18 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 10

Zimiscés ocupava-se na continuação da guerra contra os muçulmanos e propunha-se arrebatar-lhes com novas vitórias todas as províncias da Síria e do Egito, quando morreu envenenado; essa morte foi a salvação do islamismo, que retomou em toda a parte o seu império. Os gregos, levando a outros lugares a sua atenção esqueceram-se das conquistas; Jerusalém e todos os países arrancados ao jugo dos sarracenos, caíram então em poder dos califas fatimitas que se haviam estabelecido nas margens do Nilo e que se aproveitavam da desordem lançada entre as potências do Oriente, para estender seus domínios.

Os novos senhores da Judéia a princípio trataram os cristãos como aliados e auxiliares; na esperança de aumentar seus tesouros e de reparar aos males da guerra, eles favoreciam o comércio dos europeus e as peregrinações aos santos lugares. Os mercados dos francos foram restabelecidos na cidade de Jerusalém, os cristãos reconstruíram as hospedarias para os peregrinos e as igrejas destruídas; como o escravo, que encontra às vezes alívio na mudança de senhor, eles se consolavam em terem que se submeter às leis do soberano do Cairo; mas principalmente julgaram que seus males iam terminar, quando viram subir ao trono do Egito o califa Hakem, que tinha por mãe uma cristã e cujo tio materno era patriarca da cidade santa.

Mas Deus, que, segundo a expressão dos autores contemporâneos, queria experimentar a virtude dos fiéis, não tardou em confundir suas esperanças e suscitou-lhes novas perseguições. Hakem, o terceiro dos califas fatimitas, assinalou seu reinado por todos os excessos do fanatismo e da demência. Incerto nos seus projetas, hesitando entre todas as religiões, ele protegeu e perseguiu o Cristianismo. Não respeitou nem a política de seus predecessores, nem as leis que ele mesmo havia dado. Mudava no dia seguinte o que havia feito na véspera e lançava a desordem por toda a parte, bem como a confusão. Na irresolução de seus pensamentos e na embriaguez do seu poder, ele levou a loucura até se considerar um deus. O terror que inspirou fê-lo encontrar adoradores; ergueram-lhe altares nas vizinhanças de Fostat (o antigo Cairo) que ele tinha mandado incendiar. Dezesseis mil de seus súditos prostraram-se diante dele e o rogaram, como soberano dos vivos e dos mortos.

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