30 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 140

PULCHRI SUNT GRESSUS TUI!

Maria Vela estava um dia em doce contemplação aos pés de seu Divino Esposo, quando ouviu o sinal da campainha, que a chamava. Não hesitou nem um instante; interrompeu sua oração, foi aonde a chamavam e, terminado o trabalho, voltou para os pés de seu santo Esposo, o qual, satisfeito de vê-la tão pronta em executar a vontade de Deus e observar exatamente a Regra, pôs-se a louvar-lhe aqueles passos, repetindo: “Pulchri sunt gressus tui (Cânt 7, 1): Que belos são os teus passos!”

29 de junho de 2016

Sermão para o 2º Domingo depois de Pentecostes – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Métodos naturais, contracepção e a cultura da morte – 2ª versão


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Prezados católicos, gostaria de voltar a um tema importantíssimo e que, no estado atual das coisas, devemos tratar com certa regularidade. Trata-se da questão da geração dos filhos e, mais precisamente, da questão dos métodos naturais, da questão da contracepção e da cultura de morte.
A Igreja tem o direito e o dever dados por Deus para julgar sobre a moralidade dos atos humanos e esse poder da Igreja em relação à moral se estende à lei natural, à explicação da lei natural. Esta lei decorre da própria natureza das coisas tal como criadas por Deus. A lei natural, para o homem, decorre da própria natureza do homem, tal como criada por Deus. Nós vemos que Deus formou nossas faculdades com uma finalidade e com os meios para atingir essa finalidade. Consequentemente, nossas faculdades devem ser usadas segundo a intenção do Criador, se não quisermos ofendê-lo e prejudicar a nós mesmos. Em outras palavras, Deus nos fez de um certo modo e isso traz para nós consequências de como devemos agir. De forma semelhante, quando se fabrica um carro, o fabricante o faz de uma certa maneira, tendo em vista seus objetivos. Assim, ele pode fabricar um carro que funciona somente com gasolina. Ora, se alguém vai contra a intenção do fabricante e coloca álcool no tanque de combustível, o carro terá vários problemas e não funcionará corretamente como deveria, se tivesse sido observada a intenção do fabricante.
Dentre as faculdades que Deus deu ao homem, há a faculdade reprodutiva. E Ele formou tal faculdade de forma que ela fosse utilizada para a geração e consequente educação dos filhos, o que se pode fazer adequadamente apenas dentro do matrimônio indissolúvel. Portanto, o uso dessa faculdade, está reservada para o matrimônio, onde os filhos podem ser não só gerados, mas devidamente educados. E ao dar ao homem essa faculdade reprodutiva, ele uniu dois aspectos: o aspecto procriativo e o unitivo. No ato conjugal, devem se encontrar necessariamente juntos os aspectos procriativo e unitivo. O elemento unitivo consiste no fato de que o ato conjugal, por sua própria natureza, faz do homem e da mulher uma só carne, unindo-os fisicamente. O aspecto unitivo não é aqui propriamente amor entre os cônjuges, mas a união que faz deles uma só carne. O elemento procriativo consiste no fato de que o ato conjugal, por sua própria natureza, está fundamentalmente ordenado à procriação. Assim, esses dois aspectos do ato conjugal não podem nunca se separar. Se alguém os separa, irá gravemente contra a lei natural e, portanto, contra Deus, autor dessa mesma lei. É de suma importância compreender isso: o aspecto procriativo e o aspecto unitivo não devem ser separados. Deus quis que os filhos fossem gerados por meio da união que se realiza no ato conjugal, dentro do matrimônio indissolúvel e entre um homem e uma mulher, claro. E essa união pelo ato conjugal só se justifica quando tal ato é feito de modo apto à geração dos filhos, isto é, sem excluir a procriação.
Essa doutrina imutável da Igreja nos leva a algumas conclusões importantes. Ela condena como pecado gravíssimo, por exemplo, a fertilização in vitro e a inseminação artificial, pois aqui o aspecto unitivo é deixado de lado. A Igreja é defensora da família e dos filhos, mas não a qualquer custo. Os fins não justificam os meios. A Igreja não pode ir contra a lei natural, contra Deus, para favorecer a procriação. Essas práticas que deixam de lado o aspecto unitivo vão gravemente contra a lei natural, feita por Deus, e são objetivamente um pecado grave. Além de outro problema gravíssimo nesses casos: os embriões que não são implantados na mulher serão puramente destruídos ou utilizados em pesquisas, como se fossem um nada, enquanto na verdade são seres humanos, capazes da salvação eterna, inclusive.
Outras consequências decorrem da doutrina da Igreja. Ela significa que uma pessoa não pode ser esterilizada a fim de evitar os filhos: ligadura das trompas e vasectomia são gravemente proibidas. São também a mutilação de um órgão que está sadio, o que não pode ser feito. Também os que recomendam esses procedimentos e os médicos que os realizam cometem grave pecado. Esses procedimentos, sendo possível, devem ser revertidos, se o casal ainda se encontra em idade fértil. Preservativos e qualquer outro tipo de barreira artificial, como diafragma, por exemplo, também não são moralmente lícitos. Também as pílulas não podem ser tomadas, evidentemente, para evitar os filhos. E vale destacar que essas pílulas não somente impedem a gravidez, como são, em sua maioria, abortivas, impedindo a fixação do embrião na parede uterina, quando já houve a concepção, por exemplo. Todas essas coisas vão contra a finalidade primária do matrimônio e do ato conjugal: a procriação. Essas coisas vão contra o aspecto procriativo.
Em 1968, o Papa Paulo VI, na Encíclica Humanae Vitae, confirmou o ensinamento constante e imutável da Igreja tanto em relação aos dois aspectos do ato conjugal que não podem ser separados quanto à proibição dos métodos anticoncepcionais.
O que falar do chamado método natural? O método natural é aquele em que o casal realiza naturalmente o ato conjugal, mas o faz somente nos dias inférteis da mulher. Antes de tudo, é preciso dizer que é perfeitamente lícito o ato conjugal quando a infertilidade é natural, decorrente, por exemplo, do ciclo da mulher ou da idade ou de um problema da natureza. Assim, no período infértil, o ato é lícito, pois nesse caso a infertilidade não decorre da vontade dos cônjuges, mas da própria natureza. Todavia, uma pergunta deve ser feita: é lícito o casal simplesmente reduzir o ato conjugal apenas ao período infértil sem motivo ou sem motivo grave, quer dizer, é lícito o casal praticar os métodos naturais sem motivo sério, grave? A resposta é não. Os métodos naturais só podem ser praticados quando há motivo grave. O Papa Pio XII diz o seguinte: “o contrato matrimonial, que concede aos esposos o direito de satisfazerem a inclinação da natureza, os estabelece em um estado de vida, o estado conjugal. Ora, aos esposos que fazem uso deste estado conjugal, praticando o ato específico do seu dele, a natureza e o Criador impõem a função de prover à conservação do gênero humano. Essa é a prestação característica que faz o valor próprio do estado deles, o bem dos filhos (a procriação). Na ordem estabelecida por Deus, o indivíduo e a sociedade, o povo e o Estado, a própria Igreja, dependem, para a sua existência, do matrimônio fecundo. Em consequência, abraçar o estado de matrimônio, usar constantemente da faculdade que lhe é própria e que só é lícita nos limites do matrimônio, e, por outro lado, se subtrair sempre e deliberadamente, sem grave motivo, ao seu dever principal, seria um pecado contra o próprio sentido da vida conjugal.” Continua o Papa: “Pode-se ser dispensado dessa prestação positiva obrigatória (da fecundidade), mesmo por longo tempo, até mesmo pela duração inteira do matrimônio, por motivos sérios, como os que não são raros de achar no que chamamos de “indicação” médica, eugênica, econômica e social. No entanto, se, de acordo com um juízo razoável e justo, não há semelhantes razões graves, quer pessoais, quer decorrentes das circunstâncias exteriores, a vontade dos esposos de evitar habitualmente a fecundidade da união, embora continuando a satisfazerem plenamente a sua sensualidade, só pode provir de uma falsa apreciação da vida, e de motivos estranhos às regras da são moral.” Está claro pelas palavras do Santo Padre e pela doutrina constante da Igreja que os métodos naturais só podem ser usados com motivo grave. Muitos dizem que a Igreja recomenda os métodos naturais e quase transformam os métodos naturais em oitavo sacramento da Igreja, como se fossem o ideal da vida matrimonial. A Igreja em hipótese alguma recomenda os métodos naturais. Ela permite os métodos naturais quando há motivo sério, grave, o que é bem diferente de recomendar. O ideal da vida matrimonial é fazer o uso normal do matrimônio nos dias fecundos e infecundos. Os métodos naturais não podem, então, ser usados por razões de contracepção ou por uma mentalidade contraceptiva, quer dizer, para evitar os filhos a todo custo ou para reduzir o número de filhos a um número que seja agradável para o casal. Isso vai contra o dever de estado daqueles que estão unidos em matrimônio.
