31 de janeiro de 2015

A vocação sacerdotal no Instituto Bom Pastor


[Aviso] Texto: A vocação sacerdotal no Instituto Bom Pastor


O Padre Daniel Pinheiro, IBP, nos pediu a gentileza de publicar o seguinte texto, dirigido aos jovens que desejam conhecer melhor o Instituto Bom Pastor. Trata-se de um texto oficial do dito Instituto. Aqui segue a versão portuguesa do texto.
Fonte:  IBP-SP
A vocação sacerdotal no Instituto Bom Pastor
O Instituto Bom Pastor é uma sociedade de vida apostólica de direito pontifício, fundado em 2006, sob o pontificado e os auspícios do Papa Bento XVI. Isso significa que seus membros são padres seculares e não religiosos, embora os membros vivam em comunidade nas casas do Instituto. A espiritualidade sacerdotal do Instituto se baseia nas qualidades de Jesus, o Bom Pastor, que não cessa de buscar as ovelhas perdidas, com zelo pastoral repleto de caridade e misericórdia. O objetivo do Instituto é a santificação dos seus membros e a santificação das almas, para a maior glória de Deus.
O Instituto Bom Pastor tem como missão própria e específica – que lhe foi confiada pela Santa Sé – a difusão no seio da Igreja do tesouro da Tradição católica, tanto litúrgica quanto doutrinal, colocando a serviço das Dioceses padres formados em vista de um apostolado tradicional sob todas as suas formas.
Essa missão se concretiza, sob um aspecto, com o uso exclusivo do rito tradicional (livros litúrgicos em vigor no ano de 1962, chamado “forma extraordinária do rito romano”) em todos os seus atos litúrgicos. Na esteira da Instrução Universae Ecclesiae (2011), o Instituto objetiva tornar acessíveis as riquezas do usus antiquior a todos os fiéis católicos, em vista de participar da renovação do fervor cristão e de uma reevangelização que, para ser frutuosa, deve estar necessariamente fundada na Tradição.
Sob outro aspecto, essa missão se realiza com a formação espiritual, filosófica e teológica tradicional dada aos seus sacerdotes, o que implica a possibilidade – dada também explicitamente pela Santa Sé – de crítica construtiva e séria a certos atos controversos do Magistério recente, de acordo com os princípios teológicos que regem os diversos graus de Magistério e os diversos graus de assentimento que lhe são devidos. Não se trata de polêmica vã, mas de colocar à disposição da autoridade eclesiástica argumentos teológicos sólidos para uma boa interpretação dos textos e mesmo para a correção de certos textos recentes problemáticos.
Para os membros do Instituto, a liturgia tradicional e a formação teológica fundada sobre a doutrina de São Tomás de Aquino – tantas vezes recomendado pelos Soberanos Pontífices – são meios indispensáveis para o bem do sacerdote e das almas de que cuida.
O apostolado do Instituto pode se desenvolver em âmbitos diversos: Paróquias Pessoais, mas também capelanias, escolas, pregação de retiros, obras de caridade, etc. Tudo aquilo que serve para o bem das almas pode fazer parte do ministério de um padre do Instituto. Atualmente, o Instituto tem casas na França, na Itália, na Polônia, no Brasil e na Colômbia.
O Instituto Bom Pastor possui a sua casa de formação, o Seminário São Vicente de Paulo, na França, em Courtalain, cidade com aproximadamente 400 habitantes, na Diocese de Chartres (duas horas de Paris). A tranquilidade do local permite a vida de oração e de estudo da sagrada doutrina pelos seminaristas. A formação dura seis anos: um ano de espiritualidade ou propedêutica, dois anos de filosofia e três de teologia. Nesses seis anos, sob a guia do Doutor Angélico, os seminaristas estudam os tratados clássicos da Filosofia e da Teologia, mas abordam também os problemas contemporâneos e suas consequências práticas no âmbito dessas duas ciências. Ao longo desses anos, o candidato ao sacerdócio recebe a tonsura e as ordens menores e maiores, preparando-se, pouco a pouco, para receber o sacramento da ordem, a fim de oferecer quotidianamente o Santo Sacrifício da Missa e de administrar os outros sacramentos. Procura-se, então, no Seminário São Vicente de Paulo, unir a vida de piedade e a vida intelectual do seminarista, que são os dois pilares da santidade sacerdotal e do apostolado frutuoso.
O desejo de ingressar em um Seminário e de buscar a vida sacerdotal pressupõe uma vida cristã sólida, com frequentação assídua dos sacramentos, com a aplicação aos deveres de estado, com o desejo de salvar as almas e o propósito de servir Deus e a Igreja inteiramente. O candidato deve levar uma vida moral coerente com o estado que almeja abraçar e deve ter também a aptidão intelectual para aprender a doutrina da Igreja, a fim de poder alimentar o rebanho que lhe será confiado.
Todo jovem católico deve considerar diante de Deus o estado de vida em que, concretamente, melhor pode servir a Deus. Não se trata de esperar um chamado extraordinário, mas de fazer uma escolha esclarecida, com sua inteligência e vontade movidas pela fé e pela caridade. Para isso, é preciso rezar bastante, sobretudo à Virgem Maria, consultar um bom diretor espiritual, e tomar a decisão com generosidade. Nesse processo de discernimento, caso a escolha se oriente para a vida sacerdotal, o candidato deve considerar com atenção a instituição ou a congregação que lhe permita melhor servir ao Senhor.
Os desejosos em servir Jesus Cristo e a Igreja como sacerdotes do Instituto Bom Pastor podem entrar em contato com o Padre Daniel Pinheiro, responsável pelas vocações, pelo e-mail seguinte: ibpvocacional@gmail.com

