9 de junho de 2016

Sermão para o Domingo de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Pentecostes


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave-Maria…
E ficaram todos cheios do Espírito Santo e falavam das grandezas de Deus (Communio).
Festejamos hoje, caros católicos, Pentecostes. Pentecostes é a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora no cenáculo em Jerusalém. A descida do Espírito Santo em Pentecostes é importantíssima. Ela é a festa da promulgação da Igreja, a festa da promulgação da nova lei.
No Antigo Testamento, a festa de pentecostes comemorava a promulgação da lei mosaica, dada por Deus a Moisés no Monte Sinai, e que constituiu perfeitamente os judeus como o povo eleito. Podemos dizer que Pentecostes que nós comemoramos hoje foi a promulgação da Nova Lei, a promulgação da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor começou a fundar a Igreja por sua pregação. Ele fundou a Igreja meritoriamente na Cruz, consumou a fundação dando o primado a Pedro após a ressurreição e, finalmente, Ele promulgou a sua Igreja aos olhos de todos quando mandou o Espírito Santo aos apóstolos, para que começassem efetivamente a pregar o Evangelho a toda a criatura. Portanto, Pentecostes é um acontecimento capital na vida da Igreja e um acontecimento único. Pentecostes é, praticamente, o começo da Igreja.
Hoje, é muito comum ouvirmos que estamos vivendo um novo Pentecostes. Em geral, diz-se que estamos vivendo um novo Pentecostes em razão do atual fervor de caridade de nossa época, que se assemelharia ao fervor dos Apóstolos logo após Pentecostes. Basta, porém, olhar ao nosso redor e ter um pouco de bom senso para constatar que estamos bem longe do ardor apostólico, que, em um único dia, levou ao batismo cerca de três mil pessoas. O número de católicos tem diminuído proporcionalmente, o número de católicos que levam a sério a religião é ainda menor. O desconhecimento generalizado da doutrina católica é assustador. O número de católicos que realmente procura praticar a doutrina da Igreja é ínfimo. Não se pode falar de um novo Pentecostes em razão de atual suposto fervor.
Outros, porém, dizem, às vezes de modo inconsciente, que estamos vivendo um novo Pentecostes no sentido de que uma nova Igreja foi fundada nessas últimas décadas, a “Igreja antiga e antiquada” tendo sido abandonada. É um novo Pentecostes porque pretendem que uma nova Igreja foi fundada, com uma nova lei, com uma nova moral. Isso é um erro gravíssimo. A Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo é só uma e sempre a mesma até a consumação dos tempos. O Espírito Santo ensinou aos apóstolos todas as coisas, portanto, desde o início nada falta à Igreja. O Espírito Santo assiste a Igreja, garantindo sua infalibilidade e indefectibilidade. A Igreja não pode mudar sua constituição, sua doutrina, sua moral. Ela é sempre a mesma, tal qual fundada por Nosso Senhor, que está com ela todos os dias até a consumação dos séculos.
Pentecostes, sendo a promulgação plena da Igreja, é também a promulgação plena da nova Lei. Se a Antiga Lei se baseava sobretudo no temor, a nova lei se baseia, antes de tudo, no amor. É breve a diferença entra a antiga lei e a nova lei, diz Santo Agostinho, é uma sílaba (breve): temor, amor. É uma diferença breve na palavra, mas longa no significado. A nova lei é a lei da caridade, em que devemos agradar a Deus não tanto pelo medo de punições quanto pelo amor. As punições continuam existindo, claro, e são úteis para a nossa conversão, mas o que deve nos mover a sermos bons cristãos é, antes de tudo, o amor, em resposta a todo o bem que Nosso Senhor Jesus Cristo fez por nós, indo até a morte e morte de cruz para nos salvar. O que deve nos mover é o amor, que é desejar e agir para o bem de Deus e do próximo. O que deve nos mover é o amor, quer dizer, o fato de reconhecermos as perfeições divinas e o fato de desejar que Deus seja mais conhecido, amado e servido. A Nova Lei é a lei da caridade, é a lei do amor.
Todos sabem disso, mas como é mal compreendida essa lei da caridade! Para evitar todo equívoco a respeito do que é essa caridade, Nosso Senhor deixa claro que aquele que o ama verdadeiramente é aquele que guarda as suas palavras. A nova lei não é o politicamente correto. A nova lei não é um sentimento vago e difuso. A nova lei não é se sentir bem e está tudo ótimo. A nova lei não é a união sentimental em detrimento da verdade ou a paz em detrimento de Deus. A nova lei não é cada um faz o que quiser desde que não prejudique seu próximo. A nova lei é guardar as palavras de Nosso Senhor e colocá-las em prática, porque assim agimos para o nosso bem, para a nossa salvação. Assim agimos para o bem do próximo e da sociedade. Assim agimos para a glória de Deus. O Espírito Santo, que infunde em nossa alma a graça e a caridade, faz que observemos as palavras de Cristo, seus mandamentos.
Peçamos, portanto, caros católicos, ao Espírito Santo, nesse dia de Pentecostes e durante a oitava de Pentecostes, que nos seja dada a caridade: o amor a Deus e ao próximo e o amor a Deus. Peçamos a caridade, sempre fundada na fé católica. Não peçamos carismas ou dons carismáticos, que não nos unem necessariamente a Deus e que têm pouca utilidade hoje. O Espírito Santo não veio nos trazer, em primeiro lugar, dons extraordinários, como o dom de línguas, o dom de cura e outros. Tudo isso é bem secundário. Tudo isso não santifica a pessoa que os possui, mas se ordena para o bem do próximo.  Assim dizem os autores espirituais clássicos. O Padre Royo Marín diz que “seria temerário desejar ou pedir a Deus essas graças gratis datae, uma vez que não são necessárias nem para a salvação nem para a santificação, e requerem – muitas delas ao menos – uma intervenção milagrosa de Deus. Vale mais um pequeno ato de amor a Deus que ressuscitar um morto.” (Royo Marín, Teologia de la Perfección Cristiana, p. 888). O Padre Jordan Aumann diz também que “uma pessoa pode ficar sob o poder do demônio em razão de um desejo descontrolado de experimentar fenômenos místicos extraordinários ou graças carismáticas.” (Jordan Aumann, Spiritual Theology, p. 411).
Peçamos ao Divino Espírito Santo a graça de uma fé viva e profunda, peçamos a graça de um zelo ardente pela glória de Deus e pela salvação das almas, a começar pela nossa. Peçamos a graça de fazer um apostolado eficaz, segundo nossas forças e capacidades, sobretudo pelo exemplo. Peçamos a ele a graça do verdadeiro amor a Deus, que é guardar os mandamentos de Nosso Senhor, pois somente assim fazemos realmente o bem para nós mesmos, para o próximo, para a sociedade e damos maior glória a Deus. Façamos isso imitando os apóstolos: perseverando na oração e em união com Maria Santíssima. Nosso Senhor veio trazer o fogo do amor divino à terra. Ele quer que esse fogo se acenda… ele quer que esse fogo se acenda em nossas almas.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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