31 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 21

As margens do Tigre e do Eufrates eram então perturbadas pela revolta dos emires que dividiam entre si os despojos do califa de Bagdad. O califa Cayen implorou o auxílio de Togrul-Bel e prometeu a conquista da Ásia ao novo senhor da Pérsia. Togrul, que ele tinha nomeado seu vigário temporal, pôs-se em marcha à frente de um exército, dispersou os facciosos e os rebeldes, devastou as províncias e chegou a Bagdad, prostrou-se aos pés do califa, que proclamou o triunfo dos seus libertadores e seus direitos sagrados ao Império. No meio de uma cerimônia imponente, Togrul foi revestido sucessivamente de sete vestes de honra, apresentaram-lhe sete escravos nascidos nos sete climas do Império dos Árabes; como emblema de seu poder sobre o Oriente e o Ocidente, cingiram-no com duas cimitarras e duas coroas foram postas sobre sua cabeça. O Império que o vigário de Maomé mostrava à ambição dos novos conquistadores foi logo invadido por suas armas. Sob o reinado de Alp-Arslan e de Malek-Schah, sucessores de Togrul, os sete ramos da dinastia de Seldjouc dividiram entre si os mais vastos reinos da Ásia. Trinta anos se tinham passado depois que os turcos haviam conquistado a Pérsia e já suas colônias militares e pastorais estendiam-se do Oxo até o Eufrates e do Indo até o Helesponto.

Um lugar-tenente de Maleck-Schah levou o terror de suas armas até as margens do Nilo e apoderou-se da Síria, sujeita aos califas Fatimitas. A Palestina caiu em poder dos turcos, a bandeira negra dos Abássidas, foi hasteada nos muros de Jerusalém. Os vencedores não pouparam nem os cristãos nem os filhos de Ali, que o califa de Bagdad representava como inimigos de Deus. A guarnição egípcia foi massacrada; as mesquitas e as igrejas foram entregues ao saque. A cidade santa nadou no sangue dos cristãos e dos muçulmanos.

É aqui que a história pode dizer com a Escritura que Deus tinha entregue seus filhos aos que os odiavam. Como a dominação dos novos conquistadores da Síria e da Judéia era recente e mal firmada, ela mostrou-se inquieta, invejosa e violenta. Os cristãos tiveram que sofrer grandes calamidades, que seus pais não haviam sofrido, sob o reinado dos califas de Bagdad e do Cairo.

Quando os peregrinos da Igreja latina, depois de terem atravessado regiões inimigas e corrido mil perigos, chegavam à Palestina, as portas da Cidade Santa só se abriam para os que podiam pagar uma moeda de ouro, e, como a maior parte era pobre e haviam já sido roubados durante a viagem, eles vagavam miseravelmente em redor daquela Jerusalém, pela qual tudo haviam deixado. O maior número deles morria de sede, de fome, de nudez, ou pela espada dos bárbaros. Os que conseguiam entrar na cidade não estavam a salvo dos maiores perigos; as ameaças e os ultrajes sangrentos dos muçulmanos perseguiam-nos até o Calvário, o monte Sião e a todos os lugares que eles iam visitar. Quando estavam reunidos nas igrejas com seus irmãos da Cidade Santa, uma multidão furiosa vinha interromper com seus clamores o Ofício divino, espezinhava os vasos sagrados, subia aos altares mesmo do Deus vivo, ofendia e vergastava o clero revestido de paramentos pontificais e das túnicas dos levitas. Mais o povo fiel mostrava fervor na sua devoção e nas suas preces mais os muçulmanos duplicavam sua violência; o excesso de sua barbárie se patenteava especialmente na ocasião das festas solenes e todos os anos, os dias mais festejados na Igreja cristã, o dia do nascimento do Salvador do mundo, o dia de sua morte . e de sua ressurreição, eram marcados pela perseguição e pela morte de seus discípulos.

Os peregrinos que voltavam à Europa contavam o que tinham visto e o que tinham sofrido. Suas narrações, exageradas pela fama e voando de boca em boca, arrancavam lágrimas de todos os fiéis.