No Céu nos Reconheceremos.

III
 Cada um de nós reconhecerá o seu anjo da guarda, e será também reconhecido por ele – Alegria que disto resultará. – Os santos comparados por Dante com as flores e os anjos, com as faíscas. – Todos os santos comparados a uma rosa somente, e os anjos, às abelhas. – 0 Céu comparado por Jesus Cristo a um banquete. – Tro-ca recíproca entre os anjos e os santos. 

As doçuras da santa união formada na Pátria Celeste entre os anjos e os homens, foram-nos desenhados pelos grandes gênios católicos.
S. Tomás de Aquino faz-nos perceber que os anjos põem uma parte da sua felicidade em reinar cada um com o bem-aventurado que lhe foi confiado, em assentar-se no mesmo trono, em cingir-se, por assim dizer, com a mesma coroa e em fazer juntamente com ele um só coração e uma só alma: pois que todo o homem deve ter no Céu um anjo para reinar com ele, ou, no inferno, um demônio para o atormentar – Habebit in regno Angelum conregnantem, in inferno daemonem punientem.
S. Boaventura diz-nos que a alegria do anjo aumentará pela bem-aventurança do homem que guardou na terra, não só quanto à extensão, visto que cresce o número daqueles com cuja glória se regozija, mas também quanto à mesma intensidade. É verdade que esta não se deve entender da recompensa essencial, mas somente da acidental. Ela explica-se pelo próprio bem dos anjos, pelo bem das criaturas santificadas que eles amam ternamente, e sobretudo pelo bem daquela que lhes está mais intimamente unida, porque foram os ministros da sua salvação e fizeram por ela milhares de ações boas. Por isso se regozijam e se felicitam. Então efetuam-se, entre o anjo da guarda e o bem-aventurado que ele conduziu, mistérios de amor que não podemos ver nem compreender enquanto as sombras deste mundo não forem dissipadas pelos esplendores dos Céus. O espírito faz passar, perante o homem, o comovente quadro de todos os seus esforços para contê-lo no bem, e conduzi-lo à perfeição; desenrola na sua presença todo o plano da Providência a respeito da obra da sua salvação. O santo responde ao espírito celeste, testemunhando-lhe mil vezes o seu reconhecimento, recordando a confiança com que se lhe recomendava, assegurando-o de que este feliz passado está sempre na sua memória, e que estas doces lembranças são um perfume que ainda respira com delícias, no meio mesmo das alegrias do Paraíso. Muitas vezes, nestes amáveis entretenimentos, o anjo e o homem inclinam-se um para o outro, sob o impulso deste sopro divino que se denomina caridade da pátria, e do coração de um para o outro a efusão daquela penetrante alegria, que é semelhante ao orvalho do Céu. Assim, nos jardins terrenos, vêem-se, sob a ação duma doce brisa, duas flores vizinhas inclinarem-se uma para a outra como para se darem o beijo da paz e confundirem os seus tesouros. O grande poeta que tão admiravelmente descreveu o Paraíso, tem pois, ainda mais uma vez razão.
Por uma parte, mostra que os homens se conhecem reciprocamente no Céu, quando mesmo se não tenham conhecido na terra. S. Tomás reconhece o seu mestre Alberto Magno; mas conhece também Dionísio Areopagita, Beda e Isidoro. S. Bento reconhece os seus discípulos, e o príncipe dos Apóstolos reconhece S. Tiago; mas o grande abade de Claraval conhece também o pai da humanidade, Adão; e o pai da Igreja, Simão Pedro, com S. João, Santo Agostinho e com muitos outros que não pode conhecer na terra. Por outra parte, os anjos e os homens também se conhecem entre si. S. Bernardo conhece o arcanjo Gabriel, e todos os puros espíritos conhecem a incomparável Virgem Maria, Mãe de Deus. Umas vezes, este poderoso gênio figura-se o Céu como um jardim onde passa um rio de resplandecente luz, entre duas margens matizadas duma admirável primavera. Deste rio de luz saem vivas faíscas, que de todas as partes vão pousar nas flores, semelhantes a rubis engastados em ouro. Depois, como inebriados de perfumes, remergulham-se no brilhante pego, e quando uma aqui entra, sai outra. Estas faíscas são os anjos, e os santos são as flores.
