Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Prezados católicos, gostaria de voltar a um tema importantíssimo e que, no estado atual das coisas, devemos tratar com certa regularidade. Trata-se da questão da geração dos filhos e, mais precisamente, da questão dos métodos naturais, da questão da contracepção e da cultura de morte.
A Igreja tem o direito e o dever dados por Deus para julgar sobre a moralidade dos atos humanos e esse poder da Igreja em relação à moral se estende à lei natural, à explicação da lei natural. Esta lei decorre da própria natureza das coisas tal como criadas por Deus. A lei natural, para o homem, decorre da própria natureza do homem, tal como criada por Deus. Nós vemos que Deus formou nossas faculdades com uma finalidade e com os meios para atingir essa finalidade. Consequentemente, nossas faculdades devem ser usadas segundo a intenção do Criador, se não quisermos ofendê-lo e prejudicar a nós mesmos. Em outras palavras, Deus nos fez de um certo modo e isso traz para nós consequências de como devemos agir. De forma semelhante, quando se fabrica um carro, o fabricante o faz de uma certa maneira, tendo em vista seus objetivos. Assim, ele pode fabricar um carro que funciona somente com gasolina. Ora, se alguém vai contra a intenção do fabricante e coloca álcool no tanque de combustível, o carro terá vários problemas e não funcionará corretamente como deveria, se tivesse sido observada a intenção do fabricante.
Dentre as faculdades que Deus deu ao homem, há a faculdade reprodutiva. E Ele formou tal faculdade de forma que ela fosse utilizada para a geração e consequente educação dos filhos, o que se pode fazer adequadamente apenas dentro do matrimônio indissolúvel. Portanto, o uso dessa faculdade, está reservada para o matrimônio, onde os filhos podem ser não só gerados, mas devidamente educados. E ao dar ao homem essa faculdade reprodutiva, ele uniu dois aspectos: o aspecto procriativo e o unitivo. No ato conjugal, devem se encontrar necessariamente juntos os aspectos procriativo e unitivo. O elemento unitivo consiste no fato de que o ato conjugal, por sua própria natureza, faz do homem e da mulher uma só carne, unindo-os fisicamente. O aspecto unitivo não é aqui propriamente amor entre os cônjuges, mas a união que faz deles uma só carne. O elemento procriativo consiste no fato de que o ato conjugal, por sua própria natureza, está fundamentalmente ordenado à procriação. Assim, esses dois aspectos do ato conjugal não podem nunca se separar. Se alguém os separa, irá gravemente contra a lei natural e, portanto, contra Deus, autor dessa mesma lei. É de suma importância compreender isso: o aspecto procriativo e o aspecto unitivo não devem ser separados. Deus quis que os filhos fossem gerados por meio da união que se realiza no ato conjugal, dentro do matrimônio indissolúvel e entre um homem e uma mulher, claro. E essa união pelo ato conjugal só se justifica quando tal ato é feito de modo apto à geração dos filhos, isto é, sem excluir a procriação.
Essa doutrina imutável da Igreja nos leva a algumas conclusões importantes. Ela condena como pecado gravíssimo, por exemplo, a fertilização in vitro e a inseminação artificial, pois aqui o aspecto unitivo é deixado de lado. A Igreja é defensora da família e dos filhos, mas não a qualquer custo. Os fins não justificam os meios. A Igreja não pode ir contra a lei natural, contra Deus, para favorecer a procriação. Essas práticas que deixam de lado o aspecto unitivo vão gravemente contra a lei natural, feita por Deus, e são objetivamente um pecado grave. Além de outro problema gravíssimo nesses casos: os embriões que não são implantados na mulher serão puramente destruídos ou utilizados em pesquisas, como se fossem um nada, enquanto na verdade são seres humanos, capazes da salvação eterna, inclusive.
Outras consequências decorrem da doutrina da Igreja. Ela significa que uma pessoa não pode ser esterilizada a fim de evitar os filhos: ligadura das trompas e vasectomia são gravemente proibidas. São também a mutilação de um órgão que está sadio, o que não pode ser feito. Também os que recomendam esses procedimentos e os médicos que os realizam cometem grave pecado. Esses procedimentos, sendo possível, devem ser revertidos, se o casal ainda se encontra em idade fértil. Preservativos e qualquer outro tipo de barreira artificial, como diafragma, por exemplo, também não são moralmente lícitos. Também as pílulas não podem ser tomadas, evidentemente, para evitar os filhos. E vale destacar que essas pílulas não somente impedem a gravidez, como são, em sua maioria, abortivas, impedindo a fixação do embrião na parede uterina, quando já houve a concepção, por exemplo. Todas essas coisas vão contra a finalidade primária do matrimônio e do ato conjugal: a procriação. Essas coisas vão contra o aspecto procriativo.