Para utilizar os métodos naturais de forma moralmente aceitável, é preciso que haja, então, razões graves para que uma nova gravidez não aconteça. Destaco bem: são necessárias razões graves. Essas razões graves podem ser de ordem médica, eugênica, social, econômica. De ordem médica, física ou psicológica, por exemplo, se uma nova gravidez traz riscos graves para a saúde da mãe. De ordem eugênica, por exemplo, se a probabilidade de o filho nascer com problemas ou deficiências é grande ou se há grande probabilidade de aborto espontâneo, sobretudo se já ocorreram seguidamente antes. De ordem social, por exemplo, se o governo aborta sistematicamente as crianças de um casal após o nascimento do primeiro ou segundo, como é o caso na China. De ordem econômica, se o nascimento de mais um filho colocará os pais em situação econômica realmente difícil, por exemplo.
As razões de ordem econômica devem ser graves: o não conseguir dar o melhor colégio ou a melhor comida para o filho não são razões graves. O ter de comprar um carro pior ou ter de baixar o status econômico também não são razões graves. Tem-se exagerado muito a questão econômica para justificar o uso dos métodos naturais. Repito: a razão econômica deve ser realmente grave. Paradoxalmente, quanto mais abastada economicamente é uma sociedade, mais se tende a impedir a geração dos filhos, pois maior é o apego aos bens materiais e maior a aversão aos sacrifícios.
Também a indicação médica é muito exagerada pelos médicos, seja por motivos ideológicos, seja simplesmente para evitar maiores problemas. Os médicos tendem a exagerar bastante o risco de uma nova gravidez. Claro, é remediar isso com opiniões mais imparciais e seguras e com eventuais exames necessários.
Como podem surgir muitas dúvidas sobre o saber se uma razão é ou não suficiente para a utilização dos métodos naturais, é preciso consultar um padre de segura doutrina moral, para evitar o engano em matéria tão delicada. Repitamos as palavras de Pio XII: “se essas graves razões (para utilizar os métodos naturais) não estão presentes, a vontade de evitar habitualmente a fecundidade da união, mas continuando a satisfazer plenamente a sensualidade, só pode derivar de uma falsa apreciação da vida e de motivos alheios às retas normas éticas”. Quando se usam os métodos naturais sem motivo sério, muitos problemas surgirão no matrimônio: mentalidade egoísta, diminuição do amor conjugal, discórdia, tentações contra pureza.
Resumindo, utilizar os métodos naturais sem ter uma razão realmente grave para tanto, é moralmente ilícito, é pecaminoso e deriva de uma mentalidade contraceptiva que precisa ser evitada, pois essa mentalidade, além de ser em si pecaminosa, conduz aos métodos contraceptivos de fato. Além disso, para que os métodos naturais sejam utilizados é preciso que os dois cônjuges estejam de acordo, pois tais métodos supõem a abstenção do ato conjugal durante um certo período e isso não pode ser feito sem que o dois estejam de acordo, até para não dar lugar a tentações contra o matrimônio. O casal pode usar os métodos naturais para aumentar a chance de filhos, evidentemente. Podem, mas isso não é obrigatório, Ninguém está obrigado a ter o maior número possível de filhos, mas, sim, a aceitar todos os filhos que Deus enviar como fruto do uso normal do matrimônio.
A contracepção e a mentalidade contraceptiva são hoje praticamente onipresentes. E, infelizmente, mesmo entre os católicos. A crise atual é de fé e moral. E as consequências são drásticas, lastimáveis e graves. A primeira consequência é, claro, para o próprio casal que vê a vida matrimonial naufragar. A recusa da primeira finalidade do matrimônio, que é a procriação, trará grandes prejuízos para o casal, como dissemos. A contracepção faz que homens e mulheres sejam vistos como objetos para fins sexuais. Mas a contracepção e a mentalidade contraceptiva causam também graves problemas na sociedade. O problema do aborto está diretamente ligado à contracepção. Ora, o objetivo da contracepção é fazer de tudo para praticar o ato conjugal sem ter filhos. Com essa mentalidade contraceptiva os filhos passam a ser vistos como inimigos do casal. Mas, e se os métodos anticoncepcionais falharem? Ora, a gravidez vai contra a intenção de ter filhos, então, é preciso fazer um aborto. Depois se segue o infanticídio, pois se eu posso matar a criança na barriga da mãe, por que não posso matar assim que ela nascer? E isso já está sendo proposto e começa a ser praticado em alguns países: o aborto pós-parto, quer dizer, o assassinato da criança depois de nascida. E tudo isso é lógico, pois o crime é o mesmo – o assassinato de um bebê – só muda o lugar e o momento. A que ponto chegamos, caros católicos?
A chamada paternidade responsável por meio do uso dos métodos naturais sem motivo sério é, na verdade, irresponsável e causa irresponsabilidade. A chamada paternidade responsável por meio da contracepção é ainda mais irresponsável e causa ainda mais irresponsabilidade. Essa paternidade é irresponsável porque a pessoa quer justamente praticar um ato sem arcar com as consequências naturais de seu ato. Isso é o que se chama irresponsabilidade. E se a irresponsabilidade é defendida em matéria tão fundamental e básica, é claro que ela vai se propagar para outros domínios da vida. Não é por acaso se as pessoas e a sociedade têm se mostrado cada vez mais irresponsáveis e imaturas.
O próximo passo, depois do aborto, é a eutanásia. A razão para não ter crianças é o fato de elas serem um peso, um fardo. O passo seguinte é, então, eliminar os idosos que se tornam igualmente inconvenientes. Uma vez que o princípio por trás da contracepção – isto é, o prazer sem responsabilidades e a eliminação de tudo o que pode ser inconveniente – foi aceito, as consequências lógicas chegam, mais cedo ou mais tarde. E depois dos idosos, serão eliminados da sociedade todos aqueles que ela de alguma forma acha que são inconvenientes, que são um peso. E isso começa, por exemplo, com o aborto dos fetos anencefálicos. Nossa sociedade, supostamente “tão moderna e tão evoluída”, faz com muito mais perfeição o que fazia a Alemanha nazista de Hitler. Nós vemos, então, que a mentalidade contraceptiva está na raiz da cultura da morte e podemos enxergar claramente a gravidade da mentalidade contraceptiva e da contracepção. E notem que, historicamente, a cultura da morte, de fato, começa com a mentalidade contraceptiva (mesmo em métodos naturais), para a contracepção, em seguida passa ao aborto, depois vem a eutanásia, e, finalmente, a eliminação de todos os que são considerados um peso por essa sociedade degenerada. Tudo foi muito bem organizado pelo inimigo do homem. É preciso notar também que quando uma sociedade se torna contraceptiva, há um aumento da homossexualidade, pois a contracepção indica que a finalidade das nossas vidas é o prazer sensual. E se a finalidade é essa, qualquer forma de prazer desse tipo se torna válida. Tudo está ligado, caros católicos.
É preciso, portanto, ficar longe da contracepção, da mentalidade contraceptiva e de todas as suas consequências. A mentalidade contraceptiva começa com o uso dos métodos naturais sem ter motivos sérios para isso. A nossa atitude face aos filhos deve ser como a de Nossa Senhora: “faça-se em mim segundo a vossa palavra”. Os três bens do casamento são os filhos, a fidelidade e a indissolubilidade, O maior deles, porém, são os filhos. Os filhos não são um peso e não são um mal. Ao contrário, eles são a alegria e a glória dos pais. O casal deve estar sempre aberto a todos os filhos que Deus quer enviar e não podem evitá-los nunca por métodos anticoncepcionais e só poderão regular os nascimentos utilizando métodos naturais se houver razões graves para isso, como dissemos. Nesse assunto, reitero, é preciso consultar um padre que tenha segura e sólida doutrina moral. Não tenham medo de consultar um padre. Tenham confiança. Ele tentará ajudar.
Aquele filho que o casal quer evitar pelos métodos naturais – sem ter uma causa grave para tanto – é o filho que, talvez, nos planos de Deus irá mudar a família, como São Bernardo, que levou para a vida religiosa mais de trinta familiares. Ou talvez o filho que o casal quer evitar é aquele que pode trazer grandes benefícios para a sociedade. Pode ser o santo de que nossa época tanto precisa. É preciso confiar também na providência divina. Se Deus manda um filho aos pais que permanecem fiéis às leis do matrimônio e generosos, ele dará os meios para que os pais possam, cooperando com a graça divina, educar o filho e ajudá-lo a se salvar. Deus não pode nos pedir nada que seja impossível. Mas é preciso também recorrer a Ele. Grandes graças estão reservadas para o casal que confia na providência divina, aceitando todos os filhos que Deus manda.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

28 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 139

O PRANTO DE JESUS

Jesus chorou três vezes, durante a sua vida. A primeira vez chorou junto à sepultura de Lázaro (Jo 11, 35); e aquelas lágrimas eram silenciosas e denotavam amizade.
A segunda vez chorou sobre Jerusalém, a cidade deicida: e eram lágrimas de verdadeiro e sentido patriotismo, lágrimas provocadas pela grande dor que Jesus experimentava ao pensar no extermínio daquela cidade santa (Lc 19, 41).
A terceira vez chorou Jesus, no Calvário, ao considerar a triste sorte da humanidade pecadora (Heb 5, 7).
E tu, minha alma, não choras nem os teus nem os alheios pecados?!

27 de junho de 2016

[Sermão] O culto cristocêntrico FESTA DE CORPUS CHRISTI

O Culto Cristocêntrico Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
A Festa de Corpus Christi, do Corpo de Cristo, foi instituída para a Igreja universal pelo Papa em 1264, há 750 anos. Essa festa foi consequência natural da devoção cada vez maior à Santa Missa e à Eucaristia, bem como uma resposta adequada da Igreja a muitas heresias contrárias à presença real de Cristo na Eucaristia que surgiam, como a heresia de Berengário de Tours e dos cátaros. Ajudou também na universalização da Festa de Corpus Christi o milagre Eucarístico de Bolsena. É tal a importância da Eucaristia que a Festa de Corpus Christi – do Corpo de Cristo – tornou-se uma Festa de Preceito.
Hoje, honra à Eucaristia, sacramento e sacrifício.  A Eucaristia é o centro do mundo, caros católicos, pois nela está o próprio Deus, nela está Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, em corpo, alma, sangue e divindade. Nela está Nosso Redentor, Nosso Salvador, não simbolicamente, mas realmente e substancialmente presente, para se entregar a nós como alimento da nossa alma, mas também para, durante a Missa, renovar seu Sacrifício oferecido à Santíssima Trindade na Cruz do Calvário. Na Cruz, Cristo alcançou nossa redenção e méritos infinitos. Pela Missa, Ele nos aplica a sua redenção e seus méritos. É pela Missa que o sangue de Cristo nos é dado. É pela Missa, enfim, que nos vêm todas as graças. É pela Missa que podemos adorar perfeitamente a Deus, reconhecendo seu soberano domínio sobre nós e nos submetendo a Ele. É pela Missa que podemos pedir perdão a Deus, oferecendo a satisfação feita por Cristo, e é pela Missa que nos vem a graça do arrependimento, que nos leva a buscar a confissão. É pela Missa que podemos agradecer devidamente a Deus, oferecendo-lhe o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor. É pela Missa que podemos nos aproximar da divina majestade com confiança para pedir as graças de que precisamos, para suportar as cruzes, as doenças, nossas misérias, para progredir na virtude com alegria. E podemos pedir essas graças com grande confiança porque oferecemos à Santíssima Trindade os méritos infinitos de Cristo e não os nossos. Sim, caros católicos, é pela Missa que nos vêm todas as graças, todos os bens. Não é à toa que a Igreja obriga sob pena de pecado mortal a assistência à Missa aos Domingos e nos dias de Festa.
A vida do cristão deve, então, se ordenar e se desenvolver em torno da Eucaristia e em torno da Santa Missa, pois – não tenhamos medo de repetir constantemente – na Eucaristia está o próprio Deus Encarnado e na Santa Missa se renova o Sacrifício de Cristo. A Eucaristia é o centro do mundo. É Cristo o centro do qual nos vêm todos os bens e para o qual todas as coisas devem se dirigir. A sociedade deve ser Cristocêntrica, baseando-se em Cristo e dirigindo-se para Cristo. É evidente, porém, que para termos uma sociedade com uma cultura cristocêntrica, precisamos de um culto que seja cristocêntrico. A cultura de uma sociedade, a mentalidade de uma sociedade é determinada, em alto grau, pelo culto da religião predominante. Aquilo que o culto expressa será refletido na sociedade. Assim, nossa sociedade será delineada pelo culto que se presta a Deus na liturgia, que é o culto oficial da Igreja. Mais particularmente, nossa sociedade será delineada pela liturgia da Missa. Se temos uma liturgia que nos mostra sem ambiguidades nossa fé, que abunda em atos de adoração a Jesus Sacramentado, que nos enche de reverência e que mostra nossa pequenez diante da majestade divina, que coloca Cristo no centro em todos os seus atos, teremos aí uma liturgia que irá renovar a face da terra. Se temos um culto que reconhece e expressa perfeitamente a verdade da presença real de Cristo, em corpo, sangue, alma e divindade, teremos uma sociedade que reconhecerá a existência de Deus e que agirá em consequência. Se temos uma liturgia que exprime abertamente que a Missa é a renovação do sacrifício de Cristo, teremos uma sociedade pronta para sofrer, para fazer sacrifícios por Deus. Se temos uma liturgia que fala constantemente das verdades sobrenaturais – como o céu, o inferno, o pecado, a virtude, a fé, a caridade, a Santíssima Trindade, a graça, etc. – teremos uma sociedade que se preocupa com a vida sobrenatural.  E aqui a importância, caros católicos, da liturgia tradicional, que tanto devemos amar. O Cardeal Pie, grande defensor, no século XIX, da realeza social de Nosso Senhor Jesus Cristo, afirmava que a “questão social será resolvida pela questão religiosa e que a questão religiosa diz respeito sobretudo à questão do culto.” Podemos acrescentar: a questão do culto diz respeito sobretudo à questão da Missa.
Nós devemos amar essa liturgia romana tradicional porque nela está expressa claramente, limpidamente, sem medo, as verdades de nossa fé, a começar pela presença real de Cristo, em corpo, sangue, alma e divindade nas espécies consagradas. Isso está expresso pelas orações, pelas genuflexões antes e depois de o padre tocar nas espécies consagradas, pelas reverências, pelas inclinações, pelos inúmeros gestos do rito, pelos dedos mantidos juntos após a consagração, pelo rito de ablução. Nós devemos amar essa liturgia porque ela está centrada em Deus, e se dirige a nós somente para nos levar até Ele e ao próximo por amor a Ele. Devemos amá-la porque ela nos mostra a reverência e o respeito que devemos ter com as coisas sagradas. Devemos amá-la porque ela nos fala das coisas sobrenaturais. Devemos amá-la porque ela renova explicitamente o sacrifício de Cristo e nos impulsiona a nos sacrificarmos por Ele. Devemos amá-la porque ela nos faz dobrar os joelhos diante de Deus, nos faz reconhecer seu soberano domínio e faz com que queiramos nos submeter a Ele. Devemos amá-la porque foi o próprio Deus que formou essa liturgia ao longo dos séculos, desde os apóstolos. Devemos amá-la porque ela não saiu da mão dos homens. Devemos amá-la porque ela coloca Cristo no centro. Sua preocupação não é agradar aos homens ou às idéias do momento presente. Sua preocupação é unicamente Deus e a nossa alma. Devemos amá-la porque suas músicas elevam a nossa alma a Deus, em vez de simplesmente satisfazer nossa sensibilidade. Não se trata, então, caros católicos, de amá-la porque agrada mais à nossa sensibilidade, simplesmente. Trata-se de amá-la por reconhecer nela todos esses benefícios sem medida, que nos convertem a Deus e que vão restaurar a sociedade em Cristo. Tal culto, eminentemente cristocêntrico, restaura a nossa alma em Cristo e pode restaurar a nossa sociedade em Cristo. Não há, na Cristandade, um rito tão venerável quanto o nosso, dizia Adrian Fortescue, renomado liturgista. Esse rito é a coisa mais bela deste lado do céu, dizia o Padre Faber.
A Eucaristia é o centro do mundo. Ela dever ser reconhecida e cultuada como tal, na Missa, em primeiro lugar. É por ela como sacramento e como sacrifício que nos vêm todas as graças. Pela liturgia tradicional, podemos nos dispor para receber em abundância essas graças. Cumpre hoje honrar o melhor que podemos Nosso Senhor Eucarístico, em ação de graças e pedindo a propagação da liturgia tradicional.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

26 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 138

NO MÉXICO MÁRTIR

Era a primeira sexta-feira de abril de 1927. Os prisioneiros foram deixados toda a manhã sem alimento algum, e depois interrogados. Do advogado González Flôres exigiam que revelasse onde estava oculto o Arcebispo, mas não conseguiram arrancar-lhe uma palavra.
As 14 horas foi suspenso ao alto pelos dedos polegares. Estando nessa tormentosa posição, foi flagelado, e rasgados os membros com facas que lhe enterravam na barriga das pernas... mas não revelou nada, antes encorajava seus companheiros a sofrerem por Jesus Cristo.
O capitão deu-lhe um golpe com a coronha do fuzil, quebrando-lhe o queixo e fazendo saltar os dentes. O mártir suportou com paciência esse novo tormento.
Foram chamados outros soldados, que, com inúmeras punhaladas o mataram.
Antes de expirar, fazendo um último esforço, o mártir exclamou: “Ouçam ainda uma vez as Américas: Eu morro, mas Deus não morre! Viva Cristo-Rei!”
No primeiro aniversário do martírio de seu pai, o filho primogênito de González Flôres, de 5 anos apenas, obteve licença de fazer a primeira comunhão.
Quando lhe perguntavam: Onde está o papai? Respondia: Está no céu... e os homens o mataram porque ele queria tao bem a Jesus...

