6 de abril de 2014

DOMINGO DA PAIXÃO.

A religião cristã

Entramos no tempo sagrado da Paixão. Apenas quinze dias nos separam da Páscoa.

Para preparar-nos à grande data comemorativa da Ressurreição do Salvador, meditemos umas palavras do Evangelho de hoje.

Jesus disse aos judeus: Se vos disse a verdade, por que não me credes? Aquele que é de Deus escuta as palavras de Deus, por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus.

Escutar as palavras de Deus é ser de Deus: escutar as palavras dos inimigos de Deus e pertencer a estes inimigos é professar uma religião falsa, que não é de Deus.

Infelizmente há religiões falsas, fabricadas pelos homens e aqueles que abraçam-nas não querem ser de Deus, ou não são dignos de sê-lo.

Não vamos refutar aqui a seita do paganismo, nem a do maometismo, nem o judaísmo, que não têm valor, nem adeptos entre nós, mas vamos examinar as marcas da religião verdadeira em geral, da religião cristã.

Esta religião é divina, a única divina, porque:

1. Foi fundada por Jesus Cristo.
2. Conservou intacto o ensino de Jesus Cristo.

Estes dois pontos são o bastante para dar um fundamento seguro à nossa fé e refutar todas as doutrinas adversas.

I. Fundada por Jesus Cristo

A religião cristã, como o seu nome o indica, foi fundada por Jesus Cristo, não no sentido que antes não existiu, mas sim, que por Ele foi levada à sua suprema perfeição.

Cada seita religiosa, remontando, no tempo, até ao seu berço, encontra necessariamente o fundador.

Quatro religiões dividiam antigamente o mundo. São:

1. O paganismo; religião daqueles que, em geral, adoram criaturas, ou ídolos feitos pelas suas próprias mãos. É a idolatria que foi a religião dos povos, antes de Jesus Cristo, fora o povo de Israel. Hoje só os selvagens professam ainda esta crença.

2. O maometismo, estabelecido por Maomé em 620. É uma mistura confusa de idéias pagãs, judaicas, com umas noções desfiguradas de cristianismo. Existe hoje ainda na Turquia.

3. O judaísmo, que remonta à criação do mundo, tendo Deus por autor, e tendo por fim: preparar a vinda do Messias, isto é, o fundador do Cristianismo. Até Jesus Cristo era a religião divina, verdadeira, porém, depois da vinda do Messias, tendo realizado o seu papel preparatório, figurativo, foi substituída pela realidade.

4. O Cristianismo, fundado por Jesus Cristo, que se disse Messias, Salvador do mundo, verdadeiramente Deus, Filho de Deus e provou a sua missão pelas profecias e pelos milagres. É a única religião que possui a revelação divina. O Cristianismo é a religião fundada por Jesus Cristo.

Infelizmente, como veremos mais adiante, os erros penetraram na religião cristã, e lhe arrancaram milhares de almas, sobretudo por meio do apóstata Lutero, fundador do protestantismo.

O verdadeiro Cristianismo encontra-se no Catolicismo, espalhado no mundo inteiro e tendo por Chefe o sucessor de São Pedro, o Papa de Roma.

II. Conservação do ensino de Jesus Cristo

É a religião fundada por Jesus Cristo, que Ele chamou "minha igreja" — Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Math. XVI 18). Esta Igreja conservou íntegros os ensinamentos de seu divino fundador.

De fato, se houvesse falsificação, teria sido apontada e provada pelos próprios cristãos, como pelos inimigos dos cristãos.

É absolutamente certo que a religião de Jesus Cristo foi veridicamente escrita nos Evangelhos, pois os Evangelistas não quiseram enganar a humanidade, não havendo nenhum interesse pessoal; não podiam enganar-se, pois eram testemunhas oculares; nem teriam podido enganar-nos, pois estavam cercados de inimigos numerosos e rancorosos, que teriam logo reclamado. Tal religião, descrita no Evangelho, vem até nós, tal qual foi composta, pois temos por garantia os próprios cristãos, os inimigos dos cristãos e a conformidade dos numerosos manuscritos.

