14 de março de 2010

Meditações - textos de Santo Tomás de Aquino

A PAIXÃO DE CRISTO NOS ABRIU AS PORTAS DO CÉU
IV Domingo da Quaresma


«Temos confiança de entrar no santuário pelo sangue de Cristo» (Jo 12, 24)


Portas fechadas são um obstáculo a nos impedirem a entrada. Ora, os homens estavam impedidos de entrar no reino celeste por causa do pecado; pois, como diz a Escritura (Is 35, 8), haverá um caminho que se chamará o caminho santo e não passará por ele o impuro. Ora, há duas espécies de pecado que impedem a entrada no reino celeste:

1. Um é comum a toda a natureza humana, e esse é o pecado de nossos primeiros pais, o qual fechou ao homem a entrada do reino celeste. Por isso, como lemos na Escritura (Gn 3, 24), depois do pecado do primeiro homem, pôs Deus um querubim com uma espada de fogo e versátil para guardar o caminho da árvore da vida.

2. Outro é o pecado especial de cada pessoa, cometido por ato próprio de cada um.

Ora, pela Paixão de Cristo fomos liberados, não só do pecado comum de toda a natureza humana, tanto quanto à culpa como quanto ao reato da pena, porque Cristo pagou o preço por nós, mas também dos pecados próprios de cada um de nós, que comungamos com a sua Paixão pela fé, pela caridade e pelos sacramentos da fé. E assim, pela Paixão de Cristo se nos abriram as portas do reino celeste. E tal é o que diz o Apóstolo (Heb 9, 2): Estando Cristo já presente, pontífice dos bens vindouros, pelo seu próprio sangue entrou uma só vez no santuário, havendo achado uma redenção eterna. O mesmo significa a Escritura (Nm 35, 25) onde diz que o homicida ali ficará, i. é na cidade a que se tinha refugiado, até à morte do sumo sacerdote, que foi sagrado com o óleo santo; e morto este, poderia voltar aquele para sua casa.


*


Os santos Patriarcas, tendo praticado obras justas, mereceram a entrada no reino do céu pela fé na Paixão de Cristo, segundo aquilo do Apóstolo (Heb 11, 33): Os Santos pela fé conquistaram reinos, obraram ações de justiça; pela qual também cada um se purificava do pecado, o quanto condizia com a purificação da pessoa própria. Mas a fé ou a justiça de cada um não bastava para remover o impedimento proveniente do reato de toda a natureza humana. Mas esse impedimento foi removido pelo preço do sangue de Cristo. Por onde, antes da Paixão de Cristo, ninguém podia entrar no reino celeste, i. é, alcançando a beatitude eterna, consistente no gozo pleno de Deus.


*


Cristo pela sua Paixão mereceu-nos a entrada no reino celeste e removeu o obstáculo que no-lo impedia. Mas, pela sua ascensão, como que nos introduzia na posse do reino celeste. Por isso a Escritura diz (Mq 2, 13) que aquele que lhes há de abrir o caminho irá adiante deles.

IIIa q. XLIX a. VI


(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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