31 de dezembro de 2014

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - Parte 7

Artigo IV

Temos necessidade de um medianeiro junto do próprio medianeiro que é Jesus Cristo

83. Quarta verdade. – É muito mais perfeito, porque é mais humilde, tomar um medianeiro para nos aproximarmos de Deus. Se nos apoiarmos sobre nossos próprios trabalhos, habilidade e preparações, para chegar a Deus e agradar-lhe, é certo que todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas e peso insignificante terão junto de Deus, para movê-lo a unir-se a nós e nos atender, pois, como acabo de demonstrar, nosso íntimo é extremamente corrupto. E não foi sem razão que ele nos deu medianeiros junto de sua majestade. Viu nossa iniqüidade e incapacidade, apiedou-se de nós, e, para dar-nos acesso às suas misericórdias, proporcionou-nos intercessores poderosos junto de sua grandeza; de sorte que negligenciar esses medianeiros e aproximar-se diretamente de sua santidade sem outra recomendação é faltar ao respeito a um Deus tão alto e tão santo; é menosprezar este Rei dos reis, como não se faria a um rei ou príncipe da terra, do qual ninguém se aproximaria sem a recomendação de um amigo.

84. Nosso Senhor é nosso advogado e medianeiro de redenção junto de Deus Pai; é por intermédio dele que devemos rezar com toda a Igreja triunfante e militante; é por intermédio dele que obtemos acesso junto de sua majestade, em cuja presença não devemos jamais aparecer, a não ser amparados e revestidos dos méritos de Jesus Cristo, como Jacob revestindo-se da pele de cabrito para receber a bênção de seu pai Isaac.

* * *

85. Mas temos necessidade de um medianeiro junto do próprio medianeiro? Será a nossa pureza suficiente para que nos permita unir-nos diretamente a ele, e por nós mesmos? Não é ele Deus, em tudo igual ao Pai, e, por conseguinte, o Santo dos santos, digno de tanto respeito como seu Pai? Se ele, por sua caridade infinita, se constituiu nosso penhor e medianeiro junto de Deus seu Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que lhe devíamos, quer isto dizer que lhe devemos menos respeito e tomar por sua majestade e santidade?
Digamos, pois, ousadamente, com São Bernardo38, que temos necessidade de um medianeiro junto do Medianeiro por excelência, e que Maria Santíssima é a única capaz de exercer esta função admirável. Por ela Jesus Cristo veio a nós, e por ela devemos ir a ele. Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo Deus, em vista da sua grandeza infinita, ou por causa de nossa baixeza, ou, ainda, devido aos nossos pecados, imploremos afoitamente o auxílio e intercessão de Maria nossa Mãe; ela é boa e terna; nela não há severidade nem repulsa, tudo nela é sublime e brilhante contemplando-a, vemos nossa pura natureza. Ela não é o sol, que, pela força de seus raios, nos poderia deslumbrar em nossa fraqueza, mas é bela e suave como a lua (Cant 6, 9), que recebe a luz do sol e a tempera para que possamos suportá-la. É tão caridosa que a ninguém repele, que implore sua intercessão, ainda que seja um pecador; pois, como dizem os santos, nunca se ouviu dizer, desde que o mundo é mundo, que alguém que tenha recorrido à Santíssima Virgem, com confiança e perseverança, tenha sido desamparado ou repelido.39 Ela é tão poderosa que jamais foi desatendida em seus pedidos; basta-lhe apresentar-se diante de seu Filho para pedir-lhe algo, e ele só ouve o pedido para logo conceder-lhe o que ela pede; é sempre amorosamente vencido pelo seios, pelas entranhas e pelas preces de sua querida Mãe.
38) Sermo in Domin. inf. oct. Assumptionis, n. 2: “Opus est enim mediatore ad Mediatorem istum, nec alter nobis utilior quam Maria”. Todo este parágrafo é tirado deste sermão de São Bernardo.
39) Termina aqui a citação de S. Bernardo. A frase seguinte é tirada de S. Boaventura: Sermo 2 in B. V. M.

86. Tudo isto é tirado de São Bernardo e de São Boaventura. De acordo com suas palavras, temos três degraus a subir para chegar a Deus: o primeiro, mais próximo de nós e mais conforme à nossa capacidade, é Maria; o segundo é Jesus Cristo; e o terceiro é Deus Pai.40 Para ir a Jesus é preciso ir a Maria, pois ela é a medianeira de intercessão. Para chegar ao Pai eterno é preciso ir a Jesus, que é nosso medianeiro de redenção. Ora, pela devoção que preconizo, mais adiante, é esta a ordem perfeitamente observada.
40) Cf. S. Boaventura: Per Mariam ad Christum accedimos, et per Christum gratium Spiritus Sancti invenimus (Speculum B. V., lect. VI, § 2). – V. também Leão XIII, Encíclica “Octobri mense”, 22-9-1891.

30 de dezembro de 2014

História Eclesiástica - Primeira Época Capítulo 8

CAPÍTULO VIII

Santo Anacleto - São Simeão de Jerusalém - Santo Inácio de Antioquia.

Santo Anacleto - No pontificado de Santo Anacleto sucessor de São Clemente, continuavam os estragos da perseguição. O imperador, muito ligado à idolatria, ocupava-se ele próprio, de vez em quando a interrogar os cristãos, com o fim de confundi-los, e os ameaçava com os mais horríveis tormentos e com a morte mais dolorosa para faze-los prevaricar. Em tão difíceis circunstâncias São Anacleto empregou os maiores esforços já para que permanecessem firmes na fé os condenados ao martírio, já para refutar as heresias e preparar missionários para enviar em propaganda do Evangelho. Entre as coisas que fez, conta-se a de ter escolhido um lugar particular no Vaticano, perto do túmulo de São Pedro, que destinou para sepultura dos Papas, fez além disso edificar uma capela sobre o túmulo dos Príncipe dos Apóstolos com esta inscrição: In memoriam Beati Petri construxit. Esta pequena Igreja, ampliada mais tarde, é o famoso templo de São Pedro no Vaticano. Santo Anacleto depois de doze anos de pontificado, terminou seus dias com o martírio. Cortaram-lhe a cabeça por ter ficado firme na fé, no ano 112.
São Simeão de Jerusalém - Poucos anos depois de Santo Anacleto concluía também sua carreira mortal São Simeão, bispo de Jerusalém. Durante vários dias fizeram-lhe padecer horríveis tormentos; porém sendo vão todos esforços que faziam, Trajano o condenou a ser crucificado, tendo 120 anos de idade. assim a última das testemunhas de vista de nosso Redentor padeceu um mesmo gênero de morte. (ano 114).
Santo Inácio de Antioquia - Santo Inácio, bispo de Antioquia era, havia 40 anos, a admiração da grei, que com grandes cuidados conservava na fé no meio das mais sangrentas perseguições. Trajano que se achava então no Oriente, quis discutir com ele sobre a Religião, porém ficando confundido, ordenou que o prendessem e o conduzissem à Roma afim de servir no anfiteatro de Flávio, de espetáculo público ao povo, e ser depois pasto das feras. Ouviu Inácio sua sentença com transporte de alegria, porque ardia de desejo de morrer por Jesus; porém temendo que os fiéis de Roma, por meio de suas orações, obtivessem de Deus a graça que as feras não o devorassem, escreveu-lhes uma carta muito comovedora, pedindo-lhes que não se opusessem a que ele fosse esmagado quanto antes entre os dentes das feras, como o trigo na roda do moinho, para que pudesse assim ser digno de reunir-se o mais depressa, qual alvo pão, a Jesus Cristo por todos os séculos. Esta carta que contém palavra as mais honrosas para a Igreja de Roma assim principia: "Inácio, chamado também Teóforo, à Igreja que conseguiu misericórdia na magnificência do Pai Altíssimo, e de Jesus seu Filho unigênito; à Igreja querida e iluminada pela vontade d'Aquele que quer todas as coisas segundo a caridade de Jesus Cristo nosso Deus; a qual também preside no lugar das regiões dos Romanos; digna de Deus, digna por decoro, digna de ser chamada bem-aventurada, digna de louvor, digna de obter tudo o que deseja, castamente digna,que preside à ordem universal da caridade, adornada com o nome de Cristo e do Pai que eu também saúdo em nome de Jesus Cristo Filho do Pai; aos que, segundo a carne e o espírito, estão unidos em todos os seus mandamentos, cheios da graça de Deus indivisivelmente, e limpos de toda cor estranha, desejo abundantíssima e incontaminada saúde em Jesus Cristo nosso Deus."
Além desta escreveu outras seis cartas cheias de máximas de fé e de caridade; que formam um dos mais preciosos documentos da antiguidade cristã. Chegando à Roma foi conduzido para o anfiteatro e atirado às feras, que o dilaceraram logo, não deixando dele mais do que alguns ossos.Estes restos de seu corpo precioso foram levados para Antioquia e depois devolvidos para Roma onde hoje se veneram na Igreja de São clemente. Seu martírio teve lugar no ano 107. Depois de conhecido isto quem se atreverá a elogiar a |Trajano, como filósofo justo e clemente? E quem não o colocará antes no catálogo destes tiranos cruéis, violadores dos mais sagrados direitos da justiça?

29 de dezembro de 2014

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - Parte 6

Artigo III

Devemos despojar-nos do que há de mau em nós

78. Terceira verdade. – Nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo fundo de maldade que há em nós. Quando se despeja água limpa e clara em uma vasilha suja, que cheira mal, ou quando se põe vinho em uma pipa cujo interior está azedado por outro vinho que aí antes se depositara, a água límpida e o vinho bom adquirem facilmente o mau cheiro e o azedume dos recipientes. Do mesmo modo, quando Deus põe no vaso de nossa alma, corrompido pelo pecado original e pelo pecado atual, suas graças e orvalhos celestiais ou o vinho delicioso de seu amor, estes dons divinos ficam ordinariamente estragados ou manchados pelo mau germe e mau fundo que o pecado deixou em nós; nossas ações, até as mais sublimes virtudes, disto se ressentem. É, portanto, de grande importância, para adquirir a perfeição, que só se consegue pela união com Jesus Cristo, despojar-nos de tudo que de mau existe em nós. Do contrário, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e odeia infinitamente a menor mancha na alma, nos repelirá e de modo algum se unirá a nós.

* * *

79. Para despojar-nos de nós mesmos, é preciso conhecer primeiramente e bem, pela luz do Espírito Santo, nosso fundo de maldade, nossa incapacidade para todo bem, nossa fraqueza em todas as coisas, nossa inconstância em todo tempo, nossa indignidade de toda graça e nossa iniqüidade em todo lugar. O pecado de nossos primeiros pais nos estragou completamente, nos azedou, inchou e corrompeu, como o fermento azeda, incha e corrompe a massa em que é posto. Os pecados atuais que cometemos, sejam mortais ou veniais, perdoados que estejam, aumentam em nós a concupiscência, a fraqueza, a inconstância e a corrupção, deixando maus traços em nossa alma.
Nosso corpo é tão corrompido, que o Espírito Santo (Rom 6, 6; Sl 50, 7) o chama corpo do pecado, concebido no pecado, nutrido no pecado, e só apto para o pecado, corpo sujeito a mil e mil males, que se corrompe sempre mais cada dia, e que só engendra a doença, os vermes, a corrupção.
Nossa alma, unida ao corpo, tornou-se tão carnal, que é chamada carne: “Toda a carne tinha corrompido o seu caminho” (Gn 6, 12). Toda a nossa herança é orgulho e cegueira no espírito, endurecimento no coração, fraqueza e inconstância na alma, concupiscência, paixões revoltadas e doenças no corpo. Somos, naturalmente, mais orgulhosos que os pavões, mais apegados à terra que os sapos, mais feios que os bodes, mais invejosos que as serpentes, mais glutões que os porcos, mais coléricos que os tigres e mais preguiçosos que as tartarugas; mais fracos que os caniços, e mais inconstantes do que um catavento. Tudo que temos em nosso íntimo é nada e pecado, e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno.37
37) S. Luís Maria fala de nosso nada e de nossa impotência na ordem sobrenatural, sem o socorro da graça (v. com efeito, mais adiante o n. 83: Nosso íntimo..., tão corrompido, se nós apoiamos em nossos próprios trabalhos... para chegar a Deus...).

80. Depois disto, por que admirar-se de ter Nosso Senhor dito que quem quisesse segui-lo devia renunciar a si mesmo e odiar a própria alma; que aquele que amasse sua alma a perderia e quem a odiasse se salvaria? (Jo 12, 25). A Sabedoria infinita, que não dá ordens sem motivo, só ordena que nos odiemos porque somos grandemente dignos de ódio: só Deus é digno de amor, enquanto nada há mais digno de ódio do que nós.

81. Em segundo lugar, para despojar-nos de nós mesmos, é preciso que todos os dias morramos para nós, isto é, importa renunciarmos às operações das faculdades da alma e dos sentidos do corpo, precisamos ver como se não víssemos, ouvir como se não ouvíssemos, servir-nos das coisas deste mundo como se não o fizéssemos (cf. 1Cor 7, 29-31), o que São Paulo chama morrer todos os dias: “Quotidie morior” (1Cor 15, 31). “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só, e não produz fruto apreciável: Nizi granum frumenti cadens in terram mortuum fuerit, ipsum solum manet” (Jo 12, 24-25). Se não morrermos a nós mesmos, e se as mais santas devoções não nos levarem a esta morte necessária e fecunda, não produziremos fruto que valha, nossas devoções serão inúteis, todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas por nosso amor-próprio e nossa própria vontade, e Deus abominará os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer. Na hora da nossa morte, teremos as mãos vazias de virtudes e méritos, e não brilhará em nós a menor centelha do puro amor, que só é comunicado às almas mortas a si mesmas, almas cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus (Col 3, 3).

82. Em terceiro lugar, é preciso escolher entre todas as devoções à Santíssima Virgem, a que nos leva com mais certeza a este aniquilamento do próprio eu. Esta será a devoção melhor e mais santificante, pois é mister reconhecer que nem tudo que luz é ouro, nem tudo que é doce é mel, e nem tudo que é fácil de fazer e praticar é o mais santificante. Do mesmo modo que a natureza tem segredos para fazer em pouco tempo, sem muitos gastos e com facilidade, certas operações naturais, há segredos, na ordem da graça, pelos quais se fazem, em pouco tempo, com doçura e facilidade, operações sobrenaturais, como despojar-nos de nós mesmos, encher-nos de Deus, e tornar-nos perfeitos.

A prática que quero revelar é um desses segredos da graça, desconhecido da maior parte dos cristãos, conhecidos de poucos devotos, praticado e apreciado por um número bem diminuto. Antes de abordar esta prática, apresento uma quarta verdade que é conseqüência da terceira.

28 de dezembro de 2014

Missa Tridentina

Prezados leitores, Salve Maria!


Para quem mora em Curitiba ou na região Metropolitana, e para quem está de passagem pela cidade, comunicamos que haverá Missa Tridentina no dia 28/12/2014:

Local: Capela Nossa Senhora Aparecida - Capela da Polícia Militar
Endereço: Av. Marechal Floriano Peixoto, 2057 - Rebouças - Curitiba - Paraná (fica entre as ruas Almirante Gonçalves e Baltazar Carrasco dos Reis)

Horário da Missa: 09:00 horas da manhã
Sacerdote: Renato Arnellas Coelho do IBP


Administração do Blog São Pio V

História Eclesiástica - Primeira Época Capítulo 7

CAPÍTULO VII

São Cleto, Segunda Perseguição - São Clemente e o Cisma de Corinto - Terceira Perseguição - Desterro e martírio de São Clemente.

São Cleto, Segunda Perseguição - Os cristãos gozavam de alguma tranqüilidade no reinado de Tito e de Vespasiano, posto que ainda não tivessem sido revogados os sangrentos decretos de Nero pelos quais todo aquele que tinha alguma autoridade podia perseguir, a seu capricho, os fiéis de Jesus Cristo.
Domiciano, a quem a história apelida de segundo Nero, ordenou que vigorassem novamente, e com maior rigor as leis de perseguição. No seu reinado São Cleto governou a Igreja doze anos. Este Pontífice nasceu em Roma, e ali o instruiu São Pedro na fé; trabalhou muito durante o pontificado deste e o de São Lino. Entre as obras que se lhe atribuem, acha-se a divisão da cidade de Roma em 25 quartéis ou secções; em cada uma das secções estabeleceu um sacerdote ou na sua falta um diácono, para que cuidasse das necessidades espirituais e temporais dos fiéis. Achava-se ocupado em propagar o Evangelho dentro e fora da cidade de Roma, quando Domiciano ordenou que se buscasse o chefe dos cristãos e que se lhe desse a morte. A impaciência do tirano em dar-lhe a morte poupo-lhe muitos e grandes suplícios; martirizaram-no no ano de 93. Autores dignos de fé dizem que São Cleto foi o primeiro que usou a fórmula: <>, com que os Papas soem começar suas cartas.
São Clemente e o Cisma de Corinto - O quarto Pontífice é São Clemente; este era filho de um Senador romano chamado Faustino. Foi eleito para governar a Igreja depois do martírio de São Cleto. Entre as belas instituições deste Pontífice conta-se a dos notários ou escreventes, que se encarregavam de escrever com o maior cuidado a ordem dos sofrimentos dos mártires, e de todas as coisas que eles diziam ou faziam em presença dos juizes ou dos imperadores: esses escritos chamavam-se "Atas dos mártires". Causou-lhe muitos trabalhos e sofrimentos o cisma de Corinto, onde as discórdias intestinas tinham chegado a tal ponto que muitos dos fiéis, negando-se a acatar a autoridade da igreja, pretendiam eleger e consagrar sacerdotes à sua vontade. Crescendo o mal, pensou-se em apelar para a Igreja de Roma, mãe e mestra de todas as outras Igrejas, por uma extensa carta dirigida ao Sumo Pontífice. São Clemente depois de ter lido, respondeu aos Coríntios outra que constitui um importante documento da antiguidade cristã, e que como tal convém seja conhecida em seus pontos principais: " À Igreja de Deus que está em Roma, à de Corinto e aos chefes que são chamados e santificados pela vontade de Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo. Que a graça do Senhor onipotente se aumente sempre em vós." Fala-lhes em seguida da paciência, da doçura e dos benefícios de Deus criador, e continua da maneira seguinte: " Se considerarmos quanto Deus está próximo de nós, e como nenhum pensamento pode ficar-lhe oculto, devemos certamente tratar de não fazer o que é contrário à sua Divina Vontade, e sujeitarmo-nos ao que Ele colocou sobre nós: devemos refrear nossa língua e dominá-la com o amor do silêncio." Segue recomendando-lhes que fujam do ócio e da moleza porque somente quem trabalha tem direito à vida, e continua assim: "Portanto devemos fazer com zelo todo o bem que pudermos, porque Deus Criador se compraz em nossas obras. Cada um permaneça na
ordem e no grau em que Deus por sua bondade o colocou. O fraco respeite o mais forte, o rico socorra o pobre, e o pobre bendiga a Deus pelo modo com que o provê. O sábio faça conhecer a sua sabedoria não por palavras, porém por boas obras. O humilde não fale com jactância de si mesmo, nem faça alarde de suas ações. Quem for casto não se orgulhe, pois o dom da castidade não provém dele. Os grandes não podem existir sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. No corpo humano a cabeça nada pode sem os pés, nem os pés sem a cabeça. O corpo não pode passar sem o serviço dos mais pequenos membros". Expõe em seguida as virtudes e as obrigações próprias de todo o cristão para conservar mutuamente a caridade, e passa a fazer-lhes esta doce admoestação. "Porque há entre vós divisões e rixas? Acaso não temos todos igualmente o mesmo Deus, o mesmo Jesus Cristo, o mesmo Espírito de graça derramado sobre nós, a mesma vocação em Jesus Cristo? Porque pois sendo seus membros fazemos guerra ao nosso próprio corpo? Somos tão insensatos que esquecemos que uns somos membros dos outros? Vossa divisão, ó fiéis! Tem desanimado alguns, pervertido muitos e nos tem mergulhado a todos na aflição. Cesse depressa este escândalo, prostremo-nos aos pés do Senhor; supliquemo-lhe com abundantes lágrimas, que nos perdoe e restabeleça a caridade fraterna."
Os Coríntios tinham mandado à Roma um fervoroso cristão chamado Fortunato, para que expusesse à Santa Sé a triste divisão daquela cidade. São Clemente encarregou o mesmo mensageiro e mais quatro pessoas que levavam a carta, recomendando-lhes que voltassem logo. Concluía a carta dizendo: "Mandai-nos o quanto antes, em paz com alegria Claudia, Efebo, Valério e Vitão, que vos enviamos com Fortunato para que nos tragam quanto antes a notícia da tão desejada, e por nós tão suspirada, paz e concórdia; deste modo nós também, mais prontamente gozaremos de vossa tranqüilidade." A carta impressionou tanto o ânimo dos Coríntios , que arrependendo-se de suas faltas, reconciliaram-se com seus pastores, pediram perdão e veneraram todos as palavras do Vigário de Jesus Cristo que se achava em Roma.
Terceira Perseguição - o imperador Trajano, embora elogiado por alguns historiadores, como príncipe sábio e clemente, foi o autor da terceira perseguição. Estamos certos disto por sua resposta a Plínio, o moço, governador da Bitínia. 
Escrevera-lhe este uma carta, consultando-o qual a conduta que deveria ter para com os cristãos, Toda a sua culpa, lhe dizia, consiste em cantar hinos em honra de Cristo; são eles númerosíssimos e os há de idade e condição, nas cidades e nos campos, de forma que os templos de nossos deuses têm ficado quase desertos. Por outra parte sua conduta é pura e inocente; porém sua pertinácia em não querem acatar as ordens do imperador no que diz respeito à religião, é bastante para fazê-los dignos do maior castigo.
Tal é testemunho que dava um perseguidor dos cristãos do seu número e de sua santidade, Trajano lhe respondeu que não era necessário pena de morte, segundo a lei, toda vez que fossem acusados ou conhecidos; resposta absurda, porque se os cristãos eram culpados, porque não se devia persegui-los? E se eram inocentes, porque deviam ser castigados com pena de morte?
Desterro e martírio de São Clemente - Entre os mártires que padeceram o martírio no reinado de Trajano, conta-se o Pontífice São Clemente. Como pertencia ele a família nobre, o imperador quis ter para com ele algumas condescendências; aduziu razões, promessas e ameaças para induzi-lo a abandonar a fé, porém tudo foi em vão. Irritado o imperador o condenou às minas de Quersoneso Táurico, chamado hoje Criméia.
Depois de uma viagem longa e penosíssima, chegou o santo Pontífice ao lugar de seu desterro, e foi obrigado a trabalhar com uma turma de malfeitores. Muito o consolou a nova de que no meio dos condenados àqueles trabalhos achavam-se cerca de dois mil cristãos, somente culpados de publicamente terem professado sua fé, os quais desejavam ter entre si um ministro sagrado da Religião.
O Pontífice ocupou-se logo de ajudá-los e de prodigalizar-lhe os auxílios da religião, e mitigou não pouco os seus sofrimentos com o seguinte milagre: como não havia água naqueles lugares, deviam transportá-la com grande trabalho de mais de uma milha de distância. À vista disto, São Clemente rogou a Deus por eles e no mesmo instante, como nos tempos de Moisés, brotou ali mesmo uma fonte perene de água cristalina, que satisfez as necessidades dos cristãos e dos pagãos. Semelhante milagre operado em presença de tão grande multidão, comoveu aqueles infelizes desterrados, e um grande número de infiéis abraçou a fé. O imperador, inteirado deste fato, escreveu ao governador do Quersoneso, ordenando-lhe que reprimisse e fizesse voltar à idolatria os recém-convertidos; porém eles preferiram perder a vida antes de abandonar sua fé. Ao mesmo Pontífice, que era seu chefe, ataram uma barra de ferro ao pescoço e o atiraram ao Mar Negro. assim concluiu gloriosamente sua vida o quarto Pontífice., depois de ter governado a Igreja durante nove anos (anos 100). Conta lenda antiga, que as águas do mar, depois da morte de São Clemente, se retiraram três milhas para dentro, deixando ver aos fiéis na praia um pequeno templo de mármore que encerrava o corpo do santo mártir. Confirma esta tradição uma pintura antiqüíssima descoberta há anos em Roma, no subterrâneo da Igreja de São Clemente. (V. s. Efrem Siro).