30 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 20

Dez anos depois da viagem de Lietbert, sete mil cristãos, entre os quais estavam o Arcebispo de Mogúncia, os Bispos de Ratisbona, de Bamberg, de Utrecht, partiram juntos das margens do Reno, para
a Palestina. Essa numerosa caravana, que prenunciava as Cruzadas, atravessou a Alemanha, a Hungria, a Bulgária, a Trácia, e foi recebida em Constantinopla, pelo Imperador Constantino Ducas.

Depois de ter visitado as igrejas de Bizâncio e os numerosos objetos, relíquias dos gregos, os peregrinos do Ocidente atravessaram sem perigo a Ásia Menor e a Síria; mas, quando se aproximaram de Jerusalém, a vista de suas riquezas despertou a cobiça dos árabes beduínos que habitavam nos campos de Saron e de Ramla. Atacados por uma multidão ávida de seus despojos, os peregrinos defenderam- se durante três dias num edifício abandonado: consumidos pela fome e pelo cansaço, tendo como armas somente pedras, que lhes serviam de abrigo, propuseram, por fim, entregar-se. As discussões degeneraram, porém, numa violenta questão, que ia ter um fim funesto, quando o Emir de Ramla avisado. por alguns fugitivos, veio em seu auxílio, protegeu-lhes a vida, salvou-lhes os tesouros, e, por um módico tributo deu-lhes uma escolta que os acompanhou até às portas da Cidade Santa. A fama de seus combates e dos perigos os havia precedido em Jerusalém. Lá foram recebidos em triunfo pelo patriarca e levados ao som de tímbales, à luz de tochas, à Igreja do Santo Sepulcro. O monte Sião, o monte das Oliveiras, o vale de josafá, foram testemunhas dos transportes de sua piedade. Não puderam visitar as margens do Jordão e os lugares mais célebres da Judéia, expostos então às incursões dos árabes. Depois de terem perdido mais de três mil de seus companheiros, voltaram à Europa para contar suas trágicas aventuras e os perigos da peregrinação a terra santa.

Entre as peregrinações daquela época, a história nos fala ainda da de Roberto de Frison, conde de Flandres, de Berengário II, conde de Barcelona. Berengário morreu na Ásia, não tendo podido suportar as rigorosas penitências que se havia imposto a si mesmo. Roberto voltou à sua terra, onde sua peregrinação fê-lo encontrar graça perante o clero, que ele tinha querido despojar. Esses dois príncipes tinham sido precedidos na Palestina por Frederico, conde de Verdun. Frederico era da ilustre família, que devia um dia contar entre seus heróis, Godofredo de Bouillon. Partindo para o Oriente, Frederico tinha cedido seu condado ao Bispo de Verdun. De volta à Europa, ele entrou para um mosteiro e morreu
como prior da abadia de São Wast, perto de Arras.

Grandes calamidades ameaçavam então o mundo cristão; uma nação bárbara, flagelo dos outros povos, bigorna que devia pesar sobre toda a terra, ia ser suscitada pela cólera divina; há vários séculos as ricas regiões do Oriente eram invadidas continuamente por hordas vindas da Tartária: à medida que as tribos vitoriosas se enfraqueciam pelo luxo e se enervavam pelos prazeres da paz, não tardavam a ser substituídas por outras, que tinham ainda toda a rudeza e toda a barbárie dos desertos.

Os turcos, vindos das regiões situadas além do Oxo, tinham se apoderado da Pérsia, onde a imprevidente política do sultão Mahmoud, tinha recebido e tolerado suas tribos errantes. O filho de Mahmoud deu-lhes combate no qual fez prodígios de valor; mas a fortuna, diz Féristha, se havia declarado contra suas armas: Ele olhou em redor de si durante o combate, e se excetuarmos o corpo que ele comandava, lodo seu exército tinha tomado os caminhos da fuga". No mesmo teatro de sua vitória os turcos procederam à eleição do rei. Uma multidão de dardos foram reunidos em feixes; e sobre cada um desses dardos estava escrito o nome de uma tribo, de uma família, de um guerreiro. Um menino tirou três flechas na presença de todo o exército, e a sorte deu a coroa a Togrul-Bel , neto de Seldjoue. Togrul-Bel cuja ambição igualava à coragem e bravura abraçou com seus soldados a fé de Maomé e uniu mui depressa ao título de conquistador da Pérsia, o de protetor da religião muçulmana.