25 de junho de 2016

[Sermão] O mistério da Santíssima Trindade


[Sermão] O mistério da Santíssima Trindade


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”
Caros católicos, a Igreja nos fez reviver, desde o Tempo do Advento até Pentecostes, a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Preparamo-nos para o seu nascimento (Advento), comemoramos o seu nascimento (Natal), festejamos a sua circuncisão na oitava do Natal, comemoramos a visita dos reis magos na Epifania, festejamos a Purificação de Nossa Senhora e a Apresentação do Menino Jesus no Templo. Entramos na Quaresma (precedidos pela Septuagesima), com a tentação de Nosso Senhor no deserto, com sua pregação e a oposição mortal dos fariseus. Lembramos sua entrada triunfante em Jerusalém no Domingo de Ramos, a Instituição da Eucaristia, da Missa e do Sacerdócio na Quinta-Feira Santa. Sua Paixão e Morte na Cruz na Sexta-Feira Santa. Sua Ressurreição gloriosa, sua Ascensão, o envio do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, encerrando o Tempo Pascal. Nós começamos agora o Tempo que, na liturgia tradicional, se chama Tempo depois de Pentecostes e que significa liturgicamente a aplicação aos homens dos méritos infinitos obtidos por Cristo durante toda a sua vida na terra. Essa aplicação se faz por obra do Espírito Santo, a quem se atribuem as obras de santificação. Esse Tempo depois de Pentecostes é justamente um prolongamento de Pentecostes, com o Espírito Santo que atua na Igreja e nas almas, para nos conduzir ao céu.
Nesse primeiro domingo depois de Pentecostes, festejamos a Santíssima Trindade.São dois os principais mistérios da religião revelada por Deus aos homens: o mistério da Encarnação do Verbo e o mistério da Santíssima Trindade. Se queremos ser agradáveis a Deus, devemos ter a fé, quer dizer, devemos acreditar – com nossa inteligência – firmemente e com toda certeza naquilo que Deus nos revelou. São Paulo diz que sem a fé não podemos agradar a Deus e, com o mesmo sentido, Santo Atanásio diz que se queremos nos salvar, devemos, antes de tudo, ter a fé e conservá-la íntegra e sem mancha. Assim, se queremos agradar a Deus, devemos crer e confessar que Deus é Uno e Trino. Se queremos nos salvar, devemos crer e confessar que existe um só Deus em três Pessoas, pois Deus, que não pode se enganar nem nos enganar, nos disse que Ele é um só Deus em três Pessoas. Portanto, caros católicos, quando cultuamos Deus, quando adoramos Deus e o servimos, não estamos cultuando uma entidade mais ou menos vaga, não estamos cultuando o supremo arquiteto do universo da maçonaria, não estamos cultuando a mãe natureza ou uma força, uma energia positiva. Não estamos cultuando um Deus que se confunde com o mundo. Cultuamos, isso sim, um Deus que é puro espírito, infinitamente bom e amável, onisciente, onipotente, eterno… Cultuamos um Deus que é distinto das criaturas, que mantém na existência tudo o que criou e que governa tudo com suprema bondade e misericórdia. Nós cultuamos um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Essas três Pessoas são um só Deus e não três deuses porque as três têm uma só substância, uma só natureza, uma só essência, uma só divindade; as três são igualmente eternas, igualmente poderosas, nenhuma das três é uma criatura. Um só Deus, um só Senhor em três Pessoas realmente distintas. A única diferença que existe entre as três Pessoas da Santíssima Trindade é o fato de uma proceder da outra. O filho procede do Pai desde toda a eternidade. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho desde toda a eternidade. O Pai não procede de ninguém.
A Santíssima Trindade, como falamos, é um mistério. É um mistério pois nossa razão não pode sozinha chegar à conclusão de que Deus é um em três Pessoas. Precisamos da Revelação para conhecer isso. É famosa a história de Santo Agostinho, que buscava compreender a Santíssima Trindade quando escrevia seu livro sobre o assunto. Deus lhe mostrou como esse mistério é inacessível à pura razão comparando o seu desejo ao desejo de um menino que queria colocar toda a água do mar em um buraco cavado na areia da praia. Diante do mistério da Santíssima Trindade, muitos inimigos da religião pretendem combatê-la dizendo que a fé é irracional, pois não podemos compreender aquilo em que acreditamos. Caros católicos, a fé não é irracional. Ao contrário, ousaria dizer que não existe nada de mais conforme à razão  do que a fé. A fé supera a razão, mas a fé não contradiz a razão. Poderíamos comparar as verdades da fé com relação à nossa inteligência com uma equação do segundo grau para uma criança de cinco anos. A equação supera a inteligência da criança, mas nem por isso a equação contradiz a inteligência daquela criança ou se torna irracional. Da mesma forma, as verdades sobrenaturais não se tornam irracionais pelo fato de superarem nossa razão. Nossa inteligência não consegue compreender o mistério da Santíssima Trindade, mas ela consegue mostrar que não se trata de um absurdo, ela consegue responder às objeções contrárias à Santíssima Trindade, ela consegue mostrar que é possível a existência de um só Deus em três Pessoas. Ela consegue, por meio de analogias e comparações, entender melhor o mistério, embora não consiga demonstrá-lo ou explicá-lo completamente.
Podemos compreender um pouco o mistério da Santíssima Trindade fazendo, por exemplo, uma analogia com a nossa inteligência e com a nossa vontade. O Verbo é gerado – não criado – porque Deus conhece a si mesmo perfeitamente desde toda a eternidade. Esse conhecimento que Ele tem de si gera o Filho ou Verbo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Esse Filho gerado é em tudo igual ao Pai, salvo justamente no fato de proceder do Pai. Do amor que existe entre o Pai e o Verbo – amor que existe desde toda a eternidade – procede o Espírito Santo. O Espírito Santo é em tudo igual ao Pai e ao Filho, salvo no fato de proceder de ambos. Essa geração do Filho e o proceder do Espírito Santo não diminuem em nada o Filho e o Espírito Santo com relação ao Pai. Os três são igualmente eternos, igualmente perfeitos. Os três são um só Deus. O mistério da Santíssima Trindade supera a nossa razão, mas não a contradiz.
Além disso, caros católicos, nossa razão é capaz de reconhecer a existência de Deus e ela reconhece que Deus é infinitamente perfeito. Diante disso, a nossa razão reconhece que se Deus nos falar, somos obrigados a aceitar porque Deus, infinitamente perfeito, não pode se enganar nem nos enganar. E aceitar aquilo que Deus nos falou não é humilhar a nossa inteligência, mas ao contrário, aceitar as verdades de fé é a maior exaltação a que pode chegar nesse mundo a nossa inteligência, pois a fé aumenta a capacidade de conhecimento da nossa razão e faz que nossa razão penetre na ordem sobrenatural. A fé não é contrária à razão. Deus é o autor da fé e da razão. Ele não pode se contradizer colocando as duas em oposição. A fé não diminui a razão. A fé aperfeiçoa e eleva a nossa razão, a nossa inteligência humana. É melhor ser mais perfeito com a ajuda de outro – no caso, Deus – do que permanecer sozinho na imperfeição ou na mediocridade.
Se Deus falou, devemos, então, acreditar. Lendo a Sagrada Escritura, aparece claramente que Deus revelou ser Uno e Trino. Ele revelou isso abertamente no Novo Testamento e deu indícios fortíssimos no Antigo Testamento.
Não convinha que a Santíssima Trindade fosse revelada plenamente aos judeus pelo risco que havia de eles caírem no politeísmo, sem compreender bem a Trindade das pessoas e pelo fato de estarem cercados de pagãos politeístas. Mas já a primeira frase da Sagrada Escritura indica a Santíssima Trindade: “No Princípio criou Deus o céu e a terra e o Espírito de Deus movia-se sobre a água”. Ora, “no Princípio” era o Verbo, quer dizer, Deus Filho, no diz São João no início de seu Evangelho. “Deus” é Deus Pai. O “Espírito de Deus que se move sobre a água” é o Espírito Santo. Além disso, nessa mesma frase, em hebreu, a palavra “Deus” é Elohim, que é uma forma plural, mas o verbo – “criou” – se encontra no singular. No plural da palavra Elohim, temos a pluralidade de pessoas. No singular do verbo “criou” temos a unidade da essência. Ainda no primeiro capítulo do Gênesis Deus disse: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. O verbo “façamos” no plural indica a pluralidade de pessoas. “À nossa imagem e semelhança” no singular indica a unidade da essência. Davi diz no Salmo (LVI): “Abençoe-nos Deus, o nosso Deus, abençoe-nos Deus.” Invoca, assim, três vezes Deus: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. E o que está no meio é chamado de maneira sublime nosso Deus, pois faz referência ao Filho, que assumiu nossa carne, veio ao mundo para nos salvar. O Profeta Isaías diz: “Sanctus, Sanctus, Sanctus”, referência ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo. E poderíamos ainda citar outras passagens do Antigo Testamento que fazem referência à Santíssima Trindade.
No Novo Testamento, Nosso Senhor ensina abertamente a Trindade das Pessoas em Deus. Temos o Evangelho de hoje: “Ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as emnome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” “Nome” está no singular, para significar a unidade de essência em Deus. Também quando Nosso Senhor diz: “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim.” Há o Pai, o Filho e o Paráclito, que procede dos dois, que é enviado pelo Pai e pelo Filho. Podemos citar também o Batismo de Nosso Senhor e sua Transfiguração, em que tanto o Pai como o Espírito Santo se manifestam para glorificar o Filho. Também os Apóstolos ensinam a Santíssima Trindade. São João diz: “três são os que dão testemunha no céu: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. E esses três são um.” São Paulo na Epístola de hoje diz “dEle, por Ele e para Ele”, com referência à Santíssima Trindade. E, claro, poderíamos multiplicar os exemplos.
Também a Tradição exprime claramente a fé na Santíssima Trindade. Podemos mencionar o Credo de Santo Atanásio – que recomendo a todos que leiam – e poderíamos citar os outros Padres da Igreja. Basta, porém, considerarmos esse monumento da Tradição e da fé que é o Rito Tradicional da Missa, e que é, em particular, uma confissão clara da fé na Santíssima Trindade. No ofertório, pedimos à Santíssima Trindade que receba a oblação que oferecemos na Missa: Suscipe Sancta Trinitas hanc oblationem. Logo antes da Bênção final, exprimimos o nosso desejo de que o sacrifício que acabou de ser oferecido aplaque a Santíssima Trindade e lhe seja agradável: Placeat tibi Sancta Trinitas. Recitamos em todos os Domingos depois de Pentecostes o Prefácio da Santíssima Trindade. Peço que considerem atentamente as palavras desse Prefácio que será cantado logo mais e vejam que sublime síntese do Mistério da Santíssima Trindade está contida nessa bela oração.
Todas as nossas ações devem ser feitas em nome da Santíssima Trindade. Na Santa Missa, o primeiro rito é o sinal da Cruz, para indicar que o sacrifício da Cruz vai ser renovado e oferecido em honra da Santíssima Trindade. Permaneçamos firmes e inabaláveis na fé na Santíssima Trindade, caros católicos, sem a qual não podemos agradar a Deus, sem a qual não podemos nos salvar. E que, pela firmeza dessa fé, sejamos protegidos de toda a adversidade (Coleta). Peçamos à Santíssima Trindade que habite em nossas almas pela graça. Bendita seja a Santíssima Trindade e a Unidade Indivisa, como nos diz o Intróito da Missa de hoje.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

