[Sermão] A Imaculada Conceição de Nossa Senhora: o Espelho de Justiça
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Hoje é a Festa da Imaculada Conceição e o 2º Domingo do Advento, do qual fazemos memória na Santa Missa.
Peço as orações pelos dois padres e dois
diáconos do IBP ordenados ontem, para que exerçam o ministério segundo o
Sagrado Coração de Jesus e que seja fecundo, baseado exclusivamente na
liturgia tradicional conforme os estatutos do IBP.
Lembro que o Advento é tempo de
penitência, penitência alegre, mas penitência e mortificação. É tempo,
em particular de recorrermos ao sacramento da penitência, de fazermos
uma boa confissão para nos prepararmos para o Natal do Menino Deus.
“Sois inteiramente formosa, ó Maria, e a mácula do pecado original não está em vós.”
A Sagrada Escritura nos diz que ao
considerarmos as criaturas, podemos ter uma ideia do que é o criador.
Conhecendo as criaturas nos é possível conhecer as perfeições divinas.
Não conhecemos Deus, pelas criaturas, tão perfeitamente quanto O
conhecemos pela Revelação nem com a segurança que O conhecemos com a
Revelação, mas conhecemos. Isso é claro, pois o efeito sempre reflete a
causa, de uma maneira mais ou menos perfeita. E a causa sempre é mais
perfeita do que o efeito. Portanto, vendo as perfeições das criaturas,
podemos ter uma ideia, ainda que pálida das perfeições infinitas do
criador. Assim, a Sagrada Escritura diz, por exemplo, no Salmo (18, 2):
Os céus publicam a glória de Deus. E São Paulo diz (aos Romanos 1, 20)
que, desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus se
tornam visíveis à nossa inteligência por meio de suas obras. Diariamente
na Missa se diz no Sanctus: os céus e a terra estão cheios de
vossa glória, isto é, os céus e a terra manifestam a glória de Deus, os
atributos divinos e as perfeições divinas. As criaturas, se as
compreendemos bem, nos auxiliam a compreender as perfeições divinas. A
imensidão do céu, por exemplo, nos faz compreender a imensidão de Deus,
infinito. A inteligência do homem nos faz compreender que Deus é a
inteligência perfeita. Portanto, as criaturas nos ajudam a conhecer
melhor Deus, para podermos servi-lo melhor.
Na Festa da Imaculada Conceição de Nossa
Senhora, é colocada diante de nós a obra-prima do criador, a obra prima
da Santíssima Trindade, que é Maria, Mãe de Deus, concebida sem pecado.
Assim, ao considerarmos nossa querida Mãe, veremos claramente as
perfeições divinas, pois o Senhor fez nela grandes coisas, maravilhas,
como ela mesma diz no Magnificat, quando da visita a Santa Isabel. Nossa
Senhora é um reflexo das perfeições divinas, das perfeições de NSJC,
homem e Deus. Essa obra-prima da criação, refletindo as perfeições
divinas, é chamada pela Igreja, na Ladainha de Nossa Senhora, de Espelho
de Justiça. Nossa Senhora é um espelho de justiça, ela reflete a
justiça divina. Mas aqui a justiça não deve ser entendida simplesmente
como a virtude particular que nos faz dar a cada um o que lhe é devido.
Não. Justiça aqui deve ser entendida como santidade, como perfeição.
Nossa Senhora, por sua imaculada conceição é o Espelho de Justiça.
Como sabemos, o dogma da Imaculada
Conceição, definido pelo Papa Pio IX, em 1854, como verdade de fé
revelada por Deus e que deve ser crida por todos os fiéis, afirma que
Maria Santíssima foi preservada imune desde o momento de sua concepção
de toda mancha do pecado original por graça e privilégio de Deus
onipotente em virtude dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero
humano. Nossa Senhora também é redimida, mas de uma maneira peculiar,
não sendo perdoada do pecado, mas sendo inteiramente preservada dele.
