26 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO VIII

Para o sábado da paixão

Jesus é condenado por Pilatos
1. Pilatos, depois de haver tantas vezes declarado a inocência de Jesus, mais uma vez a proclama, protestando ser ele inocente do sangue daquele justo (Mt 27,24), e contudo pronunciou a sentença e o condenou à morte. Oh! injustiça nunca vista no mundo! Ao mesmo tempo que o juiz declara inocente o acusado, ele o condena. Ah, meu Jesus, vós não mereceis a morte, mas eu a mereço. Visto, porém, que quereis satisfazer por mim, não é Pilatos, mas é o vosso próprio Pai que vos condena a pagar a pena a mim devida. Eu vos amo, ó Padre eterno, que condenais vosso Filho inocente para livrar-me a mim que sou réu. Eu vos amo, ó Filho eterno, que aceitais a morte devida a um pecador.
2. Pilatos, tendo condenado a Jesus, o entrega às mãos dos judeus, para que façam com ele o que desejavam: “Entregou Jesus ao arbítrio deles” (Lc 23,25). É de fato o que acontece: quando se condena um inocente, não se limita a pena, mas é ele abandonado às minhas mãos dos inimigos, para que o façam padecer e morrer como lhes aprouver. Pobres judeus, vós então pedistes o castigo, dizendo: “Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos” (Mt 27,25). E o castigo já veio! Desgraçados, sofreis e haveis de sofrer até ao fim do mundo o castigo desse sangue inocente. Ó meu Jesus, tende piedade de mim, que com minhas culpas também motivei a vossa mote. Não quero ficar obstinado com os judeus, quero chorar os maus tratos que vos dei e amar-vos sempre, sempre, sempre.
3. Eis que se lê diante do Senhor a injusta sentença, condenando-o à morte da cruz. Ele a ouve, e, inteiramente submisso à vontade do Pai, obediente a aceita com toda a humildade: “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8). Pilatos na terra diz: Morra Jesus! E o eterno Pai no céu diz também: Morra o meu Filho. E o Filho responde por sua vez: Eis-me aqui; eu obedeço e aceito a morte e a morte da cruz. Meu amado Redentor, vós aceitais a morte que me é devida. Seja bendita a vossa misericórdia para sempre: eu vos agradeço sumamente. Mas visto que vós, inocente, aceitais a morte da cruz por mim, eu, pecador, aceito a  morte que me destinardes com todos os sofrimentos que a acompanharem e desde já a uno à vossa morte e a ofereço a vosso eterno Pai. Vós morrestes por meu amor e eu quero morrer por amor de vós. Pelos merecimentos de vossa santa morte, fazei-me morrer na vossa graça e abrasado no vosso santo amor. Maria, minha esperança, recordai-vos de mim.

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 26/4 - Graças ao bom Deus, sempre tenho forças.

25 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO VII

Para a 6.ª feira da Paixão

Pilatos mostra Jesus ao povo, dizendo: “Ecce Homo”
1. Tendo sido Jesus conduzido novamente à presença de Pilatos, este, vendo-o todo dilacerado e deformado pelos açoites e espinhos, julgou poder excitar a compaixão do povo, mostrando-lhe Jesus. Por isso, saiu para fora, até ao pórtico ou alpendre, levando consigo Jesus, e disse: Eis aqui o homem, como se dissesse: Vede, ainda não estais contentes com o que padeceu este pobre inocente? Ei-lo reduzido a um estado em que não poderá mais viver. Deixai-o, pois, em paz, pois pouco tempo lhe restará de vida. Contempla tu também, minha alma, o teu Senhor sobre aquele pórtico, como ele está amarrado e seminu, coberto todo de chagas e de sangue, e reflete a que estado está reduzido o teu pastor para salvar-te a ti, ovelha desgarrada.
2. No mesmo tempo em que Pilatos mostra aos judeus Jesus coberto de chagas, o Padre eterno no céu nos convida a contemplar Jesus em tal estado e nos diz igualmente: Eis aí o homem. Homens, esse homem que vedes tão chagado e desprezado é o meu Filho muito amado, que para pagar por vossos pecados padece tanto: contemplai-o e amai-o. Meu Deus e meu Pai, eu contemplo o vosso Filho e lhe agradeço e o amo e espero amá-lo sempre. Suplico-vos, porém, que o contempleis também e pelo amor deste vosso Filho tende piedade de mim, perdoai-me e dai-me a graça de não amar senão a vós.
3. Que respondem, porém, os judeus à vista deste rei de dores? Fazem uma grande gritaria e dizem: Crucifica-o, crucifica-o. E vendo que Pilatos, apesar de seus insultos, procurava libertá-lo, aterrorizam-no dizendo: “Se soltares a este, não és amigo de César” (Jo 19,12). Pilatos resiste ainda uma vez e replica: “Então hei de crucificar o vosso rei?” E eles responderam: “Nós não temos outro rei além de César”. Ah, meu adorado Jesus, eles não querem vos conhecer por seu rei e afirmam que não querem outro rei senão César. Eu vos reconheço por meu rei e protesto que não quero outro rei para o meu coração senão vós, meu amor e meu único bem. Infeliz de mim. Também eu vos desconheci por algum tempo como meu rei e protestei não querer servir-vos. Agora, porém, quero que só vós domineis sobre minha vontade. Fazei que ela obedeça a tudo o que ordenardes. Ó vontade de Deus, vós sois o meu amor. Ó Maria, rogai por mim, pois as vossas súplicas nunca são desatendidas.

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 25/4 - Façamos o bem enquanto temos tempo à nossa disposição. Assim, daremos glória ao nosso Pai celeste, santificaremos nós mesmos e daremos bom exemplo aos outros.

24 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO VI

Para 5.ª feira da paixão

Jesus é coroado de espinhos e tratado como rei de escárnio
1. Depois de terem os soldados flagelado a Jesus Cristo, reuniram-se todos no pretório e, despojando-o novamente de suas vestes, para escarnecer dele o torná-lo um rei de comédia, puseram-lhe sobre os ombros um manto velho de cor vermelha, para representar a púrpura real, e na mão uma cana significando o cetro, e na cabeça um feixe de espinhos parodiando a coroa, que lhe envolvia toda a sagrada cabeça (Mt 27,28). E visto que os espinhos com a força das mãos não se cravavam na sua divina cabeça, tomam-lhe a cana e enterram-lhe na cabeça aquela horrenda coroa: “E cuspindo-lhe no rosto, tomaram-lhe a cana e batiam-lhe na cabeça” (Mt 27,28). Ó espinhos ingratos, assim atormentais o vosso Criador? Mas que espinhos, que espinhos! Vós, maus pensamentos meus, vós traspassastes a cabeça de meu Redentor. Detesto, ó meu Jesus, e aborreço mais que a morte aqueles perversos consentimentos com que tantas vezes vos desgostei a vós, meu Deus tão bom e misericordioso. Mas já que me fazeis conhecer quanto me tendes amado, quero amar-vos a vós somente e nada mais.
2. Ó Deus, já escorre a fio o sangue dessa cabeça ferida sobre a face e o peito de Jesus, e vós, meu Salvador, nem sequer vos lamentais de tão injusta crueldade! Vós sois o rei do céu e da terra, mas agora estais reduzido ao papel de um rei de burla e de dores, feito o ludíbrio de toda a Jerusalém. Devia, porém, realizar-se a profecia de Jeremias: “Oferecerá a face ao que o ferir; fartar-se-á de opróbrios” (Lm 3,30). Jesus, meu amor, eu vos desprezei pelo passado, mas agora eu vos estimo e vos amo com todo o meu coração e desejo morrer por vosso amor.
3. Mas esses homens não estão ainda satisfeitos com os tormentos e escárnios a que vos sujeitaram. Depois de vos haver assim atormentado e tratado como rei de teatro, ajoelhavam-se diante de vós e zombando vos diziam: “Nós te saudamos, ó rei dos judeus. E davam-lhe bofetadas” (Mt 27,29). Aproxima-te ao menos tu, minha alma, e reconhece Jesus como o Rei dos reis e o Senhor dos senhores e agradece-lhe e ama-o, porque se fez, por teu amor, rei das dores. Ah, meu Senhor, esquecei-vos dos desgostos que vos dei. Agora eu vos amo mais que a mim mesmo. Só vós mereceis todo o meu amor e por isso só a vós eu quero amar. Tenho medo de minha fraqueza, mas vos me dareis força para executá-lo. E vós, ó Maria, ajudar-me-eis com as vossas súplicas.

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 24/4 - Exercite-se com particular esmero na doçura e na submissão à vontade de Deus.

23 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO V

Para 4.ª feira da paixão

Jesus é flagelado e preso a uma coluna
1. “Então Pilatos tomou a Jesus e mandou flagelá-lo” (Jo 19,1). Ó juiz injusto, tu o declaraste inocente e em seguida o condenas a um castigo tão cruel como vergonhoso? Contempla, minha alma, como, depois dessa ordem iníqua, os carrascos se apoderam do Cordeiro divino, conduzem-no ao pretório e o amarram com cordas a uma coluna. Ó cordas bem-aventuradas, vós que prendestes àquela coluna as mãos de meu doce Redentor, prendei também a seu coração divino o meu miserável coração, para que de hoje em diante eu não busque e não queira outra coisa senão o que ele quer.
2. Eis que já tomam nas mãos os azorragues e, dado o sinal, começam a rasgar aquelas carnes sacrossantas de alto a baixo: primeiramente mostram-se lívidas e depois esguicham sangue de todos os pontos. Os azorragues e as mãos dos carrascos já estão tintos de sangue e a própria terra está toda banhada. Ó Deus, pela violência dos golpes, voam pelos ares não só o sangue, mas até pedaços de carne de Jesus Cristo. Seu corpo divino já está todo dilacerado, mas aqueles bárbaros continuam a acrescentar feridas e feridas, dores a dores. Entretanto, que faz Jesus? Ele não fala, não se lamenta, mas sofre pacientemente aquele horrível tormento para aplicar a justiça divina irada contra nós. “Como um cordeiro sem voz diante do que o tosquia, assim não abriu ele sua boca” (At 8,32). Corre, minha alma, e lava-te nesse sangue divino. Meu amado Senhor, eu vos vejo todo dilacerado por mim; não posso, pois, duvidar mais de que vós me amais e me amais muito. Cada chaga vossa é uma prova evidente de vosso amor, que com muita razão pede o meu amor. Vós me dais o vosso sangue sem reserva, ó meu Jesus; é justo que eu também vos dê o meu coração sem reserva. Recebei-o, pois, e fazei que eu vos seja sempre fiel.
3. Ó Deus, se Jesus Cristo não tivesse sofrido senão um só golpe por meu amor, já deveria abrasar-me de amor por ele, pensando: Um Deus quis ser ferido por mim! Ele, porém, não se contentou com um só golpe, mas, para pagar por meus pecados, quis me lhe fossem dilacerados todos os membros, como já predissera Isaías: “Foi quebrantado por causa de nossos crimes” (Is 53,5), e tornar-se semelhante a um leproso coberto de chagas dos pés até à cabeça: “E nós o julgamos um leproso”(Is 53,4). Minha alma, enquanto Jesus era flagelado pensava em ti e oferecia a Deus seus acerbos martírios para livrar-te dos flagelos eternos do inferno. Ó Deus de amor, como pude eu viver tantos anos sem vos amar! Ó chagas de Jesus, feri-me de amor para com Deus que tanto me amou. Ó Maria, Mãe da graça, alcançai-me este amor!

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 23/4 - ORAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II A SÃO PIO DE PIETRELCINA:
Ensine-nos, nós lhe pedimos, a humildade de coração para sermos incluídos entre os pequeninos de que fala o Evangelho, aos quais o Pai prometeu revelar os mistérios do Seu Reino.
Ajude-nos a ter um olhar de fé, capaz de reconhecer prontamente nos pobres e nos sofredores a face do próprio Jesus.
Sustente-nos nos momentos de luta e de provações e, se cairmos, faça com que experimentemos a alegria do sacramento do perdão.
Transmita-nos a terna devoção a Maria, mãe de Jesus e nossa.
Acompanhe-nos na peregrinação terrena em direção à Pátria abençoada, aonde também esperamos chegar um dia para contemplar eternamente a Glória do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém.