Em 1968, o Papa Paulo VI, na Encíclica Humanae Vitae, confirmou o ensinamento constante e imutável da Igreja tanto em relação aos dois aspectos do ato conjugal que não podem ser separados quanto à proibição dos métodos anticoncepcionais.
O que falar do chamado método natural? O método natural é aquele em que o casal realiza naturalmente o ato conjugal, mas o faz somente nos dias inférteis da mulher. Antes de tudo, é preciso dizer que é perfeitamente lícito o ato conjugal quando a infertilidade é natural, decorrente, por exemplo, do ciclo da mulher ou da idade ou de um problema da natureza. Assim, no período infértil, o ato é lícito, pois nesse caso a infertilidade não decorre da vontade dos cônjuges, mas da própria natureza. Todavia, uma pergunta deve ser feita: é lícito o casal simplesmente reduzir o ato conjugal apenas ao período infértil sem motivo ou sem motivo grave, quer dizer, é lícito o casal praticar os métodos naturais sem motivo sério, grave? A resposta é não. Os métodos naturais só podem ser praticados quando há motivo grave. O Papa Pio XII diz o seguinte: “o contrato matrimonial, que concede aos esposos o direito de satisfazerem a inclinação da natureza, os estabelece em um estado de vida, o estado conjugal. Ora, aos esposos que fazem uso deste estado conjugal, praticando o ato específico do seu dele, a natureza e o Criador impõem a função de prover à conservação do gênero humano. Essa é a prestação característica que faz o valor próprio do estado deles, o bem dos filhos (a procriação). Na ordem estabelecida por Deus, o indivíduo e a sociedade, o povo e o Estado, a própria Igreja, dependem, para a sua existência, do matrimônio fecundo. Em consequência, abraçar o estado de matrimônio, usar constantemente da faculdade que lhe é própria e que só é lícita nos limites do matrimônio, e, por outro lado, se subtrair sempre e deliberadamente, sem grave motivo, ao seu dever principal, seria um pecado contra o próprio sentido da vida conjugal.” Continua o Papa: “Pode-se ser dispensado dessa prestação positiva obrigatória (da fecundidade), mesmo por longo tempo, até mesmo pela duração inteira do matrimônio, por motivos sérios, como os que não são raros de achar no que chamamos de “indicação” médica, eugênica, econômica e social. No entanto, se, de acordo com um juízo razoável e justo, não há semelhantes razões graves, quer pessoais, quer decorrentes das circunstâncias exteriores, a vontade dos esposos de evitar habitualmente a fecundidade da união, embora continuando a satisfazerem plenamente a sua sensualidade, só pode provir de uma falsa apreciação da vida, e de motivos estranhos às regras da são moral.” Está claro pelas palavras do Santo Padre e pela doutrina constante da Igreja que os métodos naturais só podem ser usados com motivo grave. Muitos dizem que a Igreja recomenda os métodos naturais e quase transformam os métodos naturais em oitavo sacramento da Igreja, como se fossem o ideal da vida matrimonial. A Igreja em hipótese alguma recomenda os métodos naturais. Ela permite os métodos naturais quando há motivo sério, grave, o que é bem diferente de recomendar. O ideal da vida matrimonial é fazer o uso normal do matrimônio nos dias fecundos e infecundos. Os métodos naturais não podem, então, ser usados por razões de contracepção ou por uma mentalidade contraceptiva, quer dizer, para evitar os filhos a todo custo ou para reduzir o número de filhos a um número que seja agradável para o casal. Isso vai contra o dever de estado daqueles que estão unidos em matrimônio.