29 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 19

A maior graça, para os peregrinos, a que eles pediam ao céu como recompensa dos sofrimentos de uma longa viagem, era morrer na cidade em que Jesus tinha morrido. Quando se apresentavam diante do sepulcro do filho de Deus, costumavam fazer ao Senhor esta oração: "Vós, que morrestes por nós e que fostes sepultado neste santo lugar, tende piedade de nossa miséria e levai-nos hoje deste vale de lágrimas.

As velhas crônicas falam de um cristão do país de Autun; de nome Lethbald, que, chegando a Jerusalém, procurou a morte com o excesso de jejum e de mortificações. Um dia ele ficou por muito tempo em oração no monte das Oliveiras, com os olhos e os braços erguidos para o céu, para onde Deus parecia chamá-lo. Quando ele voltou à hospedaria dos peregrinos, exclamou três vezes: Glória a ti, Senhor! e morreu de repente, na presença dos companheiros, que não podiam deixar de admirar o milagre da sua morte.

O desejo de se santificar por meio da viagem à Jerusalém tornou-se por fim tão geral, que as multidões de peregrinos alarmavam com seu número as regiões por onde passavam. Embora eles não procurassem absolutamente as lutas e combates, já eram designados com o apelido de exército do Senhor e vários monumentos históricos nos dizem que os cristãos traziam frequentemente, em suas peregrinações a Jerusalém, uma imagem da cruz como mais tarde se fazia nas guerras empreendidas para a libertação do Santo Sepulcro. No ano de 1.054, Lietbert, Bispo de Cambrai, partiu para a terra santa, com mais de três mil peregrinos das províncias da Picardia e da Flandres. Quando ele se pôs em marcha, o povo e o clero acompanharam-no a três léguas da cidade, e, com os olhos marejados de lágrimas, pediram a Deus
a volta de seu Bispo e de seus irmãos. Os peregrinos atravessaram a Alemanha sem encontrar inimigos;
mas, na Bulgária, só encontraram homens selvagens, que moravam nas florestas e viviam de roubos e assaltos. Muitos foram massacrados por esse povo bárbaro; alguns morreram de fome nos desertos. Lietbert com dificuldade chegou até a Laodicéia, na Síria, e embarcou com os que o seguiam, mas foi atirado às praias de Chipre por uma tempestade.

Ele viu perecer a maior parte de seus companheiros; os outros estavam prestes a sucumbir, ante a miséria. Voltaram a Laodicéia e souberam que os maiores perigos ainda os aguardavam na estrada de Jerusalém. O Bispo de Cambrai sentiu então que a coragem o abandonava e julgou que o mesmo Deus se punha à sua peregrinação. Voltou no meio de mil perigos à sua diocese onde construiu uma igreja em honra do Santo Sepulcro que ele não havia podido ver.

