21 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

XVII

MISSÃO DO ESPIRITO SANTO

"Se me amásseis, dizia Jesus Cristo aos Apóstolos, regozijar-vos-íeis por Eu voltar para o Pai »:
Si diligeretis me, gauderetis utique quia vado ad Patrem.
Com efeito, para os que amam a Cristo, a Ascensão é uma fonte inesgotável de júbilo. É a glorificação suprema de Jesus no mais alto dos céus; é a realização da prece de Jesus: «Pai, glorifica-me com a glória que tive em ti, antes de o mundo existir: Clarifica-me, Pater, apud temetipsum, claritate quam habui, priusquam mundus esset apud te. Enchemo-nos de alegria, quando contemplamos Jesus, nosso Redentor e nosso chefe, sentado à direita do Pai, depois de ter cumprido neste mundo, nos aviltamentos da Sua incarnação e nas humilhações da Sua morte, a Sua missão salvadora.
Mas Nosso Senhor não dizia apenas aos discípulos: «A minha Ascensão deve alegrar-vos"; acrescentava: "É vantajoso para vós». Veritatem dico: expedit vobis ut ego vadam; si enim non abiero, Paraclitus non veniet ad vos; si autem abiero, mittam eum ad vos: "Digo-vos a verdade: é bom para vós que eu vá; porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vô-lo-ei».
Todas as palavras do Verbo Incarnado são, como Ele próprio diz, «espírito e vida»: Verba quae ego locutus sum vobis, spiritus et vita sunt. São graves e profundas, por vezes misteriosas. Algumas são difíceis de compreender e só na oração se podem penetrar bem. As palavras de Jesus, que acabamos de ouvir sobre a Sua partida da terra, são deste número.
Expedit vobis ut ego vadam: «É bom para vós que Eu vá». Como? Pode ser bom para os Apóstolos que Jesus vá, que os deixe e suba para o Pai? Não é para eles a fonte de todos os bens, a causa de toda a graça? Não é Ele «o caminho, a verdade e a vida»? Não disse Ele: «Ninguém pode ir ao Pai senão por mim»? Como pode então convir aos Apóstolos que Jesus os deixe?
Não poderiam eles responder-Lhe, com toda a verdade: «Ó divino Mestre, que estais a dizer? de ninguém mais precisamos do que de Vós, Vós nos bastais»: Ad quem ibimus? Não possuímos convosco todas as graças? Ficai, pois, conosco»: Mane nobiscum.
Mas a palavra do divino Mestre é formal: "Digo-vos a verdade»: Veritatem dico: «Não posso demorar-me mais; é tempo de voltar para meu Pai, e é vantajoso para vós que Eu vos deixe». Por que razão? "Para vos enviar o Espírito Santo».
Aqui é que está o mistério; e é este mistério que vamos contemplar, na medida em que nos for dado; pois nisto tudo é sobrenatural, e só a fé nos pode guiar.
Embora nesta conferência se trate constantemente do Espírito Santo, vamos ver que a descida visível deste Espírito sobre os discípulos (descida esta que constitui o tema próprio da solenidade do Pentecostes) é obra de Jesus na Sua natureza divina (como o é também do Paí ) e, por esse motivo, está enquadrada no ciclo dos Seus mistérios.
Primeiramente, porque Jesus Cristo pediu que o Espírito Santo fosse enviado, e disso fez o objeto duma prece muito especial. Nosso Senhor dizia aos discípulos, na última Ceia: "Vou pedir ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, o Espírito de verdade, para que permaneça sempre convosco».
Em segundo lugar, Jesus prometeu aos Apóstolos que lhes enviaria esse Espírito. "Quando vier o Consolador, que Eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito de verdade que procede do Pai, dará testemunho de mim . . . Se Eu for, enviar-vos-ei o Consolador".
Além disso, mereceu que o Espírito fosse enviado. Jesus Cristo, pela Sua oração como pelo Seu sacrifício, obteve do Pai que o Espírito de verdade, de amor, de força e de consolação, descesse sobre os Apóstolos. Toda a graça é o prêmio da oração e da imolação do Salvador: e como isto se verifica admiravelmente na vinda deste Espírito tão poderoso e cheio de bondade, que o próprio Jesus proclamou igual a Si, em quem os Apóstolos encontrarão um outro Ele mesmo!
Finalmente e sobretudo, a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos não tem outro fim, como sabeis, senão concluir o estabelecimento da Igreja. Jesus fundara esta Igreja sobre Pedro, mas quis deixar ao Espírito Santo (vamos ver porque) o cuidado de a aperfeiçoar. Efetivamente, antes da Ascensão, estando à mesa com os Apóstolos, recomenda-lhes que «não se afastem de Jerusalém, mas que esperem pelo Espírito. A vinda deste Espírito devia servir para a glorificação de Jesus»: ao mesmo tempo, o Espírito «enchê-los-ia de força", para que pudessem «dar testemunho de Jesus na cidade santa, na Judeia, na Samaria e até ao extremo do mundo». São as próprias palavras de Jesus Cristo.
Já vedes, pois, como a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos pertence a Jesus. E isto é tão verdade, que S. Paulo chama ao Espírito Santo «o Espírito de Cristo, o Espírito de Jesus ". Eis por que não podemos percorrer o ciclo dos mistérios de Cristo sem contemplar esta obra maravilhosa que se realizou dez dias depois da Ascensão.
Peçamos ao Espírito Santo que Ele mesmo nos dê a conhecer o que Ele é, em que consiste a Sua missão e a Sua obra no dia do Pentecostes. "Vinde, Espírito de verdade, iluminai as nossas inteligências para que em nossos corações se acenda o fogo do amor de que sois o foco infinito».

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