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3 de fevereiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Exemplos concernentes à Devoção ao Menino Jesus

EXEMPLOS CONCERNENTES À DEVOÇÃO AO MENINO JESUS.

I.
Lê-se no “Prado Florido”, que uma devota pessoa desejava saber quais as almas mais caras a Jesus Cristo. Um dia que ela assistia à missa, no momento da elevação da santa hóstia, viu o Menino Jesus sobre o altar, e com ele três jovens virgens. Jesus aproximou-se da primeira, e lhe fez muitas carícias. Passou depois à segunda, levantou-lhe o véu e deu-lhe uma rude bofetada; em seguida voltou-lhe as costas; mas logo depois, vendo-a triste, o divino Menino a consolou com provas de afeto. Chegou enfim à terceira, com rosto irado, tomou-a pelo braço, bateu-a e expulsou-a para longe dele; porém quanto mais a pobre moça se via maltratada e repelida pelo Senhor, tanto mais se humilhava e se chegava a Ele. Assim terminou a visão. A pessoa de que falamos, teve vivo desejo de saber a significação do que acabara de ver; Jesus apareceu-lhe de novo e lhe disse que há na terra três sortes de almas que o amam. Algumas o amam, porém com amor tão fraco que, se não forem sustentadas pelas doçuras espirituais, ficam sem sossego e em perigo de abandoná-lo; a primeira das três virgens figurava essas almas. A segunda representava aquele cujo amor é menos fraco, mas que tem necessidade de ser consolada de tempo em tempo. Em fim a terceira era a figura daquelas almas fortes que, embora sempre desoladas e privadas de consolações espirituais, não deixam de fazer o que podem para agradar a Deus. “E, ajuntou Jesus, são estas últimas as que mais eu amo”.

II.
O padre Canóglio conta que uma religiosa, após numerosos pecados, ousou cometer um enorme sacrilégio. Um dia, depois da comunhão, tirou da boca a santa hóstia e pô-la num lenço; depois fechando-se no quarto, atirou ao chão o SS. Sacramento e o calcou aos pés. Em seguida abaixa os olhos, e que vê? vê, em lugar da hóstia, uma criança de grande formo-sura, mas toda pisada e coberta de sangue, que lhe disse: “Que te fiz eu para assim me maltratares?” Então a infeliz caindo em si e penetrada de arrependimento, ajoelhou-se em prantos e exclamou: “Meu Deus, perguntais o que vós fizestes? ah! vós me amastes ao excesso”. A visão desapareceu; e a peca-dora, inteiramente convertida, tornou-se um modelo de penitência.

III.
Conta-se nas crônicas da Ordem de Cister, que um monge do Brabante, atravessando uma floresta na noite de Natal, ou-viu um gemido como duma criança recém-nascida. Caminhou para o lugar donde vinha a voz e percebeu no meio da neve uma bela criancinha que tremia de frio e chorava. Movido de compaixão, o religioso apeou do cavalo e aproximando-se da infeliz criança, exclamou: Menino, como é que te achas assim abandonado na neve chorando e morrendo de frio? Então ou-viu a resposta: “Ah! como posso deixar de chorar vendo-me abandonado de todos, não havendo ninguém que me acolha e se compadeça de mim?” A essas palavras o Menino desapareceu, dando-nos a entender que era o nosso divino Salvador, e que, por essa visão, quisera queixar-se da ingratidão dos homens que, sabendo que Ele nasceu numa gruta por seu amor, o deixam chorar sem terem dele a menor compaixão.

IV.
Lê-se nos Bolandistas, que um dia a Santa Virgem apareceu à bem-aventurada. Coleta, que pedia a sua intercessão para os pecadores, e que, mostrando-lhe numa bacia o seu divino Filho todo lacerado e despedaçado, disse-lhe: “Minha filha, tem compaixão de mim e de meu Filho: eis como os pecadores o tratam!”

V.
Pelbarto conta que um soldado vicioso tinha uma mulher piedosa, que, não conseguindo convertê-lo, obteve ao menos dele, que não deixasse de rezar cada dia uma Ave Maria diante de alguma imagem da SS. Virgem. Um dia, saindo para maus fins, passou diante duma igreja, entrou nela por acaso e, percebendo a imagem da SS. Virgem, pôs-se de joelhos e rezou a sua Ave Maria. Mas que vê? vê nos braços de Maria o Menino Jesus todo coberto de chagas ensangüentadas. “Meu Deus, exclama, qual o bárbaro que assim tratou esta inocente criança?” “Fostes vós, pecadores, respondeu Maria, que assim tratais o meu Filho”. A essas palavras sentiu-se tocado de com-punção, e pediu a Nossa Senhora, chamando-a Mãe de misericórdia, lhe obtivesse o perdão dos seus pecados; mas Ela respondeu: “Vós, pecadores, me chamais Mãe de misericórdia, e não cessais de fazer de mim uma Mãe de dor e de miséria!” O penitente não desanimou, e continuou a suplicar a Maria inter-cedesse por ele, e a Santíssima Virgem, voltando-se para seu divino Filho, pediu-lhe perdão para aquele pecador. Jesus mostrou primeiro repugnância; mas Maria ajuntou: “Meu Filho, não deixarei os vossos pés enquanto não perdoardes a esse infeliz que a mim se recomenda”. “Minha Mãe, disse-lhe então Jesus, nunca vos recusei coisa alguma. Desejais o perdão para esse homem; pois bem, perdôo-lhe; e em sinal de reconciliação, quero que me venha beijar as chagas”. O pecador se aproximou e, na medida que beijava as chagas de Jesus, estas se fechavam. Saiu depois da igreja, foi pedir perdão a sua mulher, e ambos, de comum acordo, deixaram o mundo para abraçar o estado religioso em dois mosteiros onde terminaram santamente a vida.

VI.
Lê-se na Vida do Irmão Benedito Lopes que, quando militar, tinha a consciência manchada de pecados. Um dia, em Travancore, entrou numa igreja; enquanto considerava uma imagem de Maria com o Menino Jesus, o Senhor lhe pôs ante os olhos a sua má vida. À essa vista, sentiu tentação de desespero quanto à salvação; mas voltando-se logo para a SS. Virgem, recomendou-se com lágrimas à sua intercessão; viu então o santo Menino chorar também e as suas lágrimas cair sobre o altar, de sorte que outros o perceberam e se puseram a recolhê-las num pano. Desde esse momento, Benedito, penetrado de contrição, renunciou ao mundo e tornou-se irmão-coadjutor na Companhia de Jesus, onde viveu e morreu com sentimentos de terna devoção à santa infância de Jesus Cristo.

VII.
O padre Patrignani narra que em Messina havia um meni-no nobre, chamado Domingos Ansalone, que ia freqüentemente visitar na igreja uma estátua da SS. Virgem com o Menino Jesus, pelo qual sentia terno afeto. Ora, Domingos caiu mortalmente enfermo. Pediu com viva instância a seus pais, lhe fizessem trazer o seu caro Jesus. Realizado o seu desejo, tomou-o com grande alegria e colocou-o no leito; não se cansava de olhar para Ele com amor, e de tempo em tempo lhe dirigia esta prece: “Meu Jesus, tende piedade de mim”. Depois, voltando-se para as pessoas presentes, dizia-lhes: “Vêde, vêde como é belo o meu pequeno Senhor”. Na última noite de sua vida, chamou seus pais e, na presença deles, disse ao santo Menino: “Meu Jesus, constituo-vos o meu herdeiro”. Pediu de-pois a seu pai e a sua mãe que, com a pequena soma que tinha de reserva, fizessem celebrar nove missas depois da sua morte, e confeccionassem com o resto uma bela roupinha para o seu pequeno herdeiro. Antes de expirar, ergueu os olhos ao céu com o rosto radiante de alegria, e disse: “Oh! como é belo! oh! como é belo o meu Senhor!” E pronunciando essas palavras exalou o seu derradeiro suspiro.

VIII.
A passagem que se vai ler é tirada do “Espelho de exemplos”. Um jovem inglês, muito piedoso, chamado Edmundo, estava no campo com outras crianças de sua idade. Como amava a oração e a solidão, separou-se de seus companheiros para passear à parte num prado, fazendo afetuosos atos de amor a Jesus Cristo. De repente um menino encantador se lhe apresentou e o saudou com as palavras: “Deus te guarde, meu caro Edmundo!” Perguntou-lhe depois se o conhecia. Edmundo respondeu que não. “Como não? replicou o celeste Menino; não conheces a mim que estou sempre a teu lado? Pois bem! se me queres conhecer, olha-me o rosto”. Edmundo, olhando para ele, leu em sua fronte as palavras: Jesus Nazarenus, Rex Judaeorum: Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus. — Então o santo Menino ajuntou: “Eis o meu nome, e quero que, em memória do amor que te tenho, faças todas as noites o sinal da cruz em tua fronte pronunciando-o. Com isso serás preservado da mor-te repentina, bem como todos os que fizerem a mesma coisa”.
Edmundo continuou depois a persignar-se com o nome de Jesus. Uma vez o demônio agarrou-lhe a mão para que não pu-desse fazer; mas ele o venceu pela oração, e o obrigou a dizer qual a arma ele mais temia. O demônio confessou que eram aquelas palavras com que se persignava.

IX.
O padre Nadasi conta que num convento se introduzira o piedoso costume de se fazer passar sucessivamente a imagem do Menino Jesus de uma religiosa para outra; cada uma a contemplava um dia. Uma dessas virgens, tendo-a por sua vez, fez antes uma longa oração, depois chegando a noite, tomou a santa imagem e a encerrou num pequeno armário. Mas apenas se tinha ela acomodado, ouviu o Menino Jesus bater à porta do armário. Levantou-se incontinenti, recolocou a imagem sobre o altarzinho, e, depois de rezar demoradamente, a encerrou de novo. Mas o Menino Jesus bateu uma segunda vez. Retirou-o novamente e rezou. Enfim, subjugada pelo sono, pediu a Jesus permissão para descansar, e dormiu até de manhã. Ao despertar bendisse aquela noite feliz que passou em santo entretenimento com o seu querido Jesus.

X.
Refere-se no “Jornal Dominicano” que, a 7 de outubro, S. Domingos, pregando em Roma, encontrou uma pecadora chamada Catarina a Bela. Esta recebeu um rosário das mãos do Santo e pôs-se a rezá-lo sem contudo deixar sua vida má. Um dia Jesus apareceu-lhe, primeiro sob a forma dum jovem moço e depois sob a duma criança graciosa, mas com uma coroa de espinhos na fronte e uma cruz nos ombros; lágrimas corriam de seus olhos, e sangue de seu corpo. Disse-lhe: “Basta, não peques mais, Catarina, basta; cessa de ofender-me; vê quanto me custastes, pois comecei desde a infância a sofrer por ti, e não cesseis de sofrer até a morte!” Catarina foi logo procurar S. Domingos, confessou-se, recebeu deles instruções, e depois de distribuir aos pobres o que possuía, encerrou-se numa cela estreita e murada, onde se esforçou por levar vida fervorosa, e obteve do Senhor graças tais, que o Santo ficou tomado de admiração. Teve morte ditosa, depois de receber a visita da SS. Virgem.

XI.
A venerável Irmã Joana de Jesus e Maria, franciscana, meditando um dia sobre o Menino Jesus perseguido por Herodes, ouviu um grande rumor, como de soldados à procura de alguém; depois viu diante dela um belíssimo Menino, quase sem respiração, que fugia e lhe dizia: “Joana, acode-me, es-conde-me; eu sou Jesus de Nazaré, e fujo dos pecadores que querem matar-me e que me perseguem mais do que Herodes; salva-me”.

XII.
O padre Zucchi, da Companhia de Jesus, tinha grande devoção ao Menino Jesus, cujas imagens o ajudavam a ganhar muitas almas para Deus. Conta-se em sua Vida, que um dia ofereceu uma dessas imagens a uma moça, que vivia em grande inocência, mas que estava longe de pensar em fazer-se religiosa. Ela aceitou o presente, mas disse sorrindo: “Que devo fazer desse pequeno Menino?” O Padre, sabendo que ela gostava muito de música, respondeu-lhe: “Coloca-o em teu pi-ano”. E ela o fez. Assim, tendo sempre o santo Menino diante dos olhos, a jovem teve muitas vezes ocasião de o considerar; começou a sentir devoção; depois concebeu desejo de tornar-se melhor, de sorte que o seu instrumento a movia mais à oração do que à música. Enfim, tomou a resolução de deixar o mundo e abraçar o estado religioso. Quando, cheia de contentamento, contou ao Padre Zucchi que o Menino lhe ganhara o coração e que, desprendendo-a das afeições terrestres, conquistara todo o seu amor, entrou no convento e levou vida per-feita.

XIII.
Seja-nos permitido ajuntar a esses exemplos escritos por S. Afonso, um outro mais recente, que lemos na vida de S. Geraldo Majela da Congregação do Ss. Redentor. Em sua infância, animado já de piedade ardente, gostava de visitar uma igreja onde se honrava a Mãe de Deus com o Menino Jesus nos braços. Um dia que lá entrou, o divino Menino foi ao seu encontro e ofereceu-lhe um pãozinho branco, imagem do dom que lhe queria fazer em breve de si mesmo na adorável Eucaristia. Geraldo, atraído pelos doces encantos de seu Salvador Meni-no, ia muitas vezes de manhã a essa igreja, e Jesus lhe repetia o costumado presente.
Mais tarde pôs-se ao serviço dum patrão extremamente difícil, que não poupava ocasião de exercer sua paciência heróica. Uma chave caiu uma vez no poço. Prevendo a perturbação e a irritação que esse acidenta causaria a seu patrão, e as faltas que o faria cometer, Geraldo animou-se de confiança, tomou uma pequena estátua do Menino Jesus e a desceu ao poço por meio de uma corda, dizendo: “A vós compete poupar toda a impaciência de meu patrão”. E quando retirou a santa imagem, à vista de todos, esta tinha a chave na mão.

2 de fevereiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Festa do Santo nome de Jesus

OUTRA MEDITAÇÃO PARA A FESTA DO SANTO NOME DE JESUS.

I.
O nome de Jesus não foi dado ao Verbo encarnado pelos homens, mas pelo próprio Deus: Chamá-lo-eis Jesus, disse o anjo a Maria. JESUS quer dizer SALVADOR; é um nome de alegria, um nome de esperança, um nome de amor.
É um nome de alegria; se nos aflige a lembrança de nossos pecados, esse nome divino nos consola e nos alegra, recordando-nos que o Filho de Deus se fez homem para ser nosso Salvador.

 II.
Meu amado Salvador, descestes do céu para procurar-me; e eu, miserável, voltei-vos as costas, desprezei vossa graça e vosso amor! Mas apesar disso quereis sempre salvar-me; meu Jesus, agradeço-vos, e amo-vos.
É um nome de esperança; pois quem pede ao Pai celeste em nome de Jesus, pode esperar todas as graças que suplica: Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará.
Meu Deus, apoiado nessa promessa, peço-vos em nome de Jesus o perdão dos meus peados, a santa perseverança e o dom do vosso amor. Fazei, uma palavra, que eu empregue o resto da minha vida, não em ofender-vos, mas unicamente em amar-vos e agradar-vos, como o mereceis.

III.
É um nome de amor. S. Bernardino de Sena diz que o no-me de Jesus é um memorial de tudo o que Deus fez por nosso amor; recorda-nos todas as penas que nosso Salvador sofreu por nós em sua vida e em sua morte. Daí a exclamação de um piedoso autor: “Ó meu Jesus, quanto vos custou serdes para mim Jesus, isto é, meu Salvador!”
Ah! meu Jesus, gravai vosso nome no meu pobre coração e na minha língua, a fim que resista às tentações invocando-o; que repila os pensamentos de desespero pela confiança em vossos méritos; e que na tibieza o vosso nome me inflame, recordando-me o quanto me tendes amado. Assim o vosso nome será sempre a minha defesa, o meu apoio, e a chama que entreterá em meu coração o fogo do vosso amor. Dai-me, pois, a graça de invocar-vos sempre durante a vida, e de morrer com vosso nome nos lábios, repetindo ainda no meu último suspiro: Eu vos amo, meu Jesus; eu vos amo.
Maria, minha Rainha clemente, fazei que na hora de minha morte eu invoque sem cessar o vosso doce nome com o de vosso divino Filho Jesus.

1 de fevereiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Festa da Epifania

OUTRA MEDITAÇÃO PARA A FESTA DA EPIFANIA.

I.
O Filho de Deus nasce pobre e humilde numa gruta; os anjos do céu o reconhecem e glorificam a Deus cantando: Glória a Deus no mais alto dos céus! Mas na terra os homens, por cuja salvação Jesus veio ao mundo, o abandonam; só alguns pastores o reconhecem por seu Salvador. Entretanto, esse amoroso Redentor quer desde então comunicar-nos as primícias da graça da sua redenção; eis por que começa logo a manifestar-se também aos gentios que não o conheciam nem o esperavam. Para esse fim envia a estrela que devia advertir os Magos, e ao mesmo tempo os aclara por uma luz interior, a fim de que vão conhecer e adorar o seu divino Redentor. Essa é a primeira e a principal graça feita aos homens: a vocação à fé.
Ó Salvador do mundo, que seria de nós, se nos não viés-seis iluminar? Seríamos semelhantes a nossos pais, que adoravam os animais, os ídolos de mármore e de madeira, e nos condenaríamos todos. Agradeço-vos hoje em nome de todos os homens.

