30 de setembro de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 46ª Parte

MEDITAÇÃO XIII

Para a 5.ª feira santa

Jesus morre na cruz

1. Eis que o Salvador está prestes a morrer. Contempla, minha alma, aqueles belos olhos que se obscurecem, aquela face já pálida, aquele coração que palpita lentamente, aquele sagrado corpo que já se entrega à morte. Tendo Jesus experimentado o vinagre disse: “Tudo está consumado” (Jo 19,30). Põe ainda uma vez diante dos olhos todos os padecimentos sofridos durante sua vida, pobreza, desprezos, dores e, oferecendo então tudo a seu eterno Pai, disse: Tudo está consumado. Meu Pai, eis já completa a redenção do mundo com o sacrifício de minha vida. E voltando-se para nós, como para que respondamos, repete: Tudo está consumado, como se dissesse: Ó homens, amai-me, porque eu fiz tudo e nada mais tenho a fazer para conquistar o vosso amor.

2. Chega afinal a hora, e Jesus falece. Vinde, ó anjos do céu, vinde assistir à morte de vosso rei. E vós, Mãe dolorosa, chegai-vos mais à cruz e contemplai atentamente vosso Filho, pois está prestes a expirar. E ele, depois de ter recomendado seu espírito ao Pai, invoca a morte, dando-lhe a permissão de tirar-lhe a vida. Vem, ó morte, lhe diz, depressa exerce o teu ofício, mata-me e salva as minhas ovelhas. A terra treme, abrem-se os sepulcros, rasga-se o véu do templo. Já faltam as forças aos agonizantes Jesus; pela violência das dores, foge-lhe o calor, fica inerte seu corpo, abaixa a cabeça, abre a boca e morre. “E tendo inclinado a cabeça, entregou o seu espírito” (Jo 19,30). A gente o vê expirar e, notando que não faz mais movimento, diz: Está morto, está morto. E a estes se alia também a voz de Maria, que diz por sua vez: Ah, meu Filho, já estás morto.

3. Está morto! Quem, ó Deus, está morto? Está morto o autor da vida, o Unigênito de Deus, o Senhor do mundo. Ó morte, tu foste o assombro do céu e da terra. Ó amor infinito! Um Deus sacrificar sua vida e seu sangue por quem? Por suas criaturas ingratas, morrendo num mar de dores e de desprezos para pagar as suas culpas! Ó bondade infinita! Ó amor infinito! Ó meu Jesus, vós morrestes, pois, pelo amor que me consagrastes. Não permitais, portanto, que eu viva um instante sequer sem vos amar. Eu vos amo, meu sumo bem, eu vos amo, meu Jesus, morto por mim. Ó Mãe das dores, Maria, ajudai a um servo vosso que deseja amar Jesus. 

Sermão para o XII Domingo depois de Pentecostes – Diácono Tomás Parra IBP

[Sermão] O Bom Samaritano

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.
Reverendo Padre, Caros irmãos,
Neste 12º Domingo depois de Pentecostes, o Evangelho nos narra que, estando Jesus entre os doutores da lei, um deles levantou-se e disse-lhe, para tentá-lo: “Mestre, que devo eu fazer para possuir a vida eterna?”. Nosso Senhor, por sua vez, cheio de mansidão, lhe propôs também uma questão, seguindo seu custume quando era Ele mesmo testado, e disse: “Que é que está escrito na lei? Como lês tu?”. O doutor, respondendo, disse: “Amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças, com todo teu entendimento; e o teu próximo como a ti mesmo”. Nosso Senhor então, responde: “Respondeste bem; faz isso, e viverás”, como dizendo, faz isso sempre e terás a vida eterna.
“Mas quem é meu próximo?”. Esta pergunta do doutor mostra a soberba dos escribas, que acreditavam serem poucos os que mereciam seu amor. E foi também a ocasião para Cristo tomar a palavra e ensinar a parábola do Bom Samaritano, que é o quadro mais belo e mais perfeito que se poderia fazer do amor do próximo.
Nessa parábola do Evangelho, caros irmãos, Nosso Senhor descreve a Si mesmo. Ele é o Bom Samaritano que trata o homem com uma misericórdia admirável e divina. Ele é o exemplo perfeito de amor de Deus e do próximo.
Primeiramente, caros irmãos, o Bom Samaritano olha cheio de compaixão para aquele homem ferido e despojado de seus bens, e se aproxima dele. Ora, esse homem somos nós, pecadores, despojados de todas as riquezas de ordem sobrenatural por causa do pecado. Nosso Senhor se aproximou de nós pela sua Encarnação, mistério no qual ele manifesta a sua onipotência, e o tão grande amor que teve por nós, que o levou a rebaixar-se e a assumir, num ato de infinita humildade, uma natureza humana frágil, capaz de sofrer, de sofrer por nós. Ele aproximou-se, também, deste homem ferido, pela maneira que quis se apresentar ao mundo, comendo com os pobres, com os pecadores, levando uma vida humilde, e escolhendo, muitas vezes, no povo simples os seus apóstolos, aos quais devia confiar sua missão. Além disso, a cada dia, Nosso Senhor vem sobre o altar, na missa, para pagar pelos nossos pecados e nos fortalecer pela comunhão.
Tendo-se aproximado, o Bom Samaritano ligou-lhe as feridas. Eram muitas essas feridas deste homem abandonado meio morto pelos ladrões. Muitos eram os ferimentos do homem decaído pelo pecado. Na verdade, caros irmãos, depois do pecado, o homem havia perdido a graça santificante, que é a amizade com Deus, a vida sobrenatural da alma. Seu entendimento estava obscurecido para as verdades mais fundamentais da religião. Sua vontade, debilitada por ter apegado o coração à criatura e o afastado do Criador, deixando-se por isso, muitas vezes, dominar pela concupiscência; seu corpoestava submetido à doença e à morte, e suas paixões ficaram como revoltadas e seguindo sem controle a lei da concupiscência.
Mas Nosso Senhor, nosso Bom Samaritano, por amor, vai tratar e curar estes ferimentos. Na cruz, Ele nos alcança de novo a graça santificante, estabelecendo uma Nova Aliança entre Deus e os homens. Pelos seus ensinamentos, Ele iluminou nossa inteligência, ampliando a revelação divina. Ele fortaleceu nossa vontade, nos dando a esperança, que nos faz desejar as coisas do céu, e a caridade sobrenatural, que educa nossos amores segundo Deus. Com seu exemplo, ensinou-nos que a morte é uma passagem para uma vida incorruptível e bem-aventurada, e, morrendo por nós, fez das misérias desta vida meios para ganharmos méritos para a vida eterna.
Em seguida, o Bom Samaritano, deitando azeite e vinho sobre as feridas, representa Jesus Cristo, que através dos sacramentos aplica sua misericórida e seus méritos, apagando nossos pecados e nos fortalecendo pela graça para uma vida nova, uma vida santa. O azeite e o vinho são, por um lado, a doçura misturada com a severidade, com as quais Nosso Salvador nos cura, nos perdoando e nos corrigindo. Por outro lado, representam a palavra de Deus, que ao mesmo tempo revela verdades suaves que conduzem ao arrependimento e verdades terríveis que fazem o pecador temer por sua condenação.
Depois disso, caros irmãos, o Bom Samaritano coloca o homem sobre sua montada, para levá-lo. Fazendo isso, ele representa Cristo, que assumindo a natureza humana, nos elevou para perto de Deus. Pois Ele tomou sobre si nossos próprios pecados, de tal forma que pudéssemos ser incorporados a Ele para formar seu Corpo Místico. Além disso, Nosso Senhor nos eleva do chão, ou seja, nos tira de nossos vícios, oferecendo-nos um exemplo perfeito de obediência a Deus Pai, de humildade, de mansidão e de todas as virtudes. E, também, a cada dia nos auxilia em nossos trabalhos e sofrimentos, nos chamando com estas palavras: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo, e eu vos aliviarei”. Este gesto de tomar nos braços o pecador significa também associá-lo à sua Cruz, à obra da Redenção.
estalagem, para onde é levado o homem ferido, simboliza a Igreja Católica, a quem Nosso Senhor confiou todos os homens, antes de subir aos Céus; e é unicamente na Igreja Católica que eles acharão todos os auxílios próprios para curar as suas chagas, e para fazê-los obter uma saúde perfeita, a salvação.
O Bom Samaritano, que segundo o Evangelho de hoje, agiu como o próximo desse homem ferido, é figura de Cristo Nosso Senhor, que se fez homem para ser nosso próximo, e assim tudo dispôs para nossa salvação.
Tendo nos dado o exemplo deste amor ao próximo, que é, aliás, sinal e condição do amor de Deus, Cristo nos deixou o “mandamento novo”: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
Que a meditação destas verdades e o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo nos façam, caros irmãos, estar atentos aos sofrimentos e necessidades de nossos próximos, nos ensine a ter compaixão e a dedicarmos, em favor deles, nosso tempo, nosso trabalho e nossas próprias pessoas, sobretudo para o bem da alma deles.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

29 de setembro de 2014

Sermão para o 11º Domingo depois de Pentecostes 24.08. 2014 – Diácono Tomás Parra IBP