Nossa Senhora foi redimida de uma maneira conveniente à Mãe de Deus. A
Imaculada Conceição é, portanto, a ausência do pecado original e de suas
consequências morais. A Mãe de Deus não tinha também as feridas do
pecado original, que são a inclinação para o pecado, para o erro, e a
revolta das paixões, rebeldes à razão e à vontade. Em Nossa Senhora,
tudo estava perfeitamente ordenado, sem a menor sombra do pecado desde o
momento de sua concepção. Ela foi concebida sem mácula. As paixões
estavam submetidas à razão iluminada pela fé e à vontade inflamada pela
caridade. A razão e a vontade, por sua vez, estavam perfeitamente
submissas a Deus. Desde o primeiro instante de sua concepção, Nossa
Senhora estava em amizade com Deus e em total inimizade com o pecado.
Nossa Senhora nunca esteve sobre o domínio do pecado ou do demônio,
pois, entre outras razões, isso seria uma desonra para seu Filho, já que
a desonra dos pais reflete na honra dos filhos.
A imaculada conceição é, negativamente, a
ausência do pecado original e de todas as suas consequências morais.
Porém, a imaculada conceição significa, positivamente, que Nossa Senhora
foi concebida em graça, em união profunda com Deus. E essa união com
Deus, desde o início da concepção de Nossa Senhora, era maior que a
graça no céu de todos os anjos e santos juntos, pois essa graça de Nossa
Senhora na sua concepção era já uma preparação para a sua futura
maternidade divina e a preparação, ainda que longínqua, para ser Mãe de
Deus exige uma graça proporcional a essa sublime função. Deus é sábio,
faz tudo com proporção, Ele faz tudo com medida, quantidade e peso
(Sabedoria 11, 20). Portanto, no momento de sua concepção, Nossa Senhora
era mais santa que todos os anjos e santos juntos no céu. E é evidente
que Nossa Senhora não ficou estagnada na graça, pois, fidelíssima às
inspirações divinas, fazia cada ato com maior caridade, de forma que
avançava na graça em movimento acelerado até o final de sua vida na
terra. Se já na sua imaculada conceição sua graça era praticamente
imensurável, o que dizer do grau de santidade de Maria Santíssima no
final de sua vida? Sim, Nossa Senhora sempre foi o espelho de justiça, o
espelho da santidade divina e de forma cada vez mais perfeita durante
toda a sua vida. Para se ter uma ideia dessas graças, os santos dizem
que Deus reuniu as águas e as chamou de mar e que reuniu as suas graças e
as chamou de Maria.
Portanto, Nossa Senhora reflete a
santidade divina, isto é, a sua separação total do pecado e a sua
bondade. Nossa Senhora é o reflexo da caridade divina, a ponto de
consentir perfeitamente no sacrifício de seu Filho para nos salvar. Ela
quer de modo intenso o nosso bem, que é a salvação, e age
incessantemente para tanto. Nossa Senhora possuía também quando estava
na terra uma fé perfeita naquilo que Deus havia falado, fundada na
inerrância e na veracidade divinas. Ela possuía também uma esperança
perfeita, fundada na bondade e onipotência divinas. Ela possui uma
grande pureza de intenção, tendo como fim em todas as suas ações a
glória de Deus, isto é, que ele seja mais conhecido, amado e servido.
Nossa Senhora possui a prudência em grau perfeito, escolhendo os meios
mais adequados para servir a Deus e ajudar os homens, e com prontidão
para executar os desígnios divinos. A justiça de Nossa Senhora também é
perfeitíssima, dando a cada um o que lhe é devido. Em primeiro lugar,
dando a Deus ao que lhe é devido, mas também aos seus pais e superiores
civis e religiosos. Nossa Senhora sempre obedeceu prontamente e cumpriu
seus deveres de piedade filial. Nossa Senhora também foi obediente a São
José, seu castíssimo esposo. Nossa Senhora mostrou também a virtude de
gratidão, reconhecendo em Deus a causa de tantos bens. Nossa Senhora
exerceu a virtude da fortaleza de forma exímia, suportando um martírio
praticamente contínuo desde o momento da anunciação do anjo, com a
perspectiva da paixão e morte de seu Filho. E que magnanimidade da Mãe
de Deus, que grandeza de alma da Mãe de Deus, por exemplo, ao perdoar os
carrascos de seu divino Filho. Quanta paciência e longanimidade,
suportando tão heroicamente as grandes privações e sofrimentos a que
Deus quis submetê-la longamente nessa vida. E que perseverança perfeita,
permanecendo firme no cumprimento exato, generoso e alegre da vontade
de Deus a cada instante. Finalmente, Nossa Senhora exerceu de modo
perfeito a virtude da temperança, com sua moderação perfeita no comer e
no beber, com sua castidade e sua virgindade perpétua, com sua mansidão,
com sua humildade, reconhecendo-se uma pobre serva do Senhor, apesar de
ser Mãe de Deus, pois sabe que diante de Deus ela é como um nada e
reconhece que recebeu tudo dEle. Com todas as virtudes, Nossa Senhora é a
obra-prima da criação. Ela é a pura criatura mais perfeita que existe,
acima dos anjos. Ela é o mais perfeito reflexo das perfeições divinas e
das perfeições de Nosso Senhor, homem e Deus. Ela é um reflexo perfeito,
ainda que pálido, das perfeições divinas e de Nosso Senhor.
Nossa Senhora é inteiramente formosa,
bela. Para que uma coisa seja bela, é preciso que seja íntegra, sem
partes que faltem, é preciso que seja harmoniosa, proporcional. É
preciso que essa integridade e essa proporção sejam claras, manifestas,
conhecíveis facilmente. Em Nossa Senhora não falta nada, ela tem todas
as virtudes que deve ter e não tem nenhum pecado. E ela possui essas
virtudes em grau impressionante, proporcional à sua missão de Mãe de
Deus. Ela não possui nenhum pecado, que introduziria a falta da graça e a
desordem em sua alma e, portanto, introduziria a feiura, uma mancha. E
em Nossa Senhora, a integridade da graça e das virtudes e a proporção
delas com a missão de mãe de Deus aparecem com toda clareza, tanto em
sua vida terrena quanto no céu. Tota pulchra es, Maria. Maria é
inteiramente formosa. Quão bela é a alma de Maria Santíssima. Se a
pudéssemos ver, morreríamos diante de tão grande abismo de beleza e de
virtudes. O que é belo agrada à inteligência e à vontade. Tanta beleza
em Nossa Senhora é extremamente agradável à Santíssima Trindade, ao
ponto que nada pode ser negado a Maria.
Quão grande deve ser a nossa admiração
por Maria Santíssima e quão grande deve ser a nossa confiança em ter uma
Mãe com tantas virtudes, em ter uma Mãe Imaculada. Mas não basta a
admiração e a confiança. Nós devemos procurar nos espelhar no Espelho de
Justiça, devemos procurar imitar Nossa Senhora em suas virtudes, em sua
fidelidade à graça, em sua caridade cada vez mais inflamada, em sua fé
inabalável, em sua esperança inamovível. Devemos imitá-la agora nesse
tempo de paixão da Igreja, imitá-la na sua fé e esperança, que guardou
inabaladas durante a Paixão de Cristo. É Maria o caminho mais seguro e
rápido para imitarmos Nosso Senhor Jesus Cristo. Alegremo-nos com a
Imaculada Conceição de Maria. Ela é o primeiro raio de sol que desponta
no horizonte para dissipar as trevas do pecado. É o primeiro raio de sol
que anuncia o sol de justiça, o Menino Deus que virá ao mundo para nos
salvar. “Sois inteiramente formosa, ó Maria, e a mancha do pecado
original não está em vós.” Procuremos espelhar em nossa alma o Espelho
de justiça, procuremos espelhar em nossa alma a beleza da alma de Nossa
Senhora.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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