22 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO IV

Para a 3.ª feira da paixão

Jesus é conduzido a Pilatos e a Herodes e posposto a Barrabás
1. Chegada a manhã, conduzem Jesus a Pilatos, para que o condene à morte. Pilatos, porém, descobre que Jesus é inocente e por isso diz aos judeus que não encontrava motivo para condená-lo. Como, porém, os vê obstinados em querer a sua morte, o remete ao tribunal de Herodes. Este, tendo diante de si Jesus, desejava vê-lo operar um dos muitos milagres de que tanto falavam. O Senhor nem sequer, porém, respondeu às interrogações daquele temerário. Pobre da alma à qual Deus nada mais diz! Meu Redentor, era isso o que eu merecia, por não haver obedecido a tantos chamados vossos. Mas, ó meu Jesus, vós não me haveis abandonado ainda. Falai-me, pois. “Falai, Senhor, que vosso servo vos ouve” (1Rs 3,10), dizei-me o que desejais de mim, que eu quero fazer tudo o que vos agradar.
2. Vendo Herodes que Jesus não lhe dava resposta, despeitado o expulsou de sua casa, zombando dele com todo o pessoal de sua corte, e para maior desprezo o revestiu com uma veste branca, querendo assim designá-lo como louco, remetendo-o em seguida a Pilatos (Lc 23,11). E assim é Jesus levado pelas ruas de Jerusalém, revestido com aquela veste de escárnio. Ó meu Jesus desprezado, faltava-vos ainda essa injúria de ser tratado como louco! Ora, se a sabedoria eterna é assim tratada pelo mundo, bem-aventurado é aquele que não se importa com os aplausos do mundo e não quer saber de outra coisa senão Jesus crucificado, amando as dores e desprezos, exclamando com o Apóstolo: “Não julgueis saber coisa alguma no meio de vós, senão Jesus Cristo e este crucificado” (1Cor 2,2).
3. Os judeus tinham o direito de exigir do governador romano, na festa da páscoa, a libertação de um réu. Por isso, Pilatos perguntou ao povo qual dos dois queria, Jesus ou Barrabás (Mt 27,17). Barrabás era um celerado, homicida, ladrão, odiado por todos. Jesus era inocente. Os judeus, porém, gritam que viva Barrabás e morra Jesus. Ah, meu Jesus, eu também assim falei quando deliberei ofender-vos por uma satisfação qualquer, tendo preterido a vós qualquer gosto miserável e para não perdê-lo não me importei com perder a vós, bem infinito. Mas agora eu vos amo acima de qualquer outro bem, mais que à minha vida. Tende piedade de mim, ó Deus de misericórdia. E vós, ó Maria, sede minha advogada.

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 22/4 - Lembremo-nos de que o Coração de Jesus chamou-nos não somente à nossa própria santificação, mas também à santificação de outras almas. Ele quer ser auxiliado a salvar almas.

21 de abril de 2024

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 21/4 - Lave suas imperfeições com lágrimas sinceras de arrependimento, mas sem que falte confiança na bondade de Deus.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO III

Para a 2.ª feira da paixão

Jesus é preso e conduzido a Caifás
1. Tendo o Senhor conhecimento de que os judeus que vinham prendê-lo já estavam perto, levanta-se e vai ao seu encontro: sem nenhuma resistência deixa-se prender e amarrar: “prenderam a Jesus e o amarraram” (Jo 18,12). Que assombro! Um Deus preso como um malfeitor por suas criaturas! Minha alma, considera como uns lhe tomam as mãos, outros o amarram e outros lhe batem, e o inocente Cordeiro deixa-se prender e bater conforme a vontade deles e cala-se: “Foi oferecido porque ele mesmo o quis e não abriu sua boca. Foi conduzido como uma ovelha ao matadouro” (Is 53,7). Não fala nem se lamenta, porque ele mesmo já havia se oferecido para morrer por nós e assim se deixa amarrar como uma ovelha que é conduzida à morte sem abrir a boca.
2. Jesus entra preso em Jerusalém. Os que dormiam despertam com o rumor da gente que passa e perguntam quem é o preso que conduzem. E a resposta vem logo: É Jesus Nazareno, que se descobriu ser um impostor e sedutor. Apresentam-no a Caifás, que, vendoo, alegra-se e o interroga a respeito de seus discípulos e de sua doutrina. Responde Jesus que falou em público, chamando, como testemunhas
do que dissera, os próprios judeus que o circundavam: “Eis que estes sabem o que eu disse” (Jo 18,21). Depois dessa resposta, um dos ministros dá-lhe uma bofetada, dizendo-lhe: “Assim respondes ao pontífice?” Mas, ó meu Deus, como uma resposta tão humilde e mansa pode merecer uma afronta tão grande? Ó meu Jesus, vós sofrestes tudo para pagar as afrontas feitas por mim a vosso eterno Pai.
3. Entretanto, o pontífice o conjura em nome de Deus a dizer se ele era na verdade o Filho de Deus. Jesus responde afirmativamente e, ao ouvir isto, Caifás, em vez de prostrar-se em terra para adorar o seu Deus, rasga suas vestes, e, voltando-se para os outros sacerdotes, diz: “Que necessidade temos ainda de testemunhas? Eis aí, acabais agora de ouvir a blasfêmia. Que vos parece?” (Mt 26,65). E eles responderam com uma só voz: “É réu de morte”. Depois disto, conforme narram os evangelistas, começaram todos a cuspir-lhe no rosto e a maltratá-lo com bofetadas e socos, e, cobrindo-lhe o rosto com um pano, perguntaram-lhe por escárnio: “Dize-nos, ó Cristo, quem foi que te bateu?” (Mt 26,67). Eis-vos feito nessa noite o divertimento do populacho, ó meu Jesus. Como é possível, porém, que os homens vos vejam tão humilhado por amor deles e não vos amem! E como pude eu chegar a ultrajar-vos com tantos pecados, depois de haverdes sofrido tanto por mim? Ó meu Amor, perdoai-me, que eu não quero mais desgostar-vos. Eu vos amo, meu sumo Bem, e me arrependo de vos haver ofendido e desprezado. Ó Maria, minha Mãe, suplicai a vosso Filho ultrajado que me perdoe.

20 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO II

Para o domingo da paixão

Jesus ora no horto
1. Sabendo Jesus que era chegada a hora de sua paixão, depois de haver lavado os pés de seus discípulos e instituído o SS. Sacramento do Altar, no qual se nos deixou todo a si mesmo, se dirige ao horto de Getsêmani, onde seus inimigos iriam procurá-lo para o prender, como já era de seu conhecimento. Aí põe-se a orar e eis que se sente assaltado por um grande temor, um grande tédio e uma grande tristeza: “Começou a ter pavor, tédio e tristeza” (Mt 14,33; Mt 26,37). Assaltou-o primeiramente um grande temor da morte tão amarga que devia sofrer sobre o Calvário e de todas as angústias e desolações que deveriam acompanhá-la. No decurso de sua paixão, os flagelos, os espinhos, os cravos e os outros tormentos o afligiram cada um por sua vez; no horto, porém, vieram todos juntos atormentá-lo. Ele os abraça a todos por nosso amor, mas isso o faz tremer e agonizar: “Posto em agonia, orava com maior instância” (Lc 22,43).
2. Doutro lado, assalta-o um grande tédio ou repugnância pelo que devia sofrer e por isso suplica ao Pai que o livre disso: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice” (Mt 26,39). Ele orou assim para ensinar-nos que bem podemos pedir a Deus nas tribulações que nos livre delas, mas ao mesmo tempo devemos nos submeter à sua vontade e dizer então como Jesus: “Contudo, não se faça como eu quero, mas como tu queres”. Sim, meu Jesus, não se faça a minha vontade, mas a vossa. Eu aceito todas as cruzes que quiserdes enviar-me. Vós, inocente, tanto sofrestes por meu amor; é justo que eu, pecador, réu do inferno, padeça por vosso amor tudo o que determinardes.
3. Assaltou-o também uma tristeza tão grande, que bastaria para lhe dar a morte, se ele não a tivesse detido, para expirar crucificado por nós, depois de ter sofrido ainda mais. “Minha alma está triste até à morte” (Mc 14,34). Essa grande tristeza foi motivada pela vista da ingratidão futura dos homens, que, em vez de corresponder a tão grande amor, haveriam de ofendê-lo com tantos pecados, o que o faz suar sangue: “E seu amor se fez como gotas de sangue correndo sobre a terra” (Lc 22,44). Assim, ó meu Jesus, mais cruéis que os carnífices, os flagelos, os espinhos, a cruz, foram os meus pecados que tanto vos afligiram no horto. Fazei-me participar daquela dor e aversão que experimentastes no horto, para que eu chore amargamente, até à morte, os desgostos que eu vos dei. Eu vos amo, ó meu Jesus, acolhei um pecador que vos quer amar. Ó Maria, recomendai-me a esse Filho afligido e triste por meu amor.

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 20/4 - Faça tudo por amor a Jesus.

19 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

OPÚSCULO V

QUINZE MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS CRISTO, PARA O TEMPO QUE MEDEIA
ENTRE O SÁBADO DA PAIXÃO E O SÁBADO SANTO

MEDITAÇÃO I

Para o sábado da paixão

Jesus entra triunfante em Jerusalém
1. Avizinhando-se o tempo de sua Paixão, nosso Redentor deixa Betânia para se dirigir a Jerusalém. Achando-se perto dessa ingrata cidade, Jesus a contempla e chora. “Vendo a cidade, chorou sobre ela”. Chora, prevendo sua ruína em conseqüência do grande crime que aquele povo iria em breve cometer, tirando a vida ao Filho de Deus. Ah, meu Jesus, chorando então sobre aquela cidade, choráveis também sobre a minha alma, vendo a ruína que eu mesmo me procurava com meus pecados, obrigando-vos a condenar-me ao inferno depois de haverdes morrido para me salvar. Ah, deixai-me chorar o grande mal que me fiz, desprezando a vós, sumo bem, e tende compaixão de mim.
2. Jesus Cristo entra na cidade, o povo sai ao seu encontro, recebe-o com aplauso e festas e para honrá-lo junca o caminho com ramos de palmeiras e muitos estendem suas vestes por onde ele deve passar. Quem diria então que esse Senhor, reconhecido como o Messias e acolhido com tantos sinais de respeito, deveria atravessar as mesmas ruas com uma cruz sobre os ombros, condenado à morte! Ah, meu caro Jesus, agora esse povo vos aclama dizendo: “Hosana ao Filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor” (Mt 21,9), e depois levantará a voz insultando Pilatos para que vos tire do mundo, fazendo-vos morrer crucificado: “Tira-o, tira-o, crucifica-o” (Jo 19,15). Adianta-te, minha alma, e dize-lhe com afeto: Bem-aventurado o que vem em nome do Senhor. Sede para sempre bendito por vossa vinda, ó Salvador do mundo, porque, do contrário, estaríamos perdidos. Ó meu Salvador, salvai-me.
3. À tarde, porém, depois de tantas aclamações, não se encontrou ninguém que o convidasse a hospedar-se em sua casa e por isso teve de voltar a Betânia. Meu amado Redentor, se os outros não querem acolher-vos, eu vos quero acolher no meu pobre coração. Houve um tempo em que eu, infeliz, vos expulsei de minha alma, mas agora prefiro ter-vos comigo a possuir todos os tesouros da terra. Eu vos amo, meu Salvador, e o que poderá separar-me mais de vosso amor? Só o pecado. Mas vós haveis de livrar-me desse pecado com o vosso auxílio, ó meu Jesus, e vós também, ó minha Mãe Maria, com a vossa intercessão.

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 19/4 - Esteja sempre atento para não cair nas redes do demônio.

18 de abril de 2024

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 18/4 - Faça a penitência de meditar com arrependimento nas ofensas feitas a Deus; a penitência de ser constante na prática do bem; a penitência de combater seus defeitos.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

Meu jugo é suave.
1. O leão infernal não deixa de andar em redor de nós durante toda a nossa vida, para nos devorar, e por isso S. Pedro diz que devemos nos armar contra os seus assaltos com o pensamento da paixão de Cristo: “Havendo Cristo padecido na carne, armai-vos também do mesmo pensamento” (1Pd 4,1). S. Tomás afirma que só a lembrança da paixão é um forte anteparo contra as tentações do inferno. E S. Ambrósio, ou outro santo, escreve: Se o Senhor conhecesse uma outra via para a salvação, melhor que a do sofrimento, ele no-la teria feito conhecer: indo, porém, à frente com a cruz às costas, nos demonstrou que não há meio mais próprio para nos procurar a salvação que o sofrer com paciência e resignação e por isso quis ele mesmo dar-nos o exemplo na sua pessoa. Diz S. Bernardo que nós, contemplando as grandes aflições do Crucificado, acharemos mais suportáveis as nossas (Serm. 43 in Cant.).E em outro lugar: Que coisa te parecerá dura, se te recordares dos sofrimentos de teu Senhor? (Serm. de quadrupl. deb.). Tendo S. Delfina perguntado um dia ao seu marido S. Elzeário como podia suportar tantas injúrias com tão grande tranqüilidade, respondeu-lhe este: Quando me vejo injuriado, penso nas injúrias que meu Salvador crucificado e não ponho de lado tal pensamento enquanto não me sinto apaziguado. A ignomínia da cruz é agradável àquele que não é ingrato ao Crucificado, diz S. Bernardo (Serm. 25 in Cant.).Todas as almas que querem ser gratas a Jesus Cristo não detestam, mas se aprazem nos desprezos que recebem. Quem não receberá com prazer os opróbrios e os maus tratos, considerando somente os maus tratos que sofreu Jesus no começo de sua paixão, quando na casa de Caifás foi esbofeteado e pisado, e lhe escarraram no rosto, zombando dele como de um falso profeta, vendando-lhe os olhos com um pano, segundo o testemunho de S. Mateus? (Mt 26,27).
2. E como era possível os mártires sofrerem com tanta paciência os tormentos dos carnífices? Eram dilacerados com ferros, eram queima os nas grelhas: talvez não eram de carne ou perdiam os sentidos? não, mas eles não se punham a contemplar as suas feridas, mas as chagas do Redentor e assim pouco sentiam as próprias dores. Os tormentos não deixavam de os martirizar, mas eles os desprezavam por amor a Jesus Cristo. Não há dor tão atroz que não seja suportável à vista de Jesus morto na cruz. O Apóstolo escreve que nós pelos méritos de Jesus Cristo fomos enriquecidos com todos os bens (1Cor 1,5). Jesus, contudo, quer que, para obtermos as graças que desejamos, recorramos sempre a Deus por meio da oração e lhe supliquemos que nos ouça pelos méritos de seu Filho. E o próprio Jesus nos promete que, se assim procedermos, o Pai nos dará tudo o que pedirmos: “Em verdade, em verdade eu vos digo, se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, ele vo-la dará” (Jo 16,23). Dessa forma procediam os mártires, quando era excessiva a dor dos tormentos: recorriam a Deus e Deus subministrava-lhes a paciência para suportá-los. O mártir S. Teodato sentiu uma vez, no meio das crueldades a que o sujeitaram, uma dor tão acerba visto o tirano ter mandado intrometer-lhe nas chagas carvões ardentes, que ele suplicou a Jesus que lhe desse força para suportá-los e assim saiu vitorioso, terminando a vida no meio dos tormentos.