Outras vezes, diríeis que é inspirado pela bênção dessa rosa que nos recorda todas as Jerusalém, e nos convida a figurar pela alegria da Igreja Militante o prazer da Igreja Triunfante. Representa-se o Paraíso como uma rosa branca, exalando um perfume de louvor ao sol que produz uma eterna primavera.
Com efeito, porque os bem-aventurados chegados da terra estão colocados em círculo sobre mais de mil degraus e como este círculo se alonga à medida que os degraus se elevam, esta coordenação faz lembrar a forma da rosa, cujas pétalas aumentam de elevação à medida que se afastam do centro, onde se desabrocham os jaldes filamentos. “Eis porque, diz ele, se me mostrava, na forma duma rosa branca, a milícia santa que Jesus Cristo desposou ao derramar o seu sangue.
Mas os anjos que, voando duma para outra parte, não cessam de ver e de cantar a glória do seu Criador, tinham o semblante radioso de chamas, as asas de ouro, e o resto do corpo mais branco do que a neve. Sobre qualquer degrau que pousassem, aí entornavam as doçuras da paz e as chamas do amor. Ora desciam para a grande flor, ornada de tantas folhas, ora subiam para a constante habitação do seu amor, isto é, para o Coração de Deus, bem como um enxame de abelhas que umas vezes se engolfa nas flores, e outras se volve à sua morada onde o seu trabalho se dulcifica”.
Senhora, podeis, sem temor, recorrer a estas poéticas imagens, para vos representardes a santa sociedade dos anjos e dos homens.
Quando se trata do Céu e da felicidade que nele se goza, todas as imagens terrenas de que nos sirvamos como termo de comparação nada exageram. Antes, ficam muito abaixo da realidade. Demais, não foi o mesmo divino Mestre que se serviu duma imagem terrena, quando comparou o Céu a um banquete? (Luc., XXII, 29) Assim como os sete filhos de Job se convidavam alternativamente, cada um em seu dia, para um esplêndido festim (Job, I, 4), também, no Paraíso, os filhos de Deus se convidam uns aos outros para participarem de suas felicidades. Grande devia ser o amor recíproco dos filhos de Job, para que pusessem em comum todas as suas riquezas; mas quanto não excede o mútuo amor dos anjos e dos santos ao amor fraternal cá na terra! Qual, pois, não será a magnificência do banquete a que é convidado cada um dos coros dos anjos por cada coro dos santos que, deste vale de lágrimas, subiram às eternas colinas da Pátria! Belo Céu, delicioso banquete, onde os Querubins e os Serafins fazem circular, como precioso licor e vivificante maná, a manifestação dos segredos divinos, os esplendores das suas contemplações e o ardor e afeto do seu amor; onde os Tronos, as Dominações, os Principados, as Potestades, as Virtudes, os Arcanjos, os Anjos e os homens, patriarcas, confessores e virgens se derramam alternativamente no coração uns dos outros, como numa taça encantada que sempre transborda e sempre conserva o seu conteúdo, o vinho de Deus, o vinho da sabedoria e da pureza, o vinho do reconhecimento e da alegria! Assim nas sublimidades dos Céus, sob as vistas do Pai de família, todos os seus filhos, não só os puros espíritos, mas também os que estiverem envolvidos num véu de carne, se conhecem, estimam, amam e entretêm numa perpétua comunicação, numa recíproca permutação de glória, de felicidade, de luz e de amor. Todos estes astros que brilham no firmamento da eternidade, sem nunca temerem o eclipse, cruzam os seus raios e os seus fogos, inundam-se reciprocamente do seu brilho, e parecem nadar num oceano de esplendores. Todos estes instrumentos animados que não cessam de retinir sob o impulso do divino amor, formam um harmonioso mar, em que as ondas se confundem reciprocamente, as vagas mais fortes se unem às mais fracas para enriquecê-las e fortificá-las, a fim de que os seus movimentos, semelhantes aos das vagas regulares e irresistíveis, invadam, abalem e arrebatem tudo para Deus.

30 de janeiro de 2015

Oração do Terço

Prezados leitores, Salve Maria!



Para quem mora em Curitiba ou na região Metropolitana, e para quem está de passagem pela cidade, comunicamos que haverá Oração do Terço no dia 30/01/2015:

Local: Capela Nossa Senhora Aparecida - Capela da Polícia Militar
Endereço: Av. Marechal Floriano Peixoto, 2057 - Rebouças - Curitiba - Paraná (fica entre as ruas Almirante Gonçalves e Baltazar Carrasco dos Reis)

Horário do Terço: 19:30 horas

Administração do Blog São Pio V

No Céu nos Reconheceremos.

II
 Não estaremos mais absortos do que os anjos, na contemplação do Criador. – Como eles, contemplaremos as criaturas, e poderemos entreter-nos com elas. – Veremos os condenados. – Reconhecer-nos-emos tão facilmente como se reconhecem os puros espíritos. – Nada teremos de oculto, segundo S Bernardo, S. Gregório e Santo Agostinho. – Todavia os nossos pensamentos, assim como os dos anjos, não serão conhecidos contra nossa vontade.

 Esta mistura dos homens e dos anjos nas mesmas hierarquias e nos mesmos coros, permite-nos responder a algumas dificuldades, cuja solução parece estar na semelhança que teremos com os puros espíritos. Não existe motivo algum pelo qual devêssemos estar mais absortos na contemplação de Deus do que os próprios anjos. Desde o momento em que eles foram confirmados na graça, gozaram duma perfeita bem-aventurança e ficaram arrebatados de admiração em presença da glória e da majestade do Criador. Não se distraem d'Ele, quando lhes mostram as criaturas que são obra sua, e que Ele lhes permitiu contemplar e admirar, e quis mesmo que as conduzissem e governassem. Não estão distraídos, quando nos acompanham durante a nossa peregrinação neste mundo, para nos guardar e sustentar no bom caminho. Não o estão, finalmente, quando se interessam pela conversão dum pobre pecador a ponto de se regozijarem mais da sua volta para Deus do que da perseverança de noventa e nove justos (Luc., XV, 7, 10).
Da mesma sorte, diz Ansaldo, por mais ocupados que estejamos no Céu, da glória e da imensidade do Soberano Bem, poderemos ainda ocupar-nos de todos os nossos amigos; não só dos que tiverem ficado na terra, mas também dos que participarem da nossa felicidade. Esta mesma caridade que, na terra, eleva o homem mortal da criatura ao Criador, o fará inclinar-se das sublimidades da Pátria para o mundo inferior, quando se tiver tornado imortal e glorioso, assim como impele os anjos fiéis a descerem do Céu à terra, do Criador à criatura. O argumento que resulta desta semelhança foi desenvolvido por S. Bernardo: “Os espíritos superiores, que desde todo o princípio estão no Paraíso, desprezarão a terra porque habitam o Céu? Não. Visitam-na, pelo contrário e a freqüentam. Por isso mesmo que vêem sempre a face do Pai celeste, não se desempenharão mais do ministério da compaixão?
Todos eles são enviados, diz o Apóstolo, para exercerem o seu ministério em favor daqueles que recebem a herança da salvação (Hebr., 1, 14). Como assim? