31 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 156

156) É necessário ter dor de todos os pecados?
Sim. É necessário ter dor de todos os pecados mortais cometidos, sem exceção; e convém tê-la também dos veniais.

30 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 155

155) O que é a dor imperfeita ou atrição?
A dor imperfeita, ou atrição é o pesar dos pecados cometidos, por causa do temor dos castigos eternos e temporais, e também por causa da fealdade do pecado.
São Jerônimo, em meio de suas mais austeras penitências, tremia com o pensamento da morte. Parecia-lhe já ouvir o som da trombeta, que chamará todos os homens diante de Deus, para Lhe prestarem contas de sua vida.
Realmente, sendo Deus justo, deve punir a injúria a Ele feita, tanto nesta vida, como na outra.
Quem dos pecados cometidos se arrepende só pelo receio do castigo ou por haver manchado sua alma, rebaixando-a ao nível dos irracionais e fazendo-a escrava do demônio, tem apenas atrição. O seu pesar nasce do medo e não do amor. Baseia-se em motivos interesseiros e não no amor de filho, que venera ternamente seu pai. É servo que teme a seu amo.
Essa dor imperfeita não nos obtém logo o perdão, mas precisa estar unida à absolvição sacramental, que se consegue pelo sacramento da Confissão.
As lágrimas da dor - diz S. Gregório Nazianzeno -, podem ser comparadas às águas do dilúvio: assim como estas afogaram todos os homens, aquelas submergem todos os pecados.

29 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 154

154) O que é a dor perfeita, ou contrição?
A dor perfeita, ou contrição é o pesar dos pecados cometidos, por que são ofensa a Deus nosso Pai, infinitamente bom e amável, e causa da paixão e morte de nosso Redentor, Jesus Cristo, Filho de Deus.
A dor dos pecados é o pesar profundo que sentimos, ao pensar na ofensa feita a Deus, nos castigos por eles merecidos e na mancha que eles imprimiram em nossa alma. Essa tristeza faz-nos odiar o pecado, com o firme propósito de nunca mais cometê-lo para o futuro.
Há duas espécies de dor: contrição e atrição.
A dor perfeita, ou contrição, é o pesar de haver ultrajado a Deus tão bom, e de ter sido causa da paixão e morte de Jesus. Este pesar, nascido do amor, é tão grato a Deus, que apaga instantâneamente o pecado, mesmo antes da confissão, restituindo-nos a amizade de Deus, o mérito das boas obras já feitas e o poder de ganhar outros para a vida eterna. Temos, no entanto, obrigação de confessar os pecados remitidos dessa maneira, embora tenhamos já obtido o perdão de Deus.
Excitemos em nós a contrição perfeita, olhando muitas vezes para Jesus Crucificado e pensando no seu grande amor por nós.

28 de março de 2010

27 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 152

152) Que é a dor?
A dor ou arrependimento é o desgôsto e a aversão pelos pecados cometidos, que nos leva a fazer o própósito de nunca mais pecar.
Quando Jesus foi traído por Judas no Hôrto das oliveiras, Pedro e os outros Apóstolos fugiram assustados. Pedro voltou depois e foi seguindo de longe a Jesus, penetrando de mansinho no pátio da casa dos Pontífices. Aí ficou ao lado de uma fogueira, pois fazia muito frio.
"E, entretanto, estando Pedro em baixo no pátio, chegou uma das criadas do Sumo Sacerdote; e vendo Pedro que se aquecia, encarando nele disse: Tu também estavas com Jesus Nazareno. Mas ele negou, dizendo: Nem o conheço, nem sei o que dizes. E saiu fora para a entrada do pátio, e o galo cantou. E, tendo-o visto outra vez a criada, começou a dizer aos que estavam presentes: Este é daqueles. Mas ele o negou de novo.
E, pouco depois, os que ali estavam diziam a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também galileu. E ele começou a imprecar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais. E, imediatamente cantou o galo segunda vez. E Pedro recordou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, tu me negarás três vezes. E começou a chorar" (Marcos, 14, 66-72).
A dor é um vivo aborrecimento, é um pranto do coração por haver ofendido a Jesus. É necessária a todas as confissões, pois sem arrependimento não pode haver remissão dos pecados.
Narra uma graciosa lenda oriental, que um dia desejou Deus conhecer o que havia de mais lindo na Terra e mandou um anjo procurá-la.O anjo voou pelo universo inteiro, esmiuçou todas as facetas da vida e, finalmente, voltou para junto de Deus, dizendo-lhe: "Nada há mais belo na Terra do que as lágrimas do arrependimento".

26 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 151

151) Como se faz o exame de consciência?
Faz-se o exame de consciência trazendo à memória os pecados cometidos, a partir da última confissão bem feita.
"Qual é a mulher, que tendo dez dracmas, e perdendo uma, não acende a candeia e não varre a casa e não procura diligentemente até que a encontre? E que, depois de a achar, não convoque as amigas e vizinhas, dizendo: Congratulai-vos comigo, porque encontrei a dracma que tinha perdido"? (Lucas, 15, 8-10).
A dracma era uma moeda corrente na Judéia. A solicitude da dona de casa, apresentada na parábola do Evangelho a procurar a moeda em todos os ângulos dos quartos e das salas, é um excelente convite à nossa alma. Devemos examinar atentamente nossa consciência antes de nos aproximarmos da santa confissão.
Não é possível detestar e confessar um mal sem conhecê-lo. Ao passo que, o seu conhecimento, leva-nos à detestação e ao desejo de nos libertarmos dele quanto antes.
O exame de consciência é, por conseguinte, a indagação atenta e cuidadosa dos pecados cometidos por pensamentos, palavras, obras e omissões, desde a última confissão bem feita. Quando fores confessar, olha para Jesus Crucificado e pede-lhe que te ajude a conhecer os teus pecados, assim como os conhecerás no dia do Juizo.
Pensa depois nos Mandamentos de Deus e da Igreja, nos teus deveres de estado e examina, sem precipitação e sem ansiedade, como e quantas vezes os transgrediste e descuraste. Assim preparado, dirigi-te piedosamente ao confessionário.
Na parábola "o fariseu e o publicano", temos uma perfeita idéia da contrição.
É mister na oração a sincera humildade,
por que tenha valor, para que a Deus agrade.
O fariseu perdeu-se em soberba e vanglórias
os homens desprezando, e amando a ostentação.
O publicano, ao longe, humilha-se, contrito;
num excesso de dor essa alma penitente
a culpa reconhece e num sincero grito
pede misericórdia ao Deus Onipotente,
e como pecador, reconhece o pecado.
Nada falta, é completa aquela contrição;
não ousava chegar-se a Deus, e é perdoado,
pois que Deus vem a ele em bênçãos de perdão.
(Maroquinha Jacobina Rabello: "Parábolas").

25 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 150

150) Quantas e quais são as coisas necessárias para fazer uma boa confissão?
Para fazer uma boa confissão cinco são as coisas necessárias: 1ª exame de consciência; 2ª dor dos pecados; 3ª propósito de nunca mais pecar; 4ª confissão; 5ª satisfação, ou penitência.
Esta é a mais bela parábola da misericórdia: "Um homem tinha dois filhos; ora, o menor disse ao pai: "Pai, dá-me a parte dos bens que me toca". O pai dividiu então o patrimônio entre os dois filhos, e o mais moço, seguindo para um país distante, aí esbanjou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.
Nada mais possuindo, e tendo havido naquele país uma grande carestia, começou ele a sentir as conseqüências da miséria. Foi ter com um fazendeiro que o mandou guardar porcos. O pobre jovem, a morrer de fome, pensou em voltar à casa paterna. Levantou-se e foi à procura de seu pai. Este, mal o avistou ao longo da estrada, correu a seu encontro, abraçando-o e beijando-o com saudade. Disse-lhe o filho: "Pai, pequei contra o céu e contra ti, não sou mais digno de ser chamado teu filho". Mas o pai deu ordens aos criados: "Ide depressa buscar o vestido mais precioso e vesti-lho; metei-lhe um anel no dedo e os sapatos nos pés; trazei também um vitelo gordo e matai-o, para fazermos um grande banquete, porque este meu filho estava morto e ressuscitou, estava perdido e foi encontrado"" (Lucas 15).
Eis que voltando a si, escutando a consciência,
arrependido já, murmura ele num ai:
"alimentam-se à farta os servos de meu pai
enquanto que eu, seu filho, aqui estou na indigência.
Levantar-me-ei, a ele eu direi num gemido:
eu pequei contra o Céu, feri teu coração..."
Foi. E ao encontro, o pai cheio de compaixão,
nos braços cai-lhe e beija o filho arrependido.
(Maroquinha Jacobina Rabello: "Parábolas").

24 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 149

149) Que é a penitência?
A penitência ou Confissão é o sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo.
No tempo em que Jesus viveu, havia em Jerusalém, ao lado da porta das ovelhas, uma piscina miraculosa. O anjo do Senhor a ela descia de vez em quando e agitava-lhe as águas. O primeiro doente que nela mergulhava após o movimento das águas era curado.
Uma infinidade de pobres enfermos detinha-se quase constantemente sob os pórticos desse recinto. Entre esses, ocorreu a Jesus encontrar um, que há trinta e oito anos espereva pela sua vez. Quando as águas se movimentavam, algum enfermo mais ágil imergia-se na piscina e saía dela curado. Movido de piedade, Jesus disse-lhe: "Levanta-te, toma o teu leito e anda. E no mesmo instante, ficou são aquele homem, e tomou o seu leito e começou a andar" (João, 5,8-9). A piscina milagrosa era símbolo da santa Confissão, que, como água prodigiosa, cura nossa alma da enfermidade do pecado.
Somos tão fracos na prática do bem e vivemos num mundo cheio de insídias e perigos.
Por isso é-nos muito fácil perder a graça de Deus. Eis o motivo pelo qual Jesus, que como Deus tem o poder de perdoar os pecados, instituiu o sacramento do perdão, a fim de nos dispensar os segredos de sua misericórdia. Transmitiu aos Apóstolos, de modo verdadeiramente solene, essa mesma autoridade que Ele recebera do Pai Eterno, de modo que pudessem perdoar os pecados cometidos depois do Batismo.
Foram assim os Apóstolos e os sacerdotes constituídos ministros do divino perdão.
"O Senhor só espera ouvir a tua voz, não para punir-te, mas para perdoar-te" (Santo Ambrósio).

23 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 148

148) Somos obrigados a ouvir Missa?
Sim. Somos obrigados a ouvir Misa inteira nos domingos e dias santos de guarda.
A Santa Missa é o mais augusto ato, o mais santo, o mais belo da Sagrada Liturgia, e, por conseguinte, o centro de todo o culto católico. Jesus continua todos os dias e inúmeras vezes por dia, a oferecer-se sobre o altar ao Pai Eterno, como vítima pela humanidade. "Por Ele, com Ele e n'Ele nós adoramos, agradecemos, reparamos e impetramos todas as graças de que necessitamos para nós e para o nosso próximo".
Na Santa Missa Jesus roga por nós e sua oração é infalível. É por isso que a Santa Igreja obriga seus filhos a assistirem à Missa inteira aos domingos e festas de guarda. E, haverá porventura, um ato de religião mais sublime, com o qual possamos "santificar as festas"?
Todos os dias, mas principalmente aos domingos, badalam festivamente os sinos, convidando os fiéis à igreja, em cujo recinto se vão celebrar os mais augustos mistérios da Religião Católica, ao passo que a alma se põe em contato com as coisas espirituais, eternas e divinas para as quais foi criada. É na igreja que a alma se sente um membro vivo da Igreja universal, aí, mais do que em qualquer outro lugar, pois, toma parte no Sagrado Banquete, recebendo Cristo em sua alma e rememorando sua Sagrada Paixão. A voz do sino é voz de vida, de alegria e de devoto recolhimento. Muitos a escutam. Quantos, porém, a seguem?
Que mistério tem a voz do campanário
Nas horas de languor do término do dia,
Quando de lá da ermida, em sítio solitário,
Atira para o val os sons da "Ave Maria!"
Aquela voz suave,
Monótona e grave,
Acorda inspiração;
Blão... blão... blão... blão...
(D. Augusto, Cardeal-Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil)

22 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 147 - 2ª Parte

147) Que é a Santa Missa?
IIª parte: A Santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo que, debaixo das espécies do pão e do vinho, é a Deus oferecido pelo sacerdote no altar, em memória e renovação do sacrifício da cruz.
Jesus é o Sacerdote e a Vítima da humanidade. Ele realizou o ato sacerdotal por excelência no calvário, onde se ofereceu ao Pai Eterno como Vítima pela redenção de todos. Mas para que a "oblação pura" conforme a profecia de Malaquias, fôsse universal e perenemente renovada em todas as partes do mundo, o Redentor perpetuou o sacrifício cruento da cruz no sacrifício incruento da Santa Missa.
Jesus celebrou a primeira Santa Missa na última Ceia ao dizer: "Isto é o meu Corpo que é dado por vós.Este é o meu Sangue que será derramado em remissão dos pecados".
No mesmo momento em que consagrava pela primeira vez, oferecia ao Pai Eterno, debaixo das espécies de pão e de vinho, o sacrifício do seu Corpo e do seu Sangue preciosíssimos, antecipando, sem derramamento de sangue, a imolação do Calvário.
Como é expressiva a pintura de Catani, pormenor do quadro: "O Sagrado Coração", que se venera na igreja do mesmo nome, em Roma. O Sacerdote - Mediador entre o povo e Deus - em adoração, levanta ao céu o Corpo e o Sangue de Cristo, a "Oblação pura" prenunciada pelo profeta. Ao lado do Sacerdote está um anjo. Também, este, com a Divina Vítima, oferece ao Pai Eterno os sacrifícios e as súplicas dos fiéis, significados pelas flores e pelas chamas. É a oferta unânime e espontânea, assumindo aquele caráter social, tão bem expresso na Sagrada Liturgia: "Oferecemos-Vos , ó Senhor, a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão santo da vida eterna e o Cálice da perpétua salvação, suplicando à vossa clemência que subam, em odor suavíssimo, à presença de vossa divina majestade pela nossa salvação e pela de todo o mundo".

21 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 147 - 1ª Parte

147) Que é a Santa Missa?
1ª parte: A Santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo.
Todos os povos, desde a mais remota antiguidade, ofereciam a Deus os seus sacrifícios. Esta prática foi colocada no coração do homem pelo próprio Deus. Quem não se lembra, já na aurora da humanidade, das ofertas de Abel, dos sacrifícios de Noé e de Abraão, este, pronto a imolar até seu único filho? Dentre todos, foi singular e importantissimo o sacrifício de Melquisedec. Personagem misteriosa: rei e sacerdote ao mesmo tempo, rei de paz e de justiça, "sacerdote de Deus Altíssimo, sem pai, sem mãe, sem genealogia". Perfeita figura de Cristo, que é chamado "Sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedec".
Quando voltava Abraão vitorioso da batalha contra os reis, trazendo livre o sobrinho Lot, Melquisedec foi-lhe ao encontro, bendizendo-o e, em agradecimento, ofereceu a Deus ali mesmo no campo de combate uma oblação de pão e de vinho. Era a mais evidente figura do sacrifício eucaristico, no qual Cristo oferece ao Eterno Pai o seu Corpo e o seu Sangue preciosíssimo, debaixo das espécies de pão e de vinho.
É o sacrifício uma oferta feita a Deus de uma coisa sensível, que se destrói ou se imola, para se professar que Ele é o Criador e o Senhor supremo de todas as coisas.
Os incontáveis sacrifícios da Antiga Lei, cruentos e incruentos, não eram senão a figura e a promessa do sacrifício eucarístico. O profeta Malaquias anunciara claramente: "O meu afeto não está em vós, diz o Senhor dos exércitos, nem eu aceitarei oferenda alguma das vossas mãos. Porque desde o nascer do sol até o poente, o meu nome é grande entre as nações e em todo o lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura" (Malaquias, 1, 10-11).
Qual é essa oblação pura que universal e incessantemente é oferecida ao Senhor dos exércitos? É, sem dúvida, o Sacrifício Eucarístico, o Sacrifício da Missa.

20 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 146 - 2ª Parte

146) É bom e útil comungar freqüentemente?
IIª parte: Sim, é ótimo e utilíssimo comungar freqüentemente, e mesmo todos os dias, contanto que isto sempre se faça com as devidas disposições.
Deus cumulou de bençãos a família de Tobias. Enviou o arcanjo S. Rafael para acompanhar o jovem desde a cidade de Nínive até Ragés, na Média.
"Como havemos de retribuir as gentilezas deste santo homem?" perguntavam-se pai e filho, com a alma transbordante de gratidão. E ter-lhe-iam dado, se fôsse possível, a metade de seus bens. Mas o arcanjo retrucou-lhes: "Bendizei o Deus do Céu e cantai os seus louvores diante de todos, porque Ele usou de misericórdia para conosco". E revelando-lhes seu nome e sua missão, voltou para Aquele que o enviara. Os dois Tobias, tomados de espanto, caíram por terra e ficaram prostrados durante três horas agradecendo e bendizendo a Deus.
Na comunhão não é um mensageiro celeste que vem a nós, mas o próprio Deus, com sua infinita majestade, o Criador do Céu e da terra, o nosso Redentor. É necessário recebê-lo com as devidas disposições, para que sua visita nos seja frutuosa. As disposições necessárias são a graça de Deus e a reta intenção, evitando-se tanto a vanglória como a leviandade na preparação e na ação de graças. A alma que vai receber ou já recebeu o Filho de Deus em seu coração, deve sentir necessidade de se recolher e de cantar-Lhe os mais ternos hinos de gratidão e de amor.
"Nós Vos louvamos, Vos bendizemos, Vos glorificamos... Senhor Deus, Rei dos Céus... Cordeiro de Deus, Filho do Pai" (Liturgia).

19 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 146 - 1ª Parte

146) É bom e útil comungar freqüentemente?
1ª parte: É ótimo e utilíssimo comungar freqüentemente, até todos os dias.
Perseguido pela ímpia rainha Jezabel, fugiu o profeta Elias para o deserto, caminhando um dia inteiro sem descansar. Exausto e sem esperança, encostou-se aos pés de um junípero, pediu a Deus que lhe cortasse a vida e depois adormeceu. Sentiu, de repente, que alguém o tocava. Era o anjo do Senhor que, apresentando-lhe um pão cozido sob a cinza e um vaso com água, dizia-lhe: "Levanta-te e come". O profeta comeu, bebeu, e depois adormeceu novamente. Mas o anjo voltou a acordá-lo e disse-lhe: "Levanta-te e come, pois ainda te resta um longo caminho para percorrer".
Fortificado por esse alimento, o profeta caminhou duramente quarenta dias e quarenta noites, até o monte de Deus chamado Horeb.
O pão miraculoso que restaurou em Elias a coragem e a força, é uma figura da Santa Eucaristia. Ela é o verdadeiro pão dos anjos, que nos dá força para atravessar contentes o fatigante deserto da vida, até sermos admitidos à visão beatífica de Deus no Céu. Nosso Senhor Jesus intituiu a Eucaristia debaixo das espécies de pão e de vinho, para nos dar a entender que, assim como nos nutrimos todos os dias com pão, assim também devemos sempre nos nutrir com a Eucaristia. "É desejo ardente de Deus e da Igreja - escreve o Santo Padre Pio X - que todos os cristãos se aproximem cotidianamente da sagrada mesa". Este desejo tem em mira, principalmente, que os fiéis, unindo-se a Deus por meio deste Sacramento, adquiram forças para dominar suas más inclinações, cancelar os pecados leves e premunir-se contra os pecados graves. A comunhão cotidiana ou, pelo menos, freqüente, é o grande segredo da santidade. "O que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (João, 6,55).

18 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 145

145) Em que idade começa a obrigação da comunhão pascal?
A obrigação da comunhão pascal começa, de ordinário, cerca dos sete anos.
S. Luis de Gonzaga distinguiu-se, desde tenra idade, por grande piedade e zelo ardente na prática da virtude. Diante do altar da Virgem da Anunciação, na cidade de Florença (Itália), emitiu o voto de castidade. Desejava ardentemente viver na Terra como vivem os anjos no Céu. Para isso sentia necessidade de se nutrir com o pão Eucarístico. Naquela época, só aos quatorze anos era permitido aproximar-se da mesa eucarística. S. Luís, porém, não pode esperar tanto assim. Aprouve ao Senhor que aquela alma privilegiada se encontrasse com o santo cardeal de Milão, São Carlos Borromeu, que lhe permitiu fizesse a Primeira Comunhão aos doze anos. Foi a heresia de Jansênio que implantou esse respeito mal compreendido, não deixando as crianças aproximar-se da comunhão. Mas o Santo Padre Pio X, em 1910, pôs termo a tantos males, estabelecendo que, assim que a criança começar a raciocinar, poderá confessar-se e comungar, isto é, mais ou menos aos 7 anos. E, com efeito, nessa ocasião, a criança já é capaz de aprender as principais verdades da fé e distinquir o pão eucarístico do pão comum. Deste modo, receberá a comunhão com verdadeira piedade.
"Teremos assim crianças santas", exclamou Pio X, depois do Decreto. E a profecia se vai realizando plenamente. Quantas crianças, verdadeiros serafins da Eucarístia, vêm perfumando os altares do Senhor!
"Deixai vir a mim os meninos e não os embaraceis, porque destes tais é o reino de Deus" (Marcos, 10,14).

17 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 144

144) Há obrigação de receber a santa comunhão?
Sim. Há obrigação de receber a comunhão todos os anos pela Páscoa, e em perigo de morte, como viático.
S. Jerônimo, o doutor das Sagradas Escrituras, depois de uma vida consumida no estudo, na solidão e na mais áspera penitência, sentindo aproximar-se o seu fim, pediu que o conduzessem a uma igreja próxima de seu êrmo, para receber a última comunhão.
Observemos como o pintor Domenichino o retratou: alquebrado pelos anos e pela extrema fraqueza, não pode mais conduzir-se a si mesmo. Porém o olhar com o qual contempla a santa Hóstia, bem demonstra a sua fé e o seu amor. Tentando levantar os braços cansados, parece dizer: Vem, Senhor Jesus. Dentro de poucas horas, libertado deste corpo mortal, contemplar-te-ei, não mais sob os véus eucarísticos, mas no perfeito esplendor de tua glória!
A Eucaristia é o alimento da alma. Embora não determinando quantas vezes dela nos devamos aproximar, Nosso Senhor Jesus Cristo nos impôs esta obrigação, sob pena de sermos excluídos da vida eterna: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós" (João, 6,54).
Interpretando os desejos de Jesus, comungavam os primeiros cristãos todas as vezes que assistiam à santa Missa. Com o correr dos tempos, havendo-se notado um arrefecimento na piedade Cristã, a Igreja estabeleceu que "todo fiel, tendo chegado ao uso da razão, deve ao menos uma vez por ano, pela Páscoa da Ressurreição, receber a Eucaristia". Esta obrigação estende-se também a quem estiver em perigo de morte, seja qual for a sua causa.
A Comunhão é um dom inefável! Jesus Eucarístico é força, luz e vida de quem trabalha e luta; sustentáculo e alegria de quem está para transpor o limiar da eternidade.
Se é importante começar a vida com Jesus, não o é menos encerrá-la com o santo Viático, alimento misterioso, que sustenta o moribundo e lhe abre as portas do paraíso.

16 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 143

143) Qual é o jejum que se requer antes da comunhão?
Antes da comunhão requer-se o jejum natural, isto é, total, que se quebra com qualquer coisa que se tome por modo de comida ou de bebida, com exceção da água natural.
É lindo este quadro de Guercino! A alma cristã contempla extasiada a SSma. Eucaristia - pão de vida eterna, capaz, só ele, de saciar o seu ardente desejo de Deus. Recebendo essa luz de paraíso irradiada pela divina Hóstia, ela esquece todos os sofrimentos, todos os atrativos humanos, recupera suas energias e depois adora Jesus Hóstia, seu Deus todo-poderoso. Como o incenso ao se consumir, envolve o altar de nuvens olorosas, assim a alma dá-se toda a Deus, por seu amor se sacrifica e a Ele se imola em holocausto.
A Comunhão aumenta na alma a graça santificante, purifica-a, une-a a Deus, que se torna para ela um penhor de vida eterna. Mas é preciso que d'Ele se aproxime a alma em estado de graça. Infeliz de quem recebesse a comunhão em pecado mortal! "Porque aquele que o come e bebe indignamente - diz S. Paulo - come e bebe para si a condenação (1ª Coríntios, 11,29).
A Eucaristia é o mais augusto dos Sacramentos. Nos outros recebe-se a graça, na Eucaristia recebe-se o próprio Autor da graça. Pelo respeito devido à Eucaristia, a Igreja estabeleceu o jejum eucarístico, nestes últimos tempos grandemente suavizado pelo Santo Padre.
Em um de seus mais belos hinos eucarísticos, Sto. Tomás diz: "Eis o Pão dos anjos, feito alimento dos viandantes, verdadeiro pão dos filhos (de Deus), que não deve ser jogado aos cães (a quem é indigno)!"

15 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 142

142) Que quer dizer estar em graça de Deus?
Estar em graça de Deus quer dizer ter a consciência limpa de todo pecado mortal.

14 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 141

141) Quantas coisas são necessárias para fazer uma comunhão bem feita?
Para fazer uma comunhão bem feita são necessárias três coisas: 1º estar em graça de Deus, 2ºsaber e pensar o que se vai receber, 3º estar em jejum no mínimo uma hora antes de comungar.
Durante a vida pública de Jesus, comandava a coorte romana de Cafarnaum, um honesto e pio centurião. Tinha ele um servo que estava gravemente doente. Ao saber que o Divino Mestre havia chegado à cidade, foi-lhe ao encontro, rogando-lhe que curasse seu servo, pois amava-o como a um filho. - "Irei curá-lo" -, respondeu-lhe Jesus com sua natural doçura. - "Senhor" - respondeu o centurião, com a sinceridade própria do soldado romano -, "eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e meu servo será curado".
Julga-se pecador e por isso indigno de receber Jesus em sua casa, mas confessa, ao mesmo tempo, que Jesus tudo pode, sentimentos estes, de humildade e de fé profundas, que mereceram a admiração do Filho de Deus.
Jesus vem à nossa alma pala santa Comunhão. Ele instituiu a sagrada Eucaristia não para estar entre nós com sua presença, mas também e especialmente, para ser o alimento simples das nossas almas. Professemos a nossa fé viva, o nosso desejo ardente, a nossa humildade profunda, reconhecendo com o centurião a nossa indignidade e imploremos perdão dos nossos pecados: "Com que fé e amor achego-me a teu santo trono. Tua presença enche-me de temor, meu Juiz e meu Deus! Com que inefável alegria tremo diante de Ti!" (Manzoni)

Meditações - textos de Santo Tomás de Aquino

A PAIXÃO DE CRISTO NOS ABRIU AS PORTAS DO CÉU
IV Domingo da Quaresma


«Temos confiança de entrar no santuário pelo sangue de Cristo» (Jo 12, 24)


Portas fechadas são um obstáculo a nos impedirem a entrada. Ora, os homens estavam impedidos de entrar no reino celeste por causa do pecado; pois, como diz a Escritura (Is 35, 8), haverá um caminho que se chamará o caminho santo e não passará por ele o impuro. Ora, há duas espécies de pecado que impedem a entrada no reino celeste:

1. Um é comum a toda a natureza humana, e esse é o pecado de nossos primeiros pais, o qual fechou ao homem a entrada do reino celeste. Por isso, como lemos na Escritura (Gn 3, 24), depois do pecado do primeiro homem, pôs Deus um querubim com uma espada de fogo e versátil para guardar o caminho da árvore da vida.

2. Outro é o pecado especial de cada pessoa, cometido por ato próprio de cada um.

Ora, pela Paixão de Cristo fomos liberados, não só do pecado comum de toda a natureza humana, tanto quanto à culpa como quanto ao reato da pena, porque Cristo pagou o preço por nós, mas também dos pecados próprios de cada um de nós, que comungamos com a sua Paixão pela fé, pela caridade e pelos sacramentos da fé. E assim, pela Paixão de Cristo se nos abriram as portas do reino celeste. E tal é o que diz o Apóstolo (Heb 9, 2): Estando Cristo já presente, pontífice dos bens vindouros, pelo seu próprio sangue entrou uma só vez no santuário, havendo achado uma redenção eterna. O mesmo significa a Escritura (Nm 35, 25) onde diz que o homicida ali ficará, i. é na cidade a que se tinha refugiado, até à morte do sumo sacerdote, que foi sagrado com o óleo santo; e morto este, poderia voltar aquele para sua casa.


*


Os santos Patriarcas, tendo praticado obras justas, mereceram a entrada no reino do céu pela fé na Paixão de Cristo, segundo aquilo do Apóstolo (Heb 11, 33): Os Santos pela fé conquistaram reinos, obraram ações de justiça; pela qual também cada um se purificava do pecado, o quanto condizia com a purificação da pessoa própria. Mas a fé ou a justiça de cada um não bastava para remover o impedimento proveniente do reato de toda a natureza humana. Mas esse impedimento foi removido pelo preço do sangue de Cristo. Por onde, antes da Paixão de Cristo, ninguém podia entrar no reino celeste, i. é, alcançando a beatitude eterna, consistente no gozo pleno de Deus.


*


Cristo pela sua Paixão mereceu-nos a entrada no reino celeste e removeu o obstáculo que no-lo impedia. Mas, pela sua ascensão, como que nos introduzia na posse do reino celeste. Por isso a Escritura diz (Mq 2, 13) que aquele que lhes há de abrir o caminho irá adiante deles.

IIIa q. XLIX a. VI


(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

13 de março de 2010

LATIM

O LATIM NA SANTA MISSA
Concílio de Trento
(Sess.XXII)
Cân. 9. Se alguém disser que o rito da Igreja Romana que prescreve que parte do Cânon e as palavras da consagração se profiram em voz submissa, se deve condenar, ou que a Missa se deve celebrar somente em língua vulgar, ou que não se deve lançar água no cálice ao oferecê-lo, por ser contra a instituição de Cristo — seja excomungado.
Curso de Liturgia
(Pe.Reus S.J., Editora Vozes, 1944)
A língua latina é:
1) uma língua venerável. Pois é o produto do desenvolvimento histórico e secular, consagrada pelo uso multi-secular.
2) uma língua estável. A Igreja conserva-a por saber que as suas palavras são a expressão fiel da fé católica. Tal certeza não teria com traduções continuamente reformadas e adaptadas à língua viva. Os gregos, apesar de separados da Igreja Romana, guardaram a sua fé quase completamente devido em grande parte à sua Liturgia antiga.
3) língua fixa. A língua latina é muito aperfeiçoada, com termos próprios, formados pela legislação romana.
4) língua misteriosa e santa. É convicção geral que, para um ato tão santo como a Missa, a língua quotidiana é menos conveniente. Os hereges, faltos de respeito de Deus, introduzem logo a língua vulgar na Liturgia. Seguindo o exemplo do Concílio Tridentino, Alexandre VII (1661) nem sequer permitiu a tradução do missal em francês. Hoje isto se concede; mas nega-se a licença de usar a língua vulgar na Liturgia, principalmente da Missa. Existe o perigo de serem abusadas pelo povo baixo as palavras que contêm os divinos mistérios.
5) língua unitiva. A diversidade das línguas separa os homens, a língua comum une-os. A língua latina une as igrejas particulares entre si e com Roma.
6) língua civilizadora. Todos os membros do clero devem aprender latim, e por isso podem aproveitar para a sua formação esmerada os autores clássicos antigos e a doutrina profunda dos santos padres da Igreja.
7) lingua internacional. Não só o clero entende a língua latina, mas também leigos a cultivam e empregam, p.ex., na ciência médica, física e mesmo no comércio (catálogo) e a preferem às línguas artificiais (esperanto).
8) Mas, dizem, o povo não entende nada da Missa. Responde-se: a Missa é uma ação, não um curso de instrução religiosa. No Calvário não havia explicações. O altar é um Calvário. Todo cristão sabe o que significa: imolar-se.
Além disso, o Concílio Tridentino (sess 22) encarrega os sacerdotes "que frequentemente expliquem alguma coisa do que se lê na Missa". Mas "etsi missa magnam contineat populi fidelis eruditionem, non tamen expedire visum est Patribus, ut vulgari passim lingua celebraretur".

SANTA MISSA EXPLICADA - PARTE 10 (FINAL)

A MISSA DE SÃO PIO V EXPLICADA

Fontes:
- Explicações sobre as partes da Missa: "Curso de Liturgia" - Pe.Reus;
- Citações: "Suma Teológica", de Santo Tomás de Aquino; "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre;




PARTE X - DESPEDIDA








A despedida. A assembléia litúrgica, desde os tempos antigos, era dissolvida por ordem do bispo: Três fórmulas se usam:


1) Ite, Missa est. Retirai-vos; pois é hora da despedida. É usada desde o século VI e VII. Diz-se nas missas que têm Gloria. Parece que outrora estava reservada, como o Gloria, aos bispos.

2) Benedicamus Domino, diz-se nas missas sem Gloria. Esta fórmula já no século XI era quase geral.

3) Requiescant in pace, nas missas de réquie. Já pelo ano de 1200 era costume geral dizê-la.

Enquanto o diácono canta Ite, Missa est, o celebrante fica virado para o povo, porque o celebrante propriamente é quem despede os fiéis; o diácono fá-lo só por autorização dele. Benedicamus Domino e Requiescant in pace são orações que os celebrantes proferem voltados para o altar. (d.2572 ad 22.)


I. “Placeat” e bênção

O Placeat. Com o lte, Missa est a solenidade está terminada. O Placeat, a bênção e o último evangelho são aditamentos recentes, fixados por Pio V.

No Placeat (desde o século IX) o celebrante suplica a Deus, humildemente inclinado, que aceite o sacrificio oferecido. Em seguida levanta os olhos e ergue as mãos ao alto, às quais estende e "fecha" (Rubr.), gestos estes que indicam fonte divina da bênção e o desejo de recebê-la. Depois o celebrante comunica estes bens celestiais aos fiéis, dizendo: Benedicat vos omnipotens Deus, Pater et Filius et Spiritus Sanctus, traçando ao mesmo tempo uma vez o sinal da cruz. O Pai é a causa da salvação pela graça e pela predestinação, o Filho pelo seu sacrifício e o Espírito Santo pela nova criação e santificação. (I Ped 1, 2.) Os prelados fazem três cruzes, um privilégio que lhes foi reservado por Pio V. Pois antigamente também os simples sacerdotes davam a tríplice benção.

Conforme as palavras proferidas pelo sacerdote, é Deus mesmo quem dá a bênção. Concorda esta verdade com a oração dada a Moisés: Invocarão os sacerdotes o meu nome sobre todos os filhos de Israel, e eu lhes darei a bênção. (Nm 6, 27.) Ausentando-se da terra, Nosso Senhor deu a benção aos apóstolos (At 1), comunicando-lhes a sua proteção e o seu auxílio especial. Por isso também o cristão, confortado pela bênção na missa, volta para as suas lidas domésticas com novo ânimo.


Pláceat tibi, sancta Trínitas, obséquium servitútis meæ: et præsta; ut sacrifícium, quod óculis tuæ majestátis indígnus óbtuli, tibi sit acceptábile, mihíque et ómnibus, pro quibus illud óbtuli, sit, te miseránte, propitiábile. Per Christum Dóminum nostrum. Amen.


Benedícat vos omnípotens Deus, Pater, et Filius, et Spíritus Sanctus. Amen.


Aceitai com agrado, Trindade Santa, a homenagem deste vosso servo; este sacrifício, que eu, embora indigno, aos olhos da vossa Majestade acabo de oferecer, tornai-o digno de ser por Vós aceite e, pela vossa msiericórdia, seja causa de propiciação para mim e para todos aqueles por quem o ofereci. Ámen.

Abençoe-vos o Deus omnipotente, Pai, Filho e Espírito Santo. Ámen.

II. Último Evangelho

O último evangelho de São João é a parte mais recente da missa. Encontra-se no século XIII, tornou-se geral no século XV. Motivos para recitá-lo no fim da missa seriam:

a) a grande confiança que o povo tinha e tem nele por causa da sua eficácia, para proteger contra os demônios e as suas infestações. Pois é um exorcismo (Rit. XI, c. 2, n.3), usado também nas famílias. Em caso de trovoada violenta, acende-se uma vela e reza-se o evangelho de São João, contra os demônios. Por isto explica-se o desejo dos fiéis que este exorcismo se rezasse no fim da missa, para proteger os frutos da agricultura.


b) a devoção do celebrante. Pois é uma ação de graças muito própria, pela profissão de fé na divindade de Jesus Cristo; pelas palavras: In propria venit et sui eum non receperunt, inciso este que exprime a humildade do celebrante, em cujo coração Nosso Senhor entrou; pelas palavras: Et Verbum caro factum est, cuja recitação depois da comunhão estava prescrita por missais medievais.

O costume de recitar, em certos dias, um evangelho diferente do de São João, é muito recente. Teria a sua origem a) talvez na Missa sicca que alguns sacerdotes, em dia com dois formulários de missa, diziam em segundo lugar; b) na intenção de comemorar o ofício impedido não só pelas orações, mas também pelo evangelho, numa das partes principais dos elementos móveis da missa.

V.Dóminus vobíscum.
R. Et cum spíritu tuo.
Inítium sancti Evangélii secúndum Joánnem.
R. Glória tibi, Dómine

In princípio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum. Hoc erat in princípio apud Deum. Omnia per ipsum facta sunt: et sine ipso factum est nihil, quod factum est: in ipso vita erat, et vita erat lux hóminum: et lux in ténebris lucet, et ténebræ eam non comprehendérunt.
Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Joánnes. Hic venit in testimónium, ut testimónium perhibéret de lúmine, ut omnes créderent per illum. Non erat ille lux, sed ut testimónium perhibéret de lúmine.
Erat lux vera, quæ illúminat omnem hóminem veniéntem in hunc mundum. In mundo erat, et mundus per ipsum factus est, et mundus eum non cognóvit. In própria venit, et sui eum non recepérunt. Quotquot autem recepérunt eum, dedit eis potestátem fílios Dei fíeri, his, qui credunt in nómine ejus: qui non ex sanguínibus, neque ex voluntáte carnis, neque ex voluntáte viri, sed ex Deo nati sunt. (ajoelha-se) Et Verbum caro factum est et habitávit in nobis: et vídimus glóriam ejus, glóriam quasi Unigéniti a Patre, plenum grátiæ et veritátis.

R. Deo grátias.

O Senhor seja convosco.
R. E também com o teu espírito
Princípio do santo Evangelho segundo S. João
R. Glória a Vós, Senhor.
.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus. Estava Ele no princípio com Deus Tudo por Ele foi feito, e nada de quanto se fez foi feito sem Ele. N’Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, e as trevas não a receberam.
Houve um homem enviado por Deus, chamado João, o qual veio como testemunho, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por via dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
Era (o Verbo) a luz verdadeira que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que seu, e os seus não O receberam. A todos, porém, quantos O receberam, deu Ele o poder de se tornarem filhos de Deus, quer dizer, àqueles que crêem no seu nome, que nem do sangue, nem do desejo da carne, nem da vontade do homem, mas só de Deus nasceram. E o Verbo se fez carne e veio habitar entre nós; e nós vimos a sua glória, glória do Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade.

R. Graças a Deus.

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 140

140) Jesus Cristo está em todas as hóstias consagradas do mundo?
Sim. Jesus Cristo está em todas as hóstias consagradas do mundo.
Uma fúlgida coroa de anjos reverentes e uma coroa de homens de todas as raças e de todas as línguas rendem homenagem a Jesus Eucarístico, vivo e palpitante entre eles.
Se pela força das palavras da consagração Jesus está presente sobre o altar, debaixo das espécies eucarísticas, equivale isto a dizer: onde houver uma hóstia consagrada Jesus aí estará todo inteiro, com seu Corpo, Sangue, sua Alma e sua Divindade. Ele quis ficar perto de todos os seus filhos, em todos os tempos e em todos os países. Deste modo pode fazer com que todos n'Ele encontrassem um pai, um amigo, um irmão, o conforto, a vida, a força, a alegria de suas almas. E assim, nas grandes metrópoles como na menor cidade do interior, nos desertos da África como nas desoladas planícies da Ásia, quer nas eternas geleiras, quer nas perdidas ilhas da Oceania, onde houver um sacerdote, Jesus terá um tabernáculo e uma lâmpada a arder noite e dia diante d'Ele. Desde o Oriente até o Ocidente, o sacerdote ergue ao céu a hóstia consagrada. A todo instante celebra-se a Missa e Jesus desce do Céu e se torna presente sobre os altares. Oh! abismo insondável da onipotência e da bondade divina, por meio da qual Jesus, sendo embora indivisível, pode estar perto de todos, unindo-os num único vínculo de caridade e união fraterna! Interpretando estas intenções do Coração de Jesus, assim rezavam os primeiros cristãos: "Como os grãos deste pão estavam espalhados pelos montes e, recolhidos, tornaram-se uma só coisa; assim, Senhor da verdade, reúna-se a tua Igreja desde as extremidades da Terra até o teu reino, porque é tua a glória e teu é o poder". (Did. 9,4).

Meditações - textos de Santo Tomás de Aquino

PELA PAIXÃO DE CRISTO FOMOS RECONCILIADOS COM DEUS
sábado da terceira semana da Quaresma
«Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho.» (Rm 5, 10)

Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:

I. — A Paixão de Cristo é a causa de nossa reconciliação com Deus, de dois modos.

Primeiro porque remove o pecado pelo qual os homens são constituídos inimigos de Deus, segundo aquilo da Escritura (Sb 14, 9): Deus igualmente aborreceu ao ímpio e a sua impiedade. E noutro lugar (Sl 5, 7): Aborreces a todos os que obram a iniqüidade.

De outro modo, como sacrifício muito aceito de Deus; assim como perdoamos uma ofensa cometida contra nós quando recebemos um serviço que nos é prestado. Donde o dizer a Escritura (1 Rs 26, 19): Se o Senhor te incita contra mim, receba ele o cheiro do sacrifício. Semelhantemente, o ter Cristo sofrido voluntariamente foi um bem tão grande, que em razão desse bem descoberto em a natureza humana, Deus se aplacou no tocante a qualquer ofensa do gênero humano, contanto que o homem se una com a Paixão de Cristo, segundo a fé e a caridade.

Não se diz que a Paixão de Cristo nos reconciliou com Deus porque de novo nos começasse a amar, pois está na Escritura (Jr 31, 3): Com amor eterno te amei. Mas porque a Paixão de Cristo eliminou a causa do ódio, quer por ter delido o pecado, quer pela compensação de um bem mais aceitável.

IIIa q. XLIX a. 4

II. — Se pensarmos naqueles que O lançaram à morte, a Paixão de Cristo foi verdadeiramente uma causa de indignação. Mas, a caridade de Cristo padecendo foi maior que a iniqüidade dos homens. Por isso a Paixão de Cristo é mais eficaz para reconciliar com Deus todo o gênero humano que para provocar sua cólera.

O amor de Deus por nós se revela nos seus efeitos. Dizemos que Deus faz participar de sua bondade aqueles que ama. Ora, a maior e mais completa participação na sua bondade consiste na visão da sua essência, pela qual privamos com Ele como amigos, pois a beatitude consiste nesta serenidade. Assim, pode-se dizer simplesmente que Deus ama a quem admite a esta visão, quer pelo dom real, quer pelo dom da causa — como ocorre com aqueles a quem Deus deu o Espírito Santo como penhor desta visão. Pelo pecado, porém, ao homem foi retirada esta participação na bondade divina, ou seja, a visão de sua essência; e sob este aspecto, diz-se que o homem estava privado do amor de Deus. Ora, após Cristo ter satisfeito por nós pela sua Paixão, e conseguido que fossemos readmitidos à visão de Deus, diz-se que nos reconciliou com Deus.

2 Dist. 19, q. I, a. 5
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

12 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 139

139) Quando se divide a hóstia em várias partes, divide-se o Corpo de Jesus Cristo?
Não. Quando se divide a hóstia em várias partes, não se divide o Corpo de Jesus Cristo, mas sómente as espécies do pão; e o Corpo do Senhor fica inteiro em cada uma das partes.
Um Sacerdote alemão, em romagem à cidade santa, em 1263, foi a Bolsena, a fim de aí celebrar a Santa Missa. Já estavam as velas acesas no altar e o povo à espera do santo Sacrifício. Mas o coração do Sacerdote estava frio. Havia já algum tempo que passava ele por esta horrível dúvida: nesta hóstia que consagro todas as manhãs estará mesmo presente Jesus? E se não estiver? Com esta dúvida celebrava ele naquela manhã. Enquanto partia a hóstia sobre o cálice, começou a destilar dela sangue vivo, caindo todo sobre os linhos do altar. Espantado, procurou o Sacerdote esconder a santa Hóstia e, colocando-a no corporal, encaminhou-se para a sacristia. Entretanto, algumas gotas de sangue caíram nos degraus do altar e no pavimento, e nas pregas do corporal ficou impressa a imagem de Jesus. O povo gritava: milagre! milagre!
Depois da consagração, a substância do pão e do vinho é totalmente mudada no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo. Nada, porém, se vê desta transubstanciação, pois Jesus quis conservar intactas as espécies eucarísticas, isto é, a cor, o sabor, o peso do pão e do vinho. Pela transubstanciação, a substância do Corpo e do Sangue de Cristo substituem então a substância do pão e do vinho.
O Sacramento da Eucaristia encerra o maior e o mais sublime dos milagres da nossa religião. "Preste a fé - canta Santo Tomás - o suplemento ao defeito dos sentidos".

Meditações - textos de Santo Tomás de Aquino

PELA PAIXÃO DE CRISTO FOMOS LIBERADOS DA PENA DO PECADO
sexta-feira da terceira semana da Quaresma
«Ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores» (Is 53, 4)

Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:

1. Primeiro diretamente; i. é, porque a Paixão de Cristo foi uma satisfação suficiente e superabundante pelos pecados de todo o gênero humano; ora, dada a satisfação suficiente, eliminado fica o reato da pena.

2. De outro modo, indiretamente; i. é, enquanto a Paixão de Cristo é a causa da remissão do pecado, no qual se funda o reato da pena.

Os condenados, contudo, não estão liberados da pena, pois a Paixão de Cristo somente produz o seu efeito naqueles a quem se aplica pela fé, pela caridade e pelos sacramentos da fé. Ora, os condenados ao inferno, que não estão unidos à Paixão de Cristo ao modo que acabamos de referir, não lhe podem colher o efeito.

E apesar de termos sido liberados da pena do pecado, é preciso, no entanto, impor aos penitentes uma pena satisfatória; pois, para se beneficiar do efeito da Paixão de Cristo, é preciso estarmos configurados ao Cristo.

Ora, configuramo-nos sacramentalmente a Ele no batismo, segundo aquilo do Apóstolo (Rm 6, 4): Fomos sepultados com ele para morrer ao pecado pelo batismo. Por isso aos batizados não se lhes impõe nenhuma pena satisfatória, por estarem totalmente liberados pela satisfação de Cristo. Mas porque Cristo uma só vez morreu pelos nossos pecados, no dizer da Escritura (1 Pd 3, 18), não pode o homem uma segunda vez se configurar à morte de Cristo pelo sacramento do batismo. E por isso, os que depois do batismo pecam hão de assemelhar-se com Cristo, padecente por alguma penalidade ou sofrimento, que suportem na sua pessoa. Mas essa penalidade basta, apesar de muito menor que a merecida pelo pecado, por causa da cooperação da satisfação de Cristo.

Mas, se a morte, que é pena do pecado, ainda subsiste, é porque a satisfação do Cristo só tem efeito em nós enquanto fomos incorporados ao Cristo, como os membros à cabeça. Pois é preciso que os membros estejam em conformidade com a cabeça. Por onde, assim como Cristo teve primeiro a graça na alma com a passibilidade do corpo, e chegou pela Paixão à glória da imortalidade, assim também nós, que somos os seus membros, somos pela sua Paixão liberados do reato de qualquer pena. Mas, para isso, devemos primeiro receber na alma o Espírito de adoção de filhos, pelo qual adimos a herança da glória da imortalidade, enquanto ainda temos um corpo passível e mortal. Mas depois assemelhados aos sofrimentos e à morte de Cristo, chegaremos à glória imortal segundo aquilo do Apóstolo (Rm 8, 17): Se somos filhos somos também herdeiros; herdeiros verdadeiramente de Deus e co-herdeiros de Cristo, se é que todavia nós padecemos com ele para que sejamos também com ele glorificados.

IIIa q. XLIX a. 3

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

11 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 138

138) Depois da consagração não fica nada do pão e do vinho?
Não. Depois da consagração não fica nem pão nem vinho, mas sómente as respectivas espécies, ou aparências, sem a substância.

10 de março de 2010

Meditações - textos de Santo Tomás de Aquino

A PREGAÇÃO DA SAMARITANA
Quinta-feira da III Semana da Quaresma


«A mulher, pois, deixou o seu cântaro, e foi à cidade» (Jo 4, 28)

Após ter sido instruída por Cristo, a samaritana fez trabalho de apóstolo. Três coisas podemos sublinhar de suas palavras e atos.

I

A devoção que sentia se manifestou dos dois modos seguintes:

a) Movida por intensa devoção, a samaritana como que se esqueceu da razão pela qual viera à fonte e abandonou água e cântaro. É o que diz o texto: "a mulher deixou o seu cântaro, e foi à cidade", para anunciar a grandeza de Cristo, sem cuidar das necessidades do corpo. Nisso seguiu o exemplo dos Apóstolos que, após terem tudo deixado para trás, seguiram o Senhor. Ora, o cântaro significa a concupiscência das coisas do século, com o qual do fundo das trevas significado pelo poço, i.é, do trato com as coisas terrenas, os homens extraem os prazeres. Portanto, os que abandonam as concupiscências do século por Deus, abandonam o cântaro.

b) A intensidade de sua devoção manifesta-se ainda pela multidão daqueles a quem anuncia o Cristo, pois não foi a um, nem a dois ou três, mas a toda a cidade. Diz o texto: "...e foi à cidade".

II

A qualidade de sua pregação: "e disse àquela gente: vinde ver um homem...".

a) Ela convida todos a ver o Cristo: "Vinde ver um homem". Ela não diz imediatamente para que viessem ao Cristo, para não dar ocasião a blasfêmia; ao contrário, começa dizendo coisas que eram críveis e patentes, a saber, que era um homem. Ela não diz: crede, e sim: vinde ver, pois sabiam que, se bebessem daquela fonte, vendo-o, experimentariam o mesmo que ela experimentou. Por fim, a samaritana segue o exemplo do verdadeiro pregador, e não chama os homens para si, mas para o Cristo.

b) Oferece uma prova da divindade do Cristo, ao dizer: "que me disse tudo o que eu tenho feito", ou seja, quantos homens tivera a samaritana. Ela não se envergonha de contar aquilo que lhe é motivo de confusão, pois a alma abrasada com o fogo divino não se importa mais com nada terreno, nem com a glória, nem com a vergonha, mas apenas com essa chama que nela queima.

c) Conclui confessando a majestade de Cristo, ao dizer: "será este porventura o Cristo?" Ela não ousou afirmar que era o Cristo, para que não aparentasse ensinar os outros: temia que, irritados, eles se recusassem a ir ao Cristo. Tampouco o silenciou totalmente, mas o propôs sob a forma de pergunta, como se submetesse o seu julgamento ao deles. De fato, este era o meio mais fácil de persuadi-los.

III

O fruto de sua pregação.

"Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele". Por onde se vê que, se quisermos ir ao Cristo, devemos também deixar a cidade, i. é, abandonar o amor da concupiscência carnal. "Saiamos, pois, a ele fora dos arraiais", diz são Paulo (Heb 13, 13)

In Joan., IV.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 137

137) Quando é que o pão e o vinho se tornam Corpo e Sangue de Jesus?
O pão e o vinho tornam-se Corpo e Sangue de Jesus, no momento da consagração da Missa.
Inclinando sobre o altar, o sacerdote repete as mesmas misteriosas palavras que Jesus pronunciou na última ceia: "Isto é o meu corpo, este é o cálise do meu sangue".
Assim como na última ceia e em virtude destas palavras onipotentes, toda a substância do pão e toda substância do vinho convertem-se no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Maravilhosa conversão, à qual dá a Igreja o nome de Transubstanciação, isto é, mudança total de substância. Depois que se realiza o milagre eucarístico, o sacerdote genuflete e adora. Em seguida levanta a hóstia e o cálice para que os adorem os fiéis, repetindo com S. Tomé as palavras: "Meu Senhor e meu Deus!" É o momento solene da consagração.
Antes da consagração, a hóstia não era mais que pão. Depois da consagração tornou-se o Corpo do Senhor, vivo e palpitante sobre o altar. O cálice, antes da consagração, continha vinho com algumas gotas de água, as quais lembram a união da nossa humanidade com a divindade de Cristo. Depois da consagração, o vinho e as gotas de água convertem-se no Sangue preciosíssimo de Jesus. Todos os dias, inúmeras vezes e em todas as partes do mundo, pois a Igreja é universal, renova-se o milagre da última ceia, que foi a antecipação do sacrifício da cruz: "Fazei isto em memória de mim", disse Jesus aos Apóstolos. E enquanto a Terra produzir flores e frutos e o sol brilhar sobre o universo, renovar-se-á a ceia eucarística, para se cumprir a promessa de Jesus: "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus, 28,30).

Meditações - textos de Santo Tomás de Aquino

O PREÇO DA NOSSA REDENÇÃO

Quarta-feira da III Semana da Quaresma


«fostes comprados por um grande preço» (1 Cor 6, 20)


A injúria ou sofrimento mede-se pela dignidade do lesado: sofre maior injúria o rei, se esbofeteado, do que sofreria alguma pessoa privada. Ora, a dignidade da pessoa de Cristo é infinita, pois é uma pessoa divina. Portanto, qualquer sofrimento seu, por menor que seja, é infinito. Por conseqüência, qualquer sofrimento seu seria suficiente para a redenção de todo o gênero humano, mesmo sem sua morte.


Diz S. Bernardo que a menor gota de sangue de Cristo bastaria para a redenção do gênero humano. Ora, Cristo poderia ter derramado uma única gota de seu sangue sem morrer, logo, era possível que, mesmo sem morrer, redimisse todo o gênero humano com algum sofrimento seu.


Para se efetuar uma compra, duas coisas fazem-se necessárias: o montante do preço e sua destinação para a compra. Se alguém dá um valor inferior ao da coisa que se quer adquirir, não se diz que houve compra, mas que houve compra em parte e doação em parte: por exemplo, se alguém comprar um livro que vale vinte libras com apenas dez, em parte comprou o livro e em parte, o livro lhe foi dado. Do mesmo modo, se desse um valor mais alto mas não o destinasse à compra do livro, não se poderia dizer que houve compra.


Se, portanto, tratamos da redenção do gênero humano quanto ao preço, qualquer sofrimento de Cristo, mesmo sem morte, seria suficiente, pela infinita dignidade da sua pessoa.


Se, porém, falamos quanto a destinação do preço, então é preciso dizer que os demais sofrimentos do Cristo não foram destinados por Deus Pai e pelo Cristo para a redenção do gênero humano sem sua morte.


E isto por tríplice razão:


1. Para que o preço da redenção do gênero humano não fosse apenas de valor infinito, mas também do mesmo gênero; isto é, para que fossemos redimidos da morte, pela morte.

2. Para que a morte de Cristo não fosse apenas preço da redenção, mas também exemplo de virtude, para que os homens não temessem morrer pela verdade. E estas duas causas são assinaladas pelo Apóstolo: «a fim de destruir pela sua morte aquele que tinha o império da morte» (Heb 2, 14), quanto ao primeiro ponto e «para livrar aqueles que, pelo temor da morte, estavam em escravidão toda a vida» (Heb 2, 15), quanto ao segundo

3. Para que a morte de Cristo fosse também sacramento de salvação; pois, em virtude da morte de Cristo, morremos para o pecado, para as concupiscências da carne e para o amor próprio. E esta causa está assinalada nas Escrituras: «também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados, ele, justo pelos injustos, para nos oferecer a Deus, sendo efetivamente morto segundo a carne, mas vivificado pelo Espírito» (1 Pd 3, 18).


E, por isso, o gênero humano não foi redimido sem a morte de Cristo.


Mas, permanece verdade que Cristo, que não apenas deu sua vida, mas ainda sofreu tanto quanto se pode sofrer, teria pago um preço suficiente pela redenção do gênero humano, ainda que a menor parcela de sofrimento tivesse sido divinamente destinada a este fim; e isto, por causa da infinita dignidade da pessoa do Cristo.


Quodl. II, q. I, a. II


(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

9 de março de 2010

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 136

136) Na Eucaristia está o mesmo Jesus Cristo que está no Céu e que na Terra nasceu de Maria Virgem?
Sim. Na Eucaristia está o mesmo Jesus Cristo que está no Céu e que na Terra nasceu de Maria Virgem.
Diante do altar da Eucaristia há sempre uma festa de luzes e de cores. Em redor da hóstia, se bem que invisívelmente, uma multidão de anjos entrelaçam seus louvores com os dos homens, em cânticos de adoração e de amor.
Prostrado aos pés do altar, está Sto. Antônio Maria Zacarias, zeloso apóstolo das Quarenta Horas, acompanhado de inúmeros fiéis devotos. Todos têm a mesma expressão em seus semblantes, espelho fiel dos sentimentos que se aninham em suas almas. É gracioso ver-se o menino que, nos braços de sua mãe, alçando os bracinhos, manda beijos ao Amigo das crianças.
Nosso olhar também fixa a pequenina e branca hóstia. Sabemos que a Eucaristia é o mistério de fé por excelência. Não vemos, mas cremos na palavra de Deus e nada é mais verdadeiro do que esta palavra. Cremos que Jesus está na hóstia, vivo e verdadeiro, real e substancialmente presente... aquele mesmo Jesus, que a Virgem Maria trouxe em seu seio, tomou nos seus braços, mostrou aos pastores e aos anjos.
Aquele mesmo Jesus que morreu crucificado por nosso amor, que ressuscitou glorioso e que reina eternamente na pátria celeste.
A Eucaristia não é sómente um símbolo ou uma lembrança do sacrifício do Calvário, mas a sua verdadeira renovação, embora de modo incruento.
Ouçamos as duas últimas estrofes de uma linda poesia de D. Augusto, Cardeal-Arcebispo e Primaz do Brasil.
Ei-los à mesa, e ao festim, em meio,
Solene, grave, o Salvador lhes diz:
"Vou cumprir a promessa que vos fiz:
Isto é meu corpo, Eu vo-lo dou, comei-o."
E terminando o divinal reclamo,
"Isto é meu corpo, Eu vo-lo dou comei-o"
Pedro proclama impetuoso:"eu creio!"
E João murmura enternecido:"eu amo!"

8 de março de 2010

Meditações - Textos de Santo Tomás de Aquino

PELA PAIXÃO DE CRISTO FOMOS LIVRADOS DO PODER DO DIABO
Segunda-feira da III Semana da Quaresma

O Senhor disse, na iminência da Paixão: «Agora será lançado fora o príncipe deste mundo, e eu, quando for levantado da terra, todas as coisas atrairei a mim mesmo» (Jo 12, 31). Ora, o Senhor foi levantado da terra pela Paixão da cruz. Logo, por ela o diabo foi privado do seu poder sobre os homens.

Sobre o poder que o diabo exercia sobre os homens, antes da Paixão de Cristo, devemos fazer tríplice consideração:

1. A primeira, relativa ao homem, que pelo seu pecado mereceu ser entregue ao poder do diabo, por cuja tentação fora vencido;

2. A outra, relativa a Deus, a quem o homem ofendera pecando, e que na sua justiça abandonou o homem ao poder do diabo.

3. A terceira é relativa ao diabo, que com sua vontade perversíssima impedia o homem de alcançar a sua salvação.

Assim, pois, no tocante à primeira consideração, o homem foi libertado do poder do diabo pela Paixão de Cristo, porque a Paixão de Cristo é a causa da remissão dos pecados.

Quanto à segunda, a Paixão de Cristo nos livrou do poder do diabo, por nos ter reconciliado com Deus.

No tocante à terceira, a Paixão de Cristo nos liberou do diabo, porque nela o diabo ultrapassou a medida do poder que Deus lhe conferira, maquinando a morte de Cristo, que não merecera morte por não ter nenhum pecado. Donde o dizer Agostinho: «Pela justiça de Cristo foi vencido o diabo, porque apesar de nada ter encontrado nele digno de morte, contudo o matou. E portanto era justo que os devedores que detinha em seu poder fossem mandados livres, crentes em Cristo, que o diabo matou, apesar de não ter nenhum débito.»

É verdade que o diabo pode, ainda agora, com a permissão de Deus, tentar os homens na alma e vexar-lhes o corpo; contudo, foi-lhe preparado ao homem o remédio da Paixão de Cristo, com o qual pode defender-se contra os ataques do inimigo, a fim de não ser arrastado à perdição da morte eterna. E todo os que, antes da Paixão, resistiam ao diabo, assim o puderam fazer pela fé na Paixão de Cristo. Embora, não estando essa Paixão ainda consumada, de certo modo ninguém pudesse escapar às mãos do diabo, livrando-se assim de descer ao inferno; ao passo que depois da Paixão de Cristo todos podemos nos defender contra o poder diabólico.

Deus permite ao diabo enganar certas pessoas, em certos tempos e lugares, por uma razão oculta dos seus juízos. Mas sempre, pela Paixão de Cristo está preparado aos homens o remédio para se defenderem das perversidades dos demônios, mesmo no tempo do Anticristo. E o fato de certos descuidarem de servir-se desse remédio em nada faz diminuir a eficácia da Paixão de Cristo.

III, q. XLIX, a. II

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 135

135) Que é a Eucaristia?
A Eucaristia é o Sacramento que, debaixo das aparências do pão e do vinho, contém realmente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo para alimento das almas.
Os hebreus, enquanto peregrinavam pelo deserto, foram sustentados por Deus com um alimento celeste - o maná. Era a figura do alimento verdadeiramente divino, com o qual o Redentor haveria de alimentar e sustentar os fiéis na fatigante viagem pelo deserto da vida - a Eucaristia. "Eu sou o Pão da vida? Vosso pais comeram o maná no deserto e morreram. Mas este é o pão que desceu do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desci do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu darei é a minha carne que será sacrificada para a salvação do mundo" (João, 6, 48-52). Oh! de que portentos não é capaz o amor de Deus Onipotente! "Porque tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim (João, 13,1). Na véspera de sua morte, enquanto os homens tramavam a traição, Ele reuniu seus Apóstolos num último convívio de amor e instituiu o Sacramento, que é o supremo dom de seu Coração amantíssimo.
Olhemos Jesus, cujo semblante divino reflete as suas infinitas bondades. Levanta a mão direita em gesto sacerdotal de benção; a esquerda sustenta o pão, que será convertido em seu corpo sacratíssimo. Que momento solene! Pronuncia as palavras prodigiosas: "Tomai e comei, isto é o meu corpo; tomai e bebei, este é o cálice do meu sangue, que será derramado por vós e por muitos, em remissão dos pecados". Eis realizado o grande prodígio. Na Encarnação, Jesus escondeu os esplendores da sua divindade, para que pudéssemos vê-lo. Na Eucaristia esconde não só a sua divindade, mas também a sua humanidade, debaixo das aparências de pão e de vinho, para assim poder ser nosso alimento. Oh! admirável Sacramento, verdadeiramente digno do amor de Deus. "Cantai ao Senhor um Cântico Novo, porque operou maravilhas" (Salmo, 97,1).

7 de março de 2010

Missa Tridentina em Curitiba: Sermão do Pe. Paulo Iubel no III Domingo da Quaresma (06/03/2010)

Pe. Paulo Iubel
Paróquia da Imaculada Conceição
Curitiba/PR

"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 134

134) Quem recebe a Confirmação, que disposições deve ter?
Quem recebe a Confirmação deve estar na graça de Deus e, se tem o uso da razão, deve conhecer os principais mistérios da fé e aproximar-se deste Sacramento com devoção.
A Crisma consagra-nos como soldados de Cristo Rei.
Os Bispos, na Igreja, são comandantes de sagrada milícia. A eles pertence enfileirar os soldados no exército do Senhor. São pequenos soldados, é verdade. Todavia, desde os primeiros tempos do Cristianismo, a Igreja vem contando com esses heróicos campeões: Tarcísio, Pancrácio, Venâncio, Inês, Emerenciana, Maria Goretti... Surge depois o interminável esquadrão dos que subiram ao céu durante as terríveis perseguições do México, da Espanha, da China, da Rússia... Muitos deles eram crianças que uniam o sorriso encantador dos anjos, com a fortaleza heróica dos mártires. "Assinalo-te com o sinal da cruz e te confirmo com o crisma da salvação, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", diz o Bispo, impondo a mão direita sobre o crismando e fazendo em sua fronte o sinal da cruz com o santo Crisma. Foi, realmente, com sua cruz que N. S. Jesus Cristo triunfou de seus inimigos. Deve o crismando ser devidamente instruído sobre as verdades da fé e aproximar-se do Sacramento com devoção. Deve estar na graça de Deus, pois "na alma maligna não entrará a sabedoria, nem habitará no corpo sujeito ao pecado" (Sabedoria, 1,4). O crismando vai acompanhado palo padrinho, que durante a cerimônia põe a mão direita sobre seus ombros, em sinal de paternidade espiritual. O padrinho deve adestrar o afilhado nas santas batalhas do espírito e rezar por ele, a fim de que a graça, com virtudes perenes, faça frutificar os dons recebidos.

6 de março de 2010

Meditações - textos de Santo Tomás de Aquino

PELA PAIXÃO SOMOS LIBERADOS DO PECADO
III Domingo da Quaresma


«Amou-nos e nos lavou dos pecados no seu sangue» (Ap 1, 5)


A Paixão de Cristo é a causa própria da remissão dos pecados, por três razões:

1. Primeiro, como causa que provoca caridade. Pois, no dizer do Apóstolo, «Deus faz brilhar a sua caridade em nós, porque ainda quando éramos pecadores, em seu tempo morreu Cristo por nós» (Rm 5, 8). Ora, pela caridade conseguimos o perdão dos pecados, conforme o Evangelho: «Perdoados lhe são seus muitos pecados, porque amou muito.» (Lc 7, 47).

2. Segundo, a Paixão de Cristo causa a remissão dos pecados a modo de redenção. Pois, sendo Cristo a nossa cabeça, pela Paixão que sofreu por obediência e caridade, liberou-nos, como a seus membros, do pecado, como pelo preço da sua Paixão; como no caso de alguém que, por uma obra meritória manual, se resgatasse do pecado que com os pés tivesse cometido. Assim como, pois, o corpo natural é uno, na diversidade dos seus membros, assim a Igreja na sua totalidade, que é o corpo místico de Cristo, é considerada quase uma mesma pessoa com a sua cabeça que é Cristo.

3. Terceiro, o modo de eficiência, enquanto a carne, na qual Cristo sofreu a sua Paixão, é o instrumento da divindade; pelo qual os padecimentos e as ações de Cristo agem com virtude divina, com o fim de delir o pecado.

Cristo, pela sua Paixão nos livrou dos pecados casualmente, i. é, por ter instituído a causa da nossa liberação, em virtude da qual pudesse perdoar num momento dado quaisquer pecados — passados, presentes ou futuros. Tal o médico que preparasse um remédio capaz de curar quaisquer doenças, mesmo futuras.

Mas, sendo a Paixão de Cristo a causa universal antecedente da remissão dos pecados, é necessário aplicá-la a cada um a fim de delir os pecados próprios. O que se dá pelo batismo, pela penitência e pelos outros sacramentos, que tiram a sua virtude da Paixão de Cristo.

Pela fé também nos é aplicada a Paixão de Cristo, a fim de lhe colhermos os frutos, segundo aquilo do Apóstolo: «Ao qual propôs Deus para ser vítima de propiciação pela fé no seu sangue» (Rm 3, 25). Mas a fé, pela qual nos purificamos do pecado, não é uma fé informe, que pode coexistir com o pecado, mas a fé informada pela caridade. De modo que a Paixão de Cristo nos é aplicada, não só quando ao intelecto, mas também quanto ao afeto. E também deste modo os pecados são perdoados por virtude da Paixão de Cristo.

III q. XLIX, a. I

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

SANTA MISSA EXPLICADA - PARTE 9

A MISSA DE SÃO PIO V EXPLICADA

Fontes:
- Explicações sobre as partes da Missa: "Curso de Liturgia" - Pe.Reus;
- Citações: "Suma Teológica", de Santo Tomás de Aquino; "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre; e "Catecismo Maior de São Pio X;

PARTE IX - COMUNHÃO


“Em continuação, trata-se da “recepção” do sacramento. 1º. Antes de tudo, prepara-se o povo para recebê-lo. Isso se faz primeiramente pela oração comum de todo o povo, que é o Pai Nosso, no qual pedimos “panem nostrum quotidianum da nobis hodie” (“o pão nosso de cada dia nos dai hoje”); e também pela oração particular que o sacerdote recita pelos fiéis, ao dizer: “Libera nos, quaesumus, Domine” (“Livrai-nos, Senhor”). 2º. Esta preparação acontece também por meio da paz, que se dá dizendo: “Agnus Dei” (“Cordeiro de Deus”). Com efeito, este é o sacramento da unidade e da paz. Nas missas de defunto, em que este sacrifício é oferecido, não pela paz presente, mas pelo descanso dos mortos, omite-se a paz.
Dando continuação, segue-se a recepção do sacramento. 1º. Comunga o sacerdote. Depois ele distribui aos outros, porque, como diz Dionísio, quem distribui aos outros os mistérios divinos, deve antes participar deles.
Finalmente, toda a celebração da missa termina com a “ação de graças”. Os fiéis exultam pela recepção do mistério, o que se exprime pela antífona da comunhão. O sacerdote o faz pela oração depois da comunhão, assim como Cristo, tendo celebrado a Ceia com os discípulos, “cantou os salmos” (Mt XXVI, 30)”
(Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.4).

I. “Pater Noster”

“Na Oração Dominical [“Pater Noster”], não somente se pede tudo aquilo que podemos desejar retamente, como também a ordem em que devemos desejar: de tal forma que essa oração nos ensina não só a pedir como também é normativa dos nossos sentimentos” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q.83, a.9).

Em todas as Liturgias, depois da consagração, que é o ato sacrifical, vem a participação dos fiéis no sacrifício, a comunhão. Também no antigo testamento o povo tomava parte em certos sacrifícios pela ceia no templo.

O Pater Noster. As preces desta parte são orações de preparação e de ação de graças. Os frutos da s.comunhão dependem da fé, da humildade, da confiança, do desejo, da caridade de quem se aproxima da santa mesa. Para despertar estes atos a Igreja prescreve orações próprias para êste fim, em primeiro lugar o Padre Nosso. O pão eucarístico é objeto de desejo na quarta petição, segundo o testemunho comum dos Santos Padres. A petição: Perdoai-nos as nossas dividas, tem grande eficácia para purificar a alma e para perdoar os pecados. Também os outros atos mencionados se acham na "Oração do Senhor".

O Padre Nosso, como parte da Liturgia, é indicado por S. Justino (sec. II), S. Cirilo de Jerusalém, S. Jerônimo, S. Agostinho, no fim do IV e no comêço do V século.

Na Liturgia grega e na galicana o Padre Nosso era cantado pelo povo. No rito romano o povo responde com a última petição para dar a entender que o celebrante agiu em nome do povo inteiro. O Amen no fim do Padre Nosso acrescenta-se desde a idade média. É o celebrante quem o diz, confirmando a petição proferida pelos fiéis e as petições precedentes.

O lugar de honra logo depois do cânon foi-lhe assinalado por Gregório Magno. Nas outras Liturgias, como outrora na romana, o Padre Nosso devia-se recitar depois da fração da s. hóstia.

O Embolismo. A última petição do Pater: "livrai-nos do mal", é amplificada pelo embolismo (= acréscimo). O celebrante ora, para alcançar a paz interior e exterior, invocando Maria SS., S. Pedro, S. Paulo e S. André. Antigamente podia-se ajuntar o nome de qualquer santo. O nome de S.André, dizem, foi inserido por devoção especial de S.Gregório.

O Libera provavelmente é uma oração antiga e foi na redação do rito da missa adaptada ao Padre Nosso.

ORÉMUS. Præcéptis salutáribus móniti, et divína institutióne formáti, audémus dícere:
Pater noster, qui es in cælis: sanctificétur nomen tuum: advéniat regnum tuum: fiat volúntas tua, sicut in cælo, et in terra. Panem nostrum quotidiánum da nobis hódie: et dimítte nobis débita nostra, sicut et nos dimíttimus debitóribus nostris. Et ne nos indúcas in tentatiónem,
R. Sed líbera nos a malo.

Líbera nos, quáesumus, Dómine, ab ómnibus malis, prætéritis, præséntibus et futúris: et intercedénte beáta et gloriósa semper Vírgine Dei Genitríce María, cum beátis Apóstolis tuis Petro et Paulo, atque Andréa, et ómnibus Sanctis, da propítius pacem in diébus nostris; ut, ope misericórdiæ tuæ adjúti, et a peccáto simus semper líberi et ab omni perturbatióne secúri. Per eúmdem Dóminum nostrum Jesum Christum, Fílium tuum. Qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritus Sancti Deus,

Per ómnia saécula saeculórum.
R. Amen

OREMOS. Advertidos pelos preceitos do Salvador e instruídos pelos divinos ensinamentos, ousamos dizer:
Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra, como no céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, a não nos deixeis cair em tentação.
R. Mas livrai-nos do mal.


Livrai-nos, Senhor, de todos os males, passados, presentes e futuros, e, pela intercessão da bem-aventurada e gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e André, e de todos os Santos, concedei-nos propício a paz em nossos dias; de modo que, ajudados com os auxílios da vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e assegurados contra toda perturbação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que, sendo Deus, convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo,

Por todos os séculos dos séculos.
R. Ámen.


II. Fração da Hóstia

A "fração do pão". O subdiácono entrega a patena ao diácono, que a dá ao celebrante. Este benze-se com a patena e a beija reverentemente, dizendo: da propitius pacem. A patena é o vaso em que repousa o SS. Sacramento. Tomando "continens pro contento", a patena representa o SS. Sacramento. Venerando a patena, o celebrante honra a Nosso Senhor e recebe d’Ele e por Ele a paz que pede, e com a paz as virtudes sem as quais ela não existe: caridade, humildade, confiança e outras. Sem dúvida, é esta uma boa preparação para a sagrada comunhão. Antigamente dava-se logo o ósculo da paz.

Dizendo: per Dominum nostrum Jesum Christum e confessando crer que em cada parte da s.hóstia está o Filho de Deus presente, parte-a e põe uma metade na patena, continuando: qui tecum vivit et regnat; tira da outra metade uma parte pequena e ajunta-a à que está na patena dizendo: in unitáte Spiritus Sancti, confessando a perfeita igualdade em poder e glória das três Pessoas divinas. É uma doxologia muito própria para o momento da fração do pão eucarístico.

Traçando com a partícula três cruzes sôbre o cálix, diz: pax Domini sit semper vobiscum; indica que da cruz e da Eucaristia brota a paz. Deitando esta partícula no vinho consagrado com as palavras: Haec commixtio et consecratio, etc., enuncia a unidade do SS. Sacramento apesar das duas espécies. Estas cerimônias atuais são convenientes e de profunda significação, escolhidas pela Igreja entre as muitas que estavam em uso.

A fração do pão era cerimônia muito demorada, pois que se deviam romper os pães para a comunhão do povo. Nos primeiros séculos, fazia-se isto em silêncio. No século VII começou-se a cantar o Agnus Dei durante este rito.

Pax Dómini sit semper vobíscum.
R. Et cum spíritu tuo.
Hæc commíxtio, et consecrátio Córporis et Sánguinis Dómini nostri Jesu Christi, fiat accipiéntibus nobis in vitam ætérnam. Amen.


A paz do Senhor seja sempre convosco.
R. E também com o teu espírito.
Que esta mistura sagrada do Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo seja para nós, que os vamos receber, penhor da vida eterna. Ámen.


“A fração da hóstia significa três coisas. Antes de tudo, a divisão sofrida pelo Corpo de Cristo. Em segundo lugar, a distinção do Corpo Místico segundo os seus diversos estados. Enfim, a distribuição das graças advindas da paixão de Cristo, como Dionísio ensina. Daí segue que a fração não implica divisão de Cristo” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad7)

“Podem-se encontrar dois significados no cálice. Primeiramente, a paixão que este sacramento representa. E, por esta razão, estão simbolizados pela parte colocada no cálice aqueles que ainda participam dos sofrimentos de Cristo.
Em segundo lugar, ele pode significar o gozo eterno, que está prefigurado neste sacramento. Deste modo, estão simbolizados pela parte colocada no cálice aqueles cujos corpos já estão na plena bem-aventurança”
(Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad9).

“A ressurreição realizada no terceiro dia. É simbolizada por três cruzes traçadas com as palavras: “Pax domini sit semper vobiscum” (“A paz do Senhor esteja sempre convosco”)” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad3).

III. “Agnus Dei”

O Agnus Dei foi introduzido pelo Papa Sérgio (+ 701) que, oriundo de família síria, conheceu a Liturgia oriental com o seu canto à fração do pão. Assim se explica por que na missa do sábado santo falta o Agnus Dei. Pois nela se guarda o rito antigo sem Agnus Dei. Esta invocação é repetida três vêzes desde o século IX. Na terceira repetição todo o povo pede a paz: dona nobis pacem, na missa solene.

Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R. Miserére nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R. Miserére nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R. Dona nobis pacem


Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
R. Tende misericórdia de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
R. Tende misericórdia de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
R. Dai-nos a paz.


IV. Ósculo e Oração da Paz

De novo o celebrante pede a paz na oração: "Domine... pacem relinquo vobis" para toda a Igreja. Na missa solene beija o altar, para indicar que a verdadeira paz tem a sua fonte unicamente em Jesus Cristo. Depois comunica-a ao diácono com as palavras: pax tecum, e êste ao subdiácono e ao clero. Sempre se responde: Et cum spiritu tuo, porque é o espírito do celebrante, que passa adiante.

A paz antigamente se dava aos fiéis no principio da missa. Mas foi transferida para antes da comunhão como uma excelente preparação para ela. Nas missas de réquie a paz não se dá, porquanto neste caso a paz e a graça de Deus se aplicam em primeiro lugar às almas do purgatório,

Dómine Jesu Christe, qui dixísti Apóstolis tuis: Pacem relínquo vobis, pacem meam do vobis: ne respícias peccáta mea, sed fidem Ecclésiæ tua; eámque secúndum voluntátem tuam pacificáre et coadunáre dignéris: qui vivis et regnas Deus per ómnia sæcula sæculórum. Amen.

Senhor Jesus Cristo, que dissestes aos vossos Apóstolos: "Deixo-Vos a paz, dou-vos a minha paz", não olheis para os meus pecados, mas para a fé da vossa Igreja; dignai-Vos, como é desejo vosso, dar-lhe a paz e unidade, Vós que, sendo Deus, viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Ámen.


V. Orações para a Comunhão

As duas orações: Domine Jesu Christe Fili Dei, e Perceptio são a preparação pessoal do celebrante, em uso desde o século IX, introduzidas por devoção particular. Na primeira o celebrante pede perdão dos pecados e perseverança até à morte; na segunda a graça de ser preservado da comunhão sacrílega e a graça de receber os frutos da comunhão digna.

O celebrante adora Nosso Senhor sacramentado e, cheio de confiança, diz: "Receberei o pão do céu e invocarei o nome do Senhor", repetindo três vêzes as palavras do centurião: Domine, non sum dignus. Depois dá a si mesmo a bênção eucarística com as palavras: Corpus Domini N. I. C.I custodiat, e comunga. Agradece intimamente a graça recebida: quid retribuam Domino. Lembrando-se da ordem do Senhor: "fazei isto em memória de mim", continua dando a prova de amor: Calicem salutaris accipiam. Depois dá a si mesmo a bênção eucarística com as palavras: Sanguis Domini N. J. C. custodiat, e comunga reverentemente.

O momento mais solene da missa em geral é a vinda do Senhor para o altar na consagração. O momento mais solene para uma pessoa particular é o da comunhão. O Senhor, que desceu do trono celestial, fica no trono do altar só poucos minutos, para entrar depois no coração dos seus escolhidos e ai colocar para sempre o seu trono de misericórdia.

A comunhão espiritual dá ao menos uma parte dos frutos da comunhão sacramental. No rito galicano, depois do Pater noster dava-se a bênção aos que não comungavam. Estes também recebiam as eulogias, pães bentos não consagrados, os quais ainda se usam nos ritos orientais e em algumas regiões do Ocidente (certos lugares da Suíça e na diocese de Lião).

Dómine Jesu Christe, Fili Dei vivi, qui ex voluntáte Patris, cooperánte Spíritu Sancto, per mortem tuam mundum vivificásti: líbera me per hoc sacrosánctum Corpus et Sánguinem tuum ab ómnibus iniquitátibus meis, et univérsis malis: et fac me tuis semper inhærére mandátis, et a te numquam separári permíttas: Qui cum eódem Deo Patre et Spíritu Sancto vivis et regnas Deus in saécula sæculórum. Amen.

Percéptio Córporis tui, Dómine Jesu Christe, quod ego indignus súmere præsúmo, non mihi provéniat in judícium et condemnatiónem: sed pro tua pietáte prosit mihi ad tutaméntum mentis et córporis, et ad medélam percipiéndam: Qui vivis et regnas cum Deo Patre in unitáte Spíritus Sancti Deus, per ómnia saécula sæculórum. Amen.


Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, que, por vontade do Pai e com a cooperação do Espírito Santo, destes com a vossa morte a vida ao mundo, livrai-me, por este vosso sacrossanto Corpo e Sangue, de todas as minhas iniquidades e de todos os males; fazei que eu seja sempre fiel cumpridor dos vossos mandamentos e não permitais que jamais me afaste de Vós, que, com o mesmo Deus Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, pelos séculos dos séculos. Ámen.

Que a comunhão do vosso Corpo e Sangue, Senhor Jesus Cristo, que eu, embora indigno, ouso receber, não seja para juízo e condenação minha, mas antes, pela vossa misericórdia, me sirva de proteção e remédio para a alma e para o corpo, Vós que, sendo Deus, viveis e reinais com Deus Pai na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Ámen.

”Como na vida corporal, após ter o homem nascido e estar fortificado, ele tem necessidade dos alimentos para sustentar-se e conservar-se, assim também na vida espiritual, após ter recebido a força, lhe é necessário o alimento espiritual, que é o Corpo de Cristo. Lê-se em São João: “Se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós” (Jo VI, 54)” (Santo Tomás de Aquino, “Expositio super Symbolo Apostolorum”)

“Os principais efeitos que a Santíssima Eucaristia produz em quem a recebe dignamente são estes: conserva e aumenta a vida da alma, que é a graça, assim como o alimento material sustenta e aumenta a vida do corpo; perdoa os pecados veniais e preserva dos mortais; produz consolação espiritual.

A Santíssima Eucaristia produz em nós outros três efeitos, a saber: enfraquece as nossas paixões, e em especial amortece em nós o fogo da concupiscência; aumenta em nós o fervor e ajuda-nos a proceder em conformidade com os desejos de Jesus Cristo; dá-nos um penhor da glória futura e da ressurreição do nosso corpo.

Para fazer uma comunhão bem feita, são necessárias três coisas: estar em estado de graça; estar em jejum desde uma hora antes da comunhão; saber o que se vai receber e aproximar-se da sagrada comunhão com devoção (...)

(...) No ato de receber a sagrada comunhão, devemos estar de joelhos, com a cabeça medianamente levantada, com os olhos modestos e voltados para a sagrada Hóstia, com a boca suficientemente aberta e com a língua um pouco estendida sobre o lábio inferior. Senhoras e meninas devem estar com a cabeça coberta”
(Catecismo Maior de São Pio X).

Panem cæléstem accípiam, et nomen Dómini invocábo.

(3x) Dómine, non sum dignus, ut intres sub tectum meum: sed tantum dic verbo, et sanábitur ánima mea.

Corpus Dómini nostri Jesu Christi custódiat ánimam meam in vitam ætérnam. Amen.

Quid retríbuam Dómino pro ómnibus quæ retríbuit mihi? Cálicem salutáris accípiam, et nomen Dómini invocábo. Laudans invocábo Dóminum, et ab inimícis meis salvus ero.

Sanguis Dómini nostri Jesu Christi custódiat ánimam meam in vitam ætérnam. Amen.

Tomarei o pão do céu, e invocarei o nome do Senhor.

(3x) Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada; mas dizei uma só palavra, e minha alma será salva.

O Corpo de nosso Senhor Jesus Cristo guarde a minha alma para a vida eterna. Ámen..

Que hei-de eu retribuir ao Senhor por tudo quanto Ele me concedeu? Tomarei o cálix da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Em louvores invocarei o Senhor, e livre serei dos meus inimigos.

O Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo guarde a minha alma para a vida eterna. Ámen.

VII. Abluções

A fé nos ensina que Jesus Cristo está presente na partícula mais insignificante do pão e vinho consagrados. Por isso a Igreja prescreve a purificação do corporal, da patena e do cálix. O cálix e a boca do celebrante purificam-se com vinho, os dedos com vinho e água. Durante estas cerimônias recitam-se as orações: Quod ore sumpsimus, e Corpus tuum Domine quod sumpsi; estas orações outrora eram privadas. A forma no plural Sumpsimus explica-se pelo fato de ser esta oração a póscomunhão da quinta-feira na semana da paixão. Também Corpus tuum foi uma póscomunhão de origem galicana. O rito da ablução formou-se aos poucos na idade média.

Quod ore súmpsimus, Dómine, pura mente capiámus: et de múnere temporáli fiat nobis remédium sempitérnum.

Corpus tuum, Dómine, quod sumpsi, et Sanguis, quem potávi, adhaéreat viscéribus meis: et praésta; ut in me non remáneat scélerum mácula, quem pura et sancta refecérunt sacramenta: Qui vivis et regnas in saécula sæculórum. Amen.


Com pureza de alma recebamos, Senhor, o que em nossa boca tomamos. Este dom, que nos foi concedido no tempo, remédio nos seja para a eternidade.

O vosso Corpo, Senhor, que eu comi e o vosso Sangue que eu bebi se unam às minhas entranhas; refeito que fui com estes puros e santos sacramentos, fazei que em mim não fique mancha alguma de pecado, Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Ámen.


“O vinho, em razão de sua umidade, é capaz de lavar. Por isso, o sacerdote o toma depois da comunhão deste sacramento para lavar a boca a fim de que aí não fique alguma partícula. Isso é por causa do respeito devido ao sacramento (...) pela mesma razão derrama um pouco de vinho sobre os dedos que tocaram o Corpo de Cristo” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.83, a.5 ad10).

VII. “Communio”

Depois de o celebrante ter tomado o SS. Sangue, o coro entoa a comunhão (= antiphona ad Communionem),que é diferente conforme as festas e os tempos eclesiásticos. Lembra esta rubrica (Communio) que durante a comunhão do povo se cantava um salmo inteiro, de preferência o salmo 33: Benedicam Dominum in omni tempore, com a antífona: Gustate et videte quoniam suavis est Dominus. Quando mais tarde somente o celebrante comungava, omitiam-se os versos e cantava-se só a antífona. Na Liturgia romana, só a comunhão da missa de réquie conserva ainda um verso. O celebrante recita a comunhão depois da ablução dos dedos.

*Exemplo de “Communio”, da Missa em honra do Sagrado Coração de Jesus:

“E um dos soldados abriu-Lhe o lado com a lança e logo jorrou água e sangue” (Jo XIX, 34).

“Se alguém tem sede, venha a Mim e beba, aleluia, aleluia” (Jo VII, 37) (Tempo Pascal).


IX. “Post-Communio”

Em todas as Liturgias, depois da comunhão, está prescrita uma oração para agradecer o dom recebido. É a póscomunhão. Verdade é que ela no rito romano raras vezes relativamente contém uma ação de graças formal. Assim a póscomunhão no 3.° domingo da quaresma: A cunctis... reatibus é indicada como secreta da missa do sábado da semana da paixão. Em geral a Igreja pede que os frutos da comunhão ou do s. sacrifício sejam aplicados aos fiéis. Esta instância inclui a gratidão, porquanto só se deseja o que se avalia com sentimentos de gratidão. Em lugar de Post-communio, esta oração tinha no sacramentário gregoriano a denominação: ad complendum: oração final. Nas Liturgias antigas, p.ex., das constituições apostólicas, a ação de graças é muito solene.

Nas férias da quaresma, depois do Postcommunio reza-se a oratio super populum, que tem o caráter de uma última bênção para o povo. O diácono anuncia-a pelo convite: Humiliate capita vestra Deo. Atualmente só está prescrita durante a quaresma. Mas nos livros antigos acha-se em muitos domingos, até em várias festas solenes: natal, epifania, pentecostes. O rito moderno tem a sua origem nas abreviações necessárias e no desenvolvimento da bênção final.

* Exemplo de “Post-Communio”, da Missa em honra do Sagrado Coração de Jesus:

“Que estes sagrados mistérios, Senhor Jesus, nos inflamem no amor divino: o qual nos faça sentir as suavidades do vosso Coração e nos ensine a desprezar a Terra e a amar o Céu. Vós que viveis e reinais (...)”.