II.
Os Magos põem-se a caminho sem detença, e, guiados pela estrela, chegam ao lugar em que se encontra o santo Me-nino. Acharam o Menino com Maria. Lá só vêem uma jovem Virgem pobre e uma criancinha pobre, coberta de pobres paninhos; mas, à sua entrada no lugar, que era um estábulo, sentem grande alegria interior e o seu coração docemente atraído pelo amável Menino. Aquela palha, aquele desnudamento, aqueles vagidos do Salvador que acaba de nascer, são outras tantas setas e chamas de amor para seus corações aclarados.
Sim, meu Jesus, quanto mais pobre e humilhado vos vejo, tanto mais me inflamais de vosso amor.

III.
O divino Infante mostra àqueles santos peregrinos rosto alegre e demonstra com isso que aceita aquelas primeiras conquistas de sua redenção. A divina Mãe guarda também silêncio, mas faz-lhes gracioso acolhimento e agradece-lhe as homenagens prestadas a seu Filho. Eles o adoram em silêncio, e o reconhecem por seu Deus e Salvador oferecendo-lhe ouro, incenso e mirra.
Ó meu Rei-Infante, amável Jesus, eu também vos adoro e apresento meu miserável coração. Aceitai-o, transformai-o. Fazei que ele seja todo vosso e que ame unicamente a vós. Meu doce Salvador, salvai-me, e minha salvação seja amar-vos sem cessar e sem reserva.
Virgem Santíssima, Maria, de vós espero essa graça.

31 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Festa da Circuncisão

OUTRA MEDITAÇÃO PARA A FESTA DA CIRCUNCISÃO.

I.
O Padre eterno, enviando seu Filho à terra para sofrer e morrer por nós, quer que Ele seja circuncidado e comece desde hoje a derramar o seu sangue divino para acabar de difundi-lo no dia de sua morte na cruz num oceano de desprezos e dores? Por que? a fim que essa Vítima inocente pague assim a pena que merecemos. À vista de tão grande benefício a Santa Igreja exclama com admiração: Ó adorável efeito de vossa misericórdia para conosco! ó inestimável dom de amor! para resgatardes o escravo, entregastes o vosso Filho!
Ó Deus eterno, quem nos teria podido jamais fazer esse dom infinito, senão vós que sois uma bondade infinita e um amor infinito? Ah! Senhor! se no vosso Filho me destes o que tendes de mais caro, é justo que eu, miserável, me dê inteira-mente a vós. Sim, meu Deus, dou-me todo a vós; aceitai-me e não permitais que me afaste mais de vós.

II.
De seu lado, o Filho de Deus, cheio de humildade e amor por nós, abraça a morte dolorosa que lhe é destinada, para livrar a nós pecadores da condenação eterna, e hoje começa voluntariamente a satisfazer por nós à justiça divina, derramando seu sangue precioso. Ele se humilhou, diz o Apóstolo, tornando-se obediente até a morte, e até a morte da cruz.
Vós, meu Jesus, aceitastes pois a morte por amor de mim; e eu, que farei? continuarei a afligir-vos com meus pecados? Não, meu Redentor, já não quero pagar-vos com ingratidão. Pesa-me de vos haver causado tantos desgostos no passado. Amo-vos, Bondade infinita, e não quero cessar jamais de amar-vos.

III.
O divino Salvador disse: Ninguém te maior amo do que aquele que dá sua vida por seus amigos. Mas vós, ó Jesus, diz S. Paulo, nos mostrastes uma caridade maior: destes a vossa vida por nós, que éramos inimigos vossos.
Eis a vossos pés, Senhor, um desses miseráveis. Quantas vezes renunciei a vossa amizade, e não vos obedeci! Reconheço hoje o mal que fiz; perdoai-me, meu Jesus, quisera mor-rer de dor. Agora amo-vos de toda a minha alma, e o meu único desejo é amar-vos e ser-vos agradável.
Maria, Mãe de Deus e minha Mãe, rogai a Jesus por mim.

30 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 9

MEDITAÇÃO IX.

DO NASCIMENTO DE JESUS NA GRUTA DE BELÉM.
Tendo o imperador romano ordenado por um edito que cada um de seus súditos se inscrevesse no lugar de sua origem, José pôs-se a caminho com Maria, sua Esposa, para ir inscrever-se em Belém. — Ó céu! quanto não teve de sofrer a santa Virgem nessa viagem, que era de quatro dias, por caminhos montanhosos e no coração do inverno, numa estação de frio, de ventos e chuvas!
Quando estiveram em Belém, chegou o momento em que devia nascer o Messias. José pôs-se logo a procurar na cidade um lugar conveniente em que Maria pudesse dar à luz a seu Filho. Mas como era pobres, foram repelidos em toda parte recusaram-lhes até a hospedagem nos hotéis em que eram aceitos os outros pobres. Tiveram por isso de sair da cidade durante a noite, e Maria entrou numa gruta que encontraram. Mas José disse-lhe: Cara Esposa, como podeis passar a noite em lugar tão úmido e frio e aí dar à luz o vosso divino Filho? não vêdes que é um estábulo? — Ah! meu caro José, respondeu Maria, é certo que este estábulo é o palácio em que o Filho de Deus quer nascer.
Logo depois, estando a Virgem de joelhos em oração, chegada a hora do nascimento do Salvador, a gruta foi imediatamente aclarada por uma grande luz. Maria abaixa os olhos e vê no solo o Filho de Deus já nascido, tenra criancinha que treme de frio e que chora. Adora-o logo como seu Deus; depois toma-o em seus braços e envolve-o nos pobres paninhos que levara consigo; e enfim depois de o enfaixar, deita-o num pre-sépio sobre a palha. — Assim quis nascer por amor de nós o Filho do Padre eterno.
S. Maria Madalena de Pazzi dizia que as almas que amam a Jesus Cristo devem fazer aos pés do santo Menino o ofício dos animais que no estábulo de Belém acalentavam com seu hálito a Jesus: devem também acalentá-lo com seus suspiros de amor.

Afetos e Súplicas.
Ó adorável Menino, não ousaria ficar aos vossos pés, se não soubesse que me convidais e aproximar-me de vós. Fui eu por meus pecados que vos fiz derramar tantas lágrimas no estábulo de Belém: mas, já que viestes à terra para perdoar aos pecadores penitentes, dignai-vos perdoar-me; arrependo-me sobremaneira de vos haver desprezado a vós meu Salvador e meu Deus, que sois tão bom e que me haveis amado tanto!
Nesta noite concedeis grandes graças a tantas almas; ah! consolai também a minha alma: a graça que desejo é a de vos amar doravante de todo o meu coração; inflamai-o todo de vosso santo amor. Amo-vos, ó meu Deus feito Menino por mim. Por favor não permitais que eu cesse jamais de vos amar.
Ó Maria, minha Mãe, podeis tudo com vossas preces; não vos peço outra coisa senão que rogueis a Jesus por mim.

29 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 8

MEDITAÇÃO VIII.

DA ESTADA DE JESUS MENINO NO EGITO E EM NA-ZARÉ
Nosso divino Redentor passou no Egito os sete primeiros anos de sua infância, levando vida pobre e desprezada. José e Maria eram estranhos e desconhecidos, sem parentes e sem amigos, e o trabalho de suas mãos mal lhes fornecia o necessário para o sustento diário. A sua habitação era pobre, o seu leito pobre, o seu alimento pobre. Foi lá que Maria continuou a amamentar a Jesus e o desaleitou. Depois de o nutrir com seu leite, ela o sustentou com suas mãos: duma tigela tomava um pouco de pão embebido em água, e o levava à boca sagrada de seu Filho. Foi lá que lhe fez a primeira túnica, lhe tirou as faixas, e começou a vesti-lo. Foi lá que Jesus aprendeu a andar, dando os primeiros passos, vacilando e caindo várias vezes como sucede às outras crianças. Foi lá que Jesus proferiu suas primeiras palavras, balbuciando. — Ó prodígio! a que es-tado se reduziu um Deus por nosso amor! um Deus vacilar e cair ao andar! um Deus balbuciar ao falar!
A vida que Jesus levou após a volta do Egito, na casa de Nazaré, não foi menos pobre nem menos abjeta. Até a idade de trinta anos exerceu o ofício de simples operário numa oficina; obedecia a José e a Maria. Jesus ia buscar água; Jesus abria e fechava a oficina; Jesus varria a casa, recolhia a lenha para o fogo, e afatigava-se o dia inteiro para ajudar a José em seu trabalho. — Ó espetáculo assombroso! um Deus que trabalha como operário! um Deus que varre a casa! um Deus que se fatiga até suar para desbastar uma peça de madeira! quem é Jesus? um Deus todo-poderoso, que com um aceno criou o mundo, e que pode aniquilá-lo quando quiser! — Ah! um só desses pensamentos deveria consumir-nos de amor.
Quão doce era então observar a devoção com que Jesus fazia oração, a paciência com que trabalhava, a prontidão com que obedecia, a modéstia com que tomava as refeições, e a mansidão e afabilidade com que falava e conversava! Ah! certamente todas as palavras e todas as ações de Jesus eram tão santas que inflamavam de amor todos os corações, mas principalmente os de Maria e de José que o observavam continua-mente.

