Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Estamos hoje no 3º Domingo do Advento,
Domingo chamado Gaudete, em razão da primeira palavra do Introito e em
razão da Epístola. Trata-se de uma pequena pausa na penitência do
advento, para antecipar a alegria do nascimento do Salvador. Do roxo se
passa ao rosa, o órgão toca, pode haver flores sobre o altar.
Lembro aos pais que devem explicar para
as crianças o que é o Natal: que é o nascimento de Cristo e não a festa
do Papai Noel ou uma simples troca de presentes nas férias.
Lembro também que devemos procurar, no
advento, fazer uma boa confissão, para nos voltarmos inteiramente para
NSJC. O senhor está próximo, nos diz o Introito, pois o Natal está
próximo. Preparemos em nossa alma uma morada para o Menino Deus.
“Gaudete semper in Domino, iterum dico, gaudete. Alegrai-vos sempre no Senhor. Digo de novo, alegrai-vos.”
A ordem que nos dá hoje a Igreja, tomando as palavras de São Paulo, é essencial. Gaudete semper in Domino.
Alegrai-vos sempre no Senhor. Essa advertência é importantíssima porque
a alegria é indispensável para que possamos perseverar no bem, na
graça. Nós devemos compreender que devemos ser profundamente alegres, se
estamos em estado de graça e nos mantemos, assim, unidos a Deus. Com a
graça santificante em nossas almas, sem o pecado mortal, possuímos o
maior bem que podemos desejar, possuímos o maior bem que existe, que é a
Santíssima Trindade, e não há alegria maior do que possuir o maior bem.
Nossa alegria deve ser profunda e grande se estamos unidos a Deus,
mesmo em meio a todos os males. É claro que essa alegria não significa
estar sempre sorrindo. Não. Nosso Senhor na cruz não sorria, mas estava
profundamente alegre na parte superior de sua alma, pois cumpria a
vontade de Deus e, com todos os seus sofrimentos, oferecia um sacrifício
perfeito à Santíssima Trindade e realizava a nossa redenção. Um
católico deve ser profundamente alegre, sempre, no Senhor.
O Padre Ambrósio de Lombez, em seu livro
“Tratado da Alegria da alma cristã”, enumera os principais meios para
que sejamos alegres no Senhor. Baseado nele, podemos enumerar alguns
desses meios. O primeiro deles é manter-se na justiça, quer dizer, na
prática da virtude. A alma cuja consciência está tranquila e bem regrada
pode ficar continuamente alegre. O segundo meio que podemos enumerar é
ocupar o espírito com aquilo que pode alegrar a nossa alma. Isso não diz
respeito ao que agrada à sensualidade, à vaidade, à ambição ou outra
coisa desordenada. Não, o que devemos considerar aqui é, por exemplo, o
amor de Deus por nós, que se encarnou e veio ao mundo para nos salvar, e
nos salvar sofrendo e morrendo por nós sobre a cruz. Em particular,
nesse tempo do advento, devemos ocupar muitíssimo nosso espírito com a
caridade divina, com o Menino Deus que vem ao mundo para nos salvar. O
terceiro meio para ter essa verdadeira alegria é pedir a Deus tal
alegria. Tudo o que temos de bom, recebemos de Deus. Portanto, também
essa alegria nos vem de Deus e devemos pedi-la, se quisermos possuí-la. O
Padre Lombez nos diz também que essa alegria não é dada aos covardes e
mornos, tíbios. Portanto, buscar amar a Deus sobre todas as coisas com
afinco e servi-lo com prontidão da vontade e generosidade é o quarto
meio necessário para alcançar essa alegria. Para alcançar essa alegria, é
preciso também uma grande confiança em Deus, sabendo que todas as
coisas conspiram para o bem daqueles que amam a Deus, mesmo os
sofrimentos e as provações. Outro meio necessário é extinguir em nós o
apego desordenado aos bens desse mundo. São esses alguns dos meios que o
Padre Ambrósio de Lombez enumera e explica em seu livro e que são
indispensáveis para a alegria da alma. Se pudéssemos resumir, podemos
dizer que a alegria da alma nada mais é que um fruto da santidade, isto
é, fruto da união profunda com Deus, fruto da conformidade plena da
nossa vontade com a vontade de Deus.
Essa verdadeira alegria, essa alegria de
praticar a virtude, de amar a Deus, de servi-lo com prontidão é um
grande tesouro, necessário para perseverarmos até o fim e alcançarmos a
alegria plena no céu. Poderíamos, porém, acrescentar, aos meios que o
Padre Lombez enumera, a liturgia tradicional. Ela é um tesouro que nos
conduz à verdadeira alegria e que deve nos alegrar. Não é por acaso que
na Missa tradicional fala-se três vezes do “Deus que alegra a nossa
juventude”. A nossa juventude que se alegra em Deus é o homem novo,
gerado pela graça, pelo abandono do pecado, pela prática das virtudes.
Portanto, a Missa Tradicional está distante de ser uma liturgia triste.
