26 de dezembro de 2013

Sermão para o 4º Domingo do Advento – Padre Daniel Pinheiro IBP

[Sermão] Advento: Os Símbolos do Natal do Menino Jesus




Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…

Reforço a grande conveniência de se fazer uma boa confissão nesse tempo do advento em preparação para a festa do Natal. Estarei à disposição após a Missa e no dia 24 a partir das nove e meia da manhã, uma hora antes da Missa, para os que desejam se confessar.
“Vinde, Senhor, e não tardeis, perdoai os crimes de Israel, vosso povo.”
Caros católicos, estamos a três dias do Nascimento de NSJC. A esperança e a verdadeira alegria começam já a encher nossa alma, ao considerarmos que o próprio Deus se fez homem para nos salvar. O desejado das nações, o desejado das colinas eternas, o salvador prometido desde o pecado original de Adão e Eva, o messias esperado durante tantos séculos pelo povo judeu vem ao mundo. O Menino Deus vai nascer no estábulo de Belém. Ele se faz homem, Ele se faz criança, Ele se faz servo, para nos salvar. E o mundo caminha esquecido dEle, mesmo nesses dias de Natal, mesmo no dia em que festejamos a vinda dEle entre nós. Deus vem ao mundo, mostrando todo o seu amor pelos homens. E os homens não o recebem.
O mundo comemora o dia 25 de dezembro sem saber exatamente o porquê. Ele decora suas casas e mesmo os locais públicos com árvores de natal e com luzes sem saber a razão disso. Às vezes, até mesmo o presépio, a cena do nascimento de Cristo, é colocada em locais públicos, mas sem que as pessoas se deem conta do que realmente aconteceu naquela madrugada fria de 25 de dezembro. O jornal de maior circulação em Brasília dá a seguinte explicação para alguns dos símbolos do Natal: (1) árvore de Natal seria simplesmente sinal da vida que surge, sinal de um novo ciclo; (2) as bolas da árvore de natal representariam os frutos de nossas ações durante o ano; (3) os sinos anunciariam a chegada de um novo tempo e as mudanças que vêm com esse novo tempo; (4) as luzes significariam que a alma e as emoções das pessoas estão mais claras ou significariam o despertar de bons sentimentos e boas ações no coração de cada pessoa; (5) o presépio representaria simplesmente a valorização do núcleo familiar e também a simplicidade, por meio do nascimento de Cristo no estábulo; (6) os presentes seriam a manifestação da vontade de se doar aos outros, num gesto de filantropia. Constatamos, pela simples explicação desses símbolos do Natal, o quanto a nossa sociedade está perdida e imersa em um profundo naturalismo, incapaz de compreender as realidades sobrenaturais, ainda que significadas de maneira clara nesses símbolos. O acontecimento mais importante na história da humanidade se encontra reduzido a explicações simplórias, às vezes sem sentido. O nascimento do Menino Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, se encontra diluído num difuso espírito natalino puramente humano, de alegria sem causa e, no fundo, de algo puramente sentimental e irracional.
Os símbolos do Natal, surgidos ao longo da história, nos ajudam, na verdade, a compreender mais profundamente o mistério do nascimento de Cristo, o mistério da redenção, desde o seu início. Assim, (1) a árvore de Natal nos remete às árvores do paraíso terrestre, onde habitavam Adão e Eva quando foram criados. Ela nos remete à árvore da ciência do bem e do mal, da qual nossos primeiros pais estavam proibidos de comer. Ao comerem, enganados pelo demônio, o pai da mentira, introduziram o pecado, a morte, o sofrimento, a concupiscência desordenada. Com o pecado, os homens já não podiam obter a salvação, nem satisfazer pelo pecado, pois a ofensa a Deus foi infinita e nós somos pobres criaturas, portanto, finitas. Precisávamos de um redentor, que pudesse reparar pelo pecado com um ato infinitamente agradável a Deus. Só um homem-Deus poderia fazer isso.   A árvore de Natal nos lembra, assim, o motivo da encarnação de Cristo: o pecado e a consequente necessidade da redenção. Cristo vem ao mundo nos redimir do pecado, satisfazer pelo nosso pecado, alcançar graça de Deus e nos possibilitar a vida eterna. A árvore de Natal nos faz também compreender que Cristo é o fruto da vida eterna, é o alimento da vida eterna, em oposição ao fruto proibido da árvore da ciência do bem e do mal. Ele é o fruto da vida eterna, se somos fiéis à graça que Ele nos dá para acreditar firmemente em tudo o que nos disse e para fazermos a vontade d’Ele em todas as coisas. As (2) bolas da árvore de Natal devem nos lembrar, por um lado, o fruto proibido, que levou nossos primeiros pais ao pecado, mas, por outro, devem nos fazer compreender que Cristo é o fruto que dá a vida eterna. Assim, na Ave Maria, dizemos que Cristo é o bendito fruto do ventre de Nossa Senhora. A árvore de Natal nos lembra também a profecia de Isaías que afirma que o Messias sairá do tronco de Jessé, pai de Davi, e que uma flor brotará da raiz de Jessé. Finalmente, a árvore de Natal nos lembra outra árvore importantíssima que é a Cruz, o madeiro da Cruz. É na Cruz que a redenção se completa, após o nascimento do menino Deus, após sua vida escondida e sua vida pública. A árvore de Natal já nos anuncia a árvore da Cruz, árvore gloriosa que mereceu portar os membros do Deus feito homem. E, na árvore de Natal, vemos, tradicionalmente, no topo, uma estrela, que nada mais é do que a Estrela de Belém, que conduziu os reis Magos ao Menino Deus. Se a estrela está parada, ela nos indica onde está Cristo. A estrela nos diz que aquela árvore, árvore da vida, árvore que nos redime e que nos salva é Cristo.