Afetos e Súplicas.
Ó Jesus, meu Salvador, quando penso que vós, meu Deus, permanecestes tantos anos desconhecido e desprezado numa pobre casa por amor de mim, como posso desejar os prazeres, as honras, as riquezas deste mundo? Renuncio a todos esses bens, e quero ser vosso companheiro sobre a terra, pobre como vós, mortificado como vós, e desprezado como vós: com isso espero gozar um dia a vossa companhia no paraíso. Que são os reinos, os tesouros deste mundo? Meu Jesus, vós sereis o meu único tesouro, o meu único bem. Sinto pro-funda dor de no passado haver tantas vezes desprezado a vossa amizade para satisfazer os meus caprichos; arrependo-me de todo o coração. Para o futuro estou resolvido a antes perder mil vezes a vida do que perder a vossa graça. Meu Deus, não quero mais ofender-vos, quero amar-vos sempre. Ajudai-me a ser-vos fiel até a morte.
Maria, sois o refúgio dos pecadores, sois a minha esperança.

28 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 7

MEDITAÇÃO VII.

A VIAGEM DE JESUS MENINO AO EGITO.
O Filho de Deus desce do céu para salvar os homens; mas apenas nascido os homens o perseguem de morte. Herodes teme que esse Menino lhe roube o reino, e procura perdê-lo. S. José em sonho é avisado por um anjo, toma Jesus e sua Mãe e foge para o Egito. José obedece imediatamente: comunicada essa ordem do céu a Maria, ajunta as ferramentas de seu ofício para no exílio ganhar o pão para si e sua família. Maria, de seu lado, recolhe e toma consigo os paninhos que devem servir ao santo Menino; depois chegando-se ao berço em que dorme seu Filho, diz-lhe em prantos: Ó meu Filho e meu Deus, viestes do céu para salvar os homens; e apenas nascestes já vos procuram tirar a vida! — Proferindo essas palavras, toma-o em seus braços e, continuando a derramar lágrimas, põe-se a caminho com José naquela mesma noite.
Consideremos os sofrimentos, as dores e as privações dos nossos santos exilados em tão longa viagem. Como o divino Menino não podia ainda andar, Maria e José são obrigados a levá-lo alternadamente em seus braços. Na travessia do deserto, têm de passar as noites ao relento e sobre a terra nua. O santo Menino chora de frio; Maria e José choram de compaixão por ele. E quem não choraria vendo o Filho de Deus, pobre e perseguido e errante, constrangido a fugir da espada assassina de seus inimigos?

Afetos e Súplicas.
Ó doce Menino, chorais e tendes razão de chorar vendo-vos assim perseguido pelos homens, que tanto amais. Mas, ah! eu também vos persegui outrora com meus pecados! mas agora amo-vos mais do que a mim mesmo, e nenhuma pena me aflige tanto como a lembrança de haver desprezado a vós, meu bem supremo. Por favor, perdoai-me, meu Jesus, e permiti vos leve comigo, em meu coração, durante o resto da minha viagem neste mundo, para entrar convosco na eternidade. Inúmeras vezes vos bani de minha alma pelo pecado; mas hoje eu vos amo e me arrependo sobre todas as coisas de vos haver ofendido. Meu amado Senhor, estou resolvido a não mais deixar-vos; mas dai-me a força de vencer as tentações; não permitais me separe mais de vós; fazei-me antes morrer do que ter novamente a desgraça de perder a vossa amizade.
Ó Maria, minha esperança, fazei que eu sempre viva e que morra amando a Deus.

27 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 6

MEDITAÇÃO VI.

DA MISERICÓRDIA DE DEUS NA OBRA DE NOSSA SALVAÇÃO.
Manifestou-se a bondade e a caridade de Deus ao homem. Quando o Filho de Deus feito homem apareceu na terra, viu-se em toda a sua imensidade a bondade de Deus a nosso respeito. — Segundo a reflexão de S. Bernardo, Deus mostrou o seu poder criando o mundo, e a sua sabedoria governando-o; mas fez resplandecer a sua misericórdia sobretudo quando se revestiu da carne humana para salvar por seus sofrimentos e por sua morte a humanidade perdida. E com efeito, que maior misericórdia poderia o Filho de Deus fazer-nos do que tomando sobre si as penas que nos eram devidas.
Ei-lo, pois, nascido, feito menino, fraco, enfaixado, reclina-do num presépio; não pode mover-se nem alimentar-se por si mesmo; é preciso que Maria lhe apresente um pouco de leite para sustentar-lhe a vida. Ei-lo depois no pretório de Pilatos, atado com cordas a uma coluna, da qual pode livrar-se, e é flagelado da cabeça aos pés. Ei-lo pouco depois que caminha para o Calvário: exausto de forças e oprimido sob o peso da cruz, cai e torna a cair no caminho. Ei-lo enfim cravado no madeiro infame, no qual perde a vida pela violência das dores.
Com tanto amor Jesus tencionava ganhar todo o nosso amor e todos os corações; por isso não mandou um anjo para resgatar-nos, mas veio em pessoa salvar-nos por sua paixão. Se o homem tivesse sido resgatado por um anjo, ele deveria dividir o seu coração, e amar a Deus como seu Criador, e ao anjo como seu redentor; a fim pois de conquistar para si só o coração do homem, Deus quis ser o seu Redentor como já era o seu Criador.

Afetos e Súplicas.
Ah! meu caro Redentor, onde estaria eu agora, se, em vez de me suportardes com tanta paciência, me tivésseis feito mor-rer quando me achava em pecado mortal? Se me tendes esperado até esta hora, meu Jesus, apressai-vos a perdoar-me para que a morte me não surpreenda carregado de inumeráveis pecados. Ó meu soberano Bem, sinto ter-vos desprezado; quisera morrer de dor. Não abandonais uma alma que vos procura; se no passado me afastei de vós, agora procuro-vos e amo-vos. Sim, meu Deus, amo-vos sobre todas as coisas, amo-vos mais do que a mim mesmo. Senhor, ajudai-me a amar-vos constantemente o resto de minha vida, nada mais vos peço; eu vo-la peço e a espero.
Maria, minha esperança, rogai por mim: se pedirdes por mim, tenho a certeza de ser atendido.

26 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 5

MEDITAÇÃO V.

DA VIDA AFLITA QUE JESUS LEVOU DESDE O SEU NASCIMENTO.
Jesus Cristo podia salvar o homem sem sofrer e sem mor-rer; mas não: para melhor mostrar-nos o seu amor, escolheu uma vida cheia de aflições. Já o profeta o chamara Homem de dores, devendo sua vida ser repleta de penas. A paixão de nosso Salvador não começou no tempo da sua morte, mas desde o seu nascimento.
Ao nascer encontra-se num estábulo, onde tudo o faz sofrer. Sofre na vista que não encontra nessa gruta senão pedras brutas e negras. Sofre no olfato pelo cheio fétido das dejeções dos animais que a habitam. Sofre no tato pelas picaduras da palha que lhe serve de leito. — Pouco depois de seu nascimento, é constrangido a fugir para o Egito, onde passa vários anos de sua infância na pobreza e no desprezo. — A vida que de-pois leva em Nazaré pouco difere da do seu exílio. — Enfim termina sua carreira em Jerusalém expirando na cruz pela violência dos tormentos.
A vida de Jesus Cristo foi, pois, um martírio contínuo, e mesmo um duplo martírio, porque teve sempre diante dos o-lhos todas as penas que o deviam afligir até a morte. A Irmã Maria Madalena Orsini, queixando-se um dia a Jesus crucifica-do, disse-lhe: “Mas Senhor, vós estivestes só três horas na cruz, enquanto que eu suporto esta pena há vários anos”. Je-sus respondeu-lhe: “Ah! ignorante que dizes? Desde o seio de minha Mãe sofri todas as penas da minha vida e da minha mor-te”. Entretanto, o que mais afligiu o coração de Jesus não foram tanto esses sofrimentos, que aceitara voluntariamente; foi a vista dos nossos pecados e da nossa ingratidão após tantas provas de seu amor. S. Margarida de Cortona não cessava de 
chorar as ofensas que fizera a Deus; o seu confessor disse-lhe um dia: “Margarida, sossega e não chores mais; Deus já te perdoou”. Mas ela respondeu: “Ah! meu pai, como posso cessar de chorar os meus pecados, sabendo que eles afligiam meu Salvador durante toda a sua vida”.

