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11 de maio de 2014

TERCEIRO DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA.

Milagres de Jesus Cristo

O Evangelho de hoje é uma profecia do que deve acontecer com o Salvador.

Ainda um pouco de tempo e não me vereis mais.
É a sua morte e sepultura.

Mais um pouco de tempo e tornareis a ver-me:
É a sua ressurreição gloriosa: o grande milagre para provar a sua missão divina.

Durante a sua vida, Jesus Cristo operou numerosos milagres para provar que era verdadeiramente o Messias prometido, o Filho de Deus; o milagre de fato é o selo divino: só Deus pode operar milagres, pois o milagre, sendo uma derrogação às leis da natureza, só o Criador destas leis é que pode derrogar a sua execução normal.

Há um aspecto novo e interessante nos milagres de Nosso Senhor, que vamos meditar hoje, vendo:

1. O fato destes milagres.
2. O modo de fazê-los.

Este aspeto dos numerosos milagres do Salvador constitui uma dupla prova da sua divindade, de uma força transcendental de primeiro valor.

I. O fato destes milagres

Jesus Cristo quer de seus filhos uma fé absoluta.

Ora, a fé absoluta requer provas proporcionadas à grandeza da adoração que exige.

Estas provas são os milagres certos, refulgentes, contrários a todas as leis da natureza.

Deus nos outorgou dons imensos, porém Ele reservou para Si as leis da criação.

Pelo gênio, o homem chega a atravessar as tempestades: mas não pode acalmá-las.

O homem pode curar um enfermo: é incapaz de ressuscitar um morto.

Para mostrar a sua divindade, era, pois, preciso, que Jesus Cristo mostrasse que é mais que um gênio, que é Deus, e que, como tal, as próprias leis da criação Lhe estão sujeitas.

É o que Ele fez.

Lembremo-nos da cura do cego de nascença... da ressurreição de Lázaro... da transfiguração no Tabor e da tempestade no lago.

Tais fatos historicamente certos, são uma espécie de manifestação da divindade, pois são fatos superiores a todas as forças humanas, derrogando todas as leis da criação.

Ora, tais milagres foram repetidos centenas e centenas de vezes; feitos sob o sol de uma publicidade resplandecente... no meio das ruas, nas praças públicas, diante de amigos, em presença de multidões imensas, sob o olhar rancoroso dos próprios inimigos.

Tão certos são estes fatos que os próprios contemporâneos nunca deles duvidaram. São fatos tão milagrosos que não há nenhum modo humano de explicá-los; nenhuma possibilidade física, mental ou científica, de contradizê-los.

Para fazer tais milagres, era preciso ser Deus... e para fazê-los, como Jesus Cristo os fez, de modo tão sobrehumano, tenho quase vontade de dizer, que era preciso ser duas vezes Deus, se isso fosse possível.

Donde veio ao Salvador a popularidade de que gozava?

Não é puramente o dom de milagres que os mostra superior à natureza, pois o poder não atrai, espanta... como vemos no exemplo de São Pedro, que pediu a Jesus para afastar-se dele porque era pecador.

O segredo da sua popularidade está no uso discreto, prudente e amoroso deste poder, na reserva suave do poder de fazer milagres, que vamos meditar agora.

II. O modo de fazer milagres

Convém notar bem o modo por que Jesus fazia milagres.

Um princípio preside a todos eles: não perder, mas salvar: O Filho do homem não veio perder as almas mas salvá-las, disse Ele (Luc. IX. 56 — Joan. XI1. 47)

Ele perseverou com tanta firmeza nesta linha de conduta, que pouco a pouco todos o compreendiam.

Todos sabiam que este rei, cujas pretensões reais eram tão resplandecentes, tinha uma paciência sem limites, suportava as críticas mais malignas sem se alterar.

Longe de considerá-Lo com temor e medo, o que teria impedido aos auditores de escutar com inteligência os seus ensinamentos, o povo embora reconhecendo o seu poder extraordinário, o tratava às vezes com uma vivacidade intempestiva.

Por uma estranha conseqüência, o povo O acusava de ter ligação com o demônio, declarando-O deste modo capaz de fazer um mal sem limites, e apesar disso, o temia tão pouco que o provocava sem cessar a usar contra Ele deste poder.

Vemos, que os judeus julgavam Jesus Cristo desarmado pela sua própria vontade. É com esta convicção que tiveram a ousadia de atacar a vida daquele de cujo poder milagroso não duvidavam.

Viram-No ter fome e acreditavam que tinha o poder de mudar em pão as pedras do caminho.

Viram suas pretensões à realezas desprezadas e acreditavam que era capaz num instante de apoderar-se de todos os impérios do mundo.

Viram a sua vida em perigo, viram-No expirar na mais cruel agonia e estavam convencidos que não o querendo, nenhum perigo podia atingi-Lo.

Testemunhos de seus sofrimentos e persuadidos pelos milagres que haviam presenciado; os expectadores sentiam-se comovidos.

Em seu espírito uniam-se a compaixão para a fraqueza e a admiração para com um poder sem limites, surgindo destes sentimentos a gratidão e a simpatia para o autor destes milagres.

III. Conclusão

Eis um duplo aspecto dos milagres de Jesus: o poder que revela a presença de Deus, a discrição suave que mostra o coração de um Pai.

Jesus não se contentava em curar: Ele subia mais alto, ia até às almas. Através dos corpos enfermos, Jesus enxergava as almas doentes.

Deste modo os seus milagres não eram somente atos extraordinários, eram atos de redenção.

O Salvador das almas, o Redentor, aparecia vivo e visível através destes milagres.

Os milagres constituem em si uma prova da divindade de Jesus Cristo; porém, o modo suave, terno e paternal de operar estes milagres para o bem das almas, eleva e transfigura os mesmos milagres e faz deles um argumento duplicado, de um valor transcedental ao alcance de todos.

EXEMPLOS

1. Napoleão e Jesus Cristo

Nas horas solitárias de seu desterro em Santa Helena, Napoleão sentia uma satisfação íntima em poder falar de Jesus Cristo, e o fazia com um acento de fé e rasgos de gênio, que excitam a admiração dos próprios teólogos.

Escutemos mais este pequeno trecho das suas apreciações e analogias religiosas:

“Eu desafio a qualquer um de citar-me uma existência igual a esta de Jesus Cristo, isenta da menor alteração, pura de toda mancha, de toda vicissitude.

Desde o primeiro até ao último dia da sua vida, Ele é o mesmo, sempre o mesmo, majestoso e simples, infinitamente austero e infinitamente suave.

Numa convivência, por assim dizer, pública, Jesus nunca dá azo à menor crítica.

A sua conduta tão prudente excita a admiração por esta mistura de força e de mansidão.

Seja que fale ou que age, Jesus é luminoso e como imutável: é impassível!”

2. Chateaubriand

Em 1848 o canhão da guerra civil ribombava não longe da Igreja de Santa Clotilde, em Paris, perto da casa onde estava agonizando Chateaubriand, o grande escritor francês.

De repente um tumulto mais acentuado, um clamor mais selvagem, chegou aos ouvidos do ilustre ancião.

Tomando então o seu crucifixo, ele fitou a imagem santa do Salvador com um olhar firme e suave, e disse:

- Só Jesus Cristo pode salvar a sociedade moderna; eis o meu Deus, eis o meu Rei!

Foram as últimas palavras de Chateaubriand.

3. Rei da terra e do mar

Uns cortesões bajuladores apelidaram a São Canuto, rei da Inglaterra, de rei da terra e do mar.

Um dia que o santo estava passeando na praia do mar, na hora do fluxo, em que as águas vão subindo, sentou-se na praia e ordenou às águas que não chegassem até a sua pessoa.

Mas as águas foram subindo e já encobriam-lhe os pés.

Os cortesões pediram que se afastasse, o que o rei fez, dizendo: “Estão vendo que não sou o rei da terra e do mar”, e mostrando-lhes o crucifixo, acrescentou: “Eis o seu Rei verdadeiro, eis o meu Deus que governa a terra e os mares”, e prostrando-se, em presença da sua corte, adorou a imagem de Jesus crucificado.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 187–192)

4 de maio de 2014

SEGUNDO DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA.

O Pastor divino

O Evangelho de hoje nos apresenta uma das mais suaves cenas da vida de Jesus Cristo.

Ele é Pai... Ele é Rei... Ele é o Messias... O Salvador do mundo, mas Ele é sobretudo o Pastor divino das almas, conhecendo as suas ovelhas e sendo por elas conhecido, como Ele conhece o seu Pai e é por Ele conhecido.

Que tocante aproximação!

O próprio Jesus Cristo nos assemelha a si mesmo, e diz que, o que Ele é em relação a seu Pai, nós o somos relativamente a Ele!

Este traço ilumina com uma beleza infinita a doce fisionomia de Jesus, deixando-nos entrever a santidade perfeita e soberana da sua vida.

Meditemos este novo ponto de vista, considerando:

1. A sua santidade absoluta.
2. A personificação de toda santidade.

Estas duas considerações vão dar-nos mais uma prova clara da divindade de Jesus Cristo.

I. A sua santidade absoluta

Todos nós somos pecadores, filhos de uma raça pecadora, afora a Imaculada Mãe de Jesus. O pecado e a inclinação ao mal formam o triste característico da humanidade.

Imaginemos um santo, até o maior dentre eles que diga: Eu sou um santo!... Não há nenhum pecado em mim! Imediatamente tal santo cairia de seu pedestal e a consciência humana indignada, assaltando-o, lhe arrancaria a sua coroa.

Eis porque os maiores santos julgam-se os maiores pecadores. São Paulo não hesitava em proclamar-se o primeiro dos pecadores. Quorum primus ego sum (1 Tim. I. 15).

Entretanto há uma exceção!

Há um homem que disse um dia: Eu sou santo!... Quem me arguirá de pecado?

Há um homem, o mais humilde, o mais puro, que disse: sêde santos como eu sou santo, sem que tal afirmação extranha, vinte vezes repetida, tenha diminuído a auréola que cerca a sua fronte.

E não somente não se pode descobrir em sua vida inteira um único momento de hesitação na afirmação serena da sua santidade absoluta, mas Ele nem sequer deixa perceber o menor pensamento de precisar de perdão.

Jesus Cristo clama a todos: convertei-vos... fazei penitência... mas Ele nunca bate no próprio peito... nunca derrama uma lágrima de arrependimento... nem no Jardim das Oliveiras, nem no Calvário... nunca Ele se arrepende de qualquer uma das suas ações, mas ocupa-se exclusivamente da expiação dos pecados alheios, da salvação dos outros.

Sente-se neste homem uma consciência virgem, uma alma imaculada, uma serenidade divina, que parece murmurar em redor de si: Santo! Santo! Santo! Inocente, separado dos pecadores!

Esta convicção que Jesus Cristo tinha da Sua santidade absoluta, todos os seus contemporâneos a tiveram também.

Seus apóstolos, seus discípulos, seus amigos todos se sentem tomados de veneração diante da pureza perfeita de seu Mestre.

Os seus próprios inimigos, os rancorosos fariseus, com o faro penetrante do ódio, espiaram continuamente o Nazareno e prepararam-Lhe ciladas, em toda parte, sem nunca descobrir uma falta, nem sequer um passo errado nesta vida toda divina.

A todas as provocações Jesus responde com soberana dignidade: Quem de vós me arguirá de pecado?

Jamais alguém antes d'Ele lançou um tal desafio. Jamais alguém o lançará depois.

Logo, Ele é o único neste mundo, perfeito e santo: Ele é Deus!

II. A personificação da santidade

E este desafio, não somente Jesus Cristo o dirige a seus inimigos de Jerusalém; mas o repete para a humanidade de todas as nações e todos os séculos.

É sobre esta palavra que coloca a base da sua Igreja. Aí está a sua base de granito. Ela tem por pedra angular o diamante da pureza e santidade de Jesus.

Suponhamos que se descubra uma impostura na vida de Jesus Cristo, uma queda! Que digo? Uma destas manchas, como há por milhares em nossa vida, e eis a Igreja em ruínas.

Deste majestoso edifício, onde desabrocharam tantas e tamanhas virtudes, nada ficaria em pé, pois Jesus Cristo seria talvez o mais perfeito dos homens, mas não passaria de homem, não seria mais Deus.

O que O eleva acima de todos os homens, de todos os santos, é o poder dizer: Quem de vós me arguirá de pecado?

Nunca um homem, nem o mais sublime dos santos, identificou a sua própria santidade, com a beleza moral como Jesus Cristo, ao ponto que afastar-se d'Ele, é afastar-se do bem; e reproduzi-Lo é praticar todas as virtudes.

Sob este ponto de vista, Jesus Cristo nunca teve, nem pode ter igual, ou rival: Ele é único, pelo único fato da sua santidade; Ele nos aparece, no meio dos demais homens, como numa sublime solidão. Os outros são homens! Ele é Homem-Deus, Ele é a personificação do bem, da virtude, da santidade.

III. Conclusão

Jesus pode intitular-se: o bom pastor. Ele é bom porque é Deus, como Ele mesmo disse: porque me chamas bom, só Deus é bom! Ele é um pastor amoroso, vivendo no meio dos homens, como homem, fora do pecado. Ele vem expiar o pecado, mas não permite que o pecado Lhe toque, nem pela sua sombra; Ele é a santidade perfeita.

Podemos tudo resumir numa página luminosa de um gênio, Napoleão.

“Dizem que o sublime é um traço da divindade. Que nome se pode dar àquele que reúne todos os traços do sublime?

No Cristo tudo me encanta: o seu espírito me ultrapassa, e a sua vontade me confunde. Entre Ele e qualquer outro homem não existe termo de comparação. Ele é um ser à parte!

Mais me aproximo e mais examino de perto sua vida, mais acho que tudo está acima de mim que tudo é grande e de uma grandeza que me esmaga.”

“Se a vida e a morte de Sócrates são de um sábio”, disse o ímpio Rousseau, “a vida e a morte de Jesus Cristo são de um Deus!”

Sim, Jesus Cristo é Homem-Deus, pela sua santidade, como Ele o é pela sua natureza. Como homem, Ele é Pastor, como Deus, Ele é o Pastor divino das almas. Cabe, pois, a Ele instruir-nos, guiar-nos; cabe a nós prostrar-nos de joelhos, em adoração diante de Deus feito homem.

EXEMPLO

Pensamentos de um ímpio

Beuve, o grande crítico francês que fez passar na joeira de seu juízo todas as personalidades de renome, pensava que não se podia conhecer plenamente um homem sem saber o que havia sido em relação com a religião.

Jesus Cristo, no dizer dele, era o metro moral e intelectual, com que media os homens.

Coisa admirável e terrível! Este homem que terminou a sua carreira com uma impiedade escandalosa, havia traçado pelo próprio punho a sua sentença de condenação, nas seguintes linhas:

“Quando se tem de falar de Jesus Cristo, entra-se numa espécie de restrição voluntária.

Teme-se, desde que este nome não seja pronunciado de joelhos e na adoração, que seja profanado, só pela repetição deste nome inefável, para o qual o mais profundo respeito pode parecer, senão uma blasfêmia, pelo menos uma falta de respeito devido.

Aqueles que negam Jesus Cristo sofrem as consequências desta negação.

Toma os maiores dos modernos anticristãos, que desconheçam a Jesus Cristo, examina-os de perto, e verás que qualquer coisa lhes falta no espírito ou no coração.

Se não houvesse profecias para Jesus Cristo, nem milagres, há qualquer coisa de tão divino em sua doutrina e em sua vida, que é preciso, pelo menos, ficar encantado por ela. E como não há nem virtude verdadeira, nem retidão de coração sem o amor a Jesus Cristo, não há tampouco nem profundeza de inteligência, nem delicadeza de sentimentos, sem a admiração por Jesus Cristo”.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 180 - 185)

27 de abril de 2014

PRIMEIRO DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA.

A personalidade de Jesus Cristo

O Evangelho tem descrições tão curtas quão sublimes para mostrar-nos a doce e insinuante fisionomia do divino Mestre.

Na cena de hoje, por exemplo, como tudo é suave e deixa entrever a personalidade única de Jesus! A paz seja convosco. E dito isto mostrou-lhes as mãos e o lado!... E disse-lhes pela segunda vez: A paz seja convosco. Assim como meu Pai me enviou, assim eu vos envio!

Tal linguagem não é de um simples homem; sente-se em cada palavra a inspiração divina... mais do que isso: a personalidade divina.

Há qualquer coisa de tão ideal nestas palavras, que nos sentimos como aniquilados diante da sua soberana penetração.

Procuremos conhecer a fundo a grande e incomparável personalidade de Jesus Cristo, meditando:

1. A transcendência e
2. A independência desta personalidade.

São dois caracteres que vão mostrar-nos Jesus Cristo na majestade da sua incomparável beleza de Deus-Homem.

I. Transcendência da sua personalidade

A beleza moral de Jesus Cristo é sem limites e sem termo de comparação. Esta beleza não é simplesmente um ideal, é uma realidade.

De fato, neste mundo a imaginação do gênio procura idealizar a realidade. Mas, em Jesus Cristo, a realidade é tão sublime que domina o ideal... e o homem sente-se impotente em imaginar uma beleza mais ideal do que a realidade que n'Ele admira.

A personalidade é outro traço da sua grandeza. O que limita a personalidade é o tempo, o lugar, a raça.

Por grande que seja um homem, ele sai das entranhas de um povo e traz os característicos deste povo. E tanto maior é o gênio que o distingue quanto mais profundamente encarna ele o gênio da parte da humanidade de que é filho.

O grande Hebreu é Isaías!
O grande Árabe é Jó!
O grande Romano é Tácito!
O grane Italiano é Dante!
O grande Inglês é Shakespire!
O grande Francês é Bossuet!
O grande Brasileiro é Rui Barbosa!

E Jesus Cristo, que é Ele? Nem Hebreu, nem Romano, nem Italiano, nem Francês, nem Inglês, nem Brasileiro; nem antigo, nem moderno... Ele é de todos os tempos, de todos os séculos, de todas as nações, sem ter a personalidade de uma nação, de um país ou de um século. Ele não é um homem de tempos, Ele é O homemFilius hominis, como Ele mesmo se intitula: o Filho do homem em geral, mas de nenhum homem em particular.

Nos demais homens nunca se encontra a humanidade completa, perfeita: é uma humanidade idealizada, limitada. Em Jesus Cisto é a humanidade perfeita, sem limites, sem localização de idéias nacionais.

Ele é O Homem acima de todos os homens; Ele é o Cristo, acima de todos os preconceitos e vacilações humanas.

É uma personalidade transcendental, universal. E convém notar que tal universalidade não é em Jesus Cristo uma impersonalidade.

Nunca personalidade foi tão acentuada e tão distinta como a d'Ele. É o que consiste seu segundo caráter: o da independência.

II. Independência da sua personalidade

Os homens dependem sempre de seu tempo, do lugar e da raça a que pertencem.

De quem depende Jesus Cristo?

Nem da multidão que O aclama, nem de seus discípulos, nem de seu século, nem das opiniões e idéias que O cercam.

Ninguém pode ufanar-se de te sido o seu mestre.

A sua personalidade é de uma universalidade original, tendo uma sublimidade pessoal, que é só d'Ele... e a qual Ele não recebeu de ninguém.

Moisés é Judeu, pelos seus sentimentos e costumes;
Sócrates nunca ultrapassou o tipo Grego;
Maomé é o Árabe em toda parte;
Bossuet, La Fontaine, Lacordaire, são os representantes da raça Francesa, como Rui Barbosa se conhece pela expansão do tipo Brasileiro.

Em cada um destes grandes homens há característicos locais, transitórios, que não compreendem os povos de outras nações e que não só podem imitar em outros países nem em outros séculos.

São diferenças curiosas que nos mostram serem esses gênios puros homens, só homens, embora os maiores dos homens.

Em Jesus Cristo, nada disso existe: o transitório e a dependência faltam em sua personalidade.

Vemos n'Ele a humanidade: não se vê o que limita ou restringe esta humanidade. Ele é o modelo universal proposto à imitação universal.

Todas as classes copiam-No: a criança, a mocidade, a mãe, o ancião; todas as condições d'Ele se aproximam para encontrar n'Ele consolação e força: o pobre como o rico, o prisioneiro como o Rei, todos olham para Ele; e para todos Jesus Cristo é O Homem-Deus.

O movimento dos séculos e a civilização traz novas fisionomias ao palco do mundo. Jesus Cristo é o mesmo para todos: Ele não muda, enquanto tudo se altera em redor d'Ele. Ele permanece a personalidade única, universal, simpática e acessível a todos, imitada por todos e nunca igualada.

A humanidade marcha, anda depressa. Ela aclama em sua passagem, os gênios que se levantam para segurar-lhes o archote; porém, logo depois, ela os deixa atrás de si.

Newton foi admirável, mas passou.
Cuvier fez um revolução na geologia, mas passou.
Copérnico espargiu nova luz, mas passou.
Galileo e Lavoisier passaram.
Montgolfier, Dumont foram ultrapassados pelos seus sucessores.

Mas quem já ultrapassou a Jesus Cristo?

Há 19 séculos que os homens se sucedem, que a humanidade progride, mas ainda ninguém soube completamente compreender, nem imitar a Jesus Cristo.

Ele permanece para todos a realidade ideal inesgotada e inesgotável.

III. Conclusão

Como conclusão, citemos uma passagem de um inimigo encarniçado do Catolicismo, o triste Renan, que procurou provar que Jesus Cristo não passava de um simples homem, mas que, mau grado seu, foi obrigado a confessar a sua divindade.

“Descansa em tua glória, nobre iniciador — escreve Renan — a tua obra está terminada!

Mil vezes mais vivo, mil vezes mais amado, depois da tua morte, do que durante os dias da tua vida, tu serás a pedra angular da humanidade, a tal ponto que, arrancar o teu nome deste mundo seria abalá-lo até em seus alicerces! Entre Deus e ti, não há mais distinção! Plenamente vencedor da morte, toma possessão de teu reino, onde te seguirão pelo caminho real que traçaste, séculos de adoradores.” (Renan, vida de Jesus Cristo. P. 426)

Sim, Jesus Cristo é Deus, Homem-Deus, e tal se nos aparece em sua sublime fisionomia e em sua incomparável personalidade.

EXEMPLO

A pessoa de Jesus Cristo

A propósito da página de Beauterno citada acima, recolhamos um curto comentário sobre o mesmo assunto, do eloqüente P. Lacordere.

Na 37a. Conferência em Notre-Dame, o inimitável orador dizia, em sua linguagem tão serena quão suave e profunda:

“A nossa época começou com um homem que sobrepujou todos os seus contemporâneos e que nós, vindos depois, não temos igualado.

Conquistador, legislador, fundador de império, Ele teve um nome e um pensamento que estão ainda na memória de todos.

Depois de ter feito a obra de Deus, sem nela acreditar, ele desapareceu quando esta obra esteve terminada; ele deitou-se como um astro nas águas profundas do Oceano Atlântico.

Ali, em cima do rochedo, ele gostava de repassar a sua própria vida e remontando de si a outras vidas, às quais tinha o direito de comparar-se, não pode evitar de entrever, neste teatro de que fazia parte, uma personalidade maior do que a sua.

Contemplou-a muitas vezes: a desgraça abre a alma para receber luzes que a prosperidade não sabe discernir.

A tal personalidade voltava sempre e cada vez mais imponente: era necessário julgá-la um dia.

Uma tarde deste longo exílio que redimia as faltas do passado e iluminava a estrada do porvir, o conquistador decaído indagou de um dos seus companheiros de catividade se podia dizer-lhe o que era Jesus Cristo.

O soldado desculpou-se; havia estado por demais absorvido em sua vida militar para ocupar-se deste assunto.

- Como? Retorquiu dolorosamente o interlocutor. Tu foste batizado na Igreja Católica e tu não podes dizer-me, a mim, sobre esse rochedo que nos devora, o que era Jesus Cristo?

Pois bem, sou eu que vou dizê-lo.

Então, abrindo o Evangelho, não com a mão, mas com o coração que dele estava repleto, ele começou a comparar Jesus Cristo consigo mesmo e com todos os grandes homens da história; salientou as diferenças características que colocam Jesus Cristo acima de todos os homens e depois de uma torrente de eloquência, que não desdenharia nenhum doutor da Igreja, terminou com estas palavras:

Eu conheço os homens a fundo e digo que Jesus Cristo não é um simples homem!

Estas palavras resumem tudo o que queria dizer da vida íntima de Jesus e a impressão que cedo ou tarde experimenta aquele que lê o Evangelho com atenção e equidade.

Um dia, sobre o túmulo de seu grande Capitão, a França gravará estas palavras e elas ali resplandecerão com uma intensidade mais imortal do que as Pirâmides e Austerbitz.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 173 - 179)

20 de abril de 2014

DOMINGO DA PÁSCOA.

Fisionomia de Jesus Cristo

É a ressurreição de Jesus Cristo a grande prova da sua divindade.

Jesus predisse que seria entregue a seus inimigos, açoitado, condenado à morte, mas que ressuscitaria no terceiro dia.

Assim aconteceu.

Ora, só Deus pode prever e indicar o futuro.

Ele é, pois, verdadeiramente Deus.

Continuemos a estudar a fisionomia resplandecente de Jesus Cristo.

Já vimos, a última vez: a elevação de seu espírito e a fecundidade de suas palavras. É um reflexo luminoso da sua divindade, porém há outros reflexos não menos luminosos que devemos conhecer, e entre eles os que vamos meditar hoje, a saber:

1. O amor de seu Coração.
2. A força da sua vontade.

O homem, de fato, é uma inteligência, um coração e uma vontade; são as três faculdade da nossa alma; e são as três faculdades que nos manifestam claramente a alma de Jesus.

I. O amor de seu Coração

O homem ama, porém, ama pouco, e ama a poucos.

Todos os homens sentem esta triste chaga no coração, de não poderem sofrer muito tempo para aqueles que amam.

Há apenas uma exceção: é o coração de Jesus Cristo.

Ele ama e Ele dá tudo.

E, como não há maior prova de amor do que dar a própria vida para os que se amam, desde o primeiro até ao último instante da sua vida, Jesus Cristo aspira ao sacrifício.

A sua hora, como Ele diz, a que espera com impaciência, é a hora em que poderá enfim, no Calvário, elevar as suas dores até à altura de seu amor.

E não somente os homens amam pouco, mas amam poucas pessoas.

O homem sente que o seu amor é pequeno, tem receio de derramá-lo sobre os outros. Ele elege um pequeno número de escolhidos, faz-se um ninho onde coloca as pessoas que lhe são mais queridas: um pai, uma mãe, a esposa, os filhos e uns raros amigos.

O homem sente que tem apenas umas gotas de amor... e que espargindo-as não lhe sobrará bastante para os que mais estima.

Como o coração de Jesus é diferente do nosso! Ele ama todos os homens... e os ama com o mesmo ardor.

Os pequenos, os grandes, os pobres, os ricos, os justos, os pecadores, os banidos da sociedade, Ele não exclui ninguém.

Percorramos o Evangelho e procuremos quem Ele excluiu de seu amor.

Qual foi o ser bastante manchado para este coração tão puro... ou bastante vulgar para este coração tão nobre... ou demais grande para este coração humilde... ou demais pequenino para este coração sublime?...

E notemos que este coração tão terno e tão imenso é de uma pureza que não podemos chamar angelical; é pouco demais, pois é divino.

Ele vive no meio do mundo... senta-se à mesa dos pecadores... vê a seus pés todas as fraquezas... e nunca, nem sequer a sombra de um dúvida que surge numa consciência honesta, nem a sombra de um ultraje toca os seus lábios.

Os ímpios atacaram tudo na vida de Jesus Cristo, exceto a pureza deste ser celestial.

E este coração tão divinamente puro possui uma auréola única neste mundo, a de ter formado pelo seu contato e o seu exemplo uma legião de corações virginais, amantes e puros como Ele.

Oh! Só Deus pode realizar tais fenômenos. Jesus Cristo é, pois, Deus.

II. A força da sua vontade

A vontade é a terceira irradiação da nossa alma; vontade que se concentra na força.

Esta força é incomparável em Jesus Cristo e n’Ele reveste todas as modalidades da vida.

É a força modesta no triunfo, no meio do entusiasmo das multidões.
É a força paciente diante da ignorância e teimosia dos seus discípulos.
É a força misericordiosa diante da hipocrisia e da perversidade dos fariseus.
É a força serena e radiante em face das injúrias, das bofetadas, dos escarros, dos açoites.
É a força resignada na agonia, no meio dos mais atrozes desfalecimentos da natureza humana.

Eis já o que é divinamente grande e o que há de mais belo na ordem da força; entretanto não é tudo.

A última palavra da força de Jesus Cristo é o modo com que levantou o mundo conforme a sua expressão: Omnia traham ad meipsum. Arquimedes dizia: dai-me um ponto de apoio e eu levantarei o mundo. Jesus Cristo levantou o mundo sem ponto de apoio. Tomou doze operários pobres, grosseiros, sem gênio; e fez o que é mais difícil que levantar o mundo: mudou-os, transformou-os.

E para que o fato fosse mais incontestável, não o fez quando vivo, mas depois que se deixou pregar e morrer num patíbulo...

Morreu abandonado numa cruz e na hora em que a sua obra parecia aniquilada com Ele, Ele prova a sua força divina com maravilhas de além túmulo.

A impiedade julgou-O sepultado para sempre sob a pedra e sob o esquecimento e eis que de repente reaparece a sua obra, repleta de vida infinita e de eterna fecundidade.

Tudo isso é mais do que humano, é divino... e deve-se concluir que aquele que perpetra tais obras, é verdadeiramente Deus.

III. Conclusão

Como conclusão e para completar a bela e suave fisionomia de Jesus, digamos que esta beleza da inteligência, esta bondade do coração e esta força da vontade, encontram-se n’Ele numa harmonia, num equilíbrio perfeitos.

Não se encontra nenhuma lacuna, nenhum desfalecimento, nenhuma mancha, nem tão pouco se encontra n'Ele qualquer excesso ou qualquer esforço.

Cada faculdade atinge o grau máximo da sua intensidade; porém nenhuma eclipsa ou diminui as outras. São harmoniosamente unidas, ao ponto de constituir o que é o traço divinamente belo da vida de Jesus: grandeza tranquila, doce simplicidade, paz sublime.

Jesus Cristo é o homem ideal em sua natureza humana: Ele é o Deus sublime em sua natureza divina.

E estas duas naturezas: a divina e a humana estão reunidas numa harmonia perfeita, numa única pessoa: a pessoa divina do Verbo Eterno, Filho de Deus e Filho do homem.

Todos nós somos um filho de um homem; Jesus Cristo é o filho do homem, no sentido absoluto. O Filho de Deus feito homem no seio da Virgem Imaculada.

EXEMPLO

A fisionomia de Jesus Cristo

O Cavalheiro de Beauterno, reproduzindo os sentimentos de Napoleão, nos deixou esta página de uma fé admirável e de uma expressão tão veemente que se sente nela a pata do leão de Sant' Helena: o grande Napoleão:

“Não haveria Deus no céu se um homem fosse capaz de conceber e de executar, com pleno êxito, o plano gigantesco de fazer-se adorar pelo mundo inteiro, usurpando o nome de Deus!

Jesus é o único que tem tido tal ousadia! Jesus é o único que disse claramente: Eu sou Deus!

A história não menciona nenhum outro que se tenha intitulado Deus, no sentido absoluto desta palavra.

As fábulas nunca contaram que Júpiter ou outros deuses do Olimpo se tenham denominado a si próprios, o que aliás teria sido da parte deles um cúmulo de orgulho, uma monstruosidade e uma extravagância absurda.

São os homens que os deificaram.

Alexandre pôde chamar-se: filho de Júpiter, porém, a Grécia inteira zombava dele por tal embuste. Nem sequer a apoteose dos imperadores romanos foi tomada a sério pelos romanos.

Maomé e Confúcio deram-se simplesmente como agentes da divindade; a deusa Egéria de Numa Pompilio nunca passou de uma inspiração haurida na solidão da floresta; os deuses de Brahma, da Índia, são uma simples invenção psicológica.

Como é, pois, possível que um judeu, cuja existência histórica está mais averiguada do que todas aquelas de seu tempo, ele só, filho de um carpinteiro, se tenha apresentado como Deus, como o Ser por excelência e o Criador do mundo?

Ele pede a adoração das criaturas; e por um prodígio que ultrapassa todos os prodígios, Jesus exige o amor dos homens, isto é: aquilo que há de mais difícil de obter, o que um sábio pede em vão a seus amigos... um pai a seus filhos... uma esposa a seu marido... um irmão a seus irmãos... numa palavra: o coração. Ele exige absolutamente este coração e o obtém imediatamente.

Concluo que Ele é Deus!

Alexandre, César, Aníbal, Luiz XIV, com todo o seu gênio malograram-se nesta empresa; conquistaram o mundo, mas não alcançaram nenhum amigo sequer!

Talvez seja eu hoje o único a amar a César, Aníbal, Alexandre.

O grande Luiz XIV, que tanto esplendor espargiu sobre a França e sobre o mundo, não tinha nem um amigo em seu reino inteiro, nem sequer em sua família.

Apenas havia exalado o último suspiro, foi deixado no isolamento de seu quarto de Versailles, abandonado pelos seus cortesões e talvez até sendo escarnecido. Não era mais o seu mestre... era um cadáver, um esquife, um túmulo e o horror de uma iminente decomposição.

Eu mesmo tenho apaixonado as multidões, que se deixavam massacrar para mim... A minha presença, a eletricidade de meu olhar, de meu acento, minha palavra ascendia neles o fogo do entusiasmo e agora que estou aqui, só, desterrado sobre este rochedo, quem luta e quem conquista impérios para mim?

Onde estão os cortesões de meu infortúnio?

Quem pensa em mim? Quem se agita por mim na Europa? Quem me ficou amigo fiel?

Onde estão os meus amigos?

Sim, dois ou três, que a vossa fidelidade imortaliza, vos partilhais e consolais o meu exílio.

Assassinado pelo revez das armas, morro aqui, antes do tempo e o meu cadáver será restituído à terra para ser o pasto dos vermes!...

Eis o próximo destino do grande Napoleão! Que abismo profundo sobre a minha miséria, o meu abandono e o reino eterno de Jesus Cristo, pregado há já 18 séculos, amado, adorado, invocado e cada dia vivo sobre os altares e em todas as partes do mundo... Será isso morrer? Não é antes viver? Eis a morte de Cristo, eis a vida de um Deus... Concluo que Jesus Cristo não é simplesmente homem, Ele é Deus verdadeiro!”

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 164-171)

13 de abril de 2014

DOMINGO DE RAMOS.

Jesus Cristo é Deus

Que página admirável o Evangelho nos apresenta hoje, no dia dos Ramos.

Há nesta cena tanta grandeza e tanta simplicidade unidas, que involuntariamente levantamos os olhos para o céu e exclamamos: — Este Jesus é verdadeiramente Deus.

Jesus, montado numa jumenta, fazendo a sua entrada solene em Jerusalém no meio das aclamações de um povo entusiasta.

Os caminhos são alcatifados com ramos, flores das árvores e os mantos dos homens, enquanto longas filas de homens, de mulheres e de crianças cantam: Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana ao Filho de Davi!

E Jesus, calmo, bondoso, mas majestoso, de olhos baixos, percorre as ruas da cidade, mostrando pela sua majestade, que é Deus, e pela sua humildade que é homem também.

Lancemos hoje um olhar atento sobre esta bela e doce fisionomia de Jesus, contemplando:

1. A elevação de seu espírito.

2. A fecundidade das suas palavras.

São apenas dois aspectos, ou duas belezas da doce fisionomia de Jesus, mas que constituem já dois traços característicos do Deus-Homem.

I. A elevação de seu espírito

A fisionomia de Jesus é a transpiração da alma através da poeira do corpo. É a alma saindo de seu esconderijo, iluminando o semblante com uma espécie de irradiação espiritual, que não é deste mundo.

O gênio, a virtude, o amor, acendem raios no olhar, no sorriso e parecem iluminar a fronte de quem os possui.

Ora, o espírito estava em Jesus em sua mais alta expressão. Nele tudo é luminoso... Ele se estende livremente em elevação, em profundeza, em fecundidade, em todas as direções.

A sua conversação, ao mesmo tempo suave e penetrante, contém relâmpagos e raios.

Ele sobe, de repente, aos mais sublimes cumes da grandeza e eleva os que O escutam, sem esforço e sem fadiga.

E como o seu olhar é divinamente penetrante! Numa intuição incomparável Ele penetra nos corações e recolhe o pensamento mais secreto.

Com quanta segurança Ele lança no fundo da alma uma palavra incompreendida no momento, mas que desabrochará depois em luz e em generosidade.

Vê-se que Ele conhece os destinos dos povos, como conhece os segredos dos corações.

O porvir de Jerusalém esta tão claro diante de seus olhos, como o porvir de Pedro e de Judas.

Esta grande revolução que vai operar a sua doutrina... Este mundo novo que deve nascer ao pé da sua Cruz... Esta Cruz que atrairá tudo a si... Estes humildes Apóstolos, que ensinarão todas as nações... Os povos que se converterão... Este único rebanho sob a guarda do único Pastor. Ele vê tudo isso com uma certeza imediata, absoluta.

O espírito imenso de Jesus não é limitado, nem pelo tempo, nem pelo espaço. A ciência do futuro nada contém que o impressione, perturbe, ou surpreenda, porque este espírito luminoso encerra todos os tempos.

II. A fecundidade das suas palavras

À esta elevação do espírito, devemos juntar a fecundidade das suas palavras. É um segundo traço da sua admirável fisionomia.

Cada palavra é um raio e uma semente.

Ele abre sementeiras no porvir, como Ele semeia no presente.

Bem-aventurados os pobres de espírito!
Bem-aventurados os que choram!
Bem-aventurados os puros!
Bem-aventurados os que sofrem perseguições.

Eis sementes maravilhosas!... Quem dirá as colheitas que saíram delas!?

Todos os Apóstolos ali estão! Todas as virgens! Todos os mártires! Todos os benfeitores da humanidade!

Ele diz: Dai a César o que é de César! E lá está a base da distinção dos dois poderes: o religioso e o civil.

Ele diz: Pai nosso, que estais no céu! E eis a base da fraternidade universal.

Cada palavra é um gérmen de vida, de progresso, de civilização, de felicidade, de santidade!

E notem a linguagem de Jesus: Nunca pensamentos mais sublimes foram expressos em palavras tão curtas. As próprias palavras parecem idealizadas e transfiguradas pela idéia. Tais palavras são verdadeiramente espírito e vida.

O menos de matéria possível... palavras curtas... transparentes, deixando ver o espírito que as anima.

A ciência achou o meio de concentrar, no menor volume, as mais altas energias medicinais.

Assim fez Jesus Cristo. Em três palavras distintas, claras, luminosas, Ele encerra as leis eternas das coisas, os princípios fundamentais da família e da sociedade, as causas e os remédios da decadência dos povos, sobretudo as leis divinas das almas.

E tudo isso sob uma forma tão simples, que é ao mesmo tempo, leite para as crianças e vinho para a velhice.

III. Conclusão

Em Jesus Cristo, a divindade transparece em cada um de seus gestos, em cada palavra em cada olhar, em cada irradiação de seu espírito.

Ele é homem perfeito... Ele é também Deus perfeito. Como conclusão reproduzamos uma curta página do grande Lacordaire, a águia dos pensamentos e da expressão sublimes.

“Há um homem, exclamou ele um dia do alto do púlpito de Notre Dame de Paris, há um homem de quem o amor guarda o túmulo; há um homem, cujo sepulcro não é somente glorioso, como o disse um Profeta, mas que é amado.

Há um homem cuja cinza depois de 18 séculos não se resfriou.

Há um homem cujo pensamento renasce no espírito de uma multidão incauculável de homens, que é visitado em seu berço pelos pastores e pelos reis, levando-lhe à porfia, o ouro, o incenso e a mirra!...

Há um homem do qual parte considerável da humanidade segue as pisadas, sem jamais cansar e que apenas desaparecido se vê seguido em todos os lugares da sua antiga peregrinaçao, sobre os joelhos da sua Mãe, à beira dos lagos, no alto dos montes, nos atalhos dos vales, na sombra das oliveiras, no segredo dos desertos!

Há um homem morto e sepultado, de quem se espreita o sono e o despertar, de quem cada palavra que pronunciou vibra ainda e produz mais do que o amor, pois produz virtudes produtivas no amor.

Há um homem pregado há séculos a um patíbulo e a este homem milhões de adoradores descem-no cada dia do trono de seu suplício, prostram-se de joelhos, o mais baixo possível, sem respeito humano, e ali, por terra, beijam-Lhe os pés sangrentos com indizível ardor.

Há um homem açoitado, assassinado, crucificado, que uma paixão inenarrável ressuscita da morte e do desprezo, para colocá-Lo na glória de um amor que não desfalece e n'Ele encontra a paz, a honra, a alegria até ao êxtase.

Há um homem perseguido em seu suplício e em seu túmulo por um ódio inextinguível, e que, pedindo apóstolos e mártires a cada posteridade que se levanta, encontra apóstolos e mártires no seio de todas as gerações.

Há um homem enfim, e o único, que fundou o seu amor sobre a terra, e este homem sois vós, ó Jesusl Vós, que quisestes cingir-me, sagrar-me pelo vosso amor e cujo nome neste momento abre as minhas entranhas e delas arranca este acento que me perturba a mim mesmo e que não conhecia.” (Lacordaire)

Eis Jesus Cristo, verdadeiro Deus, na sublimidade de seu espírito e na fecundidade da sua palavra.

Parece-me impossível dizer mais e dizer melhor.

EXEMPLOS

1. Eloquentes sem língua

Nas perseguições de Hunerico, rei dos Vândalos, 300 católicos confessaram a divindade de Jesus Cristo, e tiveram como castigo, de terem a sua língua cortada até a raiz.

Depois do suplício, todos continuaram a falar com uma facilidade maravilhosa e a confessar a divindade de Cristo em alta e forte voz

Este milagre teve muitos testemunhos, entre os quais o Imperador Justiniano, que viu e ouviu em Constantinopla diversos destes generosos confessores.

É mais uma prova da divindade de Jesus Cristo.

2. Argumento de Alamundaro

Os hereges Eutychianos pretendiam que em Jesus Cristo havia apenas a natureza divina, sob as aparências de um corpo humano, donde concluíram que a natureza divina havia sofrido e morrido sobre a cruz.

O rei dos Sarracenos, Alamundaro, tendo-se convertido à religião católica, respondeu de um modo engenhoso aos Eutychianos que procuravam ganhá-lo para a sua heresia.

Fingiu um dia ter recebido uma carta anunciando a morte do Arcanjo S. Miguel e perguntou-lhes o que pensavam de tal notícia.

Responderam-lhe que era impossível e absurda tal notícia, pois os anjos eram imortais.

- Mas então, retorquiu o rei, se um anjo não pode nem sofrer, nem morrer, como é que Jesus Cristo pode ter morrido na cruz, se possui apenas a natureza divina, que é necessariamente impassível e imortal. Jesus Cristo é, pois, ao mesmo tempo, Deus e homem.

3. O general de Vouges

O general de Vouges, um dos heróis de Reishoffen, disse aos governantes que queriam reorganizar o exército: — Não chegarão ao termo desta reorganização se não colocarem Jesus Cristo no coração de cada soldado!

Tudo na humanidade se estreita, se resvala e se degrada, quando ela se afasta de Jesus Cristo que faz toda a sua grandeza.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 157 – 163)

6 de abril de 2014

DOMINGO DA PAIXÃO.

A religião cristã

Entramos no tempo sagrado da Paixão. Apenas quinze dias nos separam da Páscoa.

Para preparar-nos à grande data comemorativa da Ressurreição do Salvador, meditemos umas palavras do Evangelho de hoje.

Jesus disse aos judeus: Se vos disse a verdade, por que não me credes? Aquele que é de Deus escuta as palavras de Deus, por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus.

Escutar as palavras de Deus é ser de Deus: escutar as palavras dos inimigos de Deus e pertencer a estes inimigos é professar uma religião falsa, que não é de Deus.

Infelizmente há religiões falsas, fabricadas pelos homens e aqueles que abraçam-nas não querem ser de Deus, ou não são dignos de sê-lo.

Não vamos refutar aqui a seita do paganismo, nem a do maometismo, nem o judaísmo, que não têm valor, nem adeptos entre nós, mas vamos examinar as marcas da religião verdadeira em geral, da religião cristã.

Esta religião é divina, a única divina, porque:

1. Foi fundada por Jesus Cristo.
2. Conservou intacto o ensino de Jesus Cristo.

Estes dois pontos são o bastante para dar um fundamento seguro à nossa fé e refutar todas as doutrinas adversas.

I. Fundada por Jesus Cristo

A religião cristã, como o seu nome o indica, foi fundada por Jesus Cristo, não no sentido que antes não existiu, mas sim, que por Ele foi levada à sua suprema perfeição.

Cada seita religiosa, remontando, no tempo, até ao seu berço, encontra necessariamente o fundador.

Quatro religiões dividiam antigamente o mundo. São:

1. O paganismo; religião daqueles que, em geral, adoram criaturas, ou ídolos feitos pelas suas próprias mãos. É a idolatria que foi a religião dos povos, antes de Jesus Cristo, fora o povo de Israel. Hoje só os selvagens professam ainda esta crença.

2. O maometismo, estabelecido por Maomé em 620. É uma mistura confusa de idéias pagãs, judaicas, com umas noções desfiguradas de cristianismo. Existe hoje ainda na Turquia.

3. O judaísmo, que remonta à criação do mundo, tendo Deus por autor, e tendo por fim: preparar a vinda do Messias, isto é, o fundador do Cristianismo. Até Jesus Cristo era a religião divina, verdadeira, porém, depois da vinda do Messias, tendo realizado o seu papel preparatório, figurativo, foi substituída pela realidade.

4. O Cristianismo, fundado por Jesus Cristo, que se disse Messias, Salvador do mundo, verdadeiramente Deus, Filho de Deus e provou a sua missão pelas profecias e pelos milagres. É a única religião que possui a revelação divina. O Cristianismo é a religião fundada por Jesus Cristo.

Infelizmente, como veremos mais adiante, os erros penetraram na religião cristã, e lhe arrancaram milhares de almas, sobretudo por meio do apóstata Lutero, fundador do protestantismo.

O verdadeiro Cristianismo encontra-se no Catolicismo, espalhado no mundo inteiro e tendo por Chefe o sucessor de São Pedro, o Papa de Roma.

II. Conservação do ensino de Jesus Cristo

É a religião fundada por Jesus Cristo, que Ele chamou "minha igreja" — Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Math. XVI 18). Esta Igreja conservou íntegros os ensinamentos de seu divino fundador.

De fato, se houvesse falsificação, teria sido apontada e provada pelos próprios cristãos, como pelos inimigos dos cristãos.

É absolutamente certo que a religião de Jesus Cristo foi veridicamente escrita nos Evangelhos, pois os Evangelistas não quiseram enganar a humanidade, não havendo nenhum interesse pessoal; não podiam enganar-se, pois eram testemunhas oculares; nem teriam podido enganar-nos, pois estavam cercados de inimigos numerosos e rancorosos, que teriam logo reclamado. Tal religião, descrita no Evangelho, vem até nós, tal qual foi composta, pois temos por garantia os próprios cristãos, os inimigos dos cristãos e a conformidade dos numerosos manuscritos.

Ora, os cristãos sempre conservaram e veneraram o Evangelho como um livro divino, que liam e meditavam com amor. A própria Igreja e os Concílios o colocavam num trono de honra e o consultavam em todos os seus ensinamentos.

Um tal livro não se falsifica, nem pode ser falsificado, sem que seja do conhecimento público.

Temos como garantia da integridade da religião cristã, os próprios e numerosos inimigos, que teriam logo acusado de impostura a mínima modificação num livro que serve de fundamento à religião inteira.

Além disso, temos outra prova irrefutável na concordância substancial, perfeita, dos numerosos manuscritos espalhados, desde os primeiros séculos.

Desde os tempos dos Apóstolos, as diversas igrejas queriam possuir uma cópia autêntica dos Evangelhos e tais cópias foram-se multiplicando por milhares e milhares, além das numerosas traduções em línguas estranhas.

Como falsificar tais cópias e tais traduções sem que houvesse mais tarde discrepância de doutrina? É impossível.

Ora, juntando mais tarde quantidade de tais cópias e várias traduções, a Igreja encontrou em todas a mais substancial conformidade, sem nenhuma discrepância essencial.

É uma prova certa de que a religião cristã não mudou através dos séculos, mas conservou sempre a sua integridade perfeita.

III. Conclusão

Devemos, pois, concluir que Jesus Cristo é verdadeiramente o fundador da religião cristã. Ora, Jesus Cristo é Deus: tal religião é pois divina.

Esta religião consignada nos Evangelhos, conservou-se através dos séculos, porque era impossível alterá-la, falsificá-la, sem que o mundo protestasse e demonstrasse os erros intercalados.

Tal falsificação foi impossível nos séculos passados, como é impossível em nossa época.

Pode-se falsificar um livro desconhecido; não se falsifica um livro que está nas mãos de todos, que interessa a todos e que contradiz a todas as inclinações humanas.

A religião cristã é pois a única religião divina.

EXEMPLOS

1. Os dois testamentos

O catecismo enumera aqueles que estão fora da Igreja e nomeia em primeiro lugar, os infiéis.

Entre estes é preciso classificar os judeus, que aceitam o Antigo Testamento e rejeitam o novo.

Durante a guerra de 1870, Dom Guibert era Arcebispo de Tours. O Prelado graciosamente pôs o seu palácio a serviço dos membros do governo.

Entre eles havia o advogado Crémieux, que era israelita. Um dia, este disse, sorrindo, ao Arcebispo.

- Monsenhor, vós representais aqui o Novo Testamento e eu o Antigo; resta saber qual dos dois é o melhor.
- Mas, Dr. Cremieux, respondeu sorrindo o Prelado, o senhor que é advogado, sabe que, havendo vários testamentos, o único bom é o último.

Eis porque a única religião boa é a religião cristã.

2. Reformada

Durante a guerra de 1914, um pastor protestante distribuiu aos soldados vários opúsculos em favor da sua seita

- Que há de novo nestes seus livros? Perguntou-lhe um soldado.
- Ensina-se a religião... a nossa, a verdadeira!
- E qual é a sua religião?
- A religião reformada.
- Neste caso, não serve.
- E porque ?
- Porque quando um militar é reformado, isto quer dizer que não serve mais para o serviço.

3. Os ratos e o Monte Branco

Um dia, o P. Combalot pregava em Lyão.

Depois de ter açoitado com o seu verbo vigoroso os inimigos da religião, o orador desceu do púlpito, com passos lentos e, parando de repente, exclamou:

- Meus irmãos, estais vendo ali através das janelas o Monte Branco? Pois bem, asseguro-vos que os ratos não hão de devorá-lo.

Um sorriso esboçou-se da multidão que compreendeu. O Monte Branco não receia as mordidas dos ratos. Assim a religião não receia a perseguição dos viciados e dos libertinos.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 149 - 155)

30 de março de 2014

QUARTO DOMINGO DA QUARESMA.

Caracteres da religião

O Evangelho de hoje narra o grande milagre da multiplicação dos pães no deserto, de modo a alimentar cinco mil pessoas com cinco pequenos pães, o que na ordem natural não dava nem sequer uma migalha para cada um; entretanto todos comem à saciedade.

Vendo este milagre assombroso o povo exclamou entusiasmado: Este é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo.

Esta cena inclui e manifesta os dois caracteres que devem distinguir a única religião verdadeira das falsas seitas religiosas: o milagre e a profecia.

Vamos meditar hoje estes dois caracteres que só a religião cristã possui.

1. O milagre, primeiro caracter.
2. A profecia, segundo caracter.

Estes caracteres formam como o selo que Deus imprime à sua palavra revelada, a carta credencial que acredita os seus enviados e o sinal divino por excelência.

I. O milagre

O milagre é um fato sensível e certo, que derroga completamente, ou é contrário às leis constantes e conhecidas da natureza.

Um sábio pode produzir fatos maravilhosos que excitam a admiração, porém tais fatos têm o seu princípio e a sua causa na natureza; não constituem uma derrogação a suas leis, mas apenas uma extensão; enquanto o milagre é um fato cuja a causa não existe na natureza, deve pois ter por origem o próprio autor da natureza: Deus.

É por isso que só Deus pode fazer milagres por si, ou por pessoas por Ele autorizadas.

Os fenômenos ultimamente descobertos da eletricidade, rádio, radiofotia, televisão, etc., por maravilhosos que sejam, não são milagres, pois sabe-se como são produzidos e qualquer um pode produzi-los.

Mas como reproduzir, por exemplo, o fenômeno do Evangelho de hoje: multiplicar cinco pequenos pães para alimentar até à saciedade 5000 pessoas e recolher depois doze cestos de pedacinhos que sobraram?

É inimitável porque é divino.

O milagre é possível, porque:

a) Não repugna a nossa natureza, que procura instintivamente o maravilhoso.

b) Não é contrário ao poder de Deus, pois Ele criou livremente e pode livremente modificar a sua obra, em certos casos particulares.

c) Não é contrário à sabedoria de Deus, pois a derrogação não é uma desordem, mas simplesmente uma ação fora da ordem estabelecida por Ele.

Negar o milagre, porque não o vimos, é tão ridículo como seria ridículo negar todos os fatos da história, porque não os vimos.

Acreditamos nas palavras dos historiadores, e para os milagres acreditamos nas palavras dos testemunhos oculares que viram os dois estados do milagre: antes e depois.

Ver os cinco pães antes da multiplicação — e ver a multidão farta e os 12 cestos de sobras, são estes dois estados: a mudança é inexplicável, o fato sendo certo, constitua o milagre.

II. A profecia

A profecia é uma predição certa e manifesta de um acontecimento futuro, cujo conhecimento não pode ser adquirido por causas naturais.

É um milagre de coisas futuras.

Um astrônomo predizendo, com cem anos de antecedência, um eclipse do sol; um médico, predizendo uma crise num enfermo; um político predizendo uma mudança social; não fazem profecias, porque a inteligência humana pode prever estes acontecimentos.

Mas como podia prever, por exemplo, o Profeta Zacarias, (IX. 9) quinhentos anos antes de Jesus Cristo, que este entraria solenemente em Jerusalém, montado num jumentinho, o que se cumpriu literalmente?

Que o Salvador havia de ser vendido por 30 moedas de prata, as quais seriam lançadas na casa de Deus, para serem entregues a um oleiro, (XI. 12) o que se realizou ao pé da letra? Como prever tais acontecimentos com uma antecedência de 500 anos? É absolutamente impossível! Só Deus conhece o futuro; e a realização de tais profecias é outro selo, um carimbo de Deus, que prova que o Profeta era inspirado por Ele mesmo.

A profecia prova que a verdade em prova da qual é feita vem de Deus, pois só Deus pode conhecer o porvir e anunciá-lo, porque só Ele conhece, num mesmo ato da sua onisciência, o passado, o presente e o futuro.

III. Conclusão

A religião que possui estes dois caracteres: o milagre e a profecia, é, pois, uma religião divina, pois ela nos apresenta credenciais absolutamente inimitáveis e absolutamente certas.

A religião cristã é um tecido destes milagres e destas profecias; ela é, pois, a religião divina, a única divina, pois, como foi dito: consistindo a religião nas relações que unem os filhos aos pais, tais relações são sagradas e imutáveis.

Leiam o Evangelho: cada página contém um fato milagroso, como cada ensinamento contém uma doutrina milagrosa.

As profecias formam como o tecido do Antigo Testamento; e Jesus Cristo cita a cada instante a realização destas profecias em sua pessoa.

A verdade é, pois, resplandecente... ela está sintetizada na religião cristã: e só esta religião possui estes dois caracteres que acabamos de meditar: com a exclusão de todas as seitas religiosas humanas.

EXEMPLOS

1. O caminho divino

No fim do século XVII uns pastores protestantes holandeses desembarcaram nas costas de Malabar convidando os índios a abraçarem nova seita.

Estes índios, católicos fervorosos, haviam sido evangelizados por São Francisco Xavier, a quem dedicavam a mais profunda devoção.

O chefe dos Paravas respondeu-lhes em nome da nação:

- Fazei milagres maiores do que os que nosso pai São Francisco Xavier fez, e acreditaremos que a vossa doutrina é melhor do que a dele. São Francisco ressuscitou aqui 6 mortos; ressuscitai 10 e ficaremos convencidos.

Diante deste raciocínio do bom senso e da fé, os pastores não tiveram outra resposta senão insultos e procuraram dissimular a sua derrota por meio de uma pronta saída do país.

É o que havia de melhor para os intrusos.

2. O milagre de Calvino

Calvino compreendeu o valor destes dois característicos: o milagre e a profecia, para espalhar os seus erros e quis recorrer a eles

Numa reunião, profetizou que, para provar a sua doutrina, ia fazer um milagre estrondoso, ressuscitando um homem morto.

Pagou a um protestante, chamado Brulé, para que se fingisse de morto e mandasse chamá-lo pela esposa desconsolada. Até aí, tudo se fez de acordo. Uma mulher em soluços, e como desesperada, penetrou na casa de Calvino, suplicando-lhe que ressuscitasse o seu marido que acabava de falecer

Calvino, levantando os olhos para o céu, num gesto hipócrita, disse aos amigos que o cercavam, que era a hora oportuna para ele provar a sua missão de reformador, restituindo à esposa inconsolável o marido falecido.

E lá se foi para a casa do morto.

Chegando ao lugar, num gesto de dominador, que parece impor a sua vontade ao próprio Deus, Calvino, em nome de Deus, ordenou ao falso defunto que se levantasse.

Um silêncio lúgubre foi a resposta.

Calvino achou a peça teatral bem executada, e num gesto mais decidido, ordenou pela segunda vez ao defunto, de levantar-se do leito em que jazia, para provar que ele, Calvino, era o ministro de Deus. Um silêncio mais lúgubre, mais inquietante foi a resposta.

- Calvino hesitou, empalideceu..., e como após uma terceira intimação, o pseudo-defunto ficasse estendido, pálido e sem movimento, a mulher desolada, suspeitando um castigo de Deus, aproximou-se da cama e encontrou o marido frio, sem pulso, sem respiração: estava morto!

Em seu desespero, a mulher revelou a sacrílega combinação, insultando o reformador, como sendo o assassino de seu marido.

Só Deus pode fazer milagres; e Ele não comunica este poder senão a seus amigos, que nós chamamos os Santos.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 142 - 147)

23 de março de 2014

TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA.

Presença de Jesus no mundo

Jesus expeliu um demônio e as multidões ficaram maravilhadas de seu poder, diz o Evangelho.

O Salvador aproveita a ocasião para fazer uma instrução magistral sobre o poder e o reino de Deus, mostrando-lhes que o exercício deste poder é uma prova de sua divindade.

Para os judeus, a presença de Jesus Cristo constitui, de fato, o reino de Deus, pois este reino é constituído pela presença de Deus que ordena e dos filhos que obedecem.

Jesus estava fisicamente presente durante a sua vida mortal... e, após a sua morte, Ele continua a estar conosco, tão bem como estava neste tempo.

É esta dupla presença que vamos meditar hoje:

1o. A presença física.
2o. A presença sacramental.

Estas considerações, sob o aspecto apologético, nos revelarão uma prova irrefutável e característica da verdadeira religião de Jesus Cristo.

I. A presença física

Jesus Cristo veio a este mundo para unir-se a seus filhos da terra, consolá-los e orientá-los no caminho do céu: — é o mistério da encarnação.

É a sua presença física, visível, palpável, presença que seria invisível, se não tivéssemos provas irrefragáveis da sua certeza:

O que foi desde o princípio (Deus), diz São João, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, e contemplamos, e apalparam as nossas mãos relativo ao verbo da vida... vos anunciamos. (1 João I. 1)

Examinando esta presença física de Jesus Cristo, por bela e sublime que seja, parece-nos entretanto faltar qualquer coisa... notamos-lhe limites que não satisfazem o espírito... limites de tempo, de espaço e de intimidade.

Ele vive sim, mas como?
Trinta e três anos passou na terra...
Trinta anos para sua Mãe querida!...
Três anos para todos!...
Um dia para Madalena!...
Uma hora para São João!...

Havia 60 séculos que a humanidade estava clamando por Ele... e tantos suspiros terminam com uma presença de 3 anos?

É impossível!... Há aqui um mistério!...

E onde se passaram estes 3 anos?

Num pequeno país, que não ultrapassava 20 léguas de circunferência.

A humanidade soluçara de esperança e soube da sua vinda depois de Ele ter desaparecido. Que barreira tremenda a do tempo e do espaço!

É preciso que esta barreira desapareça diante do amor de Deus e dos gemidos da humanidade.

E não somente encontro estas duas barreiras, mas há uma barreira mais elevada ainda: a da intimidade! Ou melhor: a falta de intimidade durante estes poucos anos.

Os corações que se amam querem ver-se, tocar-se, repousar sobre o peito um do outro.

O que nós amamos é a alma... queremos ver a alma... e esta alma nos escapa!

Percebemo-la na fronte, nos olhos, nos lábios.

É apenas uma sombra da alma, é certo, porém esta sombra é necessária.

Maria Santíssima, São José, Madalena, Pedro, João, viram esta sombra de perto, os habitantes da Judéia viram-na de longe... E nós, por termos vindo depois, não veríamos nada, nem de longe, nem de perto?

Entretanto nós amamos este Jesus, como O amavam os discípulos daquele tempo... e, por isso, nós também queremos vê-Lo, tocá-Lo, sentir a sua presença, ver a sombra da sua grande alma.

Como será... onde será... oh! Meu Deus? Pois é uma necessidade!

II. A presença sacramental

Aqui estamos em frente do mais sublime e do mais terno dos mistérios do amor divino: a sagrada Eucaristia, da qual Santo Agostinho dizia ser a extensão e a perpetuidade da encarnação.

A humanidade tem sido muitas vezes iludida em seus sonhos: ela não o pode ser neste sonho de possuir Jesus Cristo até o fim dos séculos.

Oh! Filho de Adão, toma o teu bastão de viandante e quaisquer que sejam as praias civilizadas ou bárbaras, onde te leve a providência; qualquer que se a igreja que encontrares: basílica soberba, ou choupana de palmeiras, encontrarás um altar, um tabernáculo e ao lado deste tabernáculo uma pequena lâmpada, que sempre arde. E que diz ela?

Ela te anuncia a eterna presença de Deus no seio da humanidade.

Nada temos a invejar aos habitantes da Judéia, que viviam perto de Jesus... nós O temos entre nós, de dia, de noite, pelos séculos afora.

Temos na Eucaristia o mesmo Jesus da Judéia e do céu!... É a mesma substância, é apenas o modo de ser que difere; falta apenas afastar o véu, penetrar a nuvem e teremos em nossas mãos o mesmo Jesus Cristo.

Isto é o meu corpo, dizia Ele na última ceia. E com este corpo, temos a sua alma, a sua pessoa inteira... e nesta pessoa temos Aquele que habita nela corporalmente, isto é: Quem me vê, vê também o meu Pai... Temos tudo!

Que nos fica a desejar, senão ver o que possuímos; retirar o véu para ver claramente, por uma visão manifesta, o que temos, mas que não vemos?

III. Conclusão

Eis como a presença de Jesus Cristo, na sagrada Eucaristia, é a prova sublime da religião verdadeira.

Uma religião que não nos dá a perpetuidade da presença de Jesus Cristo é uma religião falsa; mas a que nos diz: nós possuímos o Cristo vivo, o Cristo inteiro, o Cristo eterno entre nós, esta, e só esta é a única religião verdadeira.

As outras seitas religiosas nos apresentam um Cristo histórico, um Cristo morto, um Cristo fugitivo... tais religiões não correspondem às grandes esperanças da nossa alma, são pois religiões humanas, mortas.

Só a religião cristã nos apresenta o Cristo vivo, escondido, mas realmente possuído, cuja grandeza se oculta sob umas aparências simples, mas significativas... só ela é, pois, a religião divina: a religião verdadeira.

Deste modo a Eucaristia ou permanência de Jesus Cristo na Hóstia sagrada é a grande prova apologética da religião verdadeira, e nos transporta, de um salto, das suposições à realidade... das probabilidades à certeza, da esperança à possessão do bem esperado: Ubi Hostia, ibi religio vera.

EXEMPLOS

1. Visões de Santos

Muito santos tiveram a faculdade de sentir a presença da Sagrada Eucaristia, até à grande distância

Santa Ida, de Lovaina, sentia a presença de Nosso Senhor na consagração, no momento em que baixava sobre o altar.

Santa Collecta, percebia de longe o erro daquele que servia à Santa Missa, quando em vez de vinho, apresentava por engano água ao sacerdote, ou um vinho falsificado que não permitia a consagração.

Juliana, religiosa cisterciense, percebia de longe, fora da igreja, quando se retirava o Santíssimo Sacramento da Igreja de São Martinho, depois do ofício divino.

O venerável Casset, sentia o mesmo fato, à distância. Os franciscanos tendo-o convidado um dia para assistir a uma festa, quiseram experimentar a perspicácia sobrenatural do santo.

Retiraram o Santíssimo Sacramento do Tabernáculo, onde era conservado habitualmente, e o transferiram para outro altar lateral, sem entretanto, retirar a lâmpada do lugar acostumado.

Casset foi para Igreja com seu companheiro e vendo este último fazer a genuflexão diante do altar onde ardia a lâmpada do Santíssimo, lhe disse:

— Não é aqui que está o copo de Jesus Cristo, mas neste outro altar, onde não há lâmpada, pois os religiosos esconderam-no neste altar lateral.

São Francisco de Borgia era dotado do mesmo dom. Quando entrava numa igreja, ia direto para o lugar onde estava o Santíssimo Sacramento, mesmo quando nenhum sinal exterior denunciava a sua presença.

A Venerável Joana Matles distinguia uma Hóstia consagrada entre mil outras não consagradas.

2. São Gregório

Para a consolação dos fiéis, como para fortalecer-lhes a fé, Nosso Senhor levanta, às vezes, o véu que o esconde no Santíssimo Sacramento e mostra-se sob uma forma sensível.

Na primitiva Igreja, eram os fiéis que ofereciam o pão e o vinho para o santo Sacrifício.

Nesta ocasião, uma dama romana, recebendo um dia a Comunhão das mãos de São Gregório, testemunhou exteriormente uma leve dúvida, ouvindo chamar: corpo de Jesus Cristo, o pão que ela mesma havia fabricado.

O santo querendo firmar a fé vacilante desta cristã boa, mas fraca, depositou a Hóstia na pequena patena dourada, prostrou-se de joelhos e permaneceu uns instantes em oração.

Levantando-se, retomou a Hóstia, que estava visivelmente mudada em carne viva e sanguinolenta.

3. Aparição do Menino Jesus

Enquanto Pedro de Tolosa oferecia o santo Sacrifício, no momento da elevação, o Menino Jesus lhe apareceu resplandecente de uma formosura maravilhosa.

Ofuscado pela intensidade luminosa da visão, o santo fechava os olhos, porém, a visão continuava sempre.

Virando a cabeça de lado continuava a ver Nosso Senhor, ora em cima da sua mão, ora em cima do seu braço, para qualquer lado que se virava.

Este fenômeno se reproduziu todos os dias, durante três meses.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 133 - 140)

16 de março de 2014

SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA.

A única religião

A transfiguração de Jesus no Tabor é uma das cenas mais resplandecentes da vida de Jesus.

Homem perfeito e Deus perfeito, Jesus se encontrava em toda a parte homem pela humildade e Deus pelo poder.

Em cima do Tabor, Ele depõe um instante o manto das aparências humildes e deixa a majestade divina aureolar a sua fronte.

Tal manifestação gloriosa era necessária para firmar a fé de seus discípulos no meio das cenas angustiosas da sua paixão que devia seguir-se em breves dias.

É também a imagem de uma outra cena que devia prolongar-se através dos séculos: e a qual vamos meditar hoje

1o. A presença corporal de Jesus.
2o. A sua presença eucarística.

Este duplo fato é como a transição da religião em geral para a única religião verdadeira: a religião católica.

I. A presença corporal

O mundo clamava pelo Redentor. O Rorate, coeli, desuper dos profetas, era um hino que brotava de todos os corações... E eis que um dia veio este Salvador esperado.

No centro do mundo..., no meio dos tempos, sessenta séculos após a criação... na grande unidade material que o povo romano havia realizado... a grande unidade religiosa apareceu.

O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Nós O vimos, diz São João, ouvimo-Lo, tocamo-Lo com nossas mãos; e encantados, nos reclinamos sobre o seu peito.

Oh! Maravilha inefável que o mundo em seus mais ardentes anelos não teria podido imaginar: os pequeninos viram-no de perto... os pobres tocaram-no com as mãos... E que digo? Ele deixou as criancinhas subirem sobre seus joelhos e nem sequer afastou de si os pobres pecadores!

Uma pobre mulher enferma beijou a orla de seu vestido... E encorajada pelo amor, uma outra mulher teve a ousadia de tomar em suas mão os pés do Filho de Deus... estes pés virginais e sagrados, banhando-os com suas lágrimas e purificando-se pelos beijos que sobre eles depositava.

Outra vez, no auge da ousadia do amor, um coração virginal, na maior das intimidades da pureza, reclinou a cabeça sobre o peito divino do Redentor e ali adormeceu num êxtase celestial.

Isso durou três anos... Depois, para acabar de comover e atrair os corações, este Jesus subiu ao Calvário, na glória de uma beleza até então desconhecida, pois era a beleza do sofrimento, da divindade e do amor!

E enquanto o Filho de Deus morria para dar à humanidade a medida do seu amor... a pobre humanidade desfalecia de dor, aos pés de sua cruz, na pessoa de Maria... suspendia-se nas suas chagas na pessoa da Madalena... fixava sobre seu semblante exangue e agonizante, olhares amorosos, na pessoa de João... o desprendia da cruz na pessoa de Nicodemos e antes de sepultá-lo no túmulo, o cobria de beijos na pessoa de sua Mãe.

É a grande, a sublime, união de Deus e do homem, do pai e do filho.

II. A presença eucarística

Oh, como tudo isso é belo e divinamente louco de amor.

Mas, ó meu Deus! Não me sinto satisfeito... quero mais do que isso: A presença dos corpos tende para a presença das almas.

Enfim, o que se ama é a alma: É a alma, e entretanto é impossível segurá-la! Ela foge, ela se esconde e nos mostra apenas a sua sombra, projetada sobre o corpo.

Nós precisamos da alma de Jesus! Eis porque Ele disse: É preciso que eu vá — Expedit vobis ut ego vadam!

Jesus nos diz: Eu vou retirar-me... o meu corpo vai desaparecer, mas não é a ausência que vai suceder-lhe: é uma presença mais alta.

Eis porque, na última ceia, este mesmo Jesus toma o pão e muda-o em sua substância e diz: Tomai e comei, isto é o meu corpo... Aquele que come minha carne fica em mim e eu nele. Eis a união das almas.

Jesus nos dá o seu corpo, mas este corpo é o intermediário da união das almas. É um corpo espiritualizado, envolto em frágeis aparências de pão, para impressionar os nossos sentidos e avisar-nos de que Deus está ali.

A nossa fé deve penetrar este véu tênue que flutua diante dos nossos olhos! Sob estas aparências tocamos o corpo e o sangue do Salvador, mas estamos em presença da sua alma.

É por isso que a Igreja em seu canto nos diz: O que Deus te dá, com o corpo é o sangue de Jesus Cristo, é a sua alma e a sua divindade.

Oh! Meus olhos, fechai-vos!... Recolhe-te, oh, minha alma, e sente o contato espiritual da alma de Jesus. Alma à alma!... Coração à coração... sem intermediário... sem obstáculo: Tu in me, et ego in te! Eis o mistério eucarístico! Quem comunga nada tem que invejar aos contemporâneos de Jesus Cristo! Não o vê com os olhos... não o apalpa com as mãos... Há mais do que isso, as almas se unem, os corações se tocam.

É a última palavra de união neste mundo!

III. Conclusão

Tiremos a conclusão: a Eucaristia é o termo de união entre Deus e o homem! A presença de Jesus Eucarístico é a prova da verdade da religião... é o estandarte que indica a todos, entre as várias seitas religiosas, qual é a única religião verdadeira.

Jesus veio a este mundo e Ele permanece neste mundo. Esta permanência é o sinal da verdade... e o distintivo da religião verdadeira.

Nenhuma seita religiosa teve a ousadia de dizer que tem a pessoa e a alma de Jesus Cristo em seu meio: Todos contentam-se com o Cristo histórico... o Cristo Evangélico... de há 1940 anos... Só a Religião Católica clama bem alto: Eu venero o Cristo Evangélico: é a sua palavra, mas eu possuo o Cristo vivo, o Cristo inteiro... o Cristo Eucarístico... o Cristo que não morre... mas continua a viver entre nós, no meio de nós, no peito de cada um de nós.

Que prova admirável, apologética, da religião divina, da única religião fundada pelo próprio Cristo! É a transição lógica entre a religião em geral e a religião única e verdadeira: a religião cristã.

EXEMPLOS

1. A religião verdadeira

Henrique IV, rei da França, sendo exortado pelos seus amigos a abjurar o protestantismo, no qual havia sido educado, perguntou aos Bispos católicos se podia salvar-se na religião católica.

Responderam-lhe que não somente podia salvar-se nela, mas fora desta religião não havia salvação.

Dirigiu-se depois aos pastores protestantes, que lhe confirmaram que na religião católica a salvação é possível.

- Se assim é, respondeu o rei, vou abraçar a religião católica, pois numa questão tão importante convém tomar o partido mais seguro. E fez-se católico.

O partido que abraçou não era somente o mais seguro... era o único seguro, pois não há duas religiões verdadeiras, mas uma só.

2. A lâmpada do santíssimo


Em Londres, no ano de 1900, saiu um dia de casa a passear com a filhinha de seis anos, o ministro protestante, reverendo dr. Mann Hils.

Ao passar por uma igreja católica, lembrou-se o ministro de entrar com a pequena. A menina fixou a atenção na bonita lâmpada do Santíssimo, que, nesse momento, derramava uma claridade meiga e suave.

- Para que é a lâmpada? Perguntou-lhe a criança.
- Para mostrar, respondeu-lhe o pai, que ali no altar, está Jesus, por detrás daquela portinha dourada.
- Ah! Eu quisera ver a Jesus!
- Filhinha, não pode ser. A porta está fechada à chave; além disso há umas cortinas, ficando Jesus detrás das mesmas!...
- Papai, insistiu a pequena, eu quisera ver a Jesus!...

O ministro procurou entreter a filhinha mostrando-lhe outras particularidades da igreja, e a conduziu para fora.

Passeando pela cidade, a menina, de vez em quando, perguntava por Jesus.

Dadas algumas voltas, o pai entrou num templo protestante.

Aí a criança relanceou a vista por todos os lados e não vendo lâmpada alguma, perguntou:

- Papai, por que é que não vejo lâmpada aqui?
- Porque... porque aqui não está Jesus, respondeu-lhe timidamente o ministro.

Então nada mais houve. A menina sonhou muitas vezes naquela noite, falando alto sobre Jesus.

Durante o dia seguinte, com freqüência, repetia que queria ver a Jesus.

Tal persistência produziu efeito no ânimo dos pais, que terminaram por abraçar a religião católica e com ela a pobreza, pois a conversão lhes fez perder uma renda de mil libras anuais, de que gozava o marido sendo ministro protestante.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 126 - 131)

9 de março de 2014

PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA.

A Religião Perfeita

Lendo o Evangelho de hoje, ficamos impressionados pela majestade calma do divino Mestre, diante do furor de satanás que procura excitar em seu espírito qualquer pensamento de sensualidade, de orgulho ou de ambição.

É uma das faces da perfeição da religião que podemos contemplar na calma dos santos no meio das maiores tribulações... Eles são fracos, como todo homem o é, mas apresentam-se fortes, de uma força divina, que lhes vem da religião, da sua união com Deus.

Encontraram Deus... e neste encontro, sentem que embora vivam na terra, não são mais da terra.

Contemplemos uns instantes este aspecto perfeito da religião no fenômeno de seu aperfeiçoamento progressivo até chegar ao pleno dia de sua glória.

Embora a religião seja tão velha quanto o mundo, ela não foi, entretanto, perfeita desde a sua primeira aparição...

Ela é sempre o encontro, o abraço de Deus e do homem, mas este abraço foi apertando-se através dos séculos. Examinemos pois:

1o. Quando nasceu a religião,
2o. Qual foi o seu aperfeiçoamento.

Duas noções que vão mostrar-nos a religião em todo o esplendor da sua divindade e todas as ternuras do coração de Deus.

I. Quando nasceu

Deixemos de lado toda discussão e as provas inúteis. Seriam incapazes de enternecer aquele que contempla sem emoção o impressionante espetáculo do conjunto da religião, suas longínquas origens, confundidas com as da humanidade... o seu caminho luminoso... os seus desenvolvimentos progressivos e nesta magnífica síntese, a sua plena correspondência com a parte elevada, amante e celeste da nossa alma.

Onde nasceu a Religião?

Ela nasceu no mesmo berço, onde nasceu o primeiro homem: nos braços de Deus. O primeiro sopro de vida do homem foi um ato de religião para com o Criador.

A iniciativa veio de Deus: Ele falou por primeiro. Criador que era do homem, que não tinha, nem pai, nem mãe, nem experiência. Deus inclinou-se sobre este homem e tal a mão sobre o seu recém nascido, murmurou-lhe as primeiras sílabas da religião.

Deus falou a Adão e o contemplou e com esta palavra e este olhar divinos, encantou o seu coração e o fez palpitar de , de esperança e de amor, os atos essenciais da religião.

“Vê, dizia Ele, esta terra... estes céus, estas imensidades. Eu criei tudo para ti... Tu serás o rei das minhas obras: Praesit universae terrae!”

A terra inteira, eis o teu reino! Come livremente de todos os frutos que a terra te der, entretanto, tu não comerás do fruto da árvore do bem e do mal... senão morrerás!

Eis a primeira palavra de Deus: contém, ao mesmo tempo, um dom e uma ordem: um dom, porque Deus é Pai; uma ordem, porque é Rei.

O dom é imenso: dedit universa, para excitar o homem à gratidão, mas há um limite, para lembrar-lhe que é criatura.

Eis já toda a arquitetura da religião: ela será desenvolvida pouco a pouco, porém sem nada mudar. A Religião é um dom; é também uma ordem. O dom vem do amor; a ordem conduz ao amor.

O amor é o princípio, o berço, o fim, a glória da religião. Como já vimos, é o encontro, o abraço de Deus e do homem: e Deus é amor e neste abraço Ele comunica seu amor à sua criatura.

Eis o nascimento, o berço da Religião!

II. O seu aperfeiçoamento

Seria um estudo prolongado se quiséssemos seguir, passo por passo, o progresso exterior da religião.

Neste progresso, não se trata de mudança, mas de aperfeiçoamento, pois Deus vai se revelando aos poucos, conforme a capacidade das inteligências e as necessidades das épocas.

De Adão a Moisés, há um aperfeiçoamento gradativo, preparativo.

De Moisés a Jesus Cristo, o progresso é mais rápido, mais profundo e mais extenso.

Limitemo-nos ao ponto saliente, dominante de todo progresso: a união.

A palavra de Deus é uma imensa consolação para o mundo, mas não basta.

O amor não quer somente a voz de quem ama, quer possuí-lo.

A religião, apenas nascida, envolta ainda nos paninhos de seus primeiros vagidos, sente uma imensa aspiração de possuir um Deus que resida no meio dos homens, de um Deus que se possa ver com os olhos, tocar com as mãos e apertar contra o coração.

Sem isso, todo amor se empalidece e se apaga.

Tal é a profundeza desta aspiração, que os próprios judeus foram arrastados por ela e chegaram a fabricar-se deuses falsos.

A arca da aliança não lhes bastava, como não bastavam os ídolos aos pagãos. Era preciso que Deus viesse e habitasse entre nós, cheio de graça e de verdade.

Ele veio um dia satisfazer todos os sonhos e todas as aspirações das almas sublimes e das nações religiosas.

Ele veio. E o verbo se fez carne e habitou entre nós.

III. Conclusão

Lá ao longe, na pequena cidade de Belém, um menino nasceu, numa gruta; a sua mãe deitou-o num presépio e prostrou-se por terra, para adorar o seu Deus e o seu Filho, enquanto um coro luminoso de anjos cantou: Glória a Deus nas alturas e na terra paz aos homens de boa vontade!

É a última etapa da religião... Ela foi aperfeiçoando-se através dos séculos, pela revelação da palavra divina: alcançou a sua última perfeição no presépio de Belém... onde a religião dos Patriarcas toma o nome de Deus conosco, ou Emanuel.

De hoje em diante a Religião não é mais simplesmente a palavra de Deus, é o próprio Deus feito homem. É Jesus Cristo.

EXEMPLOS

1. Palavra de Napoleão

Napoleão, conversando um dia com Madame Montesquiou, a respeito de Bernardotte, um de seus soldados feito rei da Suécia, disse:

- Eis uma fortuna para ele.
- Sim, porém há um reverso triste na medalha, respondeu Madame de Montesquiou.

De fato, para subir ao trono, Bernardotte havia sido obrigado a renegar a religião católica.

- É verdade, disse o Imperador; e eu que passo por ser ambicioso, não renunciaria a minha fé por todas as coroas do mundo.

Confiando a Madame de Montesquiou a educação de seu filho único, que havia proclamado rei de Roma, disse-lhe: Madame, faça dele um bom cristão.

Um dos presentes sorria levemente, admirado de uma tal recomendação.

- Sei o que digo, completou Napoleão, se o meu filho não for um bom cristão, nunca será um bom francês.

Nós também, brasileiros, podemos dizer: - Quem não é bom cristão não pode ser bom brasileiro!

2. Presença de Deus

O Padre Carlos Foucauld, ex-oficial do exército, tinha-se feito monge no deserto africano. Um dia um amigo foi visitá-lo conversando com ele em sua cela de eremita.

Quando deu hora de sair, o visitante lhe disse: Desculpe-me de deixá-lo sozinho.

Sem refletir, o Padre lhe respondeu instintivamente: Oh, eu nunca estou só.

E vendo que havia deixado escapar um segredo, inclinou a cabeça.

3. Nobreza de cristão

Ingo, duque de Corintho, quis demonstrar um dia a seus súditos a nobreza de seus títulos de cristão.

Convidou à sua mesa um grande número de católicos pobres e uns nobres de seu reino ainda pagãos.

A mesa dos nobres foi posta numa varanda, e o duque lhes fez servir alimentos comuns.

Os pobres, ao contrário, foram admitidos no salão de honra à própria mesa do duque, que os tratava com toda magnificência.

No fim do banquete, os nobres, furiosos, perguntaram-lhe a razão de tão extraordinário proceder.

- Estes pobres, respondeu o duque com calma, são filhos de Deus e como tais merecem toda honra. Desde que vós vos tornardes dignos de ser filhos de Deus, pelo Batismo, tereis o mesmo direito deles.

A lição foi compreendida e em pouco tempo vários nobres pediram o Batismo e tornaram-se depois católicos fervorosos.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 119 - 124)

2 de março de 2014

DOMINGO DA QUINQUAGÉSIMA.

Os atos da religião

O Evangelho retrata a profecia de Jesus a respeito da sua paixão, morte e ressureição, e termina pela cura do cego.

Parece não haver relação entre estes dois fatos, aparentemente tão opostos.

O Evangelho faz notar que os apóstolos não compreenderam as profecias, porque tal linguagem lhes era obscura. Eram cegos espirituais.

Curando o cego, o Divino Mestre, parece indicar-nos que devemos pedir uma vista espiritual para compreender as coisas divinas, a qual é o espírito de fé.

Entre estas coisas divinas, ocupam o primeiro lugar as verdades que estamos meditando a respeito da necessidade, da constituição, e da base da religião.

Vamos completar este assunto considerando hoje a parte íntima e sobrenatural da religião, que se pode chamar: os atos formadores da religião.

Esta parte consta de três atos:

1. Crer em Deus
2. Esperar em Deus
3. Amar a Deus.

Eis os três atos que põem as almas em contato com Deus e que por isso são chamados: as três virtudes teologais.

I. Crer em Deus

A religião é o encontro de Deus com o homem, ou união íntima de ambos.

Já vimos porque eles se unem. É para satisfazer ao mútuo atrativo que os impele um para o outro.

Esta verdade é fundamental para ter uma noção exata da religião e sair da idéia materialista que faz acreditar que a religião é apenas um código de leis, imposto por Deus ao homem.

Vejamos agora o modo de união entre Deus e o homem. Como se unem eles?

Como pode um espírito unir-se a outro espírito?
Como pode um coração unir-se a outro coração?
Como pode a força divina unir-se á fraqueza humana?

Deus é uma alma; é mais que uma alma: é um puro espírito, isto é, independente de toda matéria, enquanto a alma é criada para ser unida a um corpo.

O homem é uma alma. E como se unem as almas?

É aqui que vamos entrar, de pleno, no santuário da religião, conhecê-lo no fundo.

Na natureza espiritual do homem há duas séries de atos que se correspondem. São:

a) Os atos pessoais, solitários, em si e para si.
b) Os atos de relação, pelos quais ela se liga as relações com as coisas e as pessoas que a cercam.

Pelo primeiro ato, o homem vê, observa e julga: é a sua razão.

Pelo segundo ato, o homem interroga, acredita, executa: é a , humana ou divina.

São dois elementos da nossa vida espiritual, sobre os quais tudo repousa: a razão e a fé.

Não basta possuir a razão: é preciso ter a fé, senão tudo se destroe e se corrompe neste mundo.

Rejeitando a fé, para se limitar a razão, seria não ter fé em ninguém, destruir a família, a amizade, o amor a sociedade.

Os filhos têm fé em seus pais, o aluno em seu mestre, a espôsa em seu marido, o enfermo no médico, o soldado em seu chefe, e o homem em Deus.

Sem fé rue a sociedade e rue a religião.

Eis porque as coisas mais sagradas repousam sobre a fé, sem contradizer e sem destruir a razão.

Deus é um espírito. Ora, só há um meio de entrar em relação com um espírito: é de interrogá-lo e de crer em sua palavra.

O primeiro ato de religião é, pois, ter fé em Deus.

II. Esperar em Deus

O segundo ato de união com Deus, ou de religião é: esperar em Deus.

O homem deve esperar:
Ora, esperar é pedir.
De modo que a oração é filha da esperança.

Um homem implora a outro homem.
A criança implora aos pais.
A fraqueza implora à força.

É isto que forma o encanto da família, da amizade, da sociedade.

A cada instante a força está em luta com a fraqueza e é esta vencedora daquela, pela súplica e pela esperança.

Ora, se assim acontece na terra, porque é uma lei básica da sociedade, porque não seria assim com Deus? Ele é Pai: nós somos seus filhos. Ele é Rei: nós somos seus súditos. Ele é poderoso: nós somos fracos. Logo a esperança é uma parte essencial de religião; é o segundo ato que une as nossas almas a Deus.

III. Amar a Deus

Acima da fé, há a esperança.
Acima da esperança há o amor.
Acima do amor não há mais nada, pois Deus é amor: Deus caritas est.

O terceiro ato de união com Deus, ou terceira parte essencial da religião,é o amor.

O homem ama a si mesmo; mas ele não pode contentar-se com este amor: é egoísmo.

É preciso que saia de si mesmo para amar, como ele sai de si para crer e para esperar.

Com este último ato ele termina a sua vida de relação.

No homem tudo se reduz ao amor.
O corpo é movido pelo espírito.
O espírito é movido pela vontade.
A vontade é movida pelo amor.

É Santo Thomaz quem no-lo afirma: voluntas bona, amor bonus.

IV. Conclusão

Tal é a religião. E esta concepção é a única exata, evitando ao mesmo tempo, o materialismo e o falso misticismo.

A religião é divina e humana.
Divina, porque Deus se abaixa até o homem.
Humana, porque o homem se eleva até Deus.

E o encontro, como os deveres deste encontro, chama-se: religião divina.

A religião é: Deus e o homem extendendo-se os braços, procurando-se, encontrando-se, abraçando-se.

Para destruir a religião, mister fôra destruir Deus e o homem.

Se destruissem só o homem, Deus o criaria de novo, para poder amá-lo.

Se, por impossível, destruíssem a Deus, o homem se faria um falso Deus, um fetiche...para poder amá-lo, pois o homem não pode viver sem Deus.

EXEMPLOS

1. As próprias luzes

Brücker é conhecido pelas respostas e pelos atos repentinos de um bom senso irretorquível.

Um de seus amigos, célebre escritor convertido, queria um dia provar-lhe que a revelação, a fé, podiam ser úteis em tempo de barbária, mas, que hoje as próprias luzes do homem civilizado eram-lhe suficientes.

Brücker tomou um livro de mesa e pediu ao seu amigo de o ler em alta voz.

Durante este tempo Brücker fechou cuidadosamente as janelas e portas da sala, de modo a reinar uma escuridão completa.

- Que estás fazendo? Perguntou o outro
- Meu amigo, entrego-te às tuas próprias luzes, respondeu Brücker, fazendo-lhe perceber deste modo como a razão humana é tenebrosa sem as luzes da fé.

2. Irmã Escolástica

São Philippe de Nery foi visitar um dia uma Irmã de Convento de Santa Marta, chamada Irmã Escolástica, horrívelmente atormentada pelos escrúpulos, julgando-se ser reprovada.

- O céu lhe pertence, disse o santo.
- Oh! Impossível, meu pai, respondeu a religiosa.
- É uma loucura sua, respondeu o santo, eu digo que o céu lhe pertence. E eis a prova. Diga-me, para quem Jesus Cristo morreu?
- Para os pecadores.
- Pois bem, a senhora é uma grande pecadora; logo, Nosso Senhor morreu para salvá-la... e o reino do céu lhe pertence.

Estas palavras restituiram a paz à boa religiosa... que compreendeu que a esperança em Deus é uma parte essencial da religião.

3. Santa Osana de Mântua

Tinha apenas seis anos quando tocada do amor de Deus, a criança pedia ao céu o que devia fazer para agradar-lhe em tudo.

Uma voz interior lhe respondeu: O que agrada a Deus é amá-lo de todo o teu coração.

Outra vez Nosso Senhor lhe apareceu sob os traços de um adolescente encantador, com a fronte coberta de longos cabelo anelados, mas carregando uma cruz pesada nos ombros e com a cabeça cercada de uma coroa de espinhos.

Extendendo seus bracinhos para a menina, lhe disse: Osana, eu sou o filho de Maria; a meu exemplo, dispõe-te a sofrer muito! Não tenhas medo entretanto, eu não te abandonarei... E desapareceu, deixando a santa menina toda inflamada de amor e do desejo de agradar a Jesus.

Desde então a sua vida foi uma oração e uma penitência continuas.

Obstáculos a sua virgindade que havia consagrado a Deus... estigmas nos pés e nas mãos... desprezo do mundo... ataques do demônio.. .nada faltou à sua coroa.

Ela tudo suportou e repetia muitas vezes: "Prefiro, amando a Jesus, estar no inferno com Judas, do que estar no céu com os maiores santos, sem amar a Deus".

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 111 - 117)