10 de abril de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

02/26  -  De onde vêm o nosso mal?

O nosso primeiro mal é que nos temos em grande apreço, e se nos acomete algum pecado ou imperfeição, ei-nos admirados, confusos, impacientes, porque pensávamos estar bons, resolutos e tranquilos; e portanto, quando vemos que não é assim quando caímos por terra, ei-nos perturbados e ofendidos de nos deixarmos enganar. Se soubéssemos o que somos, em lugar de nos admirar de cairmos, admirar-nos-ia de estar de pé um só dia ou uma só hora. Esforçai-vos por fazer com perfeição o que fizerdes, e quando estiver feito, não pensais mais nisso; mas pensai no que tendes para fazer, caminhando com singeleza na via do Senhor, sem atormentar o espírito. Convém odiar os defeitos, não com um ódio cheio de despeito, mas com um ódio tranquilo; olhai-os com paciência e fazei-os servir para vos humilharem na vossa estima. Considerai os vossos defeitos com mais dó do que indignação, mais humildade do que severidade, e conservai o coração cheio dum amor doce, sossegado e terno. O nosso segundo mal é amarmo-nos; se não temos consolações e gostos sensíveis, eis-nos tristes; se encontramos algumas dificuldades nos nossos justos desígnios, eis-nos apressados a combatê-los desordenadamente, por amarmos as consolações e comodidades. Não quereríamos senão doçuras no serviço de Deus, e não vemos a Jesus, prostrado por terra, suando sangue e água por causa da sua dor interior. Não queremos compreender que, assim como os confeitos secos são os melhores, o que se faz com tristeza é mais meritório perante Deus do que o que se faz com consolação. Deus não quer que gozemos da nossa fé, esperança e caridade, mas que nos sirvamos delas nas necessidades; possuí-mo-las, mas estamos como uma criança privada pelo seu tutor do gozo de todos os bens. Quão felizes somos por estarmos tão de perto sujeitos a este celeste tutor! Devemos adorar a amável Providência, lançando-nos em seus braços. Não, Senhor; eu não quero gozar da minha fé, esperança e caridade, senão para vos dizer com verdade, embora sem gosto, nem sentimento, que antes quero morrer do que abandoná-las. Senhor! se vos agrada que nenhum gosto encontre na prática das virtudes, concordo com isso da melhor vontade. Acontece-nos qualquer trabalho? É preciso recebê-lo com uma resignação calma no agrado de Deus. Vêm-nos alguma alegria? Convém acolhê-la pacífica e moderadamente, sem nos regozijarmos muito por isso. 

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