31 de dezembro de 2010

31 de dezembro: Último dia do ano civil - Te Deum laudamus!



Fim do Ano Civil

Dia de Ação de Graças a Deus



É o dia de ação de graças a Deus pelos benefícios dele recebidos durante o ano que vai findar. A gratidão é chave para recebermos mais dadivosos benefícios. Seja sincera e cordial a nossa ação de graças ao bom Deus! - Canta-se, nesta ocasião, o "Te Deum laudamus" (Nós vos louvamos, ó Deus).



Eis-nos chegados ao fim deste ano! Quantos benefícios não nos fizestes, ó Senhor, tanto à alma como ao corpo! Quem poderá jamais enumerá-los? Que ações de graças, pois não vos devemos dar hoje! Felizes de nós, se tivéssemos correspondido aos vossos benefícios. Mas ai! Sentimos que a consciência nos exproba a nossa ingratidão. Quantos pecados cometemos em todo este ano! Quantas virtudes deixamos de praticar! Que será de nós, ó Senhor, no dia em que nos chamardes a dar-vos contas? Com um coração cheio de reconhecimento e ao mesmo tempo traspassado de dor, nós vos pedimos humildemente perdão.

Aceitai, Deus de bondade, este nosso ato: perdoai nossos pecados e dai-nos vossa divina graça, para que comecemos e santamente acabemos o novo ano.

Assim o propomos e assim o esperamos, confiados em vossa graça, assim seja.


(Manual de Orações. Associação Imaculado Coração de Maria e São Miguel Arcanjo. RJ, 2001. P. 81).


Te Deum laudamus!


Santo Ambrósio e Santo Agostinho (387 AD)









Concede-se indulgência parcial ao fiel que recitar o hino Te Deum (A vós, ó Deus) em ação de graças, e será plenária, quando recitado em público no último dia do ano. (Manual das Indulgências aprovado pela Santa Sé e publicado em 1990 pela CNBB. Edições Paulinas: SP, 1990, P.15-19).

Para lucrar a indulgência plenária, além da repulsa de todo o afeto a qualquer pecado até venial, requerem-se a execução da obra enriquecida da indulgência e o cumprimento das três condições seguintes: confissão sacramental, comunhão eucarística, e oração nas intenções do Sumo Pontífice. (Pontos essenciais sobre a doutrina das Indulgências extraídos do "Manual das Indulgências" editado pela Penitenciária Apostólica em 29 de junho de 1968).













Te Deum laudamus: te Dominum confitemur.
Te aeternum Patrem omnis terra veneratur.
Tibi omnes Angeli; tibi caeli et universae Potestates;
Tibi Cherubim et Seraphim incessabili voce proclamant:
Sanctus, Sanctus, Sanctus, Dominus Deus Sabaoth.
Pleni sunt caeli et terra maiestatis gloriae tuae.

Te gloriosus Apostolorum chorus,
Te Prophetarum laudabilis numerus,
Te Martyrum candidatus laudat exercitus.
Te per orbem terrarum sancta confitetur Ecclesia,

Patrem immensae maiestatis:
Venerandum tuum verum et unicum Filium;
Sanctum quoque Paraclitum Spiritum.
Tu Rex gloriae, Christe.
Tu Patris sempiternus es Filius.
Tu ad liberandum suscepturus hominem,
non horruisti Virginis uterum.
Tu, devicto mortis aculeo, aperuisti credentibus regna caelorum.
Tu ad dexteram Dei sedes, in gloria Patris.

Iudex crederis esse venturus.
(hic genuflectituir)
Te ergo quaesumus, tuis famulis subveni:
quos pretioso sanguine redemisti.
Aeterna fac cum sanctis tuis in gloria numerari.

Salvum fac populum tuum, Domine, et benedic hereditati tuae.

Et rege eos, et extolle illos usque in aeternum.
Per singulos dies benedicimus te;
Et laudamus Nomen tuum in saeculum, et in saeculum saeculi.
Dignare, Domine, die isto sine peccato nos custodire.

Miserere nostri Domine, miserere nostri.

Fiat misericordia tua,
Domine, super nos, quemadmodum speravimus in te.
In te, Domine, speravi:
non confundar in aeternum.

V. Benedicamus Patrem et Filium cum Sancto Spiritu.

R. Laudemus et superexaltemus eum in saecula.


V. Benedictus es Domine in firmamento caeli.
R. Et laudabilis, et gloririsus, et superexaltatus in saecula.

V. Domine exaudi orationem meam,
R. Et clamor meus ad te veniat.

V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.

Oremus.
Deus, cujus misericordiae non est numerus,
et bonitatis infinitus est thesaurus:
piissimae majestati tuae pro collatis donis gratias agimus,
tuam semper clementiam exorantes;
ut qui petentibus postulata concedis,
eosdem non deserens, ad praemia futura disponas.
Per Christum Dominum nostrum. Amen.




Nós vos louvamos, Senhor: nós Vos glorificamos.
A Vós, eterno Pai, adora toda a terra.
A Vós todos os anjos, os Céus e Potestades;
A Vós os Querubins e Serafins, sem cessar proclamam:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos.
Cheios estão os Céus e a terra da majestade de Vossa glória.
O glorioso coro dos Apóstolos,
A venerável assembléia dos Profetas,
O exército brilhante dos Mártires,
E a santa Igreja por toda a redondeza da terra Vos louvam:
Pai de imensa majestade,
E Vosso adorável, verdadeiro e único Filho,
E também a Vosso Espírito Santo Consolador.
Vós sois Rei da glória, ó Cristo.
Vós, sempiterno Filho do Pai,
Vós, tomando a peito libertar o homem,
não tivestes asco ao seio da Virgem.
Vós, vencendo a morte, abristes aos crentes o reino dos Céus.
Vós estais sentado à dextra de Deus, na glória do Pai.
Cremos que haveis de vir como juiz.
(aqui ajoelha-se)
Dignai-Vos, pois, assistir a Vossos servos:
que haveis redimido com Vosso precioso sangue;
Fazei que sejam do número dos Vossos santos na glória.
Salvai o Vosso povo, Senhor, e abençoai a Vossa herança.

Governai-os e exaltai-os para sempre.
Nós Vos bendizemos todos os dias;
E louvamos o Vosso nome para todo o sempre.

Dignai-Vos, Senhor, neste dia conservar-nos sem pecado.
Compadecei-Vos de nós, Senhor, compadecei-Vos de nós.
Desça sobre nós a vossa misericórdia,
Senhor, segundo a esperança que em Vós pusemos.
Em Vós, Senhor, esperei:
jamais serei confundido;

V. Bendigamos ao Pai e ao Filho com o Santo Espírito.
R. Louvemo-lO e engrandeçamo-lO por todo o sempre.

V. Bendito sois, Senhor, no firmamento do Céu.
R. Louvável, glorioso e exaltado por todo o sempre.


V. Senhor, ouvi nossos rogos.
R. E chegue até Vós o meu clamor.

V. O senhor esteja convosco.
R. E com o vosso espírito.

Oremos.
Deus, cuja misericórdia é sem limites
e infinito o tesouro da Vossa bondade,
agradecemos à Vossa Majestade os dons concedidos,
suplicando Vossa clemência:
e pois que nada recusais,
dispende-os para os prêmios eternos.
Por Cristo Nosso Senhor. Amém.
Tradução: Missa Quatidiano e Vesperal. Dom Gaspar Lefebvre, OSB.

Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem

TRATADO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM por São Luís Maria Grignion de Montfort

"É mentiroso o homem que diz amar Nosso Senhor não amando sua Santíssima Mãe"

1. Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por ela que deve reinar no mundo.
2. Toda a sua vida Maria permaneceu oculta; por isso o Espírito Santo e a Igreja a chamam Alma Mater – Mãe escondida e secreta. Tão profunda era a sua humildade, que, para ela, o atrativo mais poderoso, mais constante era esconder-se de si mesma e de toda criatura, para ser conhecida somente de Deus.
3. Para atender aos pedidos que ela lhe fez de escondê-la, empobrecê-la e humilhá-la, Deus providenciou para que oculta ela permanecesse em seu nascimento, em sua vida, em seus mistérios, em sua ressurreição e assunção, passando despercebida aos olhos de quase toda criatura humana. Seus próprios parentes não a conheciam; e os anjos perguntavam muitas vezes uns aos outros: Quae est ista?... – Quem é esta? (Ct 3, 6; 8, 5) pois que o Altíssimo lha escondia; ou, se algo lhes desvendava a respeito, muito mais, infinitamente, lhes ocultava.
4. Deus Pai consentiu que jamais em sua vida ela fizesse algum milagre, pelo menos um milagre visível e retumbante, conquanto lhe tivesse outorgado o poder de fazê-los. Deus Filho consentiu que ela não falasse, se bem lhe houvesse comunicado a sabedoria divina. Deus Espírito Santo consentiu que os apóstolos e evangelistas a ela mal se referissem, e apenas no que fosse necessário para manifestar Jesus Cristo. E, no entanto, ela era a Esposa do Espírito Santo.
5. Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cujo conhecimento e domínio ele reservou para si. Maria é a Mãe admirável do Filho, a quem aprouve humilhá-la e ocultá-la durante a vida para lhe favorecer a humildade, tratando-a de mulher – mulier (Jo 2, 4; 19, 26), como a uma estrangeira, conquanto em seu Coração a estimasse e amasse mais que todos os anjos e homens. Maria é a fonte selada (Ct 4, 12) e a esposa fiel do Espírito Santo, onde só ele pode penetrar. Maria é o santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem excetuar seu trono sobre os querubins e serafins; e criatura algumas, pura que seja, pode aí penetrar sem um grande privilégio.
6. Digo com os santos: Maria Santíssima é o paraíso terrestre do novo Adão, no qual este se encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis. É o grande, o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência de Deus, em que ele escondeu, como em seu seio, seu Filho único, e nele tudo que há de mais excelente e mais precioso. Oh! que grandes coisas e escondidas Deus todo-poderoso realizou nesta criatura admirável, di-lo ela mesma, como obrigada, apesar de sua humildade profunda: Fecit mihi magna qui potens est (Lc 1, 49). O mundo desconhece essas coisas porque é inapto e indigno.
7. Os santos disseram coisas admiráveis desta cidade santa de Deus; e nunca foram tão eloqüentes nem mais felizes, – eles o confessam – que ao tomá-la como tema de suas palavras e de seus escritos. E, depois, proclamam que é impossível perceber a altura dos seus méritos, que ela elevou até ao trono da Divindade; que a largura de sua caridade, mais extensa que a terra, não se pode medir; que está além de toda compreensão a grandeza do poder que ela exerce sobre o próprio Deus; e, enfim, que a profundeza de sua humildade e de todas as suas virtudes e graças são um abismo impossível de sondar. Ó altura incompreensível! Ó largura inefável! Ó grandeza incomensurável! Ó insondável!
8. Todos os dias, dum extremo da terra ao outro, no mais alto dos céus, no mais profundo dos abismos, tudo prega, tudo exalta a incomparável Maria. Os nove coros de anjos, os homens de todas as idades, condições e religiões, os bons e os maus. Os próprios demônios são obrigados, de bom ou mau grado, pela força da verdade, a proclamá-la bem-aventurada. Vibra nos céus, como diz São Boaventura, o clamor incessante dos anjos: Sancta, sancta, sancta Maria, Dei Genitrix et Virgo; e milhões e milhões de vezes, todos os dias, eles lhe dirigem a saudação angélica: Ave, Maria..., prosternado-se diante dela e pedindo-lhe a graça de honrá-la com suas ordens. E a todos se avantaja o príncipe da corte celeste, São Miguel, que é o mais zeloso em render-lhe e procurar toda a sorte de homenagens, sempre atento, para ter a honra de, à sua palavra, prestar um serviço a algum dos seus servidores.
9. Toda a terra está cheia de sua glória, particularmente entre os cristãos, que a tomam como padroeira e protetora em muitos países, províncias, dioceses e cidades. Inúmeras catedrais são consagradas sob a invocação do seu nome. Igreja alguma se encontra sem um altar em sua honra; não há região ou país que não possua alguma de suas imagens milagrosas, junto das quais todos os males são curados e se obtêm todos os bens. Quantas confrarias e congregações erigidas em sua honra! quantos institutos e ordens religiosas abrigados sob seu nome e proteção! quantos irmãos e irmãs de todas as confrarias , e quantos religiosos e religiosas a entoar os seus louvores, a anunciar as suas maravilhas! Não há criancinha que, balbuciando a Ave-Maria, não a louve; mesmo os pecadores, os mais empedernidos, conservam sempre uma centelha de confiança em Maria. Dos próprios demônios no inferno, não há um que não a respeite, embora temendo.
10. Depois disto é preciso dizer, em verdade, com os santos: De Maria nunquam satis... Ainda não se louvou, exaltou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço ela merece.
11. É preciso dizer, ainda, com o Espírito Santo: Omnis gloria eius filiae Regis ab intus – Toda a glória da Filha do Rei está no interior (Sl 44, 14), como se toda a glória exterior, que lhe dão, a porfia, o céu e a terra, nada fosse em comparação daquela que ela recebe no interior, da parte do Criador, e que desconhecem as fracas criaturas, incapazes de penetrar o segredo dos segredos do Rei.
12. Devemos, portanto, exclamar com o apóstolo: Nec oculus vidit, nec auris audivit, nec in cor hominis ascendit (1Cor 2, 9) – os olhos não viram, o ouvido não ouviu, nem o coração do homem compreendeu as belezas, as grandezas e excelências de Maria, o milagre dos milagres da graça, da natureza e da glória. Se quiserdes compreender a Mãe – diz um santo – compreendei o Filho. Ela é uma digna Mãe de Deus: Hic taceat omnis lingua – Toda língua aqui emudeça.
13. Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida, e que é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser. Quando, portanto, e é certo, o conhecimento e o reino de Jesus Cristo tomarem o mundo, será uma conseqüência necessária do conhecimento e do reino da Santíssima Virgem Maria. Ela o deu ao mundo a primeira vez, e também, da segunda, o fará resplandecer.
7) No sentido de: conhecida insuficientemente, como se depreende de todo este parágrafo e da expressão: “Jesus Cristo não é conhecido como deve ser”.

Sacerdote Eternamente - Parte 18

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO TERCEIRO
O CAMPO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO II
Natureza do Mal Presente

O mal presente é pura e simplesmente o pecado original e suas conseqüências.

Com qualquer nome por que seja chamado, o mal presente não é nem pode ser outra coisa.

O pecado entrou no mundo por Adão. O pecado de Adão tornou-se o pecado de todo o gênero humano e dessa fonte única, mas muito fecunda, por demais fecunda, de-correm todas as desgraças das almas.

O pecado original, mesmo onde limpo pelo batismo, deixa remanescente tríplice concupiscência: orgulho, avareza, sensualidade.

Pior é que essas lamentáveis concupiscências geralmente vêm a prevalecer nos batizados; e então dominam tão poderosamente que o batismo, a confirmação e a comunhão parecem hoje sem ação nas almas.

De muitos cristãos, lastimavelmente, tem-se impressão de que só foram batizados para virem a ser apóstatas; muitos parecem ter sido batizados para renunciar ao Espírito Santo, em vez de para recebê-lo, e há os que participam da Eucaristia para de fato desdenhar do Filho de Deus.

Assim, os remédios que deveriam salvar são transformados em venenos que produ-zem a morte; os sacramentos, que são os canais da graça, tornam-se freqüentemente ensejos de pecado.

Em muitos lugares, o estado comum das almas é a apostasia; freqüentemente, porém, uma apostasia antes insensata do que calculada: vive-se afastado de Deus, de Nosso Senhor, do Espírito Santo, longe de tudo que é sobrenatural.

E, no entanto, são almas batizadas. Que ultraje à graça divina! Que ultraje ao Espírito Santo! Que ingratidão para com Deus Pai, para com a adorável pessoa do Salvador, para com o Espírito Santo!

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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

30 de dezembro de 2010

Domingo na Oitava do Natal: Sermão de Santo Antônio de Pádua (parte 5/5)

III. NA ANUNCIAÇÃO OU NASCIMENTO DO SENHOR, E SOBRE A PENITÊNCIA

17. Com essa passagem da epístola, concorda o introito da Missa de hoje: "Quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite chegava ao meio do seu curso, vossa palavra todo-poderosa desceu dos céus e do trono real, e, qual um implacável guerreiro, arremessou-se no meio da terra do extermínio. Espada afiada, levando o teu império não simulado, e, em pé, encheu tudo de morte, e, pisando a terra, tocava os céus" (Sap 18, 14-16).
Eis o que disse o Senhor em Lucas: "Quando um forte armado", isto é, o diabo, "guarda a sua casa", isto é, o mundo ou inferno, "está em paz aquilo que ele possui" (Lc 11, 21). Por isso, Senaquerib, que representa o diabo, diz, em Isaías: "Minha mão encontrou como um ninho", isto é, incapazes de proteger-se, "a fortaleza dos povos; e como se recolhem os ovos abandonados" pela mãe, "eu reuni a terra inteira, e ninguém moveu a asa", isto é, a mão contra mim, "nem abriu o bico, nem piou" (Is 10, 14). Eis como um quieto silêncio continha tudo.
"E a noite chegava ao meio do seu curso." O meio é dito com relação aos extremos. Os extremos da noite são o crepúsculo e a aurora. De Adão até a lei foi como o crepúsculo; da lei até a Anunciação a Santa Maria foi como a meia-noite, que representa a passagem do preceito. Nem Adão no paraíso, nem o povo no deserto guardou o preceito; todos eram obscurecidos pela neblina daquela noite, e por isso suspiravam pela aurora, isto é, a bênção do advento do Senhor, que começou com a saudação angélica. O princípio da noite foi a sugestão diabólica da serpente para Eva. O início do dia foi a saudação angélica a Maria. E então, ó Pai, o Verbo todo-poderoso consubstancial a vós, isto é, o Filho, veio dos vossos tronos reais, isto é, do seio da vossa majestade, do qual fala João: "O Filho unigênito, que está no seio do Pai, ele revelou" (Jo 1, 18).
"Implacável guerreiro." Isto é dito em Lucas: "Se, porém, um mais forte do que ele sobrevier" (Lc 11, 22). Aquele que veio para quebrar as portas de cobre e despedaçar os ferrolhos de ferro (cf. Ps 106, 16), sem dúvida convinha que fosse um guerreiro implacável. Sobre o diabo, o Senhor diz, em Jó, que considera "palha o ferro, e pau podre o bronze. A flecha não o faz fugir, as pedras da funda são palhinhas para ele. O martelo lhe parece um fiapo de palha; ri-se do assobio da azagaia" (Job 41, 18-20). Que mais? "Foi feito para não ter medo de nada" (Job 41, 24). Convinha, pois, que fosse um implacável guerreiro, no qual ele não tivesse parte alguma, aquele que veio expoliá-lo.
"No meio da terra", que está no meio entre o céu e o inferno, "do extermínio", isto é, que o diabo exterminara, ou seja, pusera fora da vida eterna. Por isso Isaías dele fala: "Acaso é um homem esse que perturbou a terra, que quebrou os reinos, que fez do globo um deserto e destruiu as suas cidades?" (Is 14, 16-14), "arremessou-se", juntos os pés da divindade e da humanidade.
"Espada afiada." Isto é o que diz o Apóstolo: "A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrável que toda espada de dois gumes" (Hebr 4, 12) etc. A espada é a divindade, que ficou escondida na bainha da humanidade. Por isso, diz Isaías: "Deveras tu és o Deus escondido, Deus salvador de Israel" (Is 45, 15). Por essa espada foi transpassado o diabo, que exterminava a terra. Por isso diz Isaías: "Acabou o pó, consumiu-se o miserável, faliu aquele que oprimia a terra" (Is 16, 4).

