-lhes com que armas venceriam: Crede-me, dizia, irmãos, Satanás teme as vigílias, orações, jejuns, pobreza voluntária, misericórdia e humildade dos piedosos, e principalmente o artente amor por Cristo Senhor, de cujo único sinal da santíssima cruz foge, debilitado. Era tão temido pelos demônios que muitos, pelo Egito, agitados por eles, eram livrados pela invocação do nome de Antão; e tanta era sua fama de santidade que, por cartas, Constantino Magno a ele recomendou-se, ele e seus filhos. No centésimo quinto ano de idade, tendo inúmeros imitadores do seu exemplo, chamando os monjes, e instruíndo-os na perfeita regra da vida cristã, glorioso pela santidade e pelos milagres, migrou para o céu, no dia 17 de janeiro.

Fonte: Breviário Romano.

16 de janeiro de 2011

16 de janeiro: São Marcelo I, Papa e Mártir

Marcelo, romano, pontificou desde o tempo de Constâncio e Galério até o de Maxêncio*. Por sua exortação, Lucina, matrona romana, fez da Igreja de Deus herdeira dos seus bens. Aumentando na cidade o número de fiéis, para seu proveito, instituiu novos Titulares, e distribuiu-os à maneira de dioceses, para administrar o batismo e a penitência àqueles que tomavam a religião cristã, e para sepultar os mártires. Por isso, Maxêncio encheu-se de cólera, ameaçando Marcelo com graves suplícios, se não renunciasse ao pontificado e imolasse aos ídolos.

Como o santo não desse ouvidos às insanas palavras do homem, este o mandou a um estábulo, para cuidar dos animais que eram alimentados pelo Estado. Marcelo passou aí nove meses, entre assíduos jejuns e preces, e, não podendo visitar as paróquias com sua presença, fê-lo pelas epístolas. Então, resagtado pelos clérigos, recebeu hospedagem em casa da bem-aventurada Lucina, no local onde dedicou uma igreja, que hoje é chamada de São Marcelo, na qual os cristãos oravam e o próprio São Marcelo pregava.

Sabendo disso, Maxêncio transferiu o estábulo dos animais para aquela igreja, e mandou que fossem cuidados por Marcelo. Aí, devido ao fedor do local e à aflição de muitos trabalhos, dormiu no Senhor. O seu corpo foi sepultado no cemitério de Priscila, na via Salariana, pela bem-aventurada Lucina, no dia 16 de janeiro. Ele reinou por cinco anos, um mês e vinte e cinco dias. Escreveu a epístola aos bispos da província de Antioquia sobre o primado da Igreja Romana, que ele provou que com razão é chamada cabeça das igrejas. Nela, ele também escreveu que nenhum concílio pode ser celebrado senão pela autoridade do Romano Pontífice. Ele ordenou, em Roma, em dezembro, vinte e cinco presbíteros, dois diáconos, e vinte e um bispos para diversos lugares.

Fonte: Breviário romano.

* Imperadores romanos. Pontificou, portanto, desde o ano do Senhor de 304 até o de 310 (N. do T.)

Sacerdote Eternamente - Parte 33

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO X
O Padre Deve ser Homem Interior



A multiplicidade de ocupações que se propõem à solicitude de um pastor é muito grande. As pessoas e as coisas, os corpos e as almas, os interesses espirituais dos fiéis e os interesses temporais da Igreja, tudo recai ao mesmo tempo sobre o pastor.

Todo acontecimento pode ter alguma influência sobre os interesses das almas, e, portanto, o pastor deve necessariamente estar um pouco atento a tudo. Todas as idades, todas as condições, todos os bons e todos os demais devem ser para ele objeto de incessante solicitude.

Há, por causa disso, um verdadeiro perigo de deixar-se absorver por solicitudes exteriores, por preocupações com pessoas e coisas.