27 de dezembro de 2014

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - Parte 5

Artigo II

Pertencemos a Jesus Cristo e a Maria na qualidade de escravos

68. Segunda verdade. – Do que Jesus é para nós, concluímos que não nos pertencemos, como diz o apóstolo (1Cor 6, 19), e sim a ele, inteiramente, como seus membros e seus escravos, comprados que fomos por um preço infinitamente caro, o preço de seu sangue. Antes do batismo o demônio nos possuía como escravos, e o batismo nos transformou em escravos de Jesus Cristo e só devemos viver, trabalhar e morrer para produzir frutos para o homem-Deus (Rom 7, 4), glorificá-lo em nosso corpo e fazê-lo reinar em nossa alma, pois somos sua conquista, seu povo adquirido, sua herança. Pelo mesmo motivo o Espírito Santo nos compara24: 1º a árvores plantadas ao longo das águas da graça, nos campos da Igreja, árvores que devem dar seus frutos no tempo adequado; 2º aos galhos de uma videira de que Jesus Cristo é o tronco, e que devem produzir boas uvas; 3º a um rebanho cujo pastor é Jesus, e esse rebanho deve multiplicar-se e dar leite; 4º a uma boa terra de que Deus é o lavrador, e na qual a semente se multiplica, rendendo trinta, sessenta, cem vezes mais. Jesus amaldiçoou a figueira estéril (Mt 21, 19) e declarou condenado o servo inútil que n ao fizera valer o seu talento (Mt 25, 24-30). Tudo isso nos prova que Jesus Cristo quer receber alguns frutos de nossas mesquinhas pessoas: quer receber nossas boas obras, porque as boas obras lhe pertencem exclusivamente: “Creati in operibus bonis in Christo Iesu – Criados em Jesus Cristo para boas ações” (Ef 2, 10). Essas palavras do Espírito Santo mostram que Jesus Cristo é o único fim de todas as nossas boas obras, e que devemos servi-lo não somente como servidores assalariados, mas como escravos de amor. Explico-me.

* * *

69. Há duas maneiras, aqui na terra, de alguém pertencer a outrem e de depender de sua autoridade. São a simples servidão e a escravidão, donde a diferença que estabelecemos entre servo e escravo.
Pela servidão, comum entre os cristãos, um homem se põe a serviço de outro por um certo tempo, recebendo determinada quantia ou recompensa.
Pela escravidão, um homem depende inteiramente de outro durante toda a vida, e deve servir a seu senhor, sem esperar salário nem recompensa alguma, como um dos animais sobre que o dono tem direito de vida e morte.

70. Há três espécies de escravidão25: por natureza, por constrangimento e por livre vontade.
Por natureza, todas as criaturas são escravas de Deus: “Domini est terra et plenitudo eius” (Sl 23, 1). Os demônios e os réprobos são escravos por constrangimento; e os justos e os santos o são por livre e espontânea vontade. A escravidão voluntária é a mais perfeita, a mais gloriosa aos olhos de Deus, que olha o coração (1Rs 16, 7), que pede o coração (Prov 23, 26) e que é chamado o Deus do coração (Sl 72, 26) ou da vontade amorosa, porque, por esta escravidão, escolhe-se, sobre todas as coisas, a Deus e seu serviço, ainda quando não o obriga a natureza.
25) Cf. S. Agostinho, “Expositio cantici Magnificat” (circa médium). S. Tomás, Summa Theol. 3, q. 48, ª 4, corp. et resp. ad 1.

71. A diferença entre um servo e um escravo é total:
1º Um servo não dá a seu patrão tudo o que é, tudo o que possui ou pode adquirir por outrem ou por si mesmo; mas um escravo se dá integralmente a seu senhor, com tudo o que possui ou possa adquirir, sem nenhuma exceção.
2º O servo exige salário pelos serviços que presta a seu patrão; o escravo, porém, nada pode exigir, seja qual for a assiduidade, a habilidade, a força que empregue no trabalho.
3º O servo pode deixar o patrão quando quiser, ou ao menos quando expirar o tempo de serviço, mas o escravo não tem esse direito.
4º O patrão não tem sobre o servo direito algum de vida e de morte, de modo que, se o matasse como mata um se seus animais de carga, cometeria um homicídio; mas, pelas leis, o senhor tem sobre o escravo o poder de vida e morte26; de modo que pode vendê-lo a quem o quiser ou matá-lo, como, sem comparação, o faria a seu cavalo.
26) A lei natural, a lei mosaica e as leis modernas não reconhecem tal direito, a não ser por um mandato especial do soberano Senhor da vida e da morte. O bem-aventurado se coloca aqui simplesmente do ponto de vista do fato, conforme as leis civis dos países em que vigorava a escravidão (cf. Secret de Marie, p. 34). Abstraindo da moralidade do ato, seu fito é mostrar, por um exemplo, a total dependência de que fala.
5º O servo, enfim, só por algum tempo fica a serviço de um patrão, enquanto o escravo o é para sempre.

* * *

72. Só a escravidão, entre os homens, põe uma pessoa na posse e dependência completa de outra. Nada há, do mesmo modo, que mais absolutamente nos faça pertencer a Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima do que a escravidão voluntária, conforme o exemplo do próprio Jesus Cristo, que, por nosso amor, tomou a forma de escravo: “Formam servi accipiens” (Filip 2, 7), e da Santíssima Virgem, que se declarou a escrava do Senhor (Lc 1, 38). O apóstolo honra-se várias vezes em suas epístolas com o título de “servus Christi”.27 A Sagrada Escritura chama muitas vezes os cristãos de “servi Christi”, e esta palavras “servus”, conforme a observação acertada de um grande homem28, significava, outrora, apenas escravo, pois não existiam servos como os de hoje, e os ricos só eram servidos por escravos ou libertos. E para que não haja a menor dúvida de que somos escravos de Jesus Cristo, o Concílio de Trento usa a expressão inequívoca “mancipia Christi” e no-lo aplica: escravos de Jesus Cristo.29 Isto posto:
27) Cf. Rom 1, 1; Gal 1, 10; Filip 1, 1; Tito 1, 1.
28) Henri-Marie Boudon, arcediago d’Evreux, em seu livro: “La sainte esclavage de l’admirable Mère de Dieu’, cap. II.
29) Catec. Rom., parte I, cap. 3: De secundo Symboli articulo (in fine).

73. Digo que devemos pertencer a Jesus Cristo e servi-lo, não só como servos mercenários, mas como escravos amorosos, que, por efeito de um grande amor, se dedicam a servi-lo como escravos, pela honra exclusiva de lhe pertencer. Antes do batismo, éramos escravos do demônio; o batismo nos fez escravos de Jesus Cristo. Importa, pois, que os cristãos sejam escravos ou do demônio ou de Jesus Cristo.

74. O que digo absolutamente de Jesus Cristo, digo-o também da Virgem Maria, pois Jesus Cristo, escolhendo-a para sua companheira inseparável na vida, na morte, na glória, em seu poder no céu e na terra, deu-lhe pela graça, relativamente à sua majestade, os mesmos direitos e privilégios que ele possui por natureza. “Quidquid Deo convenit per naturam, Mariae convenit per gratiam... – Tudo que convém a Deus pela natureza, convém a Maria pela graça”, dizem os santos. Assim, conforme este ensinamento, pois que ambos têm a mesma vontade e o mesmo poder, têm também os mesmos súditos, servos e escravos.30
30) Oportebat... Dei Matrem ea quae Filii essent possidere (São João Damasc., Sermo 2 in Dormitione B. M.).

75. Podemos, portanto, seguindo a opinião dos santos e de muitos doutos, dizer-nos e fazer-nos escravos da Santíssima Virgem, para deste modo nos tornarmos mais perfeitamente escravos de Jesus Cristo.29 A Santíssima Virgem é o meio de que Nosso Senhor se serviu para vir até nós; e é o meio de que nos devemos servir para ir a ele.30 Bem diferente é ela das outras criaturas, as quais, se a elas nos apegarmos, poderão antes afastar-nos que aproximar-nos de Deus. A mais forte inclinação de Maria é unir-nos a Jesus Cristo, seu divino Filho; e a mais forte inclinação do Filho é que vamos a ele por meio de sua Mãe Santíssima. E isto é para ele tanta honra e prazer, como seria para um rei honra e prazer, se alguém, para tornar-se mais perfeitamente seu escravo, se fizesse escravo da rainha. Eis por que os Santos Padres, e São Boaventura com eles, dizem que a Santíssima Virgem é o caminho para chegar a Nosso Senhor: “Via veniendi ad Christum est appropinquare ad illam”.31
29) Ita serviam Matri tuae, ut ex hoc ipse me probes servisse tibi (S. Ildefonso: de virginitate perpetua B. M., cap. XII).
30) Per ipsam Deus descendit ad terras, ut per ipsam homines ascendere mereantur ad caelos (S. Agostinho – Sermo 113 in Nativit. Domini). Ver também S. Boaventura: Expositio in Lc, cap. I, n. 38. Pio X, Encíclica “Ad diem illum”.
31) Psalterium maius B. M., Sl 117.

