11 de dezembro de 2013

Sermão Para a Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora – Padre Daniel Pinheiro IBP.

[Sermão] A Imaculada Conceição de Nossa Senhora: o Espelho de Justiça



Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…

Hoje é a Festa da Imaculada Conceição e o 2º Domingo do Advento, do qual fazemos memória na Santa Missa.
Peço as orações pelos dois padres e dois diáconos do IBP ordenados ontem, para que exerçam o ministério segundo o Sagrado Coração de Jesus e que seja fecundo, baseado exclusivamente na liturgia tradicional conforme os estatutos do IBP.
Lembro que o Advento é tempo de penitência, penitência alegre, mas penitência e mortificação. É tempo, em particular de recorrermos ao sacramento da penitência, de fazermos uma boa confissão para nos prepararmos para o Natal do Menino Deus.

“Sois inteiramente formosa, ó Maria, e a mácula do pecado original não está em vós.”
A Sagrada Escritura nos diz que ao considerarmos as criaturas, podemos ter uma ideia do que é o criador. Conhecendo as criaturas nos é possível conhecer as perfeições divinas. Não conhecemos Deus, pelas criaturas, tão perfeitamente quanto O conhecemos pela Revelação nem com a segurança que O conhecemos com a Revelação, mas conhecemos. Isso é claro, pois o efeito sempre reflete a causa, de uma maneira mais ou menos perfeita. E a causa sempre é mais perfeita do que o efeito. Portanto, vendo as perfeições das criaturas, podemos ter uma ideia, ainda que pálida das perfeições infinitas do criador. Assim, a Sagrada Escritura diz, por exemplo, no Salmo (18, 2): Os céus publicam a glória de Deus. E São Paulo diz (aos Romanos 1, 20) que, desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus se tornam visíveis à nossa inteligência por meio de suas obras. Diariamente na Missa se diz no Sanctus: os céus e a terra estão cheios de vossa glória, isto é, os céus e a terra manifestam a glória de Deus, os atributos divinos e as perfeições divinas. As criaturas, se as compreendemos bem, nos auxiliam a compreender as perfeições divinas. A imensidão do céu, por exemplo, nos faz compreender a imensidão de Deus, infinito. A inteligência do homem nos faz compreender que Deus é a inteligência perfeita. Portanto, as criaturas nos ajudam a conhecer melhor Deus, para podermos servi-lo melhor.
Na Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, é colocada diante de nós a obra-prima do criador, a obra prima da Santíssima Trindade, que é Maria, Mãe de Deus, concebida sem pecado. Assim, ao considerarmos nossa querida Mãe, veremos claramente as perfeições divinas, pois o Senhor fez nela grandes coisas, maravilhas, como ela mesma diz no Magnificat, quando da visita a Santa Isabel. Nossa Senhora é um reflexo das perfeições divinas, das perfeições de NSJC, homem e Deus. Essa obra-prima da criação, refletindo as perfeições divinas, é chamada pela Igreja, na Ladainha de Nossa Senhora, de Espelho de Justiça. Nossa Senhora é um espelho de justiça, ela reflete a justiça divina. Mas aqui a justiça não deve ser entendida simplesmente como a virtude particular que nos faz dar a cada um o que lhe é devido. Não. Justiça aqui deve ser entendida como santidade, como perfeição. Nossa Senhora, por sua imaculada conceição é o Espelho de Justiça.
Como sabemos, o dogma da Imaculada Conceição, definido pelo Papa Pio IX, em 1854, como verdade de fé revelada por Deus e que deve ser crida por todos os fiéis, afirma que Maria Santíssima foi preservada imune desde o momento de sua concepção de toda mancha do pecado original por graça e privilégio de Deus onipotente em virtude dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano. Nossa Senhora também é redimida, mas de uma maneira peculiar, não sendo perdoada do pecado, mas sendo inteiramente preservada dele. Nossa Senhora foi redimida de uma maneira conveniente à Mãe de Deus. A Imaculada Conceição é, portanto, a ausência do pecado original e de suas consequências morais. A Mãe de Deus não tinha também as feridas do pecado original, que são a inclinação para o pecado, para o erro, e a revolta das paixões, rebeldes à razão e à vontade. Em Nossa Senhora, tudo estava perfeitamente ordenado, sem a menor sombra do pecado desde o momento de sua concepção. Ela foi concebida sem mácula. As paixões estavam submetidas à razão iluminada pela fé e à vontade inflamada pela caridade. A razão e a vontade, por sua vez, estavam perfeitamente submissas a Deus. Desde o primeiro instante de sua concepção, Nossa Senhora estava em amizade com Deus e em total inimizade com o pecado. Nossa Senhora nunca esteve sobre o domínio do pecado ou do demônio, pois, entre outras razões, isso seria uma desonra para seu Filho, já que a desonra dos pais reflete na honra dos filhos.
A imaculada conceição é, negativamente, a ausência do pecado original e de todas as suas consequências morais. Porém, a imaculada conceição significa, positivamente, que Nossa Senhora foi concebida em graça, em união profunda com Deus. E essa união com Deus, desde o início da concepção de Nossa Senhora, era maior que a graça no céu de todos os anjos e santos juntos, pois essa graça de Nossa Senhora na sua concepção era já uma preparação para a sua futura maternidade divina e a preparação, ainda que longínqua, para ser Mãe de Deus exige uma graça proporcional a essa sublime função. Deus é sábio, faz tudo com proporção, Ele faz tudo com medida, quantidade e peso (Sabedoria 11, 20). Portanto, no momento de sua concepção, Nossa Senhora era mais santa que todos os anjos e santos juntos no céu. E é evidente que Nossa Senhora não ficou estagnada na graça, pois, fidelíssima às inspirações divinas, fazia cada ato com maior caridade, de forma que avançava na graça em movimento acelerado até o final de sua vida na terra. Se já na sua imaculada conceição sua graça era praticamente imensurável, o que dizer do grau de santidade de Maria Santíssima no final de sua vida? Sim, Nossa Senhora sempre foi o espelho de justiça, o espelho da santidade divina e de forma cada vez mais perfeita durante toda a sua vida. Para se ter uma ideia dessas graças, os santos dizem que Deus reuniu as águas e as chamou de mar e que reuniu as suas graças e as chamou de Maria.
Portanto, Nossa Senhora reflete a santidade divina, isto é, a sua separação total do pecado e a sua bondade. Nossa Senhora é o reflexo da caridade divina, a ponto de consentir perfeitamente no sacrifício de seu Filho para nos salvar. Ela quer de modo intenso o nosso bem, que é a salvação, e age incessantemente para tanto. Nossa Senhora possuía também quando estava na terra uma fé perfeita naquilo que Deus havia falado, fundada na inerrância e na veracidade divinas. Ela possuía também uma esperança perfeita, fundada na bondade e onipotência divinas. Ela possui uma grande pureza de intenção, tendo como fim em todas as suas ações a glória de Deus, isto é, que ele seja mais conhecido, amado e servido. Nossa Senhora possui a prudência em grau perfeito, escolhendo os meios mais adequados para servir a Deus e ajudar os homens, e com prontidão para executar os desígnios divinos.  A justiça de Nossa Senhora também é perfeitíssima, dando a cada um o que lhe é devido. Em primeiro lugar, dando a Deus ao que lhe é devido, mas também aos seus pais e superiores civis e religiosos. Nossa Senhora sempre obedeceu prontamente e cumpriu seus deveres de piedade filial. Nossa Senhora também foi obediente a São José, seu castíssimo esposo. Nossa Senhora mostrou também a virtude de gratidão, reconhecendo em Deus a causa de tantos bens. Nossa Senhora exerceu a virtude da fortaleza de forma exímia, suportando um martírio praticamente contínuo desde o momento da anunciação do anjo, com a perspectiva da paixão e morte de seu Filho. E que magnanimidade da Mãe de Deus, que grandeza de alma da Mãe de Deus, por exemplo, ao perdoar os carrascos de seu divino Filho. Quanta paciência e longanimidade, suportando tão heroicamente as grandes privações e sofrimentos a que Deus quis submetê-la longamente nessa vida. E que perseverança perfeita, permanecendo firme no cumprimento exato, generoso e alegre da vontade de Deus a cada instante. Finalmente, Nossa Senhora exerceu de modo perfeito a virtude da temperança, com sua moderação perfeita no comer e no beber, com sua castidade e sua virgindade perpétua, com sua mansidão, com sua humildade, reconhecendo-se uma pobre serva do Senhor, apesar de ser Mãe de Deus, pois sabe que diante de Deus ela é como um nada e reconhece que recebeu tudo dEle. Com todas as virtudes, Nossa Senhora é a obra-prima da criação. Ela é a pura criatura mais perfeita que existe, acima dos anjos. Ela é o mais perfeito reflexo das perfeições divinas e das perfeições de Nosso Senhor, homem e Deus. Ela é um reflexo perfeito, ainda que pálido, das perfeições divinas e de Nosso Senhor.
Nossa Senhora é inteiramente formosa, bela. Para que uma coisa seja bela, é preciso que seja íntegra, sem partes que faltem, é preciso que seja harmoniosa, proporcional. É preciso que essa integridade e essa proporção sejam claras, manifestas, conhecíveis facilmente. Em Nossa Senhora não falta nada, ela tem todas as virtudes que deve ter e não tem nenhum pecado. E ela possui essas virtudes em grau impressionante, proporcional à sua missão de Mãe de Deus. Ela não possui nenhum pecado, que introduziria a falta da graça e a desordem em sua alma e, portanto, introduziria a feiura, uma mancha. E em Nossa Senhora, a integridade da graça e das virtudes e a proporção delas com a missão de mãe de Deus aparecem com toda clareza, tanto em sua vida terrena quanto no céu. Tota pulchra es, Maria. Maria é inteiramente formosa. Quão bela é a alma de Maria Santíssima. Se a pudéssemos ver, morreríamos diante de tão grande abismo de beleza e de virtudes. O que é belo agrada à inteligência e à vontade. Tanta beleza em Nossa Senhora é extremamente agradável à Santíssima Trindade, ao ponto que nada pode ser negado a Maria.
Quão grande deve ser a nossa admiração por Maria Santíssima e quão grande deve ser a nossa confiança em ter uma Mãe com tantas virtudes, em ter uma Mãe Imaculada. Mas não basta a admiração e a confiança. Nós devemos procurar nos espelhar no Espelho de Justiça, devemos procurar imitar Nossa Senhora em suas virtudes, em sua fidelidade à graça, em sua caridade cada vez mais inflamada, em sua fé inabalável, em sua esperança inamovível. Devemos imitá-la agora nesse tempo de paixão da Igreja, imitá-la na sua fé e esperança, que guardou inabaladas durante a Paixão de Cristo. É Maria o caminho mais seguro e rápido para imitarmos Nosso Senhor Jesus Cristo. Alegremo-nos com a Imaculada Conceição de Maria. Ela é o primeiro raio de sol que desponta no horizonte para dissipar as trevas do pecado. É o primeiro raio de sol que anuncia o sol de justiça, o Menino Deus que virá ao mundo para nos salvar. “Sois inteiramente formosa, ó Maria, e a mancha do pecado original não está em vós.” Procuremos espelhar em nossa alma o Espelho de justiça, procuremos espelhar em nossa alma a beleza da alma de Nossa Senhora.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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