24 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 137 a e b

a) A IMAGEM DO CORAÇÃO DE JESUS

Durante a primeira guerra mundial, uma senhora vira partir para os campos de batalha os seus três filhos, um após outro. Quando partiu o último, que era oficial de marinha e destinado ao comando de um submarino, deu-lhe uma imagem do Sagrado Coração em celuloide, a fim de que fosse o seu escudo e proteção. Achava-se ele nas águas da Dalmácia e, devido a um movimento brusco para submergir, pois fora descoberto pelo inimigo, irrompeu no submarino um terrível incêndio.
É impossível descrever o pânico daquele trágico momento. Um dos marinheiros, asfixiado, caiu logo, gritando: Minha mãe! Foi dilacerante para o comandante e seus companheiros, que tentavam dominar o fogo com trapos, roupas, ferros. O comandante, lembrando-se da imagem do Coração de Jesus, teve uma ideia: tomou-a, beijou-a e passou-a a todos os marinheiros que faziam corrente... Eles a beijaram devotamente, e invocaram o misericordioso Coração...
Após grandes fadigas, conseguiram dominar o incêndio e puderam subir à superfície porque o periscópio não assinalava mais nenhum navio inimigo. Abraçaram-se, chorando de comoção. E o comandante, quando voltou para casa, após a guerra, quis que aquela imagem crestada pelo fogo fosse exposta na sala, onde em presença da noiva, da mãe e de outras pessoas se fez a consagração da família ao Sagrado Coração de Jesus.

b) O SAGRADO CORAÇÃO E O MAÇON

Um incrédulo acabava de perder sua esposa. De seus três filhos somente a filha primogênita era batizada. Estando esta gravemente enfêrma, pediu que lhe chamassem um sacerdote. Para agradar-lhe, o pai, que era maçon, mandou vir o ministro de Deus. O sacerdote prometeu à doentinha que viria com frequência visitar-lhe o pai e pedir lhe permitisse entronizar naquele lar o Sagrado Coração de Jesus.
O maçon recebeu as visitas do padre, mas recusou-se a tratar de qualquer assunto religioso.
Veio a guerra. O padre foi mobilizado. Antes de partir recomendou a um colega que visitasse em seu lugar aquele senhor.
Do campo de batalha escreveu ao seu substituto que, numa das visitas, deixasse na casa do incrédulo uma estampa do Sagrado Coração e um folheto sobre a entronização.
O conselho foi seguido.
Alguns dias mais tarde o padre voltou aquela casa e qual não foi a sua surpresa, quando o Senhor N. lhe disse:
— O Senhor não quer me ceder uma brochura que esqueceu aqui a última vez? Eu a li. Por que não me falou há mais tempo do seu conteúdo? Quero fazer a entronização aqui em casa.
— Mas é difícil. O Sr. sabe que há impedimento... e seus filhos não são batizados!
— O impedimento não existe mais": pedi demissão da maçonaria e devolvi as insignias maçônicas. Amanhã meus filhos receberão o batismo; e de tarde o Sagrado Corado será entronizado no meu lar.
Tudo aquilo era resultado da introdução duma imagenzinha do Sagrado Corado naquela casa. E realizava-se, mais uma vez, a bela promessa de Nosso Senhor: “Eu abençoarei as casas em que se expuser a imagem do meu Coração”.

23 de junho de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XIV


Parte 7/7


Vamos terminar esta instrução. Queria reforçar os princípios e os enunciados apresentando uma outra ideia inteiramente nova, que até aqui eu deixei de lado, mas quero lembrá-la terminando.
Na instrução anterior tratamos de coisas terríveis. Coisas difíceis de dizer, e seria melhor calar, se com o silêncio se pudesse curar este monstruoso câncer das ideias mundanas e frívolas.
É uma expressão forte?
Pode-se, porém, empregar uma outra expressão, quando se lê em uma carta de pessoas casadas: "Desde o início concordamos em não ter filhos. Sem filhos é-se muito mais livre. Somos ainda jovens e queremos aproveitar a vida. Mais tarde pode-se pensar em um filho".
Estará morta toda a consciência destes jovens? Se eles ignoram a responsabilidade que tem diante de Deus não sentem ao menos a falta que cometem contra a Pátria? Pois a nação não é só a planície e a montanha, a fábrica, os caminhões de ferro; a nação é um grande número de homens fortes e moralizados.
"Mais tarde pode-se pensar em um filho"! É horroroso imaginar o tesouro que este terrível modo de pensar arrebata à nossa nação! Pois se as mães outrora assim pensassem, então Estevão Széchenyi não teria nascido, porque era o terceiro filho. Nunca Mauricio Jokai teria vindo ao mundo, porque ele era o quinto. Francisco Deak não teria visto a luz do dia porque ele era o sétimo. E João Arany era o décimo. Mozart era o quinto. Rembrandt, o sexto. Wagner, o sétimo. Napoleão, o oitavo. Schubert, o décimo terceiro. Franklin, o décimo sétimo...
Escutai agora as advertências de nossa Igreja.
Que nos pede a Igreja de Cristo? Não outra coisa senão a sábia resposta de Mussolini diante do qual, um dia, se falava da limitação dos nascimentos, ao que ele se contentou em responder com desprezo: "Deixemos estas tolices para outras nações".
Que quer a Igreja de Cristo? Nada quer senão que cada um fale com santo respeito da mãe de família que espera o nascimento de um filho, e sobre cuja fronte brilha um raio de coroa da Bem Aventurada Virgem de Belém.
Que quer a Igreja de Cristo? Que cada um levante a voz contra estes esposos que gostam mais de educar gatos e cães do que filhos. Que quer a Igreja de Cristo? que cada esposo e cada esposa ouça estas palavras de Nosso Senhor: "Aquele que recebe em meu nome um desses pequeninos, é a mim que recebe" (Mt 8, 5).
Que quer enfim a Igreja de Cristo? Quer que realize, sempre mais para mãe, a promessa de São Paulo, assegurando-lhes que cada vez que dão ao mundo um novo filho adquiriram muito para a vida eterna. Ou então, como se exprime um provérbio húngaro: " Tantos botões em tua roseira, outras tantas pérolas para tua coroa". Compreendestes? Ouvistes, mães de família? Eis a conclusão de hoje: Tantos botões em vossas roseiras, tantas pérolas para vossas coroas! Amém.

22 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 136

O MEMORARE DO “TERROR”

Na terrível época que na França se chamou o Terror, um dia o vigário de Firanges (diocese de Puy) estava batizando ocultamente uma criança. Naquela infeliz época, isso era um crime passível de morte. Repentinamente 14 hussardos e 5 gendarmes, guiados por um fogoso revolucionário, cercam a aldeia (Boisseyres) e a casa onde estava o padre. Fugir era impossível. E onde esconder-se?
“Ó Maria, exclama o padre, vós me salvareis, e eu recitarei o “memorare”, o Lembrai-vos, todos os dias de minha vida, e o farei cantar todos os domingos na minha paróquia”. Assim dizendo, refugiou-se atrás de um armário. O primeiro soldado entrava no aposento justamente no momento em que ele cobria com um velho chapéu de palha a extremidade dos pés que apareciam por baixo do armário. Os soldados procuram, revistam, quebram, estragam tudo e não descobrem o padre. Um dos soldados mete por três vezes a sua espada por trás do armário; a espada escorrega sempre ao longo do corpo do pároco sem fazer-lhe nem a mínima ferida. Partem desapontados os carrascos, e o sacerdote está salvo.
O protegido de Maria foi fiel em cumprir o seu voto, e os seus sucessores continuaram a prática que consagrou aquela comovente recordação: Depois do “Magnificat”, na igreja paroquial de Piranges, ecoava o canto do “Memorare”.

21 de junho de 2016

Capela da AVM tem missas em Latim

Prezados Leitores,

No dia 17/06/2016 o Padre Raffray (Superior do IBP no Distrito da América Latina), Padre Renato (IBP - SP) e Cel. Jorge Mattke (Presidente da Associação Civil São Pio V), estiveram em visita na Associação da Vila Militar - AVM em Curitiba.
Para ver matéria completa, acesse a publicação no site da AVM no link a seguir:

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Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XIV


Parte 6/7


C - Ao lado das preocupações materiais tem-se o costume de invocar razões de saúde para recusar ter novos filhos, "os filhos fazem envelhecer... tiram a força das mães... podem até custar-lhes a vida..." Tais são os temores de alguns.
a - Cada vez, porém, que ouço falar dessas apreensões, cada vez que ouço falar de jovens que receiam ter filhos, "porque elas envelhecem", e "põem em perigo a saúde", recordo-me da resposta de um célebre médico francês. Uma senhora lamentava-se de diversos sintomas de doença. O médico contentou-se em perguntar-lhe:
- Senhora, quantos filhos tem?
- Três, respondeu a senhora.
- Pois bem, replicou o médico. Quando tiver cinco, desaparecerão por si mesmas todas estas enfermidades.
Pois é verdadeiramente maravilhosa, a força que há nos braços de um pequenino filho. Como ele une cada vez mais, dia a dia, o coração de seus pais. Como os adultos se tornam novamente crianças sorridentes, quando cuidam de um filho! Com que palavra de ternura a mãe sabe falar a seu filhinho! Com que precaução, e orgulho, o pai leva nos braços robustos o seu filho. E como do semblante desses dois adultos desaparece toda a preocupação! Como seus olhares se tornam doces! Como o sorriso há tanto tempo talvez desaparecido, reaparece em seu rosto, quando olham o filho!
Tal é a força rejuvenescedora do filho, protegendo o enfraquecimento precoce, a aspereza, o tédio da existência! Nos lares, porém, onde não brilha o sorriso da criança, a velhice cedo aparece, a alma dos esposos sem filhos é mais vitima da artério esclerose que seu corpo.
b - Mas objetará talvez alguma jovem, eu não quero diversos filhos porque me envelhecem prematuramente.
Pois bem, que responderemos nós?
Vistes já, com certeza, nestas belas tardes de maio, uma árvore toda florida banhada pelo brilho radiante do sol que se põe? É a imagem da noiva de pé ante o altar no dia de seu casamento.
Sim, é bela a jovem árvore florida.
Mas é ainda mais bela quando desaparecido o sinal da sua beleza exterior, quando caídas as suas flores, aparecem em seu lugar os pequeninos botões. E a árvore se alteia apesar dos ventos e das tempestades, arrasta o calor e o frio, bebe incansavelmente as águas da chuva e os raios do sol, para que um dia, chegado o seu outono, o tronco possa apresentar seus ramos cobertos de frutos. Se todas as jovens, que se inquietam pela sua beleza, refletissem: é bela a árvore ornada de flores na primavera, mas esta beleza não tem finalidade, e nem significação se não houver frutos.
c - É bem verdade. Esta fecundidade é algumas vezes perigosa. Na verdade a vida do filho põe em perigo a vida de sua mãe. Mesmo nestas situações difíceis, desesperadoras, pode-se constatar que a fé e a confiança em Deus geram uma grandeza de alma e uma coragem heroica. Há mães que não permitem que se destrua a pequenina vida que ainda não nasceu, mesmo que ela constitua um perigo sério para elas mesmas. Há almas heroicas que tem uma conduta de vida: Ó homem, faze tudo que tuas forças permitem, e que não contrarie as leis de Deus, mas, uma vez feito o que era humanamente possível, põe os dias que te restam nas mãos do Senhor da vida e da morte. Há mães de alma heroica que se convenceram de que ninguém se arrependerá de ter observado a lei de Deus, ainda que à custa de duros sacrifícios.
Sim, a vocação de mãe tem seus sacrifícios também; e a nossa santa religião se inclina ante estas mártires do dever materno, e crê que se realizam para elas as promessas de São Paulo, dizendo que a mãe esta salva dando a vida a um filho. (1 Tim 2, 15)