A caridade que o pastor deve a seu rebanho corre o risco de tornar-se ela própria uma causa, um pretexto, uma ocasião para ele de deixar-se absorver no cuidado das coisas exteriores, da saúde, dos interesses temporais, de quaisquer negócios.

Um pastor deve pensar um pouco em tudo, levar em conta tudo, estender sua caridade a tudo, mas, entretanto, esse tudo não o deve absorver. Acima de tudo o que concerne ao rebanho há o infinito que é Deus; e o padre se deve a Deus mais que a tudo e não poderá ser realmente útil em tudo senão sendo todo de Deus.

É em Deus que o pastor encontrará a luz, a medida, o verdadeiro zelo, a discrição, todas as virtudes necessárias para poder passar por entre as solicitudes exteriores do ministério, sendo útil ao rebanho sem diminuição de sua vida interior, prestando-se a cuidados materiais sem neles se absorver, sendo devotado ao próximo sem cessar de estar unido a Deus.


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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

15 de janeiro de 2011

Da hediondez da imodéstia dentro do Santo Templo - São Leonardo de Porto Maurício

 Exemplos par as pessoas de categoria.

Uma mulher, que entra na Igreja com um traje espaventoso, atrai todos os olhares, e queira Deus não atraia também os corações, arrebatando ao Senhor as devidas adorações. Não é preciso excitar estas pessoas a assistir todos os dias à Santa Missa; já são demais levadas a freqüentar as igrejas. O importante será fazer-lhes compreender com que modéstia e respeito devem portar-se a casa de Deus, especialmente quando se celebra a Santa Missa. Tanto mais me edificam senhoras da nobreza e princesas que só aparecem ante aos altares vestidas simplesmente, sem luxo nem elegâncias refinadas, quanto me escandalizam certas pretensiosas que, com seus penteados ridículos e ares de atrizes, assumem poses de deusas no lugar santo.

A bem-aventurada Ivete teve, certo dia, uma visão, que devia inspirar a essas pessoas o temor respeitoso da à Santa Missa. Ao assistir à Santa Missa viu essa nobre flamenga um espetáculo terrível. Perto dela estava uma dama distinta, cujo olhar se fixava aparentemente no altar; mas não era para seguir o Santo Sacrifício, nem para adorar o Santíssimo Sacramento que ia receber, e sim, para satisfazer uma paixão impura. Em volta dela estavam um grande número de demônios que dançavam e se expandiam em demonstrações de regozijo. Quando ela se levantou para se dirigir à mesa sagrada, uns lhe seguraram a cauda do vestido, outro lhe ofereceu o braço enquanto outros lhe faziam cortejo e serviam-lhe como a sua senhora. No momento em que o sacerdote descia do altar com a Santa Hóstia na mão a fim de dar a comunhão àquela infeliz, pareceu a Ivete que o Salvador abandonava as santas espécies e volvia ao Céu, repugnando-Lhe entrar num coração assim rodeado de espíritos das trevas.

Aterrorizada por semelhante cena, a bem-aventurada Ivete dirigia humildes preces a Nosso Senhor. E Ele revelou-lhe a causa, fazendo-lhe ver que aquela mulher alimentava uma paixão desordenada por uma pessoa que se achava próxima do altar, e que durante toda a Santa Missa, ao invés de se ocupar dos Santos mistérios, contemplava-a com olhares impuros, desejando antes lhe agradar que agradar a Deus. Por isso rodeavam-na os demônios e faziam-lhe o cortejo.

Dir-me-eis que não sois do número dessas infelizes criaturas, e eu creio de boa vontade. Se, entretanto, ides à Igreja com certos trajes escandalosos, mereceis todas as censuras. Transformeis o templo sagrado em covil de ladrões, pois roubais a Deus a honra, pelas distrações que provocais aos sacerdotes, aos ministros, a todo o povo.