76. Além disso, se a Virgem Santíssima, como já disse (v. nº 38), é a rainha e soberana do céu e da terra – “Imperio Dei omnia subiciuntur et Deus”32, dizem Santo Anselmo, São Bernardo, São Boaventura – não possui ela tantos súditos e escravos quantas criaturas existem?33 Não é razoável que, entre tantos escravos por constrangimento, haja alguns por amor, que de boa vontade e na qualidade de escravos, escolham Maria para sua soberana? Pois então os homens e os demônios terão seus escravos voluntários e Maria não há de tê-los? Seria desonra para um rei se a rainha, sua companheira, não possuísse escravos sobre os quais tivesse direito de vida e morte34, pois a honra e o poder do rei são a honra e o poder da rainha; e pode-se acreditar que Nosso Senhor, o melhor de todos os filhos, que deu a sua Mãe Santíssima parte de todo o seu poder, considere um mal ter ela escravos?35 Terá ele menos respeito e amor a sua Mãe do que teve Assuero a Éster e Salomão a betsabé? Quem ousaria dizê-lo ou pensá-lo sequer?
32) “Ao poder de Deus tudo é submisso, até a Virgem; ao poder da Virgem tudo é submisso, até Deus”.
33) “Res quippe omnes conditas Filius Matri mancipavit”. S. João Damasceno. Sermo 2 in Dormitione B. M. – São Boaventura: Ancilla Dominae Mariae est quaelibet anima Fidelis, imo etiam Ecclesia universalis (Speculum B. M. M., lect. III § 5).
34) V. nota ao n. 71.
35) Christianiorum memento, qui servi tui sunt. São Germano de Constatinopla: Orat. hist. In Dormitione Deiparae.

77. Mas onde me leva minha pena? Por que me detenho aqui a provar uma coisa tão evidente? Se alguém recusa confessar-se escravo de Maria, que importa? Que se faça e diga escravo de Jesus Cristo. É o mesmo que ser escravo da Santíssima Virgem, pois Jesus é o
fruto e a glória de Maria. e isto se faz perfeitamente pela devoção de que falaremos a seguir.36
36) Para explicação da doutrina exposta neste artigo II, ver: A. Lhomeau: “A vida espiritual do B. L. M. Grignion de Montfort”, 1ª parte, cap. IV.

26 de dezembro de 2014

História Eclesiástica - Primeira Época Capítulo 6

CAPÍTULO VI

São Lino Papa - Morte de Nero - Ruína de Jerusalém e dispersão dos Judeus - Trabalhos e martírio de São Lino.

São Lino Papa - Devendo a Igreja de Jesus Cristo durar até a consumação dos séculos e receber em seu seio materno todos os que quisessem se abrigar nele, também devia ter em todos os tempos um chefe visível que visivelmente a governasse, por isso alguém devia substituir São Pedro no governo da Igreja Universal! O primeiro sucessor de São Pedro foi São Lino, de Volterra, cidade da Toscana. Enviado a Roma por seus pais para cultivar os estudos, teve a felicidade de ouvir São Pedro que nesse tempo tinha começado a pregar o Evangelho naquela cidade. instruído na fé por mestre tão distinto, tornou-se muito depressa fervoroso cristão. A virtude, a ciência e o zelo do discípulo influíram para que São Pedro o consagrasse sacerdote e o escolhesse para companheiro nas suas apostólicas peregrinações. Acredita-se que quando São Pedro foi ao Concílio de Jerusalém, sagrou bispo a São Lino e o nomeou seu vigário em Roma, enquanto durava sua ausência. à sua volta confiou-lhe uma importante missão na Gália, que ainda se achava mergulhada na idolatria. Chegando este a Besançon, encontrou próximo às portas da cidade um tribuno chamado Arnósio o qual lhe falou do seguinte modo: "- Quem és tu e donde vens? - Venho de Itália, respondeu Lino. E para onde vais? - Vim aqui para pregar a religião de Jesus Cristo. - Que religião é essa?" Lino começou então a falar-lhe da verdadeira fé; desejando porém o tribuno que sua família também ouvisse o novo missionário, levou-o à sua casa. Ouvindo-o, todos se converteram e a casa de Arnósio se transformou em Igreja. Rebentando pouco depois a perseguição de Nero, Lino voltou a Roma para ajudar a São Pedro a quem efetivamente acompanhou no cumprimento dos deveres do santo ministério e depois governou a Igreja, durante a prisão dos Príncipes dos Apóstolos. Também acompanhou ao martírio o seu querido mestre, e depois de sua morte, com a cooperação de São Marcelo e outros fiéis, entre os quais se faz menção de um chamado Apuleio, o sepultou aos pés do monte Vaticano, junto ao circo de Nero, como lugar mais seguro. Isto prova que entre os comensais deste perseguidor havia cristãos ocultos, muito fervorosos e poderosos. Acreditasse que São Pedro receando que a Igreja, naqueles tempos calamitosos, ficasse sem pastor, nomeou aos santos Lino, Cleto, Clemente, e Anacleto para que sucessivamente fizessem suas vezes no pontificado; de acordo com isto São Lino sucedeu a São Pedro no ano 67 da nossa era. Durante seu pontificado deram-se muitos acontecimentos, entre os quais os mais notáveis são a morte de Nero e a destruição de Jerusalém. 
Morte de Nero - Este tirano depois de ter posto em jogo toda sorte de crueldades contra os cristãos, caiu no desprezo dos seus súditos, que se rebelaram contra ele e proclamaram outro imperador chamado Galba. Esta nova causou tal espanto a Nero que fora de si arrojou à terra a mesa sobre que comia, quebrou em mil pedaços os vasos de grande valor, e deu com a cabeça contra as paredes da casa. Quando lhe foi levada mais tarde, a notícia de que o Senado o tinha condenado à morte, fugiu de seu palácio durante a noite, começou a correr pela cidade implorando o socorro dos seus amigos; porém estes o rechaçaram, porque os malvados não têm verdadeiros amigos. Buscando ainda algum meio de salvação, cobriu-se de um grande manto, e montado em um cavalo passou despercebido entre seus inimigos, ao mesmo tempo em que por todas as partes ouvia-se o grito de "morte a Nero!". Chegando à casa de campo de seu criado chamado Fauno, tratou de esconder-se; porém vendo que ali estava rodeado de soldados, não sabendo o que fazer para não morrer em público, suicidou-se atravessando a garganta com um punhal. assim morreu esse monstro, cruel entre os mais cruéis tiranos, e autor da primeira das dez grandes perseguições suscitadas pela
política romana contra os cristãos (ano 71 da nossa era).
Ruína de Jerusalém e dispersão dos Judeus - A destruição de Jerusalém é um dos acontecimentos mais terríveis que se registram nas páginas da história. Os profetas tinham predito, com muitos séculos de antecipação, que os Judeus, por sua obstinação por desprezar o Evangelho, e como castigo do deicídio que tinham cometido na pessoa do Salvador, seriam expulsos dos seus países e viveriam dispersos por todo o mundo, sem rei, sem templos e sem sacerdotes, Jesus em termos ainda mais claros, também tinha vaticinado que os judeus seriam sitiados em Jerusalém e reduzidos a uma penúria inaudita; que se destruiria sua cidade, se incendiaria seu templo, e que se dispersaria seu povo; e acrescentou ainda que todas essas coisas se cumpririam antes que morresse aquela geração a que ele falava.
Deus, infinitamente, misericordioso, quis avisar mais uma vez aquele povo por meio da pregação, das admoestações dos Apóstolos, e de muitos sinais espantosos que nos narram vários historiadores entre eles alguns judeus. José Flavio, por exemplo, judeu douto, que teve grande parte naqueles desastres, conta, entre outras coisas, que no dia de Pentecostes se fez ouvir uma voz no templo, que sem se saber de onde saia, fazia ressoar estas palavras: "saiamos daqui, saiamos daqui". Um homem chamado Anano que tinha ido da roça a Jerusalém para assistir à festa dos Tabernáculos, ainda antes de que se falasse da guerra, começou a gritar de improviso pelos ângulos da cidade: "Ai do Templo, ai de Jerusalém! voz do oriente, voz do ocidente, voz dos quatro ventos; ai do Templo, ai de Jerusalém!" Foi preso, encarcerado, e açoitado quase até a morte; porém nem assim deixou de gritar pela cidade em voz alta as mesmas palavras durante três anos, até que um dia correndo sobre os muros, enquanto gritava: "Ai de mim mesmo!" foi ferido por uma pedra e morreu. Certa vez, pelas nove da noite resplandeceu ao redor do templo e do altar uma luz tão viva, que pelo espaço de meia hora pareceu estar em pleno dia; outra vez uma porta do templo, de bronze tão pesada que para move-la eram precisos vinte homens, achou-se aberta por si, e sem que ninguém a tocasse. Alguns dias depois, em todas as povoações circunvizinhas viram-se no ar, ao redor de Jerusalém, exércitos em ordem de batalha, que cercavam e davam sinais de querer tomá-la de assalto. Apareceu também um cometa que dardejava chamas com raios, e uma estrela em forma de espada que permaneceu um ano no mesmo lugar, tendo sempre a ponta voltada para a cidade. Estes sinais pressagiaram que deviam cair sobre Jerusalém graves e iminentes desastres. Com efeito, os romanos sob o mando sucessivo de Vespasiano e de Tito foram, sem saber, os instrumentos de que se valeu a ira de Deus para cumprir seus desígnios. A Nero, como já foi dito, sucedeu um imperador chamado Galba e a este, outro chamado Vitélio; ambos foram despojados do trono por seus próprios vícios e sua tirania, e se proclamou em seu lugar a um grande general chamado Vespasiano, Este amava a justiça, quanto podia amá-la um imperador idólatra, e era querido por todos por sua afabilidade e valor. O próprio Nero já o havia enviado para combater os judeus; porém quando o elegeram imperador, ele deixou seu filho sob os muros de Jerusalém para que continuasse a guerra, enquanto voltava à Roma.
Ainda viviam muitos dos que se achavam presentes à morte do Salvador, quando os exércitos romanos foram sitiar Jerusalém. Como o sítio começasse naqueles mesmos dias em que se achavam ali reunidos um grande número de judeus que tinham acudido de toda a Palestina e dos países limítrofes para celebrar as festas da Páscoa, aconteceu que achando-se aquela desgraçada cidade cheia de gente, de pronto começassem a faltar alimentos, chegando a tal extremo a fome que seus habitantes arrancavam-se uns aos outros das mãos as coisas mais imundas para não morrer. Houve mães que naquele estado de desespero, (coisa horrível!) chegaram a alimentar-se de seus próprios filhos. Tomada de assalto a cidade, foram mortos um milhão e cem mil judeus, e outros tantos foram reduzidos à escravidão. Estes como não fossem vendidos, por não haver compradores para tão grande número de escravos, foram em parte doados e outros mortos porque não havia quem os quisesse nem de graça. Destruídas em grande parte as casas e queimado o templo, todo o povo que se pode salvar da morte ou da escravidão dispersou-se pelas demais cidades; contudo a total dispersão dos judeus não se realizou até princípios do segundo século. O Papa São Lino pode ver os infelizes judeus escravizados por Tito, chegarem a Roma aos montões, par serem condenados a penosíssimos trabalhos, entre outros o de erigir um arco do triunfo a seu vencedor. Ainda vê-se presentemente o candelabro com sete braços, tirado do templo de Jerusalém e o magnífico anfiteatro chamado de Flávio Tito, cujas ruínas admiráveis ainda existem em Roma, e é conhecido sob o nome de Coliseu.
São Lino valeu-se deste terrível acontecimento para confirmar na fé os judeus, que se tinham convertido e para atrair a ela os menos obstinados no erro. Trabalhos e martírio de São Lino - São Lino durante dez anos de seu pontificado, além do que trabalho na pregação e propagação do Evangelho, aplicou-se com zelo em combater os erros de Menandro, Corinto e seus sectários, declarando que não pertencia à Igreja de Jesus Cristo aquele que seguisse seus erros monstruosos. Ainda que tenham sido aqueles tempos de muito fervor, havia alguns que iam à Igreja vestidos como para ir ao teatro; São Lino em vista disto, renovou o preceito de São Paulo, e estabeleceu que todos deviam ir à Igreja com modéstia, e as mulheres com a cabeça coberta. O zelo e doutrina deste Pontífice enchiam todos de admiração; o seu nome só, fazia emudecer os demônios, e com o sinal da Cruz curava frequentemente obstinadas enfermidades. Um homem que havia ocupado o consulado tinha uma filha perturbada pelo espírito maligno e outros males; recorreu ao nosso santo, e este a curou com o Sinal da Cruz; porém como os sacerdotes dos ídolos diziam que este milagre injuriava aos deuses, obrigaram ao tímido Saturnino, assim chamava-se o pai da menina, a condenar à morte o santo Pontífice. Este depois de ficar algum tempo no cárcere, foi decapitado a 23 de setembro do ano 80.

