4 de janeiro de 2011

Sacerdote Eternamente - Parte 21

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO TERCEIRO
O CAMPO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO V
O Verdadeiro Estado das Almas

A Humanidade passou por três estados sucessivos:

o primeiro, desde a queda de Adão até Moisés, chamado estado da lei da natureza;
o segundo, desde Moisés até Nosso Senhor, é o estado da lei escrita;
o terceiro, desde Nosso Senhor até nós, é o estado da lei da graça, que durará até o fim dos tempos.

Santo Agostinho resume todo o estado do mundo nessas épocas sucessivas em três itens: Ante legem, sub lege, sub gratia (antes da lei, sob a lei, sob a graça).

Uma alma se acha ante legem quando se encontra na ignorância, seja porque não lhe foi ministrada instrução, seja por tê-la negligenciado não sabendo seu valor.

Uma alma está sub lege quando tem conhecimento do bem a praticar e do mal a evitar; não obstante, seja por ainda não ter recebido a fé, seja por negligenciar viver segundo a fé, ela permanece em pecado que sabe ser pecado.

Uma alma esta sub gratia quando, junto com o conhecimento, ela recebeu também o dom da fé e a graça de viver segundo essa fé que opera a caridade: Fides quae per dilectionem operatur (a fé que opera pelo amor — Gal 5,6). Nesse feliz estado, a alma caminha em paz na via dos santos mandamentos; ela ama as leis de Deus, e Deus acima de tudo; ela é livre no bem que ama e caminha com confiança em direção à recompensa prometida por Deus.

É necessário fazer-se esse discernimento das almas a fim de proporcionar as instruções às suas particulares necessidades e não exigir delas o que seria superior a suas forças. Assim:


  • uma alma que se encontra ainda ante legem tem muito mais necessidade de receber do que aptidão para dar. Para ela a boa vontade consiste em receber a luz à medida que esta lhe é apresentada, e não se lhe deve pedir mais, porque mais não é possível;
  • uma alma que está sub lege precisa ser esclarecida sobre a natureza da fé, sobre os mistérios da Encarnação e da Redenção; ela tem necessidade de ser encaminhada à oração e sobretudo ao desejo de uma graça maior e mais abundante;
  • uma alma que está sub gratia requer ser bem instruída sobre a natureza da graça, sobre sua gratuidade, sobre sua necessidade, sobre suas operações maravilhosas, a fim de que, a elas se entregando com amor, caminhe na trilha de todas as boas obras. Essa alma tem também necessidade de ser instruída sobre a humildade e de nela firmar-se, a fim de não se expor ao pecado: Quid se existimat stare videat ne cadat (quem se presume estar firme tenha cuidado para não cair — 1 Cor 10,12). Tu autem fides stas: Noli altum sapere, sed time (Se estás firme é por causa da fé. Mas não te sintas superior, antes teme — Rom 11.20).

Importa, por isso, necessariamente, que a instrução seja adequada ao estado da alma, e que, por sua vez, esta venha a agir de acordo com a instrução recebida. Seria desastroso exigir-se de uma alma mais do que lhe é possível perante Deus, como, por exemplo, pretender-se levar à comunhão uma alma que nem mesmo esteja ainda sub lege, uma alma que ainda se encontre talvez ante legem, em estado de deplorável ignorância.

O mal que se tem feito e que ainda se faz procedendo de tal forma, é incalculável. Especialmente lastimável nessa circunstância é fazer-se uso dos sacramentos, porque então eles são recebidos sem conhecimento, sem preparação, e, portanto, sem fruto e sem o desejo de serem novamente recebidos; em muitos casos o são por uma única e última vez.

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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

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