Afetos e Súplicas.
Ó meu Amor, por meus pecados enchi de amargura toda a vossa vida. Meu doce Jesus, dizei-me o que devo fazer para obter o perdão, estou pronto a tudo. Arrependo-me de todas as ofensas que vos fiz, ó meu soberano Bem; arrependo-me e amo-vos mais do que a mim mesmo. Sinto grande desejo de amar-vos, e é de vós que me vem esse desejo; dai-me, pois, a força de amar-vos muito. É justo que vos ame muito quem mui-to vos ofendeu. Ah! lembrai-me sempre o amor que me tivestes, a fim de que minha alma arda sempre de amor por vós, pense sempre em vós, não deseja senão a vós, e não procure agradar senão a vós. Ó Deus de amor, eu, outrora escravo do inferno, dou-me hoje todo a vós. Aceitai-me por piedade, e prendei-me ao vosso amor. Meu Jesus, de hoje em diante que-ro viver amando-vos, e amando-vos quero morrer.
Ó Maria, minha Mãe e minha esperança, ajudai-me a amar o vosso e o meu Deus; só vos peço essa graça; de vós a espero.

25 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 4

MEDITAÇÃO IV.

DA VIDA HUMILDE QUE JESUS LEVOU DESDE SUA INFÂNCIA.
Todas as indicações que o anjo deu aos pastores de Belém para reconhecerem o Salvador recém-nascido, foram si-nais de humildade. Eis o sinal, disse-lhes, pelo qual conhece-reis o Messias: achareis um Menino envolto em pobres paninhos, num estábulo, e reclinado sobre palha num presépio. — Assim quis nascer o Rei do céu, o Filho de Deus, porque vinha destruir o orgulho, que causara a perda do homem.
Os profetas haviam predito que nosso divino Redentor se-ria tratado como o homem mais vil do mundo, e saturado de opróbrios. Quantos ultrajes não teve Jesus de sofrer da parte dos homens! Foi tratado de beberrão, de feiticeiro, de blasfemo e de herege. E quantas outras ignomínias em sua paixão! foi abandonado por seus próprios discípulos; um deles o vendeu por trinta dinheiros, e um outro o renegou, protestando não o conhecer; foi arrastado pelas ruas atado com um malfeitor; foi flagelado como um escravo, escarnecido como um insensato, como um rei de comédia, esbofeteado, coberto de escarros, e por fim condenado a morrer numa cruz entre dois ladrões, co-mo o maior facínora do mundo.
O mais nobre de todos os seres, diz S. Bernardo, é tratado como o mais desprezível de todos! — Mas, meu Jesus, ajunta, quanto mais humilde e desprezado vos mostrais, tanto mais caro e amável vos tornais a mim!

Afetos e Súplicas.
Ah! meu doce Salvador, abraçastes todos esses desprezos por meu amor, e eu, não posso ouvir uma palavra injuriosa sem logo pensar em vingança, eu que tantas vezes mereci ser calcado aos pés dos demônios no inferno! Envergonho-me de aparecer diante de vós tão pecador e orgulhoso. Senhor, não me expulseis de vossa presença, como mereceria. Dissestes que não desprezais um coração que se arrepende e se humilha; arrependo-me de todos os desgostos que vos causei. Per-doai-me, meu Jesus, estou resolvido a não mais vos ofender. Sofrestes tantas injúrias por meu amor; quero sofrer por vosso amor todas as injúrias que me forem feitas. Amo-vos, meu Jesus desprezado por mim, amo-vos, ó meu Bem! amo-vos mais do que todos os bens. Socorrei-me para que vos ame e sofra todas as afrontas para vos comprazer.
Ó Maria, recomendai-me a vosso Filho; pedi a Jesus por mim.

24 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 3

MEDITAÇÃO III.

DA VIDA POBRE QUE JESUS ABRAÇA AO NASCER.
Deus dispusera que no momento em que seu Filho devia nascer sobre a terra, cada qual fosse obrigado, por ordem do imperador, a ir ao lugar de sua origem para lá ser inscrito; as-sim José teve de ir com sua Esposa a Belém para se alistar segundo o decreto de César. Chegou então a hora em que Ma-ria devia dar à luz o seu divino Filho; não podendo achar lugar em nenhuma casa, nem mesmo nas hospedarias públicas em que ficavam os pobres, foi obrigada a retirar-se de noite a uma gruta, e lá deu à luz o Rei do céu. Se Jesus tivesse vindo ao mundo em Nazaré, é certo que teria também nascido em pobreza, mas ao menos teria tido um quarto salubre, um pouco de lume, paninhos quentes, e um berço mais cômodo. Mas não: ele quis nascer na gruta fria e sem lume; quis que um pre-sépio lhe servisse de berço, e que um pouco de palha rude lhe servisse de leito a fim de sofrer mais.
Entremos no estábulo de Belém, mas entremos com fé. Se lá entrarmos sem fé, que veremos? Uma pobre criancinha que treme e chora, atormentada pelo frio e pela rudeza da palha em que está deitada; vendo-a tão bela teremos, sim, um sentimento de compaixão, e nada mais. Se ao contrário lá entrarmos com fé refletiremos que essa criança é o Filho de Deus, que veio ao mundo por nosso amor, e que sofre para expiar os nossos pecados: como então nos será possível não lhe termos gratidão e amor?

Afetos e Súplicas.
Ah! caro e doce Menino, como pude ser tão ingrato, e causar-vos tantos desgostos, sabendo o que sofrestes por mim? Mas as lágrimas que derramais e a pobreza que escolhestes por amor de mim, fazem-me esperar o perdão das ofensas que cometi contra vós. Ó Meu Jesus, arrependo-me de vos haver tantas vezes voltado as costas, e amo-vos sobre todas as coisas. Deus, meus, et omnia: Meu Deus, doravante sereis o meu único tesouro e todo o meu bem: Dai-me o vosso amor, dirvos-ei com S. Inácio, dai-me vossa graça, e serei rico. Não quero, não desejo outra coisa: vós só me bastais, meu Jesus, minha vida, meu amor.

23 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 2

MEDITAÇÃO II.

DO AMOR QUE DEUS NOS MOSTROU NASCENDO MENINO.
Fazendo-se homem por nosso amor, podia o Filho de Deus aparecer no mundo em estado de homem perfeito, como Adão, quando foi criado; mas como as crianças ganham ordinariamente mais o afeto dos que as vêm, quis mostrar-se na terra sob a forma duma criancinha, e até da mais pobre e abjeta de todas as crianças que jamais nasceram. “O nosso Deus quis nascer assim, diz S. Pedro Crisólogo, porque se queria fazer amar”. O profeta Isaías havia predito que o Filho de Deus nasceria criança e assim se daria todo a nós, por amor. Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho.
Ah! meu Jesus, meu soberano Senhor e verdadeiro Deus, quem vos moveu a deixar o céu e a nascer numa gruta senão o vosso amor pelos homens? Quem vos fez descer do vosso trono elevado acima dos astros, para vos estender sobre palha? Porque vejo-vos agora deitado entre dois animais quando antes vos rodeavam os coros dos anjos? Abrasais de santo amor os Serafins, e eis que tremeis de frio num estábulo! Dais movi-mento aos céus e aos sóis, e eis que não podeis mudar de lugar sem o concurso de um braço estranho! Provedes ao ali-mento dos homens e dos animais, e tendes necessidade dum pouco de leite para sustentar a vida! Sois a alegria do céu, co-mo pois vos ouço gemer e chorar? Dizei-me: quem vos reduziu a tanta miséria? “Quem é o autor de todas essas mudanças? pergunta S. Bernardo; é o amor”, responde ele, é o vosso amor para com os homens.
Afetos e Súplicas.
Ó caro Menino, dizei-me: que viestes fazer na terra? dizei-me: que viestes aqui buscar? Ah! eu vos entendo: viestes mor-rer por mim a fim de livrar-me do inferno; viestes procurar-me, que sou ovelha perdida, a fim que para o futuro me não afaste mais de vós e vos ame. Ó meu Jesus, meu tesouro, minha vi-da, meu amor, meu tudo, se vos não amar a quem amarei? Onde posso achar um pai, um amigo, um esposo, mais amável do que vós, e que mais do que vós me tenha amado? Amo-vos, meu Deus, amo-vos, meu único Bem! Pesa-me de ter vivi-do tantos anos, não só sem vos amar, mas ofendendo-vos e desprezando-vos. Perdoai-me, meu amado Redentor, arrependo-me de vos haver tratado assim, arrependo-me de toda a minha alma. Perdoai-me e dai-me a graça de me não separar mais de vós e de vos amar no resto de minha vida. Ó meu a-mor, dou-me todo a vós; aceitai-me, e não me repitais como mereço.
Maria, sois minha Advogada, e por vossas preces, obtendes de vosso divino Filho tudo o que desejais; pedi-lhe que me perdoe e me conceda a santa perseverança até a morte.

