27 de abril de 2014

Preparação para a Morte

PONTO II

Disse São Tomás de Aquino que o dom da graça excede a todos os dons que uma criatura possa receber, porque a graça é a participação da própria natureza divinal. Já antes havia dito São Pedro: “Para que por isso sejais participantes da divina natureza”. Tanta é sua dignidade que Jesus Cristo no-la mereceu por sua Paixão! Ele nos comunicou, de certo modo, o resplendor que recebeu de Deus (Jo 17,22). Deste modo, a alma que está na graça se une intimamente a Deus (1Cor 6,17), e, segundo afirma o Redentor, a Santíssima Trindade vem habitar nela (Jo 14,22).
É tão bela uma alma em estado de graça, que o Senhor se compraz nela e a elogia amorosamente: “Como és formosa, minha amiga, como és formosa!” (Ct 4,1). Parece que o Senhor não pode apartar os olhos de uma alma que o ama nem deitar os olhos de uma alma que o ama nem deixar de dar ouvido a quanto lhe peça (Sl 33,6). Dizia Santa Brígida que ninguém seria capaz de ver a beleza de uma alma em estado de graça, sem morrer de alegria. Santa Catarina de Sena, ao contemplar uma alma em estado tão feliz, disse que preferia dar sua vida para que aquela alma jamais viesse a perder tanta beleza. Era por isto que a Santa beijava a terra que os sacerdotes pisavam, considerando que por seu intermédio recuperavam as almas a graça de Deus.
Que tesouro de merecimentos pode adquirir uma alma em estado de graça! Em cada instante lhe é dado merecer a glória; pois, segundo disse Santo Tomás, cada ato de amor, produzido por tais almas, merece a vida eterna. Por que, pois, invejar os poderosos do mundo? Estando na graça de Deus, podemos adquirir continuamente as maiores grandezas celestes.
Um irmão coadjutor da Companhia de Jesus, segundo refere o Padre Patrignani em seu “Menológio”, apareceu depois de sua morte e revelou que se tinha salvado, assim como Filipe II, rei da Espanha, e que ambos gozavam já a glória eterna. Quanto menor, porém, fora ele neste mundo em comparação ao rei, tanto mais elevado era agora o seu lugar no céu.
Só aquele que a desfrutou pode compreender quão suave é a paz de que goza, mesmo neste mundo, uma alma que se acha na graça (Sl 33,9). Confirmam-no as palavras do Senhor: “Muita paz aos que ama tua lei”. (Sl 118,165). A paz que provém dessa união com Deus excede a quantos prazeres possam oferecer os sentidos e o mundo (Fp 4,7).

AFETOS E SÚPLICAS

Meu Jesus! Vós sois o Bom Pastor que se deixou crucificar para dar a vida a suas ovelhas. Quando eu fugia de vós, não deixastes de me procurar com amorosa diligência. Acolhei-me agora que vos procuro e volto arrependimento a vossos pés. Concedei-me de novo vossa graça, que miseramente perdi por minha culpa. Ao considerar que tantas vezes me tenho afastado de vós, quisera morrer de dor, e de todo o coração me arrependo. Perdoai-me, pela morte dolorosíssima que para mim padecestes na cruz. Prendei-me com as doces cadeias do vosso amor, e não permitais que outra vez me afaste de vós. Dai-me força para sofrer com paciência todas as cruzes que me destinais, já que mereci as penas eternas do inferno. Fazei que abrace com amor os desprezos que receber dos homens, já que mereci ser eternamente atormentado pelos demônios. Fazei, em suma, que obedeça em tudo às vossas inspirações, e vença todo o respeito humano por amor a vós.
Estou resolvido a servir unicamente a vós. Insistam os outros quanto quiserem, eu somente quero amar a vós, meu Deus amabilíssimo. Só a vós desejo agradar. Ajudai-me, Senhor, que sem vós nada posso. Amo-vos, meu Jesus, de todo o coração, e confio em vosso sangue preciosíssimo...
Maria, minha esperança, auxiliai-me com vossa intercessão. Já que vos gloriais de salvar os pobres pecadores que a vós recorrem, — eis que sou vosso servo humilde — socorrei-me e salvai-me.

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