As margens do Tigre e do Eufrates eram então perturbadas pela revolta dos emires que dividiam entre si os despojos do califa de Bagdad. O califa Cayen implorou o auxílio de Togrul-Bel e prometeu a conquista da Ásia ao novo senhor da Pérsia. Togrul, que ele tinha nomeado seu vigário temporal, pôs-se em marcha à frente de um exército, dispersou os facciosos e os rebeldes, devastou as províncias e chegou a Bagdad, prostrou-se aos pés do califa, que proclamou o triunfo dos seus libertadores e seus direitos sagrados ao Império. No meio de uma cerimônia imponente, Togrul foi revestido sucessivamente de sete vestes de honra, apresentaram-lhe sete escravos nascidos nos sete climas do Império dos Árabes; como emblema de seu poder sobre o Oriente e o Ocidente, cingiram-no com duas cimitarras e duas coroas foram postas sobre sua cabeça. O Império que o vigário de Maomé mostrava à ambição dos novos conquistadores foi logo invadido por suas armas. Sob o reinado de Alp-Arslan e de Malek-Schah, sucessores de Togrul, os sete ramos da dinastia de Seldjouc dividiram entre si os mais vastos reinos da Ásia. Trinta anos se tinham passado depois que os turcos haviam conquistado a Pérsia e já suas colônias militares e pastorais estendiam-se do Oxo até o Eufrates e do Indo até o Helesponto.
Um lugar-tenente de Maleck-Schah levou o terror de suas armas até as margens do Nilo e apoderou-se da Síria, sujeita aos califas Fatimitas. A Palestina caiu em poder dos turcos, a bandeira negra dos Abássidas, foi hasteada nos muros de Jerusalém. Os vencedores não pouparam nem os cristãos nem os filhos de Ali, que o califa de Bagdad representava como inimigos de Deus. A guarnição egípcia foi massacrada; as mesquitas e as igrejas foram entregues ao saque. A cidade santa nadou no sangue dos cristãos e dos muçulmanos.
É aqui que a história pode dizer com a Escritura que Deus tinha entregue seus filhos aos que os odiavam. Como a dominação dos novos conquistadores da Síria e da Judéia era recente e mal firmada, ela mostrou-se inquieta, invejosa e violenta. Os cristãos tiveram que sofrer grandes calamidades, que seus pais não haviam sofrido, sob o reinado dos califas de Bagdad e do Cairo.
Quando os peregrinos da Igreja latina, depois de terem atravessado regiões inimigas e corrido mil perigos, chegavam à Palestina, as portas da Cidade Santa só se abriam para os que podiam pagar uma moeda de ouro, e, como a maior parte era pobre e haviam já sido roubados durante a viagem, eles vagavam miseravelmente em redor daquela Jerusalém, pela qual tudo haviam deixado. O maior número deles morria de sede, de fome, de nudez, ou pela espada dos bárbaros. Os que conseguiam entrar na cidade não estavam a salvo dos maiores perigos; as ameaças e os ultrajes sangrentos dos muçulmanos perseguiam-nos até o Calvário, o monte Sião e a todos os lugares que eles iam visitar. Quando estavam reunidos nas igrejas com seus irmãos da Cidade Santa, uma multidão furiosa vinha interromper com seus clamores o Ofício divino, espezinhava os vasos sagrados, subia aos altares mesmo do Deus vivo, ofendia e vergastava o clero revestido de paramentos pontificais e das túnicas dos levitas. Mais o povo fiel mostrava fervor na sua devoção e nas suas preces mais os muçulmanos duplicavam sua violência; o excesso de sua barbárie se patenteava especialmente na ocasião das festas solenes e todos os anos, os dias mais festejados na Igreja cristã, o dia do nascimento do Salvador do mundo, o dia de sua morte . e de sua ressurreição, eram marcados pela perseguição e pela morte de seus discípulos.
Os peregrinos que voltavam à Europa contavam o que tinham visto e o que tinham sofrido. Suas narrações, exageradas pela fama e voando de boca em boca, arrancavam lágrimas de todos os fiéis.
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