Os (3) sinos, que são também um símbolo bastante presente no tempo do Advento e do Natal anunciam a alegria da vinda do Salvador, aliado ao canto dos anjos, o Gloria in excelsis Deo. Por isso, na Missa do Galo, os sinos tocam durante todo o Gloria in excelsis Deo da Missa, transbordando de alegria.
As (4) luzes do Natal, que brilham nas noites desse período do ano, são um símbolo manifesto da Luz (com L maiúsculo) que vem ao mundo e que brilha no meio das trevas. As luzes de Natal se veem, sobretudo, à noite, para mostrar que Cristo é a luz do mundo, que apareceu no mundo quando todo o mundo estava imerso nas trevas do pecado e da morte. Cristo é a Luz do mundo não de modo vago ou esotérico. É muito comum ouvirmos as pessoas desejarem às outras muita luz. O que elas querem dizer com isso, porém, é difícil saber. Cristo é a Luz do mundo que ilumina as inteligências com as sublimes verdades divinas e que faz arder nossa vontade com a caridade, com o amor a Deus e o amor ao próximo por amor a Deus. Cristo ilumina a nossa inteligência ao nos mostrar claramente a bondade divina, que envia seu próprio Filho para nos salvar, para sofrer por nós. Ao mesmo tempo, ao mostrar seu amor por nós, Ele inflama a nossa vontade para que o amemos em retorno, que o amemos efetivamente, fazendo aquilo que lhe agrada. Cristo é a Luz do mundo de modo claro, sem ambiguidade. Ele nos traz a salvação, a união com Deus.  É esse um pensamento que deve acompanhar todos os passos de nossa vida: “O Verbo se fez carne para me salvar, para me levar para o céu. Como tenho retribuído tamanho amor?” As luzes do Natal têm, portanto, um belo significado: nos apontam para a verdadeira luz do mundo, que é Cristo, para a única esperança de salvação e de redenção. Fora de Cristo e de sua Igreja, que nada mais é do que o Corpo Místico de Cristo, só há trevas e escuridão. As luzes do Natal são também um convite para que a Sagrada Família entre em nossas casas, é a afirmação de que aqui eles poderão encontrar a hospedagem que não encontraram em Belém.
O (5) presépio não é simplesmente a evocação do núcleo familiar ou da simplicidade. O presépio nos lembra o momento mais importante da história da humanidade, que é o nascimento do Verbo Encarnado, o acontecimento que divide a história da humanidade. O presépio deve nos fazer considerar a caridade infinita de Deus para conosco e também a virtude dos que estão ali representados, desde Nossa Senhora e São José até os Reis Magos, passando pelos pastores. Sem dúvida, o presépio nos lembra a importância da família, e da verdadeira família – homem, mulher, prole – e nos lembra a simplicidade, mas, sobretudo, deve nos fazer considerar a vinda do Verbo Encarnado para nos salvar, o momento central da história. Deus se faz menino, Deus se faz servo, deus se faz homem. O presépio deve nos lembrar esse sublime fato sobrenatural.
Também os (6) presentes trocados no período de Natal, em algumas culturas no dia da Epifania ou no dia da Festa de São Nicolau, são um símbolo da graça que Deus nos deu no dia 25 de dezembro. Deus nos deu a maior graça possível: a vinda da Segunda pessoa da Santíssima Trindade ao mundo. Os presentes devem servir para lembrar essa graça que nos foi dada.   Os presentes devem ser também um símbolo da caridade para com o próximo. Não um símbolo de simples filantropia, de amor ao homem por amor ao homem, mas de caridade, isto é, de amor ao próximo por amor a Deus. Eles servem, assim, como símbolo de nossa vontade de cooperar com a salvação do próximo. Devemos afastar o espírito consumista do Natal.
As guirlandas de Natal, que vemos por toda a parte também têm seu significado. Na verdade, nada mais são do que coroas. Essas guirlandas remetem às coroas de louro, dadas aos vencedores na Antiguidade.  Elas representam, então, a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o triunfo do Menino Deus sobre a serpente.
O Natal que se aproxima é um tempo de verdadeira alegria espiritual. É o tempo do Senhor, que vem ao mundo para nos redimir com a força de seu braço. É o tempo da Raiz de Jessé, que vem para nos libertar do jugo do pecado. É o tempo da chave de Davi, pois só Cristo pode nos abrir o céu, com seus méritos e nos tirar do cárcere das trevas e da sombra da morte. É o tempo do Oriente, quer dizer, da Luz, que é Cristo, que nasce para iluminar as nossas inteligências e inflamar a nossa vontade. É o tempo do Rei das Nações, da pedra angular, que quer unir todos os povos pela fé e pela caridade e que vem para salvar o homem que Ele mesmo formou do limo da terra. É o tempo Emanuel, isto é, do Deus conosco, nosso rei e legislador que vem para nos salvar. É um tempo sublime. É tempo de misericórdia de Deus e tempo de conversão. Aproveitemos, portanto, a vinda do Menino Deus para nos convertermos inteiramente a Ele, para fazermos tudo por Ele, com Ele e Nele. Peçamos a Deus a graça de sermos participantes da vida divina, assim como Ele participou da nossa natureza ao se encarnar.  Não deixemos passar tão grande graça que nos é concedida no tempo do Natal. Alegremo-nos com grande esperança e façamos uma boa confissão, para que essa alegria não seja puramente exterior.

Em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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