18. "Levando o vosso império não simulado." Diz João: O Pai deu-lhe tudo na sua mão (cf. Jo 3, 35; 13, 3). E ainda: "Tudo o que o Pai tem é meu" (Jo 16, 5). E: "Tudo o que é meu é teu, e o que é teu é meu" (Jo 17, 10). Levou, pois, o imperio do Pai, que lhe dera poder sobre toda carne (cf. Jo 17, 2), o seu poder é um poder eterno (cf. Dan 7, 14), que dá ordens aos ventos e ao mar, e obedecem-no (cf. Lc 8, 25). "Levando o império não simulado", isto é dito em Marcos: "Ensinava-os como quem tem poder, e não como os escribas" (Mc 1, 22) deles, que ensinavam em hipocrisia e simulação. E em Lucas: "Que discurso é este, porque, com poder e força, dá ordens aos espíritos imundos, e eles saem?" (Lc 4, 36).
"E, em pé, encheu tudo de morte." Em pé, abriu as mãos na cruz, e encheu, com a sua morte, tudo o que havia sido esvaziado pela desobediência dos primeiros pais. De cuja plenitude nós todos recebemos (cf. Jo 1, 16).
"E tocava o céu", no qual está a divindade, posto que a sabedoria atinge de um fim a outro, fortemente (cf. Sap 8, 1), "em pé sobre a terra", que designa a humanidade. Diz ele em João: "Ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu" (Jo 3, 13). Dele é falado em Jó: "É mais alto do que o céu, e que farás? Mais profundo que o inferno, e como conhecerás? A sua medida é mais longa do que a terra, e mais larga do que o mar" (Job 11, 8-9).
A ele, caríssimos irmãos, humildemente imploremos, para que nos faça morrer para os vícios, e ressucitar para as virtudes; que a espada da sua Paixão transpasse a nossa alma, para que mereçamos a alegria na ressurreição geral.
Conceda-no-lo aquele que é bendito pelos séculos. Amém.

19. "Quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas" explicado no sentido moral. Fala Jó do diabo: "Dorme sob a sombra, no segredo dos caniços e dos lugares úmidos" (Job 40, 16). À sombra da soberba, chamada sombra da morte, ou o diabo. Assim como a sombra segue o corpo, assim a soberba segue o diabo. Por isso, se diz no Apocalipse: "Eis um cavalo pálido, e o nome do que o montava era morte; e o inferno o seguia" (Apoc 6, 8). Eis o cavalo, o soldado e o escudeiro. O cavalo pálido é o hipócrita; o soldado, cujo nome é morte, é o diabo; o escudeiro é o inferno, isto é, a soberba, que apascenta o cavalo com cevada e água, isto é, com a austeridade da abstinência, para que apareça jejuando perante os homens (cf. Mt 6, 16), sela-o com a humildade e freia-o com o silêncio. "O estúpido", diz Salomão, "se se calar, será reputado como sábio" (Prov 17, 28), assim como o hipócrita será tido por santo. Montou aquele cavalo a morte, percorreu o mundo, saudada com louvores, com saudações nos foros, cátedras nas sinagogas, e primeiros lugares nos banquetes (cf. Mt 23, 6-7). Não há soberba maior do que a soberba dos hipócritas: a equidade simulada não é equidade, mas dupla iniquidade.
Ainda, nos caniços (em latim, calamus, donde vem a palavra "calamidade") está a avareza, a cujo vazio (porque nunca diz: Basta) segue-se a eterna calamidade. Os lugares úmidos designam a gula e a luxúria. Porque a umidade é a mãe da corrupção, na qual se geram vermes e coisas semelhantes. Nos soberbos, avarentos e luxuriosos, dorme e descansa o diabo, e então, num quieto silêncio, prende todos os seus membros. Porque o coração cala-se para o bem pensamento, a língua, para o louvor de Deus, e a mão, para a obra reta. Diz Isaías: "Ai de mim, porque me calei" (Is 6, 5). Em tal silêncio está o ai da eterna condenação.
"E a noite chegava ao meio do seu curso." A palavra noite vem do latim "nocere", fazer mal, porque faz mal aos olhos, e simboliza o pecado mortal, que obscurece a luz da razão. Quem caminha de doite fere-se (cf. Jo 11, 10). Os extremos dessa noite são o crepúsculo e a aurora, esto é, o consentimento da alma cegada, e a infusão da graça, em cujo meio está essa ação e costume do pecado. Desse meio caminho fala-se no Salmo: "O caminho dos ímpios perecerá" (Ps 1, 6).
Isso ocorreu quando "a palavra todo-poderosa arremessou-se", isto é, a graça do Espírito Santo, justamente chamada palavra todo-poderosa: todo-poderosa porque rompe todos os obstáculos postos à salvação; palavra (em latim, sermo), porque planta (serit) e insere na alma as virtudes, ou porque conserva (servat) a alma, que curou do pecado. Por isso, no livro da Sabedoria: Não foi uma erva, isto é, a verdura das riquezas, que logo seca, nem um emoliente de delícias que os curou, mas a vossa palavra todo-poderosa, Senhor, que cura tudo (cf. Sap 16, 12), "desde os tronos reais" da benignidade e misericórdia divinas. Por isso Joel: "Convertei-vos ao Senhor vosso Deus, porque é benigno e misericordioso" (Joel 2, 13).

20. "Guerreiro implacável", na contrição. A graça é chamada guerreiro implacável, porque, como um martelo, bate na dureza da alma: Acaso as minhas palavras não são como o fogo, e como um martelo quebrando pedras? (cf. Jer 23, 29).
"No meio da terra", isto é, na alma do pecador, que é chamada terra, porque é dada às coisas terrenas; meio, porque é posta entre a misericórdia e a justiça. Por isso João diz que "Jesus ficou sozinho com a mulher no meio" (Jo 8, 9), entre a misericórdia e a justiça.
"Do extermínio." Dois são os términos: a entrada e a saída da nossa vida. Quando a alma do homem não habita neles, neles não pensa, e então é exterminada, isto é, posta fora dos términos. Diz Isaías: Circulou um clamor no confim de Moab (cf. Is 15, 8), que representa o pecador, em cujos ambos términos há clamor: quando entra no mundo, clamando, chora; quando sai, os seus choram. Por isso, no Eclesiastes: "Circularão" com o cadáver "chorando pela rua" (Eccle 12, 5).
Segue-se: "Espada afiada", na confissão. A graça é, então, uma espada afiada, pois aguça a língua do pecador na confissão, para que possa dizer, com Isaías: "Fiz de minha boca uma espada afiada" (Is 49, 6). Disso fala o Senhor a Ezequiel: "E tu, filho do homem, toma para ti uma espada afiada, que raspe pêlos, e passa-a pela tua cabeça e tua barba" (Ez 5, 1). O pacador, com a espada da confissão, deve raspar a cabeça, na qual está a mente, para que nenhum pecado permaneça na consciência, e a barba, que representa a fortaleza das boas obras, para que não confie em si, mas no Senhor, do qual procede todo bem.
Por isso, segue-se: "Portando o teu império não simulado". A verdadeira confissão não conhece simulação, pois elucida a verdade da consciência diante do Altíssimo e do seu confessor, e então carrega o não simulado império do Senhor. Note-se que são quatro os inimigos da confissão: e amor ao pecado, a vergonha de confessar, o temor da penitência e o desespero do perdão. Quem vence todos esses quatro inimigos na confissão, sem dúvida leva o império não simulado do Senhor.
Segue-se: "E, em pé, encheu tudo de morte", na satisfação. A graça fica em pé quando faz o penitente perseverar virilmente na penitência, para que encha de morte, isto é, mortificação, todos os seus membros, para que, morto para o pecado, viva para Deus (cf. Rom 6, 11), e então se poderá dizer, a respeito dele, o seguinte: "E, de pé sobre a terra, alcançava o céu". A graça chega até o céu, estando sobre a terra, quando faz o penitente, ainda na carne, atingir o céu, pela celeste conversação, para que diga, com o Apóstolo: "A nossa conversação está no céu" (Phil 3, 20).
Roguemos pois, caríssimos irmãos, ao Senhor Jesus Cristo, para que envie a graça do Espírito Santo no meio da terra do extermínio, para que quebre a dureza da alma, afie a língua na confissão, encha os corpos de mortificação, e, nessa celeste conversação, mereçamos atingir o céu. Conceda-no-lo aquele que é bendito pelos séculos. Amém.


Traduzido por nós de http://www.santantonio.org/portale/sermones/indice.asp?ln=LT&s=0&c=0&p=0

Homilia do Domingo na Oitava do Natal

Pe. Paulo Iubel
Paróquia Imaculada Conceição
Curiitba/PR

O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo

O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo
Algumas observações retiradas do livro:
O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, editora Artpress

Origem do Carmelo

Segundo a tradição os carmelitas tiveram sua origem nos profetas Elias e Eliseu e seus seguidores, foram continuados depois pelos filhos dos profetas - instituição surgida na época do profeta Samuel e mais tarde pelos essênios. Já na era cristã, pelos ermitães que povoavam o Monte Carmelo (+ ou – no ano 83).