28 de março de 2021

 THESOURO DE PACIÊNCIA

DA COROAÇÃO DE ESPINHOS

MEDITAÇÃO IV


Estando o Senhor Jesus com estas insígnias de zombaria, os judeus, fazendo mofa,  ajoelhavam em terra dizendo: Deus te salve, ó rei dos judeus; ao mesmo tempo os anjos se prostrariam por terra,  adorando ao Senhor como seu verdadeiro Rei. Esta saudação por escarnio creio eu que ofendia mais o Senhor, e mais o escandalizava, do que a mesma coroa de espinhos; porque estes ludíbrios iam imediatamente a ferir a alma, e os outros tormentos feriam somente o corpo. A muitas almas sucede à proporção o que sucedeu ao Senhor: seus inimigos lhes dão louvores, mas por mofa e zombaria: engrandecem a sua cristandade e dobram o joelho, mas escarnecem e ridicularizam todas as suas ações. Se a ti te vier este trabalho, não te aflijas, alma minha: cuida no que serás aos olhos de Deus, e não no que és aos olhos dos homens. Os olhos de toda a corte do céu estão postos com sumo agrado naqueles que obram bem; e todos abominam e desprezam com sumo desprazer os que obram mal. Sê tu santa na realidade, ainda que vejas que o mundo curva o joelho diante de ti por zombaria. Se Deus te louvar, que importa que os homens te escarneçam? Se Deus aprovar as tuas ações, que importa que os homens as queiram viciar escarnecer? Filha, um só louvor de Deus pesa mais do que todos os ludíbrios dos homens: portanto, nas tuas ações procura agradar-lhe a Ele, e somente a Ele, e não faças caso dos impropérios do mundo.

JACULATORIA.-

Meu Deus, agrade-vos eu a Vós, e dou licença ao mundo todo que faça zombaria de mim.

27 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 18

As crônicas contemporâneas narram a fraude piedosa, com que Foulque enganou os sarracenos, para ser admitido à presença do Santo Sepulcro; mas a gravidade da história não nos permite repetir a relação muito singela das velhas crônicas. O conde de Anjou, voltando aos seus territórios, quis ter sob seus olhos uma imagem dos lugares que ele tinha visitado e mandou construir, perto do castelo de Loches, uma igreja, semelhante à do Santo Sepulcro. Lá ele implorava todos os dias a divina demência; nas suas orações não tinham ainda comovido ao Deus de misericórdia. Mui depressa ele sentiu renascer em seu coração a perturbação que por tanto tempo o havia afligido. Foulque se pôs a caminho, uma segunda vez para Jerusalém, onde edificou novamente os fiéis com as expressões do seu arrependimento e as austeridades de sua penitência. Voltando à Europa, pela Itália, ele livrou o soberano Pontífice de um inimigo terrível, que devastava o estado romano. O Papa recompensou seu zelo, elogiou sua devoção e deu- lhe a absolvição de todos os seus pecados. O nobre peregrino voltou por fim ao seu condado, trazendo muitas relíquias, com que adornou as Igrejas de Loche e de Angers.

Desde então, ocupou-se, no seio da paz, em construir mosteiros e cidades, o que lhe granjeou o apelido de Grão Edificador, como suas numerosas peregrinações o haviam feito apelidar de o Palmeiro. Seus serviços e benemerências mereceram-lhe as bênçãos da Igreja e as do seu povo, que agradecia ao céu por ter trazido seu príncipe à moderação e à virtude. Foulque parecia nada mais ter a temer da justiça divina, nem da dos homens, mas, tais eram os clamores de sua consciência e o tormento de sua alma agitada, que nada podia defende-lo contra o remorso e dar-Ihe a paz que ele tinha procurado por duas vezes junto do túmulo de Jesus Cristo. O infeliz príncipe resolveu fazer uma terceira peregrinação a Jerusalém. A Palestina viu-o de novo molhando com suas lágrimas o sepulcro de Cristo e enchendo os santos lugares com seus gemidos. Depois de ter visitado a terra e recomendado sua alma às orações dos anacoretas encarregados de receber e de consolar os peregrinos, ele deixou Jerusalém, para voltar à pátria, que ele não devia mais rever. Adoeceu e morreu em Metz, em 1.040. Seu corpo foi levado e sepultado no mosteiro do Santo Sepulcro, que ele tinha feito construir perto de Loches. Depositaram seu coração numa igreja de Metz, onde se via ainda, vários séculos depois de sua morte, um mausoléu que se chamava o túmulo de Foulque, Conde de Anjou.