Para utilizar os métodos naturais de forma moralmente aceitável, é preciso que haja, então, razões graves para que uma nova gravidez não aconteça. Destaco bem: são necessárias razões graves. Essas razões graves podem ser de ordem médica, eugênica, social, econômica. De ordem médica, física ou psicológica, por exemplo, se uma nova gravidez traz riscos graves para a saúde da mãe. De ordem eugênica, por exemplo, se a probabilidade de o filho nascer com problemas ou deficiências é grande ou se há grande probabilidade de aborto espontâneo, sobretudo se já ocorreram seguidamente antes. De ordem social, por exemplo, se o governo aborta sistematicamente as crianças de um casal após o nascimento do primeiro ou segundo, como é o caso na China. De ordem econômica, se o nascimento de mais um filho colocará os pais em situação econômica realmente difícil, por exemplo.
As razões de ordem econômica devem ser graves: o não conseguir dar o melhor colégio ou a melhor comida para o filho não são razões graves. O ter de comprar um carro pior ou ter de baixar o status econômico também não são razões graves. Tem-se exagerado muito a questão econômica para justificar o uso dos métodos naturais. Repito: a razão econômica deve ser realmente grave. Paradoxalmente, quanto mais abastada economicamente é uma sociedade, mais se tende a impedir a geração dos filhos, pois maior é o apego aos bens materiais e maior a aversão aos sacrifícios.
Também a indicação médica é muito exagerada pelos médicos, seja por motivos ideológicos, seja simplesmente para evitar maiores problemas. Os médicos tendem a exagerar bastante o risco de uma nova gravidez. Claro, é remediar isso com opiniões mais imparciais e seguras e com eventuais exames necessários.
Como podem surgir muitas dúvidas sobre o saber se uma razão é ou não suficiente para a utilização dos métodos naturais, é preciso consultar um padre de segura doutrina moral, para evitar o engano em matéria tão delicada. Repitamos as palavras de Pio XII: “se essas graves razões (para utilizar os métodos naturais) não estão presentes, a vontade de evitar habitualmente a fecundidade da união, mas continuando a satisfazer plenamente a sensualidade, só pode derivar de uma falsa apreciação da vida e de motivos alheios às retas normas éticas”. Quando se usam os métodos naturais sem motivo sério, muitos problemas surgirão no matrimônio: mentalidade egoísta, diminuição do amor conjugal, discórdia, tentações contra pureza.
Resumindo, utilizar os métodos naturais sem ter uma razão realmente grave para tanto, é moralmente ilícito, é pecaminoso e deriva de uma mentalidade contraceptiva que precisa ser evitada, pois essa mentalidade, além de ser em si pecaminosa, conduz aos métodos contraceptivos de fato. Além disso, para que os métodos naturais sejam utilizados é preciso que os dois cônjuges estejam de acordo, pois tais métodos supõem a abstenção do ato conjugal durante um certo período e isso não pode ser feito sem que o dois estejam de acordo, até para não dar lugar a tentações contra o matrimônio. O casal pode usar os métodos naturais para aumentar a chance de filhos, evidentemente. Podem, mas isso não é obrigatório, Ninguém está obrigado a ter o maior número possível de filhos, mas, sim, a aceitar todos os filhos que Deus enviar como fruto do uso normal do matrimônio.
A contracepção e a mentalidade contraceptiva são hoje praticamente onipresentes. E, infelizmente, mesmo entre os católicos. A crise atual é de fé e moral. E as consequências são drásticas, lastimáveis e graves. A primeira consequência é, claro, para o próprio casal que vê a vida matrimonial naufragar. A recusa da primeira finalidade do matrimônio, que é a procriação, trará grandes prejuízos para o casal, como dissemos. A contracepção faz que homens e mulheres sejam vistos como objetos para fins sexuais. Mas a contracepção e a mentalidade contraceptiva causam também graves problemas na sociedade. O problema do aborto está diretamente ligado à contracepção. Ora, o objetivo da contracepção é fazer de tudo para praticar o ato conjugal sem ter filhos. Com essa mentalidade contraceptiva os filhos passam a ser vistos como inimigos do casal. Mas, e se os métodos anticoncepcionais falharem? Ora, a gravidez vai contra a intenção de ter filhos, então, é preciso fazer um aborto. Depois se segue o infanticídio, pois se eu posso matar a criança na barriga da mãe, por que não posso matar assim que ela nascer? E isso já está sendo proposto e começa a ser praticado em alguns países: o aborto pós-parto, quer dizer, o assassinato da criança depois de nascida. E tudo isso é lógico, pois o crime é o mesmo – o assassinato de um bebê – só muda o lugar e o momento. A que ponto chegamos, caros católicos?