Ela é, ao contrário, uma liturgia perfeitamente alegre. Ela é alegre
porque nos transmite plenamente a verdade ensinada por Cristo. Ela é
alegre porque pelos ritos e solenidade sóbria, nos deixa manifesta a
majestade divina e sua onipotência, nos fazendo ter grande confiança
nEle. Ela é alegre porque de modo claríssimo renova o sacrifício de
Cristo na Cruz, aplicando as graças que Ele mereceu no Calvário, nos
fazendo, assim, ver a bondade divina. Ela é alegre porque nos converte
inteiramente a Deus, desde a posição do padre no altar, até o modo de os
fiéis comungarem, passando pelo latim e pelo silêncio. Ela é alegre
porque, por seus ritos abundantes e orações perfeitas, alcança de Deus
inúmeras graças que nos dispõem a receber devidamente os frutos da Santa
Missa. Ela é alegre porque nos conduz ao desapego dos bens terrenos e
ao desapego de nossa vontade própria, ao nos centrar inteiramente em
Deus, esquecidos de nós e do mundo. Ela é alegre porque nos ensina a
rezar bem, como dissemos quando tratamos do silêncio em outro sermão. E
quem reza bem se salva. Ela é alegre porque coloca Deus e nós homens nos
nossos devidos lugares. Ele, no centro, com sua soberana majestade, com
sua onipotência, com todas as suas perfeições, com sua misericórdia e
justiça, com sua bondade infinita. Nós, como pobres pecadores, que
devemos adorar a Deus, que devemos agradecer-lhe por todos as graças que
recebemos, que devemos pedir perdão por nossos pecados, que devemos
implorar as graças que precisamos para nos salvar. Ela é alegre porque
ontem, hoje e sempre, nos conduz à santidade com toda segurança. Que
grande meio é a liturgia tradicional para sermos felizes sempre no
Senhor.
Com muita frequência, todavia, aqueles
que buscam com seriedade amar a Deus sobre todas as coisas, e buscam a
salvação da própria alma e a salvação do próximo são tentados por uma má
tristeza. A má tristeza pode ser de dois tipos. A primeira delas é uma
má tristeza em si mesma, quer dizer, quando nos entristecemos por algo
que na verdade é um bem. Um exemplo dessa má tristeza seria
entristecer-se por ter de vir à Missa no domingo, ou entristecer-se por
não poder dizer uma grosseria. A segunda má tristeza, a que atinge
principalmente os bons, é uma tristeza que tem razão de ser, mas que tem
consequências ruins. Vemos, constantemente, os bons católicos tristes
pelas ofensas que se cometem contra Deus, pelas infidelidades dos homens
de todas as posições, pelo estado da Igreja e da sociedade, pelo
desprezo com o que há de mais sagrado e pelo desprezo para com a lei
natural. De fato, como não se entristecer diante de uma sociedade que
sacrifica os filhos, pelo aborto, no altar da comodidade e do prazer e
que se alegra em aprovar publicamente pecados que clamam aos céus por
vingança, como o homossexualismo? Há motivo para que haja tristeza, não
tem dúvidas. Todavia, será uma tristeza ruim, se, como consequência, ela
nos leva ao abatimento da alma, se ela nos faz perder a confiança em
Deus e nos faz perder o desejo de rezar. Ela será uma tristeza ruim, se
ela nos faz buscar divertimentos exteriores ilícitos ou se nos faz
buscar, mais do que o devido, divertimentos lícitos. Essa tristeza ruim
nos impede muitas vezes de fazer o bem que podemos e devemos fazer aqui e
agora, sob pretexto de que a situação da Igreja está muito difícil, ou
com a desculpa de que já não se pode fazer nada ou porque, às vezes,
aqueles que mais deveriam nos ajudar, infelizmente, atrapalham. Essa má
tristeza é, lastimavelmente, bastante comum, mesmo entre bons católicos.
Ela é uma praga. Como nos diz a Sagrada Escritura (Eclesiástico 30, 24 e
25): Fixa o teu coração na santidade do mesmo Deus e afasta para longe
de ti a tristeza, pois a tristeza matou muitos e nela não tem utilidade.
A tristeza, dominando muitas almas, matou-as espiritualmente,
paralisando-as, levando-as ao desencorajamento, ao desespero. É preciso
afastar com toda força para longe de nós essa tristeza. Diante dos
verdadeiros males, devemos reagir com uma tristeza cristã, se assim
podemos chamá-la: uma tristeza que nos leva à oração e ao fervor no
serviço de Deus, que nos leva a buscar a união profunda com Deus, onde
está a nossa verdadeira consolação, que não é uma consolação sensível.
Essa boa tristeza não nos impede de fazer o bem que podemos e devemos
fazer aqui e agora na nossa escala. Ao contrário, ela nos conduz a
praticar esse bem com intensidade. A boa tristeza sabe tirar dos males
um bem, sempre. Essa boa tristeza é motivo de alegria no fundo, pois ao
nos fazer progredir na união com Deus e na prática da virtude, nos leva à
alegria. Ela nos fixa em Deus.
Portanto, caros católicos, alegremo-nos
sempre no Senhor. Afastemos para longe de nós a tristeza que nos tira as
forças e nos conduz à morte espiritual. Devemos servir a Deus com
alegria (Salmo 99, 2) e devemos nos rejubilar no Senhor (Salmo 99, 1),
como nos diz a Sagrada Escritura. Deus alegrará a juventude da nossa
alma, se aplicarmos os meios de que falamos. Deus não nos quer sorrindo o
tempo todo, mas Ele quer que sejamos profundamente alegres, de uma
alegria e entusiasmo espirituais. O demônio, por sua vez, quer nos fazer
acreditar e quer que o mundo acredite que ser católico é algo triste e
melancólico, pois o católico renuncia a vários bens desse mundo. Um
católico não aproveita a vida, se diz. Que grande ilusão o demônio e o
mundo nos apresentam. O católico abandona os bens aparentes desse mundo
para possuir o verdadeiro bem, que é a Santíssima Trindade. Um católico
aproveita mais do que ninguém a vida e a aproveita muito bem, juntando
tesouros eternos. Alegrai-vos sempre no Senhor. Digo de novo,
alegrai-vos.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.