20 de junho de 2016

Programação Missas Tridentinas - IBP


Tesouro de Exemplos - Parte 135

NO TRIBUNAL DE DEUS

S. Jeronimo, que foi sempre estudiosíssimo, quando jovem apaixonou-se demais pelos clássicos latinos, e lia com avidez as obras de Plauto, de Terêncio e especialmente de Cícero. Ele mesmo conta que, uma vez, enfermando gravemente, esteve à morte, e foi arrebatado em espirito ao tribunal do Juiz Jesus Cristo — Eu estava (diz o Santo) com o rosto por terra e, ferido pelo fulgor do rosto de Deus, não ousava erguer os olhos. O Juiz interrogou-me: “Quem és tu?” E eu com voz trêmula respondi: “Sou Jeronimo, sou cristão”. “Cristão? Mentes; não és cristão, mas ciceroniano: Mentiris; Ciceronianus es, non Christianus”.
Em seguida uma mão invisível desferiu-me uma tempestade de açoites. Eu gritava: “Misericórdia! misericórdia!” e fazia mil protestos de no ler mais os clássicos profanos e de entregar-me ao estudo assíduo da Sagrada Escritura. Oh! que rigoroso será o Juízo divino!

19 de junho de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XIV


Parte 5/7


B - Falando, porém, assim, parece-me ver entre este ou aquele dentre os que me ouvem pelo rádio dizer: "Vou escrever ao pregador. É fácil dizer do altar, da cátedra, porque ele não conhece a vida".
Não me escrevais, não. Eu a conheço. Sei mesmo que há realmente, por causa das miseráveis condições materiais de hoje, famílias que receiam com razão a vinda de um novo filho, porque não poderiam sustentá-lo.
a - Que lhes diremos nós? Que lhes diremos, quando em sua amargura, eles não sabem mais quase o que dizem?
O ponto de vista católico é duro e severo, dizem eles. Já não há tanta miséria na terra? Já não falta o pão aqueles que vivem? E eis o cristianismo a proclamar que é um pecado defender-se contra os filhos. A Igreja não tem coração e nem indulgência!
Apresentei esta acusação em toda a severidade, para que vejais que a Igreja sabe de tudo isto. Como não haveria ela de saber a miséria por que passam tantas famílias de hoje? Como não teria ela compaixão de todos aqueles que, sem o merecerem, estão na miséria? Como não haveria ela de saber que, infelizmente, famílias realmente religiosas, por causa dessas dificuldades, ficam em uma terrível alternativa?
b - Para evitar mal entendidos, declaremos claramente que a Igreja nunca teve a ideia de que os pais pudessem pôr no mundo sempre mais filhos, irresponsavelmente. Nada disto. Há famílias que podem educar, convenientemente, os dez filhos, há outras que não podem educar mais que um ou dois. A Igreja o vê bem. Ela só  não o permite que a limitação de números de filhos se realize por intervenções culpáveis, manchando o santuário da família. Quando por sérias razões a família não quer mais aceitar filhos, é preciso para que ela não os aceite mais, recorrer a castidade conjugal, e não os meios criminosos.
É por excelência o dogma que hoje faz com que tantos falem das "lacunas da ética sexual católica" e da "falência moral do matrimônio católico", e da "impossibilidade do ideal católico do matrimônio".
O homem moderno gosta de ouvir falar de tudo, menos de uma coisa: Não quer ouvir falar do domínio de si. O homem que aprendeu dominar as forças mais selvagens do mundo material, esqueceu de aprender a dominar a si mesmo, esqueceu e, se for preciso, negará que todas as grandes obras do passado, no terreno da civilização material ou da intelectual, são o fruto de renúncia.
c - Mas, enquanto que a santa Igreja exige sem reserva a pureza moral da vida do casado, ela não cessa de exigir também para as famílias condições que tornem possível a observação da castidade conjugal, pois se conhecemos que para muitas famílias na realidade é difícil observar as leis divinas por causa da situação econômica atual, não se segue que tenham agora o direito de mudar a lei de Deus; pelo contrário, é preciso transformar a situação econômica. A lei divina é eterna e o homem não tem o direito de tocá-la. Mas as leis econômicas não são eternas. Elas dependem das transformações a que estão sujeitas as instituições da vida atual.Se o sol e o meu relógio não se combinam, eu não posso tocar no sol, mas somente no relógio:
Quem não vê a grandeza da tarefa que incumbe neste ponto à legislação? Com efeito, há hoje ainda homens que não têm família para sustentar, mas dissipam em uma só noite somas que bastariam para alimentar, durante a semana, várias famílias numerosas. Enquanto a Igreja corajosamente levanta a voz em favor dos filhos, e assim defende com eficácia o interesse da nação, a legislação civil não tem o direito de olhar, com indiferença, a luta difícil em que ela se empenha em favor da criança, mas deve, por inúmeras medidas legais, por intervenções no domínio educativo, impostos fiscais, por abonos e outros meios materiais, favorecer as famílias numerosas

18 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 134

SENTAR-SE AO LADO DE UM PADRE

Não faz muito tempo deu-se em Roma o caso seguinte. Um padre sobe a um bonde e vai sentar-se ao lado de certo individuo, que seria tudo menos um cavalheiro. Por quê? Porque, levantando-se de mau humor, foi sentar-se ao lado de uma senhora, dizendo em voz alta (para ser ouvido de todos), que não queria viajar ao lado de um corvo.
A senhora mais que depressa levanta-se e vai assentar-se ao lado do sacerdote, dizendo: “E eu não quero ficar perto de um asno!”
Uma gargalhada gostosa obrigou o mal-educado a calar-se envergonhado e a descer na primeira parada.

17 de junho de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer toth.

Conferência XIV


POR QUE NÃO QUERER FILHOS?


Parte 4/7


Qual é esta palavra de ordem? quais os pretextos invocados, muitas vezes, por esposos receosos de filhos? Olhemo-los frente a frente.
A - A objeção mais frequente é a situação econômica difícil. "Amamos os filhos, mas não temos com que sustentá-los. Um filho é o suficiente, não podemos ter mais". Quantas vezes não se ouvem estas frases, embora sob formas diversas.
Mas se observamos mais de perto os que assim se lamentam, e como vivem os que não podem ter mais filhos, chegaremos certamente a uma constatação muito curiosa. É que na maior parte dos casos a causa do receio de ter filhos não é a miséria, mas, pelo contrário, é o bem estar.
Por incrível que pareça, no entanto, é assim.
a - Examinemos a história desta doença: Donde vem essa epidemia que arruína a vida de família. Foi entre as famílias dos operários ou camponeses que começou esta moda de não ter senão um filho, ou mesmo nenhum? Começou ela entre as famílias que, pela sua pobreza, tinham o direito de temer não possuir bastante pão para tantas bocas esfomeadas?
Certamente, não. Inegável que esta doença mortal para os povos apareceu em primeiro lugar entre as famílias abastadas, onde haveria pão suficiente e até bolo para os cinco ou seis filhos, entre as famílias onde a sede de prazeres e a licença dos esposos preferiram as comodidades e tranquilidade de uma existência sem filhos. Isto é infelizmente um fato inegável.
b - Não olhamos, contudo, só o passado; mas também o presente. Que vemos atualmente? Em geral esta objeção não é formulada por aqueles que ganhando pouco tem uma casa com um quarto e uma cozinha e vários filhos; mas, ao contrário, pretextam dificuldades econômicas os que, em um apartamento coberto de tapetes e ornado de quadros célebres, não tem senão um filho, mas possuem além disso uma empregada para tudo, uma cozinheira, uma governanta inglesa, dois ou três pequeninos cães bem ensinados e revestidos de belos casacos.
"Nossos meios não nos permitem mais filhos", dizem esses pais. São eles suficientes para os concertos e bailes, para as viagens e vesperais, para as temporadas de praia e modas, para os jantares e partidas de cartas, para os autos e cães. Mas não para os filhos.
Sinto que digo neste momento coisas amargas, mas olhai ao redor de vós. A maior parte das famílias não tem mais filhos, precisamente porque fazem mais despesas e vivem mais luxuosamente do que lhes permite a situação. O receio de ter filhos é mais forte, não aí onde se vive melhor mas sim onde os pais, indiferentes quanto à religião, não vêem no grande número de filhos, senão um encargo que reduziria sua liberdade e tornaria impossível o seu luxo.
c - Os esposos religiosos não deveriam pensar assim. Para os pais religiosos é sempre uma alegria, quando um filho nasce na família: uma alegria porque se recordam da maravilhosa promessa feita outrora por Nosso Senhor Jesus Cristo, e cuja melodia ressoa incessantemente a seus ouvidos, a cada hora difícil, a cada noite de insônia, a cada minuto de sacrifício: "aquele que receber em meu nome um desses pequeninos, é a mim que recebe" (Mt 18, 5).
Existem para os pais promessas mais consoladoras e mais confortantes que a vinda de Nosso Senhor, cada vez que um novo filho nasce na família?
Não temais, pois, se tiverdes mais filhos. Não temais ficar por isso mais apertados. Porque o coração dos pais é como lareira ardente: quanto mais combustível aí se põe, mais ele arde. O coração daquele que não tem filhos é frio. O primeiro filho acende a primeira chama de amor dos pais; cada novo filho aumenta-a, e mais anima.

16 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 133

A METADE DE UM PÃO PARA 50 RELIGIOSAS

S. Clara, abadessa do convento de S. Damião, porfiava com S. Francisco na observância da pobreza, de tal modo que, as vezes, não havia nada para a refeição.
De uma feita, a hora do almoço, Irmã Cecilia, a ecônoma, corre triste a mostrar a abadessa o único pão que havia em casa. Um pão para 50 religiosas!...
— Minha filha, — disse-lhe S. Clara, — divida o pão em duas partes: uma metade mande aos nossos bons Irmãos esmoleiros, os quais com certeza estão necessitados como nós; a outra metade, vocé a divida em cinquenta fatias, que tantas são as Irmãs.
— Mas, Madre — replica a ecônoma — para dar de comer a 50 religiosas com a metade de um pão, seria mister que Deus renovasse para nós as maravilhas operadas outrora em favor da multidão faminta...
— E por que duvidar, minha filha? vá — diz-lhe a Santa com um sorriso angélico — vá e com espirito de fé faça tudo como lhe ordenei.
Depois, reunidas no refeitório todas as Irmas, pôs-se a rezar junto com elas; e eis que, durante a oração, as fatias de pão cresciam maravilhosamente nas mãos de Irma Cecilia que as distribuía.
Todas as Irmãs ficaram abundantemente servidas e não cessavam de dar graças a santa abadessa e mais ainda ao bom Deus, que renovara diante de seus olhos o prodígio da multiplicação dos pães.

15 de junho de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XIV


Parte 3/7


B - Falaremos dos esposos aos quais Deus daria filhos, mas que por processos culpáveis fecham para eles as portas da vida. 
a - Nossa santa religião ensina expressamente que aquele que vive no matrimônio, mas afasta o filho, por processos culpáveis, afasta de si as bençãos divinas, e comete um pecado grave. Exercer os direitos do matrimônio, mas impedir por uma intervenção humana que possa nascer o filho, é um pecado grave, que arranca o matrimônio das alturas do ideal desejado por Deus.
b - Após tudo isto, podeis julgar vós mesmos o que devemos julgar desta maneira de pensar inaudita e frívola, que ora aqui, ora acolá, é manifestada por certos esposos.
"O que fazemos no casamento não é um pecado, dizem eles, é somente prudência. Se não queremos filhos, isto não interessa a ninguém. Tão pouco à Igreja. Não considero isto como pecado. E não tenho, tão pouco, o hábito de confessá-lo." Assim começa a sua explicação. Logo depois apresentam inúmeras razões e explicações pelas quais são obrigados a agir desta maneira.
Não notam que revelam com isto que sua alma esta inquieta, e que eles sentem alguma coisa de mau em seu proceder. Pois, se o que eles fazem é tão natural, e realmente não é um pecado, por que então se esforçam para impor silêncio e tranquilizar sua consciência? Não será o sinal de que certamente todo o homem de senso moral considera pecado grave o abuso da vida conjugal; não será, pois, pecado ainda mais grave, porque é um sacrilégio silenciá-lo voluntariamente na confissão?
"Mas se eu disser, não recebo absolvição", replica o interessado. Não há tal. Há uma absolvição para todo o pecado, se ... houver promessa de não mais cometê-lo.
Ora, é justamente isto que eles não querem prometer. Eles não querem, porque estão obcecados pelas máximas envenenadas das ideias modernas.

14 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 132

UMA AÇÃO BOA FAZ MUITO BEM

Um dia, um estudante universitário encontrou num bosque perto de Viena uma pobre velha, que, curvada sob o peso de um feixe de lenha, ia caminhando com muita dificuldade.
— Boa velhinha — disse o estudante — deixe-me carregar um pouco o seu feixe de lenha.
E, tomando o feixe, levou-o até a casa da pobre velha, a qual, muito comovida com a bondade do moço, perguntou-lhe:
— E, agora, meu senhor, quanto lhe devo?
— Reze por mim um Pai-Nosso, boa velhinha — foi a resposta.
— Sim, sim, eu o farei — respondeu ela, — e esse é o primeiro Pai-Nosso que vou rezar, depois de uns 20 anos! Não se espante, meu senhor, as minhas continuas desventuras, os desprezos recebidos de tanta gente, haviam-me afastado de Deus; o sr., com a sua caridade, tocou-me o coração e vou começar de novo a rezar.

13 de junho de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XIV


NADA DE FILHO


Parte 2/7


A - Antes porém de examinar sucessivamente as objeções formuladas contra a presença do filho, quereria fazer uma advertência preliminar.
Quando a religião católica faz um juízo muito severo contra os esposos que tornam estéril sua vida conjugal por meios culpáveis, ela não repreende, em momento algum, os esposos que não cometeram falta alguma neste ponto e que aceitariam, com bastante alegria, os filhos, mas aos quais Deus privou desta alegria. Ela estaria longe de repreendê-los por um estado de coisas do qual não são responsáveis. Pois há bastante tristeza em sua alma; eles sentem bem que lhes falta alguma coisa de essencial para a sua felicidade.
Não os repreendo, quero antes inspirar-lhes alguns pensamentos consoladores, e indicar-lhes até um meio de aproveitarem esta situação.
a - O traço essencial da alma cristã é a convicção de que tudo o que Deus faz ou tudo o que Ele permite, Ele o faz ou permite segundo um plano. Se Ele não dá filhos a estes esposos, apesar de suas fervorosas orações, é que há nisto uma intenção especial.
Qual a intenção? Talvez a de lhe fazer consagrar mais suas forças a alguma grande causa religiosa, ou ao bem comum, ou ao serviço desinteressado do próximo. Ou talvez Deus o permita a fim de que haja pessoas sem filhos que cuidem de pequeninos órfãos ou de crianças pobres e infelizes. Quantas crianças na miséria sobre a terra! Assim houvesse muita gente para ajudá-los!
b - Uma outra possibilidade, contudo, se oferece aos esposos sem filhos.
Se, talvez, não lhes é possível recolher sempre pequenos órfãos, um novo caminho se abre para eles, permitindo-lhes fugir da solidão espiritual e do egoismo que pesam sobre eles.
Sabeis que hoje os estudos de sacerdotes estão materialmente cada vez mais difíceis. Há jovens dispostos a abraçar a vida sacerdotal, que se acham bem sobrecarregados... Que honrosa possibilidade para os lares sem filho ajudar materialmente este ou aquele missionário ou seminarista, na realização de seus elevados ideias! Que benéfica consolação para aqueles a quem Deus não deu filho, poder, contudo, dar-lhe um servidor. Que alegria para eles assistirem um dia à primeira Missa de um sacerdote, que eles ajudaram a subir ao altar!
Tudo isto, porém, não é senão uma digressão; deste assunto não falaremos mais nesta palestra.

12 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 131

DEIXE-ME TOCAR UM POUCO

Numa reunião de cavalheiros e damas figurava, entre outros, o sr. P. Ruf, vigário de Lustenau, notável por sua agudeza de espirito. Eis que, de repente, aparece na sala um velho pobre e cego, conduzido por um seu netinho e começa a tocar sua harpa e a cantar. Os ouvintes notaram que o instrumento estava desafinado e, além disso, a voz do velho era pouco agradável, razão por que estavam na iminência de enxotá-lo da sala. Nesse instante, o vigário Ruf, acercando-se do cego músico, disse-lhe com carinho:
— Bom velho, o sr. está bastante cansado; de-me a sua harpa e deixe-me tocar um pouco.
O vigário senta-se numa cadeira, afina o instrumento e começa a cantar uma belíssima ária, acompanhando-a com a harpa. Os presentes, mormente os que nunca o tinham ouvido, estavam cheios de admiração e espanto. O talento do novo tocador ressaltava ainda mais após os sons desagradáveis que pouco antes tinham ouvido. Terminada a ária, choveram os aplausos e pediram ao vigário que cantasse mais uma ária.
— Com muito prazer. — respondeu ele. — Mas o sr. (disse, dirigindo-se ao velho), o sr. vá recolhendo os donativos.
O cego, conduzido pelo neto, fez o giro pela sala com o chapéu na mão. As moedas de prata caíam abundantes no chapéu e o velho estava comovido e com água nos olhos.
— Ih! vovó, durante todo o mês não ajuntamos tanta esmola como hoje — dizia o netinho.
Ambos, avô e neto, não se cansavam de agradecer as ricas ofertas que receberam, e beijavam afetuosamente a mão do bom vigário. Quanto aos circunstantes, não houve um que não elogiasse o talento do vigário Ruf e mais ainda o nobre uso que soube fazer dele.

11 de junho de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XIV


CASAL SEM FILHOS (II)


Parte 1/7


O grande pintor austríaco Joseph Führich perpetuou em um quadro muito expressivo a multidão de pensamentos e sentimentos que deveria existir na alma da Bem-aventurada Virgem Maria, quando ela concebeu o seu Divino Filho, pela graça do Espírito Santo... a Virgem Maria, profundamente mergulhada em suas reflexões, adianta-se através de uma sorridente paisagem. Acima dela os anjos voam; um canta, outro atira rosas, um terceiro balança um turíbulo. Todo o quadro é graça e beleza.
Compreendemos o canto, é para a futura mãe.
Compreendemos as rosas, são também para a futura mãe.
Mas o turíbulo? Não é para Maria. É para o Filho de Deus do qual a Virgem é neste instante o tabernáculo vivo.
Assim também, este canto e estas rosas são para todas as mães; esta graça, esta beleza brilham invisivelmente sobre a fronte da mãe de família que, com o mesmo amor que a Santa Virgem, espera o filho e à custa de grandes sacrifícios o educa no amor de Cristo, Filho de Deus.
A Igreja de Cristo, com grande coragem, levantou a voz em favor do filho; hoje ainda, ela exige a inviolabilidade dos direitos do filho que ainda não nasceu; mas não se esquece dos sacrifícios imensos que custam aos pais a existência e a educação de vários filhos. É justamente porque a nossa santa religião sabe bem o que significa, em nossos dias, educar uma família de cinco ou seis filhos, que ela rodeia de grande respeito os pais heroicos que fazem a Deus este sacrifício, mas ela nunca pode permitir que se tenha o direito de agir de modo contrário às leis divinas, e que se tenha o direito de impedir a vinda do filho por meio de intervenções criminosas.
Agora examinaremos mais de perto as dificuldades invocadas por certos esposos para afastar o filho.  Elas não são insolúveis para as almas generosas e realmente cristãs, de modo que o homem não contrarie as leis de Deus.

V Congresso São Pio V

As inscrições para o V Congresso São Pio V, devem ser efetuadas através do e-mail saopiov@gsaopiov.com.


10 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 130

MÚSICA DO PARAÍSO

1. Lé-se na vida de Madre Maria de Jesus que ela, com permissão de seu Diretor, confeccionara uma quantidade de disciplinas, cilícios e cintos de penitência, dos quais se servia com tal discrição, que nunca ninguém o descobrira. Uma noite, porém, flagelou-se com tanta violência, que uma irmã ouviu o rumor de seu quarto vizinho, e logo compreendeu de que se tratava, pois também essa piedosa jovem conhecia praticamente a disciplina.
2. Das filhas de Carlos Emanuel I de Saboia, as princesas Maria e Catarina, conta-se que a miúdo se flagelavam com espantosas disciplinas.
O que mais se deve admirar, entretanto, é que o rei, tendo noticia disso, não só não lhes proibiu, mas até o aprovou. Um dia, passando junto ao quarto das filhas e ouvindo os golpes da disciplina, disse aos que o acompanhavam: “Estais ouvindo esta música? Esta é a melodia que mais agrada as minhas filhas. Música verdadeiramente do Paraíso, porque feita de suspiros, com batutas de flagelos, forma notas de sangue e abre as portas do céu”.

9 de junho de 2016

Sermão para o Domingo de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Pentecostes


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave-Maria…
E ficaram todos cheios do Espírito Santo e falavam das grandezas de Deus (Communio).
Festejamos hoje, caros católicos, Pentecostes. Pentecostes é a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora no cenáculo em Jerusalém. A descida do Espírito Santo em Pentecostes é importantíssima. Ela é a festa da promulgação da Igreja, a festa da promulgação da nova lei.
No Antigo Testamento, a festa de pentecostes comemorava a promulgação da lei mosaica, dada por Deus a Moisés no Monte Sinai, e que constituiu perfeitamente os judeus como o povo eleito. Podemos dizer que Pentecostes que nós comemoramos hoje foi a promulgação da Nova Lei, a promulgação da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor começou a fundar a Igreja por sua pregação. Ele fundou a Igreja meritoriamente na Cruz, consumou a fundação dando o primado a Pedro após a ressurreição e, finalmente, Ele promulgou a sua Igreja aos olhos de todos quando mandou o Espírito Santo aos apóstolos, para que começassem efetivamente a pregar o Evangelho a toda a criatura. Portanto, Pentecostes é um acontecimento capital na vida da Igreja e um acontecimento único. Pentecostes é, praticamente, o começo da Igreja.
Hoje, é muito comum ouvirmos que estamos vivendo um novo Pentecostes. Em geral, diz-se que estamos vivendo um novo Pentecostes em razão do atual fervor de caridade de nossa época, que se assemelharia ao fervor dos Apóstolos logo após Pentecostes. Basta, porém, olhar ao nosso redor e ter um pouco de bom senso para constatar que estamos bem longe do ardor apostólico, que, em um único dia, levou ao batismo cerca de três mil pessoas. O número de católicos tem diminuído proporcionalmente, o número de católicos que levam a sério a religião é ainda menor. O desconhecimento generalizado da doutrina católica é assustador. O número de católicos que realmente procura praticar a doutrina da Igreja é ínfimo. Não se pode falar de um novo Pentecostes em razão de atual suposto fervor.
Outros, porém, dizem, às vezes de modo inconsciente, que estamos vivendo um novo Pentecostes no sentido de que uma nova Igreja foi fundada nessas últimas décadas, a “Igreja antiga e antiquada” tendo sido abandonada. É um novo Pentecostes porque pretendem que uma nova Igreja foi fundada, com uma nova lei, com uma nova moral. Isso é um erro gravíssimo. A Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo é só uma e sempre a mesma até a consumação dos tempos. O Espírito Santo ensinou aos apóstolos todas as coisas, portanto, desde o início nada falta à Igreja. O Espírito Santo assiste a Igreja, garantindo sua infalibilidade e indefectibilidade. A Igreja não pode mudar sua constituição, sua doutrina, sua moral. Ela é sempre a mesma, tal qual fundada por Nosso Senhor, que está com ela todos os dias até a consumação dos séculos.
Pentecostes, sendo a promulgação plena da Igreja, é também a promulgação plena da nova Lei. Se a Antiga Lei se baseava sobretudo no temor, a nova lei se baseia, antes de tudo, no amor. É breve a diferença entra a antiga lei e a nova lei, diz Santo Agostinho, é uma sílaba (breve): temor, amor. É uma diferença breve na palavra, mas longa no significado. A nova lei é a lei da caridade, em que devemos agradar a Deus não tanto pelo medo de punições quanto pelo amor. As punições continuam existindo, claro, e são úteis para a nossa conversão, mas o que deve nos mover a sermos bons cristãos é, antes de tudo, o amor, em resposta a todo o bem que Nosso Senhor Jesus Cristo fez por nós, indo até a morte e morte de cruz para nos salvar. O que deve nos mover é o amor, que é desejar e agir para o bem de Deus e do próximo. O que deve nos mover é o amor, quer dizer, o fato de reconhecermos as perfeições divinas e o fato de desejar que Deus seja mais conhecido, amado e servido. A Nova Lei é a lei da caridade, é a lei do amor.
Todos sabem disso, mas como é mal compreendida essa lei da caridade! Para evitar todo equívoco a respeito do que é essa caridade, Nosso Senhor deixa claro que aquele que o ama verdadeiramente é aquele que guarda as suas palavras. A nova lei não é o politicamente correto. A nova lei não é um sentimento vago e difuso. A nova lei não é se sentir bem e está tudo ótimo. A nova lei não é a união sentimental em detrimento da verdade ou a paz em detrimento de Deus. A nova lei não é cada um faz o que quiser desde que não prejudique seu próximo. A nova lei é guardar as palavras de Nosso Senhor e colocá-las em prática, porque assim agimos para o nosso bem, para a nossa salvação. Assim agimos para o bem do próximo e da sociedade. Assim agimos para a glória de Deus. O Espírito Santo, que infunde em nossa alma a graça e a caridade, faz que observemos as palavras de Cristo, seus mandamentos.
Peçamos, portanto, caros católicos, ao Espírito Santo, nesse dia de Pentecostes e durante a oitava de Pentecostes, que nos seja dada a caridade: o amor a Deus e ao próximo e o amor a Deus. Peçamos a caridade, sempre fundada na fé católica. Não peçamos carismas ou dons carismáticos, que não nos unem necessariamente a Deus e que têm pouca utilidade hoje. O Espírito Santo não veio nos trazer, em primeiro lugar, dons extraordinários, como o dom de línguas, o dom de cura e outros. Tudo isso é bem secundário. Tudo isso não santifica a pessoa que os possui, mas se ordena para o bem do próximo.  Assim dizem os autores espirituais clássicos. O Padre Royo Marín diz que “seria temerário desejar ou pedir a Deus essas graças gratis datae, uma vez que não são necessárias nem para a salvação nem para a santificação, e requerem – muitas delas ao menos – uma intervenção milagrosa de Deus. Vale mais um pequeno ato de amor a Deus que ressuscitar um morto.” (Royo Marín, Teologia de la Perfección Cristiana, p. 888). O Padre Jordan Aumann diz também que “uma pessoa pode ficar sob o poder do demônio em razão de um desejo descontrolado de experimentar fenômenos místicos extraordinários ou graças carismáticas.” (Jordan Aumann, Spiritual Theology, p. 411).
Peçamos ao Divino Espírito Santo a graça de uma fé viva e profunda, peçamos a graça de um zelo ardente pela glória de Deus e pela salvação das almas, a começar pela nossa. Peçamos a graça de fazer um apostolado eficaz, segundo nossas forças e capacidades, sobretudo pelo exemplo. Peçamos a ele a graça do verdadeiro amor a Deus, que é guardar os mandamentos de Nosso Senhor, pois somente assim fazemos realmente o bem para nós mesmos, para o próximo, para a sociedade e damos maior glória a Deus. Façamos isso imitando os apóstolos: perseverando na oração e em união com Maria Santíssima. Nosso Senhor veio trazer o fogo do amor divino à terra. Ele quer que esse fogo se acenda… ele quer que esse fogo se acenda em nossas almas.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.