[Sermão] Fundamentos para o apostolado leigo

Em nome do Pai…
Ave Maria…
Reverendo Padre, Caros irmãos,
               Neste 11º domingo depois de Pentecostes, a leitura do evangelho narra o episódio da cura do surdo-mudo, descrita por São Marcos. É muito frequente, no Evangelho, que os judeus tragam seus doentes para serem curados por Cristo. São Marcos conta que na região de Genesaré, “em todos lugares onde (Ele) entrava, nos povoados, nas cidades ou nos campos, colocavam os doentes nas praças, rogando que lhes permitisse ao menos tocar na orla de seu manto.  E todos que o tocavam eram salvos”. Mais tarde, vindo de Tiro, no caminho em direção ao mar da Galiléia, “trouxeram-lhe um surdo-mudo”, e“suplicavam-Lhe que lhe impusesse a mão” para curá-lo.
                Caros irmãos, a atitude destes judeus é um exemplo do apostolado do qual trataremos hoje. O primeiro tipo de apostolado é aquele exercido pela hierarquia mesma da Igreja. Como dizia Tertuliano, “Deus Pai enviou a Cristo, Cristo enviou aos apóstolos; os apóstolos, aos bispos”. E Cristo confiou de modo especial aos apóstolos a Missão de converter todos os homens: “Ide, pregai o Evangelho a toda criatura, aquele que crer e for batizado será salvo”.
                O segundo tipo é o apostolado leigo, que existiu durante toda a vida da Igreja. E nós podemos perceber isto na atitude destas pessoas que levavam os doentes até Jesus para que fossem curados. Não eram os apóstolos ou discípulos de Cristo que os levavam, mas os amigos e parentes.
                No Evangelho, a doença é um símbolo do pecado, e como Nosso Senhor veio ao mundo para destruir o pecado, ele começa curando os doentes. E esses próximos dos doentes que os levam a Ele representam os que cooperam com a obra de Cristo, que é a conversão dos pecadores para a salvação de suas almas. Considerando isto, podemos dizer que mesmo os fiéis leigos participam de certo modo desta Missão confiada aos apóstolos por Cristo. “Ide, pregai o Evangelho a toda criatura…”.
                Assim, caros irmãos, como membros da Igreja, cuja cabeça é Cristo, devemos todos trabalhar para salvar nossa alma e a dos nossos próximos, para o crescimento do reino de Cristo. A primeira maneira de fazê-lo é através doapostolado da oração.
Isto é claro no Evangelho de hoje. Primeiramente, pelo exemplo das pessoasque suplicavam a Cristo pela cura para o próximo ou para si mesmas. E quão insistentes eram essas súplicas, e acompanhadas também de uma grande fé. Fé tal que levou uma vez alguns amigos a baixarem um paralítico em seu leito, através de cordas, tendo feito uma abertura no telhado para poderem alcançar o Mestre. E, na ocasião, não somente a cura foi dada, mas também o perdão dos pecados.
                Porém, caros irmãos, também mereceram um favor especial do Senhor as súplicas dos parentes do surdo-mudo.
Nosso Senhor não o cura imediatamente, mas “tomando-o a parte, de entre a multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e tocou-lhe a língua com a sua saliva”.Cristo atendeu suas orações, mas antes, quis se afastar da multidão, para nos ensinar a encontrar Deus no silêncio e na oração. E também para não haver ostentação no fazer milagres, nos ensinando a fugir da vaidade. De fato, como diz São João Crisóstomo, não há maior milagre que professar a humildade e praticar a modéstia. E para combater o orgulho, que se opõe a estas virtudes, toda a vida de Cristo foi exemplo de humildade e é sobre esta humildade que Ele fundou a religião. “Cristo fez-se, por amor de nós, obediente até a morte e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou …”.
São João Crisóstomo diz também que Cristo podia ter curado o surdo-mudo com uma só palavra, mas “meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e tocou-lhe a língua com a sua saliva”, para mostrar que seu corpo estava cheio do poder de Deus. Essas curas que realizava mostram que em Cristo veio a restauração da natureza humana, que, por causa do pecado de Adão, tinha sofrido feridas de toda sorte. Além disso, gestos semelhantes ao de Nosso Senhor são utilizados até hoje no rito do batismo, para lembrar o cristão do dever que terá de receber a palavra de Deus pelo ouvido, e de professá-la com a língua.
Em seguida, caros irmãos, Nosso Senhor nos incita à oração pelo seu próprio exemplo. “Levantando os olhos ao céu, (Ele) suspirou”, (do latim ingemuit, gemeu).
Ele levanta os olhos ao céu para nos mostrar que é de lá que vem todos os bens. De lá, vem a cura para os doentes, o perdão para os pecadores. Ele geme de compaixão da miséria do homem decaído, apresentando suas súplicas ao Pai Celeste. Não que precisasse fazê-lo para obter o milagre, pois Ele é Deus, mas para nos ensinar como recorrer à misericórdia divina.
                É muito importante saber que a oração deve anteceder o apostolado do sacrifício e da caridade. E para isso temos o exemplo dos apóstolos e dos discípulos, que estavam, “todos estes, unânimesperseverantes na oração com algumas mulheres, dentre as quais Maria, Mãe de Jesus”, esperando a vinda do Espírito Santo antes de começarem a exercer a Missão de levar o Evangelho aos homens de todo o mundo. Apesar de terem sido discípulos do próprio Cristo, convivido com Ele, visto Seu exemplo e escutado seus ensinamentos pessoalmente, tinham ainda que rezar para receberem a força vinda do Céu, que lhes daria impulso para pregar a Boa Nova a todas as nações.
                Esta oração do Cenáculo, este recolhimento que antecede Pentecostes, é para nós um modelo. Pois nos ensina, caros irmãos, as três condições necessárias para que as nossas orações sejam atendidas com eficácia:
                Em primeiro lugar, a perseverança, pois lá estavam os apóstolos com os discípulos e Nossa Senhora, e ficaram em oração contínua, esperando que Cristo enviasse o Espírito Santo; e ali oraram durante dez dias. Esta perseverança vai de par, evidentemente, com a fé e a confiança na promessa divina: “Pedi e recebereis”. Não esqueçamos também a fé do paralítico, que desceu pelo teto para pedir a Cristo a sua cura.
                Em segundo lugar, a unanimidade: Também pela promessa divina:“Se dois de vós estiverem de acordo (…) sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Caros irmãos, a oração em comum tem maior valor aos olhos de Deus que a oração individual, daí a importância de se rezar junto com os filhos em família, junto com bons amigos católicos.
                A terceira condição para que nossa oração seja eficaz para alcançar a vinda do reino do Pai, como pedimos no Pai-Nosso, é a mediação de Nossa Senhora. Ela estava no Cenáculo, em meio aos Apóstolos e discípulos cumprindo a missão de medianeira, missão que lhe foi dada por Deus desde a Encarnação do Verbo, pois, segundo o ensinamento de São Luís de Montfort, Deus Pai escolheu Maria para dar seu Filho ao mundo e, juntamente com seu Filho, lhe confiou todo o tesouro de suas graças e misericórdias. Ela se tornou o Canal que liga os homens à Cristo, que liga os homens ao único Mediador. E esta conduta, este modo de fazer, Deus não mudará até o fim dos tempos, de forma que recorrer à mediação de Nossa Senhora é o meio mais fácil de alcançar de Deus todas as graças.
                Jesus Cristo nos disse “é preciso rezar sempre, oportet semper orare”. A necessidade disso, caros irmãos, para os que têm a fé, é evidente. Em Fátima, Nossa Senhora dizia às três crianças: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”. Este apelo se dirige também a nós. Ora, se na época de Cristo havia inúmeros doentes que procuravam remédio em sua misericórdia, hoje existem muitos pecadores, mas que diferentemente daqueles, não buscam sua cura espiritual – o perdão – e caminham para a danação eterna. Pensar também em nossos vícios, nas necessidades de nossos próximos, no sofrimento dos que sofrem perseguições pela fé no Oriente, deve nos incitar a rezar ainda mais. Além disso, hoje, como sabemos, pecados graves e alguns vícios que clamam vingança aos céus são tolerados e facilitados pelas leis civis.
                É preciso, todavia, caros irmãos, não olhar somente os males, para não nos desencorajarmos. Mas saber que os Corações de Jesus e Maria estão atentos às nossas orações.  Que Ele, sendo Deus, pode imperar sobre o mal, como quando disse “Ephpheta” (Abre-te, desatate), e imediatamente os ouvidos do surdo-mudo se abriram, sua língua se desatou e ele começou a falar normalmente o aramaico, língua que ele supostamente desconhecia.
Mas é necessário saber também, que a oração, só, não basta. São Tiago nos ensina que a “fé, se não tiver obras, está completamente morta”. É preciso agir, rezar e agir. É preciso se sacrificar, como pediu Nossa Senhora, e praticar acaridade.
Pode-se fazer apostolado pelo sacrifício, unindo-se a Cristo em sua Paixão; isto é, renunciando a si próprio, pelo bem dos próximos, sobretudo renunciando ao amor-próprio e aos caprichos que incomodam os outros, mesmo se isso proporcionará, por vezes, algo que seja menos cômodo. Pode-se fazer o apostolado do sacrifício praticando,  por exemplo, na medida do possível, algum sacrifício do paladar (começar já pela abstinência da sexta-feira, costume muito louvável que muitos já não praticam em nossos dias)… oferecendo tudo sempre em união a Cristo pelos próximos.
                O apostolado pode se exercer ainda pela prática da caridade, que é reproduzir a vida de Cristo em nós pela nossa entrega a Deus e ao serviço do próximo. É isso que faziam os parentes do surdo-mudo.
Enfim, caros irmãos, nosso apostolado, qualquer que seja, deve sempre levar a Cristo. Não deve ter como fim nossa promoção ou servir nossos interesses próprios, ou ainda  lutar por um bem puramente natural. Nosso apostolado deve lembrar os israelitas do Evangelho de hoje, que tinham um só desejo: levar os doentes até o Mestre “rogando que lhes permitisse ao menos tocar na orla de seu manto”. Ele, Cristo Nosso Senhor é quem cura, quem perdoa os pecados.
Consideremos que Cristo venceu o mundo e a morte, e tendo morrido pelos pecados de todos os homens, ressuscitou. E Ele deseja ardentemente que estejamos unidos a Ele na cruz, para ressuscitarmos com Ele para a glória eterna.
Peçamos, enfim, caríssimos irmãos, a Deus Nosso Senhor o que se reza hoje na colecta, que nos perdoe nossos pecados e nossa falta de merecimentos, e nos dê aquilo que não ousamos esperar da pobreza de nossas orações.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Do diabólico delírio dos mórmons - Pe. Leslie Rumble, M.S.C. (19/20)