Sermão para o 4º Domingo do Advento – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] As Antífonas Ó – Preparação para o Natal

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Derramai, ó céus, das alturas o vosso orvalho e que as nuvens chovam o justo.”
A Santa Igreja nos prepara para o Natal do Menino Deus com diligência. Pelas penitências, pelas orações, pela riquíssima liturgia do advento. Dentro da liturgia do advento, merece especial destaque as chamadas Antífonas Ó. As Antífonas Ó são pequenos textos que precedem o canto do Magnificat, quer dizer, precedem o canto daquelas palavras ditas por Nossa Senhora em resposta aos elogios de Santa Isabel quando da visitação. A Igreja nos faz cantar as Antífonas Ó do dia 17 ao dia 23 de dezembro. Elas recebem o nome de Ó porque é assim que começam: O Sapientia – Ó Sabedoria; O Rex gentium– Ó Rei dos povos. São essas antífonas que estão na origem do título de Nossa Senhora do Ó, dado a Nossa Senhora grávida do Menino Jesus. As Antífonas Ó são um tesouro precioso da liturgia católica que foi esquecido pelo tempo, assim como tantos outros tesouros foram rejeitados ou simplesmente foram relegados ao esquecimento.
Nessas antífonas, após a exclamação Ó, que expressa nosso desejo pela vinda de Jesus Cristo em nossas almas e pela sua vinda como juiz soberano, fala-se um dos títulos messiânicos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Percorramos um pouco essa fonte de vida espiritual que São as Antífonas Ó.
No dia 17, canta-se O Sapientia, Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, atingindo de um extremo (da criação) ao outro, dispondo todas as coisas com força e suavidade: vinde para nos ensinar o caminho da prudência. Aquele que vem é o Verbo de Deus, é a Sabedoria de Deus. Aquele que vem é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Sabedoria, exaltada no Antigo Testamento com um livro próprio, se encarna. É a Sabedoria que governa todas as coisas, dispondo tudo com suavidade, sem que às vezes nem percebamos, mas que dispõe também com força, a fim de que Deus seja glorificado, mesmo quando permite os males para tirar deles um bem. Portanto, o Menino Jesus é a Sabedoria de Deus encarnada. É a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Aquele Menino reclinado na manjedoura, com frio, enrolado em alguns trapos de tecido, é não somente um homem especial, mas é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Ele não consegue falar, mas é a sabedoria eterna, que com o Pai e o Espírito Santo é um só Deus, que governa todas as coisas.
No dia 18, canta-se O Adonai.  Ó Adonai e guia da casa de Israel, que aparecestes para Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a lei no Monte Sinai: vinde para nos redimir com a força do teu braço. Aquele que vem é o mesmo que guiou o povo judeu com a sua onipotência. É o mesmo Deus que fez a aliança com o povo hebreu e que vem agora estabelecer a nova e eterna aliança. Ele toma, então, um corpo, faz-se carne para nos redimir com a força do seu braço, com a efusão do seu sangue. É com esse sangue, com seu sacrifício na cruz que Jesus Cristo estabelece a nova lei.
No dia 19, cantamos O Radix Jesse. Ó Raiz de Jessé, que estais posta como sinal para os povos, diante do qual os reis se calam e a quem todos os povos invocarão: vinde para nos libertar, não demoreis mais. Jessé era o Pai do Rei Davi, de quem Jesus Cristo é descendente. É da árvore de Jessé que o Menino Deus vem ao mundo. Sim, além de ser a Sabedoria eterna e o Senhor, ele é também perfeitamente homem, como nós, excetuando o pecado e a inclinação para o mal. Ele é o fruto da árvore de Jessé que vem trazer o remédio para o fruto do pecado, comido por Adão e Eva. Ele vem nos libertar não de uma opressão qualquer como querem os comunistas que pretendem fazer teologia. Ele vem nos libertar do pecado. Sendo Deus, Ele é não somente o fruto, mas também a raiz, porque é o criador de todas as coisas.
No dia 20, cantamos O Claves David. Ó Chave de Davi e Cetro da casa de Israel, que abris e ninguém fecha; que fechais e ninguém abre: vinde e tirai do cárcere o prisioneiro que está imerso nas trevas e na sombra da morte. Parece peculiar chamar o Salvador de chave de Davi. Mas é bem normal. Davi é o Rei por excelência do povo judeu. A chave de Davi representa esse poder real, de ligar e desligar, de abrir e fechar. Assim, Nosso Senhor dará as chaves do reino dos céus a São Pedro, dando-lhe o poder supremo na Igreja. Aqui está expresso, então, o poder de rei desse Menino que nasce despojado de tudo no estábulo de Belém, mas a quem o Pai deu todo poder no céu e na terra. É esse Divino Menino que, na sua vida pública, vai nos dar a nova lei, a lei do Evangelho, para renovar a face da terra. Herodes o teme. Ele veio nos abrir a porta do céu, transmitindo-nos as verdades eternas, dando-nos os sacramentos. Ele veio nos tirar das trevas e da sombra da morte, isto é, do erro e do pecado. O pecado ainda não é a morte eterna, mas é a sombra da morte eterna que paira sobre aquele que está em estado de pecado mortal, pecado grave. Esse Menino veio nos tirar das trevas e da sombra da morte.
Hoje, dia 21, canta-se O Oriens. Ó Oriente, esplendor da luz eterna e sol de justiça: vinde e iluminai os que estão nas trevas e na sombra da morte. Esse Menino é o Oriente, Ele é o sol que nasce. Luz da luz, Deus de Deus, Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro. Esplendor perfeito da luz eterna, que é Deus Pai. Sol de justiça que nos veio trazer a santidade. Oriente é o nascer do sol que dissipa as trevas. O nascimento do Menino Jesus começa já a dissipar as trevas. São José e a Virgem Maria são ainda mais santificados com o nascimento dEle. Os anjos exultam no céu ao ver o Deus deles feito homem. Os pastores são já atraídos por Ele, assim como os Reis Magos. O Oriente, que é Jesus Cristo, começa a já a santificar as almas, a levá-las para Deus.
No dia 22, cantamos O Rex gentium. Ó Rei das nações e desejado por elas, pedra angular, que fazes dos dois povos um só: vinde e salvai o homem que formaste do limo da terra. Ele é o Rei das nações, dos povos. Não um rei terreno, como pensou erroneamente Herodes, procurando, por causa disso, matá-lo. Seu reino é espiritual, mas está presente nesse mundo. Seu reino é a Igreja Católica. Ele veio reinar sobre toda criatura, de modo especial sobre a nossa alma, sobre a nossa inteligência e a nossa vontade. Ele veio reinar sobre toda e qualquer sociedade, começando pelas famílias, mas também as nações e os estados. Ele veio para reinar sobre todos. Ele é a pedra angular, que quer reunir na única verdadeira religião – a católica – judeus e gentios, como a pedra angular reúne as duas paredes de uma casa. Todos são chamados a se submeter a Nosso Senhor.
 No dia 23 canta-se a última Antífona: O Emmanuel. Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e Salvação dos povos: vinde para nos salvar, Senhor, Deus nosso. Aquele Menino é Emanuel. Ele é verdadeiramente Deus conosco. Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, como já dissemos. Assim sendo, Ele é necessariamente nosso Rei e nosso Legislador. Ele é também a esperança dos povos. Hoje, sintomaticamente, em nossa sociedade, perdeu-se a esperança. As pessoas andam como desesperadas, como se a vida não tivesse significado. Perdeu-se a esperança verdadeira, isto é, de vida eterna, porque perdeu-se Jesus Cristo. O Menino Deus, vindo ao mundo, tem como finalidade nos salvar. Para isso, o Verbo Se fez carne. A finalidade da encarnação é a nossa salvação. Um Deus que nos amou tanto que se dignou nascer em um estábulo em Belém e sofrer enormemente toda a sua vida para nos salvar. Consideremos os títulos do Salvador, as qualidades dEle e as suas ações contidas nas Antífonas Ó. Fazendo isso poderemos nos preparar bem para o Natal do Senhor, nos convertendo a Ele. Ele veio para nos salvar.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

25 de dezembro de 2014

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - Parte 4

Capítulo II

Verdades fundamentais da devoção à Santíssima Virgem

60. Até aqui dissemos alguma coisa sobre a necessidade que temos da devoção à Santíssima Virgem. Com o auxílio de Deus direi agora em que consiste esta devoção, expondo, porém,
antes, algumas verdades fundamentais, que esclarecerão esta grande e sólida devoção que quero manifestar.

Artigo I

Jesus Cristo é o fim último da devoção à Santíssima Virgem

61. Primeira verdade. – Jesus Cristo, nosso salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas devoções; de outro modo, elas serão falsas e enganosas. Jesus Cristo é o alfa e omega23, o princípio e o fim de todas as coisas. Nós só trabalhamos, como diz o apóstolo, para tornar todo homem perfeito em Jesus Cristo, pois é em Jesus Cristo que habita toda a plenitude da Divindade e todas as outras plenitudes de graças, de virtudes, de perfeições; porque nele somente fomos abençoados de toda a bênção espiritual; porque é nosso único mestre que deve ensinar-nos, nosso único Senhor de quem devemos depender, nosso único chefe ao qual devemos estar unidos, nosso único modelo, com o qual devemos conformar-nos, nosso único médico que nos há de curar, nosso único pastor que nos há de alimentar, nosso único caminho que devemos trilhar, nossa única verdade que devemos crer, nossa única vida que nos há de vivificar, e nosso tudo em todas as coisas, que deve bastar-nos. Abaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos. Deus não nos deu outro fundamento para nossa salvação, nossa perfeição e nossa glória, senão Jesus Cristo. Todo edifício cuja base não assentar sobre esta pedra firme, estará construído sobre areia movediça, e ruirá fatalmente, mais cedo ou mais tarde. Todo fiel que não está unido a ele, como um galho ao tronco da videira, cairá e secará, e será por fim atirado ao fogo. Fora dele tudo é ilusão, mentira, iniqüidade, inutilidade, morte e danação. Se estamos, porém, em Jesus Cristo e Jesus Cristo em nós, não temos danação a temer; nem os anjos do céu, nem os homens da terra, nem criatura alguma nos pode embaraçar, pois não pode separar-nos da caridade de Deus que está em Jesus Cristo. Por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus Cristo, podemos tudo: render toda a honra e glória ao Pai, em unidade do Espírito Santo e tornar-nos perfeitos e ser para nosso próximo um bom odor de vida eterna.

62. Se estabelecermos, portanto, a sólida devoção à Santíssima Virgem, teremos contribuído para estabelecer com mais perfeição a devoção a Jesus Cristo, teremos proporcionado um meio fácil e seguro de achar Jesus Cristo. Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus Cristo, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio. Mas é tão o contrário, que, como já fiz ver e farei ver, ainda, nas páginas seguintes, esta devoção só nos é necessária para encontrar Jesus Cristo, amá-lo ternamente e fielmente servi-lo.