Ao mesmo tempo, Roberto, duque da Normandia, pai de Guilherme o Conquistador, acusado de ter feito envenenar seu irmão Ricardo, partiu para a terra santa. Ele ia, diz a velha crônica da Normandia, descalço e com vestes humildes, acompanhado por uma grande multidão de cavaleiros de barões e de outras pessoas. Passando por Roma, Roberto mandou cobrir com uma rica veste a estátua eqüestre de Constantino, que era feita de bronze, dizendo que os romanos, prestavam pouca reverência ao seu senhor, pois que não lhe podiam dar um manto,em todo o ano. Chegando a Constantinopla, o duque de Normandia dispensou o luxo e os presentes do imperador e compareceu à corte como o mais simples dos peregrinos. Roberto, que, segundo as mesmas palavras, dava mais valor aos males que ele sofria por Jesus Cristo, do que à melhor cidade de seu ducado, suportou piedosamente as fadigas e as dificuldades da peregrinação. Caindo doente na Ásia Menor ele recusou os serviços dos cristãos do seu séquito, e se fez levar numa liteira pelos sarracenos. Um peregrino da Normandia tendo-o encontrado, perguntou-lhe se ele tinha ordens a lhe dar, para o seu país: Vai dizer ao meu povo, respondeu o duque, que se viu um príncipe cristão levado ao Paraíso por demônios."Roberto encontrou à porta de Jerusalém, uma multidão de peregrinos que não tinham com que pagar o tributo aos infiéis; os pobres peregrinos esperavam a chegada de algum cristão rico, que com suas esmolas, lhes abrisse as portas da Cidade Santa. Roberto pagou uma peça de ouro, por cada um deles. Durante sua estada em Jerusalém, ele se fez notar por sua devoção e sobretudo por sua caridade que se estendia mesmo aos infiéis. Voltando à Europa, ele morreu em Nice, ocupando-se somente com as relíquias que havia trazido da Palestina e lastimando somente não ter morrido na santa cidade.

26 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 17

 

Foulque assaltado pelos fantasmas de suas vítimas.

Sabemos que os, muçulmanos levavam muito mais além que os cristãos a devoção pela peregrinação. Essa disposição inspirou-lhes sentimentos de tolerância para com os piedosos viajantes vindos do Ocidente. Muitas vezes as portas de Jerusalém abriram-se ora para os discípulos do Corão que iam visitar a mesquita de Omar, ora para os do evangelho, que iam adorar Jesus Cristo no seu sepulcro; uns e outros encontravam na Cidade Santa igual proteção, quando a paz reinava no Oriente e as revoluções dos impérios ou os fatos da guerra não vinham despertar as desconfianças dos senhores da Síria e da Palestina. Todos os anos, na época da festa da Páscoa, multidões enormes de peregrinos chegavam à Judéia, para celebrar o mistério da redenção e para assistir, ao milagre do fogo sagrado, que a multidão dos fiéis julgava ver descer do céu sobre as lâmpadas do Santo Sepulcro.

Entre os peregrinos célebres do século XI, está, por primeiro o Conde de Anjou, Foulque, chamado Nerra, ou o Negro. A história o acusa de ter feito morrer sua primeira esposa e de se ter várias vezes manchado em sangue inocente. Perseguido pelo ódio público e pelo clamor de sua própria consciência, parecia-lhe que as inúmeras vítimas imoladas por sua vingança ou ambição saíam de seus túmulos para perturbar-lhe o sono e recriminar-lhe a barbárie. Afim de escapar a essas cruéis imagens, que o seguiam
em toda a parte, Foulque deixou seus territórios e dirigiu-se em vestes de peregrino à Palestina. As tempestades que suportou nos mares da Síria lembraram-lhe as ameaças da cólera divina e duplicaram o fervor de seus sentimentos piedosos. Quando ele chegou a Jerusalém, percorreu as ruas da Cidade Santa, com uma corda ao pescoço, açoitado com varas por seus servidores e repetindo em altas vozes estas palavras: "Senhor! Tem piedade de um cristão infiel e perjuro, de um peocdor errante longe de seu
país. Durante a sua permanência na Palestina, distribuiu numerosas esmolas, aliviou a miséria dos peregrinos e deixou por toda a parte lembrança de sua devoção e de sua caridade.