Os Mórmons
ou
"Santos dos Últimos Dias"

Padre Leslie Rumble, M.S.C.
Doutor em Teologia  
Missionarii Sacratissimi Cordis
"Missionários do Sagrado Coração"

ÚNICO VEREDITO POSSÍVEL

Qual é, pois, a verdade sobre o Mormonismo? Pode-se chegar a qualquer outra conclusão que não seja a de que ele é uma religião substituta, de feitura humana, inteiramente inconciliável com o genuíno Cristianismo? Joseph Smith certamente foi um impostor, e de forma alguma era o tipo de homem que Deus escolheria para a missão profética qual ele pretendia ser a sua. 
A Lenda das Lâminas de Ouro é uma invenção evidente. Os próprios Mórmons envergonham-se dela e por ela se desculpam. O Livro de Mórmon está pejado de fatos errôneos, de história errônea, de moral errônea, e de errôneos modos de ver a religião e a vida.
Os ensinamentos de Joseph Smith, de Brigham Young e de outros autorizados escritores sobre doutrina Mórmon, embora usando termos cristãos, pervertem-lhes totalmente o significado, e oferecem um ensino tão distante quanto possível da verdade cristã. Brigham Young não hesitou em escrever: "Todo espírito que confessa que Joseph é um profeta, e que o Livro de Mórmon é verdadeiro, é de Deus; e todo espírito que não faz isso é do Anticristo". Em ouvidos verdadeiramente cristãos tal abuso e distorção da Escritura não se fazem sem blasfêmia.
E sempre persiste o imoral ensinamento que justifica a poligamia. Se os Mórmons o têm abandonado na prática, tem sido só por serem a isso compelidos pela lei civil. Se premidos, dirão que ainda crêem nele, embora não o pratiquem sob as circunstâncias presentes. Mas o fato de haver ele sido alguma vez ensinado e praticado seria suficiente para condenar o Mormonismo como inteiramente oposto à religião de Cristo.
Mas, dir-nos-ão, devemos explicar o seu êxito. E isso é tão difícil? Certamente simples fatores naturais podem explicá-lo. Nos estágios iniciais, o assassínio de Joseph Smith deu a este a auréola do martírio. Na sua excitação, os sectários dele perderam de vista que, não motivos religiosos, mas sim o que com razão foi considerado conduta social vergonhosa, agravada pela má reputação que ele granjeara para si mesmo, é que foi a causa da morte dele. E, quando Brigham Young, homem de energia indomável e de vontade de aço, tomou o encargo deles, eles foram simplesmente prontíssimos em assentir aos seus planos.
Ardilosamente Brigham Young levou-os para Utah antes da incorporação deste como um dos Estados Unidos, e ali governou, como chefe da Igreja e do Estado, por trinta anos. Ali, onde outros não podiam alcançá-los, e onde não havia escapatória para os pusilânimes, os Mórmons puderam medrar. Acaso não é significativo que as outras e menores seitas Mórmons, descritas anteriormente neste livrinho, perdendo as vantagens que a Igreja de Utah ganhou pela sua migração, tenham feito pouco ou nenhum progresso durante o mesmo período de tempo? E mesmo em Utah, agora que as ferrovias lhe trouxeram um grande afluxo de outros Americanos, tem-se verificado uma parada no crescimento do Mormonismo ali. Se ele tem sobrevivido com a vitalidade que tem conservado, isto se deve ao vigoroso arranco a ele dado por Brigham Young, à sólida base material sobre a qual o estabeleceu, e ao fato de ser ele sustentado ao mesmo tempo pela forte organização hierárquica de que Young o proveu. Mas, à medida que a credulidade míngua, o Mormonismo vai achando cada vez mais difícil resguardar do declínio o seu espírito.
A história inteira do movimento, um entre tantos outros que surgiram na primeira metade do século dezenove, prova apenas que os seres humanos são tão incuravelmente religiosos que, se não obtêm a religião certa, ou inventarão uma errada para si mesmos, ou se apegarão a uma que lhes seja proposta com entusiasmo pelos outros. 
Joseph Smith, como vimos, não tinha a religião certa. Nunca conheceu o Catolicismo. E, espantado com a confusão das seitas protestantes à volta de si, simplesmente aumentou a confusão inventando ainda outra religião sua, com o auxílio do pregador reavivamentista Sidney Rigdon. Não era desse modo que a paz devia ser achada, ou para ele mesmo ou para os seus seguidores.

27 de setembro de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 42ª Parte

MEDITAÇÃO X

Para a 2.ª feira santa

Jesus é pregado na cruz

1. Apenas chegou o Redentor ao Calvário, triturado de dores e fatigado, arrancam-lhe as vestes já pegadas às suas carnes dilaceradas e arremessam-no sobre a cruz. Jesus estende seus sagrados braços e oferece ao mesmo tempo ao eterno Pai o sacrifício de sua vida, rogando-lhe que o aceite pela salvação dos homens. Os carrascos tomam então com fúria os cravos e os martelos e, atravessando-lhe os pés e as mãos, pregam-no na cruz. Ó mãos sagradas, que só com o vosso contacto curastes tantos enfermos, por que vos pregam nessa cruz? Ó pés santos, que tanto vos cansastes para nos buscar a nós, ovelhas desgarradas, por que vos atravessam com tanta crueldade?
Quando se fere um nervo do corpo humano, é tão aguda a dor, que ocasiona espasmos e delíquios. Ora, quão grande terá sido a dor de Jesus, quando lhe foram atravessados os pés e as mãos, cheios de nervos e músculos, pelos duros cravos! Ó meu doce Salvador, tanto vos custou o desejo de ver-me salvo e de conquistar o meu amor e eu, ingrato, tantas vezes desprezei o vosso amor por um nada; agora, porém, o estimo acima de todos os bens.

2. Levantam a cruz com o crucificado e fazem-na cair com violência no buraco feito no rochedo. Esse buraco é em seguida entupido com pedras e madeira e Jesus fica pendente na cruz, para aí consumar sua vida. Estando Jesus já agonizando naquele leito de dores e achando-se tão abandonado e triste, procura quem o console, mas não encontra. Ao menos terão compaixão de vós, ó meu Senhor, os homens que vos vêem morrer? Pelo contrário; vejo que uns o injuriam, outros zombam dele; estes blasfemam, aqueles o encarnecem, dizendo: “Desça d cruz, se é o Filho de Deus. Salvou os outros e agora não pode salvar-se a si mesmo”(Mt 27,40). Ah, bárbaros, ele já está expirando, como é que assim gritais; ao mesmo tempo não o atormenteis com as vossas zombarias.

3.Vê quanto padece naquele patíbulo o teu Redentor. Cada membro sofre o seu tormento e um não pode aliviar o outro. A cada momento ele experimenta penas mortais. Pode-se dizer que durante aquelas três horas que Jesus agonizou na cruz, ele sofreu tantas mortes quantos foram os momentos que aí passou. Não encontra na cruz o mínimo alívio ou repouso. Se se apoia nas mãos ou nos pés, aumenta a dor, já que seu corpo sacrossanto está pendente dessas mesmas chagas. Corre, minha alma, e chega-te enternecida a essa cruz, beija esse altar, sobre o qual morre como vítima de amor por ti o teu Senhor. Coloca-te debaixo de seus pés e deixa que caia sobre ti aquele sangue divino. Sim, meu caro Jesus, que esse sangue me lave de todos os meus pecados e me inflame todo em amor para convosco, meu Deus, que quisestes morrer por meu amor. Ó Mãe das dores, que estais ao pé da cruz, rogai a Jesus por mim. 