Uma capela foi construída em honra a Nossa Senhora no Monte Carmelo por esses ermitães. Em 1185 um monge grego chamado João Focas foi visitar o monte Carmelo e lá encontrou com São Bertoldo com mais cerca de dez eremitas que com ele viviam junto à gruta do Profeta Elias, ao morrer São Bertoldo (1208), Brocardo, passou a dirigir o grupo pedindo ao patriarca de Jerusalém, Santo Alberto de Vercelli (1214), que compusesse uma regra para a Ordem.

Em meados do século XIII por causa dos ataques mulçumanos, os eremitas tiveram que abandonar várias vezes o Monte Carmelo, até que em 1291, enquanto cantavam a Salve Regina, foram martirizados e seu convento queimado. Mas a ordem subsistiu, pois muitos dos monges eram europeus e havia fundações em vários locais da Europa, Espanha, Inglaterra, etc.

Origem do Escapulário

Latim: scapulae = ombros
No século VI com São Bento o Escapulário era constituído por uma faixa em forma de cruz posta sobre o peito e costas para auxiliar o ajuste do hábito nos afazeres.

Um século mais tarde, mudou de significado, tornou-se uma espécie de capuz alongado que protegia a testa e os ombros da chuva, frio e neve.

Em 821 essa peça já descia até os joelhos, depois descendo até os pés (1200). A imposição nas formas de profissão monástica se deu gradualmente sendo hoje parte integrante de quase todos os hábitos religiosos.

Ordem Terceiras e Oblatos – Com o tempo as ordens masculinas foram se desdobrando surgindo os ramos femininos (Ordem Segunda) e de leigos (Terceira ou Oblatos), esses “irmãos” recebiam um hábito mais simples, que usavam continuamente ou, nos domingos e festas. No início não se encontra menção do Escapulário no hábito dos Oblatos beneditinos nem é mencionado na regra da Ordem Terceira de São Francisco 1221, porém com o tempo tornou-se usual portar sob as vestes, um Escapulário de tamanho considerável, do mesmo tecido que o das Ordens Primeiras.

Confrarias

Para muitos leigos que por motivos diversos não poderiam ingressar nas Ordens Terceiras foram fundadas as confrarias, os confrades participavam dos bens espirituais das Ordens aquém estavam ligados, mas não tinham votos. A confraria de Nossa Senhora do Carmo é a mais antiga (1280).

Para essas confrarias surgiu então uma miniatura do Escapulário dos religiosos, seus confrades deveriam portá-lo continuamente. Finalmente várias Ordens religiosas receberam da Igreja a faculdade de benzer pequenos Escapulários e impô-los aos fiéis, independente de estarem os fiéis ligados ou não ligados a confrarias.


São Simão Stock (1165 a 1265)

- Nascido na Inglaterra, sua mãe o consagrou antes de nascer à Santíssima Virgem.

- Negava-se a mamar se a mãe antes não rezasse uma Ave-Maria.

- Aprendeu a rezar com pouquíssima idade e começou pelo Pequeno Ofício da Santíssima Virgem e o Saltério.

- Aos 7 anos iniciou seus estudos das Belas Artes no colégio de Oxford, foi nessa época que também consagrou sua virgindade à Santíssima Virgem.

- Aos 12 anos abandonou a família e foi viver em uma gruta em uma floresta isolada, tinha uma cruz, uma imagem de Nossa Senhora, bebia água da chuva e comia ervas e raízes. De vez em quando um cão misterioso levava um pedaço de pão para ele, assim viveu por 20 anos.

- Nossa Senhora revela a ele seu desejo de sua união com os monges que viviam no Monte Carmelo, na Palestina (Inglaterra) , estudou teologia e recebeu assim as sagradas ordens.

- Recebeu o hábito no ano de 1213 e 13 anos depois foi nomeado Vigário Geral de todas as províncias européias.

- Na manhã do dia 16/07/1251, suplicava a Mãe do Carmelo Sua proteção, pelos ataques que o Carmelo estava passando e como ele mesmo narrou ao seu secretário e confessor Padre Pedro “a Virgem me apareceu em grande cortejo, e, tendo na mão o hábito da Ordem, disse-me: Recebe, diletíssimo filho, este scapulárioE de tua ordem como sinal distintivo e a marca do privilégio que eu obtive para ti e para todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna. Quem morrer revestido com ele será preservado do fogo eterno”.

- Essa graça foi difundida rapidamente pelos lugares onde os carmelitas estavam estabelecidos e foi autenticada por muitos milagres.

- A ordem do Carmo se multiplicou sob a direção do santo, poucos anos depois de sua morte, no fim do século XIII, a ordem contato com 7.500 mosteiros e solidões e também com 120 mil religiosos.

- Morrendo com 100 anos no dia 16 de maio de 1265, de seu sepulcro saíram raios de luz durante 15 dias depois de sepultado, o que levou o bispo mandar abrir o túmulo, e o corpo do santo emitia raios de luz e exalando delicada fragrância.

Graças dadas por Nossa Senhora a quem traz devotamente o Escapulário

1- Grande Promessa;

2- Privilégio Sabatino;

3- Participação de todas as boas obras que se praticam em toda a Ordem do Carmo.

1 – Aquele que morrer piedosamente, não padecerá das penas do inferno, receberá à hora da morte a graça da perseverança final (estado de justiça); ou então a graça de conversão e perseverança final.

2 – No século XIII Nossa Senhora apareceu ao Papa João XXII, prometeu especial assistência aos que trouxessem o Escapulário do Carmo, dizendo que os livrariam do Purgatório no primeiro sábado após a sua morte.

3 – Tudo o que cai sob o comum denominador de “boas obras” – como virtudes, satisfações, imolações, frutos das missões, prática dos votos, austeridades da vida do claustro, forma um acervo comum que se reparte entre todos.

Medalha-Escapulário

Em 1910, São Pio X, concede a permissão de se usar uma medalha de metal, devendo ter em uma das faces o Sagrado Coração e na outra a Santíssima Virgem, devem ser levados ao pescoço ou de outra maneira conveniente, ganhando-se com o seu uso quase todas as indulgências e privilégios concedidos aos pequenos Escapulários.

O Santo Papa o fez para atender aos apelos de missionários de zonas tórridas, em favor dos nativos, os pedaços de lã ficavam logo em condições intoleráveis, ás vezes sendo ninho de vermes pelo calor.

Para se gozar o privilégio da Medalha-Escapulário do Carmo "é de todo necessário que se receba antes a bênção e imposição do Escapulário de lã, com a fórmula prescrita e cumprindo com os demais requisitos. Se antes não se impõe o Escapulário uma vez para toda a vida, a medalha não serve, mesmo que benta por um sacerdote com faculdade para tal e com a intenção de que valha como Escapulário" (EE, p.293.)

Embora condescendendo em conceder à medalha as graças do Escapulário, São Pio X declarou muito explicitamente "seus veementes desejos de que todos os fiéis continuassem levando o Escapulário da mesma forma que antes", e que a medalha só fosse usada quando houvesse um incoveniente real em se levar o Escapulário de lã.

Observações finais:

- Para se gozar os privilégios, é necessário ter recebido devidamente o Escapulário, isto é, imposto por um sacerdote com o poder para tal.

- Ao contrário do que se dá com o Escapulário de lã, no qual basta só o primeiro ser bento, cada Medalha-Escapulário que se troca precisa ser benta.

- Que o Escapulário seja como prescreve a Igreja, isto é, feito de dois pedaços de lã (e não de outro material), ligado entre si por fios, e da forma quadrangular ou retangular e nas cores marrom, café ou negro.

- Que uma de suas partes caia sobre o peito e a outra sobre as costas.

- Que se observe a castidade segundo o estado.

- Que se rezem as orações prescritas pelo sacerdote que o impôs, a prática que geralmente era imposta, era a recitação dos Sete Padre-Nossos, Ave-Marias e Glória em louvor das Sete Alegrias de Nossa Senhora mais jejuns prescritos.

- Pode ser imposto mesmo em pecadores moribundos que o aceitem, pois lhe será penhor de salvação.

- O Escapulário pode ser imposto mesmo em crianças que não chegaram ao uso da razão, pois servir-lhes-á de "defesa e salvação nos perigos".

- Quando ocorre à substituição do Escapulário, o mais correto de eliminar o antigo é, por respeito, queimá-lo, e nunca jogá-lo ao lixo como traste velho.

- O Papa Pio XI, por decreto de 8 de maio de 1925, aprovou o que conhecemos por Escapulário protegido , isto é, os dois pedaços de lã protegidos por plástico ou material qualquer.

- Para atender a um apelo do Geral dos Carmelitas Descalços, São Pio X concedeu aos soldados de todo o mundo a faculdade de impor-se (em tempo de guerra) a si próprios o Escapulário do Carmo. Para isso é necessário que o soldado tenha um Escapulário propriamente bento, e que o ponha no pescoço ou, no caso de impossibilidade, ao menos no ombro, de maneira que uma parte penda no peito e outra nas costas. E que no momento da imposição ou logo depois, reze algumas preces à Santíssima Virgem, como a Ave-Maria ou o Lembrai-Vos. Deste modo ele será membro da Confraria e terá direito a todos os seus privilégios.
(Ami du Clergé, na. 30, o.683, in Santiago Costamagna, bispo de Colônia, "Tesoro Moral Litúrgico" 6, México, Escuela Tipo-Litrografica Salesiana, 1908, 4ª edição, p.287)

Os santos e o Escapulário
Santa Teresa de Jesus – zelava para que suas religiosas dormissem com ele posto.

Santo Afonso Maria de Ligório – recomendava- o aos fiéis. Seu Escapulário permaneceu incorrupto no sepulcro, e é venerado num relicário em Marianella, sua terra natal, assim como o escapulário de São João Bosco que em 1929, ou seja, 41 anos depois da morte do santo estava em perfeito estado de conservação.

Sacerdote Eternamente - Parte 17

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO TERCEIRO
O CAMPO DO MINISTÉRIO

CAPÍTULO I
Porque a Necessidade de um Ministério Eclesiástico

A autoridade civil, como a autoridade eclesiástica e, conseqüentemente, toda a economia do santo ministério tornaram-se necessárias por causa do pecado original.

Se Adão não tivesse pecado, a Humanidade fiel a Deus teria gozado de felicidade tão grande que maior não haveria, senão a felicidade da vida eterna.

O homem submisso a Deus teria haurido diretamente Dele a vida da graça, não teria havido necessidade de guia para encontrar Deus e, com Sua santa e divina graça, teria podido ir a Ele sem tropeços e vacilações.

Mas a Humanidade não se encontra mais nesse estado; o pecado penetrou no mundo e transformou de maneira espantosa todas as condições em que ele foi criado.

Para defender-nos contra os maus, quis Deus que na sociedade houvesse a autori-dade civil. Para reconduzir-nos ao bem e à vida eterna, Deus desejou uma autoridade eclesiástica, um ministério eclesiástico. Deus quis que Suas graças alcancem os homens por meios proporcionados à indigência de criaturas decaídas que são.

Esquecendo o que devia a Deus, aprouve Adão obedecer a Eva, assim como Eva aprouve obedecer a Satã; e Deus, querendo que o remédio correspondesse à natureza da falta, achou bom então que o homem fosse submisso a uma migalha de pão, a uma gota d’água.

Deus, portanto, humilhou sua criatura orgulhosa e isto é a razão de ser de nosso ministério: para sermos ministros da salvação dos homens, somos ministros da humilhação dos homens.

Estas considerações devem humilhar-nos profundamente, se tivermos sensibilidade para perceber a profundidade da queda e a natureza verdadeira dos remédios de que somos os ministros, e, portanto, a verdadeira natureza de nosso ministério.

Mas não temos por que nos gloriar da autoridade que Deus nos deu, pois que esta autoridade é uma prova sempre manifesta, um testemunho sempre irrecusável da queda da humanidade, de nossa própria queda com ela e nela. Pecadores que somos, temos dupla obrigação: de converter-nos e de trabalhar para converter os outros.

A primeira dessas obrigações está acima das forças humanas. Que diremos e que faremos, então, nós, que além dessa temos ainda o encargo da segunda obrigação?

A condição atual da humanidade, depois da queda original, eis a razão do ministério eclesiástico.

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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

Domingo na Oitava do Natal: Sermão de Santo Antônio de Pádua (parte 4/5)

12. Segue-se: "E em sinal a ser contradito" (Lc 2, 34). Disso, em Mateus: "E então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem" (Mt 24, 30); e Isaías: "Sobre o monte esfumaçado elevai um sinal, erguei a voz, levantai a mão" (Is 13, 2). O monte esfumaçado é o diabo: monte, devido à soberba, e esfumaçado, devido à fumaça da sugestão, que aplica às almas. Sobre ele, então, os pregadores elevam um sinal, quando pregam-no vencido por virtude da cruz; erguem a voz quando oportuna e importunamente argúem, pregam, repreendem (cf. 2Tim 4, 2); levantam a mão, quando pregam com a voz, e praticam com obras.
Ainda sobre esse sinal, fala o Senhor em Ezequiel: "O sinal 'thau' (T) nas frontes dos homens que gemem e compungem-se por causa de todas as abominações que se fazem em meio a eles" (Ez 9, 4). Somente esses não contradizem o sinal da Paixão do Senhor, porque o carregam na fronte. Quem são os que gemem e compungem-se, senão os penitentes, pobres de espírito, que se gloriam na cruz de Cristo, e, por causa das abominações que se fazem no mundo, têm compunção e gemem? Os infiéis o contradizem por palavras e obras - por isso diz o Apóstolo: "Pregamos Jesus crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos" (1Cor 1, 23) -; os falsos cristãos, pelas obras. "Ai", diz Isaías, "daquele que contradiz o seu feitor, sendo terracota entre os cacos da terra!" (Is 45, 9), isto é, um vaso. Caco de louça é chamado "Samius" em latim, pois nessa cidade são fabricadas louças. Terracota, ou cozida, é o falso cristão: tostado, porque sem devoção, frágil na obra, louça pela criação; o qual contradiz o seu feitor, Cristo, que, com as mãos pregadas na cruz, modelou-o, restituiu-lhe a honra da primeira dignidade, na qual não pode permanecer senão por ele. Por que, pois, o infeliz contradiz, com o testemunho de uma vida má, o seu feitor, o seu redentor?

13. Por isso, em Isaías: "Abri as minhas mãos o dia todo para um povo incrédulo, que caminha por um caminho não bom, atrás dos seus pensamentos; povo que, diante da minha face, sempre me provoca à ira, que imolam nos hortos e fazem sacrifícios sobre tijolos, que habitam em sepulcros e dormem nos templos dos deuses, que comem carne suína, e nos seus vasos há um direito profano" (Is 65, 2-4). "Abri" largamente, não negando nada aos que pediam. Por isso, nos Provérbios: "Abri minha mão, e não havia quem olhasse" (Prov 1, 24). Na sua primeira vinda, a mão do Senhor foi aberta, mas na segunda será fechada, e então baterá com o punho, "e quebrará as mandíbulas dos leões" (Ps 57, 7). "Abri", pois, "as minhas mãos", na cruz, como se dia nos Cânticos: "Suas mãos são torneadas, de ouro, cheias de safiras" (Cant 5, 14). As mãos de Cristo são ditas "torneadas" pela Paixão, porque foram perfuradas pelos cravos como um torno; "de ouro", pela pureza das obras; "cheia de safiras", isto é, dos prêmios da vida eterna; dos quais a primeira safira mereceu receber o Ladrão: "Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23, 43).
"O dia todo", e toda a noite, porque, quando o dia da prosperidade mundana nos sorri, então devemos recordar-nos da morte de Jesus Cristo. Por isso se diz que o sol, na sua morte, obscureceu-se (cf. Lc 23, 45). O sol da glória mundana deve obscurecer-se para nós à memória da Paixão do Senhor.
"Abri a um povo incrédulo." Diz Isaías: "Quem é incrédulo age como um infiel" (Is 21 ,2). Diz Santo Agostinho: Crer em Deus é amar a Deus, e ir a ele, e incorporar-se aos seus membros. Quam não faz isso mente quando diz: Creio em Deus. Incrédulo é, pois, quem não crê nisso, e age como um infiel: a sua fé é morta, porque carece de caridade.
"Que caminha por um caminho não bom", largo e espaçoso, que conduz à morte (cf. Mt 7, 13). Igualmente nos Provérbios: "O homem apóstata é um homem inútil, caminha com a boca pervertida, fala com o dedo, aponta com os olhos, esfrega com o pé" (Prov 6, 12-13). "Atrás de seus pensamentos", dos quais se fala no livro da Sabedoria: "Os pensamentos maus separam de Deus" (Sap 1, 3); e: "O Espírito Santo se retira dos pensamentos que são sem inteligência" (Sap 1, 5).
"Povo que me provoca à ira", isto é, à vingança, pelo zelo em fazer o mal. Por isso diz Sofonias: "Ai da cidade provocadora e redimida" (Soph 3, 1), como se dissesse: Aqueles que redimi com o meu sangue provocam-me à ira.
"Diante da minha face, sempre", isto é, manifestamente, o que é pior. "O seu pecado", diz Isaías, "alardearam como Sodoma, e não esconderam" (Is 3, 9).
"Que imolam nos hortos", eis a luxúria. Por isso diz Isaías: "Enrubescereis sobre os hortos" (Is 1, 29), isto é, os locais voluptuosos, "que elegestes" para a vossa luxúria.
"E sacrificam sobre tijolos", eis a avareza. Por isso, se diz no Êxodo: "Não vos será dada palha, e fareis o mesmo número de tijolos" (Ex 5, 18). Acontece muitas vezes que os avarentos e usurários tirem a palha, isto é, as riquezas, rendendo ao diabo os mesmos tijolos de avareza. Ou: sobre os tijolos sacrificam os que rezam ao Senhor o ofício divino junto ao fogo ou na cama.
"Que habitam nos sepulcros", eis a detração. "A sua garganta é um sepulcro aberto" (Ps 13, 2) etc. "E dormem nos templos dos ídolos", eis a hipocresia, que, como um ídolo, mostra uma aparência de religião, mas carece da verdade das obras. Ai! Quantos cultuadores de ídolos hoje são venerados como um simulacro, que simulam a santidade que não têm.
"Que comem carne de porco", eis a imundície da gula; "e há nos seus vasos um direito provano", isto é, nos seus corações, a impureza dos pensamentos. Os que fazem assim, contradizem o sinal da Paixão do Senhor.

14. Segue-se: "E uma espada transpassará a tua alma" (Lc 2, 35). A dor, que Santa Maria suportou na Paixão do seu Filho, foi como uma espada, que transpassou a sua alma. Isto diz Isaías: "Deu à luz antes dos trabalhos de parto" (Is 66, 7). Note-se que duplo foi o parto de Santa Maria: um segundo a carne e outro segundo o espírito. O parto da carne foi virginal e todo cheio de alegria, porque a Virgem deu à luz sem dor, com a alegria dos anjos. Por isso diz, com Sara, no Gênesis: "O Senhor fez-me um riso; todos os que ouvirem rirão comigo" (Gen 21 ,6). Devemos rir e alegrar-nos com Santa Maria no Nascimento do seu Filho; devemos também compungirmos com ela na Paixão dele, na qual a sua alma foi transpassada por uma espada, e então foi o segundo parto, doloroso e cheio de toda amargura. Isso não é de admirar, porque o Filho de Deus, que concebera e dera à luz sendo Virgem, com a cooperação do Espírito Santo, via ser pregado no lenho com cravos, e suspenso entre ladrões. Como não esperar que uma espada lhe transpassasse a alma? "Chegai e vede se há dor como a sua dor" (Lam 1, 12). Antes, portanto, de parir na Paixão, deu à luz no Natal.

15. Do ponto de vista moral. Diz Jeremias, em nome de Jesus Cristo, ao Pai: "Lembrar da minha pobreza e cruzamento é para mim absinto e fel" (Lam 3, 19). A Paixão de Cristo é chamada cruzamento, pois cruzou a dor e a paixão de todos os mártires. Por isso Lucas diz que "Moisés e Elias narrara, a sua passagem", isto é, a sua Paixão, que passou por toda paixão, "que se daria em Jerusalém" (Lc 9, 31). Quando o homem justo atenta para isso, logo acrescenta o seguinte: "Lembrarei com a memória, e a minha alma se cala" (Lam 3, 20).
Ó Filho de Deus, "lembrarei com a memória" - a redundância de palavras exprime o grande afeto do amante - a tua "pobreza", que foi tanta, que na morte não teria um sudário com o qual fosse envolvido, ou um túmulo no qual fosse sepultado, se não lhe fosse dado como a um pobre mendigo, como obra de misericórdia e esmola; "e o cruzamento", isto é, a Paixão, com a qual cruzastes toda dor humana. Por isso se diz, em João: "Saiu Jesus com os seus discípulos para além da torrente de Cedron" (Jo 18, 1), que quer dizer "luto do triste". Porque toda tristeza e luto foi percorrido na Paixão. Todos os mártires, antes de suportar a paixão, ignoravam quanta dor sofreriam nela, e assim não sentiam tanta dor quanto sentiriam se soubessem. O Senhor, porém, que sabe tudo antes que aconteça, antes de chegar à Paixão, sabia toda a força da sua dor, e, portanto, não é de admirar que se doesse mais do que todos os outros. "Absinto e fel", dos quais se diz no Salmo: "Deram-me a comer fel" (Ps 68, 22) de touro, mais amargo do que qualquer coisa. Quando me lembro disso, cala-se a minha alma, que transpassa a espada da tua Paixão.
Quando isso acontecer, então, como diz o seguinte: "revelar-se-ão os pensamentos de muitos corações" (Lc 2, 35). Isto é o que diz Jó: "O que revela as profundezas das trevas, e revela na luz a sombra da morte" (Job 12, 22). Quando o Senhor transpassa uma alma com a espada da sua Paixão, então as "profundezas", isto é, os vícios, que estão longe do fundo da suficiência, porque nunca dizem: "Basta", mas sempre: "Traze, traze" (cf. Prov 30, 15), "revela das trevas", isto é, da cegueira da alma, na contrição do coração, para que o homem a conheça, e, conhecida, manifeste-a na confissão; da qual se segue: "e revela na luz" da confissão "a sombra da morte", isto é, o pecado mortal.

16. Com essa passagem evangélica, concorda esta parte da epístola de hoje: "Quando virá a plenitude dos tempos" (Gal 4, 4). Se, como diz o Eclesiastes, "todo negócio é tempo" (Eccle 8, 6), e o Eclesiástico: "o sabio calar-se-á até o tempo" (Eccli 20, 7), é próprio de Deus, no negócio da salvação do homem, observar o seu tempo para a emissão do Verbo. Note-se que há quatro estações no ano: inverno, primavera, verão e outono. De Adão até Moisés foi como o inverno: "Reinou", diz o Apóstolo, "a morte de Adão até Moisés" (Rom 5, 14). A primavera foi de Moisés até Cristo. Nela começaram a pulular deveras as flores, prometendo frutos. Quanto, porém, veio o verão, que é a plenitude dos tempos, no qual as árvores enchem-se de frutos, então "enviou Deus o seu Filho, feito da mulher" (Gal 4, 4).
O Levítico concorda com isso: "Dar-vos-ei as chuvas nos seus tempos, e a terra germinará a sua semente, e as árvores encher-se-ão de frutos. A debulha do trigo durará até a vindima, e a vindima até a sementeira; e comereis o vosso pão à saciedade" (Lev 26, 3-5). O Senhor deu a chuva, quando pôs o orvalho no ar, e a chuva desceu como um véu (cf. Judic 6, 40), isto é, quando, pelo anúncio do Anjo, a Virgem concebeu o Filho de Deus. A terra germinou a semente, quando a mesma Vrigem deu ao mundo o Salvador, em cuja pregação e operação de milagres, as árvores, isto é, os apóstolos, encheram-se dos frutos das virtudes. E a debulha, isto é, a Paixão do Senhor, que foi debulhado por causa das nossas manchas (cf. Is 53, 5), apreendeu a vindima, isto é, a infusão do Espírito Santo, do qual foram inebriados os apóstolos: Os que o Espírito enchera eram considerados embriagados de vinho doce (cf. Act 2, 13-14). E essa vindima durou até a sementeira, isto é, a sua pregação, porque começaram imediatamente a pregar e dizer: "Fazei penitência, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo" (Act 2, 38).
O outono será na celestial bem-aventurança, na qual comerão o pão do santo à saciedade, "e sentar-se-ão", como diz Miqueias, "abaixo da sua vinha e abaixo do seu figo, e não haverá quem os desterre" (Mich 4, 4).
Segue-se: "Feito sob a lei" (Gal 4, 4), isto é, submetido às observâncias da lei: "Não vim abrogar a lei, mas levá-la à plenitude" (Mt 5, 17), "para redimir os que estavam sob a lei" (Gal 4, 5). Semelhantemente, na epístola aos Hebreus: "Para que, pela morte, destruísse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo; e libertasse aqueles que, submetidos a vida toda ao temor da morte, eram ligados à servidão" (Hebr 2, 14-15). Eis aí claramente como ele foi posto em ruína para os demônios e ressurreição de muitos. Por isso segue-se: "Para que fôssemos recebidos na adoção dos filhos" (Gal 4, 5). Quanta graça! Adotou os servos como filhos! "Se filhos, também herdeiros: herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo" (Rom 8, 17).

Traduzido por nós de http://www.santantonio.org/portale/sermones/indice.asp?ln=LT&s=2&c=10&p=0

29 de dezembro de 2010

Retratos de Nossa Senhora - Parte 2

NOSSA SENHORA COLEGIAL




O Evangelho nada nos diz, porém existe uma tradição antiga e venerada de que a Santíssima Virgem se educou no templo de Jerusalém, como muitas outras jovens de Israel.
A Igreja celebra a festa da Apresentação da Santíssima Virgem no templo.
A vida daquelas jovens podia comparar-se com a das meninas que se educam num colégio; podemos pois chamar à menina Maria, colegial.
Faremos o retrato com os dados que nos dá a tradição.
As ocupações das jovens que viviam no templo, reduziam-se à oração e ao trabalho.
Quando o sol começava a dourar os longínquos montes da Arábia, as jovens assistiam ao sacrifício matutino.
Cobertas com o véu, inclinavam a cabeça e oravam pedindo a vinda do Messias Redentor.
Depois dedicavam-se a trabalhar: cosiam os véus do altar, limpavam os vasos das oferendas e esfregavam o chão de mosaicos.
Aquelas jovens faziam trabalhos primorosos.
Umas volteavam com os seus dedos ágeis o fuso de cedro; outras recamavam de ouro, de púrpura e de jacintos os véus do templo; outras inclinadas sobre um tear ou um bastidor, confeccionavam delicados trabalhos de tapeçaria.
As ocupações da mulher forte, que descreve a Sagrada Escritura, as que, segundo Homero, realizavam as antigas princesas. Ainda hoje chamam os orientais fio da Virgem a uns finíssimos trabalhos de renda, subtis como a névoazinha que sobe do fundo dos vales nas manhãs de outono.
Em memória das ocupações da Virgem, as jovens da primitiva Igreja depositavam no altar de Maria uma roca com seus novelos de lã branca adornada com formosos laços de púrpura.
A Virgem estudava também um pouco: ouvia as explicações da Escritura e aprendia de memória, hinos e cânticos sagrados.
A Santíssima Virgem, como todas as suas companheiras, vivia no templo afastada do mundo, cultivando no retiro a flor delicadíssima da sua pureza.
Vivia longe das diversões mundanas, longe do trato com os homens, cultivava também as virtudes que são defesa, floração e complemento da pureza: o pudor e a modéstia.
Ao ouvir isto, pensarás: aquelas jovens parece que se educavam para religiosas. Não era assim. Aquelas jovens educavam-se para esposas e para mães.
Aquelas jovens estavam destinadas a formar os lares modelos de Israel. Quanto têm que aprender delas as jovens modernas e as mães modernas também!
A jovem de hoje forma-se ou deforma-se na rua, no bar, no cinema, na praia; e é a sua própria mãe quem a leva ou manda a esses lugares de deformação.
A casa e o colégio, são os lugares onde se deve educar a menina e a jovem.
A educação familiar deve ser a base da educação do colégio; e uma e outra educação têm de completar-se.
* * *
A educação que a jovem recebe nos colégios e centros docentes deve ir encaminhada para o lar principalmente. Alguma privilegiada sentirá o chamamento de Deus a um estado mais perfeito: a virgindade; porém a maioria tem como ideal o matrimônio.
Por isso no colégio devem adquirir as virtudes sobrenaturais e domésticas de que necessita a mulher casada para desempenhar bem a sua missão.
Deve adquirir uma Piedade sólida. Não uma piedade sentimental que dura enquanto se está na capela. Não uma piedade de beata: rezas intermináveis que não têm influência na vida prática.
Deve ser uma piedade fundada no santo temor de Deus, no conhecimento do domínio que Deus tem sobre os homens e da obrigação que os homens têm de servir a Deus; fundada no conhecimento e no amor a Jesus Cristo; piedade que leve a evitar todo o pecado mortal e ainda venial, que infunda espírito de abnegação e de sacrifício, que leve à prática de todas as virtudes. Assim era a piedade da Santíssima Virgem.
Maria no retiro do templo cultivava a açucena da pureza.
Que necessária é esta virtude para uma futura mãe!
O mundo está saturado de sensualidade e a mãe tem que afastar de sua casa esse ambiente envenenado. Mais ainda, a mãe no lar tem de ser a açucena de pureza que embalsame com o seu perfume todo o ambiente doméstico: puras as suas palavras, puros os seus olhares, puros os seus gestos, tudo nela pureza.
A jovem que cresce num ambiente de sensualidade criará no seu lar o mesmo ambiente.
A jovem que leva ao matrimônio um coração corrompido, longe de ser no lar açucena de pureza, será foco de corrupção que envenene a própria casa.
Quer Deus te chame a um estado de perfeição evangélica quer Deus te destine ao matrimônio, deves cultivar com todo o cuidado, desde os teus anos de colegial, a virtude da pureza. .
E como defesa da pureza, deves cultivar o pudor.
O pudor é um instinto do homem .que o faz por em guarda, mal assome algum perigo contra a pureza. Quando a tentação quer entrar pelos olhos, o pudor fecha-os; quando quer entrar pelos ouvidos, o pudor tinge o rosto de carmim, para dizer ao desbocado: cala-te que me ofendes.
O pudor natural aperfeiçoa-se e atrofia-se.
Vai-se atrofiando na jovem, conforme se vai habituando à nudez: exibindo-se ela mesma ,e contemplando os mais. O mundo é um cemitério do pudor. E quando o pudor for enterrado, morre também a pureza.
Irmã do pudor é a modéstia.
Uma virtude que põe moderação nas atitudes exteriores do homem, sobretudo no vestir. A modéstia é a flor que brota no exterior da raiz oculta da pureza.
A modéstia vai desaparecendo do mundo também.
O ambiente em que vive a mulher é tal que necessita heroísmo para não se deixar arrastar pela corrente da moda, e a jovem deve sair do colégio disposta a lutar heroicamente para guardar a modéstia.
No ano de 1930 a Sagrada Congregação do Concílio, por mandado de Sua Santidade Pio XI, deu para todo o mundo normas de modéstia que deviam guardar-se. Dirige-se aos pais de família, e recorda-lhes a gravíssima obrigação de procurar para seus filhos a educação religiosa e moral e de imprimir nas almas de suas filhas o amor à modéstia e à castidade com a palavra e com o exemplo que não lhes permitam vestir indecorosamente, nem consistam tomar parte em exercícios públicos de ginástica; e, se se vêem obrigados a consentir, procurem que os seus vestidos sejam honestos, e com vestidos desonestos não lhes permitam apresentar-se.
Exorta os pais a que, dentro do lar, imitem a Sagrada Família, para que nele tenham um estímulo contínuo para guardar a modéstia e a honestidade. A Sagrada Congregação dirige-se depois às mestras e diretoras de colégios para que secundem o trabalho dos pais e elas também que introduzam tão fundo na alma das meninas o amor à modéstia, que se movam com eficácia a vestir honestamente; e manda às diretoras de colégios que não admitam no colégio nem as meninas nem as mães de meninas que não vistam honestamente.
Estas plantas delicadas têm de cultivar-se cuidadosamente desde a infância.
* * *
Com estas virtudes sobrenaturais, são necessárias as virtudes domésticas para governar uma casa.
A Santíssima Virgem trabalha no templo e prepara-se para trabalhar na casinha de Nazaré.
Trabalha nos ofícios manuais; e a trabalhar não lhe caía da fronte a coroa de Rainha dos Céus.
Trabalhava com as suas mãos delicadíssimas, aquelas mãos de rainha calejavam-se e não se envergonhava disso.
Estudava um pouco também, estudava a Sagrada Escritura e nela a teologia e a moral, a literatura e a história do seu povo.
Adquiriu aquele nível de cultura que possuíam as jovens das boas famílias de Israel.
Porém as suas ocupações no templo iam encaminhadas principalmente a administrar mais tarde o lar que Deus lhe confiasse.
Grande lição para os nossos tempos. Porque existe hoje em dia uma grande desorientação neste sentido.
A educação da mulher equipara-se quase completamente com a educação do homem.
É verdade que substancialmente tanto vale o homem como a mulher; os dois possuem a mesma natureza humana, os dois foram elevados à mesma ordem sobrenatural da graça, os dois têm o mesmo destino eterno, os dois têm de cumprir o mesmo decálogo. Apesar, porém, desta igualdade fundamental existem entre o homem e a mulher diferenças bem marcadas de ordem fisiológica, intelectual e moral, diferenças que provêm da missão diferente que têm que desempenhar na terra.
Difícil será averiguar qual dos dois tem uma inteligência mais privilegiada; porém é indiscutível que essas inteligências levam direção diferente.
Na ordem prática e moral, o caráter do homem difere muito do da mulher, sem que se possa precisar tão pouco qual deles é melhor; pois um e outro. possuem as suas virtudes e os seus defeitos peculiares. Ora bem, se a mulher tem que desempenhar um papel diferente do do homem, se a sua inteligência leva uma direção diferente da do homem, se o seu caráter apresenta modalidades diversas da do homem, é um absurdo dar ao homem e a mulher a mesma preparação para a vida, é um absurdo levar pelo mesmo caminho a sua inteligência e é um absurdo formar no mesmo molde o seu caráter.
A mulher, antes de mais nada, está destinada a ser esposa, a ser mãe e dona de casa. Logo, para isso deve dirigir-se principalmente a sua educação.
É verdade que há ocasiões em que tem de suprir a falta do varão, por ficar viúva ou solteira e a necessidade tirânica, a obrigará a ocupar-se em ofícios impróprios da mulher, para ganhar o sustento; porem isso deve ser uma exceção da lei geral. É verdade também que a sociedade atual pede à mulher um grau de cultura mais elevado que em épocas anteriores.
Que adquira o maior nível cultural possível ; porém que não esqueça que a sua missão principal está dentro do lar.
É também tendência desacertada que a mulher se equipare em tudo ao homem: nas diversões, nos desportos, até nos vícios de fumar e beber: em algumas nações até no vestir; em todo o seu comportamento e até na vida social.
Resultado de tudo isto? Que a mulher vai perdendo ou perdeu já as notas características da sua feminilidade: o pudor, a modéstia, a delicadeza nos modos. Que a mulher francamente cristã está a desaparecer. Resultado de tudo isto? O que se ouve: raparigas para divertimento há todas as que se queira; poucas, muito poucas, formadas para esposas e para mães. Não sucederia isto se as raparigas recebessem a educação devida.

Sacerdote Eternamente - Parte 16

SACERDOTE ETERNAMENTE
Dom Emmanuel Marie André

LIVRO SEGUNDO
COMO O MINISTÉRIO PODE SER DESNATURADO

CAPÍTULO VII
As Conseqüências do Ministério Assim Desnaturado

Quando o ministério é assim desnaturado, o padre que não consegue converter as almas é levado a queixar-se do ministério antes que de si próprio. Não lhe acode dizer: não sou um homem de oração; não trato a palavra de Deus como sendo ela de Deus; não cuido que os sacramentos que são santos sejam santamente recebidos. Mas, ao em vez, pronta mente dirá a si mesmo que os meios à nossa disposição são ineficazes, e que por conseguinte nada podemos e nada há que fazer.

Então, o padre poderá cair numa espécie de torpor espiritual que não lhe permitirá mais perceber para que seu ministério se torne útil, não só ao próximo como a si mesmo.

Se o mal se agrava, poderão surgir dúvidas no espírito do padre sobre a própria razão de ser do ministério; e o fato de, em suas mãos, o ministério se ter verificado inoperante, pode ser por ele atribuído a inoperância intrínseca ao próprio ministério instituído por Nosso Senhor.

Com mais um passo, o padre a princípio desencorajado, em seguida hesitante na fé, cairá na desesperança; poderá perder a fé e deixar-se cair em faltas que não têm mais nome, já que cometidas por um padre. Non peccata, sed monstra (mais que pecados, são monstruosidades) diz Tertuliano.

Queremos dizer que nessa gradação há uma seqüência lógica, não uma inevitável fatalidade, e que uma queda é possível. Queira Deus, porém, que o padre seja dela preservado.

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ANDRÉ, Dom Emmanuel Marie. Tratado do Ministério Eclesiástico.

28 de dezembro de 2010

Domingo na Oitava do Natal: Sermão de Santo Antônio de Pádua (parte 3/5)

II. SOBRE A PROFECIA DE SIMEÃO

8. "Disse Simeão a Maria sua mãe: Eis que ele é posto como ruína e ressurreição de muitos em Israel" (Lc 2, 34). Diz Santa Maria em seu cântico: "Depôs do trono os poderosos, e exaltou os humildes" (Lc 1, 52). "Depôs", isto é, pôs abaixo. É isto o que o Senhor diz no profeta Abdias: "A soberba do teu coração transviou-te, tu que habitas nas fendas do rochedo, exaltando o teu trono. Dizes no teu coração: Quem me faria cair por terra? Mesmo que fosses elevado como a águia, e em meio às estrelas pusesses o teu ninho, ainda assim te deporia", isto é, poria abaixo, "diz o Senhor" (Abd 1, 3-4). Leiam-se os sermões sobre o evangelho: "Saiu o semeador a semear a sua semente" (Dom. in Sexagesima) e: "Um cego sentava-se à beira da estrada" (Dom. in Quinquagesima I).
"Depôs os poderosos." Isto é dito em Daniel: "Eis que um santo vigilante desceu do céu, e clamou fortemente, dizendo assim: Derrubai a árvore, desgalhai-a e tirai suas folhas, e dispersai os seus frutos" (Dan 4, 10-11). O nome "árvore", em latim, "arbor", vem de "robusteza" ("robur"), e indica o poderoso deste mundo, que, como disse Jó, "estendeu contra Deus a sua mão, e robusteceu-se contra o Onipotente" (Job 15, 25). Eles seguramente morrerão e serão lançados no inferno, e então os seus ramos, isto é, o poder dos parentes, a nobreza da linhagem, que costumava incrementar e alargar, cairão; então as folhas, isto é, os discursos cheios de vento da soberba, serão abaladas; então os frutos das delícias e riquezas, que ajuntou para o seu mal, serão dispersos.
"Depois do trono os poderosos, e exaltou os humildes." Isto diz Jó: "Levanta os tristes na salvação" (Job 5, 11); e ainda: "Quando te creres consumido, levantar-te-ás como um luzeiro. E terás confiança na esperança dada a ti" (Job 11, 17-18). Depôs o soberbo Aman e exaltou o humilde Mardoqueu. Aquele caiu do trono, esse subiu no seu lugar. Bem diz Santa Maria: "Depôs do trono os poderosos, e exaltou os humildes". Por isso, diz-lhe, a respeito do seu filho, São Simeão, no evangelho de hoje: "Eis que ele é posto como ruína" etc. Ele dis isto em João: "Eu vim ao mundo para o juízo, para que os que não veem vejam, e os que veem fiquem cegos" (Jo 9, 39). Sobra a ruína daqueles, Isaías fala: "Jerusalém ruiu, e Judá pereceu, por causa da sua língua" ("Crucifica-o, crucifica-o") "e das suas invenções" ("Posso destruir este templo feito por mãos de homens" etc) "contra o Senhor, para provocar os olhos da sua majestade" (Is 3, 8).

9. Do ponto de vista moral. Diz o Eclesiástico [Provérbios]: Vira o ímpio, e ele não mais será (cf. Prov 12, 7) ímpio. Caiu Saulo perseguidor, e levantou Paulo pregador. Isso é, pois, o que quer dizer: "Eis que ele é posto em ruína" dos pecadores. Dessa ruína fala Zacarias: "Haverá ruína para o cavalo e o mulo, para o camelo e o asno e todos os jumentos" (Zach 14, 15). No cavalo é designada a soberba, pois Jeremias dia: "Todos voltaram para o seu curso, como um cavalo impetuoso" (Jer 8, 6). No mulo, a luxúria, pois diz o Salmo: "Não vos façaos como o cavalo e o mulo" (Ps 31, 9). No camelo, a avareza, por isso: O camelo, isto é, o avarento, não pode passar pelo buraco da agulha, isto é, a pobreza de Jesus Cristo (cf. Mt 19, 24). No asno, o torpor da negligência, que é o esgoto de todos os vícios. Por isso o asno é chamado, em latim, "asinus", semelhante a "alta sinens", isto é, que permite coisas altas. O torpor da negligência não sobe a coisas altas, mas quer ir sempre pelo plano. Por isso diz Abraão os seus filhos, no Gênesis: "Esperai aqui com o asno" (Gen 22, 5). Os filhos são os afetos pueris e carnais, que esperam com o asno, isto é, com o torpor e retardo do asno. No jumento, a voluptuosa deleitação dos cinco sentidos, dos quais fala Isaías: "Sina dos jumentos do sul. Para a terra da tribulação e da angústia, de onde vêm a leoa e o leão, a víbora e a serpente voadora" (Is 30 ,6). A terra é a carne, na qual germinam em nós os espinhos da tribulação e os tríbulos da angústia. Esta é a sina dos jumentos, isto é, dos cinco sentidos, que são os jumentos do sul, isto é, as alegrias mundanas. Na terra de tribulação e angústia que os jumentos pisam e estercam, estão a leoa da luxúria e o leão da soberba, a víbora da ira, a serpente voadora da inveja e vanglória.
Ó Senhor Jesus, caiam em ruína todas essas bestas e jumentos, para que o jumentinho do pecador morra junto e, morrendo, ressuscite espiritualmente. Digamos pois: Eis que ele é posto em ruína.

10. Segue-se: "E ressurreição de muitos". Há concordância acerca disso em Ezequiel: "Pôs-se sobre mim a mão do Senhor, e conduziu-me para um campo, que estava cheio de ossos de mortos. Eram muitíssimos, e veementemente secos. E disse-me: Profetiza, filho do homem, sobre esses ossos, e dize-lhes: Ossos áridos, ouvi a palavra do Senhor. Eis que eu infundirei em vós o espírito, e vivereis, e dar-vos-ei nervos e farei crescer carnes sobre vós, e estenderei pele sobre vós" (Ez 37, 1-2. 4-6). Os ossos secos são os pecadores, que são secos do influxo da graça, e cujo coração seca, porque esqueceram-se de comer o pão (cf. Ps 101, 5), que contém todo sabor e todo deleitamento (cf. Sap 16, 20); Deles diz Jó: Os ossos de Beemot são como canos de ar (cf. Job 40, 13). Pervertidos na malícia, duros como os ossos do diabo, pois sustentam os carnais como os ossos sustentam a carne, são como canos de ar, porque repelem de si as setas aéreas da pregação, e, ao ímpeto da reprovação, emitem o barulho da murmuração. Professam as palavras de Cristo (eis os canos), mas negam os seus feitos (cf. T 1, 16) (eis a dureza do ar).
Mas, porque a misericórdia desse Cristo é maior do que a aridez e dureza dos ossos, disse: "Eis que eu infundirei em vós o espírito, e vivereis" etc. Notemos estas quatro coisas: espírito, nervos, carnes e pele. O espírito designa a inspiração da graça preveniente; os nervos, a concatenação de bons pensamentos; as carnes, a compaixão com o próximo; a pele, a extensão da perseverança final. "Infundirei o espírito em vós, e vivereis." Por isso é dito no Gênesis: "Soprou em sua face um sopro (spiraculum) de vida" (Gen 2, 7) etc. Leia-se o sermão sobre o evangelho: "Jesus foi levado para o deserto" (Dom. I in Quadrag., Sermo alter: De Poenitentia I).

11. "E dar-vos-ei nervos." Há uma miríade de nervos junto às mãos, pés, costelas, e ao redor das espáduas e pescoço; e os ossos, que se articulam uns com os outros, são ligados pelos nervos. Ao redor deles há uma certa umidade, da qual se geram e nutrem os ossos. Quando o Senhor infunde o espírito da graça num pecador, então brota no seu coração a umidade da compunção, da qual se geram e nutrem os nervos da boa afeição e boa vontade, que compõem e ligam todo o corpo às boas obras.
"E farei crescer carnes." Eis o que diz o mesmo Profeta: "Tirarei de vós do coração de pedra, e dar-vos-ei um coração de carne" (Ez 36, 26), que, compungido, doa-se de compaixão pelo próximo, porque o nosso irmão também é carne. (cf. Gen 37, 27). Ó coração de pedra, que não te moves de nenhuma compaixão para com o próximo! Diz ele: "Acaso eu sou guardião dos meus irmãos?" (Gen 4, 9). Saberás que em o guardar há uma grande recompensa (cf. Ps 18, 12). O primeiro livro dos Reis diz que "o coração de Nabal amorteceu dentro do peito, e tornou-se como uma pedra" (1Reg 25, 37). Porque ele não quis compadecer-se de Davi, nem dar-lhe do que era seu, mas prorrompeu em palavras afrontosas, dizendo: "Quem é Davi, e quem é o filho de Isaí? Hoje em dia, há cada vez mais escravos que fogem dos seus senhores. Pegarei, pois, eu os meus pães, a minha água, as carnes dos carneiros, que matei com as minhas navalhas, e darei a homens que não sei de onde são?" (1Reg 25, 10-11). Hoje, os avarentos e usurários, que têm o coração de pedra, dizem coisas semelhantes aos pobres de Jesus Cristo.
"E estenderei pele sobre vós." A extensão da pele é a perseverância final. "Sois vós", diz o Senhor, "os que permaneceram comigo nas minhas tentações" (Lc 22, 28). Mas ai daqueles que perderam essa perseverança. Por isso diz Jó: "A minha pele secou e contraiu-se" (Job 7, 5). A pele seca e contrai-se quando se retira à boa obra o efeito da perseverança final. Por isso diz o Eclesiástico: A denudação do homem é no seu fim (cf. Eccli 11, 29). Então aparecerá a sua feiura.
Está explicado como o Senhor vivifica os ossos secos, aquele que "é posto em ressurreição de muitos".

Traduzido por nós de http://www.santantonio.org/portale/sermones/indice.asp?ln=LT&s=0&c=0&p=0