22 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Meditações Novena de Natal - Meditação 1

OUTRAS MEDITAÇÕES PARA A NOVENA DE NATAL.

Coroinha a recitar-se antes de cada meditação

1. Meu dulcíssimo Jesus, que nascestes numa gruta, e que depois fostes colocado num presépio sobre palha, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
2. Meu dulcíssimo Jesus, que fostes apresentado e oferecido no templo por Maria, para serdes um dia imolado por nós na cruz, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Se-nhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
3. Meu dulcíssimo Jesus, que fostes perseguido por Herodes e constrangido a fugir para o Egito, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
4. Meu dulcíssimo Jesus, que permanecestes sete anos no Egito, pobre, desconhecido e desprezado por aquele povo bárbaro, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
5. Meu dulcíssimo Jesus, que voltastes à vossa pátria, para lá ser um dia crucificado entre dois ladrões, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
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6. Meu dulcíssimo Jesus, que, aos doze anos de idade, ficastes no templo, discutindo com os doutores, e fostes encontrado ao terceiro dia por vossa santa Mãe, Maria, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
7. Meu dulcíssimo Jesus, que vivestes na obscuridade tantos anos na oficina de Nazaré, obedecendo a Maria e a José, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
8. Meu dulcíssimo Jesus, que, três anos antes de vossa paixão, vos apresentastes ao mundo para pregar e ensinar o caminho da salvação, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.
9. Meu dulcíssimo Jesus, que enfim terminastes a vossa vida morrendo na cruz por nosso amor, tende piedade de nós. — Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós.
Padre Nosso, Ave Maria, Glória Patri.

MEDITAÇÃO I.

DO AMOR QUE DEUS NOS MOSTROU FAZENDO-SE HOMEM.
Consideremos o amor imenso que Deus Filho nos mostrou fazendo-se homem para obter-nos a salvação eterna.
Adão, nosso primeiro pai, cai no pecado, e revoltando-se contra Deus, é expulso do paraíso terrestre e condenado à morte eterna com todos os seus descendentes. Mas o Filho de Deus, vendo perdido o homem, oferece-se, para livrá-lo da morte, a tomar a natureza humana e a padecer o suplício da cruz. — Mas, meu Filho, parece ter-lhe dito então o Pai celeste, pensa que terás de levar na terra uma vida cheia de humilhações e sofrimentos. Terás de nascer numa fria gruta e ser reclinado na manjedoura dos animais. Terás logo depois de fugir para o Egito a fim de escapares às mãos de Herodes. Voltando do Egito, terás de viver na oficina de operário, como um simples artífice, pobre e desprezado. Finalmente terás de morrer na cruz, coberto de opróbrios e abandonado por todos. — Não importa, meu Pai, responde o Filho de Deus; estou pronto a tudo, contanto que o homem se salve.
Que é que se diria, se um príncipe, tocado de compaixão por um verme, que acabasse de morrer, se quisesse transformar num verme, preparar ao miserável verme um banho de seu sangue, e morrer para lhe restituir a vida? O Verbo eterno fez bem mais por nós, pois era Deus e quis tornar-se um verme semelhante a nós, e morrer por nós, a fim de nos restituir a vi-da da graça, que tínhamos perdido. Vendo que nenhum de seus dons podia conquistar-lhe o nosso amor, revestiu-se de nossa humanidade, e deu-se todo a nós: O Verbo de fez carne — e entregou-se por nós.
O homem mostra seu desprezo a Deus, exclama S. Ful-gêncio, afastando-se dele; Deus mostra seu amor ao homem descendo do céu à sua procura! Mas qual é o seu intento nesse passo? Quer que o homem, sabendo quanto é amado por Deus, o ame por sua vez, ao menos por gratidão. Mas ah! amamos um animal que se chega aos nossos pés; como pois não seremos gratos para com um Deus, que desce do céu à terra para que o amemos?
Um homem, assistindo uma vez à missa, não manifestou nenhum ato de respeito às palavras que o sacerdote recita no fim: Et Verbum caro factum est. “O Verbo se fez carne”. Imediatamente o demônio lhe deu uma terrível bofetada, dizendo: “In-grato, se Deus tivesse feito por mim o que fez por ti, eu ficaria eternamente prostrado em terra para lhe agradecer”.

Afetos e Súplicas.
Ó Filho eterno de Deus, fizestes-vos homem para ganhar o coração do homem; mas onde está o amor que os homens vos têm? Destes o vosso sangue e a vossa vida para salvar vossas almas; como pois vos somos tão pouco reconhecidos? ah! em vez de vos amarmos, levamos ao desprezo a nossa ingratidão! Senhor, eis a vossos pés aquele que vos ultrajou mais do que todos. Mas a vossa paixão é a minha esperança. Ah! pelo amor que vos levou a tomardes a natureza humana e a morrerdes na cruz pela minha salvação, perdoai todas as minhas ofensas. Amo-vos, ó Verbo encarnado, amo-vos, ó meu Deus, amo-vos, bondade infinita, arrependo-me de vos haver desgostado tanto, quisera morrer de dor. Meu Jesus, dai-me o vosso amor; não permitais que continue a pagar com ingratidão a afeição que me mostrastes. Quero amar-vos toda a minha vida. Dai-me a santa perseverança.
Ó Maria, Mãe de Deus e minha Mãe, obtende-me de vosso Filho a graça de o amar cem cessar até a morte.

21 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Oito Primeiros Dias do Advento - Meditação 8

MEDITAÇÃO VIII.

TRÊS FONTES DE GRAÇAS QUE TEMOS EM JESUS CRISTO.

Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris.
Hauríreis com alegria das fontes do Salvador (Is 12,3).

I.
Temos em Jesus Cristo três fontes de graças. A primeira é uma fonte de misericórdia, na qual podemos purificar-nos de todas as manchas dos nossos pecados; essa feliz fonte o nosso amantíssimo Salvador a formou com seu próprio sangue: Ele nos amou, diz S. João, e nos purificou de nossos pecados no seu sangue.
Meu caro Salvador, quanto vos devo! fizestes por mim o que um servo não teria feito por seu senhor, nem um filho por seu pai. Ah! não posso viver sem vos amar, pois, por vosso amor, me pusestes na doce necessidade de amar-vos.

II.
A segunda fonte e uma fonte de amor. A quem medita os sofrimentos e as humilhações suportadas por Jesus Cristo desde o seu nascimento até a sua morte por amor de nós, é impossível não se sentir abrasado desse belo fogo que o Filho de Deus veio acender sobre a terra nos corações dos homens. Assim as águas dessa fonte salutar lavam as nossas almas e as inflamam.
Fazei, pois, ó meu Jesus, que o sangue que derramastes por mim não só me lave de todas as faltas com que vos ofendi, mas ainda me inflame de santo ardor por vós; fazei que tudo esqueça para pensar unicamente em amar a vós, meu Deus, que sois digno de amor infinito!

III.
A terceira fonte é uma fonte de paz; é o que significam as palavras do Salvador: Se alguém tem sede, venha a mim. Se alguém deseja a paz, venha a mim que sou o Deus da paz. — A paz que Nosso Senhor dá às almas que o amam não é a que o mundo promete oferecendo-lhes os prazeres dos sentidos ou os bens temporais, coisas que não podem contentar o coração do homem; a paz que Deus dá a seus servos é uma paz ver-dadeira, plena, que enche o coração, e que excede a todos os gozos, de que as criaturas possam ser fontes: Quem beber da água que eu lhe der, já não terá sede. São palavras do Salva-dor. Quem ama verdadeiramente a Deus, renuncia a tudo, despreza tudo, e não procura outra coisa senão Deus.
Sim, meu Deus, quero só a vós e nada mais. Houve um tempo em que eu procurava outros bens fora de vós: mas quando penso na injúria que vos fiz, preferindo a vós bens vis e passageiros, quisera morrer de dor. Reconheço o meu erro, e arrependo-me de todo o coração. Reconheço também que mereceis todo o meu amor; repito e espero repetir sempre nesta vida e na outra: Meu Deus! meu Deus, só a vós quero e nada mais; só a vós quero e nada mais. — Ó Maria, sois a primeira a amar a Deus; ah! comunicai-me o vosso amor.

