25 de junho de 2016

[Sermão] O mistério da Santíssima Trindade


[Sermão] O mistério da Santíssima Trindade


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”
Caros católicos, a Igreja nos fez reviver, desde o Tempo do Advento até Pentecostes, a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Preparamo-nos para o seu nascimento (Advento), comemoramos o seu nascimento (Natal), festejamos a sua circuncisão na oitava do Natal, comemoramos a visita dos reis magos na Epifania, festejamos a Purificação de Nossa Senhora e a Apresentação do Menino Jesus no Templo. Entramos na Quaresma (precedidos pela Septuagesima), com a tentação de Nosso Senhor no deserto, com sua pregação e a oposição mortal dos fariseus. Lembramos sua entrada triunfante em Jerusalém no Domingo de Ramos, a Instituição da Eucaristia, da Missa e do Sacerdócio na Quinta-Feira Santa. Sua Paixão e Morte na Cruz na Sexta-Feira Santa. Sua Ressurreição gloriosa, sua Ascensão, o envio do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, encerrando o Tempo Pascal. Nós começamos agora o Tempo que, na liturgia tradicional, se chama Tempo depois de Pentecostes e que significa liturgicamente a aplicação aos homens dos méritos infinitos obtidos por Cristo durante toda a sua vida na terra. Essa aplicação se faz por obra do Espírito Santo, a quem se atribuem as obras de santificação. Esse Tempo depois de Pentecostes é justamente um prolongamento de Pentecostes, com o Espírito Santo que atua na Igreja e nas almas, para nos conduzir ao céu.
Nesse primeiro domingo depois de Pentecostes, festejamos a Santíssima Trindade.São dois os principais mistérios da religião revelada por Deus aos homens: o mistério da Encarnação do Verbo e o mistério da Santíssima Trindade. Se queremos ser agradáveis a Deus, devemos ter a fé, quer dizer, devemos acreditar – com nossa inteligência – firmemente e com toda certeza naquilo que Deus nos revelou. São Paulo diz que sem a fé não podemos agradar a Deus e, com o mesmo sentido, Santo Atanásio diz que se queremos nos salvar, devemos, antes de tudo, ter a fé e conservá-la íntegra e sem mancha. Assim, se queremos agradar a Deus, devemos crer e confessar que Deus é Uno e Trino. Se queremos nos salvar, devemos crer e confessar que existe um só Deus em três Pessoas, pois Deus, que não pode se enganar nem nos enganar, nos disse que Ele é um só Deus em três Pessoas. Portanto, caros católicos, quando cultuamos Deus, quando adoramos Deus e o servimos, não estamos cultuando uma entidade mais ou menos vaga, não estamos cultuando o supremo arquiteto do universo da maçonaria, não estamos cultuando a mãe natureza ou uma força, uma energia positiva. Não estamos cultuando um Deus que se confunde com o mundo. Cultuamos, isso sim, um Deus que é puro espírito, infinitamente bom e amável, onisciente, onipotente, eterno… Cultuamos um Deus que é distinto das criaturas, que mantém na existência tudo o que criou e que governa tudo com suprema bondade e misericórdia. Nós cultuamos um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Essas três Pessoas são um só Deus e não três deuses porque as três têm uma só substância, uma só natureza, uma só essência, uma só divindade; as três são igualmente eternas, igualmente poderosas, nenhuma das três é uma criatura. Um só Deus, um só Senhor em três Pessoas realmente distintas. A única diferença que existe entre as três Pessoas da Santíssima Trindade é o fato de uma proceder da outra. O filho procede do Pai desde toda a eternidade. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho desde toda a eternidade. O Pai não procede de ninguém.