Do diabólico delírio dos mórmons - Pe. Leslie Rumble, M.S.C. (18/20)

Os Mórmons
ou
"Santos dos Últimos Dias"

Padre Leslie Rumble, M.S.C.
Doutor em Teologia  
Missionarii Sacratissimi Cordis
"Missionários do Sagrado Coração"

NO BRASIL

No Natal de 1925, em Buenos Aires, Melvin J. Ballard, do Conselho dos Doze Apóstolos, deu ordem de "missionar" a América do Sul. De Buenos Aires partiram os missionários para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, adquirindo, depois, uma propriedade em Joinville, onde se construiu uma capela. 
Mais foi em 25 de maio de 1935 que o presidente Howells, em Joinville, anunciou a organização da Missão Brasileira, independente da Missão Sul-Americana, sendo essa data considerada como início das atividades da Missão Brasileira. Depois o escritório central transferiu-se para São Paulo.
A segunda guerra mundial fez regressar os missionários para os E.U.A., o que afetou a Missão, confiada, nessa emergência, a membros locais. Mas já em 1946 retornaram os missionários, sempre em número crescente. Entre nós os Mórmons usam, como meio de proselitismo, visitas domiciliares frequentes. Basta uma pessoa da família mostrar algum interesse pelos missionários ou por sua doutrina, que não deixarão mais em paz esta casa, com suas reiteradas e prolongadas visitas, até a impertinência. Usam também o ensino gratuito do inglês, e clubes de conversão, as festas e os bailes, a música e o esporte, principalmente o basquete. Grande atração exercem também as bolsas de estudos nas suas Universidades dos E.U.A., que prometem aos membros da Missão Estrangeira.

25 de setembro de 2014

Do diabólico delírio dos mórmons - Pe. Leslie Rumble, M.S.C. (17/20)

Os Mórmons
ou
"Santos dos Últimos Dias"

Padre Leslie Rumble, M.S.C.
Doutor em Teologia  
Missionarii Sacratissimi Cordis
"Missionários do Sagrado Coração"

ZELO MISSIONÁRIO

É quase incrível o zelo missionário com que os Mórmons têm procurado propagar as suas doutrinas. Já desde 1837, muito tempo antes da emigração de Nauvoo para o Grande Lago Salgado, missionários foram enviados à Inglaterra. Ali distribuíram milhares de folhetos e fizeram tantos convertidos, que tiveram de estabelecer uma agência de navegação para auxiliar na obra de "reunir Israel à Terra de Sião". O primeiro grupo migratório fez-se de vela para Nauvoo em junho de 1840. Por volta de 1851 os Mórmons tinham para mais de 50000 convertidos na Inglaterra, dos quais 17000 emigraram para a então estabelecida Cidade do Lago Salgado.
Em anos mais recentes, novo ímpeto foi dado ao movimento missionário pelo número grandemente crescente de outros Americanos que haviam invadido o Estado de Utah. Novos convertidos eram necessários para equilibrar o voto; e entre as duas guerras mundiais toda sorte de aliciantes eram apresentados aos emigrantes que estivessem desejosos de se fazer "Santos dos Últimos Dias" e transferir-se para Utah e compartilhar a prosperidade Mórmon.
Embora os resultados já não sejam espetaculares, o zelo missionário não diminuiu; ou, antes, o sistema de enviar missionários a todas as partes do mundo ainda é mantido. A maioria dos Mórmons jovens espera-se que façam um aprendizado missionário de dois ou três anos no estrangeiro antes de tomarem o seu lugar no mundo de negócios. Assim, por volta dos vinte e um ou vinte e dois anos de idade, eles vão aos pares para qualquer país que lhes seja designado.
Os Mórmons de Utah têm para mais de 2000 desses missionários no campo; a "Igreja Reorganizada", cerca de 200. Porém a maioria desses missionários têm o olho nas perspectivas dos seus negócios futuros, mais do que nas almas. Jovens, profissionalmente mal preparados, e ignorantes das condições reinantes em outras terras, para não falar das línguas estrangeiras, eles não podem esperar fazer muitos com vertidos. E hoje o mundo é mais sofisticado do que o era na época de Joseph Smith.
Todavia, é essa toda a experiência; e, admitindo essa ineficiência, os Mórmons dizem que o próprio dever de argumentar com todos e diversos em favor da sua Igreja faz os jovens voltarem confirmados na sua lealdade a esta. Se isto fosse verdade, só se poderia concluir é que um partidarismo cego supre nos jovens missionários a falta de conhecimento do Cristianismo, e, muitas vezes, até mesmo do seu próprio Mormonismo.
Muita coisa contida neste livrinho sobre a sua religião seria uma revelação para muitos deles; porque eles não conhecem nem a sua própria história como ela realmente é, nem como são caóticos os seus próprios ensinamentos religiosos.

24 de setembro de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 51ª Parte

MEDITAÇÃO IV

Para a 3.ª feira da paixão

Jesus é conduzido a Pilatos e a Herodes e posposto a Barrabás

1. Chegada a manhã, conduzem Jesus a Pilatos, para que o condene à morte. Pilatos, porém, descobre que Jesus é inocente e por isso diz aos judeus que não encontrava motivo para condená-lo. Como, porém, os vê obstinados em querer a sua morte, o remete ao tribunal de Herodes. Este, tendo diante de si Jesus, desejava vê-lo operar um dos muitos milagres de que tanto falavam. O Senhor nem sequer, porém, respondeu às interrogações daquele temerário. Pobre da alma à qual Deus nada mais diz! Meu Redentor, era isso o que eu merecia, por não haver obedecido a tantos chamados vossos. Mas, ó meu Jesus, vós não me haveis abandonado ainda. Falai-me, pois. “Falai, Senhor, que vosso servo vos ouve”(1Rs 3,10), dizei-me o que desejais de mim, que eu quero fazer tudo o que vos agradar.

2.Vendo Herodes que Jesus não lhe dava resposta, despeitado o expulsou de sua casa, zombando dele com todo o pessoal de sua corte, e para maior desprezo o revestiu com uma veste branca, querendo assim designá-lo como louco, remetendo-o em seguida a Pilatos (Lc 23,11). E assim é Jesus levado pelas ruas de Jerusalém, revestido com aquela veste de escárnio. Ó meu Jesus desprezado, faltava-vos ainda essa injúria de ser tratado como louco! Ora, se a sabedoria eterna é assim tratada pelo mundo, bem-aventurado é aquele que não se importa com os aplausos do mundo e não quer saber de outra coisa senão Jesus crucificado, amando as dores e desprezos, exclamando com o Apóstolo:“Não julgueis saber coisa alguma no meio de vós, senão Jesus Cristo e este crucificado”(1Cor 2,2).

3. Os judeus tinham o direito de exigir do governador romano, na festa da páscoa, a libertação de um réu. Por isso, Pilatos perguntou ao povo qual dos dois queria, Jesus ou Barrabás (Mt 27,17). Barrabás era um celerado, homicida, ladrão, odiado por todos. Jesus era inocente. Os judeus, porém, gritam que viva Barrabás e morra Jesus. Ah, meu Jesus, eu também assim falei quando deliberei ofender-vos por uma satisfação qualquer, tendo preterido a vós qualquer gosto miserável e para não perdê-lo não me importei com perder a vós, bem infinito. Mas agora eu vos amo acima de qualquer outro bem, mais que à minha vida. Tende piedade de mim, ó Deus de misericórdia. E vós, ó Maria, sede minha advogada. 

23 de setembro de 2014

Do diabólico delírio dos mórmons - Pe. Leslie Rumble, M.S.C. (16/20)

Os Mórmons
ou
"Santos dos Últimos Dias"

Padre Leslie Rumble, M.S.C.
Doutor em Teologia  
Missionarii Sacratissimi Cordis
"Missionários do Sagrado Coração"