20 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Oito Primeiros Dias do Advento - Meditação 7

MEDITAÇÃO VII.

DO QUANTO JESUS DESEJOU SOFRER POR NÓS.

Baptismo habeo baptizari; et quomodo
coarctor usque dum perficiatur!
Devo ser batizado com um batismo; e com
quanto ardor desejo que se cumpra!

I.
Jesus podia salvar-nos sem sofrer; mas não: quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem nenhuma consolação terrestre, e uma morte amarga e desolada, unicamente para nos fazer compreender o amor que nos tinha e o desejo de ser amado por nós. Passou sua vida inteira suspirando pela hora de sua morte que desejava oferecer a Deus para obter-nos a salvação eterna; expressou esse desejo nas palavras Devo ser batizado com um batismo; e com quanto ardor desejo que se cumpra! Desejava ser batizado em seu próprio sangue, para lavar, não os seus pecados mas os nossos.
Ó amor infinito, infeliz quem vos não conhece e vos não ama!

II.
Esse mesmo desejo fez-lhe dizer depois na noite que pre-cedeu o dia de sua morte: Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco. — Demonstrou com essas palavras que o único desejo de sua vida tinha sido ver chegar o tempo de sua paixão e morte para provar ao homem o amor imenso que sempre tivera por ele.
Ó meu Jesus, desejais tanto o meu amor, que sofrestes a morte para obtê-lo! que poderia eu recusar a um Deus que me deu seu sangue e sua vida para ser amado por mim?

III.
Segundo observa S. Boaventura, é coisa espantosa ver um Deus sofrer por amor dos homens, mas o que é ainda mais espantoso, é que os homens não ardem em amor por esse Deus tão amante, depois de o verem sofrer tanto por eles, nas-cer criança e tremer de frio numa gruta, viver como um pobre operário numa oficina, morrer em fim como um criminoso numa cruz; não, não o amam... que digo? chegam até a desprezar o seu amor para se apegarem aos miseráveis prazeres da terra. Mas como é possível que Deus tenha tanto amor aos homens, e que os homens aliás tão reconhecidos para com as criaturas, sejam tão ingratos para com Deus?
Ah! meu Jesus, eu também fui do número desses miserá-veis ingratos? Como pusestes sofrer tanto por mim, prevendo as injúrias que vos iria fazer? Mas já que me tendes suportado até agora, e que quereis a minha salvação, dai-me agora uma grande dor dos meus pecados, uma dor que iguale a minha ingratidão. Senhor, odeio e detesto os desgostos que vos causei; se no passado desprezei a vossa graça, agora a aprecio mais do que todos os reinos da terra. Amo-vos de toda a minha alma, ó Deus digno de amor infinito, e desejo viver unicamente para amar-vos. Dai-me mais chamas, dai-me mais amor. Lem-brai-me sempre o amor que me tivestes, a fim que meu cora-ção arda sem cessar de amor por vós, como o vosso arde de amor por mim. — Ó Coração de Maria, abrasai de santo amor o meu pobre coração.

19 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Oito Primeiros Dias do Advento - Meditação 6

MEDITAÇÃO VI.

A VISTA DOS NOSSOS PECADOS AFLIGIU JESUS DESDE O SEIO DE SUA MÃE.

Dolor meus in conspectu meo semper.
A minha dor está sempre diante dos meus olhos.

I.
Todas as aflições e todas as ignomínias que Jesus sofreu em sua vida e morte, estiveram constantemente presentes a seu espírito desde o primeiro momento de sua existência: Dolor meus in conspectu meo semper; e a cada instante Ele as oferecia em expiação dos nossos pecados. O Senhor revelou a um dos seus servos que cada pecado dos homens lhe causava, durante sua vida, uma dor assaz violenta para lhe dar a morte, se lhe não fosse conservada a vida para sofrer mais a-inda.
Ó meu Jesus, eis a bela prova de gratidão que recebestes dos homens e de mim em particular! Empregastes trinta anos de vida para salvar-me; e eu fiz tudo o que dependia de mim para vos fazer morrer de dor tantas vezes quantas pequei!

II.
S. Bernardino de Sena diz que Nosso Senhor via em particular o pecado de cada um. Essa vista contínua afligia-o imensamente, desde o primeiro até o derradeiro momento de sua vida. E, ajunta S. Tomás, devido ao conhecimento que tinha da injúria que todo pecado faz a seu Pai, e do prejuízo que nos causa, a sua dor excedeu a de todos os pecadores contritos, mesmo dos que morreram de puro arrependimento. Não há dúvida alguma, pois nenhum pecador chegou a amar a Deus e a sua alma tanto quanto Jesus amava seu Pai e nossas almas.
Assim, meu Jesus, já que ninguém me amou mais do que vós, é justo que vos ame mais do que todos; ou, para melhor dizer, já que só vós me amastes, quero amar só a vós.

III.
A agonia que Jesus sofreu no jardim das Oliveiras à vista dos nossos pecados que se encarregara de expiar, Ele a sofreu desde o seio de sua Mãe. Se pois a vida de nosso divino Salvador foi uma aflição contínua por causa dos nossos pecados, esses pecados devem ser, durante toda a nossa vida, o único mal que nos cause aflição.
Meu amado Redentor, quisera morrer de dor ao pensar nas amarguras de que vos saturei em minha vida. Ó meu amor, se me amais dai-me uma contrição tal que me faça morrer e me alcance o perdão e a graça de amar-vos com todas as minhas forças. Dou-vos o meu coração todo inteiro; e se não o sei dar-vos inteiramente, tomai-o vós mesmo, e inflamai-o de vosso santo amor. — Ó Maria, advogada dos miseráveis, a vós me recomendo.

18 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Oito Primeiros Dias do Advento - Meditação 5

MEDITAÇÃO V.

JESUS TUDO FEZ E SOFREU POR NÓS.

Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me.
Amou-me, e entregou-se por mim.

I.
Ó meu Jesus, se é por amor de mim que abraçastes uma vida tão penosa e uma morte tão amarga, posso dizer que a vossa morte é minha, as vossas dores são minhas, os vossos méritos são meus, em fim vós mesmo sois meu, porque é por mim que vos entregastes a tanto sofrimento. Ah! meu Salvador, a pena que mais me aflige é de pensar que houve um tempo em que éreis meu e que depois vos perdi tantas vezes voluntariamente. Perdoai-me, uni-me estreitamente a vós, e não permitais vos torne a perder no futuro. Amo-vos de toda a minha alma. Quereis ser todo meu, e eu quero ser todo vosso.

II.
O Filho de Deus, sendo verdadeiro Deus, é infinitamente feliz; mas, diz S. Tomás, fez e sofreu pelo homem como se não pudesse ser feliz sem o homem. Se Jesus Cristo tivesse de merecer na terra sua própria beatitude, que mais poderia ser feito do que carregar-se de todas as nossas fraquezas e tomar todas as nossas misérias, para terminar depois a sua vida por uma morte tão dura e infame? Mas não; ele era inocente, santo e feliz em si mesmo; tudo fez e sofreu para obter-nos a graça de Deus e o paraíso que havíamos perdido.
Infeliz de quem vos anão ama, meu Jesus, infeliz de quem não vive tomado de amor por uma tão grande bondade!

III.
Se Jesus Cristo nos tivesse permitido pedir-lhe maiores provas de seu amor, quem jamais teria ousado pedir-lhe que se fizesse criança como nós, abraçasse nossas misérias, e se tornasse até o mais pobre, o mais desprezado, o mais maltratado de todos os homens, morrendo em fim pela violência das dores num madeiro infamante, amaldiçoado e abandonado por todos, mesmo por seu Pai? Mas, o que não teríamos ousado pensar, Ele pensou e realizou.
Meu amado Redentor, dai-me a graça que me merecestes com a vossa morte. Amo-vos e arrependo-me de vos haver ofendido. Apoderai-vos de minha alma, não quero mais seja o demônio o seu senhor; quero seja ela toda vossa, pois que a resgatastes com o vosso sangue. Só vós me amais, e eu quero amar-vos, a vós só. Livrai-me do castigo de viver sem vosso amor, e depois puni-me como for do vosso agrado. — Maria, meu refúgio, a morte de Jesus e a vossa intercessão são as minhas esperanças.

