16 de março de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 8

Os cristãos gregos e sírios se tinham estabelecido mesmo na cidade de Bagdad, onde se entregavam ao comércio, exerciam a medicina e cultivavam as ciências. Eles chegavam por seu saber aos cargos mais ilustres e algumas vezes mesmo obtiveram o governo das cidades e das províncias. Um dos califas abássidas, Maomé, tinha declarado que os discípulos de Cristo eram os que mereciam mais confiança para a administração da Pérsia. Por fim, os cristãos da Palestina e das províncias muçulmanas, os peregrinos e os viajantes vindos da Europa, pareciam não ter mais que temer perseguições, quando, de repente, novas tempestades desabaram sobre o Oriente. Os filhos de Arun tiveram a sorte da posteridade de Carlos Magno e a Ásia, como o Ocidente, foi mergulhada no abismo das revoluções e das guerras civis.

Como o império fundado por Maomé, tinha por móvel o espírito de conquista; como o estado não era defendido por nenhuma instituição previdente e tudo ali corria sobre o caráter pessoal do príncipe, notaram-se sintomas de decadência desde que não havia mais nada a conquistar e os chefes deixaram de se fazer temer e de inspirar respeito. Os califas de Bagdad, enervados pelo luxo e corrompidos por uma longa prosperidade abandonaram os cuidados do império, encerraram-se em seu harém e pareceram não se reservar outro direito que o de serem citados nas orações públicas. Os árabes não tinham mais aquele zelo cego e aquele fanatismo ardente que haviam trazido do deserto. Debilitados, como seus chefes, não se pareciam mais com aqueles guerreiros, seus antepassados, que choraram por não ter assistido a uma batalha. A autoridade dos califas tinha perdido seus verdadeiros defensores e quando o despotismo se rodeou de escravos comprados às margens do Oxo, aquela milícia estrangeira chamada para defender o trono, só fez apressar-lhe a queda. Novos sectários, seduzidos pelo exemplo de Maomé e persuadidos de que o mundo devia obedecer aos que mudassem alguma coisa em seus costumes ou em suas opiniões, acrescentaram o perigo das perturbações religiosas ao das perturbações políticas. No meio da desordem geral, os emires ou lugar-tenentes, dos quais muitos governavam vastos reinos, prestavam apenas uma vã homenagem aos sucessores do profeta e recusavam-se mandar-lhe o dinheiro e as tropas. O império gigantesco dos abássidas desmoronava-se de todos os lados e o mundo, segundo a expressão de um autor árabe, ficou para aquele que dele se pode apoderar. O poder espiritual foi também dividido:
o islamismo teve ao mesmo tempo cinco califas que tomavam o título de governadores dos crentes e vigários de Maomé.

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