POLIGAMIA
Estranhamente oposta a esta atitude ascética era a teoria e prática Mórmon da poligamia. Joseph Smith proclamava que a necessidade da poligamia lhe fora primeiramente revelada em 1831, quase um ano depois de haver ele fundado a Igreja. Aparentemente foi-lhe ela revelada como uma espécie de pensamento segundo, que fora descurado na primeira excitação de pôr a nova Igreja em andamento.
De qualquer forma, foi em 1831 que pela primeira vez ele começou a falar de uniões adicionais como casamentos celestes, e citou em justificação delas o exemplo dos patriarcas de antanho. Quando sua mulher Emma fez objeção ao fato de trazer ele para casa outras mulheres para participarem dele com ela, Joseph prontamente teve uma revelação para acalmar os seus escrúpulos. Em "Doutrina e Pactos", n. 52, seção 132, ele faz Deus dizer: "E receba minha serva Emma Smith todas aquelas que foram dadas ao meu servo Joseph, e que são virtuosas e puras diante de mim".
Já notamos a doutrina Mórmon das almas criadas que esperam ansiosamente por corpos humanos, somente por meio dos quais podem elas alcançar a eterna bem-aventurança como deuses. Portanto, quanto mais mulheres os homens tiverem, e quanto mais filhos, tanto maior será a sua glória. De fato, casamentos múltiplos são necessários para a própria salvação da pessoa!
Que, teoricamente ao menos, os Mórmons acreditam que a poligamia é necessária para a salvação, não é um exagero. Quando o Governo dos Estados Unidos começou a dar passos para proibir a poligamia, a Primeira Presidência da Igreja Mórmon publicou uma proclamação, em 1885, dizendo: "Mais de quarenta anos atrás, o Senhor revelou à sua Igreja o princípio dos casamentos celestiais... Quem haveria de supor que qualquer homem nesta terra de liberdade religiosa teria a presunção de dizer ao seu semelhante que ele não tinha direito de adotar medidas por ele julgadas necessárias para escapar à condenação?"
Joseph Smith proclamou publicamente a lei da poligamia em Nauvoo em 1841; e a mesma lei Mórmon foi de novo publicamente proclamada sob Brigham Young por um Concílio da Igreja em 1852. Entretanto, quando, a 24 de setembro de 1890, o Governo dos Estados Unidos proibiu absolutamente a poligamia até mesmo entre os Mórmons, eles concordaram em abster-se dela na prática. Mas nunca a repudiaram em princípio. Dizem que Deus dispensa da necessidade dela os que não podem praticá-la no seu tempo.
É simplesmente justo aqui dizer que a "Igreja Reorganizada de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias" repudia a acusação de haver Joseph Smith ensinado e praticado a poligamia, dizendo que Brigham Young foi quem a introduziu, assim se divorciando da verdadeira fé conforme ensinada por Joseph Smith. Mas os Mórmons de Utah insistem em que Joseph Smith teve uma revelação em favor da poligamia, e que tanto a ensinou como praticou. E a evidência, sem dúvida, está do lado destes.
Por isto a Igreja Mórmon julga de seu dever ir avante durante estes "últimos dias da plenitude dos tempos", em preparação para a iminente Segunda Vinda de Cristo (doutrina haurida dos Milleristas) e para o estabelecimento do Reino Milenar de Cristo sobre o mundo inteiro, com seu quartel-general na América.

22 de setembro de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 50ª Parte

MEDITAÇÃO II

Quão grande é a obrigação que temos de amar Jesus Cristo

“Não te esqueças nunca da graça que te fez o que ficou por teu fiador, porque ele expôs a sua alma por ti”(Eclo 29,20). Comumente entendem os intérpretes por tal fiador a Jesus Cristo, que, vendo-nos incapazes de satisfazer a justiça divina por nossos pecados, se ofereceu voluntariamente a pagar por nós, e de fato pagou as nossas dívidas com seu sangue e com sua morte.

Não era suficiente o sacrifício das vidas de todos os homens para compensar as injúrias feitas por nós à divina Majestade; era necessário que a ofensa feita a um Deus fosse satisfeita só mesmo por um Deus, o que realizou Jesus Cristo: “Em tanto Jesus foi feito fiador de melhor aliança” (Hb 7,22). Nosso Salvador, pagando pelo homem como fiador com seu sangue, obtém-lhe por seus merecimentos a graça de contrair um novo pacto com Deus, de lhe ser concedida a graça e a vida eterna se ele observar a lei divina. E este acordo Jesus como ratifica na instituição da Eucaristia, dizendo: “Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue”(1Cor 11,25). Com isso ele queria significar que aquele cálice com seu sangue era o instrumento ou a escritura de segurança pela qual se firmava um novo pacto entre Deus e Jesus Cristo, por meio do qual se concedia a graça e a vida eterna a todos os homens que lhe permanecem fiéis.

E assim o Redentor, pelo amor que nos tinha, satisfez rigorosamente por nós a justiça divina, sofrendo as penas que nos eram devidas: “Em verdade ele carregou com os nossos langores e tomou sobre si as nossas dores”(Is 53,4). E isso tudo foi feito de seu amor: “Ele nos amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef 5,2). S. Bernardo diz que Jesus Cristo, para nos remir, não se poupou a si mesmo. Ó judeus infelizes, como podeis estar à espera do Messias prometido pelos profetas? Ele já veio e vós o matastes, mas, não obstante esse vosso crime, o divino Redentor está pronto a perdoar-vos, já que ele veio para salvar os que se haviam perdido: “Veio para salvar o que se havia perdido” (Mt 18,11).

S. Paulo escreve que Jesus Cristo, para livrar-nos da maldição merecida por nossas culpas, sobrecarregou-se com todas as maldições a nós devidas e por isso quis morrer a morte dos amaldiçoados, que era a morte da cruz: “Cristo nos remiu da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, porque está escrito: ‘maldito todo aquele que se for suspenso no lenho’ (Gl 3,13). Que honra não seria para um pobre camponês se, tendo sido aprisionado pelos corsários, seu próprio rei o resgatasse com perda do reino! Muito maior, porém, é a nossa grandeza por termos sido remidos por Jesus Cristo com a efusão de seu próprio sangue, do qual uma só gota vale mais que mil mundos!” “Não fostes remidos por coisas perecíveis como o ouro ou
a prata, mas pelo precioso sangue de Cristo, como o do Cordeiro imaculado”(1Pd 1,18 e 19). Sendo assim, S. Paulo nos adverte que cometemos uma injustiça contra nosso Salvador, quando dispomos de nós segundo a vossa vontade e não conforme a dele e quando nos reservamos qualquer coisa e, ainda pior, quando nos tomamos alguma liberdade com detrimento de Deus, visto que não nos pertencemos mais a nós mesmos, mas somos de Jesus Cristo, que nos adquiriu por um grande preço: “Acaso não sabeis... que não sois de vós mesmos? Pois fostes comprados por alto preço” (1Cor 6,19 e 20).
Ah, meu Redentor, se eu derramasse todo o meu sangue, se desse mil vidas por vosso amor, que compensação seria ao amor que me demonstrastes, derramando o vosso sangue e dando a vossa vida por mim? Dai-me a graça, ó meu Jesus, de ser todo vosso no resto de minha vida e não amar nada fora de vós. Ó Maria, recomendai-me a vosso Filho. 

21 de setembro de 2014

Do diabólico delírio dos mórmons - Pe. Leslie Rumble, M.S.C. (15/20)

Os Mórmons
ou
"Santos dos Últimos Dias"

Padre Leslie Rumble, M.S.C.
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A IGREJA MÓRMON
Igualmente pasmosa é a doutrina Mórmon sobre a Igreja. É-nos dito que Cristo fundou a sua Igreja na Palestina, escolhendo ali doze apóstolos, mas que a Igreja fracassou. Aparentemente prevenindo o fracasso foi para a América após a sua ressurreição e escolheu outros doze apóstolos de entre os Nefitas, fundando a sua Igreja em solo americano. Mas essa Igreja também fracassou. A única coisa a fazer era esperar pela chegada de Joseph Smith ao cenário do mundo nos últimos dias, e obter que ele fundasse outra Igreja por Ele. Por isto o último dos profetas Nefitas, Mórmon, deixou plenas instruções em benefício do dito Joseph Smith. Em 1830, agindo sob os mandamentos divinos, Joseph Smith reconstruiu a Igreja Cristã, dando-lhe a mesma organização — assim proclamava ele — que a possuída pela Igreja primitiva. E a Igreja que ele estabeleceu, a Igreja Mórmon, é a única Igreja verdadeira no mundo hoje em dia!
Constitucionalmente, a nova Igreja tinha "apóstolos, profetas, pastores, mestres e evangelistas". Havia dois sacerdócios, o de Melquisedec para as coisas espirituais, e o de Aarão para as coisas temporais. Todos os membros deviam herdar os milagrosos dons de línguas, de profecia, de revelação, de visões, etc, que ocasionalmente apareceram na Igreja primitiva.
Mas sobre a Igreja inteira a autoridade mais alta está investida num Presidente e em dois Conselheiros. Quando o Presidente morre, a "Primeira Presidência" é dissolvida, e a autoridade fica com os doze apóstolos, que devem eleger um sucessor. 
Para o seu Presidente os Mórmons reclamam uma infalibilidade muito maior do que a infalibilidade jamais reclamada por qualquer Papa na Igreja Católica. Escrevendo na "Encyclopaedia Britannica" sobre o "Mormonismo", Reed Smoot, ex-Senador por Utah, diz: "Só há um único homem na terra de cada vez... que possa receber revelação para a direção da Igreja, e esse homem é o Presidente da Igreja, Profeta de Deus, Vidente e Revelador e interlocutor. A sua palavra oficial, quando falando em nome do Senhor, a Igreja deve recebê-la como da própria boca de Deus".
Comparada com esta, quão mais moderada é a pretensão católica de que o Papa deve contar, não com qualquer revelação divina, nem mesmo com inspiração divina, mas somente com a assistência divina para salvaguardá-lo de erro quando ele define doutrina cristã para a proteção da fé apostólica contra interpretações heréticas!
Tal é, pois, a Igreja que os Mórmons sustentam ser a única Igreja do Deus Vivo, sendo todas as outras umas abominações amaldiçoadas.
No tocante aos Sacramentos, os Mórmons seguem a usual tradição protestante de dois, o Batismo e a Ceia do Senhor. Dos Batistas eles tiraram a doutrina de que o Batismo deve ser por imersão (coisa para a qual não há garantia na Escritura), e ensinam que o rito é absolutamente necessário para a salvação. Uma vez que também ensinam que todos os batismos administrados desde a morte do último dos Apóstolos até o advento da Igreja deles foram nulos e inválidos, eles sentiram que tinham de achar algum meio de evitar uma condenação assim em grosso de todas as precedentes gerações de cristãos. Por isto introduziram proxi-batismos para os mortos.
Mórmons caridosos podem tomar nos lábios os nomes de pessoas mortas e ser batizados em favor delas! Se, tomando isto a sério, todos os Mórmons fossem gente totalmente desinteressada e levassem a vida inteira, desde a infância até a extrema velhice, sem fazer outra coisa senão receber proxi-batismo pelos mortos, a custo eles fariam uma apreciável impressão sobre o vasto número de cristãos anteriores que viveram e morreram durante os dois mil anos passados! Mas todos os proxi-batismos no mundo não podem adiantar para aqueles que já sofreram o seu julgamento por Deus. A doutrina é completamente não-escriturística à parte o seu absurdo.
Adotando a condenação "Adventista do Sétimo Dia" ao álcool em todas as suas formas, os Mórmons celebram até mesmo a Ceia do Senhor com água em vez de com vinho. E, além do uso privado de álcool, o uso de chá, café e fumo também é fortemente combatido.

20 de setembro de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 49ª Parte

MEDITAÇÃO III

Para a 2.ª feira da paixão

Jesus é preso e conduzido a Caifás

1. Tendo o Senhor conhecimento de que os judeus que vinham prendê-lo já estavam perto, levanta-se e vai ao seu encontro: sem nenhuma resistência deixa-se prender e amarrar: “prenderam a Jesus e o amarraram” (Jo 18,12). Que assombro! Um Deus preso como um malfeitor por suas criaturas! Minha alma, considera como uns lhe tomam as mãos, outros o amarram e outros lhe batem, e o inocente Cordeiro deixa-se prender e bater conforme a vontade deles e cala-se: “Foi oferecido porque ele mesmo o quis e não abriu sua boca.Foi conduzido como uma ovelha ao matadouro”(Is 53,7). Não fala nem se lamenta, porque ele mesmo já havia se oferecido para morrer por nós e assim se deixa amarrar como uma ovelha que é conduzida à morte sem abrir a boca.

2. Jesus entra preso em Jerusalém. Os que dormiam despertam com o rumor da gente que passa e perguntam quem é o preso que conduzem. E a resposta vem logo: É Jesus Nazareno, que se descobriu ser um impostor e sedutor.Apresentam-no a Caifás, que, vendo-o, alegra-se e o interroga a respeito de seus discípulos e de sua doutrina. Responde Jesus que falou em público, chamando, como testemunhas do que dissera, os próprios judeus que o circundavam: “Eis que estes sabem o que eu disse”(Jo 18,21). Depois dessa resposta, um dos ministros dá-lhe uma bofetada, dizendo-lhe: “Assim respondes ao pontífice?” Mas, ó meu Deus, como uma resposta tão humilde e mansa pode merecer uma afronta tão grande? Ó meu Jesus, vós sofrestes tudo para pagar as afrontas feitas por mim a vosso eterno Pai.

3. Entretanto, o pontífice o conjura em nome de Deus a dizer se ele era na verdade o Filho de Deus. Jesus responde afirmativamente e, ao ouvir isto, Caifás, em vez de prostrar-se em terra para adorar o seu Deus, rasga suas vestes, e, voltando-se para os outros sacerdotes, diz: “Que necessidade temos ainda de testemunhas? Eis aí, acabais agora de ouvir a blasfêmia. Que vos parece?” (Mt 26,65). E eles responderam com uma só voz: “É réu de morte”. Depois disto, conforme narram os evangelistas, começaram todos a cuspir-lhe no rosto e a maltratá-lo com bofetadas e socos, e, cobrindo-lhe o rosto com um pano, perguntaram-lhe por escárnio: “Dize-nos, ó Cristo, quem foi que te bateu?” (Mt 26,67). Eis-vos feito nessa noite o divertimento do populacho, ó meu Jesus. Como é possível, porém, que os homens vos vejam tão humilhado por amor deles e não vos amem! E como pude eu chegar a ultrajar-vos com tantos pecados, depois de haverdes sofrido tanto por mim? Ó meu Amor, perdoai-me, que eu não quero mais desgostar-vos. Eu vos amo, meu sumo Bem, e me arrependo de vos haver ofendido e desprezado. Ó Maria, minha Mãe, suplicai a vosso Filho ultrajado que me perdoe.

19 de setembro de 2014

Do diabólico delírio dos mórmons - Pe. Leslie Rumble, M.S.C. (14/20)

Os Mórmons
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"Santos dos Últimos Dias"

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DEUS, O HOMEM E CRISTO
Por exemplo, o primeiro artigo de Smith aparenta uma profissão de fé na doutrina cristã da SS. Trindade. Mas, na realidade, não é nada disso. Porquanto, de acordo com os seus ensinamentos oficiais, o Mormonismo não é uma seita cristã, mas sim politeísta, ensinando uma doutrina de muitos deuses de categoria desigual. Joseph Smith ensinava que "o próprio Deus foi uma vez como nós somos agora, e é um homem enaltecido". Segundo Brigham Young, a fim de criar o homem, que só podia ser feito por geração física, Deus veio a este mundo como Adão, "com um corpo celestial, trazendo uma de suas mulheres, Eva". Adão, diz portanto ele, "é nosso Pai e nosso Deus, e o único Deus com quem temos que ver" (Brigham Young, "Journal of Discourses" ("Jornal de Discursos"), vol. 6, p. 50). Adão é o "único" Deus com quem temos que ver, porque acima de Adão há Jeová, e acima de Jeová, há Eloim, o maior de todos os Deuses! Cristo, como Filho Eterno de Deus (de qual Deus, é difícil dizer), não é da mesma substância que o Pai, enquanto que o Espírito Santo é descrito às vezes, não como uma Pessoa, mas como uma "influência", como um "fluído divino", a mais pura e mais refinada de todas as substâncias elétricas ou magnéticas!
Verdade é que hoje em dia os Mórmons geralmente rejeitam a teoria "Adão-Deus" de Brigham Young, mas esquecem que, consoante os seus próprios princípios, como veremos, Brigham Young, como Presidente devidamente eleito, foi dotado de infalibilidade e não podia incidir em erro doutrinário!
E que é do homem? Aparentemente foi pecaminoso, para "Adão", gerar filhos, porque, de acordo com o Catecismo Mórmon, ele devia ter pecado comendo o fruto proibido, do contrário "não teria aqui conhecido o bem e o mal, nem poderia ter posteridade mortal". Todavia, os seres humanos que foram gerados, se forem bons Mórmons, finalmente se tornarão "Deuses, criando e governando mundos e povoando-os com a sua prole" (Manual, Parte I, p. 52). O céu Mórmon é evidentemente muito diferente do céu no qual, segundo Cristo, as pessoas "nem se casarão nem se darão em casamento" (Mt. 21, 30). Entrementes, consoante o ensino Mórmon, Deus está continuamente criando almas que anseiam por corpos humanos. E aqueles que na terra proporcionam o maior número de corpos para esses espíritos ansiosos serão os mais gloriosos na eternidade. Logo, a poligamia é aí obviamente indicada!
Dizem os Mórmons que, desde que eles obedeçam aos preceitos da sua religião, a sua salvação é possibilitada mediante a Expiação operada por Cristo. Mas quem é Cristo? Os Artigos de Joseph Smith declaram que ele é o "Filho de Deus". Porém escritores Mórmons dizem que, na encarnação, "Ele não foi gerado do Espírito Santo". Argumentam que a concepção é impossível sem a intercorrência marital física. Foi José, então, o pai de Jesus? Não. Porque então Cristo não seria o Filho de Deus. Por isto eles dizem que Deus-Pai veio à terra em forma humana, tomou Maria como sua mulher legal, e das relações maritais na carne nasceu Cristo! Pior ainda, no seu "Jornal", Orson Hyde diz que o próprio Cristo praticou a poligamia, desposando "as Marias e Marta, de modo que pudesse ver seus filhos antes de ser crucificado"! A quem quer que tenha a mais leve compreensão disto, tais ensinamentos não passam de uma caricatura blasfema da doutrina cristã.

18 de setembro de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 48ª Parte

OPÚSCULO VI

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO

MEDITAÇÃO I

A Paixão de Jesus Cristo é a nossa consolação

Quem poderá consolar-nos mais neste vale de lágrimas do que Jesus crucificado? Nos remorsos de consciência que nos causa a recordação de nossos pecados, o que é que pode unicamente acalmar as aflições que então experimentamos senão o saber que Jesus Cristo quis entregar-se a si mesmo à morte para pagar as nossas culpas? “Entregou-se a si mesmo por nossos pecados” (Gl 1,4). Em todas as perseguições, calúnias, desprezos, privações de bens e de honras que sofremos nesta vida, quem é que melhor nos pode fortalecer para sofrermos com paciência e resignação, senão Jesus Cristo desprezado, caluniado e pobre, que morre nu e abandonado de todos em uma cruz? Nas enfermidades, que coisa há que mais nos console do que a vista de Jesus crucificado? Quando nos achamos doentes, repousamos num leito bem cômodo; mas Jesus, quando na cruz, onde devia morrer, teve por leito um tosco de madeiro, no qual esteve suspenso por três cravos, e por travesseiro, para apoiar a cabeça ferida, aquela coroa de espinhos que não cessou de o atormentar até à morte. Quando estamos enfermos, temos ao redor do leito parentes e amigos que se compadecem de nós e nos procuram distrair; Jesus morre no meio de inimigos que, mesmo na ocasião em que ele agonizava e estava a expirar, o injuriavam e escarneciam, dando-o como um malfeitor e sedutor. Nada há, certamente, como a vista de Jesus crucificado para aliviar um enfermo nos seus sofrimentos, especialmente quando ele se vê abandonado pelos outros na sua doença. Unir então as suas penas com as de Jesus Cristo é o maior alívio que pode experimentar um pobre enfermo.
Nas angústias ainda maiores da morte, ocasionadas pelos assaltos do inferno, à vista dos pecados cometidos e das contas que em breve deverão ser dadas no tribunal divino, a única consolação que poderá ter um moribundo, que já está combatendo com a morte, é abraçar-se com o crucifixo e dizer: Meu Jesus e meu Redentor, vós sois o meu amor e a minha esperança.
Em suma, tudo o que temos de graças, de luzes, de inspirações, de santos desejos, de afetos devotos, de contrição dos pecados, de bons propósitos, de amor de Deus e de esperança do céu, tudo é fruto e dom que nos provém da Paixão de Jesus Cristo.
Ah, meu Jesus, que esperança poderia ter eu, que tantas vezes vos voltei as costas e mereci o inferno, de entrar na companhia de tantas virgens inocentes, de tantos mártires, de tantos apóstolos e dos serafins do céu, para contemplar a vossa bela face na pátria feliz, se vós não tivésseis morrido por mim, divino Salvador? A vossa paixão, pois, é que, não obstante os meus pecados, me dá a esperança de entrar um dia na companhia dos santos e de vossa Mãe bendita, para cantar as vossas misericórdias e agradecer-vos e amar-vos para sempre no paraíso. Assim eu o espero, ó meu Jesus. “Eu cantarei por todo o sempre as misericórdias do Senhor”. Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim. 

Páginas de Vida Cristã - Pe. Gaspar Bertoni.

12/26   -   A COMUNHÃO FREQUENTE 

1. - As turbas famintas
Quando considero no S. Evangelho o maravilhoso fervor daquelas turbas famintas que seguiam Jesus descuidando de todo outro cuidado; e a próvida liberalidade com que o divino Mestre correspondeu-lhes alimentando-as prodigiosamente com a multiplicação dos pães (Jo 6, 1-15); vêm-me à mente agradável confronto a devoção dos verdadeiros fiéis para com o augusto e divino sacramento, e a louvável freqüência com que estes costumam aproximar-se do Sagrado Altar, procurando aí aquele amoroso Mestre e Senhor, que por nosso amor quis permanecer entre nós escondido debaixo das espécies sacramentais, até a
consumação do mundo. Se naquelas turbas portanto, se devia admirar o fervor, nestes fiéis é mais para ser estimada a fé que os faz procurar com toda firmeza aquilo que seus sentidos não vêem. Aqui é maior sem dúvida a graciosa correspondência que Cristo dá aos seus afetos, enquanto não multiplica o pão terreno, mas apresenta como alimento a si mesmo para saciar seus espíritos com superabundância. Que se o fato das turbas evangélicas foi escrito para o incitamento da nossa fé, o exemplo dos verdadeiros fiéis se manifesta cada dia mais para edificação dos muitos cristãos que agora, tépidos e quase frios, muito raramente e quase que à força uma vez por ano, se achegam a Cristo. Não se deve crer que estes cristãos não tenham prontas suas aparentes razões e sutis desculpas para se dispensarem de freqüentar a sagrada Mesa. São estas justamente que eu julgo dever-se principalmente ter em mira e tirar-lhe das mãos; caso contrario persistindo estas, será vão todo motivo eficaz para persuadi-los.
2. - A primeira desculpa daqueles cristãos que não praticam Comunhão
freqüente: "não temos tempo"
a - A Eucaristia é o pão necessário à alma
Uma das mais costumeiras desculpas é que as ocupações do seu estado, o governo da família de que são onerados, não lhes dão tempo nem comodidade como se conviria para se aproximar mais vezes dos sacramentos. Mas eu perguntarei de boa vontade a esses, se estas obrigações e estes cuidados os impedem de sentar todo dia na mesa terrena; e se pela multiplicidade dos negócios que eles engrandecem, deixam o corpo em jejum mais que um só dia, nem falarei de semanas ou meses. Que se me apresentem a precisão e a indispensável necessidade, eu aceito; e não terá igual precisão e necessidade vossa alma de freqüente alimento para restaurar as forças perdidas e sustentar-se em vida? Não é talvez a Eucaristia o pão cotidiano da alma? "A minha carne, diz o Senhor, é verdadeiramente comida e meu sangue bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna; se vós não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós" (Jo 6, 54-56). Portanto eles sentem tão bem as necessidades do seu corpo que para satisfazê -las julgam dever muitas vezes ao dia interromper seus cuidados mais interessantes; e são pais insensíveis pela necessidade da alma já lânguida e desfalecida por um jejum tão longo, que não saibam, nem mesmo depois de muitas semanas, encontrar uma breve hora nos dias festivos para alimentá-la com o próprio pão!
b - A Eucaristia é também vantajosa para o bom desempenho dos negócios
terrenos
Unindo-se à verdadeira Sabedoria, que é Cristo, sua mente ficaria bem iluminada para dirigir-se prudentemente nos seus interesses. Indo buscar força na própria Fortaleza, estariam preparados para sustentar o peso daqueles cuidados que os agravam, sem ficar oprimidos; antes seriam aliviados e mitigados dizendo o próprio Cristo: "Vinde a mim vós todos que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei"
(Mt 11, 28). E talvez não seriam mais ajudados nas suas necessidades? Eram também simples os próprios discípulos, quando temiam que morressem de fome a numerosa turba que havia abandonado todo seu interesse para seguir Cristo. E vós sabeis como Cristo, pôde multiplicar-lhes o pão de modo que sobraram
muitos cestos. S. Pedro deixando tudo servia Cristo. Ora quando foi abrigado a pagar o imposto, não o providenciou Cristo com dinheiro até boca de um peixe? E uma vez tendo labutado toda a noite no mar sem pegar um só peixe, aparecendo o divino Mestre, trouxe depressa a rede repleta de peixe que sua barca e a de seus companheiros quase afundavam com o peso. Tanto é verdade que este amoroso Senhor não só se compraz em agraciar as almas, mas toma ainda um cuidado especial pelos interesses daqueles que amorosamente se achegam a Ele.
3. - Segunda desculpa: "o que dirá o mundo?". - "Aquele que se envergonhar
de mim, eu me envergonharei dele".
Nós percebemos a utilidade - acrescentam aqueles tíbios e ficamos facilmente convencidos de interromper nossas ocupações e participar mais vezes de tão grande bem. Mas nos perturba a observação do mundo que escarneceria da nossa freqüência e nos dariam apelidos que nos desagradam. Oh! Desculpa mais digna de ser compadecida que ser combatida! Pois os atuais cristãos se envergonham de seguir Cristo ou de serem chamados cristãos. Estes são semelhantes àqueles principais entre os Hebreus, que acreditavam em
Cristo, mas não tinham coragem de aproximar-se dele por respeito aos fariseus e por temor de serem excluídos da Sinagoga. Fazem mais conta das honras do mundo, que de serem honrados por Cristo.
Assim por uma glória vã e caduca perdem uma glória verdadeira e eterna; tendo já Cristo protestado no seu Evangelho: "Quem se envergonhar de mim eu me envergonharei dele; e quem não se envergonhar de confessar meu nome diante dos homens, nem eu me envergonharei de confessar seu nome diante de meu Pai que está nos céus" (Lc 9, 26; 12, 9; Mt 10, 33). E em outro lugar: "Felizes de vós quando rejeitarem como indigno o vosso nome, e disserem todo mal contra vós por causa do meu nome! Alegrai-vos e exultai naqueles dias, porque grande será vossa recompensa no céu" (Mt 5, 2; Lc 6, 22-23). Certamente se fôssemos convidados cortesmente por um príncipe terreno para sua mesa, e fôssemos aí tratados como amigo e familiar, pouco nos interessaria da crítica vã de um vulgo ignorante, diante da honra que recebemos do príncipe e dos seus cortesãos; nem perderíamos por fúteis cuidados uma graça tão favorável.
4. - Pode-se tornar digno com um sincero arrependimento e uma boa
confissão
Mas, nós - aceitam -, se nos reconhecêssemos dignos nos aproximaríamos do Sacramento de boa vontade; mas somos pecadores, cheios de imperfeições, e distantes daquele fervor em que se encontram tantas almas boas; tememos recebê-lo mais como condenação que como salvação. Eis a última desculpa e o argumento
que lhes parece invencível, com o qual acobertam sua tibieza. Eu quereria, portanto , - já que eles apresentam a palavra do Apóstolo: "Quem come indignamente, come a própria condenação" - refletissem ainda o conselho que imediatamente acrescenta e o seguissem: "que cada um se examine a si mesmo, e
assim coma deste pão" (1Cor 11, 28-29). Estas palavras são interpretadas com toda segurança pela prática constante de toda a Igreja, que examinando o homem fiel e sua consciência, e encontrado-a ciente de culpa grave, corra arrependido a purgá-la no Sacramento da Confissão com firme propósito de não mais pecar; "e assim coma deste pão"; e feito isto coma, todavia, isto é, sem nenhum temor, daquele pão do qual diz S. Agostinho: "Recebei-o com segurança, que é pão, não veneno" (2). E se Cristo é vida e vem para dar a vida, como justamente para aqueles que vão recebê-lo para viver, será morte? E se Ele morreu para dar a vida quando nós "éramosinimigos", como agora àqueles que "foram reconciliados" e lavados no seu sangue,
dará a morte eterna e a condenação? Deveriam lembrar da acolhida amorosa que fez o Pai evangélico ao próprio filho: o qual voltando atrás depois de ter consumido seu patrimônio nos vícios mais infames, confessando haver pecado, teve imediatamente os sinais do mais terno afeto, e revestido da primeira estola foi introduzido na casa paterna àquele alegre banquete. Advirtam, pois, bem que todos estes importunos temores são enganos falaciosos do demônio. "Entendam bem isto - diz S. Cirilo - todos os batizados,
tornados participantes da divina graça; que se recusam por longo tempo por uma fingida religião ou por um danoso medo de comungar, privam-se da vida eterna; pois este não querer recebê-lo, embora pareça que venha do temor e da humildade, escandaliza e arma laço para as almas. Conviria ao contrário, que com todo esforço e solicitude se pusessem a limpar a própria alma, e empreender um novo sistema de vida, e portanto se apressassem em participar da Vida. Mas sendo muito variada a arte que o demônio usa para enganar, antes leva o homem a viver licenciosamente; e depois que está bem cheio de vícios e de pecados, induz ao horror ao sacramento do qual poderia ser curado". Até aqui o santo .
b - A Eucaristia é um excelente remédio para a alma
S. Ambrósio, S. Agostinho e S. Bernardo também nisto concordam dizendo ser a Eucaristia um excelente remédio contra o pecado. S. Cipriano assim escreve: "O cálice inebriante do Senhor, que leva a mente à
sabedoria espiritual, e quem o saboreia, do sabor humano se encaminha para a inteligência e para o gosto de Deus. E como a quem bebe este vinho terreno e comum se esclarece a mente, o ânimo se alegra e se manda para longe a tristeza; assim, experimentada a bebida salutar do Sangue do Senhor, perde-se a memória
do homem velho, esquece-se a antiga conversa secular, e o peito oprimido pelos pecados que a angustiavam, agora, para alegria do dom feito a ele por Deus, se resolve das angústias, se alivia das fadigas "
5. - QUARTA desculpa: "não sentimos fervor". - "Aproximai-vos do fogo"
Quanto aos que não querem comungar e aduzem a falta de fervor, fazem justamente como se as pessoas com frio não quisessem aproximar-se do fogo se antes não se esquentassem; enquanto segundo o Damasceno "A Eucaristia é um carvão aceso que afasta o frio e a tibieza" (6); dai como os que se afastam do fogo se tornam cada vez mais frios, assim estes alienando-se sob diversos coloridos pretextos deste fogo celeste, finalmente ficarão gelados e totalmente endurecidos. "É coisa salutar e útil ao homem - determina S. Boaventura - que se prepare para tomar muitas vezes este remédio e se esforce por tomá-lo o mais devotamente possível. E embora alguma vez aconteça que se sinta todo árido e sem fervor, embora confiante na divina misericórdia o receba confiantemente; porque, se ele se reputa indigno, pense que é muito mais necessário procurar o médico, quanto mais se sente estar enfermo".
6. - O convite do divino Amante das almas
Eu confesso que depois de haver respondido às objeções destes tíbios, e, quase os desarmado dos argumentos com que se cobriam, agora que só resta impelir seus corações, seria conveniente assim tê -lo eu bem inflamado e ardente para poder fazer isto com eficácia. Eu sei por outro lado o que devo fazer. Pedirei a eles que dêem uma só olhada para aquele sagrado Cibório, e escutem no coração o doce convite que faz-lhes este divino Amante das almas. "Vinde e comei". Eis que o banquete eu vos preparo; aquele mesmo alimento de que se nutrem no Céu os Príncipes da minha corte, este mesmo a vós eu apresento, peregrinos e exilados aqui na terra: tomai e comei: "isto é o meu Corpo; isto é meu Sangue" (Mt 26, 26 - 28), com os quais vos redimi dos vossos pecados e da servidão dos vossos inimigos. Vede quantos padecimentos, que agonias, que morte me custou preparar-vos esta mesa. Poderíeis vós render-me maior gratidão, que fazer-me a vontade de que freqüentemente a useis? Eis que eu estarei todos os dias e todas as noites convosco até o fim, e vós deixareis correr os anos inteiros antes de achegar-vos a mim? Assim tão pouco cuidais do meu Amor? A quem ireis portanto para receber a vida; se não vindes a mim que somente eu a posso dar? Quem saciará os desejos do vosso coração, senão eu que sou vosso "Princípio", assim sou também o vosso
"Fim"? Porque temeis em aproximar-vos de mim? Eu sou vosso Pai, Mestre, Amigo, Irmão; e se vós estais doentes eu sou vosso Médico, sou a vossa salvação, e serei um dia a vossa Felicidade, a vossa
Glória. Se eu aqui morasse em um trono com todo esplendor da minha Majestade,aceitaria talvez a vossa timidez e pusilanimidade; mas como estou no Sacramento escondido e familiarizado tanto com os homens, porque não vos aproximais com toda confiança sabendo que "todas as minhas delicias são estar convosco"? (Pr 8, 31). Ah! meus irmãos, quem entre vós será de sentimento tão duro que não ouça estas amorosas palavras e estes exigentíssimos convites no mais íntimo do seu coração? Felizes aqueles que ouviram a divina voz; mais felizes se aguardam para observá-la! Felizes os que ouvem e guardam" (Lc 11, 28).

17 de setembro de 2014

Do diabólico delírio dos mórmons - Pe. Leslie Rumble, M.S.C. (13/20)

Os Mórmons
ou
"Santos dos Últimos Dias"

Padre Leslie Rumble, M.S.C.
Doutor em Teologia  
Missionarii Sacratissimi Cordis
"Missionários do Sagrado Coração"

ARTIGOS DE FÉ
Uma das últimas coisas que Joseph Smith fez antes de ser morto em 1844 foi escrever um artigo para uma "História das Denominações Religiosas nos Estados Unidos", explicando a fé da Igreja Mórmon. A sua declaração é como segue:

CREMOS em Deus-Pai Eterno, e em seu Filho Jesus Cristo, e no Espírito Santo. 

CREMOS que os homens serão punidos pelos seus próprios pecados, e não pela transgressão de Adão.

CREMOS que, mediante a expiação de Cristo, todo o gênero humano pode ser salvo, por obediência às leis e ordenações do evangelho.

CREMOS que essas ordenações são: 1) Fé no Senhor Jesus Cristo; 2) Arrependimento; 3) Batismo por imersão para a remissão dos pecados; 4) Imposição das mãos para o Dom do Espírito Santo.

CREMOS que um homem deve ser chamado por Deus, mediante "profecia e imposição das mãos" feita por aqueles que estão em autoridade, para pregar o evangelho e administrar as ordenações deste.

CREMOS na mesma organização que existiu na primitiva Igreja, ou seja: apóstolos, profetas, pastores, mestres, evangelistas, etc.

CREMOS nos dons de línguas, de profecia, de revelação, de visões, de curas, de interpretações de línguas, etc.

CREMOS que a Bíblia é a Palavra de Deus, enquanto traduzida corretamente.

CREMOS também que o livro de Mórmon é a Palavra de Deus. 

CREMOS tudo o que Deus revelou, tudo o que ele não revela, e cremos que ele ainda revelará muitas coisas grandes e importantes pertinentes ao Reino de Deus. 

CREMOS na literal reunião de Israel e na restauração das dez tribos; que Sião será edificada neste Continente; que Cristo reinará pessoalmente sobre a terra, e que a terra será renovada e atingirá a sua glória paradisíaca.

No principal, os supracitados artigos de fé são mero sumário do Protestantismo evangélico comum, com o qual Joseph Smith já estava familiarizado, salvo quanto à exclusão dos efeitos do pecado original e à insistência sobre a aceitação do Livro de Mórmon como Palavra de Deus igualmente à Bíblia, sobre as revelações divinas a serem ainda dadas, e sobre o estabelecimento de Sião na América. Da poligamia, que ele já proclamara necessária, não faz menção, para o fim de publicidade, na "História das Denominações Religiosas nos Estados Unidos".
O que entretanto precisa ser sobretudo frisado é que, enquanto na sua declaração Joseph Smith fala a língua do Protestantismo evangélico, os Mórmons de modo algum entendem as palavras realmente em sentido protestante ortodoxo.