A Santíssima Trindade, como falamos, é um mistério. É um mistério pois nossa razão não pode sozinha chegar à conclusão de que Deus é um em três Pessoas. Precisamos da Revelação para conhecer isso. É famosa a história de Santo Agostinho, que buscava compreender a Santíssima Trindade quando escrevia seu livro sobre o assunto. Deus lhe mostrou como esse mistério é inacessível à pura razão comparando o seu desejo ao desejo de um menino que queria colocar toda a água do mar em um buraco cavado na areia da praia. Diante do mistério da Santíssima Trindade, muitos inimigos da religião pretendem combatê-la dizendo que a fé é irracional, pois não podemos compreender aquilo em que acreditamos. Caros católicos, a fé não é irracional. Ao contrário, ousaria dizer que não existe nada de mais conforme à razão  do que a fé. A fé supera a razão, mas a fé não contradiz a razão. Poderíamos comparar as verdades da fé com relação à nossa inteligência com uma equação do segundo grau para uma criança de cinco anos. A equação supera a inteligência da criança, mas nem por isso a equação contradiz a inteligência daquela criança ou se torna irracional. Da mesma forma, as verdades sobrenaturais não se tornam irracionais pelo fato de superarem nossa razão. Nossa inteligência não consegue compreender o mistério da Santíssima Trindade, mas ela consegue mostrar que não se trata de um absurdo, ela consegue responder às objeções contrárias à Santíssima Trindade, ela consegue mostrar que é possível a existência de um só Deus em três Pessoas. Ela consegue, por meio de analogias e comparações, entender melhor o mistério, embora não consiga demonstrá-lo ou explicá-lo completamente.
Podemos compreender um pouco o mistério da Santíssima Trindade fazendo, por exemplo, uma analogia com a nossa inteligência e com a nossa vontade. O Verbo é gerado – não criado – porque Deus conhece a si mesmo perfeitamente desde toda a eternidade. Esse conhecimento que Ele tem de si gera o Filho ou Verbo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Esse Filho gerado é em tudo igual ao Pai, salvo justamente no fato de proceder do Pai. Do amor que existe entre o Pai e o Verbo – amor que existe desde toda a eternidade – procede o Espírito Santo. O Espírito Santo é em tudo igual ao Pai e ao Filho, salvo no fato de proceder de ambos. Essa geração do Filho e o proceder do Espírito Santo não diminuem em nada o Filho e o Espírito Santo com relação ao Pai. Os três são igualmente eternos, igualmente perfeitos. Os três são um só Deus. O mistério da Santíssima Trindade supera a nossa razão, mas não a contradiz.
Além disso, caros católicos, nossa razão é capaz de reconhecer a existência de Deus e ela reconhece que Deus é infinitamente perfeito. Diante disso, a nossa razão reconhece que se Deus nos falar, somos obrigados a aceitar porque Deus, infinitamente perfeito, não pode se enganar nem nos enganar. E aceitar aquilo que Deus nos falou não é humilhar a nossa inteligência, mas ao contrário, aceitar as verdades de fé é a maior exaltação a que pode chegar nesse mundo a nossa inteligência, pois a fé aumenta a capacidade de conhecimento da nossa razão e faz que nossa razão penetre na ordem sobrenatural. A fé não é contrária à razão. Deus é o autor da fé e da razão. Ele não pode se contradizer colocando as duas em oposição. A fé não diminui a razão. A fé aperfeiçoa e eleva a nossa razão, a nossa inteligência humana. É melhor ser mais perfeito com a ajuda de outro – no caso, Deus – do que permanecer sozinho na imperfeição ou na mediocridade.
Se Deus falou, devemos, então, acreditar. Lendo a Sagrada Escritura, aparece claramente que Deus revelou ser Uno e Trino. Ele revelou isso abertamente no Novo Testamento e deu indícios fortíssimos no Antigo Testamento.