17 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Oito Primeiros Dias do Advento - Meditação 4

MEDITAÇÃO IV.
FELICIDADE DE NASCER DEPOIS DA REDENÇÃO E NA VERDADEIRA IGREJA.
Ubi venit plenitudo temporis, misit Deus
Filium suum... ut eos, qui sub lege erant, redimeret.
Logo que veio o cumprimento do tempo, enviou Deus
a seu Filho... para remir aqueles que estavam debaixo da lei.
I.
Quão gratos devemos ser a Deus por nos ter feito nascer após a realização da grande obra da Redenção dos homens! É o que nos indica a expressão do texto sagrado: A plenitude do tempo; isto é, o tempo feliz para a plenitude da graça que Jesus Cristo nos obteve com a sua vinda. Ai de nós, se, carregados de tantos pecados, estivéssemos na terra antes da vinda de Jesus Cristo!
II.
Antes da vinda do Messias, ah! em que estado miserável se achavam os homens! O verdadeiro Deus era apenas conhecido na Judéia; a idolatria reinava em todos os outros países do mundo, de sorte que nossos antepassados adoravam as pedras, as árvores, os demônios. Adoravam uma multidão de fal-sos deuses, e o verdadeiro Deus não era conhecido nem amado. Ainda agora há países em que são poucos os católicos, e em que os outros habitantes são hereges ou infiéis, que indubitavelmente se perdem! Quão gratos devemos ser a Deus, que nos fez nascer, não só depois da vinda de Jesus Cristo, mas ainda num país onde reina a verdadeira fé!
Senhor, eu vos agradeço. Quão infeliz seria eu, se, depois de ter cometido tantos pecados, vivesse no meio dos infiéis ou dos hereges! Vejo, meu Deus, que me quereis salvar, e eu, insensato! tantas vezes vos quis perder, perdendo a vossa graça! Meu Redentor, tende piedade de minha alma, que tanto vos custou!
III.
“Enviou seu Filho para resgatar os que estavam sob a lei”. Assim, o escravo peca, e pecando entrega-se ao demônio, e eis que seu Senhor vem, em pessoa, a fim de resgatá-lo com sua morte! Ó amor imenso, ó amor infinito de Deus, para com o homem!
Se pois me não tivésseis resgatados a custo de vossa vida, ó meu Redentor, que seria de mim, de mim, digo, que tan-tas vezes mereci o inferno por meus pecados? Se não tivésseis morrido por mim, meu Jesus, ter-vos-ia perdido para sempre, e para mim já não haveria esperança de recuperar a vossa graça, nem de ver um dia no paraíso a vossa bela face. Meu caro Salvador, agradeço-vos, e espero ir agradecer-vos no céu por toda a eternidade. Arrependo-me de todo o coração de vos haver desprezado no passado. Para o futuro estou resolvido a sofrer todas as penas, todas as mortes, antes que vos ofender. Mas posso trair-vos ainda no futuro, como o fiz no passado; ah! meu Jesus, não o permitais! Não, não permitais me separe mais de vós! Amo-vos, Bondade infinita, e quero amar-vos sempre nesta vida e na eternidade. — Maria, minha Rainha e Advogada, guardai-me sempre sob o vosso manto, e preservai-me do pecado.

16 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Oito Primeiros Dias do Advento - Meditação 3

MEDITAÇÃO III.

MOTIVOS DE CONFIANÇA QUE NOS DÁ A ENCARNAÇÃO DO VERBO

Quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit?
Como não nos deu, com seu Filho, todas as coisas?

I.
Considera, minha alma, como o Pai eterno, dando-nos seu dileto Filho para ser nosso Redentor, não podia proporcionar-nos mais poderosos motivos de confiança em sua misericórdia e de amor à sua infinita bondade: não podia com efeito dar-nos uma prova mais certa do desejo que tem do nosso bem, e do amor imenso que nos consagra, pois que dando-nos seu uni-gênito Filho, nada mais tem a dar.
Ó Deus eterno, que todos os homens louvem vossa caridade sem limites!

II.
Como não nos deu também com ele todas as coisas? Tendo-nos Deus dado o seu Filho, que ama como a si próprio, podemos acaso temer nos recuse ele qualquer bem que lhe peçamos? Depois de nos dar seu unigênito Filho, Deus não recusará o perdão das nossas culpas, se as detestarmos; não nos recusará a graça de resistir às tentações, se lha pedirmos; não nos recusará seu santo amor, se o desejarmos; finalmente não nos recusará o paraíso, contanto que não nos tornemos indignos dele pelo pecado. Jesus mesmo no-lo garante com as palavras: Se pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, ele vo-la dará.
Apoiado nessa promessa divina, ó meu Deus, a vós me dirijo com confiança. Pelo amor de Jesus, vosso Filho, perdoai-me todas as injúrias que vos fiz. Dai-me a santa perseverança na vossa graça até a morte. Dai-me vosso santo amor, que me desapegue tudo, para não amar senão a vós, Bondade infinita! Dai-me o paraíso, para que lá vos ame de todas as minhas forças e para sempre, sem temer cessar jamais de amar-vos.

III.
Enfim, o apóstolo nos garante que, recebendo Jesus Cris-to, fomos enriquecidos de todo o bem, de sorte que nos não falte nenhuma graça.
Sim, meu Jesus, sois todo o bem; só vós me bastais, não aspiro senão a vós. Se outrora me afastei de vós pelo pecado, agora me arrependo de todo o coração. Perdoai-me, Senhor, e voltai-vos a mim. Se já estais em mim, como espero, não me deixeis mais ou, para melhor dizer, não permitais vos expulse de minha alma. Meu Jesus, meu Jesus, meu tesouro, meu a-mor, meu tudo, amo-vos, amo-vos, amo-vos, e quero amar-vos sempre. — Ó Maria, minha esperança, fazei que ame sempre a Jesus.

15 de janeiro de 2014

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Oito Primeiros Dias do Advento - Meditação 2

MEDITAÇÃO II.

BONDADE DE DEUS PADRE E DE DEUS FILHO NA OBRA DA REDENÇÃO.

Et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine,
et homo factus est.

Encarnou-se pela virtude do Espírito Santo
no seio da Virgem Maria, e fez-se homem.

I.
Deus criou Adão e enriqueceu-o de seus dons; mas o homem teve a ingratidão de ultrajar seu Criador pelo pecado, e assim o infeliz privou a si e a nós todos, seus descendentes, da graça de Deus e do paraíso. Todo o gênero humano estava perdido, irremediavelmente perdido. O homem, tendo ofendido a Deus, era incapaz de oferecer-lhe digna satisfação; foi preciso que uma pessoa divina satisfizesse pelo homem. Que faz o Padre eterno para remediar a perda do homem? Envia ao mundo seu próprio Filho para se fazer homem, revestir-se da carne dos homens pecadores, a fim de pagar as suas dívidas à justiça divina, morrendo por eles, e de obter-lhes com isso a morte na graça de Deus.
Meu Deus, se vossa bondade infinita não houvesse encontrado esse meio de salvação, quem de nós teria jamais ousado pedi-lo ou mesmo imaginá-lo?

II.
Que espanto terá causado aos anjos esse grande amor que Deus se dignou mostrar ao homem rebelde? Que terão dito ao verem o Verbo eterno fazer-se homem, tomar a carne dos pecadores, e revestido dessa carne aparecer no mundo sob as aparências dum pecador como todos os outros?
Ah! meu Jesus, quando vos somos obrigados! e eu mais do que os outros, eu que vos ofendi mais do que os outros! Se meu não viésseis salvar, que seria de mim eternamente? Quem poderia livrar-me das penas que mereço? Sêde para sempre bendito e louvado por tão grande caridade!
O Filho de Deus vem pois do céu para unir-se à natureza humana, vem levar uma vida de penas, vem morrer na cruz por amor dos homens; e os homens que nisso crêem, poderiam amar um outro objeto fora desse Deus encarnado?
Ó Jesus, meu Salvador, quero amar unicamente a vós. Só vós me amastes, só a vós quero amar. Renuncio a todos os bens criados; vós só me bastais, ó Bem imenso, infinito! Se no passado vos desgostei, sinto agora viva dor, para compensar de certo modo a pena que vos causei. Ah! não permitais que no futuro eu corresponda com ingratidão ao amor com que me tendes amado. Não, meu Jesus, fazei que vos ame, e depois tratai-me como vos aprouver. Ó bondade infinita! ó amor infini-to! não quero mais viver sem vos amar. — Ó Maria, Mãe de misericórdia, peço-vos só uma graça: fazei que eu ame sempre o meu Deus.