9 de dezembro de 2014

Sonhos de Dom Bosco

14/21 - AS DEZ COLINAS (1864)
     
 Dom Bosco havia sonhado na noite precedente. Ao mesmo tempo, um jovem chamado C. E., de Casale Monferrato, teve também o mesmo sonho, parecendo-se que se encontrava com Dom Bosco e que falava com ele. Ao levantar-se estava tão impressionado que foi contar quanto havia sonhado a seu professor, no qual aconselhou que se entrevistasse com o Servo de Deus. O jovem obedeceu imediatamente e se encontrou com Dom Bosco, que descia as escadas em sua busca para fazer o mesmo.
Pareceu-lhe encontrar-se em um extensíssimo vale ocupado por milhares e milhares de jovenzinhos; tantos eram, que o Servo de Deus não acreditou que houvesse tantos meninos no mundo. Entre aqueles jovens viu aos que estiveram e os que estão em casa e aos que um dia estarão nela. Juntos com eles estavam os sacerdotes e os clérigos da mesma.
Uma montanha altíssima cercava aquele vale por um lado. Enquanto Dom Bosco pensava no que havia com aqueles meninos, uma voz lhe disse:
- Vês aquela montanha? Pois bem, é necessário que tu e os teus cheguem até lá em cima.
Então ele deu ordem a toda aquela multidão de encaminhar-se a um lugar indicado. Os jovens de puseram em marcha e começaram a escalar a montanha a toda pressa. Os sacerdotes da casa corriam na frente animando os meninos à subida, levantavam os caídos e carregavam sobre suas costas os que não podiam prosseguir a causa do cansaço. Dom Miguel Rua, com as mangas da camisa arregaçadas, trabalhava mais que ninguém e, tomando os meninos de dois em dois, os lançavam pelos ares em direção à montanha, sobre a qual caíam de pé, e corriam depois alegremente por uma e outra parte.
Dom João Cagliero e Dom João Batista Francesia recorriam às fileiras gritando:
- Ânimo. Avante! Avante, ânimo!
Em pouco mais de uma hora aqueles numerosos grupos de jovens haviam alcançados o cume; Dom Bosco também havia ganhado a meta.
E agora que fazemos?, disse.
E a voz acrescentou:
deves recorrer com teus jovens essas dez colinas que contemplas diante de tua vista, dispostas uma detrás da outra.
Porém, como poderemos suportar uma viajem tão longa, com tantos meninos tão pequenos e tão delicados?
Os que não podem caminhar com seus pés serão transportados, respondeu-lhe.
E eis que, em efeito, apareceu por um extremo da colina uma magnífica carruagem. Tão bonita era, que seria impossível descrevê-la, mas algo se pode dizer. Tinha forma triangular e estava dotada de três rodas que se moviam em todas as direções. Dos três ângulos partiam três hastes que se uniam em um ponto sobre a mesma carruagem formando como a cobertura de um alpendre. Sobre o ponto de união, levantava-se um magnífico estandarte em que estava escrito, com caracteres cubitais, esta  palavra: Inocência. Uma franja bordava ao redor de toda a carruagem formando orla na qual aparecia a seguinte inscrição: Adjutorium Dei Altissimi Patris et Filii et Spiritus Sancti (Ajuda do Altíssimo Deus, Pai, Filho e Espírito Santo).
            O veículo, que resplandecia como o ouro e que estava repleto de pedras preciosas, avançou até  se colocar no meio dos jovens. Depois de recebida a ordem, muitos meninos subiram nele. Eram quinhentos. Apenas quinhentos, entre tantos milhares de jovens, eram, todavia inocentes!
            Uma vez ocupado o carro, Dom Bosco pensava por que caminho havia de se dirigir, quando viu abrir-se ante seus olhos um caminho largo e cômodo, mas todo coberto de espinhos. De repente   apareceram seis jovens que haviam mortos no Oratório, vestidos de branco e levantando uma belíssima bandeira em que se lia: Penitência. Estes foram colocar-se à cabeça de todos aqueles grupos de meninos que haviam de continuar a viagem a pé.
            Seguidamente  deu-se do sinal de partida. Muitos sacerdotes lançaram-se aos varais da carruagem, que começou à se mover, tirada por eles. Os seis jovens vestidos de branco lhes seguiram. Detrás ia toda a multidão de garotos. Acompanhados de uma música belíssima, indescritível; os que iam na carruagem entoaram o Laudare, pueri,     Dominum (Louvai, meninos, ao Senhor). Dom Bosco prosseguiu seu cominho como que extasiado por aquela melodia do céu, quando lhe acorreu olhar para trás à comprovar se todos os jovens lhe seguiam. Porém, o doloroso espetáculo! Muitas haviam caídos no vale e muitos outros haviam voltado atrás. Com indizível dor , decidiu refazer o caminho para persuadir àqueles imprudentes que continuassem na ação e para ajudar-lhes à lhes seguir. Mas os proibiu irrevogavelmente.
— Se não lhes ajudo, estes pobrezinhos se perder-se-ão, exclamou ele.
— Pior para eles, lhe foi respondido; foram chamados como os demais e não quiseram seguir-te. Hão visto o caminho que deve recortar e isso basta.
Dom Bosco queria replicar, vagou, insistiu porém tudo foi inútil.
— Também tu tens que obedecer, disseram-lhe.
           E teve que prosseguir o caminho.