Não convinha que a Santíssima Trindade fosse revelada plenamente aos judeus pelo risco que havia de eles caírem no politeísmo, sem compreender bem a Trindade das pessoas e pelo fato de estarem cercados de pagãos politeístas. Mas já a primeira frase da Sagrada Escritura indica a Santíssima Trindade: “No Princípio criou Deus o céu e a terra e o Espírito de Deus movia-se sobre a água”. Ora, “no Princípio” era o Verbo, quer dizer, Deus Filho, no diz São João no início de seu Evangelho. “Deus” é Deus Pai. O “Espírito de Deus que se move sobre a água” é o Espírito Santo. Além disso, nessa mesma frase, em hebreu, a palavra “Deus” é Elohim, que é uma forma plural, mas o verbo – “criou” – se encontra no singular. No plural da palavra Elohim, temos a pluralidade de pessoas. No singular do verbo “criou” temos a unidade da essência. Ainda no primeiro capítulo do Gênesis Deus disse: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. O verbo “façamos” no plural indica a pluralidade de pessoas. “À nossa imagem e semelhança” no singular indica a unidade da essência. Davi diz no Salmo (LVI): “Abençoe-nos Deus, o nosso Deus, abençoe-nos Deus.” Invoca, assim, três vezes Deus: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. E o que está no meio é chamado de maneira sublime nosso Deus, pois faz referência ao Filho, que assumiu nossa carne, veio ao mundo para nos salvar. O Profeta Isaías diz: “Sanctus, Sanctus, Sanctus”, referência ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo. E poderíamos ainda citar outras passagens do Antigo Testamento que fazem referência à Santíssima Trindade.
No Novo Testamento, Nosso Senhor ensina abertamente a Trindade das Pessoas em Deus. Temos o Evangelho de hoje: “Ide, pois, e ensinai todas as gentes, batizando-as emnome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” “Nome” está no singular, para significar a unidade de essência em Deus. Também quando Nosso Senhor diz: “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim.” Há o Pai, o Filho e o Paráclito, que procede dos dois, que é enviado pelo Pai e pelo Filho. Podemos citar também o Batismo de Nosso Senhor e sua Transfiguração, em que tanto o Pai como o Espírito Santo se manifestam para glorificar o Filho. Também os Apóstolos ensinam a Santíssima Trindade. São João diz: “três são os que dão testemunha no céu: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. E esses três são um.” São Paulo na Epístola de hoje diz “dEle, por Ele e para Ele”, com referência à Santíssima Trindade. E, claro, poderíamos multiplicar os exemplos.
Também a Tradição exprime claramente a fé na Santíssima Trindade. Podemos mencionar o Credo de Santo Atanásio – que recomendo a todos que leiam – e poderíamos citar os outros Padres da Igreja. Basta, porém, considerarmos esse monumento da Tradição e da fé que é o Rito Tradicional da Missa, e que é, em particular, uma confissão clara da fé na Santíssima Trindade. No ofertório, pedimos à Santíssima Trindade que receba a oblação que oferecemos na Missa: Suscipe Sancta Trinitas hanc oblationem. Logo antes da Bênção final, exprimimos o nosso desejo de que o sacrifício que acabou de ser oferecido aplaque a Santíssima Trindade e lhe seja agradável: Placeat tibi Sancta Trinitas. Recitamos em todos os Domingos depois de Pentecostes o Prefácio da Santíssima Trindade. Peço que considerem atentamente as palavras desse Prefácio que será cantado logo mais e vejam que sublime síntese do Mistério da Santíssima Trindade está contida nessa bela oração.
Todas as nossas ações devem ser feitas em nome da Santíssima Trindade. Na Santa Missa, o primeiro rito é o sinal da Cruz, para indicar que o sacrifício da Cruz vai ser renovado e oferecido em honra da Santíssima Trindade. Permaneçamos firmes e inabaláveis na fé na Santíssima Trindade, caros católicos, sem a qual não podemos agradar a Deus, sem a qual não podemos nos salvar. E que, pela firmeza dessa fé, sejamos protegidos de toda a adversidade (Coleta). Peçamos à Santíssima Trindade que habite em nossas almas pela graça. Bendita seja a Santíssima Trindade e a Unidade Indivisa, como nos diz o Intróito da Missa de hoje.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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