A chamada paternidade responsável por meio do uso dos métodos naturais sem motivo sério é, na verdade, irresponsável e causa irresponsabilidade. A chamada paternidade responsável por meio da contracepção é ainda mais irresponsável e causa ainda mais irresponsabilidade. Essa paternidade é irresponsável porque a pessoa quer justamente praticar um ato sem arcar com as consequências naturais de seu ato. Isso é o que se chama irresponsabilidade. E se a irresponsabilidade é defendida em matéria tão fundamental e básica, é claro que ela vai se propagar para outros domínios da vida. Não é por acaso se as pessoas e a sociedade têm se mostrado cada vez mais irresponsáveis e imaturas.
O próximo passo, depois do aborto, é a eutanásia. A razão para não ter crianças é o fato de elas serem um peso, um fardo. O passo seguinte é, então, eliminar os idosos que se tornam igualmente inconvenientes. Uma vez que o princípio por trás da contracepção – isto é, o prazer sem responsabilidades e a eliminação de tudo o que pode ser inconveniente – foi aceito, as consequências lógicas chegam, mais cedo ou mais tarde. E depois dos idosos, serão eliminados da sociedade todos aqueles que ela de alguma forma acha que são inconvenientes, que são um peso. E isso começa, por exemplo, com o aborto dos fetos anencefálicos. Nossa sociedade, supostamente “tão moderna e tão evoluída”, faz com muito mais perfeição o que fazia a Alemanha nazista de Hitler. Nós vemos, então, que a mentalidade contraceptiva está na raiz da cultura da morte e podemos enxergar claramente a gravidade da mentalidade contraceptiva e da contracepção. E notem que, historicamente, a cultura da morte, de fato, começa com a mentalidade contraceptiva (mesmo em métodos naturais), para a contracepção, em seguida passa ao aborto, depois vem a eutanásia, e, finalmente, a eliminação de todos os que são considerados um peso por essa sociedade degenerada. Tudo foi muito bem organizado pelo inimigo do homem. É preciso notar também que quando uma sociedade se torna contraceptiva, há um aumento da homossexualidade, pois a contracepção indica que a finalidade das nossas vidas é o prazer sensual. E se a finalidade é essa, qualquer forma de prazer desse tipo se torna válida. Tudo está ligado, caros católicos.
É preciso, portanto, ficar longe da contracepção, da mentalidade contraceptiva e de todas as suas consequências. A mentalidade contraceptiva começa com o uso dos métodos naturais sem ter motivos sérios para isso. A nossa atitude face aos filhos deve ser como a de Nossa Senhora: “faça-se em mim segundo a vossa palavra”. Os três bens do casamento são os filhos, a fidelidade e a indissolubilidade, O maior deles, porém, são os filhos. Os filhos não são um peso e não são um mal. Ao contrário, eles são a alegria e a glória dos pais. O casal deve estar sempre aberto a todos os filhos que Deus quer enviar e não podem evitá-los nunca por métodos anticoncepcionais e só poderão regular os nascimentos utilizando métodos naturais se houver razões graves para isso, como dissemos. Nesse assunto, reitero, é preciso consultar um padre que tenha segura e sólida doutrina moral. Não tenham medo de consultar um padre. Tenham confiança. Ele tentará ajudar.
Aquele filho que o casal quer evitar pelos métodos naturais – sem ter uma causa grave para tanto – é o filho que, talvez, nos planos de Deus irá mudar a família, como São Bernardo, que levou para a vida religiosa mais de trinta familiares. Ou talvez o filho que o casal quer evitar é aquele que pode trazer grandes benefícios para a sociedade. Pode ser o santo de que nossa época tanto precisa. É preciso confiar também na providência divina. Se Deus manda um filho aos pais que permanecem fiéis às leis do matrimônio e generosos, ele dará os meios para que os pais possam, cooperando com a graça divina, educar o filho e ajudá-lo a se salvar. Deus não pode nos pedir nada que seja impossível. Mas é preciso também recorrer a Ele. Grandes graças estão reservadas para o casal que confia na providência divina, aceitando todos os filhos que Deus manda.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.