9 de dezembro de 2014

Sermão para o 1º Domingo do Advento – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] O ano litúrgico e a sociedade

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Sermão
 “A vós, Senhor, elevei a minha alma. Meu Deus, em vós confio. Não me envergonharei nem zombarão de mim os inimigos. Todos os que esperam em vós não serão confundidos.”
Começamos hoje, caros católicos, com o 1º Domingo do Advento, mais um ano litúrgico. Pouco a pouco os senhores vão se acostumando com o ano litúrgico tradicional. Tempo do Advento, em roxo, preparando-nos para o Natal. Tempo do Natal, que engloba também o tempo da Epifania, em branco. Em seguida, o Tempo depois da Epifania, com os domingos em verde. Tempo da Septuagésima, com três domingos em roxo e que nos predispõem pouco a pouco para as austeridades da Quaresma. Quaresma que, por sua vez, nos prepara para a Páscoa. Aos quatro domingos da Quaresma somam-se os dois domingos do Tempo da Paixão. Vem, depois, a Páscoa e o Tempo Pascal, que engloba o Tempo da Ascensão e o Tempo de Pentecostes. Em seguida, vem o Tempo depois de Pentecostes, com suas grandes festas: Santíssima Trindade, Corpus Christi, Sagrado Coração, Assunção de Nossa Senhora, Cristo Rei, Todos os Santos, para citar algumas delas.
O ano litúrgico com seus tempos próprios, com suas graças próprias, não devem ser para nós algo distante e sem muito sentido. Ao contrário, o ano litúrgico, com seus tempos e suas festas devem ditar o ritmo da nossa vida. Uma sociedade cristã se deixa influenciar profundamente pelo calendário da Santa Igreja. Um exemplo concretissimo desse fato é o nome dado aos dias da semana em nossa língua portuguesa. Na maioria das línguas, esses dias recebem nomes que se referem a astros celestes, a deuses pagãos: lua, marte, mercúrio, etc. Na nossa língua, eles tiram seu nome da liturgia da Igreja Católica. Na Igreja, esses dias da semana chamam-se feria secunda, feria tertia, feria quarta, feria quinta, feria sexta, que vão originar, então, segunda-feira, terça-feira, etc. Uma sociedade genuinamente cristã se deixa guiar pelo ano litúrgico da Igreja. Tanto é assim que a Revolução e suas derivações quiseram instituir um novo calendário, inclusive mudando o tamanho das semanas, para que deixasse de haver o domingo a cada sete dias. A mudança no calendário era um modo de descristianizar rapidamente a sociedade. Mas a vida social estava tão profundamente enraizada na alma e no quotidiano do povo que logo tiveram que abandonar a ideia. Está claro que uma mudança considerável do calendário litúrgico, como a que ocorreu nos últimos quarenta anos, favorece também a laicização da sociedade. Perde-se a referência de festas que já existiam, muitas vezes, há séculos e séculos. Com frequência, as pessoas não se referiam aos dias pelo número do dia e pelo nome do mês, mas pela festa de tal ou tal santo ou pela comemoração de tal ou tal Mistério da vida de Cristo ou de Nossa Senhora. Tudo isso desapareceu, praticamente, caros católicos. Ainda restam algumas referências litúrgicas na medição do nosso tempo, mas já completamente descaracterizadas. As festas juninas, por exemplo, já não são mais em honra de São João, mas simplesmente uma celebração laica de sabe-se lá o quê, ou quando se fala de São João é para ofendê-lo com as festas mundanas.
É necessário retomar a importância do ano litúrgico, com seus diversos tempos e suas festas, em nossas vidas, caros católicos. O ciclo litúrgico anual é pasto abundante para alimentar a nossa alma. No ciclo anual litúrgico (1) está apresentada de maneira concreta a história da salvação, (2) nos são ensinadas as verdades de nossa fé, e (3) se rende o culto perfeito à Santíssima Trindade.
(1) O ano litúrgico nos apresenta, então, de maneira concreta a história de nossa salvação. De modo bem resumido: no Advento, se revive o Antigo Testamento à espera do Salvador. No Natal se revive todo o mistério da Encarnação. Na Quaresma, a preparação de Nosso Senhor para a sua vida pública. Na Páscoa e na Ascensão, o triunfo de Jesus Cristo. Em Pentecostes a vinda do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos. No tempo depois de Pentecostes, vemos os frutos da Santa Igreja e a vida pública de Nosso Senhor. Durante todo o ano comemoramos os Santos, de todos os tipos, e comemoramos outros tantos mistérios. Cada tempo litúrgico, cada mistério com sua graça própria, para nos unir e nos assemelhar mais a Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa repetição anual da história da salvação e dos mistérios vai imprimindo na nossa alma as lições próprias de cada festa, de cada mistério. Devemos nos deixar imbuir por essas graças.
(2) O tempo litúrgico nos ensina as verdades de fé. A repetição anual das festas, com seus textos próprios, com sua especificidade própria, é uma lição perene e constante das verdades da fé. Por exemplo, o Advento nos ensina a necessidade que tínhamos de um Salvador. A Encarnação nos ensina a delicadeza da bondade de Deus para conosco e a humanidade de Nosso Senhor. A Epifania já nos faz entrever o caráter universal da Missão de Nosso Senhor: ele veio para os judeus e para os gentios. A Quaresma nos ensina a necessidade da penitência e da oração para vencermos o pecado. A Ressurreição nos ensina que Jesus Cristo triunfou sobre a morte e o pecado pela sua dolorosa paixão e morte de Cruz. E assim por diante. Uma bela liturgia, ordenada, digna, que nos faz reviver a história da salvação e que nos ensina plenamente a fé em todos os seus aspectos é o meio mais eficaz para dirigir a alma de um povo a Deus. Essa repetição anual, cíclica e clara das verdades da fé penetra profundamente no espírito do povo.
No ano litúrgico, revivemos a história da salvação e confessamos a nossa fé. Mas, além disso, cultuamos também a Deus por meio da belíssima liturgia católica, reconhecendo que Deus é o centro de tudo, que Ele tem o soberano domínio de todas as coisas. A liturgia católica, que se desenrola ao longo de todo o ano litúrgico, é o nosso maior tesouro, caros católicos. É por meio dela que se formam as famílias católicas sólidas. É por meio dela que se forjam as almas sacerdotais e religiosas. É por meio dela que se forja uma sociedade cristã.  Que importância tem a Sagrada Liturgia! Não se voltarão em grande quantidade as almas a Deus se não houver uma restauração litúrgica. A liturgia precisa voltar a se centrar em Deus. A liturgia precisa voltar a expressar claramente as verdades católicas. É exatamente isso o que faz a liturgia tradicional, também chamada de tridentina. Essa velha liturgia, sempre nova, centrada em Deus. Essa velha liturgia que alegra a alma da juventude católica (juventude espiritual, do novo homm constituído pela graça divina). Essa velha liturgia, sempre jovem porque reflete a eternidade da Santíssima Trindade. Deixemo-nos, caros católicos, impregnar pela liturgia católica. Nesse tempo do advento, preparemos a nossa alma, endireitemos os nossos caminhos, para que o Menino Jesus possa vir em nossa alma e enchê-la de graças. Procuremos fazer uma boa penitência durante o advento, esse tempo de penitência alegre, como se costuma dizer. Busquemos a confissão.

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