12 de junho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 131

DEIXE-ME TOCAR UM POUCO

Numa reunião de cavalheiros e damas figurava, entre outros, o sr. P. Ruf, vigário de Lustenau, notável por sua agudeza de espirito. Eis que, de repente, aparece na sala um velho pobre e cego, conduzido por um seu netinho e começa a tocar sua harpa e a cantar. Os ouvintes notaram que o instrumento estava desafinado e, além disso, a voz do velho era pouco agradável, razão por que estavam na iminência de enxotá-lo da sala. Nesse instante, o vigário Ruf, acercando-se do cego músico, disse-lhe com carinho:
— Bom velho, o sr. está bastante cansado; de-me a sua harpa e deixe-me tocar um pouco.
O vigário senta-se numa cadeira, afina o instrumento e começa a cantar uma belíssima ária, acompanhando-a com a harpa. Os presentes, mormente os que nunca o tinham ouvido, estavam cheios de admiração e espanto. O talento do novo tocador ressaltava ainda mais após os sons desagradáveis que pouco antes tinham ouvido. Terminada a ária, choveram os aplausos e pediram ao vigário que cantasse mais uma ária.
— Com muito prazer. — respondeu ele. — Mas o sr. (disse, dirigindo-se ao velho), o sr. vá recolhendo os donativos.
O cego, conduzido pelo neto, fez o giro pela sala com o chapéu na mão. As moedas de prata caíam abundantes no chapéu e o velho estava comovido e com água nos olhos.
— Ih! vovó, durante todo o mês não ajuntamos tanta esmola como hoje — dizia o netinho.
Ambos, avô e neto, não se cansavam de agradecer as ricas ofertas que receberam, e beijavam afetuosamente a mão do bom vigário. Quanto aos circunstantes, não houve um que não elogiasse o talento do vigário Ruf e mais ainda o nobre uso que soube fazer dele.

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