23) As páginas eloqüentes que seguem são tiradas quase exclusivamente da Sagrada Escritura. Cf., p. ex., Ap 1, 8; Cl 2, 8; Mt 23, 10; Jo 13, 13; 1Cor 8, 6; Cl 1, 18; Jo 13, 15; 10, 16; 14, 6; At 9, 12; 1Cor 3, 11; Mt 7, 26-27; Jo 15, 6; Rm 8, 38-39; etc.

* * *

63. Volto-me, aqui, um momento, pra vós, ó Jesus, a fim de queixar-me amorosamente à vossa divina majestade, de que a maior parte dos cristãos, mesmo os mais instruídos desconhecem a ligação imprescindível que existe entre vós e vossa Mãe Santíssima. Vós, Senhor, estais sempre com Maria, e Maria sempre convosco, nem pode estar sem vós; doutro modo, ela deixaria de ser o que é; e de tal maneira está ela transformada em vós pela graça, que já não vive, já não existe; sois vós, meu Jesus, que viveis e reinais nela, mais perfeitamente que em todos os anjos e bem-aventurados. Ah! Se conhecêssemos a glória e o amor que recebeis nesta admirável criatura, bem diferentes seriam os nossos sentimentos a respeito de vós e dela. Maria está tão intimamente unida a vós que mais fácil seria separar do sol a luz, e do fogo o calor; digo mais: com mais facilidade se separariam de vós os anjos
e os santos que a divina Mãe, pois que ela vos ama com amais ardor e vos glorifica com mais perfeição que todas as vossas outras criatura juntas.

64. Depois disto, meu amável Mestre, não é triste e lamentável ver a ignorância e as trevas em que jazem todos os homens na terra, a respeito de vossa Mãe Santíssima? Não falo dos idólatras e pagãos, que, não vos conhecendo, também não se importam de conhecê-la; nem falo dos hereges e cismáticos, que não têm a peito ser devotos de vossa Mãe Santíssima, a não ser de um modo especulativo, seco, estéril e indiferente. Estes senhores raras vezes falam de Maria e da devoção que se lhe deve ter, porque, dizem, receiam que se abuse dessa devoção e que se vos ofenda, honrando excessivamente vossa Mãe Santíssima. Se vêem ou ouvem algum devoto da Santíssima Virgem falar muitas vezes, de um modo terno, forte e persuasivo, da devoção a esta boa Mãe, como de um meio seguro e sem ilusão, dum caminho curto e sem perigo, duma via imaculada e sem imperfeição, e dum segredo maravilhoso para chegar a vós e vos amar perfeitamente, clamam contra ele, e lhe apresentam mil razões falsas, para provar-lhes que não é necessário falar tanto a respeito da Santíssima Virgem, que há muito abuso nessa devoção, que é preciso empenhar-se em destruir, e aplicar-se em falar sobre vós em vez de favorecer a devoção à Virgem Maria, a quem o povo já ama suficientemente.
Às vezes metem-se a falar da devoção à vossa Mãe Santíssima, não, porém, para assentá-la e propagá-la, e sim para destruir os abusos que dela se fazem. Estes senhores são, no entanto, desprovidos de piedade, e não têm por vós sincera devoção, pois que não a têm a Maria. Consideram o rosário, o escapulário, o terço, como devoções de mulheres, próprias de ignorantes, sem as quais se pode obter muito bem a salvação. E se lhes cai nas mãos algum devoto da Virgem Santíssima, que recita o seu terço ou pratica qualquer outra devoção Mariana, mudam-lhe em pouco tempo o espírito e o coração: em lugar do terço lhe aconselham recitar os sete salmos; em vez da devoção à Santíssima Virgem aconselham a devoção a Jesus Cristo.
Ó meu amável Jesus, terá essa gente o vosso espírito? Será possível que vos agradem, agindo desse modo? Poderá alguém agradar-vos sem fazer todos os esforços para agradar a Maria, por medo de vos desagradar? A devoção à vossa Mãe impede a vossa? Atribuir-se-á ela as honras que lhe damos? Formará ela um partido diverso do vosso? É ela, acaso, uma estrangeira sem a menor ligação convosco? É desagradar-vos querer agradecer-lhe? Separamo-nos, talvez, ou nos afastamos de vosso amor, se nos damos a ela e a amamos?

65. Entretanto, meu amável Mestre, a maior parte dos sábios, em castigo de seu orgulho, não se afastariam mais da devoção à Santíssima Virgem, nem a olhariam com mais indiferença, se tudo o que acabo de dizer fosse verdade. Guardai-me, Senhor, guardai-me de seus sentimento e de suas práticas, e dai-me uma parte dos sentimentos de reconhecimento, de estima, de respeito e de amor, que tendes para com vossa Mãe Santíssima, a fim de que eu vos ame e glorifique na medida em que vos imitar e mais de perto vos seguir.

66. Concedei-me a graça de louvar dignamente vossa Mãe Santíssima, como se nada fosse o que, até aqui, disse em sua honra. “Fac me digne tuam Matrem collaudare”, a despeito de todos os seus inimigos, que são os vossos, e que eu lhes repita com os santos: “Nom praesumat aliquis Deum se habere propitium qui bem edictam Matrem offensam habuerit. – Não presuma receber a graça de Deus, quem ofende sua Mãe Santíssima”.

67. E, para alcançar de vossa misericórdia uma verdadeira devoção a vossa Mãe Santíssima, e inspirá-la a toda a terra, fazei que eu vos ame ardentemente, e recebei para este fim a súplica ardente que vos dirijo com Santo Agostinho23 e vossos verdadeiros amigos:
23) Meditationum lib. I, cap. XVIIIm n. 2 (inter opera S. Agostini).
No sentido de satisfazer aos desejos dos fiéis que não compreendem o latim, damos aqui uma tradução desta oração.
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“Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação...
Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah! que, pelo menos, a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele procurais. Ó Jesus anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós inteiramente consumido em vosso amor... Amém”.

Quis transcrever no original esta oração admirável de Santo Agostinho para que assim a possam recitar as pessoas que entendem latim. Recitemo-la todos os dias para pedir o amor de Jesus, que procuramos por intermédio da Santíssima Virgem.

24 de dezembro de 2014

23 de dezembro de 2014

No céu nos reconheceremos - cartas de consolação.

SEGUNDA CARTA
No Céu todos se conhecem

I -  Provas da Sagrada Escritura: a parábola do rico avarento, explicada por Santo Irineu, e sobretudo por S. Gregório Magno. – Fato que ele cita em apoio. O juízo final, base da argumentação de S. Teodoro Studita. SENHORA, Todos os bem-aventurados admitidos no Céu conhecem-se perfeitamente, antes mesmo da ressurreição geral. Provam-no tanto a Sagrada Escritura como a Tradição. Limitar-me-ei a citar-vos o Novo Testamento, tomando apenas dele a parábola do rico avarento e algumas palavras que se referem ao juízo final. Está parábola é tão bela que não posso resistir ao desejo de apresentar a vossos olhos as suas passagens principais: Havia um homem rico que trajava esplendidamente e se banqueteava com magnificência, todos os dias. Havia também ao mesmo tempo um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de úlceras, que desejava ardentemente saciar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico, mas ninguém lhas dava, e os cães vinham lamber as suas feridas. Ora, aconteceu morrer este pobre, e foi transportado pelos anjos ao seio de Abraão. O rico morreu também e teve por túmulo o Inferno. E quando estava em tor-mentos, levantou os olhos para o Céu e viu, ao longe, Abraão e Lázaro em seu seio; e, exclamando, diz estas palavras: “Pai Abraão, tende piedade de mim, e enviai-me Lázaro, a fim de que molhe na água a ponta do seu dedo para me refrescar a língua, porque sofro horríveis tormentos nesta chama”.
Mas Abraão respondeu-lhe: “Meu filho, lembra-te que recebeste muitos benefícios na terra, e que Lázaro só teve por companheira a miséria e o sofrimento; e é por isso que está gozando agora das maiores consolações, e tu estás em tormentos”. Replicou o avarento: “Suplico-vos então, Pai Abraão, que o envieis à casa de meu pai, onde tenho cinco irmãos, a fim de adverti-los, pois receio que venham também para este lugar de tormentos”. (Luc., XVI, 19-28). Santo Ireneu, combatendo os hereges, escrevia no princípio do século III:
“O Senhor revelou-nos que as almas se lembram na outra vida das ações que praticaram nesta. Não nos ensina Ele esta verdade por meio da história do rico avarento e de Lázaro? Visto que Abraão conhece o que diz respeito a um e outro, as almas continuam portanto a conhecerem-se mutuamente e a recordarem-se das coisas da terra”. No fim do século IV, o Papa S. Gregório Magno perguntava a si mesmo se os bons conheceriam os bons no reino do Céu, e se os maus conheceriam os maus no Inferno. Sustentou a afirmativa: “Vejo, diz ele, uma prova disto, mais clara do que o dia, na parábola do rico avarento. Não declara aqui o Senhor abertamente que os bons se conhecem entre si, e os maus também? Porque, se Abraão não reconhecesse Lázaro, como falaria de suas passadas desgraças ao rico avarento que estava no meio dos tormentos? E como não conheceria este mesmo avarento os seus companheiros de tormentos se tem cuidado de pedir pelos que ainda estão na terra? Vê-se igualmente que os bons conhecem os maus e os maus os bons. Com efeito, o avarento é conhecido por Abraão; e Lázaro, um dos escolhidos, é reconhecido pelo avarento, que é do número dos réprobos. Este conhecimento põe o remate ao que cada um deve receber. Faz com que os bons gozem mais, porque se regozijam com aqueles que amaram na terra. Faz com que os maus, por isso que são atormentados com aqueles que amaram neste mundo até ao desprezo de Deus, sofram não só o seu próprio castigo, mas ainda, de alguma sorte, o dos outros. Há, mesmo para os bem-aventurados, alguma coisa mais admirável. Além de reconhecerem aqueles que conheceram neste mundo - Agnoscunt quos in hoc mundo noverante - reconhecem também, como se os houvessem visto e conhecido, os bons que nunca viram: Velut visos ac cognitos recognoscunt.
Que podem ignorar os bem-aventurados no Céu, vendo em plena luz o Deus que tudo sabe? Um dos nossos religiosos, muito recomendável pela sua santidade, viu junto de si, por ocasião da sua morte, os profetas Jonas, Ezequiel e Daniel, e designou-os por seus nomes.
Este exemplo faz-nos claramente perceber quão grande será o conhecimento que teremos uns dos outros na incorruptível vida do Céu, visto que este religioso, estando ainda revestido da corruptibilidade, conheceu os santos profetas que nunca tinha visto”
Encontramos um fato muito semelhante na vida da fundadora das Anunciadas Celestinas, Maria Vitória Fornari. Interrogava ela uma irmã conversa, pobre aldeã, sobre os Bem-aventurados que a honravam com suas aparições, como a Santíssima Virgem, Santo Onofre, Santa Catarina de Sena, etc.. Surpreendida por ver que uma rapariga sem letras tinha um tão distinto conhecimento de tantos santos, a bem-aventurada perguntou-lhe onde havia aprendido tudo o que sabia a este respeito: “Minha madre, disse ela com grande simplicidade, todos os santos se conhecem distintamente em Deus”. S. Gregório Magno foi citado por escritores eclesiásticos muito antigos: na Alemanha, no século IX, por Haymon, Bispo de Halberstadt; na Inglaterra, no século VIII, pelo venerável Beda; na Espanha, no século VII, por S. Julião, Bispo de Toledo. Todos participam do seu sentimento e o afirmam sem rodeios.
S. Julião, por exemplo, antes de referir estas palavras do grande Pontífice, diz: “As almas dos defuntos, privadas de seus corpos podem reconhecer-se mutuamente; o Evangelista assim o atesta. Não se pode duvidar de que as almas dos mortos se reconheçam: 'Non est dubitandum quod se defunctorum spiritus recognoscant’. Sobre o juízo final, temos as seguintes palavras de Jesus Cristo a seus discípulos: “Em verdade vos digo que, quando chegar o tempo da regeneração, e o Filho do Homem estiver sentado no trono da sua glória, vós, que me tendes seguido, estareis sentados sobre doze cadeiras e julgareis as doze tribos de Israel” (Matth., XIX, 28.). Temos também estas palavras do grande Apóstolo aos Coríntios:
“Não sabeis que os santos devem um dia julgar o Mundo? Não sabeis que nós seremos os juízes dos mesmos anjos?” (1 Corinth., VI, 2, 3). Tal é a base da argumentação de S. Teodoro Studita, num discurso que fez no fim do VIII século ou princípio do IX, para refutar o erro que nos esforçamos por combater aqui. “Alguns oradores, diz ele, enganam os seus ouvintes, sustentando que as criaturas ressuscitadas não se reconhecerão quando o Filho de Deus vier julgar-nos a todos.” “Como, exclamam, quando de frágeis nos tornarmos incorruptíveis e imortais; quando já não houver gregos, nem judeus, nem bárbaros, nem citas, nem escravos, nem homens livres, nem esposo, nem esposa; quando formos todos semelhantes em gênios, poderíamos reconhecer-nos mutuamente?”. Respondemos, em primeiro lugar, que o que é impossível aos homens é possível a Deus. Doutra sorte não acreditaríamos na ressurreição da carne, pretextando raciocínios humanos. E, efetivamente, como se poderá reorganizar no último dia um corpo desfeito em podridão, devorado talvez por animais ferozes, pelas aves ou pelos peixes, e estes devorados por outros e isto de muitas maneiras, e sucessivamente? Todavia, assim há de ser, e o secreto poder de Deus reunirá todas as suas partes espalhadas e as ressuscitará. Então, cada alma reconhecerá o corpo com que viveu. Mas cada uma das almas reconhecerá também o corpo do seu próximo? Não se pode duvidar, sem que se ponha ao mesmo tempo em dúvida o juízo universal. Porque não se pode ser citado em juízo sem ser conhecido, e para julgar uma pessoa é preciso conhecê-la, segundo estas palavras da Sagrada Escritura: “Convencer-vos-ei, e porei diante de vossos olhos vossos pecados” (Ps., XLIX, 21). O valor deste raciocínio depende da seguinte distinção: no juízo particular, somos julgados só por Deus; mas, no juízo universal, julgaremos de alguma sorte uns aos outros. Entretanto, o primeiro só manifesta a justiça à alma que é julgada, o último a manifestará a todas as criaturas. Assim todas esperam, para o grande dia, a revelação dos filhos de Deus (Rom., VIII; 19) que fará mudar muito as apreciações dos homens.O Santo continua nestes termos:
“Portanto, se nos não reconhecermos mutuamente, não seremos julgados; se não formos julgados, não seremos recompensados ou punidos pelo que tivermos feito e sofrido neste mundo. Se não devem reconhecer aqueles a quem hão de julgar, verão porventura os Apóstolos o cumprimento desta promessa do Senhor: Assentar-vos-eis sobre doze tronos para julgardes as doze tribos de Israel?” (Matt., XIX, 28). E por estas palavras: “Onde o próprio irmão não resgata, um estranho resgatará” (Ps. XL-VIII, 8), não supõe o santo rei David que o irmão reconhecerá seu irmão? Muitas são as razões e autoridades que se opõem àqueles que pretendem negar o mútuo reconhecimento das almas no Céu; asserção insensata, asserção comparada pela impiedade às fábulas de Orígenes. Enquanto a nós, meus irmãos, acreditemos sempre que ainda havemos de ressuscitar, que nos tornaremos incorruptíveis, e que nos reconheceremos mutuamente, como nossos primeiros pais se conheciam no paraíso terrestre, antes do pecado, quando estavam ainda isentos de toda a corrupção.
Sim, é necessário crê-lo: Gredendum fore ut fratrem agnoscat frater, liberos pater, uxor maritum, amicus amicum – o irmão reconhecerá seu irmão, o pai seus filhos, a esposa seu esposo, o amigo seu amigo; digo mais: o religioso reconhecerá o religioso, o confessor reconhecerá o confessor; o mártir, o seu companheiro de armas; o apóstolo, o seu colega no apostolado; todos nos conheceremos - quo omnium in Deo laetum domicilium sit - a fim de que a habitação de todos em Deus se torne mais agradável pelo benefício, além de tantos outros, de nos reconhecermos mutuamente”

22 de dezembro de 2014

No céu nos reconheceremos - cartas de consolação.

IV -  Porque Deus só basta aos escolhidos, seguir-se-á que terão a Deus unicamente? – A sua liberalidade em todas as ordens conhecidas prova qual seja a mesma na ordem da glória. – É falso que nos esqueçamos no Céu ou que sejamos insensíveis à felicidade de nos tornarmos a ver. – Palavras de S. Francisco de Sales sobre este mútuo reconhecimento e sobre a alegria que dele resulta. Disseram-vos ainda: “Só Deus é suficiente aos escolhidos! Sem dúvida, deixando-se ver e possuir por nós, só Deus seria bastante para nos tornar a todos felizes. Mas que se pode concluir daqui? Se bastava a si mesmo desde toda a eternidade, direis vós que nada criou no tempo e que nós não existimos? O menor sofrimento do Redentor bastava para nos salvar a todos: negareis sua Paixão e sua Morte? A sua Divindade é suficiente a si mesma: credes que ela não tenha cuidado algum da sua humanidade? Descei desta ordem toda divina até à ordem da graça e da mesma natureza, e contai todos os socorros que nos são oferecidos para santificar nossas almas, todas as iguarias que nos são dadas para nutrir nosso corpo, contai todas as flores que ornam a terra e todos os astros que brilham no firmamento, e dizei se o Senhor se contentou de criar para nós o suficiente, ou se passou muito além dele. E querer-se-ia que na ordem da glória, quando houver de recompensar os seus fiéis servos, os seus apóstolos, os seus mártires, os seus pontífices, os seus confessores e as suas virgens, se limitasse a dar-lhes estritamente o necessário! Não, não. Deus mostrar-se-á ainda mais generoso e mais pródigo para com os santos do Céu do que para com os justos da terra. Vemos e sabemos o que fez para nós na ordem da natureza e da graça; mas o grande Apóstolo nos afirma que os nossos ouvidos nada ouviram, e que o nosso coração nada conjeturou que seja comparável ao que Deus prepara, na ordem da glória, àqueles que o amam (1 Cor., II, 9). Pela graça possuímos a Deus neste mundo, e será verdade que aquele que tem a graça não necessita de mais coisa alguma? É certo, pelo contrário, que tem ainda necessidade de exortações e de bons exemplos, da intercessão dos santos, da participação dos sacramentos, de mortificações e de orações para conservar e aumentar esta graça. Assim, no outro mundo, sem que isto seja então para nós uma necessidade, mas porque desejará encher-nos inteiramente de seus dons, o mesmo Deus, que só por si bastaria para a nossa felicidade essencial, se dignará aumentá-la acidentalmente pela sociedade das santas almas que tivermos conhecido e ternamente amado na terra. E do mesmo modo que, em tudo o que nos dá segundo a natureza ou segundo a graça, é Ele que se nos comunica por diferentes maneiras e em muitos graus; assim, também na bem-aventurança será ainda Ele, sempre Ele, que se dará a nós por meio de todas as criaturas glorificadas, as quais nos permitirá contemplar e admirar, reconhecer e amar. Não temais, Senhora, que as almas se esqueçam mutuamente no Céu, ou que sejam insensíveis a tudo que não for Deus. A caridade nunca pode ser indiferente nem insensível. Por isso mesmo que as ama, o Criador é sensível a tudo o que diz respeito às suas criaturas. Nosso Senhor é sensível à presença de sua Mãe, e Maria não é indiferente à glória da humanidade de Jesus. Se nós devêssemos ser insensíveis à felicidade de tornarmos a encontrar no Paraíso as pessoas mais queridas, a nossa alma devia ser indiferente à ressurreição do seu próprio corpo: e assim caducariam muitos argumentos empregados pelos teólogos para provarem a ressurreição da carne. No Céu seremos capazes de tudo conhecer ao mesmo tempo, com amor, e de tudo sentir com alegria, sem que um conhecimento ou um sentimento seja nocivo a outro.Sentiremos tão vivamente como na terra o amor para com nossos parentes e nossos amigos, ainda que o nosso amor para com Deus seja então incomparavelmente mais ardente e mais sentido.
Nunca estaremos absorvidos em Deus a tal ponto que nos esqueçamos de tudo que não for Ele. Mas, como se tem dito, os amigos, os irmãos, os parentes, se reconhecerão, conversarão e se lembrarão de suas lágrimas, de seus combates e de suas tribulações; porque esta vida momentânea lega à vida infinita uma eterna lembrança e infindas gratulações.
A vista e o pensamento das criaturas não farão um só momento olvidar o Criador; a vista e o amor do Criador não impedirão de ver e de amar as criaturas. Unidas e distintas, todas estas alegrias, todos estes louvores e todos estes amores se fundirão no louvor e amor de Deus, e formarão em sua glória um concerto único, sempre variado, sempre o mesmo, o aleluia eterno.” Deixai, Senhora, deixai nutrir vosso coração desta doce esperança, e permiti-me que acrescente a esta ainda mais algumas linhas que vos tranqüilizarão. São estas de S. Francisco de Sales, explicando a transformação de Jesus Cristo sobre o Tabor, que foi como uma reprodução do Céu (Matth. XVIII, 1-9): “Todos os bem-aventurados se conhecerão mutuamente por seus nomes, como nos afirma o Evangelho de hoje. Pedro viu ainda Moisés e Elias que nunca tinha visto, os quais conheceu perfeitamente, tendo o primeiro um corpo transparente como o ar, e o segundo seu próprio corpo como quando foi arrebatado num carro de fogo. Vedes, pois, muito bem que todos nos reconheceremos mutuamente na eterna felicidade, visto que nesta pequena amostra que Nosso Senhor se dignou apresentar sobre a montanha do Tabor a seus apóstolos, quis que estes conhecessem Moisés e Elias que nunca tinham visto. À vista disto, que contentamento o nosso, vendo aqueles que tivermos extremosamente amado nesta vida! Sim, conheceremos mesmo os novos cristãos, que se converterem agora à nossa santa fé, nas Índias, no Japão e nos antípodas; as santas amizades, da mesma forma que tiverem sido começadas por Deus nesta vida, continuarão na eterna. Amaremos pessoas particulares, mas estas amizades não formarão parcialidades, porque todas as nossas amizades tomarão a sua origem no amor de Deus, que, conduzindo-as todas, fará que amemos a cada um dos bem-aventurados com o puro amor com que somos amados por sua divina Bondade. Ó Deus! que consolações receberemos na celeste conversação que tivermos uns com outros!
Na bem-aventurança, os nossos bons anjos nos darão uma consolação muito maior do que se pode dizer ou ainda imaginar, quando se nos fizerem reconhecer e nos representarem mui amorosamente o cuidado que tiveram da nossa salvação enquanto estivemos na terra, lembrando-nos as santas inspirações que nos ofereceram como um leite sagrado que iam tirar dos peitos da divina Bondade para nos atrair à indagação dessas divinas suavidades, de que então estivermos gozando. Não vos re-cordais, nos dirão, duma tal inspiração que vos sugeri em tal tempo, lendo um tal livro, ouvindo um tal sermão ou fitando tal imagem, inspiração que vos incitou a converter-vos a Nosso Senhor, e que foi o motivo da vossa predestinação?
Ó meu Deus! e não se derreterão nossos corações num indizível contentamento?!

21 de dezembro de 2014

Sermão para o 3º Domingo do Advento – Gaudete – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Meios para alegrar a alma

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Estamos hoje no 3º Domingo do Advento, Domingo chamado Gaudete, em razão da primeira palavra do Introito e em razão da Epístola. Trata-se de uma pequena pausa na penitência do advento, para antecipar a alegria do nascimento do Salvador. Do roxo se passa ao rosa, o órgão se toca, pode haver flores sobre o altar.
Lembro aos pais que devem explicar para as crianças o que é o Natal: que é o nascimento de Cristo e não a festa do Papai Noel ou uma simples troca de presentes nas férias.
Gaudete semper in Domino, iterum dico, gaudete. Alegrai-vos sempre no Senhor. Digo de novo, alegrai-vos.”
A ordem que nos dá hoje a Igreja, tomando as palavras de São Paulo, é essencial. Gaudete semper in Domino. Alegrai-vos sempre no Senhor. Essa advertência é importantíssima porque a alegria é indispensável para que possamos perseverar no bem, na graça. Nós devemos compreender que devemos ser profundamente alegres, se estamos em estado de graça e nos mantemos, assim, unidos a Deus. Com a graça santificante em nossas almas, sem o pecado mortal, possuímos o maior bem que podemos desejar, possuímos o maior bem que existe, que é a Santíssima Trindade, e não há alegria maior do que possuir o maior bem. Nossa alegria deve ser profunda e grande se estamos unidos a Deus, mesmo em meio a todos os males. É claro que essa alegria não significa estar sempre sorrindo. Não. Nosso Senhor na cruz não sorria, mas estava profundamente alegre na parte superior de sua alma, pois cumpria a vontade de Deus e, com todos os seus sofrimentos, oferecia um sacrifício perfeito à Santíssima Trindade e realizava a nossa redenção. Um católico deve ser profundamente alegre, sempre, no Senhor.
O Padre Ambrósio de Lombez, em seu livro “Tratado da Alegria da alma cristã”, enumera os principais meios para que sejamos alegres no Senhor. Baseado nele, podemos enumerar alguns desses meios. O primeiro deles é manter-se na justiça, quer dizer, na prática da virtude. A alma cuja consciência está tranquila e bem regrada pode ficar continuamente alegre. O segundo meio que podemos enumerar é ocupar o espírito com aquilo que pode alegrar a nossa alma. Isso não diz respeito ao que agrada à sensualidade, à vaidade, à ambição ou outra coisa desordenada. Não, o que devemos considerar aqui é, por exemplo, o amor de Deus por nós, que se encarnou e veio ao mundo para nos salvar, e nos salvar sofrendo e morrendo por nós sobre a cruz. Em particular, nesse tempo do advento, devemos ocupar muitíssimo nosso espírito com a caridade divina, com o Menino Deus que vem ao mundo para nos salvar. O terceiro meio para ter essa verdadeira alegria é pedir a Deus tal alegria. Tudo o que temos de bom, recebemos de Deus. Portanto, também essa alegria nos vem de Deus e devemos pedi-la, se quisermos possuí-la. O Padre Lombez nos diz também que essa alegria não é dada aos covardes e mornos, tíbios. Portanto, buscar amar a Deus sobre todas as coisas com afinco e servi-lo com prontidão da vontade e generosidade é o quarto meio necessário para alcançar essa alegria. Para alcançar essa alegria, é preciso também uma grande confiança em Deus, sabendo que todas as coisas conspiram para o bem daqueles que amam a Deus, mesmo os sofrimentos e as provações. Outro meio necessário é extinguir em nós o apego desordenado aos bens desse mundo. São esses alguns dos meios que o Padre Ambrósio de Lombez enumera e explica em seu livro e que são indispensáveis para a alegria da alma. Se pudéssemos resumir, podemos dizer que a alegria da alma nada mais é que um fruto da santidade, isto é, fruto da união profunda com Deus, fruto da conformidade plena da nossa vontade com a vontade de Deus.
Essa verdadeira alegria, essa alegria de praticar a virtude, de amar a Deus, de servi-lo com prontidão é um grande tesouro, necessário para perseverarmos até o fim e alcançarmos a alegria plena no céu. Poderíamos, porém, acrescentar, aos meios que o Padre Lombez enumera, a liturgia tradicional. Ela é um tesouro que nos conduz à verdadeira alegria e que deve nos alegrar. Não é por acaso que na Missa tradicional fala-se três vezes do “Deus que alegra a nossa juventude”. A nossa juventude que se alegra em Deus é o homem novo, gerado pela graça, pelo abandono do pecado, pela prática das virtudes. Portanto, a Missa Tradicional está distante de ser uma liturgia triste. Ela é, ao contrário, uma liturgia perfeitamente alegre. Ela é alegre porque nos transmite plenamente a verdade ensinada por Cristo. Ela é alegre porque pelos ritos e solenidade sóbria, nos deixa manifestar a majestade divina e sua onipotência, nos fazendo ter grande confiança nEle. Ela é alegre porque de modo claríssimo renova o sacrifício de Cristo na Cruz, aplicando as graças que Ele mereceu no Calvário, nos fazendo, assim, ver a bondade divina. Ela é alegre porque nos converte inteiramente a Deus, desde a posição do padre no altar, até o modo de os fiéis comungarem, passando pelo latim e pelo silêncio. Ela é alegre porque, por seus ritos abundantes e orações perfeitas, alcança de Deus inúmeras graças que nos dispõem a receber devidamente os frutos da Santa Missa. Ela é alegre porque nos conduz ao desapego dos bens terrenos e ao desapego de nossa vontade própria, ao nos centrar inteiramente em Deus, esquecidos de nós e do mundo. Ela é alegre porque nos ensina a rezar bem, como dissemos quando tratamos do silêncio em outro sermão. E quem reza bem se salva. Ela é alegre porque coloca Deus e nós homens nos nossos devidos lugares. Ele, no centro, com sua soberana majestade, com sua onipotência, com todas as suas perfeições, com sua misericórdia e justiça, com sua bondade infinita. Nós, como pobres pecadores, que devemos adorar a Deus, que devemos agradecer-lhe por todos as graças que recebemos,  que devemos pedir perdão por nossos pecados, que devemos implorar as graças que precisamos para nos salvar. Ela é alegre porque ontem, hoje e sempre, nos conduz à santidade com toda segurança. Que grande meio é a liturgia tradicional para sermos felizes sempre no Senhor.
Com muita frequência, todavia, aqueles que buscam com seriedade amar a Deus sobre todas as coisas, e buscam a salvação da própria alma e a salvação do próximo são tentados por uma má tristeza. A má tristeza pode ser de dois tipos. A primeira delas é uma má tristeza em si mesma, quer dizer, quando nos entristecemos por algo que na verdade é um bem. Um exemplo dessa má tristeza seria entristecer-se por ter de vir à Missa no domingo, ou entristecer-se por não poder dizer uma grosseria. A segunda má tristeza, a que atinge principalmente os bons, é uma tristeza que tem razão de ser, mas que tem consequências ruins. Vemos, constantemente, os bons católicos tristes pelas ofensas que se cometem contra Deus, pelas infidelidades dos homens de todas as posições, pelo estado da Igreja e da sociedade, pelo desprezo com o que há de mais sagrado e pelo desprezo para com a lei natural. De fato, como não se entristecer diante de uma sociedade que sacrifica os filhos, pelo aborto, no altar da comodidade e do prazer e que se alegra em aprovar publicamente pecados que clamam aos céus por vingança, como o homossexualismo? Há motivo para que haja tristeza, não tem dúvidas. Todavia, será uma tristeza ruim, se, como consequência, ela nos leva ao abatimento da alma, se ela nos faz perder a confiança em Deus e nos faz perder o desejo de rezar. Ela será uma tristeza ruim, se ela nos faz buscar divertimentos exteriores ilícitos ou se nos faz buscar, mais do que o devido, divertimentos lícitos. Essa tristeza ruim nos impede muitas vezes de fazer o bem que podemos e devemos fazer aqui e agora, sob pretexto de que a situação da Igreja está muito difícil, ou com a desculpa de que já não se pode fazer nada ou porque, às vezes, aqueles que mais deveriam nos ajudar, infelizmente, atrapalham. Essa má tristeza é, lastimavelmente, bastante comum, mesmo entre bons católicos. Ela é uma praga. Como nos diz a Sagrada Escritura (Eclesiástico 30, 24 e 25): Fixa o teu coração na santidade do mesmo Deus e afasta para longe de ti a tristeza, pois a tristeza matou muitos e nela não tem utilidade. A tristeza, dominando muitas almas, matou-as espiritualmente, paralisando-as, levando-as ao desencorajamento, ao desespero. É preciso afastar com toda força para longe de nós essa tristeza. Diante dos verdadeiros males, devemos reagir com uma tristeza cristã, se assim podemos chamá-la: uma tristeza que nos leva à oração e ao fervor no serviço de Deus, que nos leva a buscar a união profunda com Deus, onde está a nossa verdadeira consolação, que não é uma consolação sensível. Essa boa tristeza não nos impede de fazer o bem que podemos e devemos fazer aqui e agora na nossa escala. Ao contrário, ela nos conduz a praticar esse bem com intensidade. A boa tristeza sabe tirar dos males um bem, sempre. Essa boa tristeza é motivo de alegria no fundo, pois ao nos fazer progredir na união com Deus e na prática da virtude, nos leva à alegria. Ela nos fixa em Deus.
Portanto, caros católicos, alegremo-nos sempre no Senhor. Afastemos para longe de nós a tristeza que nos tira as forças e nos conduz à morte espiritual. Devemos servir a Deus com alegria (Salmo 99, 2) e devemos nos rejubilar no Senhor (Salmo 99, 1), como nos diz a Sagrada Escritura. Deus alegrará a juventude da nossa alma, se aplicarmos os meios de que falamos.. Deus não nos quer sorrindo o tempo todo como diz uma canção que se canta por aí, mas Ele quer que sejamos profundamente alegres, de uma alegria e entusiasmo espirituais. O demônio e o mundo, por sua vez, querem nos fazer acreditar que ser católico é algo triste e melancólico, pois o católico renuncia a vários bens desse mundo. Um católico não aproveita a vida, se diz. Que grande ilusão o demônio e o mundo nos apresentam. É preciso, sobretudo, deixar claro para nossas crianças e jovens que ser católico é uma grande alegria. O católico abandona os bens aparentes desse mundo para possuir o verdadeiro bem, que é a Santíssima Trindade. Um católico aproveita mais do que ninguém a vida e a aproveita muito bem, juntando tesouros eternos. Alegrai-vos sempre no Senhor. Digo de novo, alegrai-vos.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém