30 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

III

De fato, qual foi a ação do Espírito Santo na alma dos Apóstolos no dia do Pentecostes?
Para bem a compreender, convém recordar primeiramente a doutrina da Igreja sobre os caracteres das obras divinas. Sabeis que, no domínio da vida sobrenatural, da graça, bem como das obras da criação natural, tudo o que é produzido fora de Deus, no tempo, é feito pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, sem distinção de pessoas. As três pessoas operam então na unidade da natureza divina. A distinção das pessoas só existe nas comunicações incompreensíveis que constituem a vida íntima de Deus em Si mesmo.
Mas, para melhor nos lembrar estas revelações sobre as pessoas divinas, a Igreja, na sua linguagem, atribui especialmente esta ou aquela ação a uma das três pessoas divinas, em razão da afinidade existente entre essa ação e as propriedades exclusivas pelas quais esta pessoa se distingue das outras.
Assim, o Pai é o primeiro princípio, que não procede de nenhum outro, mas do qual procedem o Filho
e o Espírito Santo. Por este motivo, a Ele em particular é atribuída a obra que marca a origem primeira de todas as coisas. Foi o Pai sozinho que criou? Evidentemente que não; o Filho e o Espírito Santo criaram ao mesmo tempo que o Pai e em união com Ele. Mas, entre a propriedade peculiar do Pai, de ser o princípio primeiro nas comunicações divinas, e a obra da criação, há uma afinidade, em virtude da qual a Igreja pode, sem errar na doutrina, atribuir a criação especialmente ao Pai.
O Filho, o Verbo, é a expressão infinita do pensamento do Pai, é principalmente considerado como sabedoria. São-Lhe particularmente atribuídas as obras em que sobretudo se manifesta esta perfeição, como na disposição do mundo. Com efeito, «Ele é aquela Sabedoria que, saída da boca do Altíssimo, atinge e fixa todas as coisas em perfeito equilíbrio, com tanta força como suavidade ». O sapientia quae ex ore Altissimi prodiisti, atingens a fine usque ad finem, fortíter suaviterques disponens omnia.
A Igreja aplica a mesma lei ao Espírito Santo. O que é Ele na adorável Trindade? É o termo, o remate
supremo, a consumação da vida em Deus; fecha o círculo íntimo das admiráveis operações da vida divina. E assim, para nos lembrarmos desta propriedade que Lhe é pessoal, a Igreja atribui-Lhe especialmente tudo o que, na obra da graça, da santificação, diz respeito ao fim, complemento, consumação: é o artista divino que, com os últimos retoques, dá à obra a sua divina perfeição: Dextrae Dei tu digitus. A obra atribuída ao Espírito Santo, na Igreja como nas almas, é levar ao fim, ao termo, à última perfeição, o trabalho incessante da santidade.
Contemplemos agora, por uns instantes, as operações divinas deste Espírito na alma dos Apóstolos.
Enche-os de verdade. Perguntar-me-eis logo: Mas então Jesus Cristo não o tinha já feito? Sim, é certo. Dizia de Si mesmo: «Eu sou a verdade". Viera a este mundo para dar testemunho da verdade,e sabemos que cumpriu inteiramente a Sua missão: Opus consummavi.
Sim, mas agora que deixou os Apóstolos, o Espírito Santo é que se vai tornar o mestre interior. «Não
falará de Si mesmo » , dizia Jesus, querendo com isso significar que o Espírito Santo (que procede do Pai e do Filho e d' Eles recebe a vida divina ) nos dará a verdade infinita que recebe pela Sua inefável processão. «Ele vos dirá tudo o que ouviu, isto é, toda a verdade»; «lembrar-vos-á tudo o que vos ensinei»; « dar-me-á a conhecer a vós: mostrar-vos-á quanto sou digno de toda a glória»: llle me clarificabit.
Que mais? «Os Apóstolos não devem preocupar-se com o que hão de responder, quando os judeus os chamarem aos tribunais; o Espírito Santo lhes inspirará as respostas». Deste modo «poderão dar testemunho de Jesus »: Accipietis virtutem supervenientis Spititus Sancti in vos, et eritis mihi testes . . . usque ad ultimum terrae.
E como é pela língua, órgão da palavra, que se dá testemunho e a pregação do nome de Jesus se deve espalhar pelo mundo, este Espírito, no dia do Pentecostes, desce visivelmente sobre os Apóstolos em forma de línguas.
E foram de fogo. Porquê? Porque o Espírito Santo vem encher de amor os corações dos discípulos. Ele é o amor pessoal, subsistente, da vida em Deus. É também como que o sopro, a aspiração do amor infinito no qual haurimos a vida. Conta-se no Gênesis que «Deus insuflou a vida na matéria formada do barro»: lnspiravit spiraculum vitae. Aquele sopro vital era o símbolo do Espírito ao qual devemos a vida sobreratural. No dia do Pentecostes, o Espírito divino trazia tal abundância de vida a toda a Igreja que, para a significar, «um ruído vindo do céu, semelhante a um vento impetuoso, encheu toda a casa onde estavam reunidos os Apóstolos».
Descendo sobre eles, o Espírito Santo comunica-lhes aquele amor que é Ele próprio. É preciso que os Apóstolos sejam cheios de amor para que, ao pregarem o nome de Jesus, façam brotar na alma dos seus ouvintes o amor do Mestre; é preciso que o seu testemunho, ditado pelo Espírito, seja tão cheio de vida, que prenda o mundo a Jesus Cristo.
Este amor, ardente como chama, forte como o sopro da tempestade, é ainda necessário aos Apóstolos
para poderem arrostar com os perigos preditos por Jesus Cristo, quando tiverem de pregar o Seu nome: o Espírito Santo enche-os de força.
Vede S. Pedro, o príncipe dos Apóstolos. Na véspera da Paixão de Jesus, promete segui-Lo até à morte. Mas, logo naquela noite, à voz duma criada, nega o divino Mestre; jura «que não conhece aquele homem». Vede-o agora no dia do Pentecostes. Anuncia Cristo a milhares de judeus; lança-lhes em rosto, em linguagem cheia de ousadia, o terem-No crucificado; prova a sua Ressurreição, exortando-os a fazerem penitência e a receberem o Batismo. Já não é o discípulo tímido que receia o perigo e "fica de longe"; é a testemunha que proclama diante de todos, com palavras firmes e corajosas, que Jesus Cristo é o Filho de Deus.
Que força nas palavras de S. Pedro! Já nem se reconhece o Apóstolo. A virtude do Espírito Santo transformou-o; o amor que consagra ao Mestre é agora forte e generoso. O próprio Nosso Senhor tinha predito esta transformação, quando disse aos Apóstolos, antes de subir aos céus: «Ficai em Jerusalém até serdes revestidos da luz do alto».
Vede ainda este mesmo Pedro e os outros Apóstolos, poucos dias depois deste acontecimento . Os judeus comovem-se com as suas palavras, com os milagres que operam, com as conversões que fazem em nome de Jesus. Os príncipes dos sacerdotes e os saduceus, que mataram a Cristo, chamam os discípulos e proíbem-lhes pregar o Salvador. Sabeis a resposta que deram: «Não podemos obedecer às vossas ordens, não podemos deixar de dar testemunho do que vimos e ouvimos".
O que é que os leva a falar com tanta coragem, a eles que na noite da Paixão abandonaram Jesus, que,
durante os dias que se seguiram à Ressurreição, "ficaram escondidos, com as portas fechadas, com medo dos judeus": Propter metum judaeorum?  É o Espírito de verdade, o Espírito de amor, o Espírito de força.
Porque o amor que têm a Cristo é forte, por isso mesmo se entregam aos suplícios. Os judeus, vendo que os Apóstolos não se importavam com a proibição, chama-nos aos tribunais. Pedro, porém, em nome de todos, declara que devem «obedecer antes a Deus do que aos homens » .
Sabeis perfeitamente o que os judeus fizeram então. Para vencer aquela constância, açoitaram os Apóstolos, antes de os soltar. Mas, notai o que acrescenta o escritor sagrado. Ao sair do tribunal, diz, «Os Apóstolos estavam cheios de alegria por terem sido julgados dignos de sofrer opróbrios pelo nome de Jesus". E donde é que lhes vinha aquela alegria nos sofrimentos e humilhações? Do Espírito Santo. Pois este não é somente o Espírito de força, é também o Espírito de consolação. "Rogarei ao Pai, dissera-lhes Jesus, e Ele vos dará outro Consolador»: Rogabo Patrem, et alium Paraclitum dabit
vobis . . . Spiritum veritatis.
Não é justo Cristo um consolador? É, sim. Não nos disse Ele: «Vinde a mim, vós todos, que estais
 aflitos, e eu vos consolarei»? Não é Ele, como nos revela S. Paulo, um Pontífice que sabe compadecer-se dos nossos sofrimentos, porque Ele próprio foi também sujeito à dor? Mas este divino Consolador devia desaparecer dos olhos carnais dos discípulos: por isso, pedia Ele ao Pai que lhes enviasse outro Consolador, igual a Ele, Deus como Ele.
Porque é o Espírito da verdade, este Consolador acalma as necessidades da nossa inteligência; porque é o Espírito de amor, satisfaz os desejos do nosso coração; porque é o Espírito de força, sustenta-nos nas lutas, nas provações, nas lágrimas; o Espírito Santo é o Consolador por excelência.

Cansolator optime.
Dulcis hospes animae.
Dulce refrigerium!

Oh ! "Vinde a nós, Pai dos pobres, distribuidor dos bens celestes, Consolador cheio de bondade, doce hóspede da alma, conforto cheio de doçura» !

29 de junho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

Parte 6/7

A Santíssima Virgem apesar de estar cheia de graça e cheia de Deus, foi uma jovem incompreendida dos homens e em especial das suas companheiras.
Era afável e carinhosa com todos; não obstante, parecia concentrada e silenciosa. 
O seu trato íntimo com Deus exigia o silêncio com os homens.
A alma de Maria tinha comunicações divinas como não teve nenhuma outra criatura.
A sua alma devia estar atenta a essas comunicações. E para falar com Deus tinha que deixar de falar com os homens.
Este silêncio também se lhe impunha pela condição das pessoas que a rodeavam.
É verdade que os seus pais eram santos, e santos eram também alguns parentes seus, como sua prima Isabel e seu esposo Zacarias. Porém não eram assim todos os habitantes de Nazaré e dos arredores, não eram assim todas as jovens da sua terra.
Maria devia conservar a sua alma limpa de toda a sombra de pecado e não o teria conseguido se tomasse parte nas conversas frívolas, pouco caritativas e por vezes licenciosa das suas jovens companheiras.
E refugiava-se no silêncio. A jovem Maria taxavam-na de reservada. E tinha de o ser.
Maria guardava em seu coração segredos muito íntimos: o segredo da sua santidade, o segredo dos privilégios extraordinários que Deus lhe tinha concedido, o segredo da sua consagração total e definitiva a Deus, seu Senhor.
Estes segredos não podia, não devia comunicá-los a ninguém; proibia-lho a sua humildade. Para mais, a sua revelação seria contraproducente, pois ninguém a teria compreendido; por isso era reservada no trato com os mais. A jovem Maria acusavam-na de retraída, de não ter intimidade com as jovens da sua idade. Tinha que ser assim.
Ela seguia um caminho diferente das outras jovens. As suas companheiras, ainda as melhores, suspiravam pelo matrimônio, não ter descendência consideravam-no como uma ignomínia.
Estes eram os ideais e as conversas das jovens nazarenas.
Maria consagrara a Deus a sua virgindade para sempre, renunciara ao grande ideal que tinham as suas companheiras.
Via-se nessa alternativa de ter de dizer o que não sentia ou de manifestar os seus propósitos, e nesse caso tê-la-iam por louca, e tê-la-iam posto a um canto.
Por isso a jovem Maria, prudente como era, afastava-se do convívio das outras jovens.
E havia outra razão muito poderosa também. As suas jovens companheiras procuravam diversões frívolas. Ela não podia acompanhá-las e tinha que retrair-se do seu convívio.
As jovens nazarenas estimavam Maria, respeitavam-na, porque a virtude sempre se faz respeitar; porém, se ouvíssemos uma conversa a seu respeito, ouviríamos louvores misturados com censuras. É boa, é carinhosa, é piedosa . . .; mas é taciturna, retraída e pouco condescendente com as mais, e não faltaria alguma que atribuísse a sua atitude e soberba. Não o estranheis, pois Jesus Cristo foi criticado e era a santidade infinita.
Maria era habitualmente alegre, porque tinha na sua alma a fonte mais pura da alegria: Deus, a santidade.
Mas por vezes o rosto formoso de Maria cobria-se de ligeira sombra de tristeza. Os que com ela tratavam, encontravam uma causa muito natural. Tinha perdido seu pai e sua mãe tão cedo!
Estava tão só no mundo! Era órfãzinha.
Mas a sua tristeza tinha raízes mais fundas. Ela conhecia perfeitamente a Deus; sabia como era digno de ser amado; ela amava-o com toda a sua alma mas via a conduta dos homens para com Deus. Quantos o ofendiam, mesmo aqueles que viviam à sua volta!
Estes pensamentos cobriam de tristeza e de compaixão o seu rosto.
Quando estas rajadas de tristeza passavam na sua alma, o rosto da Virgem devia ser um tanto semelhante ao que tinha quando apareceu em Fátima: era triste e compassivo.

28 de junho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 374

EM LUGAR DE CETRO UM CRUCIFIXO

No ano de 1273, o arcebispo de Colônia sagrava na catedral de Aquisgrana o imperador Rodolfo de Habsburgo. Terminada a cerimônia, o imperador, de cetro em punho, devia dar aos príncipes a investidura de seus domínios. Como não foi possível encontrar logo o cetro, Rodolfo, tomando o crucifixo de prata do altar, disse: “Esta é a bandeira d’Aquele que derramou todo o seu Sangue por nós; é o sinal da Redenção, fonte de paz e de todo direito. este será também o meu cetro contra os inimigos meus e os do império”.
Esta Confissão de fé causou em todos grande impressão, aumentando a veneração pelo imperador, a quem Deus concedeu um reinado próspero e afortunado sob a proteção da Cruz.

27 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

II

Temos aqui a razão profunda pela qual Jesus dizia aos Apóstolos: "Quando Eu voltar para o céu, enviar-vos-ei o Espírito».
Jesus Cristo, na Sua natureza divina, é, com o Pai, o princípio do qual procede o Espírito Santo. O dom do Espirito Santo à Igreja e às almas é uma graça inestimável, pois este Espírito é o próprio amor divino. Mas, como ainda há pouco disse, este dom, este envio foi-nos merecido, com toda a graça, por Jesus; é o fruto da Sua Paixão; Cristo pagou-o com os sofrimentos suportados na Sua santa Humanidade. Não era, portanto, de razão que esta graça fosse concedida ao mundo depois de a humanidade que a merecera ter sido glorificada? Esta exaltação da Humanidade de Jesus não se realizou em toda a sua plenitude nem atingiu o seu pleno apogeu senão no dia da Ascensão. Só então é que esta santa Humanidade entrou definitivamente na posse da glória que lhe era devida por duplo título: por ser uma Humanidade unida ao Filho de Deus e por ser Vítima oferecida ao Pai para merecer toda a graça para as almas. Sentada à direita do Pai na glória dos céus, a Humanidade do Verbo Incarnado será assim associada à «missão» do Espírito Santo que será feita pelo Pai e pelo Filho.
Compreendemos agora por que o nosso próprio Senhor dizia aos Apóstolos: «É bom para vós que Eu me vá; porque, se não for, não vos enviarei o Espírito; mas, se Eu voltar para o Pai, enviar-vô-lo-ei». É como se dissesse: mereci-vos esta graça pela minha Paixão; para que vos seja concedida, é mister que à minha Paixão se siga a minha glorificação: quando a glória a que tenho direito me for dada por meu Pai, quando estiver sentado à Sua direita, enviar-vos-ei o Espírito de consolação.
Os Padres da Igreja  acrescentam outra razão, relativa aos discípulos. Um dia, dirigia Jesus aos judeus estas palavras: "Se alguém crer em mim, do seu seio manarão torrentes de água viva». O Evangelista S. João, ao referir esta promessa, acrescenta que Jesus «dizia isto do Espírito que deviam receber aqueles que acreditassem n'Ele. O Espírito não tinha ainda sido dado, porque Jesus não fora ainda glorificado». A fé era a fonte, para assim dizer, da vinda do Espírito Santo a nós. Ora, enquanto Jesus Cristo vivia neste mundo, a fé dos discípulos era imperfeita. Não seria total, não poderia desabrochar em toda a sua plenitude, senão depois de a Ascensão ter ocultado aos seus olhos a presença humana do divino Mestre: "Por isso que viste, creste», dizia Jesus a Tomé, depois da Ressurreição; "bem aventurados aqueles que não viram e creram»!  « Depois da Ascensão, a fé dos discípulos, mais esclarecida, irá procurar Cristo mais longe, mais alto, sentado junto do Pai, igual ao Pai».
Foi porque a fé dos Apóstolos, depois da Ascensão, se tornou mais pura, mais interior, mais viva, mais eficaz, que "os rios de água viva» se derramaram sobre eles com tal impetuosidade.
Sabemos, efetivamente, com que magnificência Jesus cumpriu a Sua divina promessa; como, dez dias depois da Ascensão, o Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho, desceu sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo; com que abundância de graças este Espírito de verdade e de amor se derramou na alma dos discípulos.

26 de junho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

Parte 5/7

A juventude é a idade dos ideais: os jovens devem tê-los; de contrário serão seres inúteis na vida.
A juventude é a idade em que o homem deve ascender o farol do ideal que há de iluminar-lhe continuamente o caminho da vida.
É a idade em que deve marcar a meta para que se esforce por alcançá-la. A Virgem jovem teve também ideais.
Descobrimo-los no diálogo que sustentou com o anjo.
Ideal seu foi cumprir com toda a perfeição a vontade divina: eu sou a escrava do Senhor; que se cumpra em mim a sua vontade. E repetiu isto em todos os instantes da sua vida.
Ideal seu foi acrescentar a graça santificante que Deus lhe infundiu no momento da sua conceição imaculada. E alcançou esse ideal; por isso o anjo lhe chama a cheia de graça.
Ideal seu foi unir-se intimamente com Deus; e conseguiu-o. Por isso o anjo lhe diz: Deus está contigo.
Numa palavra: o seu ideal supremo foi a santidade; e alcançou-o, pois foi a mais santa de todas as criaturas.
Esses mesmos ideais devem ter todos os jovens: Cumprir a vontade de Deus, e para isso têm que resolver um problema importante: o problema da sua vocação.
Têm que procurar sinceramente o estado de vida que Deus quer que escolham, e uma vez que o conheçam, têm que responder como a Virgem: "Fiat", que se cumpra em mim a vontade de Deus. Dentro desse estado de vida têm que propor-se outro ideal: a santidade. Esse é o ideal principal; todos os outros são secundários.
Esse é o ideal supremo; todos os mais devem estar subordinados a ele.
Serás esposa, porém esposa santa. Serás religiosa, porém religiosa santa.
Todos os atos da tua vida devem ir encaminhados a acrescentar a graça santificante da tua alma.
Todos os passos que dês na tua vida, quer sejam pelo caminho do matrimônio, quer sejam pelo caminho da virgindade, têm que ir encaminhados para Deus, para te unires mais estreitamente a Ele; para a santidade.
Nossa Senhora tomou por guia no caminho da santidade a Deus que estava com ela. Praticou o que mais tarde diria Jesus: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito.
Quando Deus se fez homem e esse Deus homem foi seu Filho, Ele foi o seu guia.
Observava Maria o que fazia e dizia Jesus, meditava-o em seu coração e punha-o em prática. Quatro vezes o diz o Evangelho.
Também tu deves ter por guia no caminho da santidade a Jesus Cristo. Ele próprio to diz: Eu sou o caminho.
Santa Teresa do Menino Jesus deixou escrita uma página encantadora.
Tinha só sete anos.
De pé sobre um rochedo solitário, contemplava pela primeira vez o mar.
A sua imensidade, o rumor das ondas, tudo lhe falava da grandeza e do poder de Deus.
O sol, já no ocaso, parecia banhar-se entre as ondas, deixando atrás de si um sulco luminoso.
Ante aquele espetáculo, a menina pensativa e angelical teve um pensamento muito belo.
Imaginava que aquele sol que via no horizonte ao longe era Jesus que vivia no céu.
O mar do mundo separava-a d'Ele; porém Jesus, como o sol no mar, despedia um facho de luz sobrenatural, que era o caminho que deviam seguir as almas para chegar às praias da eternidade.
E imaginava que a sua alma era uma barquinha ligeira, provida de uma vela branca, que a impulsos do amor divino, ia caminhando por aquele facho de luz divina com os olhos sempre fixos em Jesus, que a esperava no limite da vida. E alentada por esta ideia, prometeu não desviar nunca o seu olhar daquele farol divino para vogar mais depressa e com mais segurança para a praia celestial.
Tu podes imaginar também esse sol que está no horizonte e que com o seu facho de luz te mostra o caminho; é Jesus, que está no céu e que ao passar pela terra deixou o rasto dos seus exemplos para que o sigas; e podes imaginar também que esse sol é a Santíssima Virgem, tua Mãe, que está no céu, e que te deixou também um rasto maravilhoso de santidade com os exemplos da sua vida.
Segue esse rasto, porque imitar a Santíssima Virgem é imitar Jesus Cristo.
Entre os magníficos túmulos do cemitério de Gênova há um belíssimo e sumamente expressivo na sua simplicidade: uma barquinha ligeira e nela um anjo formoso recolhe a vela da barca.
É a alma que guiada pelo anjo, chegou incólume à praia, à meta do seu ideal.
Que essa barquinha seja o símbolo da tua alma.

25 de junho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 373

CORTOU O BRAÇO DO INIMIGO

Clito, irmão de leite de Alexandre Magno, acompanhava este príncipe em todas as suas expedições. Um dia, quando um sátrapa, precipitando-se sobre Alexandre, levantava a espada para partir-lhe a cabeça, Clito preveniu o golpe, cortando o braço do inimigo. Desde esse dia Alexandre fez dele seu favorito e confiou-lhe o comando de uma parte do exército. Um dia, porém, durante um jantar, Clito teve a pouca sorte de contradizer o rei, o qual, irritado, e excitado pelo vinho, lançou-se sobre ele. Clito fugiu, mas Alexandre arrojou-lhe um dardo, atravessando-lhe o coração.
Quando o rei recuperou a calma, vendo o cadáver de quem lhe havia salvado a vida, teve tanta dor que, desesperado, se teria tirado a vida, se os amigos não lhe tivessem arrancado a arma das mãos.
E nós, à vista de Jesus morto por causa de nossos pecados, qual é a dor que sentimos de o ter feito sofrer tanto e morrer, pregado na Cruz?

24 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

I

Não poderemos compreender as palavras de Jesus a respeito do Espírito Santo, se não recordarmos primeiramente o que nos ensina a Revelação da vida deste Espírito na Santíssima Trindade. Já conheceis o mistério; mas ao contemplá-lo de novo a vossa fé encontrará nele aumento de alegria. Penetremos então, com profunda reverência, no santuário da Divindade.
Que nos diz a fé? Que há em Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo: três Pessoas distintas na unidade
de natureza.
Como sabeis, o Pai não procede de ninguém; é o Princípio sem fim, o primeiro princípio de toda a vida íntima de Deus, a origem de todas as inefáveis comunicações na SS. Trindade. O Pai conhecendo-Se a Si mesmo, gera, por uma palavra infinita, um Filho único e perfeito, a quem comunica tudo o que é, exceto a propriedade pessoal de ser Pai: Sicut enim Pater habet vitam in semetipso, sic dedit et Filio habere vitam in semetipso. O Filho é em tudo igual ao Pai; é a expressão adequada, a imagem perfeita do Pai: com Ele possui a mesma natureza divina.
O Pai e o Filho dão-se mutuamente com perfeito amor, e desta doação de amor do Pai ao Filho e do Filho ao Pai procede, de modo misterioso, o Espírito Santo, terceira pessoa. O Espírito Santo completa o ciclo das operações íntimas em Deus, é o termo final das comunicações divinas na Trindade adorável.
Entre estas pessoas distintas, como sabeis, não há superioridade nem inferioridade: seria erro grave crer o contrário; todas as três são iguais em poder, sabedoria, bondade, pois todas três possuem, de modo indivisível, a mesma e única natureza divina com todas as suas infinitas perfeições. Eis por que o nosso louvor se dirige ao mesmo tempo ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo: Gloria Patri, et Filio et Spiritui Sancto.
No entanto, se não hã entre elas desigualdades nem independência, há uma ordem de natureza, de origem. que caracteriza essas comunicações. A «processão» do Filho pressupõe (sem que haja, porém, diferença de tempo ) o Pai, primeiro princípio; a «processão» do Espírito Santo pressupõe o Pai e o Filho, dos quais é dom recíproco.
Isto é um modo de falar que não podemos pôr de lado. Jesus quer que todos os Seus discípulos sejam
batizados «em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo»: é a própria linguagem do Verbo Incarnado ; encerra uma realidade divina cuja compreensão não atingimos; mas, como se trata de linguagem de Jesus, devemos respeitar inviolavelmente a ordem entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Assim como devemos conservar intacta, na doutrina e na oração a unidade da natureza, assim também devemos reconhecer a distinção das pessoas, distinção esta baseada nas comunicações que têm entre si e nas suas mútuas relações. Há, ao mesmo tempo, igualdade e ordem; há idêntica perfeição e distinção de propriedades.
Estas verdades constituem um mistério inefável, acerca do qual mais não podemos fazer do que balbuciar. No entanto, Nosso Senhor quis revelar-nos a existência deste mistério; quis fazer-nos esta revelação nos últimos colóquios com os discípulos. na véspera de morrer, «para que a nossa alegria fosse completa». Chega até a dizer que, se somos Seus amigos, foi porque Ele nos revelou estes segredos da vida intima de Deus, até que um dia deles vamos gozar na eterna felicidade. E ter-nos-ia revelado estes segredos, se não julgasse, Ele a sabedoria infinita, que esta revelação nos seria útil?
Mas notai ainda. Não foi só por palavras que Deus revelou esta ordem de princípio, de origem, que existe nas inefáveis comunicações das pessoas entre si (fundamento da sua distinção ); quis também manifestá-la em Suas obras.
Jesus diz no Evangelho que «a vida eterna consiste em conhecer que o Pai é o verdadeiro Deus e Jesus Cristo o Seu enviado»; diz muitas vez-es que "o Pai O enviou». Este termo "enviar», frequentemente empregado por Jesus Cristo, indica a distinção das pessoas. É o Pai que "envia» ; é o Filho que "é enviado». A ordem de origem que existe desde toda a eternidade no céu entre o Pai e o Filho é assim manifestada no tempo. Pois, no mesmo lugar, Jesus Cristo, referindo-se ao Pai diz:
"Nós somos um"; "tudo o que é do Pai é meu, e tudo o que é meu é do Pai».
Jesus emprega o mesmo termo "enviar", ao falar do Espírito Santo. Diz aos Apóstolos que «o Pai lhes
enviará o Espírito Santo »: Paraclitus autem Spíritus Sanctus quem mittet Pater; diz também que "Ele
próprio O enviará": Si autem abiero, mittam eum ad vos. Como vedes, é o Pai e o Filho que O enviam. Assim fala Jesus do Espírito. Nosso Senhor quer por esta forma indicar a ordem que existe em Deus na "processão» do Espírito Santo.

23 de junho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

Parte 4/7

Ao chegar a juventude, conhece qual é a sua situação com respeito à sociedade e com respeito aos jovens de outro sexo. A Virgem não é uma pobre inconsciente. Porém com todo esse conhecimento, ela manterá inflexível a orientação do seu coração. Será sempre e toda de Deus. Terá que amar outras pessoas, terá que amar seu esposo; mas por isso não amará menos a Deus. A seu esposo amará porque Deus quer que o ame, e amá-lo-á para que os dois unidos amem mais a Deus.
É tão importante este traço característico da Virgem jovem, que as jovens cristãs devem deter-se a contemplá-lo com gosto.
Levado pela tendência natural que Deus pôs em todos os corações, o coração da menina instintivamente dirige-se para Deus, sobretudo se tem uns pais que a  orientem para Ele.
Porém ao chegar à juventude, o coração facilmente se desorienta. Sente fome de amar com mais força cada dia. Sente um vazio imenso e umas ânsias crescentes de enchê-lo. Tão grande é esse vazio, que fez Deus para si, que só pode encher-se com Deus.
Nestes momentos, facilmente se desorienta a jovem. Procura outras pessoas a quem amar, e para as amar desvia-se de Deus. Crê que o vazio que sente lho encherão os homens e até pensa que Deus é um estorvo para saciar os anelos do seu coração.
Os homens prometem-lhe um amor sem medida e um amor eterno, um amor que cumulará todos os seus anseios, e a jovem inexperiente crê-o e até chega a desviar-se de Deus, pensando que Deus é um impedimento para satisfazer as suas aspirações.
Vêm momentos de reação, sobretudo quando sobrevém algum desengano.
Quando o jovem que lhe oferecia um amor único a abandona para amar a outra a quem prometerá o mesmo. Quando reconhece que, o que julgava ser amor puro e desinteressado, estava misturado com escória de egoísmo.
Quando descobre que entre as qualidades que lhe pareciam belíssimas, se escondiam repugnantes defeitos.
Perante estes desenganos, o coração da jovem tem necessidade de orientar-se de novo para Deus; porém essa necessidade dura muito pouco.
Outras pessoas, outros atrativos aparecem ao seu alcance e de novo o coração dirige-se para eles e prescinde de Deus. A jovem quer convencer-se. Nem todos serão iguais. Em alguns homens também há amor puro e desinteressado. É verdade, jovem, no mundo há amor puro e desinteressado, ainda que não abunde muito esse amor.
Os crescentes desenganos não devem produzir em ti um ceticismo completo.
A Virgem encontrou em São José um coração fiel e desinteressado e tu também o podes encontrar. O importante é que acertes em orientar e ordenar o amor em teu coração. Como o orientarás?
Pensa que o vazio imenso que sentes na alma só pode enchê-lo Deus, porque foi Deus quem o fez para ocupá-lo Ele, e Deus é imenso.
Pensa que podes amar outras pessoas: ao companheiro que Deus te destine, aos filhos que Deus te dê; podes amá-los e deves amá-los porque Deus o manda; mas por isso não deves afastar a Deus do teu coração. Se os amas em Deus e para Deus, Deus e eles cabem em teu coração.
Pensa que se nesse coração entra Deus, o vazio ficará cumulado por completo, ainda que nenhum outro ser criado entre nele; e exclamarás com Santa Teresa de Jesus: Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.
Numa palavra, procura que o amor de nenhuma criatura esfrie na tua alma o amor de Deus.
Se for necessário, sacrifica o amor à criatura, para que triunfe o amor ao Criador. Isto é ordenar o amor.

22 de junho de 2017

Sermão para a Festa de Pentecostes – Pe. Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Pentecostes, Crisma e o combate ao respeito humano


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
No dia de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa, comemoramos a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, que, obedecendo à ordem de Cristo, perseveravam na oração no Cenáculo em Jerusalém. Todavia, devemos sempre nos lembrar que as festas da Igreja não são meramente uma memória do passado. As festas litúrgicas da Igreja, ao comemorarem os mistérios, nos transmitem a graça própria de cada mistério. Vimos, na Ascensão a graça de nos fazer ter os olhos no céu, o desejo do céu, da santidade, da perfeição.
A graça própria de Pentecostes é, sem dúvida, o amor a Deus. E um amor com vigor. Antes de Pentecostes, não tinham ainda saído os apóstolos para pregar o Evangelho. Depois de Pentecostes, repletos do Espírito Santo, São Pedro, em um só discurso, converte e batiza 3 mil. O amor a Deus cresce muito, bem como o zelo pela salvação das almas. E fica diminuído o temor, o receio, o respeito humano.
Se o Espírito Santo é dado desde o batismo a cada um, Ele é dado em abundância no sacramento da Crisma, o sacramento da maturidade espiritual. O sacramento que faz de nós soldados de Cristo. A Crisma é, para cada um de nós, como um Pentecostes particular. Não se está dizendo que recebemos exatamente a mesma graça dos apóstolos. Evidentemente, não. Mas há certa semelhança.
Em Pentecostes, o Espírito Santo desce sobre os apóstolos com a aparência de línguas de fogo. O fogo tem luz e calor. A descida do Espírito Santo iluminou a inteligência dos apóstolos, esclarecendo melhor os ensinamentos de Nosso Senhor, fazendo que os apóstolos compreendessem melhor. Foi um aumento da fé dos apóstolos, no sentido de que passaram a crer nos ensinamentos de Cristo com maior firmeza. Essa é a luz do fogo. Mas o fogo tem também calor. O calor incendeia, aquece, e se espalha rapidamente. O calor incendiou a vontade dos apóstolos com o amor a Deus e com o amor ao próximo. Foi um aumento enorme da caridade dos apóstolos. E o Espírito Santo vem em forma de língua. Ora, os apóstolos devem comunicar a verdade e o bem aos outros. Nosso Senhor lhes deu esse mandamento: ide e ensinai a todos os povos. A língua significa que, conhecendo a verdade pela fé e amando a Deus e o próximo intensamente pela caridade, é preciso propagar a fé e a caridade aos outros, para que creiam em Deus e amem a Deus e ao próximo. Com essas graças do Espírito Santo, os apóstolos pregaram o Evangelho a toda a criatura. A voz deles, diz a Sagrada Escritura e a Igreja, foi ouvida em todo o orbe da terra. Com a força do Espírito Santo, confirmados por Ele, revigorados por ele.
Na Crisma, o Bispo, colocando a mão sobre a cabeça do crismando, unge a sua testa com o óleo do Santo Crisma, perfumado com bálsamo, e diz: eu te assinalo com o sinal da cruz e te confirmo com o crisma da salvação, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. A testa é assinalada, significando a iluminação da inteligência. O óleo significa a caridade, isto é, o amor a Deus e o amor ao próximo, que deve inflamar a nossa vontade. O bálsamo, que perfuma o óleo do crisma, significa a propagação da verdade e da caridade. O cheiro do bálsamo rapidamente se espalha, como devem se espalhar a fé e o amor a Deus. O sinal é marcado na testa, testa sempre muito visível, testa que não pode ser escondida, mostrando o vigor e a coragem que devemos ter para professar a fé católica e praticar a caridade, sem respeito humano, sem medo, sem temor.
Precisamente disso gostaria de falar: do respeito humano. Respeito humano que essa festa de Pentecostes deve nos fazer vencer. O respeito humano é a excessiva atenção ao que os homens julgarão ou dirão de nós, das nossas palavras e das nossas ações. O respeito humano é, como se vê pela experiência, um dos maiores inimigos da perfeição, e tanto mais prejudicial quanto mais universal é o seu domínio, pois não há lugar nem estado, sexo nem condição, onde não exerça mais ou menos a sua influência perniciosa. Penetra em todas as classes de indivíduos da sociedade, tanto no homem público como no homem privado, no rico como no pobre, no velho como no novo, no homem como na mulher.
O respeito humano age de duas maneiras: primeiro, executando alguma ação só para agradar aos homens e obter deles o julgamento favorável; segundo, deixando de praticar a virtude e o que a consciência dita para não desagradar aos outros. Aquele que se deixa levar pelo respeito humano injuria a Deus, porque coloca o juízo dos homens na frente do juízo de Deus; em vez de pensar no seu interior sobre o que julgará e que dirá Deus Nosso Senhor, só pensa no que julgarão e dirão os outros, convertendo, portanto, o juízo dumas miseráveis criaturas em norma suprema dos seus atos. E as palavras de Nosso Senhor são bem claras: O que se envergonhar de mim ou da minha doutrina, ou me negar diante dos homens também eu me envergonharei dele e o negarei quando vier a julgar o mundo na presença de meu Pai revestido da sua glória. Mas o Salvador diz também: aquele que me confessar diante dos homens, também eu o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus.
Não devemos claro, confundir o combate ao respeito humano com a falta total de respeito, com a falta de caridade e com o total desprezo do conselho dos outros. O juízo dos outros pode também ser justo. Não devemos é basear nossas ações em juízos contrários à lei de Deus. O respeito humano é aquele respeito que nos leva ao pecado, que nos faz omitir um dever ou que nos barra o progresso na virtude que poderíamos fazer. Não é respeito humano atender às ordens legítimas da autoridade legítima, por exemplo. Não é respeito humano evitar práticas de piedade muito peculiares, excêntricas e singulares na Igreja, por exemplo. Feita essa distinção, que podemos facilmente perceber, devemos vencer o respeito humano. Avancemos, preocupados com o juízo de Deus e não com o juízo dos mundanos.
Outro inimigo contra o qual devemos nos fortalecer é um inimigo interno. Com o nosso propósito de conversão, com o início da prática séria da religião, nosso interior, acostumado e inclinado ao pecado, se revolta. Vem, por vezes, um sentimento de tristeza por termos dito um adeus definitivo às loucuras e ninharias do mundo. Por ter dito adeus aos nossos pecados e vícios. Quando vier isso, tenhamos paciência. Essa tristeza e essa revolta passarão. E virão as verdadeiras alegrias. As vãs diversões se reapresentarão ao nosso coração, querendo que voltemos para elas. Voltaríamos a elas para perder a eternidade? Tendo colocado a mão no arado, não devemos olhar para trás. Procuremos esquecer essas coisas passadas. Devemos ter coragem. O caminho da perfeição é para os fortes. Para os fortes que se fazem forte com a graça de Deus, apoiados em Deus porque sabem que, por eles mesmos, são fracos.
Sejamos fiéis a essa graça que o Espírito Santo quer hoje nos dar: a força, a coragem contra o respeito humano, contra o inimigo interior, contra o velho homem, para que nos salvemos, para que propaguemos a fé e a caridade.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

21 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

XVII

MISSÃO DO ESPIRITO SANTO

"Se me amásseis, dizia Jesus Cristo aos Apóstolos, regozijar-vos-íeis por Eu voltar para o Pai »:
Si diligeretis me, gauderetis utique quia vado ad Patrem.
Com efeito, para os que amam a Cristo, a Ascensão é uma fonte inesgotável de júbilo. É a glorificação suprema de Jesus no mais alto dos céus; é a realização da prece de Jesus: «Pai, glorifica-me com a glória que tive em ti, antes de o mundo existir: Clarifica-me, Pater, apud temetipsum, claritate quam habui, priusquam mundus esset apud te. Enchemo-nos de alegria, quando contemplamos Jesus, nosso Redentor e nosso chefe, sentado à direita do Pai, depois de ter cumprido neste mundo, nos aviltamentos da Sua incarnação e nas humilhações da Sua morte, a Sua missão salvadora.
Mas Nosso Senhor não dizia apenas aos discípulos: «A minha Ascensão deve alegrar-vos"; acrescentava: "É vantajoso para vós». Veritatem dico: expedit vobis ut ego vadam; si enim non abiero, Paraclitus non veniet ad vos; si autem abiero, mittam eum ad vos: "Digo-vos a verdade: é bom para vós que eu vá; porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vô-lo-ei».
Todas as palavras do Verbo Incarnado são, como Ele próprio diz, «espírito e vida»: Verba quae ego locutus sum vobis, spiritus et vita sunt. São graves e profundas, por vezes misteriosas. Algumas são difíceis de compreender e só na oração se podem penetrar bem. As palavras de Jesus, que acabamos de ouvir sobre a Sua partida da terra, são deste número.
Expedit vobis ut ego vadam: «É bom para vós que Eu vá». Como? Pode ser bom para os Apóstolos que Jesus vá, que os deixe e suba para o Pai? Não é para eles a fonte de todos os bens, a causa de toda a graça? Não é Ele «o caminho, a verdade e a vida»? Não disse Ele: «Ninguém pode ir ao Pai senão por mim»? Como pode então convir aos Apóstolos que Jesus os deixe?
Não poderiam eles responder-Lhe, com toda a verdade: «Ó divino Mestre, que estais a dizer? de ninguém mais precisamos do que de Vós, Vós nos bastais»: Ad quem ibimus? Não possuímos convosco todas as graças? Ficai, pois, conosco»: Mane nobiscum.
Mas a palavra do divino Mestre é formal: "Digo-vos a verdade»: Veritatem dico: «Não posso demorar-me mais; é tempo de voltar para meu Pai, e é vantajoso para vós que Eu vos deixe». Por que razão? "Para vos enviar o Espírito Santo».
Aqui é que está o mistério; e é este mistério que vamos contemplar, na medida em que nos for dado; pois nisto tudo é sobrenatural, e só a fé nos pode guiar.
Embora nesta conferência se trate constantemente do Espírito Santo, vamos ver que a descida visível deste Espírito sobre os discípulos (descida esta que constitui o tema próprio da solenidade do Pentecostes) é obra de Jesus na Sua natureza divina (como o é também do Paí ) e, por esse motivo, está enquadrada no ciclo dos Seus mistérios.
Primeiramente, porque Jesus Cristo pediu que o Espírito Santo fosse enviado, e disso fez o objeto duma prece muito especial. Nosso Senhor dizia aos discípulos, na última Ceia: "Vou pedir ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, o Espírito de verdade, para que permaneça sempre convosco».
Em segundo lugar, Jesus prometeu aos Apóstolos que lhes enviaria esse Espírito. "Quando vier o Consolador, que Eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito de verdade que procede do Pai, dará testemunho de mim . . . Se Eu for, enviar-vos-ei o Consolador".
Além disso, mereceu que o Espírito fosse enviado. Jesus Cristo, pela Sua oração como pelo Seu sacrifício, obteve do Pai que o Espírito de verdade, de amor, de força e de consolação, descesse sobre os Apóstolos. Toda a graça é o prêmio da oração e da imolação do Salvador: e como isto se verifica admiravelmente na vinda deste Espírito tão poderoso e cheio de bondade, que o próprio Jesus proclamou igual a Si, em quem os Apóstolos encontrarão um outro Ele mesmo!
Finalmente e sobretudo, a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos não tem outro fim, como sabeis, senão concluir o estabelecimento da Igreja. Jesus fundara esta Igreja sobre Pedro, mas quis deixar ao Espírito Santo (vamos ver porque) o cuidado de a aperfeiçoar. Efetivamente, antes da Ascensão, estando à mesa com os Apóstolos, recomenda-lhes que «não se afastem de Jerusalém, mas que esperem pelo Espírito. A vinda deste Espírito devia servir para a glorificação de Jesus»: ao mesmo tempo, o Espírito «enchê-los-ia de força", para que pudessem «dar testemunho de Jesus na cidade santa, na Judeia, na Samaria e até ao extremo do mundo». São as próprias palavras de Jesus Cristo.
Já vedes, pois, como a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos pertence a Jesus. E isto é tão verdade, que S. Paulo chama ao Espírito Santo «o Espírito de Cristo, o Espírito de Jesus ". Eis por que não podemos percorrer o ciclo dos mistérios de Cristo sem contemplar esta obra maravilhosa que se realizou dez dias depois da Ascensão.
Peçamos ao Espírito Santo que Ele mesmo nos dê a conhecer o que Ele é, em que consiste a Sua missão e a Sua obra no dia do Pentecostes. "Vinde, Espírito de verdade, iluminai as nossas inteligências para que em nossos corações se acenda o fogo do amor de que sois o foco infinito».

20 de junho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

Parte 3/7

A pincelada mais certa para o retrato de Maria jovem, deu-a o anjo ao sondar Maria: És a cheia de graça. Este é o seu traço característico; o que desenha a sua fisionomia interna e a diferencia de todas as pessoas.
Este é o seu nome específico, que só a ela se pode aplicar, nome que é a expressão de uma excelsa realidade: a cheia de graça.
Maria jovem tinha a alma cheia de graça, e por isso Deus estava com ela, vivia naquela alma: O Senhor é contigo.
Que maravilhoso é este traço da fisionomia da Virgem Santíssima jovem!
Quero dizer que Maria solucionou de uma maneira ideal o problema principal que tem a jovem: o problema do coração.
O homem foi feito para amar a Deus e a todas as coisas em Deus. Assim como o olho esta feito para receber os raios do sol, e contemplar as belezas do universo, o coração do homem esta feito para amar a Deus, possuir a Deus e em Deus possuir a criação inteira.
O amor palpita no coração do homem desde o seu nascimento. A princípio esse amor do coração parece confundido com o instinto da natureza.
A criança instintivamente estende a mão para os objetos que atraem a sua atenção e lhe agradam.
Se Deus se apresentasse à criança de uma maneira sensível, as mãos da criança estender-se-iam para possuir a Deus.
Mas ao coração do homem apresentam-se uma infinidade de seres que o atraem e lança-se inconsideradamente para eles, esquecendo-se de Deus e o pobre coração humano fica descentralizado, inquieto, porque não se orientou bem.
Fizeste-nos, Senhor, para Ti; e o nosso coração esta inquieto até que descanse em Ti, dizia Santo   Agostinho.
Não foi assim o coração da Santíssima Virgem.
Desde os primeiros momentos Deus apresentou-se à alma de Maria com todos os encantos, com todas as suas perfeições infinitas; apresentou-se com todos os direitos a ser amado sobre todas as coisas.
E o coração de Maria não vacilou um momento, orientou-se para Deus e nunca se desviou dele.
Amará a Deus com todas as suas forças. Será toda d'Ele.
Se ama as pessoas deste mundo, ama-as por Deus e para Deus.
Será sempre d'Ele. Ninguém desviará um ápice aquele coração. Ninguém, nunca.
Daí a sua constância no trabalho.
Conforme for avançando a vida, irão surgindo dificuldades.

19 de junho de 2017

Tesouro de Exemplos - Pate 372

ANTES MORRER QUE MENTIR

Entre as heroicas vitimas da tristemente famosa Revoluto Francesa, conta-se o P. Firmino, carmelitano. Obrigado a depor o hábito e abandonar o convento, pôs-se a percorrer com zelo infatigável as vilas e aldeias, empregando-se dia e noite nas funções do seu sagrado ministério. Visitava os fiéis e confortava-os na fé para que não se deixassem vencer pelo terror e apostasia geral daqueles tempos tristes.
Foi finalmente descoberto pelos espiões do governo e em seguida preso e levado para a cadeia de Amiens.
Os juízes, perante os quais teve de comparecer, não eram daqueles homens sanguinários de que estava cheia a Franca naquela época infeliz. Pretendiam salvá-lo, sem no entanto obrigá-lo ao juramento iníquo que as leis revolucionárias impunham aos sacerdotes. O próprio presidente do tribunal deu-lhe a entender que, para escapar, à morte, era suficiente declarar que ignorava os decretos fulminados contra os padres que não haviam prestado juramento.
Momento angustiante! Tratava-se de salvar ou perder a vida. Para evitar o patíbulo, bastaria uma simulação, uma mentira leve... Mas o valoroso sacerdote, sem hesitar um só instante, recusa-se a salvar a vida por aquele prego. Está resolvido a antes morrer que trair a verdade.

18 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

VI

Quando, nestes santos dias, receberdes a Comunhão, deixai a Vossa alma entregar-se a estes pensamentos de alegria a confiança.
Unindo-vos a Jesus Cristo, incorporais-vos n'Ele; Ele está em vós e vós n'Ele; estais diante do Pai. Não O vedes, é certo; mas, pela fé, sabeis que estais diante de Deus, com Jesus que vos apresenta a Ele; estais com Ele no seio do Pai, no santuário da Divindade. Eis, para nós, a grande graça da Ascensão: participar, na fé, da intimidade inefável que Jesus Cristo possui no céu com o Pai.
Conta-se na vida de Santa Gertrudes que um dia, na solenidade da Ascensão, depois de receber da mão do sacerdote a sagrada hóstia, ouviu Jesus dizer-lhe: «Eis-­me aqui; venho, não para me despedir de ti, mas para te levar comigo ao céu e te apresentar a meu Pai». " Apoiada em Jesus, a nossa alma é poderosa, porque Jesus Cristo lhe comunica todas as Suas riquezas, todos os Seus tesouros»: Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens innixa super dilectum suum? Apesar das nossas misérias e fraquezas, nunca receemos, portanto, aproximar-nos de Deus; pela graça do Salvador, e com Ele, podemos estar sempre no seio do nosso Pai dos céus.
Apoiemo-nos em Jesus Cristo, não somente na oração, mas em tudo o que fizermos. E seremos fortes. Se «sem Ele nada podemos » - sine me, nihil potestis facere - , « com Ele podemos tudo »: Omnia possum in co qui me confortat. Nele encontraremos, com a fonte duma grande confiança, o motivo mais eficaz da fidelidade e paciência no meio das tristezas, contrariedades, provações, sofrimentos por que temos de passar neste mundo até ao fim do nosso desterro.
No momento de terminar a Sua vida mortal, Jesus dirige ao Pai, a favor dos discípulos que em breve vai deixar, uma tocante oração: «Pai santo, quando estava com eles, Eu mesmo os guardava: agora que volto para junto de ti, peço, não que os tires deste mundo, mas que os livres do mal»: Cum essem cum eís, ego servabam eos; nunc autem ad te venio, non rogo ut tollas eos de mundo, sed ut serves eos a malo.
Que solicitude toda divina se traduz nesta oração! Foi por todos nós que Nosso Senhor a disse. E a 
Igreja, que sempre compartilha dos sentimentos do seu Esposo, nela se inspirou na secreta da Missa da Ascensão. «Recebei, Senhor, os dons que Vos oferecemos em memória da gloriosa Ascensão do Vosso Filho; concedei-nos propício a graça de sermos livres dos perigos da vida presente e alcançarmos a vida eterna, pelo mesmo Jesus Cristo Senhor Nosso». Por que é que repete a Igreja esta oração de Jesus?
Porque há obstáculos que nos impedem de ir para Deus; e estes obstáculos resumem-se todos no pecado, que nos afasta de Deus. Nosso Senhor pede que sejamos livres do mal, isto é, do pecado que, afastando-nos do Pai dos céus, é o único e verdadeiro mal: Ut serves eos a malo. Abandonados a nós mesmos, à nossa ingenita fraqueza, não podemos evitar esses obstáculos; mas podemo-lo, se nos apoiarmos em Cristo. Ele sobe hoje até ao céu, vencedor de Satanás e do mundo: Confidite, ego vici mundum . . .  Princeps mundi hujus in me non habet quidquam. Entra, como Pontífice todo poderoso, no santuário divino: Per hostiam suam apparuit. Pela comunhão, Nosso Senhor torna-nos participantes do Seu poder e do Seu triunfo. É por isso que nos devemos apoiar tanto n'Ele e só n'Ele confiar.
Com Cristo, que por nós oferece ao Pai os Seus méritos, não há tentação que não possamos vencer, dificuldade que não possamos superar, alegria insensata de que não nos possamos desprender. Enquanto não nos vamos juntar com Jesus no céu, ou antes, enquanto Ele não nos leva para lá (visto «estar-nos a preparar ali um lugar» ),  vivamos no céu, pela fé no poder ilimitado da Sua oração e do Seu valimento, pela esperança de um dia participarmos da Sua felicidade, pelo amor que, alegre e generosamente, nos leva ao fiel e exato cumprimento da Sua vontade e do Seu bel prazer. É assim que participaremos plenamente deste admirável mistério da gloriosa Ascensão de Jesus: lpsi quoque mente in caelestibus habitemus.

17 de junho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Jovem

Parte 2/7

Em que marco geográfico colocaremos o retrato da Santíssima Virgem jovem?
Em que ambiente se desenvolveu a juventude de Maria?
Quando o anjo lhe trouxe a embaixada do céu, Maria estava desposada com José, porém era uma jovem e vivia em Nazaré. 
Quando se mudou de Jerusalém para Nazaré? Em que casa vivia? A todas estas perguntas não pode responder a história. O que parece ser certo é que perdeu muito cedo seus bons pais e ficou muito só no mundo.
É a primeira faceta que vamos traçar de Maria jovem; faceta amável, simpática. A Virgem Santíssima era uma órfãzinha . . . Porque o dispôs Deus assim? 
Preparava-a para que fosse para com os homens mãe de piedade e de misericórdia, e quis que ela mesma experimentasse o que é viver sem mãe na idade mais difícil da vida. Assim, quando estivesse no céu compadecer-se-ia melhor de tantos órfãos de corpo e alma que procurariam nela proteção maternal.
Quis Deus que presenciasse a morte de seus próprios pais, que estivesse a seu lado naqueles momentos tristes, e sentisse a emoção dos que vão e dos que ficam, porque todos os cristãos lhe haviam de pedir para estar também a seu lado na hora da morte, e com a experiência própria compreenderia melhor a necessidade da sua presença nesses momentos. Maria jovem foi órfã de pai e mãe.

15 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

V

A esta profunda alegria devemos juntar uma confiança inabalável.
Esta confiança, encontra apoio sobretudo na poderosa valia de que Jesus Cristo goza junto do Pai, não só na qualidade de Rei invencível, que inaugura o Seu triunfo, mas como Pontífice supremo que intercede por nós, depois de ter oferecido ao Pai uma oblação de valor infinito. Ora foi no dia da Ascensão que Jesus começou, de modo muito particular, esta mediação única.
Há aqui um aspecto íntimo do mistério, em que convém deter-nos uns instantes. S. Paulo, que no-lo
revelou na Epístola aos hebreus, declara-o «inefável": Ininterpretabilis sermo.
Vou tentar, seguindo o grande Apóstolo, dar-vos dele uma ligeira ideia. Que o Espírito Santo nos faça
compreender quão maravilhosas são as obras divinas.
S. Paulo começa por recordar os ritos do mais solene dos sacrifícios da Antiga Aliança. E porquê? Sem dúvida, por se dirigir aos judeus: era mister falar-lhes uma linguagem que eles pudessem compreender. Há, porém, uma razão mais profunda. Qual? O próprio Apóstolo no-la indica: a íntima relação estabelecida por Deus entre o antigo cerimonial e o sacrifício de Cristo. E que relação é esta?
Como sabeis, Deus, na Sua presciência eterna, abarca toda a série dos séculos; além disso, sabedoria
infinita, dispõe todas as coisas com perfeita medida e equilíbrio. E assim, quis que os principais acontecimentos que assinalaram a história do povo escolhido e os sacrifícios pelos quais fixara a religião de Israel fossem outras tantas figuras imperfeitas e símbolos obscuros das magníficas realidades que lhes deviam suceder, logo que o Verbo Incarnado aparecesse neste mundo: Haec omnia in figura contingebant íllis . . . Umbra futurorum.
É esta a razão por que o Apóstolo insiste, primeiro que tudo, no sacrifício dos judeus. Não é pelo prazer de estabelecer uma simples comparação, que facilitaria ao seu auditório a compreensão do que expõe; mas porque a Antiga Aliança prenunciava, com aqueles esboços, os esplendores da Nova Lei estabelecida por Jesus Cristo.
S. Paulo recorda igualmente a estrutura do Templo de Jerusalém, cujos pormenores tinham sido todos regulados pelo próprio Deus. « Havia, diz ele, um primeiro tabernáculo, chamado o Santo, onde os sacerdotes entravam em qualquer tempo paro serviço do culto; por trás dum véu ficava o segundo tabernáculo, chamado o Santos santos, onde estavam o altar de ouro do incenso e a Arca da aliança».
Este «Santo dos santos» Era o lugar mais augusto da terra. Era o centro para o qual convergia todo o culto de Israel, para a qual se voltavam os pensamentos e se estendiam as mãos de todo o povo judeu. E porquê? Porque era ali que Deus morava de modo muito especial; era ali que prometera ter sempre fixos os olhos e o coração: «Erunt oculi mei et cor meum ibi cunctis diebus"; era ali que recebia as homenagens, abençoava os votos e atendia as súplicas de Israel: era ali que, para assim dizer, entrava em contacto com o Seu povo.
Mas este contacto, como sabeis, só por intermédio do sumo sacerdote é que era estabelecido. Com efeito, a majestade daquele tabernáculo em que Deus habitava era tão terrível, que só o sumo pontífice dos judeus nele podia penetrar; era proibida a entrada, sob pena de morte, a qualquer outra pessoa. O pontífice entrava revestido das vestes pontificais, levando ao peito o misterioso «racional» (conjunto de doze pedras preciosas em que se achavam gravados os nomes das doze tribos de Israel); só deste modo simbólico é que o povo entrava no Santo dos santos.
Além disso, o próprio sumo sacerdote não podia passar para lá do véu daquele tabernáculo tão santo senão uma vez por ano; e mesmo assim, só depois de ter imolado cá fora duas vítimas, uma pelos seus próprios pecados, outra pelos do povo; com o sangue aspergia o propiciatório, onde repousava a majestade divina, enquanto os levitas e o povo enchiam o átrio.
Este sacrifício solene, com que o sumo sacerdote da religião judaica oferecia a Deus, uma vez por ano, no Santo dos santos, as homenagens de todo o povo e o sangue das vítimas pelo pecado, constituía o ato mais sublime e augusto do seu sacerdócio.
E no entanto, como vos disse, repetindo a palavra de S. Paulo, «tudo aquilo eram apenas símbolos»: Quae parabola est temporis infantis. E quantas imperfeições naqueles símbolos! Aquele sacrifício tinha tão pouco valor, que era preciso repeti-lo todos os anos; o pontífice era tão imperfeito, que não tinha o poder de abrir a entrada do santuário ao povo que representava; nem ele próprio nele podia entrar senão uma vez por ano e mesmo assim sob a proteção, digamos, do sangue das vítimas oferecidas por seus próprios pecados.
Onde estão então as realidades? Onde está o sacrifício perfeito, único, que substituirá para sempre aquelas oferendas repetidas e insuficientes?
Temo-las (e com que plenitude! ) em Jesus Cristo.
Jesus Cristo, diz S. Paulo, é o Pontífice supremo, mas um «Pontífice santo, inocente, separado dos pecadores e mais elevado do que os céus». Penetra num tabernáculo não feito por mão dos homens - Non hujus creationis - , mas «no céu dos céus",  no santuário da Divindade: Ad interiora velaminis. Do mesmo modo que o sumo sacerdote, entra com o sangue da vítima. Que vítima? Animais, como na Antiga aliança? Oh ! Não. Aquele sangue não é outro senão o «Seu próprio sangue" - Per proprium sanguinem -, sangue precioso, de valor infinito, derramado "cá fora", isto é, na terra, vertido pelos pecados, não só do povo de Israel, mas da humanidade inteira. Entra através do véu, isto é, pela Sua santa Humanidade; «é através deste véu que nos está aberto doravante o caminho do céu»: lnitiavit nobis viani per veloamen, id est carnem suam. Finalmente, entra não uma só vez por ano,  mas «uma vez por todas»: Semel; pois, sendo o Seu sacrifício perfeito e de valor infinito, é também "único  e suficiente para proporcionar para sempre a perfeição àqueles a quem quer santificar»: Una enim oblatione consummavit in sempiternum sanctificatos.
Mas ( e é nisto sobretudo que a obra divina é admirável, é nisto que a realidade excede o símbolo ), Jesus Cristo não entra sozinho. O nosso Pontífice leva-nos consigo, não de modo simbólico, mas na realidade, pois somos os Seus membros, a Sua «plenitude», na expressão do Apóstolo.
Antes d'Ele, não se podia entrar no céu; era esta interdição simbolizada pela proibição terrível de transpor o véu do Santo dos santos: é o próprio Espírito Santo que o dá a entender, como diz S.Paulo: Hoc significate Spiritu Sancto nondum propalatam esse sanctomm viam.
Mas Jesus Cristo, pela Sua morte, reconciliou a humanidade com o Pai; com Suas mãos trespassadas rasgou o decreto da nossa expulsão; por isso, quando expirou, o véu do Templo se rasgou ao meio. Que significa aquele prodígio? Não só que tinha acabado a Antiga Aliança com o povo judeu, que os símbolos cediam o lugar a uma realidade mais alta e eficaz, mas também que Jesus Cristo nos reabria as portas do Céu e nos franqueava a entrada na herança eterna.
No dia da Ascensão, Jesus Cristo, Pontífice supremo da raça humana, leva-nos consigo para os céus,
de direito e em esperança .
Nunca deveis esquecer que é só por Ele que podemos lá entrar: ninguém pode entrar no Santo dos santos senão com Ele: nenhuma criatura pode gozar da felicidade eterna senão seguindo a Jesus; é graças aos Seus merecimentos que alcançaremos a infinita bem aventurança. Durante toda a eternidade, dir-lhe-emos: « Cristo Jesus, é por Vossa mercê, pelo Vosso sangue derramado por nós, que estamos diante da face de Deus; é o Vosso sacrifício e a Vossa imolação que nos valem a cada instante a nossa glória e feliddade: a Vós, Cordeiro imolado, toda a honra, louvor e ação de graças » !
Enquanto não nos vem buscar, como prometeu, Jesus Cristo «prepara-nos um lugar», e, sobretudo, ajuda-nos com Suas súplicas.
Pois, que faz no céu este Pontífice supremo? Diz-nos S. Paulo que Ele entrou no céu «para estar presente, por nós, diante da face de Deus»: Ut appareat NUNC vultui Dei pro nobis. O Seu sacerdócio é eterno; portanto, eterna é a Sua mediação. E que poder infinito o do Seu valimento!
Ali está, diante do Pai, apresentando-Lhe incessantemente o Seu sacrifício, de que são perpétua memória as cicatrizes que conservou das Suas chagas; ali está, «sempre vivo, a interceder por nós»: Semper vivens ad interpellandum pro nobis.
Pontífice sempre atendido, repete em favor de nós a oração sacerdotal da Ceia: "Pai, é por eles que rogo . . .Estão no mundo . . . Guarda aqueles que me deste . . .Rogo por eles, para que tenham a plenitude da alegria .. .Pai, quero que onde Eu estiver, estejam eles comigo, para que vejam a glória que me deste . . . para que o amor com que me amaste esteja neles, e também Eu esteja neles».
Como não hão de estas sublimes verdades da nossa fé gerar em nós uma confiança inabalável? Almas de pouca fé, que podemos nós temer?  Que não havemos nós de esperar? Jesus está sempre a pedir por nós. «Pois quê, dizia S. Paulo; outrora o sangue imperfeito das vítimas de animais purificava a carne daqueles que com ele eram aspergidos: e o sangue de Jesus Cristo, que a Si mesmo se ofereceu imaculado a Deus, não havia de purificar a nossa consciência das obras do pecado para que pudéssemos servir o Deus vivo»?
Tenhamos, pois, confiança absoluta no sacrifício, nos merecimentos e na oração do nosso Pontífice. Entrou hoje nos céus; com o Seu triunfo, inaugura a Sua incessante mediação; é o Filho querido em quem o Pai põe as Suas complacências; como não há de ser atendido, depois de ter manifestado ao Pai, por Seu sacrifício, semelhante amor? Exauditus est pro sua reverentia.
Pai, olhai para o Vosso Filho; vede as Suas chagas: Respice in faciem Christu tui; e concedei-nos, por
Ele e n 'Ele, estar um dia onde Ele está, a fim de também, por Ele, n'Ele e com Ele, Vos prestarmos toda a honra e glória!

14 de junho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

NOSSA SENHORA JOVEM

À Luz do Evangelho

Parte 1/7

O homem em geral forma-se e deforma-se imitando.
A criança observa com avidez todos aqueles com quem trata, e sobretudo seus pais; e o que neles vê, isso imita. Ditosa a criança que viva rodeada de pessoas exemplares.
Passada a infância, mais ou menos conscientemente continua a imitar. Por isso é de grande importância o exemplo; "exempla trahunt", os exemplos arrastam. Mas talvez a que mais tendência tem para imitar é a jovem.
A jovem passa horas inteiras vendo revistas de modas. Procura o modelo de que mais goste para o imitar nos seus vestidos.
A jovem fixa-se com curiosidade em todas as mulheres que passam. Procura também o que nelas encontra de mais atraente para o imitar. Se lhe perguntais qual é a norma principal que regula a sua conduta, responderá, se é sincera: porque todas o fazem, a imitação.
Como a jovem tem muitas tendência para a imitação, o mundo apresenta-lhe muitos modelos; por desgraça poucos dignos de serem imitados. É necessário que a jovem tenha um modelo belo que encha a sua alma; um modelo querido que a arraste à imitação. Nenhum modelo melhor que a Santíssima Virgem jovem como ela. A Virgem Maria, a obra mais primorosa que saiu das mãos de Deus.
A Virgem Maria, o ser mais amável para o cristão depois de Jesus Cristo.
Se a Virgem Maria jovem vivesse entre as jovens, que modelo tão belo e tão querido! Já que não é assim, fazei-a viver na nossa alma. Gravai nela o seu retrato encantador.
Vou tentar colocá-la diante de vós; porém esse retrato da Santíssima Virgem distará quase infinitamente da realidade.
Que a vossa imaginação juvenil, e sobretudo o vosso coração de filhas, ponha nele todos os retoques que completem a sua beleza.
Para fazer o retrato da Santíssima Virgem jovem, o Evangelho oferece-nos as principais cores; outras são-nos fornecidas pela tradição.

13 de junho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 371

NÃO QUERO BRINCAR COM DEUS

Laura Bonaventura era uma nobilíssima donzela romana, dotada de rara beleza, de extraordinários talentos, grande vivacidade e afabilidade.
Retirara-se ao célebre mosteiro de Torre dei Specchi mais por capricho e excentricidade do que por vocação, e vivia ali vida mais mundana que religiosa! Sem recolhimento, sem devoção, sem observância das Regras, não pensava senão em atrair louvores por sua gentileza e agudeza de espirito.
Entretanto, aquelas religiosas resolveram fazer alguns dias de Exercícios Espirituais para meditarem seriamente nas verdades eternas. Laura opôs-se resolutamente a essa ideia e protestou abertamente que não queria saber de retiros.
— Ocultai-vos — dizia às outras, — ocultai-vos em vossas celas; a mim basta-me ser freira, não quero ser anacoreta! A vós, que sois muito espirituais as contemplações e êxtases; a mim, que sou terrena e espirituosa, as minhas ocupações habituais.
Apesar de tudo, à hora de começar o retiro, sentiu-se impelida como que por uma voz interior a assistir a meditação de abertura. O pregador tratou do fim para que estamos neste mundo. Laura, que ouvia tudo atentamente, experimentou uma vivíssima impressão. Aprofundando-se sempre mais naquela grande verdade, que salvar a alma é o único necessário e que tudo o mais é ilusão e vaidade”, correu a prostrar-se aos pés do pregador e disse-lhe:
— Padre, não quero mais brincar com Deus. Quero fazer-me santa, grande santa e sem demora, custe o que custar.
Queria falar mais, mas a abundância das lágrimas que derramava não lho permitiram. Fez, em seguida, uma confissão geral de toda a sua vida, e pronunciou aos pés do Crucifixo uma doação total de si mesma. Renunciou a todas as vaidades e, com grande admiração e edificação das co-irmãs, empreendeu uma vida recolhida, piedosa, mortificada e exemplar, em que perseverou santamente até à morte.
Deixou a todos, com a sua admirável conversão e mudança de vida, um exemplo digno de imitação.

12 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV

A Ascensão de Jesus faz nascer na alma fiel que a contempla com devoção múltiplos sentimentos. Se Cristo já não merece, contudo a Sua Ascensão tem a virtude de produzir eficazmente as graças que significa ou simboliza.
Fortalece a nossa fé na Divindade de Jesus; aumenta a nossa esperança pela visão da glória do nosso chefe; animando-nos à observância dos Seus mandamentos, que constitui o fundamento dos nossos méritos, principio da nossa beatitude futura, torna o nosso amor mais ardente.
Faz nascer em nós a admiração por tão maravilhoso triunfo, o reconhecimento pela participação que dela nos dá Jesus Cristo. Levantando as nossas almas para as realidades celestes, aviva nelas o desprendimento das coisas que passam; Quae sursum sunt quaerite, ubi Christus est in dextera Dei sedens, nom quae super terram. Dá-nos a paciência no meio das adversidades deste mundo, pois diz S. Paulo, «se participarmos dos sofrimentos de Cristo seremos associados à Sua glória»: Si tamen compatimur ut et conglorificemur.
Há todavia dois sentimentos em que quero demorar-me convosco alguns instantes, porque brotam com particular abundância da contemplação piedosa deste mistério e são singularmente fecundos para as nossas almas: a alegria e a confiança.
Em primeiro lugar, por que motivo nos havemos de alegrar?
Nosso Senhor dizia aos Apóstolos, antes de os deixar: Si diligeretis me, gauderetis utique quia vado ad Patrem. «Se me amásseis regozijar-vos-ieis por eu ir para o Pai». Também a nós repete Jesus Cristo estas palavras. Se O amamos, regozijar-nos-emos com a sua glorificação; regozijar-nos-emos por Ele, depois de terminada a sua carreira, subir para a direita do Pai, ser exaltado ao mais alto dos céus, para depois dos Seus trabalhos, dos Seus sofrimentos, da Sua morte, gozar um repouso eterno numa glória incomensurável. Inunda-O e penetra-O para sempre, no seio da Divindade, uma felicidade para nós incompreensível; supremo domínio Lhe é dado sobre toda a criatura.
Como não havemos de nos alegrar por ser assim feita a Jesus por Seu Pai inteira justiça?
Vede como a Igreja, na Sua Liturgia, nos convida a celebrar com alegria esta exaltação do seu Esposo, nosso Deus e nosso Redentor.
Ora convida todas as nações a manifestarem toda a sua alegria em hinos repetidos; Omnes gentes, plaudite manibus: " Nações inteiras, aplaudi! Exaltai a Deus com gritos de júbilo! » Jubilate Deo in voce exsultationis. « Porque o Senhor se eleva no meio das aclamações, e as trombetas celebram a Sua subida ao céu. Cantai ao nosso Deus! Cantai ao nosso Rei! Entoai harmoniosos cânticos! Pois o Senhor reina sobre as nações e está sentado no Seu santo trono»: Ascendit Deus in jubilo et Dominus
in voce tubae. «Exaltai o Rei dos reis, e cantai um hino a Deus!» Exaltate Regem regum, et hymnum
dicite Deo.
Ora se dirige às potências angélicas: «Abri as portas, príncipes dos céus, para que o Rei da glória possa entrar». Attolite portas, príncipes, vestras, et es introibit Rex gloriae, Admirados, os Anjos perguntam uns aos outros: «Quem é esse Rei da glória»? Quis est iste Rex gloriae? "É o Senhor, cheio de força e poder, o Senhor que faz brilhar o seu vigor nos combates»: Dominus fortis et potens, Dominus potens in praelio. E os espíritos celestes repetem: «Quem é esse Rei da glória»? «É o Senhor dos exércitos, é Ele o Rei da glória»: Ipse est Rex gloriae! 
Ora, finalmente, numa linguagem cheia de poesia, tirada do salmista, se dirige ao próprio Jesus: «Elevai-Vos, Senhor, pela Vossa força divina, pois cantaremos e celebraremos os Vossos triunfos»: Exaltare, Domine, in virtute tua: contabimus et psallemus virtuites tuas.
«A Vossa glória resplandece nas alturas dos céus». « Fazeis das nuvens Vossa carruagem; caminhais sobre as asas dos ventos: revestistes-Vos de majestade e esplendor; envolvestes-Vos de luz como dum manto»: Confessionem et decorem induisti, amictus lumine sicut vestimento.
Sim, alegremo-nos! Aqueles que amam a Jesus sentem profunda e intensa alegria em O contemplar no mistério da Ascensão, em agradecer ao Pai o ter dado semelhante glória a Seu Filho, em felicitar a Jesus por ser o objeto dessa glória.
Regozijemo-nos ainda por esses triunfos e glorificação de Jesus serem também nossos.
Ascendo ad Patrem meum Patrem vestrum. Deum meum et Deum vestrum; «Volto para meu Pai que
é também vosso Pai, para meu Deus que é também vosso Deus». Jesus possui-nos; não se separa de nós, não nos separa d'Ele. Se entra no Seu reino glorioso, é « para aí nos preparar um lugar»: Vado parare vobis locum; promete «vir um dia buscar-nos» para lá nos sentarmos também, para que, diz, «estejamos onde Ele está». Assim, de direito, estamos já na glória e felicidade de Jesus Cristo: ali estaremos um dia na realidade. Não o pediu Ele ao Pai? Volo, Pater, ut ubi sum ego, et illi sint mecum. Que força nesta oração e que doçura nesta promessa!
Abandonemos, pois, os nossos corações a esta alegria íntima e toda espiritual. Nada « dilata» tanto as nossas almas como este sentimento, nada as faz correr com mais generosidade na vida dos preceitos do Senhor»: Viam mandatorum tuorum cucurri, cum dilatasti cor meum. Digamos muitas vezes a 
Jesus Cristo, durante estes santos dias, as aspirações ardentes do hino da festa:
Tu esto nostrum gaudium
Qui es futurus praemium ;
Sít nostra in te gloria
Per cuncta sempre saecula.

«Sede a nossa alegria, Vós que sereis um dia a nossa recompensa, e que toda a nossa glória permaneça em Vós para sempre, por todos os séculos»!

11 de junho de 2017

Missa Tridentina - Padre Renato Coelho - IBP

Missas Tridentinas

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Junho 2017

09/06     Sexta         19:30h - Oração do Santo Terço
                                20:00h - Missa
                               
10/06     Sábado      17:30h - Oração do Santo Terço
                                18:00h - Missa
                                19:00h - Palestra - Pluralismo e Enrolação                                                                       (continuação...)

11/06     Domingo   10:30h - Oração do Santo Terço
                                11:00h - Missa


Local:       Capela da Polícia Militar
Endereço: Av. Mal. Floriano Peixoto, 2057
Bairro:      Rebouças - Curitiba - Paraná


Em breve estaremos publicando mais detalhes do nosso
 VI Congresso São Pio V - Aguardem!

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

Nossa Senhora Colegial

Parte 3/3

Com estas virtudes sobrenaturais, são necessárias as virtudes domésticas, para governar uma casa.
A Santíssima Virgem trabalha no templo e prepara-se para trabalhar na casinha de Nazaré.
Trabalha nos ofícios manuais; e a trabalhar não lhe caía da fronte a coroa de Rainha dos Céus.
Trabalhava com as suas mãos delicadíssimas, aquelas mãos de rainha calejavam-se e não se envergonhava disso.
Estudava um pouco também, estudava a Sagrada Escritura e nela a teologia e a moral, a literatura e a história do seu povo.
Adquiriu aquele nível de cultura que possuíam as jovens das boas famílias de Israel.
Porém as suas ocupações no templo iam encaminhadas principalmente a administrar mais tarde o lar que Deus lhe confiasse.
Grande lição para os nossos tempos. Porque existe hoje em dia uma grande desorientação neste sentido.
A educação da mulher equipara-se quase completamente com a educação do homem.
É verdade que substancialmente tanto vale o homem como a mulher; os dois possuem a mesma natureza humana, os dois foram elevados à mesma ordem sobrenatural da graça, os dois têm o mesmo destino eterno, os dois tem de cumprir o mesmo decálogo. Apesar, porém, desta igualdade fundamental  de cumprir o mesmo decálogo. Apesar, porém, desta igualdade fundamental, existem entre o homem e a mulher diferenças bem marcadas de ordem fisiológica, intelectual e moral, diferenças que provêm da missão diferente que têm que desempenhar na terra.
Difícil será averiguar qual dos dois tem uma inteligência mais privilegiada; porém é indiscutível que essas inteligências levam direção diferente.
Na ordem prática e moral, o caráter do homem difere muito do da mulher, sem que se possa precisar tão pouco qual deles é melhor; pois um e outro possuem as suas virtudes e os seus defeitos peculiares. Ora bem, se a mulher tem que desempenhar um papel diferente do do homem, se a sua inteligência leva uma direção diferente da do homem, se o seu caráter apresenta modalidades diversas das do homem, é um absurdo dar ao homem e à mulher a mesma preparação para a vida, é um absurdo levar pelo mesmo caminho a sua inteligência e é um absurdo formar no mesmo molde o seu caráter.
A mulher, antes de mais nada, esta destinada a ser esposa, a ser mãe e dona de casa. Logo, para isso deve dirigir-se principalmente a sua educação.
É verdade que há ocasiões em que tem de suprir a falta do varão, por ficar viúva ou solteira; e a necessidade tirânica, a obrigará a ocupar-se em ofícios impróprios da mulher, para ganhar o sustento; porém isso deve ser uma exceção da lei geral. É verdade também que a sociedade atual pede à mulher um grau de cultura mais elevado que em épocas anteriores.
Que adquira o maior nível cultural possível; porém que não esqueça que a sua missão principal está dentro do lar.
É também tendência desacertada que a mulher se equipare em tudo ao homem: nas diversões, nos desportos, até nos vícios de fumar e beber; em algumas nações até no vestir; em todo o seu comportamento e até na vida social.
Resultado de tudo isso? Que a mulher vai perdendo ou perdeu já as notas características da sua feminilidade: o pudor, a modéstia, a delicadeza nos modos. Que a mulher francamente cristã esta a desaparecer. Resultado de tudo isso? O que se ouve: raparigas para divertimento há todas as que se queira; poucas, muito poucas, formadas para esposas e para mães. Não sucederia isto se as raparigas recebessem a educação devida.

10 de junho de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 370

NO SANGUE E NO CORAÇÃO DE JESUS

Um moço, criado entre as comodidades e bem-estar de sua casa, fizera-se religioso. Passado, porém, o primeiro fervor, começou a achar que o pão era duro, o vinho, azedo; o leito, incômodo; a obediência, pesada; os companheiros, molestos; enfim, tudo difícil, insuportável.
Foi ao superior, e pediu licença para voltar ao mundo, pois não aguentava mais aquela vida.
Mas, eis que, apenas se vê na estrada, topa com um jovem que lhe.diz:
— Olá, aonde vais?
Mas ele não responde e vai seguindo:
— Olá, espera-me, não fujas!
— Que queres de mim?
— Quero saber aonde vais.
— Quem és tu, que eu tenha de dizer aonde vou?
— Mas, não obstante, é preciso que mo digas.
— Bem; sou fugitivo do convento e retorno ao mundo e nem sei ao certo aonde vou.
Então aquele jovem, que era o próprio Jesus, abrindo as vestes, mostra-lhe a chaga do coração vertendo Sangue e diz-lhe:
— Volta, volta ao teu convento; e se o pão for duro, molha-o neste Sangue, e o acharás mole; se o vinho te parecer demasiado acre, mistura-o com este Sangue, e o acharás doce; se a obediência for pesada, refugia-te neste Coração e ela será suportável.
Diante do que via e ouvia, o jovem, profundamente comovido, voltou para o convento, onde, refugiado no Coração de Jesus, viveu e morreu como santo.

9 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

III

Tal é o mistério da Ascensão de Jesus: sublime glorificação de Jesus Cristo acima de toda a criatura, à
direita do Pai.
Jesus «saiu do Pai» - Exivi a Patre - e «voltou ao Pai», depois de ter cumprido a Sua missão neste mundo: Et vado ad Patrem. «Como um gigante lançou-se a percorrer o Seu caminho»: Exsultavit ut gigas ad currendam viam. « Desceu do mais alto dos céus», do santuário da Divindade - A summo caelo egressio ejus - e « sobe acima de todas as coisas para ai gozar da glória, da beatitude e do poder divinos: Et occursus ejus usque ad summum ejus? 
No que tem propriamente de divino, este triunfo é privilégio exclusivo de Cristo Homem-Deus, Verbo Incarnado. Só Jesus, na qualidade de Filho de Deu, de Redentor do mundo, tem direito a esta glória infinita. Por isso diz S. Paulo: «A quem dos anjos disse jamais Deus: Senta-te à minha direita»? 
O próprio Nosso Senhor exprimia idêntico pensamento no seu colóquio com Nicodemos: « Ninguém subiu ao céu senão aquele que de lá desceu, o Filho do Homem que está no céu ». Nemo ascendit in caelum, nisi qui descendit de caelo, Filius hominis qui est in caelo. Jesus é o Filho do Homem pela Incarnação; mas, ao incarnar, permaneceu Filho de Deus, que está sempre no céu. Tendo descido do céu, do seio do Pai, para revestir a nossa natureza, Jesus Cristo para lá sobe como para Sua morada natural; só Ele, verdadeiro Filho de Deus, tem pleno direito de voltar para junto do Pai, participar das honras sublimes da Divindade, só a Ele reservadas: Nemo ascendit . . . nisí qui descendit.
E nós não entraremos também nos céus? Seremos excluídos dessa morada de glória e bem aventurança.?
Não teremos parte na Ascensão de Jesus? Está claro que sim; mas, bem o sabeis, é por Cristo e em Cristo que entramos no céu.
Como? Pelo Batismo que nos torna filhos de Deus. Nosso Senhor revelava, no mencionado colóquio
com Nicodemos: Nisi quis renatus fuerit ex aqua et Spiritu Sancto, non potest introire in regnum Dei:
«Aquele que não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus». É como se dissesse: Não se pode entrar no céu, se não se renascer de Deus; há um nascimento eterno no seio do Pai; é o meu; com pleno direito, subo ao céu, pois sou o próprio Filho de Deus, gerado nos esplendores santos; mas há outra categoria de filhos de Deus: a dos « que nascem d'Ele» pelo
Batismo - Ex Deo nati sunt .
Estes são filhqs de Deus e, por conseguinte, diz S. Paulo, « Seus herdeiros»: Si filii et heredes; «herdeiros de Deus, co-herdeiros de Jesus Cristo»: Coheredes Christi, os quais, por conseguinte, terão parte na Sua herança eterna.
Tornando-nos filhos de Deus, o Batismo torna-nos também membros vivos do corpo místico, de que Jesus Cristo é cabeça. S. Paulo é bem explícito a este respeito: Vos estis corpus Christi, et membra de membro: « Sois o corpo de Cristo e membros uns dos outro»; e mais vivamente ainda: "Ninguém despreza a própria carne; pelo contrário, cuida dela e sustenta-a; vós sois da carne de Cristo e dos Seus ossos »: De carne ejus et de ossibus ejus.
Ora os membros têm parte na glória da cabeça e a alegria duma pessoa irradia por todo o corpo. Eis
por que participamos de todos os tesouros que Jesus Cristo possui; as Suas alegrias, as Suas glórias e a Sua beatitude tornam-se nossas.
Tal é a maravilha da misericórdia divina. «Deus é rico em misericórdia, exclama o Apóstolo; devido ao amor imenso que nos tinha, apesar de estarmos mortos pelo pecado, vivificou-nos com Cristo (pois foi pela Sua graça que fostes salvos ): ressuscitou-nos com Ele; fez-nos sentar todos com Ele nos céus, para assim manifestar aos séculos futuros a riqueza infinita da Sua graça, pela bondade que nos testemunha em Jesus Cristo».
E como tudo o que faz o Pai o faz igualmente o Filho, Jesus Cristo arrasta consigo a nossa humanidade para a fazer sentar na glória e na beatitude. O grande feito de Jesus, a magnífica proeza desse gigante divino, foi abrir de novo, pelos Seus sofrimentos, as portas do céu à humanidade decaída, transportando-a consigo aos esplendores do céu: Unitam sibi fragilitatis nostrae substantiam,
in gloriae tuae dextera collocavit. Est elevatus in caelum, ut nos divinitatis suae tribueret esse participes.
Quando Jesus Cristo subiu ao céu, diz S. Paulo, entrou com Ele um cortejo de almas santas, conquista
gloriosa: Captivam duxit captivitatem. Mas, estes justos que acompanhavam a Jesus no Seu triunfo eram apenas as primícias de inúmeras colheitas. A ascensão das almas ao céu faz-se sem cessar, até ao dia em que o reino de Jesus tenha atingido a medida da sua plenitude.
"A ascensão de Cristo é também nossa; e na glória da cabeça é que se firma a esperança do corpo. Neste santo dia, não recebemos somente a garantia de entrar na posse da glória eterna, mas penetramos realmente nas alturas dos céus com Jesus Cristo». «As astúcias do antigo inimigo 
tinham-nos afastado da primeira morada de felicidade; incorporando-nos a Si, o Filho de Deus colocou-nos à direita do Pai", Quos inimicus primi habitaculi felicitate dejecit collocavit.
Agora compreendemos o coro de ação de graças que os eleitos entoam em louvor do Cordeiro imolado pelos homens! Agora compreendemos aquelas exclamações e adorações que incessantemente oferecem a Aquele que lhes mereceu, por indizíveis tormentos, a bem -aventurança sem fim!
Ainda não chegou para nós a hora desta glorificação. Mas, enquanto esperamos para nos unir ao coro dos bem aventurados, devemos, pelo pensamento e santos desejos, habitar nesse céu onde Cristo, nosso chefe, vive e reina para sempre.
Nesta terra, somos apenas hóspedes e peregrinos, em busca da Pátria: como membros da cidade dos santos e da casa de Deus, «pela fé e pela esperança, diz S. Paulo, devemos desde já viver no céu».
É esta igualmente a graça que a Igreja nos faz pedir a Deus nesta solenidade: «Concedei-nos, Deus todo poderoso, a nós que acreditamos que o Vosso Filho único, nosso Redentor, subiu hoje ao céu, a graça de também nós ai habitarmos pelo pensamento": Ipsi quoque mente in caelestibus habitemus. Na Postcommunio da mesma missa, pedimos a graça de sentir os efeitos invisíveis dos Mistérios de que participamos de modo visível: Ut quae visibilibus mysteriis sumenda percepimus, invísibili consequamur effectu. Pela Comunhão, unimo-nos a Jesus; ao vir a nós, Nosso Senhor dá-nos a graça de partilhar, em esperança, da glória de que Ele goza na realidade: « disso nos dá até o penhor": Et futurae gloriae nobis pignus datur.
Oh! dir-lhe-emos, arrastai-nos convosco, triunfador magnífico e todo poderoso: Trahe nos post te; dai-nos a graça de subir aos céus, de aí morar pela fé, pela esperança e pelo amor! Fazei com que nos desapeguemos das coisas da terra, que são fugazes, para só procurar-mos os verdadeiros bens que sempre duram! Oxalá «venhamos a estar, pelo coração, lá para onde sabemos que a Vossa santa Humanidade foi corporalmente elevada»! Ut illuc sequamur corde, ubi eum corpore ascendisse
credimus.