Por favor, considerai e tomai a resolução de imitar Santa Isabel da Hungria. Para assistir à Santa Missa, ela se dirigia com grande pompa à Igreja. Mas, para assistir ao Santo Sacrifício tirava da cabeça a coroa, os anéis dos dedos, depunha seus ornamentos e cobria-se com um véu, ficando em atitude tão modesta que nunca foi vista desviar sequer os olhos. Tudo isso agradou de tal modo a Deus, que Ele quis manifestá-lo a todos: durante a Santa Missa a Santa aparecia envolta de tal claridade que se velavam de deslumbramento os olhos dos assistentes; parecia-lhes contemplar um anjo do Paraíso.

Imitai exemplo tão ilustre, certos de que agradareis a Deus e aos homens, e que a Santa Missa será para vós de imenso proveito para esta vida e para a outra.

(São Leonardo de Porto Maurício. Excelências da Santa Missa. Ps. 66 e 67)

Sacerdote Eternamente - Parte 32

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO IX
Zelo pela Justiça



O zelo pela justiça é o devotamento perfeito aos interesses de Deus. Nos interesses de Deus estão necessariamente compreendidos os interesses das almas. Pois Deus quer a salvação da alma, e o quer com particular interesse, por ser isto a sua maior glória.

Os interesses de Deus são freqüentemente comprometidos pelos homens. Colocado entre Deus e os homens, vê-se então o pastor muitas vezes em luta com os homens por causa dos interesses de Deus.

Essa luta não deixa de apresentar dificuldades, pois se o pastor sendo homem de Deus deve servi-lo, também deve servir às almas das quais é pastor, e pastor responsável. Se vir os interesses de Deus por um olho só, por assim dizer, trabalhará por eles prova-velmente de maneira imperfeita, comprometendo as almas. Por outro lado, se pretender não melindrar as almas, poderá desatender aos interesses de Deus.

A dificuldade é grande e às vezes chega a ser extrema. Há perigo de ambos os lados, e o pastor tem que temer de um lado vir a ficar em falta com Deus, de outro lado a ficar em falta com as almas.

Em tal estado de coisas, o zelo não é conselheiro suficiente, e poderá, por si só, levar a excessos e até a comprometer o próprio bem almejado.

Ao lado do zelo é necessária a ciência; e com esta a humildade, a pureza de vistas e de intenção, isto é, coisas que o pastor jamais encontrará se antes de tudo não for homem de oração: Orationi ... instantes erimus.


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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

14 de janeiro de 2011

Sacerdote Eternamente - Parte 31

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO QUARTO
DAS VIRTUDES NECESSÁRIAS PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO VIII
A Humildade



O padre tem duplamente necessidade da graça de Deus, pois tem necessidade dela para si mesmo e tem necessidade dela para seu rebanho. E como Deus, segundo a muito sábia lei de sua misericórdia e de sua justiça, resiste aos soberbos e dá sua graça aos humildes, segue-se então que o padre tem uma necessidade dupla, quer dizer, uma necessidade mais imperiosa que seus fiéis de ser verdadeiramente humilde.

Ele tem necessidade de conhecer os caminhos de Deus e seus planos; ele tem necessidade de atrair para si a graça do alto e de granjeá-la também para as asmas de que é pastor. Como poderá ele ser um mediador aceito por Deus se não for humilde? Deus confiará no homem que quer entrar em seus segredos para arrebatar sua glória e atribuí-la a si próprio? Tornará canal de sua graça o homem que, por orgulho, se comporta como inimigo da graça? Como poderá tratar perante Deus da reconciliação das almas culpadas, aquele que por seu orgulho procede como revoltado contra Deus?

Sem humildade não é possível ministério. Deus quer dar-nos sua graça, mas não quer que lhe tomemos sua glória. E quando um padre quer para si mesmo a glória, deixa de ser o mediador da graça. Deus superbis resistit et gratiam praestat humilibus (Deus se opõe aos orgulhosos e dá a sua graça aos humildes — Tgo 4,6).

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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.