Nossa consolação na morte.
1. Não nos atemorizem, pois, todos os combates que temos de travar contra o mundo e contra o inferno; se formos prontos em recorrer a Jesus Cristo, ele nos concederá todos os bens, a paciência em todos os trabalhos, a perseverança e finalmente uma boa morte. Grandes são as amarguras que se sofrem na hora da morte e só Jesus Cristo pode dar-nos a constância e merecimento. Grandes são então especialmente as tentações do inferno, que se esforça de modo particular em arrastar-nos à perdição, vendo-nos próximos de nosso fim. Narra Rinaldo que S. Elzeário suportou as mais horríveis batalhas da parte dos demônios na hora da morte, apesar de ter levado uma vida tão santa. Ele afirma que grandes são as tentações do inferno nessa hora, mas que Jesus Cristo, com os merecimentos de sua paixão, abate as suas forças. Por isso quis S. Francisco que lhe recitassem a história da paixão na hora da morte. S. Carlos Borromeu, vendo-se próximo da morte, mandou colocar ao redor de si várias representações da paixão para entregar sua alma a Deus na contemplação dessas imagens. S. Paulo escreve que Jesus quis padecer a morte “a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e para livrar os que pelo temor da morte se achavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2,14-15). Assim quis Jesus morrer para destruir com sua morte as forças do demônio que tinha até então o império a morte e por esse meio livrar-nos da escravidão de Lúcifer e por conseguinte do temor a morte eterna. Quis submeter-se a todas as condições e paixões da natureza humana (exceto a ignorância, a concupiscência e o pecado) e para que fim? para se tornar misericordioso, isto é, tomando sobre si mesmo as nossas misérias, tivesse mais compaixão conosco, já que muito melhor se conheceu as misérias experimentando-as do que considerando-as, e dessa maneira se sentisse mais pronto a socorrer-nos, quando tentados na vida e especialmente na hora da morte. A isso se refere aquela palavra de S. Agostinho: “Se te perturbares pela iminência da morte, não te julgues um réprobo, nem te entregues ao desespero, pois foi para impedir isso que Cristo ficou perturbado em presença de sua morte” (Lib. Pronost.).
2. O inferno na hora de nossa morte empregará todos os esforços para nos fazer desesperar da misericórdia divina, pondo-nos diante dos olhos todos os pecados da nossa vida. A recordação, porém, da morte de Jesus Cristo nos dará coragem e confiança nos seus merecimentos, para que não temamos a morte. S. Tomás comenta o aludido texto de S. Paulo da seguinte forma: “Cristo por sua morte destruiu o temor da morte: quando o homem considera que o Filho de Deus quis morrer, perde o medo da morte”. Quando consideramos que o Filho de Deus quis sofrer a morte para nos obter o perdão dos pecados, desaparece o temor e vem o desejo de morrer. A morte para os pagãos é motivo de grande pavor, pois para eles, com a morte, acabam-se todos os bens. A morte de Jesus Cristo, porém, nos dá uma firme confiança de que, morrendo na graça de Deus, passaremos da morte à vida eterna. Desta esperança S. Paulo nos dá um argumento seguro, dizendo que o Padre eterno entregou à morte seu próprio Filho por nós todos, a fim de nos enriquecer com todos os bens, porque, dando-nos Jesus Cristo, nos deu o perdão, a perseverança final, o seu amor, a boa morte, a vida eterna e todos os bens.

Nosso advogado.
1. Quando o demônio nos turbar durante a vida ou na hora da morte, apresentando-nos os pecados de nossa mocidade, respondamos-lhes com S. Bernardo: : “O que me falta de minha parte eu me usurpo da misericórdia de meu Senhor” (Serm. 61 in Cant.). Os méritos que me faltam para entrar no paraíso, eu os adquiro dos merecimentos de Jesus Cristo, que quis padecer e morrer justamente para obter-me aquela glória eterna que eu não merecia. S. Paulo escreve: “Deus é que justifica. E quem é que condenará? Jesus Cristo, que morreu, e mesmo ressuscitou, que está à direita de Deus e que também intercede por nós (Rm 8,33-34). Estas palavras são sumamente consoladoras para nós pecadores. Deus é quem perdoa a nós pecadores e nos justifica com sua graça. Ora, se Deus nos faz justos, como poderá nos condenar como réus? Talvez nos condenará Jesus Cristo, “o qual para não nos condenar se entregou a si mesmo por nossos pecados para nos arrumar do presente século perverso?” (Gl 1,4).

2. Ele se sobrecarregou com nossos pecados e entregou-se à morte para nos livrar desse mundo perverso e conduzir-nos com segurança ao seu reino e chega até a fazer o papel de advogado e intercede por nós junto de seu Pai. “O qual também intercede por nós”. S. Tomás, explicando estas palavras, diz que no céu intercede por nós, apresentando a seu Pai as suas chagas suportadas por nosso amor. E S. Gregório não encontra dificuldade em afirmar (o que afinal alguns não concedem) que o Redentor como homem, mesmo depois de sua morte, continua a orar pela Igreja militante que somos nós (In Ps. poen. 5). A mesma coisa declarou já antes dele S. Gregório Nazianzeno: “Intercede, i. é, suplica por nós, interpondo a sua mediação” (Or. 4 de theol.). E S. Agostinho no salmo 29 diz que Jesus ora por nós no céu, para aí nos impetrar alguma nova graça, pois que na sua vida nos obteve o que podia nos impenetrar, mas ora para exigir de seu Pai, por seus merecimentos, a nossa salvação, já alcançada e prometida. E ainda que o Pai tenha conferido ao Filho todo o poder, contudo esse poder ele, como homem, não possui senão em dependência de Deus. A Igreja afinal não costuma pedir a Jesus que interceda por nós, considerando nele o que há de mais sublime, isto é, a sua divindade e por isso suplica-lhe que nos conceda, como Deus, o que nós lhe pedimos.

O consumidor da nossa fé.
1. Mas voltemos à confiança que devemos pôr em Cristo, quando se trata de nossa salvação. S. Agostinho nos anima, dizendo que o Senhor, que nos livrou da morte com derramamento de todo o seu sangue, não quer a nossa perdição e que, se as nossas culpas nos separam de Deus e nos merecem desprezo, nosso Salvador, por seu lado, não pode desprezar o preço de seu sangue, derramado por nós (Serm. 30 de temp.). Sigamos, pois, com confiança o conselho de S. Paulo: “Corramos pela paciência para o combate que nos é proposto, olhando para o autor e consumador da fé, Jesus, que, tendo diante de si o gozo, sustentou a cruz, desprezando a ignomínia” (Hb 12,1-2). Ele diz: Corramos pela paciência para o combate que nos é proposto: pouco nos adiantará o começar se não continuarmos a combater até ao fim. Por isso diz: corramos pela paciência: a paciência no sofrer o trabalho do combate nos obterá vitória e a coroa prometida ao que vencer. Esta paciência será igualmente a couraça que nos defenderá dos golpes do inimigo. Como, porém, obtermos essa paciência? “Olhando para o autor e consumador da fé, Jesus”. S. Agostinho diz que Jesus desprezou todos os bens da terra, para nos ensinar a desprezá-los e não buscar neles a nossa felicidade, e doutro lado quis suportar todos os males terrenos para nos ensinar a não temer as calamidades deste mundo, sujeitando-se ele mesmo às nossas misérias, à pobreza, à fome, à sede, às fraquezas, às ignomínias, às dores e à morte da cruz.(De catec. rud.). Mesmo com sua ressurreição gloriosa quis nos animar a não temermos a morte, pois, se lhe permanecermos fiéis até à morte, depois desta obteremos a vida eterna, que é isenta de todo o mal e cheia de todo o bem. É o que significam as palavras do apóstolo: “O autor e consumador da fé, Jesus”, pois assim como Jesus é para nós o autor da fé, ensinando-nos o que devemos crer e dando-nos ao mesmo tempo a graça de crê-lo,é também o consumador da fé, prometendo-nos que haveremos um dia de gozar daquela vida na qual nos ensina a crer. E a fim de nos certificar do amor que vos dedica esse nosso Salvador e da vontade que tem de nos salvar, S. Paulo acrescenta: “Que tendo diante de si o gozo, sofreu a cruz”. Explicando S. João Crisóstomo esta palavra, diz que Jesus podia salvar-nos levando uma vida de regalo neste mundo, mas ele, para nos certificar melhor do afeto que nos consagra, escolheu uma vida de sofrimentos e uma morte ignominiosa , morrendo pregado a uma cruz como um malfeitor.
2. Apliquemo-nos, pois, ó almas amantes do Crucifixo, no restante de nossa vida, a amar quanto possível esse nosso amável Redentor e a sofrer por ele, já que tanto quis sofrer por nosso amor. E não cessemos de suplicar-lhe que nos conceda o dom de seu santo amor. Bem-aventurados seremos se chegarmos a ter um grande amor por Jesus Cristo. O Ven. Pe. Vicente Caraffa, grande servo de Deus, diz o seguinte em uma carta que mandou a alguns jovens estudiosos e devotos: “Para reformarmos nossa vida inteira, é preciso pôr todo o empenho no exercício do amor de Deus. É só a caridade divina, quando entra em um coração e dele se apodera, que o purifica de todo o amor desordenado e o torna logo obediente e santo. S. Agostinho diz: “Coração puro é o que está vazio de todo o afeto”, e S. Bernardo escreve: “Quem ama, só ama e não deseja mais nada”, querendo dizer que quem ama a Deus, não deseja senão amá-lo e expulsa do coração tudo o que não é Deus. E é assim que o coração vazio se torna cheio, i. é, cheio com Deus, que consigo traz todos os bens e então os bens terrenos não encontram lugar nesse coração e nem o seduzem. Que atrativo poderão ter para nós os prazeres da terra, quando experimentamos as consolações divinas? Qual a força da ambição das honras vãs, o desejo das riquezas terrenas, quando temos a honra de ser amados por Deus e começamos a possuir em parte as riquezas do paraíso? Para conhecer o adiantamento que fizemos no caminho de Deus, basta observarmos o progresso que fizemos no seu amor, se fazemos a miúdo durante o dia atos de amor de Deus, se falamos freqüentemente de seu amor, se procuramos insinuá-lo aos outros, se fazemos nossas devoções só para agradar a Deus, se sofremos com perfeita resignação, por amor de Deus, todas as adversidades, as enfermidades, as dores, a pobreza, os desprezos e as perseguições. Dizem os santos que uma alma que ama verdadeiramente a Deus, deverá amar tanto quanto respira, pois a vida da alma tanto no tempo como na eternidade deve consistir em amar o nosso sumo bem, que é Deus”.

Acesso ao Pai.
1. Persuadamo-nos, porém, de que nunca chegaremos a adquirir um grande amor para com Deus, a não ser por meio de Jesus Cristo, e se não tivermos uma devoção particular para com sua paixão, por meio da qual ele nos alcançou a graça divina. Escreve o Apóstolo: “Porque por meio dele temos acesso junto ao Pai” (Ez 2,18). Se não fosse Jesus Cristo, o caminho das graças estaria fechado para nós pecadores: ele nos abriu a porta, nos introduziu perante o Pai e pelos merecimentos de sua paixão nos obtém dele o perdão de nossos pecados e todas as graças que precisamos. Infelizes de nós, se não tivéssemos Jesus Cristo! E quem poderá louvar e agradecer suficientemente o amor e a bondade que este bom Redentor nos demonstrou, querendo morrer por nós, pobres pecadores, para nos livrar da morte eterna? “É difícil haver quem morra por um justo, ainda que talvez alguém se anime a morrer por um bom” (Rm 5,7). Apenas se encontra quem queira morrer por um homem justo; mas Jesus Cristo quis dar a vida por nós, quando éramos pecadores: “Porque ainda quando éramos pecadores, em seu tempo, Cristo morreu por nós” (Rm 5,8-9). Por isso nos assegura o Apóstolo que, se estivermos resolvidos a amar Jesus Cristo a todo o custo, podemos esperar todo o auxílio e apoio do céu: “Se, quando éramos inimigos de Deus, fomos com ele reconciliados pela morte de seu Filho, muito mais agora, já reconciliados, seremos salvos pela vida deste” (Rm 5,10). Notem os que amam a Jesus que fazem injúria ao amor que nos consagra esse bom Salvador, quando temem que ele lhes negue as graças necessárias para se salvarem e fazerem-se santos. E para que nossos pecados não nos façam perder a confiança, continua S. Paulo: “Não acontece, porém, com o dom o mesmo que com o pecado, porque se pelo pecado de um morreram muitos, ainda mais abundantemente a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, se derramou sobre muitos” (Rm 5,15). Com isso quer significar que o dom da graça, alcançado pelo Redentor por sua paixão nos trouxe maiores bens do que foram os males ocasionados pelo pecado de Adão, já que têm maior valor os merecimentos de Jesus Cristo para obrigar a Deus a nos amar que o pecado de Adão para nos atrair o ódio do mesmo. “Pela graça de Jesus Cristo adquirimos maiores bens do que os que havíamos perdido pela inveja do demônio” (S. Leão Serm. 1 de ascens.).
2. Terminemos. Almas devotas, amemos Jesus Cristo, amemos esse Redentor que muito merece ser amado e muito nos amou, não deixando de fazer coisa alguma para ganhar o nosso amor. Basta saber que, por nosso amor, quis morrer consumido de dores numa cruz e, não contente com isso, deixou-se ficar no Sacramento da Eucaristia, onde em alimento nos dá o mesmo corpo que sacrificou por nós e em bebida o mesmo sangue que por nós derramou em sua paixão. Seríamos muito ingratos, não só ofendendo-o, mas também amando-o pouco e não lhe dedicando todo o nosso amor. Ó meu Jesus, pudesse eu me consumir inteiramente por vós, como o fizestes por mim. Mas, visto tanto me haverdes amado e me obrigado a amar-vos, ajudai-me então a não vos ser ingrato e muito ingrato eu seria se amasse alguma coisa fora de Vós. Vós me amastes sem reserva, também eu quero amar-vos sem reserva. Tudo abandono, renuncio a tudo para dar-me todo a vós e para não ter em meu coração outro amor senão o vosso. Aceitai-me, meu amor, por piedade, sem considerar os desgostos que vos causei no passado. Vede que eu sou uma daquelas ovelhas pelas quais derramastes vosso sangue: “Nós, pois, vos suplicamos que socorrais a vossos servos que remistes com vosso sangue precioso”. Esquecei-vos, meu caro Salvador, das ofensas que vos fiz. Castigai-me como quiserdes, livrai-me unicamente do castigo de não poder vos amar e depois fazei de mim o que vos aprouver. Tirai-me tudo, meu Jesus, mas não me priveis de vós, meu único bem. Fazei-me conhecer o que quereis de mim, que eu com vossa graça quero executar tudo. Fazei que eu me esqueça de tudo, para me recordar só de vós e das penas que sofrestes por mim. Fazei que eu em nada mais pense senão em dar-vos gosto e amar-vos. Por favor, olhai-me com aquele afeto com que me contemplastes no Calvário, ao morrer por mim na cruz, e ouvi-me. Em vós eu ponho todas as minhas esperanças. Meu Jesus, meu Deus, meu tudo. Ó Virgem santa, minha mãe e minha esperança, Maria, recordai-me ao vosso Filho e obtende-me a fidelidade no seu amor até à morte.

17 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

CAPÍTULO X

Da paciência que devemos praticar em união com Jesus Cristo, para alcançar a vida eterna

O mistério da paciência.
1. Falar de paciência e de sofrer é tratar de uma coisa que os amantes do mundo não praticam e nem sequer entendem. Só as almas que amam a Deus e compreendem e põem em prática. S. João da Cruz dizia a Jesus Cristo: “Senhor, eu nada mais vos preço que padecer e ser desprezado por vós”. E S. Teresa exclamava freqüentemente: “Ó meu Jesus, ou sofrer ou morrer”. S. Maria Madalena de Pazzi: “Senhor, sofrer e não sofrer”. Eis como falam os santos extasiados por Deus, e assim falam porque sabem muito bem que uma alma não pode dar uma prova mais segura de seu amor para com Deus do que padecendo voluntariamente para dar-lhe gosto. Esta foi a maior prova que Jesus Cristo nos deu do amor que nos tinha. Ele como Deus nos amou ao criar-nos, enriquecendo-nos com tantos bens, chamando-nos a gozar da mesma glória que ele goza, mas em nenhum outro ponto nos mostrou melhor quanto nos ama do que fazendo-se homem e abraçando uma vida penosa e uma morte cheia de dores e ignomínias por nosso amor. E nós, como demonstraremos nosso amor por Jesus Cristo? Talvez levando uma vida cheia de prazeres e delícias terrenas? Não pensemos que Deus se compraz em nosso sofrimento: ele não é um senhor de índole cruel que se satisfaz vendo gemer e sofrer suas criaturas; pelo contrário, é um Deus de bondade infinita, todo inclinado a ver-nos plenamente contentes e felizes, todo repleto de doçura, afabilidade e compaixão para com os que a ele recorrem. “Porque vós, Senhor, sois suave e brando e cheio de misericórdia para todos os que vos invocam” (Sl 85,5). A condição, porém, de nosso infeliz estado atual de pecadores e a gratidão que devemos ao amor de Jesus Cristo, exigem que nós, por seu amor, renunciemos aos deleites deste mundo e abracemos com ternura a cruz que ele nos destina a levar após si nesta vida, indo ele à frente com uma cruz mais pesada que a nossa e isso para nos levar a gozar, depois da nossa morte, de uma vida feliz que não terá fim. Deus, pois, não se apraz e ver-nos sofrer; sendo, porém, a justiça infinita, não pode deixar impunes as nossas culpas. Por isso, para que essas culpas sejam punidas e não percamos um dia a felicidade eterna, ele quer que, pela paciência, expiemos as culpas e assim mereçamos a felicidade eterna. Não poderia ser mais bela e suave essa determinação da divina Providência, que satisfaz ao mesmo tempo à justiça e nos faz salvos e felizes.
2. Devemos, por conseguinte, pôr toda a nossa esperança nos merecimentos de Jesus Cristo e dele esperar todos os auxílios para viver santamente e nos salvar e não podemos duvidar de seu desejo de nos ver santos: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3). Isso é verdade, mas não devemos nos descuidar de satisfazer de nossa parte pelas injúrias que fizemos a Deus e de conseguir pelas boas obras a vida eterna. É o que o Apóstolo queria significar quando escrevia: “Completo em minha carne o que falta dos sofrimentos de Cristo” (Cl 1,3). Mas então a paixão de Cristo não foi completa e não bastou ela só para nos salvar? Ela foi pleníssima quanto ao seu valor e suficientíssima para salvar todos os homens: entretanto, para que os merecimentos da paixão sejam aplicados a nós, diz S. Tomás, devemos entrar com a nossa parte e sofrer com paciência as cruzes que Deus nos envia para nos assemelhar a Jesus Cristo, nossa cabeça, segundo o que escreve o mesmo Apóstolo aos Romanos: “Pois os que conheceu na sua presciência, também os predestinou para se fazerem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,2 29). Nuca, porém, devemos esquecer, como nota o mesmo Doutor Angélico, que toda virtude que possuem as nossas boas obras, satisfações e penitências, lhes provêm da satisfação de Jesus Cristo. “A satisfação do homem tira sua eficácia da satisfação de Jesus Cristo”. E assim se responde aos protestantes, que dizem serem nossas penitências uma injúria à paixão de Cristo, como se ela não fosse suficiente para satisfazer por nossos culpas.

O reino dos céus sofre violência.
1. Dissemos que, para poder participar dos merecimentos de Jesus Cristo, é preciso que nos esforcemos para cumprir os preceitos de Deus e nos façamos violência para não ceder às tentações do inferno. É o que o Senhor nos dá a entender, quando diz: “O reino dos céus sofre violência e só os violentos o arrebatarão” (Mt 11,12). É preciso que nos violentemos quando se trata da continência, da renúncia aos maus desejos, da mortificação dos sentidos, a fim de não sermos vencidos pelos inimigos. E se nos sentimos réus pelas culpas cometidas, diz S. Ambrósio, devemos então forçar o Senhor pelas lágrimas a nos conceder o perdão (Serm. 5).E o santo ajunta para nosso consolo: Ó feliz violência, que não é punida pela ira de Deus, mas recompensada por sua misericórdia. E todo aquele que nesse sentido fizer mais violência a Jesus Cristo, lhe será mais caro. E conclui: Primeiro devemos reinar em nós mesmos, dominando as nossas paixões para podermos depois arrebatar o reino do Salvador. É, pois, necessário fazer-nos violência, sofrendo as adversidades e perseguições, vencendo as tentações e as paixões, que sem isso nunca serão abatidas. O Senhor nos declara que, para não perdermos nossa alma, devemos estar preparados a sofrer agonias de morte e a mesma morte: ao mesmo tempo, porém, nos diz que ele mesmo combaterá os inimigos daquele que estiver assim preparado: “Toma a defesa da justiça para salvares a tua alma, e peleja até à morte pela justiça, e Deus, pondo-se de tua parte, derrotará os teus inimigos” (Eclo 4,33). S. João viu ante o trono de Deus uma grande multidão de santos, vestidos de branco (pois no céu não entra nenhuma mácula), tendo cada um na sua mão uma palma, distintivo do martírio (Ap 7,9). Mas então todos os santos são mártires? Sim; todos os adultos que se salvam ou hão de ser mártires de sangue ou mártires de paciência, vencendo os assaltos do inferno e os apetites desordenados da carne. Os prazeres carnais enviam inumeráveis almas para o inferno, e por isso é preciso que nos resolvamos a desprezá-los com toda a energia. Persuadamo-nos de que ou a alma calcará aos pés o corpo ou o corpo subjugará a alma.
2. Repito: é preciso fazer esforço para se salvar a alma. Mas esse esforço é justamente o que eu não posso fazer, dirá alguém, se Deus não me auxiliar com sua graça. A este, responde S. Ambrósio: “Se olhares para ti, nada poderás; se confiares no Senhor, ele te dará forças”. Mas para se conseguir isso é necessário sofrer, não há outro remédio. Se quisermos entrar na glória dos bem-aventurados, diz a Escritura, é preciso sofrer primeiro com paciência muitas tribulações (At 14,21). S. João, contemplando a glória dos santos no céu, diz justamente: “Estes são os que vieram de grandes tribulações e levaram suas vestes e as branquearam no sangue do cordeiro” (Ap 7,14). É verdade que esses estava no céu por se haverem lavado no sangue do cordeiro, mas todos aí chegaram depois de terem sofrido grandes tribulações. Ficai certos, escrevia S. Paulo a seus discípulos, de que Deus não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças (1Cor 10,13). Deus é fiel e ele prometeu dar-vos o seu apoio, suficiente para vencer todas as tentações, contanto que nós lho peçamos: “Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis” (Mt 7,7). Logo, não pode faltar à sua promessa. É um erro crasso dos hereges afirmar que Deus manda coisas impossíveis. O concílio de Trento diz: “Deus não impõe coisas impossíveis, mas, quando manda, te admoesta que faças o que podes e peças o que não podes e te auxilia par que possas”. (Sess. 6 c. 11). Escreve S. Efrém que, se os homens não são tão cruéis com seus jumentos, impondo-lhes cargas superiores às suas forças, tanto menos Deus, que muito ama os homens, permitirá que eles sofram tentações às quais não possam resistir (Tract. de patientia).

Cruz de toda parte.
1. Escreve Tomás de Kempis: “A cruz te espera por toda parte e por isso é preciso que tenhas paciência em toda parte, se quiseres viver em paz. Se carregares a cruz com boa vontade, ela te levará a ti ao fim desejado”. Cada qual neste mundo procura a paz e desejaria encontrá-la sem sofrimento; isso, porém, é impossível no estado presente, pois as cruzes nos esperam em todo lugar em que nos acharmos. Como, pois, encontrar a paz no meio dessas cruzes? Pela paciência, abraçando a cruz que se nos apresenta. Diz S. Teresa que todo aquele que arrasta sua cruz com má vontade sente-lhe o peso, por menor que seja; quem, porém, a abraça com boa vontade, não a sente, ainda que seja muito pesada. E Tomás de Kempis ajunta que todo aquele que leva a cruz com resignação, a mesma cruz o conduzirá ao fim desejado, que neste mundo é agradar a Deus e no outro amá-lo eternamente. O mesmo autor continua: “Qual dos santos viveu sem a cruz? Toda a vida de Cristo foi cruz e martírio, e tu buscas o gozo?” Que santo foi admitido no céu sem a insígnia da cruz? Como poderão entrar os santos no céu sem a cruz, se a vida de Jesus Cristo, nossa cabeça e redentor, foi uma cruz contínua e um martírio? Jesus, inocente, santo, filho de Deus, quis padecer durante sua vida inteira e nós andamos atrás de prazeres e consolações? Para dar-nos um exemplo de paciência, quis eleger uma vida cheia de ignomínias e dores internas e externas e nós queremos nos salvar sem sofrer ou sofrendo sem paciência, o que é padecimento duplo, mas sem fruto e com o acréscimo do castigo. Como poderemos pensar em amar a Jesus Cristo, se não queremos padecer por amor dele, que tanto padeceu por nós? Como poderá gloriar-se de ser discípulo do crucificado quem recusa ou recebe de má vontade os frutos da cruz, que são os sofrimentos, os desprezos, a pobreza, as dores, as enfermidades e todas as coisas contrárias ao nosso amor próprio?
2. Não nos esqueçamos, antes sempre nos recordemos, das chagas do crucifixo, porque delas hauriremos a força de sofrer os males desta vida, não só com a paciência, mas até com alegria e satisfação, como o fizeram os santos: “Tirareis águas com alegria das fontes do Salvador” (Is 12,3). S. Boaventura comenta: “Das fontes do Salvador significa das chagas de Jesus Cristo” e exorta-nos a ter os olhos sempre fixos em Jesus moribundo, se quisermos viver sempre unidos com Deus. A devoção consiste, segundo S. Tomás, em estarmos prontos a executar tudo o que Deus exige de nós.

Cristo, nosso modelo.
1. Eis a bela instrução a que nos dá S. Paulo para vivermos sempre unidos a Deus e suportarmos com paciência as tribulações desta vida: “Recordai-vos daquele que dos pecadores suportou contra si uma tal contradição, para que não vos fatigueis desfalecendo em vossos ânimos” (Hb 12,3). Ele diz: Recordai-vos. Para sofrer com resignação e paz as penas da vida, não basta pensar de passagem, poucas vezes no ano, a paixão de Jesus Cristo; é preciso pensar a miúdo e mesmo todos os dias recordar-se das penas que Jesus suportou por nosso amor. E que penas foram essas? O Apóstolo diz: sofreu tal contradição. Tal foi a contradição que Jesus sofreu de seus inimigos que dele fizeram o homem mais vil, o homem das dores, segundo a predição do profeta: O último dos homens, o homem das dores, deixando-o morrer de pura dor e saciado de opróbrios em um patíbulo destinado aos mais celerados. E por que quis Jesus abraçar esse acervo de dores e vitupérios? Para que não vos fatigueis desfalecendo em vossos ânimos, isto é, para que nós, vendo quanto um Deus quis padecer para dar o exemplo da paciência, não esmoreçamos, mas tudo soframos para nos libertarmos dos pecados.
2. O Apóstolo continua a nos animar, dizendo: “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado” (Hb 12,4). Reflete que Cristo derramou por vós todo o seu sangue na sua paixão, à força dos tormentos, e que os santos mártires, a exemplo de seu rei, sofreram com intrepidez as lâminas de fogo, as unhas de ferro que lhes despedaçavam até as vísceras. Nós, porém, ainda não derramamos nem sequer uma gota de sangue por Jesus Cristo, quando deveríamos estar prontos a sacrificar a própria vida para não ofendermos a Deus, como afirma S. Raimundo: Prefiro precipitar-me numa fogueira a cometer um pecado contra o meu Deus, ou, como dizia S. Anselmo, Arcebispo de Cantuária: Se eu tivesse de suportar todas as dores corporais do inferno ou cometer um pecado, escolheria antes o inferno que cometer o tal pecado.
Continua...

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16 de abril de 2024

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A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

§ 2. Jesus Cristo nos dá a esperança da perseverança final

Poder de Deus na fraqueza humana.
1. Para alcançar a perseverança no bem não devemos confiar nos nossos propósitos e promessas feitas a Deus; se confiarmos nas nossas forças, estamos perdidos. Devemos pôr nos merecimentos de Jesus Cristo toda a nossa esperança de nos conservar na graça de Deus. Confiando no seu auxílio, perseveraremos até à morte, ainda que sejamos combatidos por todos os inimigos da terra e do inferno. Todas as vezes que nos acharmos com ânimo abatido e assaltados pelas tentações, parecendo-nos que estamos quase perdidos, não percamos então a coragem nem nos entreguemos ao desespero: recorramos ao crucifixo e ele nos sustentará para que não caiamos. O Senhor permite que mesmo os santos encontrem muitas vezes tais tempestades e temores. S. Paulo escreve que as aflições e os temores que ele experimentou na Ásia foram tão grandes que lhe fizeram sentir tédio pela vida: “Fomos excessivamente oprimidos acima de nossas forças, a ponto de tomarmos aborrecimento à própria vida” (2Cor 1,8). Com isso o Apóstolo deu a conhecer o que ele era segundo suas próprias forças, a fim de nos ensinar que Deus às vezes nos deixa na desolação para que conheçamos a nossa miséria e desconfiemos de nós mesmos, recorrendo com humildade à sua piedade e suplicando-lhe a força de não cair: “Para que não confiemos em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos” (2Cor 1,9).
2. E em outro lugar fala o Apóstolo ainda mais claro: “Somos cercados de dificuldades insuperáveis e a nenhuma sucumbimos... somos abatidos, mas nem por isso perecemos” (2Cor 4,8-9). Vemo-nos oprimidos pela tristeza e pelas paixões, mas não nos abandonamos ao desespero; somos como que lançados num lago, mas não submergimos, porque o Senhor com a sua graça nos dá força para resistir aos inimigos”. O apóstolo nos adverte a ter sempre diante dos olhos que somos frágeis e facilmente perdemos o tesouro da graça divina e que, se a podemos conservar, isso não provém de nós, mas de Deus: “Temos, porém, esse tesouro em vasos frágeis, para que a sublimidade seja virtude de Deus e não de nós” (2Cor 4,7).

A armadura do cristão.
1. Fiquemos, pois, firmemente persuadidos que nesta vida devemos nos abster sempre de colocar nossa confiança em nossas obras. A nossa arma mais forte, com a qual sairemos sempre vitoriosos nos assaltos do inferno, é a santa oração. Esta é a armadura de Deus, da qual diz S. Paulo: “Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às insídias do demônio” (Ef 6,11). Pois não é contra os homens de carne, mas contra os príncipes e o poder do inferno, que temos de combater: “Porque a nossa maior luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os príncipes e as potestades” (Ef 6,12). “Por isso ficai firmes, tendo os vossos rins cingidos da verdade e vestindo a couraça da justiça, calçando os pés em preparação para o evangelho da paz, sobretudo, embraçando o escudo da fé com o qual possais extinguir todos os dardos ígneos do maligníssimo; tomai também o capacete da salvação e o gládio do espírito, que é a palavra de Deus, orando em todo tempo com toda a sorte de deprecações e súplicas” (Ef 6,14-18). Detenhamo-nos um pouco para bem compreender as sobreditas palavras: Tende os vossos rins cingidos da verdade. O apóstolo alude ao cinturão militar com que os soldados se cingiam em sinal de fidelidade que juravam ao soberano. O cinturão com que se deve cingir o cristão há de ser a verdade da doutrina de Jesus Cristo, segundo a qual devem reprimir todos os movimentos desordenados e em especial os impuros, que são os mais perigosos. Revestindo a couraça da justiça. A couraça do cristão deve ser a boa vida, sem o que terá pouca força para resistir aos insultos dos inimigos. Tendo os pés calçados em preparação para o Evangelho da paz. Os sapatos militares, que o cristão deve usar, a fim de caminhar expeditamente para onde deve, em oposição ao que anda descalço e que só caminha lentamente, hão de ser o ânimo aparelhado para abraçar praticamente e insinuar aos outros com o exemplo das máximas santas do Evangelho. Embraçando o escudo da fé com o qual possais extinguir todos os dardos ígneos do maligníssimo. O escudo, pois, com que há de defender-se o soldado de Cristo contra os dardos ígneos (isto é, penetrantes como fogo) do inimigo, há de ser a fé constante, fortalecida. Tomai também o capacete da salvação e o gládio do espírito que é palavra de Deus. O capacete, como entende S. Anselmo, deve ser a esperança da salvação eterna, e finalmente a espada do espírito, isto é, a nossa espada espiritual, deve ser a palavra de Deus, pela qual ele promete repetidas vezes atender — ao que o suplica: “Pedi e vos será dado” (Mt 7,7). “Todo aquele que pedir, receberá” (Jo 11,10). “Invocai-me e eu vos atenderei” (Jo 33,3). “Invoca-me e eu te livrarei” (Sl 49,15).
2. E o Apóstolo conclui: “Orando em todo tempo com toda sorte de deprecações e súplicas pelo Espírito, e velando nisto com toda a perseverança a rogar por todos os santos” (Ef 6,18). A oração é, portanto, a arma mais forte, por meio da qual o Senhor nos dá a vitória contra as más paixões e tentações do inferno. Esta oração deve, porém, ser feita em espírito, não só com a boca, mas também com o coração. Além disso, deve ser contínua em todo tempo de nossa vida: “orando em todo tempo”, assim como são contínuas as batalhas, deve ser também contínua a nossa oração. Com toda sorte de deprecações e súplicas: se a tentação não desaparece com a primeira súplica, é preciso repeti-la uma segunda, terceira ou quarta vez e se, apesar disso, a tentação não cede, é necessário ajuntar os gemidos as lágrimas, a importunação, a veemência, como se quiséssemos forçar a Deus a conceder-nos a graça da vitória. Isto significam as palavras com toda a instância e solicitação. Acrescenta o Apóstolo: “Por todos os santos”, que significa que devemos rogar não só por nós, mas pela perseverança de todos os fiéis que estão na graça de Deus e em especial dos sacerdotes que trabalham pela conversão dos infiéis e de todos os pecadores, repetindo nas orações a súplica de Zacarias: “Iluminai aos que estão assentados nas trevas e na sombra da morte” (Lc 1,79).

Quem pouco semeia pouco colherá.
1. Nos combates espirituais nos auxilia na resistência aos inimigos o preveni-los nas nossas meditações, preparando-nos a fazer toda a violência possível nesses casos que podem nos surpreender de improviso. Disso provinha que os santos podiam responder com tão grande mansidão ou mesmo calar-se e não se perturbar quando recebiam injúrias gravíssimas, ou eram perseguidos, ou tinham de suportar atrozes dores de corpo ou de alma, ou a perda de grandes bens, ou a morte de um parente mui querido. Tais vitórias não se obtêm ordinariamente sem o auxílio de uma vida muito correta, sem a freqüência dos sacramentos e sem um exercício contínuo da meditação, leitura espiritual e orações. Por isso estas vitórias dificilmente são alcançadas por aqueles que não são muito cautelosos em fugir das ocasiões perigosas ou vivem apegados à vontade ou aos prazeres do mundo e pouco praticam a mortificação dos sentidos; por aqueles, enfim, que levam uma vida mole. S. Agostinho escreve que na vida espiritual “primeiro se devem vencer as satisfações e depois as dores” (Serm. 135). Quer ele dizer que todo aquele que está acostumado a procurar os prazeres sensuais, dificilmente resistirá a uma grande paixão ou veemente tentação que o assalte; quem muito preza a estima do mundo, dificilmente sofrerá uma afronta grave sem perder a graça de Deus. É verdade que da graça de Jesus Cristo e não de nós mesmos é que devemos esperar toda a força para viver sem pecado e fazer boas obras e por isso devemos empregar todo o cuidado de não nos tornarmos mais fracos do que já somos por nossa própria culpa. Certos defeitos, dos quais não fazemos conta, são a causa de nos faltar a luz divina e de o demônio ter mais poder sobre nós, por exemplo, o desejo de aparecer sábio ou nobre perante o mundo, a vaidade no
trajar, a busca de certas comodidades supérfluas, o ressentimento por uma palavra ou ato de pouca atenção, a aspiração de agradar a todos, com prejuízo do proveito espiritual, a omissão das obras de piedade pelo respeito humano, pequenas desobediências aos superiores, pequenas murmurações, pequenas aversões conservadas no coração, leves mentiras, ligeiras zombarias do próximo, perda de tempo em palestras ou curiosidades inúteis, em suma todo o apego às coisas terrenas e todo ato de amor próprio desordenado pode servir ao inimigo para precipitar-nos em qualquer abismo ou pelo menos qualquer defeito deliberadamente querido nos privará da abundância do socorro divino, sem o qual cairemos em qualquer precipício. Nós lastimamos sentir-nos tão áridos e lânguidos nas orações, nas comunhões e em todos os exercícios de piedade, mas como Deus há de fazer que gozemos de sua presença e de suas visitas amorosas, se nós somos tão escassos e desatenciosos com ele? “Quem semeia com parcimônia, também colherá escassamente” (2Cor 9,6). 2. Se nós lhe causamos tantos desgostos, coo havemos de querer recolher suas celestes consolações? Se não nos desprendermos em tudo da terra, não seremos mais por inteiro de Cristo e quem sabe onde chegaremos a parar. Jesus com sua humildade nos mereceu a graça de vencer a soberba; com sua pobreza, a força de desprezar os bens terrenos; com sua paciência, a constância para vencer os desprezos e as injúrias. Assim pergunta S. Agostinho: “Que coisa poderá curar a soberba, se não for a humildade do Filho de Deus? Que coisa, a avareza, se não a pobreza de Cristo? que coisa, a ira, se não a paciência do Salvador”. Se nós, porém, esfriamos no amor de Jesus Cristo e descuidamos de suplicar-lhe que nos socorra e até nutrimos no coração qualquer afeto terreno, dificilmente perseveraremos na boa vida. Rezemos, rezemos sempre: com a oração alcançaremos tudo. Ó Salvador do mundo, ó minha única esperança, pelos merecimentos da vossa paixão, livrai-me de todo afeto impuro que possa ser obstáculo ao amor que vos devo. Fazei que eu viva despido de todos os desejos mundanos, fazei que o único objeto de meus desejos sejais vós só, a que sois o sumo bem e o único bem digno de ser amado. Por vossas sacrossantas chagas, curai as minhas enfermidades e dai-me a graça de conservar longe de meu coração todo amor que não é para vós, que mereceis todo o meu amor. Jesus, meu amor, vós sois a minha esperança. Ó doces palavras, ó doce conforto! Jesus, meu amor, vós sois a minha esperança.

§ 3. Da esperança que temos de chegar um dia, por Jesus Cristo, à felicidade do paraíso

Co-herdeiros de Cristo.
1. “E por isso é mediador do Novo Testamento, a fim de que, intervindo a morte... os que foram chamados receberam a herança eterna da promessa” (Hb 9,15). Aqui fala S. Paulo do Novo Testamento, não como de um pacto, mas como de uma promessa, isto é, a disposição da sua última vontade, pela qual Jesus Cristo nos constituiu herdeiros do reino dos céus, e porque o testamento não é válido senão depois da morte do testador, foi necessário que Jesus Cristo morresse, para que pudéssemos como seus herdeiros entrar na posse do paraíso. Pelos méritos de Jesus Cristo, nosso mediador, recebemos no batismo a graça de ser Filhos de Deus, enquanto que os hebreus, no Antigo Testamento, apesar de serem o povo eleito, não deixaram de ser escravos. “Estes são os dois testamentos, um certamente do monte Sinais, que gera para a servidão” (Gl 4,24). No monte Sinai fez-se, por intermédio de Moisés, a primeira mediação, quando Deus, por meio dele, prometeu a abundância de bens temporais se observassem a lei que lhes dera. Esta mediação, porém, diz S. Paulo, não gerava senão servos, em oposição à de Jesus Cristo, que gera filhos: “Nós, porém, irmãos, somos filhos da promissão segundo Isaac” (Gl 4,28). Se, pois, nós, cristãos, somos filhos de Deus, diz o mesmo apóstolo, somos também herdeiros: a todos os filhos cabe parte da herança paterna, a qual no nosso caso é a glória eterna no paraíso, que Jesus Cristo nos mereceu com sua morte: “Se filhos, também herdeiros; herdeiros de fato de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8,17).
2. Acrescenta, entretanto, S. Paulo, no mesmo lugar: “Mas isto se padecermos com ele, para também com ele sermos glorificados” (Rm 8,17). É certo que nós, pela filiação divina, obtida por Jesus com sua
morte, adquirimos direito ao paraíso: isso só se entende, porém, se formos fiéis na prática de boas obras e particularmente se, pela paciência, correspondermos à graça divina. Pelo que, diz o Apóstolo, para obtermos a glória eterna como Jesus a alcançou, devemos na terra padecer a exemplo do mesmo Jesus Cristo. Ele vai na frente com a cruz, como um capitão; à sombra dessa bandeira, devemos segui-lo, cada um levando sua cruz, como nos admoesta o mesmo Senhor, dizendo: “Quem quiser vir após mim abnegue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). S. Paulo então anima-nos a sofrer com coragem, alentados pela esperança do paraíso, recordando-nos que a glória que nos será dada na outra vida será imensamente maior que o merecimento de todos os nossos sofrimentos, suportados de boa vontade em cumprimento da vontade de Deus. “Julgo, porém, que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que se manifestará em nós” (Rm 8,18). Que pobre seria tão tolo que recusasse dar todos os seus andrajos em troca de um grande reino? Não possuímos presentemente essa glória porque não estamos ainda salvos, visto não termos ainda terminado a vida na graça de Deus; mas a esperança nos merecimentos de Jesus Cristo, diz S. Paulo, é que nos trará a salvação: “Pela esperança é que fomos salvos” (Rm 8,24). Ele não deixará de nos conceder todo o auxílio de que necessitamos para nos salvar, se lhe formos fiéis e perseverantes em suplicar-lhe, segundo a promessa do mesmo Jesus Cristo, de atender todo aquele que o suplicar: “Todo o que pedir, receberá” (Jo 11,10). Mas, dirá alguém: eu não duvido que Deus se negue a ouvir-me quando suplicar-lhe, mas receio que eu não o faça como devo. Não, diz S. Paulo, não há motivo para esse receio, porque, quando rezamos, Deus mesmo ajuda a nossa insuficiência e nos faz suplicar de maneira que sejamos atendidos: “O Espírito ajuda a nossa fraqueza e pede por nós” (Rm 8,26). Pede, isto é, faz-nos pedir, explica S. Agostinho.

Semelhantes à imagem do Filho.
1. Para nos aumentar a confiança, o Apóstolo ajunta: “Nós sabemos que, para os que amam a Deus, tudo concorre para o bem” (Rm 8,28). Quer com isso dar-nos a entender que não são desgraças as infâmias, as doenças, a pobreza, as perseguições, como julgam os homens, pois Deus as converterá em bens e glória dos que as suportarem com paciência. E o Apóstolo conclui: “Pois os que conheceu na sua presciência também os predestinou para se fazerem conformes à imagem de seu filho” (Rm 8,29). Com estas palavras quer persuadir-nos de que, se quisermos a salvação, devemos nos resolver a sofrer todas as coisas para não perdermos a graça divina, já que ninguém poderá ser admitido à glória dos bem-aventurados sem que, no dia de seu juízo, sua vida tenha sido encontrada conforme a de Jesus Cristo. Mas, para que os pecadores por esse motivo não se entreguem ao desespero, em vista das culpas cometidas, S. Paulo os anima a esperar o perdão, afirmando que o Padre eterno não quis por esse fim perdoar a seu próprio Filho, que se oferecera para satisfazer por nossos pecados, e o entregou à morte para poder perdoar-nos a nós, pecadores: “O qual não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por nós” (Rm 8,39). E para que seja ainda maior a esperança do perdão dos pecadores arrependidos, acrescenta: “E quem será que nos condenará? Cristo, que morreu por nós”. Como se dissesse: Pecadores, que detestais os pecados cometidos, por que tomeis ser condenados ao inferno? Dizei-me qual será o juiz que vos há de condenar? não é Jesus Cristo? E como podeis temer que vos condene à morte eterna esse redentor amoroso, que para vos não condenar quis condenar-se a si mesmo a morrer pregado no infame patíbulo da cruz? Isso muito bem se entende daqueles pecadores que, contritos, lavaram suas almas no sangue do cordeiro, segundo S. João: “Estes são os que lavaram suas vestes e as embranqueceram no sangue do cordeiro” (Ap 7,14).
2. Ó meu Jesus, se eu olho para os meus pecados, envergonho-me de pedir-vos o céu, depois de o ter tantas vezes renunciado por gozos efêmeros e miseráveis: vendo-vos, porém, pregado nessa cruz, não posso deixar de esperar o paraíso, sabendo que quisestes morrer nesse madeiro para pagar por seus pecados e alcançar-me esse céu que eu desprezei. Ah, meu doce Redentor, eu espero pelos merecimentos de vossa morte que já me tenhais perdoado as ofensas que vos fiz e das quais já me arrependi e por cuja causa desejaria morrer de dor. Mas, ó meu Jesus, penso que, apesar de me haverdes
perdoado, permanecerá sempre verdade que eu na minha ingratidão tive a coragem de causar-vos tão graves desgostos, a vós que tantos me haveis amado. O que está feito, porém, está feito; pelo menos, Senhor, eu quero, no tempo que me resta de vida, amar-vos com todas as minhas forças, quero viver só para vós, quero ser todo vosso, todo, todo. E isso haveis de realizar. Desprendei-me de todas as coisas da terra e dai-me luz e força para não buscar outra coisa senão vós, meu único bem, meu amor, meu tudo. Ó Maria, esperança dos pecadores, ajudar-me-eis com vossas súplicas. Rogai, rogai, por mim e não deixeis de orar enquanto não me virdes todo de Deus.

15 de abril de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

§ 1. De Jesus Cristo devemos esperar o perdão de nossos pecados

Propiciação por nossos pecados.
1. Falando primeiramente da remissão dos pecados, devemos saber que nosso Redentor, vindo à terra, teve por fim o perdão de nossos pecados. “O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido” (Mt 18,11). João Batista, mostrando aos judeus o Messias já vindo, disse-lhes: “Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira os pecados do mundo” (Jo 1,29). Segundo o texto grego lê-se: Eis aquele cordeiro, como se S. João dissesse: Eis aquele cordeiro divino predito por Isaías: “E como um cordeiro que fica mudo diante do que o tosquia” (Is 53,7) e por Jeremias: “Eu sou como um manso cordeiro que é levado para o sacrifício” (Jr 11,19). Já antes, era figurado pelo cordeiro pascal de Moisés e pelo sacrifício em que era, conforme a lei, todas as manhãs imolado um cordeiro, e por diversos outros que eram oferecidos à tarde pelos pecados. Todos esses cordeiros, porém, não podiam abolir um único pecado, só serviam para representar o sacrifício daquele cordeiro divino Jesus Cristo, que com seu sangue deveria lavar as nossas almas e livrá-las da mancha da culpa como da pena eterna por ela merecida — o que exprime a palavra tollit — tomando sobre si a obrigação de satisfazer à divina justiça por nós, com sua morte, segundo o testemunho de Isaías: “Deus carregou sobre ele as iniqüidades de todos nós” (Is 53,6). Em confirmação, diz S. Cirilo: “um é trucidado por todos, para ganhar para Deus Padre todo o gênero humano”. Jesus quis deixar-se matar para ganhar para Deus todos os homens que se haviam perdido. Quão grande é a nossa obrigação para com Jesus Cristo. Se de um réu já condenado à morte, enquanto se dirige para a forca e com o laço já no pescoço, lhe tirasse um amigo o laço e o aplicasse a si mesmo, morrendo nesse suplício para livrar o réu, quanta obrigação não teria este de amá-lo e lhe ser reconhecido? Isso foi justamente o que fez Jesus; quis morrer na cruz para nos livrar da morte eterna.
2. “Foi ele que levou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por cujas chagas fostes curados” (1Pd 2,24). Jesus, pois, se sobrecarregou de todos os nossos pecados e os levou sobre a cruz, para com a morte pagar nossa culpa e obter-nos o perdão e assim restituir-nos a vida perdida. Que maior maravilha poderá haver que uma chagas curem as chagas de outros e a morte de um restitua a vida a todos os homens que estavam mortos! exclama S. Boaventura (Stim. p.1 c. 1). S. Paulo escreve que Jesus Cristo nos tornou agradáveis e amáveis aos olhos de Deus, de pecadores odiados e abomináveis que éramos, pelos méritos de seu sangue nos remitiu os pecados e nos concedeu com superabundância as riquezas de sua graça: “Tornou-nos agradáveis em seu Filho amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados segundo as riquezas de sua graça, a qual superabundou em nós” (Ef 1,6-8). E isso se deu pelo pacto de Jesus com seu eterno Pai de nos perdoar as culpas e nos readmitir na sua amizade em vista da paixão e morte de seu Filho.

Mediador do Novo Testamento.
1. Foi nesse sentido que o Apóstolo chamou Jesus Cristo mediador do Novo Testamento. Nas Sagradas Escrituras a expressão testamento se toma em dois sentidos: por pacto ou acordo feito entre duas partes que estão em discórdia e por promessa ou disposição da última vontade, pela qual o testador deixa sua herança aos herdeiros: esta disposição não se torna, porém, firme senão com a morte do testador. Do testamento como promessa se fala no § III; aqui falamos do testamento como pacto e neste sentido falou o apóstolo de Jesus Cristo: “E por isso é o mediador do Novo Testamento” (Hb 9,15). O homem por motivos do pecado era devedor à justiça divina e inimigo de Deus. Vem à terra o Filho de Deus e assume carne humana e então, sendo ele ao mesmo tempo Deus e homem, fez-se o mediador entre o homem e Deus, participando de um e de outro, e, a fim de estabelecer a paz entre ambos e obter para o homem a graça de Deus, ofereceu-se para pagar com seu sangue e com sua morte a dívida do homem. Ora, esta reconciliação já foi figurada no Antigo Testamento por todos os sacrifícios que então se ofereciam e por todos os símbolos ordenados por Deus, como o tabernáculo, o altar, o véu, o candelabro, o turíbulo e a arca na qual se guardavam a vara e as tábuas da lei: Todos esses objetos eram sinais e figuras da redenção prometida, e porque essa redenção devia ser efetivada pelo sangue de Jesus, por isso Deus ordenou que os sacrifícios se fizessem com a efusão de sangue dos animais (que era a figura do sangue daquele cordeiro divino) e que todos esses símbolos mencionados fossem aspergidos com sangue. “Por isso é que nem mesmo o primeiro (testamento) foi consagrado sem sangue” (Hb 9,18).
2. Segundo S. Paulo, o primeiro testamento, isto é, a primeira aliança, pacto ou mediação que se fez na lei antiga e que figurava a mediação de Jesus na nova lei, celebrou-se com o sangue dos touros e bodes, sendo aspergidos com esse sangue o livro, o povo, o tabernáculo e todos os vasos sagrados: “Lido que foi todo o mandamento da lei a todo o povo, Moisés, tomando sangue dos bezerros e dos bodes com água e lã tinta de escarlate (a lã tinta de escarlate significava igualmente Jesus Cristo; assim como a lã por sua natureza é branca e torna-se vermelha sendo tingida de escarlate, também Jesus, o cândido por sua inocência e natureza, aparece na cruz vermelho de sangue, justiçado como malfeitor, cumprindo-se nele a palavra da esposa dos Cânticos: “O meu amado é cândido e vermelho” (Ct 5,10); e hissopo (o hissopo, planta humilde, significa a humildade de Jesus Cristo) aspergiu todo o povo e também o mesmo livro, dizendo: “Este é o sangue do testamento que Deus ordenou para vós. Aspergiu igualmente o tabernáculo e todos os vasos do culto com o sangue. E segundo a lei, quase tudo se purifica com o sangue e sem efusão de sangue não há remissão” (Hb 9,19-22). Quis o Apóstolo repetir mais vezes a palavra sangue, para que os judeus e todos os povos entendessem que sem o sangue de Jesus não há esperança de perdão para as nossas culpas. Assim, pois, como na antiga lei, pelo sangue das vítimas, se destruía a mancha externa dos pecados que os judeus cometiam contra a lei e lhes era perdoada a pena temporal imposta pela mesma lei, da mesma forma o sangue de Jesus Cristo na nova lei nos lava da mancha interna das culpas, segundo a palavra de S. João: “Ele nos amou e nos lavou no seu sangue” (Ap 1,5) e nos livra da pena eterna do inferno.

Nosso sumo sacerdote.
1. Eis a esse respeito a doutrina de S. Paulo: “Porém Cristo, vindo como pontífice dos bens futuros por um mais vasto e perfeito tabernáculo, não feito por mão de homem, isto é, não desta criação, nem como o sangue dos bodes ou de novilhos, mas com o próprio sangue, entrou no santuário uma vez, obtendo uma redenção eterna” (Hb 9,11 e 12). O pontífice entrava pelo tabernáculo no Santo dos santos e com a aspersão do sangue dos animais purificava os delinqüentes da mancha externa contraída e da pena temporal. Para a remissão da culpa e para a libertação da pena eterna os hebreus tinham necessidade absoluta da contrição com fé e esperança no Messias vindouro, que deveria dar a vida para obter-lhes o perdão. Jesus Cristo, ao contrário, por meio de seu corpo (e este é o tabernáculo mais amplo e mais perfeito indicado pelo apóstolo) sacrificado sobre a cruz, entrou no Santo dos santos do céu, que nos estava fechado, e no-lo abriu por meio da redenção. Por isso S. Paulo, para nos animar a esperar o perdão de todas as nossas culpas, confiando no sangue de Jesus, continua: “Pois se o sangue dos bodes e dos touros e a aspersão da cinza da novilha santifica os maculados, para a purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito Santo se ofereceu a si mesmo, sem mácula, a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas para servir ao Deus vivo” (Hb 9,13 e 14). Diz quanto mais o sangue de Cristo que pelo Espírito Santo se ofereceu a si mesmo sem mácula, a Deus, porque Jesus se ofereceu a si mesmo a Deus, imaculado, sem sombra de culpa; doutra forma não teria sido digno mediador, apto a reconciliar o homem pecador com Deus, nem o seu sangue teria tido a virtude de purificar a nossa consciência das obras mortas, a saber, dos pecados, obras mortas sem merecimento e obras de morte dignas das penas eternas; para servir ao Deus vivo: o fim por que Deus nos perdoa é unicamente para que empreguemos a vida que nos resta em servi-lo. E o Apóstolo conclui: “E por isso é o mediador do Novo Testamento” (Hb 9,15). Quis o nosso Redentor, pelo amor imenso que nos tinha, resgatar-nos da morte eterna com o preço de seu sangue e assim obter-nos de Deus o perdão, a graça e a felicidade eterna se formos fiéis em servi-lo até à morte. Foi essa a mediação ou o contrato feito entre Jesus Cristo e Deus, em vigor do qual nos foi prometido o perdão e a salvação.
2. Esta promessa do perdão de nossos pecados pelos merecimentos do sangue de Jesus Cristo foi confirmada pelo próprio Jesus no dia anterior à sua morte, ao insistir o sacramento da eucaristia: “Este é, pois, o meu sangue do Novo Testamento que será derramado por muitos em remissão dos pecados” (Mt 26,28). Disse: será derramado, pois estava próximo o sacrifício no qual devia derramar não uma parte, mas todo o seu sangue, para satisfazer por nossos pecados e obter-nos o perdão. Quis por isso que este sacrifício fosse renovado todos os dias em cada missa que se celebra, a fim de que seu sangue intercedesse continuamente em nosso favor. Foi essa a razão por que Jesus Cristo foi chamado sacerdote segundo a ordem de Melquisedec: “Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec” (Sl 109,4). Aarão ofereceu sacrifícios de animais: o sacrifício de Melquisedec foi de pão e de vinho, figura do Sacrifício do Altar, no qual vosso Salvador, debaixo das espécies de pão e de vinho, ofereceu a Deus na última ceia seu corpo e seu sangue, que devia sacrificar no dia seguinte na sua paixão e que continua a oferecer todos os dias pelas mãos dos sacerdotes, renovando dessa forma o sacrifício da cruz. S. Paulo explica por que Davi chamou Jesus Cristo sacerdote eterno: “Este, porém, como permanece eternamente, possui um sacerdócio sempiterno” (Hb 9,24). O sacerdócio antigo desaparecia com a morte dos sacerdotes, mas Jesus, porque é eterno, possui um sacerdócio também eterno. Como é que no céu continua ele a exercer esse seu sacerdócio? S. Paulo diz: “Por isso pode perpetuamente salvar os que por ele mesmo se chegam a Deus estando sempre vivo para interceder por nós” (Hb 7,25). O grande Sacrifício da Cruz, representado naquele altar, tem a virtude de salvar para sempre todos aqueles que, por meio de Jesus Cristo (se bem dispostos pela fé e boas obras) se chegam a Deus. Este sacrifício, segundo S. Ambrósio e S. Agostinho, Jesus como homem continua a oferecer a seu Pai em nosso favor, desempenhando ainda agora, como quando na terra, o ofício de nosso advogado e mediador e também de sacerdote, que consiste em rogar por nós, como exprimem as palavras: “Sempre vivo para interceder por nós”.

Nosso advogado.
1. São João Crisóstomo diz que as chagas de Jesus são outras tantas bocas que imploram continuamente a Deus o perdão das culpas para nós pecadores. O sangue de Jesus Cristo suplica por nós e obtém-nos a misericórdia divina, muito melhor do que implorava o sangue de Abel a vingança contra Caim. “Vós chegastes ao mediador do Novo Testamento, Jesus, e à aspersão do sangue que fala melhor do que o de Abel” (Hb 12,24). Nas revelações feitas a S. Maria Madalena de Pazzi, Nosso Senhor disse-lhe um dia: “A minha justiça foi transformada em clemência com a vingança tomada sobre as carnes inocentes de meu Filho. O sangue desse meu Filho não pede vingança como o sangue de Abel, mas somente misericórdia, e minha justiça não pode deixar de se aplacar com essa voz. Esse sangue me liga as mãos de modo que se não podem mover para tirar a vingança que antes tiravam dos pecados”. Escreve S. Agostinho que Deus nos prometeu a remissão dos pecados e a vida eterna; mas é mais o que ele fez por nós do que o que ele nos prometeu (Ender. in ps. 148). Dar-nos o perdão e o paraíso nada custou a Jesus Cristo; o remir-nos, porém, custou-lhe o sangue e a vida. O apóstolo S. João nos exorta a fugir do pecado, mas para que não desconfiemos do perdão das culpas cometidas, tendo firme resolução de as não repetir, nos encoraja, afirmando que temos de nos haver com Jesus, que não só morreu para nos perdoar, mas, depois de sua morte, se fez nosso advogado junto de seu divino Pai: “Meus filhinhos, eu vos escrevo estas coisas para que não pequeis; mas mesmo se alguém pecar temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo, o justo” (1Jo 2,1). Aos nossos pecados cabe por justiça a desgraça de Deus e a condenação eterna, mas a paixão do Salvador exige em nosso favor a desgraça divina e a salvação eterna e isso por justiça já que o eterno Padre, em vista de seus merecimentos, prometeu-lhe perdoar-nos e salvar-nos, caso estejamos dispostos para receber a sua divina graça e queiramos obedecer a seus preceitos, como escreve S. Paulo: “Tendo consumado, fez-se para todos os que lhe obedecem a causa da salvação eterna” (Hb 5,9). E assim Jesus Cristo, morrendo consumido de dores, obteve a salvação eterna para todos os que observam a sua lei. Somos por isso admoestados pelo apóstolo: “Corramos pela paciência para o combate que nos é proposto, olhando para o autor e consumador da fé, Jesus, que, tendo diante de si o gozo, escolheu a cruz, desprezando a ignomínia” (Hb 12,1 e 2). Vamos ou antes corramos com grande coragem, armados de paciência, a combater com os inimigos de nossa salvação, tendo sempre os olhos fixos em Jesus crucificado, que, renunciando a uma vida de gozo na terra, quis escolher uma vida de sofrimentos e uma morte cheia de dores e opróbrios e assim realizar a nossa redenção.
2. Ó sangue precioso, tu és a minha esperança. Sangue do inocente, lava as manchas do penitente. Ó meu Jesus, meus inimigos, depois de me arrastarem a vos ofender, dizem-me que não posso encontrar mais em vós a minha salvação: “Muitos dizem à minha alma: Não há mais salvação para ele no seu Deus” (Sl 3,3). Mas eu, confiado no sangue que derramastes por mim, vos direi com Davi: “Vós, porém, Senhor, sois o meu protetor” (Sl 3,4). Os inimigos me aterram dizendo que depois de tantos pecados, se eu recorrer a vós, serei por vós repelido; eu, porém, leio em S. João a vossa promessa que não repelireis ninguém que a vós se acolha: “Eu não porei fora o que vem a mim” (Jo 6,37). Recorro, pois, a vós, cheio de confiança. “Nós vos pedimos que venhais em auxílio de vossos servos que remistes com vosso sangue precioso”. Vós, meu Salvador, que com tanta dor e tanto amor derramastes o vosso sangue para que fôssemos salvos, tende piedade de mim, perdoai-me e salvai-me.
Continua...

365 dias com Padre Pio - frases para cada dia do ano

Dia 15/4 - Quando notamos que estamos com muito medo, é sinal que precisamos aumentar nossa confiança em Deus!

14 de abril de 2024

Programação de Missas no Apostolado do IBP Curitiba

Na Casa do Padre: Olavo Bilac, 76
⛪️ 2ª feira, 15/04
07h30, Missa Rezada

⛪️ 3ª feira, 16/04
07h30, Missa Rezada

⛪️ 4ª feira, 17/04
07h30, Missa Rezada
————————————————
Na Capela, Rua Lamenha Lins, 2115, Rebouças
⛪️ 5ª feira, 18/04
18h30, Exposição do Santíssimo
19h30, Missa Rezada

⛪️ 6ª feira, 19/04
19h00, Santo Terço
19h30, Missa Rezada

⛪️ Sábado, 20/04
08h30, confissões
09h00, Missa Rezada

⛪️ Domingo, 21/04
III Domingo depois da Páscoa

08h00, Confissões
08h30, Missa Rezada

09h30, Confissões
10h00, Missa Cantada

18h30, Confissões
19h00, Missa Rezada

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

CAPÍTULO IX

Todas as nossas esperanças devem ser postas nos merecimentos de Jesus Cristo

Só nele há salvação.
1. “Não há salvação em nenhum outro” (At 4,12). S. Pedro diz que toda a nossa salvação está em Jesus Cristo, que por meio de sua cruz, na qual sacrificou por nós sua vida, nos abriu o caminho da esperança de recebermos todos os bens de Deus, se formos fiéis a seus preceitos. Ouçamos o que diz da cruz S. João Crisóstomo: “A cruz é a esperança dos cristãos, o arrimo dos coxos, a consolação dos pobres, a destruição dos soberbos, o triunfo sobre os demônios, a mestra dos jovens, o leme dos navegantes, o porto para os que estão em perigo, a conselheira dos justos, o descanso dos atribulados, o médico dos enfermos, a glória os mártires” (Hom. de cruc. t. 3). A cruz, isto é, Jesus crucificado, é a esperança dos fiéis, porque, se não tivéssemos Jesus Cristo, não haveria salvação para nós, é o arrimo para os coxos, nós todos somos coxos no atual estado de corrupção e, fora da força que nos comunica a graça de Jesus Cristo, não temos outro para trilhar o caminho da salvação; é a consolação dos pobres, isto é, de nós todos, pois tudo o que temos o temos de Jesus Cristo; é a destruição dos soberbos, já que os sequazes de
Jesus Cristo não podem ser soberbos vendo-o morto, qual malfeitor, na cruz; é o triunfo sobre os demônios, pois só o sinal da cruz basta para afungentá-los; é a mestra dos principiantes: que belos ensinamentos não dá a cruz àqueles que começam a palmilhar o caminho da salvação; é o lema dos navegantes: oh! como a cruz nos guia nas tempestades da vida presente: é o porto dos que perigam: os que se acham em perigo de perder-se pelas tentações ou fortes paixões encontram um porto seguro recorrendo à cruz; é conselheira dos justos: quantos santos conselhos não dá a cruz nas tribulações da vida; é o repouso para os aflitos: que coisa poderá aliviar mais os atribulados do que contemplar a cruz em que padece um Deus por seu amor? É o médico dos enfermos, que, abraçando a cruz, ficam curados de todas as chagas da alma; é a glória dos mártires, pois sua maior glória consistia em se tornarem semelhantes a Jesus Cristo, rei dos mártires.
2. Em suma, todas as nossas esperanças estão postas nos merecimentos de Jesus Cristo. Dizia o Apóstolo: “Sei passar privações, sei também viver na abundância (fui instruído em tudo e por tudo), tanto estar em fartura, como suportar miséria; ter de sobra como curtir penúria. Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,12-13). Assim S. Paulo, tendo aprendido do Senhor, afirmava: Eu sei como devo me
portar: quando Deus me humilha, devo resignar-me ao seu querer; quando me exalta, sei render-lhe toda a honra; quando me faz passar por abundância, eu lhe sou grato; quando me faz sofrer penúria, eu o bendigo; tudo isso, porém, não faço por minha virtude, mas pelo auxílio da graça que Deus me dá: Tudo posso, mas naquele que me conforta. No texto grego, em vez das palavras: naquele que me conforta, está: no Cristo que me corrobora; quem desconfia de si e confia em Jesus é por ele munido de uma força invencível. “O Senhor torna todo poderosos os que nele põem sua confiança”, diz S. Bernardo (Serm. 85 in Cant.). “Uma alma que não presume de suas forças, mas é confortada por Jesus Cristo, poderá se tornar senhora de si de tal maneira que nenhum pecado a dominará. Não há força, nem fraude, nem prazer algum que possa abater quem se apoia no Verbo divino, conclui o mesmo santo.

Virtude de Cristo em nós.
1. O apóstolo suplicou três vezes ao Senhor que o livrasse de um aguilhão impuro que o molestava e recebeu a resposta: “Basta-te a minha graça, pois a virtude se completa na fraqueza” (2Cor 12,9). Como se explica que a virtude se aperfeiçoa na fraqueza? S. Tomás com S. Crisóstomo explica que, quanto maior é a fraqueza e inclinação para o mal, tanto maior força Deus comunica a quem nele confia. Por isso, S. Paulo no lugar citado diz: “De boa vontade gloriar-me-ei nas minhas enfermidades, para que a virtude de Cristo habite em mim. Por isso é que me comprazo nas minhas enfermidades, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias pelo Cristo, porque quando estou enfermo então é que estou forte” (2Cor 12,10). “Porque a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que se salvam, isto é, para nós, é a força de Deus” (1Cor 40 1,18). S. Paulo nos adverte a não seguir os mundanos, que põem sua confiança nas riquezas ou em seus parentes e amigos do mundo e julgam loucos os santos por desprezarem esses esteios terrenos. Os homens de bem depositam toda a sua confiança no amor da cruz, isto é, de Jesus crucificado, que concede todos os bens a quem nele confia.
2. Note-se também que o poder e força do mundo são mui diversos dos de Deus: aquele se adquire por meio das riquezas e honras mundanas; este, pela humildade e tolerância. S. Agostinho diz que nossa força está no reconhecimento de nossa fraqueza e na confissão humilde de nossas misérias (De grat. Chr. c. 12). E S. Jerônimo diz que toda a perfeição da vida presente consiste em nos reconhecermos imperfeitos (Ep. ad Ctesiph.). Sim, porque, quando nós nos reconhecemos imperfeitos como o somos, então, desconfiando das nossas forças, abandonamo-nos nos braços de Deus, que protege e salva os que nele confiam. “Ele é o protetor de todos os que esperam nele” (Sl 17,31). “Vós salvais os que esperam em vós” (Sl 16,7). Davi ajunta que quem confia no Senhor torna-se firme como um monte, que não se abala com todos os esforços de seus inimigos: “Quem confia no Senhor, como o monte Sião não será abalado eternamente” (Sl 134,1). S. Agostinho nos admoesta que nos perigos de pecar, quando tentados, devemos recorrer e nos abandonar a Jesus Cristo, que não se afastará deixando-nos cair, antes nos tomará nos braços para sustentar-nos e assim remediar a nossa fraqueza (Conf. 1. 8 c. 11). Jesus Cristo, tomando sobre si as fraquezas de nossa humanidade, nos mereceu uma força que supera toda a nossa fraqueza. S. Paulo diz: “Por isso que ele mesmo padeceu e foi tentado, pode auxiliar os que são tentados” (Hb 2,18). Como se explica que o Salvador, por ter sido tentado, pode nos socorrer nas nossas tentações? Explica-se por que Jesus, tendo sido atormentado pelas tentações, tornou-se mais propenso a compadecer-se de nós e auxiliar-nos quando tentados. A este corresponde aquele outro texto de S. Paulo: “Não temos um pontífice que se não possa compadecer das nossas fraquezas, mas um experimentado à nossa semelhança em tudo, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Por isso o Apóstolo exorta-nos a que recorramos com confiança ao trono da graça que é a cruz, para recebermos do crucifixo as graças que desejamos: “Cheguemo-nos com confiança ao trono da graça, para obtermos misericórdia e encontrarmos a graça no momento oportuno” (Hb 4,16).

A fraqueza de Cristo é nossa força.
1. Jesus, sujeitando-se a padecer temores, tédio e tristeza, segundo os Evangelhos, quando falam das aflições que padeceu, especialmente na véspera de sua morte no jardim de Getsêmani (Mt 26,37), nos mereceu a coragem para resistir às ameaças daqueles que querem nos perverter, a força para vencer o tédio que experimentamos na oração, nas mortificações e outros atos de piedade, e o ânimo para suportar com paciência a tristeza que nos invade nas adversidades. Sabemos também que ele no horto, à vista de tantas dores e da morte desolada que o esperavam, quis sofrer tão grande fraqueza na sua humanidade, que afirmou: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 24,41). E pediu a seu divino Pai que, se fosse possível, o livrasse daquele tormento: “Pai, se for possível, que este cálice passe de mim. Todavia não seja como eu quero e sim como vós quereis” (Mt 26,39). E durante todo o tempo que se demorou no horto a rezar, repetiu sempre a mesma súplica: “Faça-se a vossa vontade...e orou terceira vez, repetindo as mesmas palavras” (Mt 26,44). Jesus, com aquele fiat, nos mereceu e obteve então a resignação em todas as coisas contrárias e alcançou aos mártires e aos confessores a força de resistir a todas as perseguições e tormentos dos tiranos: “Esta palavra (fiat) abrasou todos os confessores e coroou todos os mártires”, escreve S. Leão (Serm. 7 de pass. c. 5). Da mesma forma pela mágoa de nossos pecados, que lhe ocasionou uma tão atroz agonia no horto, Jesus nos mereceu a contrição de nossas culpas. Pelo abandono do Pai, que suportou na cruz, mereceu-nos a força de não perdermos o ânimo nas desolações e trevas de espírito. Com o inclinar a cabeça, ao expirar na cruz, para obedecer à vontade de seu Pai, mereceu-nos todas as vitórias que obtemos contra as paixões e as tentações, a paciência nos sofrimentos da vida e particularmente nas amarguras e angústias da morte.
2. Escreve S. Leão que Jesus veio se revestir de nossas enfermidades e angústias para nos comunicar sua virtude e constância (Serm. 3 c. 4). E S. Paulo: “E conquanto fosse o Filho de Deus, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5,8). Isso não quer dizer que Jesus na sua paixão tivesse aprendido a virtude da obediência, até então ignorada por ele, mas que ele aprendeu pela experiência quão dura era a morte a que se sujeitara para obedecer a seu Pai, conforme explica S. Anselmo. Experimentou igualmente quão grande é o mérito da obediência, tendo obtido por meio dela o sumo grau de glória para si, qual o de assentar-se à direita do Pai, e para nós a salvação eterna. E conclui o Apóstolo. “E, consumado, fez-se para todos os que obedecem a causa da salvação eterna” (Hb 5,9). Disse consumado, porque, tendo perfeitamente executado a obediência, sofrendo com paciência toda a sua paixão, fez-se, para todos que lhe obedecem no sofrer pacientemente os trabalhos da vida presente, causa da Salvação eterna.

Nada poderá me separar do amor de Jesus.
1. Esta paciência de Jesus Cristo animou e encorajou os santos mártires para abraçar com paciência os mais atrozes tormentos que a crueldade dos tiranos soube inventar e não somente com paciência, mas até com alegria e desejo de padecer ainda mais por amor de Jesus Cristo. Leia-se a célebre carta que S. Inácio mártir, já condenado às feras, escreveu aos Romanos antes de chegar ao lugar de seu martírio: “Permiti, filhinhos, que eu seja triturado pelos dentes das feras para que seja encontrado como frumento de meu Redentor. Eu não busco outro senão aquele que morreu por mim. Ele, que é o único objeto de meu amor, foi crucificado por mim, e o amor que eu lhe dedico faz-me desejar ser crucificado por ele”. S. Leão escreve do mártir S. Lourenço que, enquanto ele estava na grelha, era menos ardente o fogo que o queimava exteriormente que aquele que o consumia interiormente. Escrevem Eusébio e Paládio que S. Potamiana, virgem de Alexandria, foi condenada a ser lançada em uma caldeira de pez fervente. A santa, a fim de mais sofrer por amor de seu esposo crucificado, pediu ao tirano que a introduzissem aos poucos na caldeira, para que a morte se tornasse mais dolorosa. E foi atendida, pois começaram a metê-la no pez pelos pés, de maneira que suportou durante três horas esse tormento, só morrendo quando o pez atingiu o seu pescoço. Eis aí a paciência e a fortaleza que receberam os mártires da paixão de Jesus Cristo.
2. Esta coragem que o crucifixo infunde naquele que o ama fazia o apóstolo dizer: “Quem, pois, nos há de separar da caridade de Cristo? A tribulação, a angústia, a fome, a nudez, o perigo, a perseguição, a espada?” (Rm 8,35). E afirma ao mesmo tempo que esperava superar tudo na virtude e pelo amor de Jesus Cristo. “Mas em tudo isso saímos vencedores por aquele que nos amou” (8,37). O amor dos mártires para com Jesus era invencível porque recebiam a força do invencível que os confortava nos sofrimentos. E não pensemos que os tormentos perdiam, por milagre, a propriedade de afligir, ou então que as consolações espirituais absorviam a dor dos tormentos: isso deu-se uma ou outra vez, mas ordinariamente os mártires bem sentiam as dores e muitos por fraqueza cederam às torturas; os que sofreram com constância sofreram-no exclusivamente pelo dom de Deus, que lhes subministrava um tal vigor. Objeto primário de nossa esperança é a bem-aventurança eterna, isto é, o gozo de Deus — fruitio Dei — como ensina S. Tomás; todos os outros meios, pois, para se alcançar a salvação, que consiste nesse gozo de Deus, como o perdão dos pecados, a perseverança final divina, a boa morte, não devemos esperar de nossas forças nem de nossos propósitos, mas somente dos merecimentos e da graça de Jesus Cristo. Para que seja, pois, firme a nossa confiança, devemos crer com certeza infalível que a aquisição de todos esses meios de salvação depende unicamente dos merecimentos de Jesus Cristo.
Continua...