            A um  não havia refeita de este dor, quando sucedeu outro lamentável acidente.
            Muitos dos meninos que se encontravam na carruagem, pouco a pouco, foram caído por terra. Dos quinhentos, apenas  se chegaram cento e cinqüenta baixo estandarte da inocência.
             A Dom Bosco lhe parecia que  o coração ia partir no peito pela insuportável angústia. Abrigava, com tudo, a esperança de que aquilo fosse somente um sonho; fazia todo tipo de esforço para despertar-se porém cada vez se convencia  mais de que se tratava de uma terrível realidade. Dava palmadas e ouvia  o ruído produzido por suas mãos, gemia e percebia seu gemidos ressonando na habitação, queria dissipar aquele terrível pesadelo, porém nada podia.
            — Ah, meus queridos jovens!, exclamou ao chegar a este ponto da narração do sonho, eu havia visto e reconhecido os que quedaram no vale, os que se votaram atrás e os que caíram da carruagem. Os reconheci todos porém não duvideis: fiz toda sorte de esforços possível ao meu alcance para salvar-vos. Muitos de vocês convidados por mim a confessar-se, não respondestes a meu chamado. Por caridade salvai vossas alma.
            Muitos dos meninos que caíram do carro foram a colocar-se pouco a pouco entre as fileiras dos que  caminhavam detrás da segunda  bandeira.
            Entretanto, a música do carro continuava sendo tão doce, que a dor de Dom Bosco foi desaparecendo.
            Havia passado já sete colinas e,  ao chegar na oitava, a multidão de jovens chegou a um belíssimo povoado em que se  tomou um  pouco de descanso. As casas era de uma riqueza e de uma beleza indescritível.
             Ao falar aos jovens sobre aquele lugar, exclamou Dom Bosco:
            — Os direi  com Santa Teresa o que ela afirmou do paraíso: são coisas que, se falar delas, perdem o valor, porque são tão belas que inútil esforçar-se em descrever. Portanto só acrescentarei que as colunas daquelas casas pareciam de ouro, de cristal e de diamante ao mesmo tempo, de forma que produziam uma grata impressão, saciavam a vista e infundiam um gozo extraordinário. Os campos estavam repletos de árvores em cujas ramas apareciam, ao mesmo tempo, flores, gemas, frutos maduros e frutos verdes. Era um espetáculo encantador:.
            Os jovenzinhos se esparramaram por todas as partes: atraídos por uma coisa, outros por outra, e desejosos, ao mesmo tempo, de provar aquelas frutas.
Foi neste povoado onde aquele jovem de Casale se encontrou com Dom Bosco e teve com ele um longo diálogo. Ambos recordavam depois as perguntas e respostas da conversação que haviam mantido. Singular combinação de dois sonhos!
Dom Bosco experimentou aqui outra estranha surpresa. Viu de repente os seus jovens como se houvessem tornados velhos; sem dentes, com o  rosto cheio de rugas, o cabelo branco, encurvados, caminhando com dificuldades apoiados num bastão. O  Servo de Deus estava maravilhado com aquela metamorfose, mas a voz lhe disse:
— Tu te maravilhas, porém, hás de saber que não faz horas que saíste do vale, senão anos e anos. Tem sido a música que  tem feito  que o caminho te parecera curto. Em prova do que te digo, observa rua fisionomia e te convencerás de que estou dizendo a verdade.
Então lhe foi apresentado um espelho a Dom Bosco. Nele se olhou e comprovou que seu aspecto era de um homem ancião, de rosto coberto de rugas e boca desdentada.
A comitiva, entretanto, voltou a colocar-se em marcha e os jovens manifestavam desejos, de quando em quando, à  se deter para contemplar aquelas coisas novas. Dom Bosco lhes dizia:
— Adiante, adiante, não necessitamos de nada, não temos fome, não temos sede ; portanto, prossigamos adiante.
Ao fundo, na parte distante, sobre a décima colina despontava uma luz que ia sempre um aumente, como se saísse de uma maravilhosa porta. Voltou a olhar novamente o canto, tão harmonioso; que somente no Paraíso se pode ver e gostar de uma coisa igual. Não era uma música instrumental, nem parecia de vozes humanas. Era algo impossível de descrever e foi tanto o júbilo que inundou a alma de Dom  Bosco que se despertou encontrando-se no leito.
Observações:
Dom Bosco teve este sonho à 21 de novembro e o narrou à noite de 22. Esta mesma noite a transcreve Dom Lemoyne. Dom Bosco o interpretou assim: o vale é o mundo; as montanhas, os obstáculos para desapegar-nos delas; as dez colinas, os dez mandamentos de Deus; o carro, a graça de Deus; os jovens que começam a pé são os que, perdida a inocência, arrependeram-se de seus pecados. Acrescentou que estava disposto a dizer confidencialmente o papel que desempenhava no sonho.
Dom Lemoyne interpreta as dez colinas como decênios: a oitava colina, sobre a qual Dom Bosco faz uma parada, representa o término da vida de Dom Bosco, que terá lugar mais além de seus sessenta anos.



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