Ora, os cristãos sempre conservaram e veneraram o Evangelho como um livro divino, que liam e meditavam com amor. A própria Igreja e os Concílios o colocavam num trono de honra e o consultavam em todos os seus ensinamentos.

Um tal livro não se falsifica, nem pode ser falsificado, sem que seja do conhecimento público.

Temos como garantia da integridade da religião cristã, os próprios e numerosos inimigos, que teriam logo acusado de impostura a mínima modificação num livro que serve de fundamento à religião inteira.

Além disso, temos outra prova irrefutável na concordância substancial, perfeita, dos numerosos manuscritos espalhados, desde os primeiros séculos.

Desde os tempos dos Apóstolos, as diversas igrejas queriam possuir uma cópia autêntica dos Evangelhos e tais cópias foram-se multiplicando por milhares e milhares, além das numerosas traduções em línguas estranhas.

Como falsificar tais cópias e tais traduções sem que houvesse mais tarde discrepância de doutrina? É impossível.

Ora, juntando mais tarde quantidade de tais cópias e várias traduções, a Igreja encontrou em todas a mais substancial conformidade, sem nenhuma discrepância essencial.

É uma prova certa de que a religião cristã não mudou através dos séculos, mas conservou sempre a sua integridade perfeita.

III. Conclusão

Devemos, pois, concluir que Jesus Cristo é verdadeiramente o fundador da religião cristã. Ora, Jesus Cristo é Deus: tal religião é pois divina.

Esta religião consignada nos Evangelhos, conservou-se através dos séculos, porque era impossível alterá-la, falsificá-la, sem que o mundo protestasse e demonstrasse os erros intercalados.

Tal falsificação foi impossível nos séculos passados, como é impossível em nossa época.

Pode-se falsificar um livro desconhecido; não se falsifica um livro que está nas mãos de todos, que interessa a todos e que contradiz a todas as inclinações humanas.

A religião cristã é pois a única religião divina.

EXEMPLOS

1. Os dois testamentos

O catecismo enumera aqueles que estão fora da Igreja e nomeia em primeiro lugar, os infiéis.

Entre estes é preciso classificar os judeus, que aceitam o Antigo Testamento e rejeitam o novo.

Durante a guerra de 1870, Dom Guibert era Arcebispo de Tours. O Prelado graciosamente pôs o seu palácio a serviço dos membros do governo.

Entre eles havia o advogado Crémieux, que era israelita. Um dia, este disse, sorrindo, ao Arcebispo.

- Monsenhor, vós representais aqui o Novo Testamento e eu o Antigo; resta saber qual dos dois é o melhor.
- Mas, Dr. Cremieux, respondeu sorrindo o Prelado, o senhor que é advogado, sabe que, havendo vários testamentos, o único bom é o último.

Eis porque a única religião boa é a religião cristã.

2. Reformada

Durante a guerra de 1914, um pastor protestante distribuiu aos soldados vários opúsculos em favor da sua seita

- Que há de novo nestes seus livros? Perguntou-lhe um soldado.
- Ensina-se a religião... a nossa, a verdadeira!
- E qual é a sua religião?
- A religião reformada.
- Neste caso, não serve.
- E porque ?
- Porque quando um militar é reformado, isto quer dizer que não serve mais para o serviço.

3. Os ratos e o Monte Branco

Um dia, o P. Combalot pregava em Lyão.

Depois de ter açoitado com o seu verbo vigoroso os inimigos da religião, o orador desceu do púlpito, com passos lentos e, parando de repente, exclamou:

- Meus irmãos, estais vendo ali através das janelas o Monte Branco? Pois bem, asseguro-vos que os ratos não hão de devorá-lo.

Um sorriso esboçou-se da multidão que compreendeu. O Monte Branco não receia as mordidas dos ratos. Assim a religião não receia a perseguição dos viciados e dos libertinos.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 149 - 155)

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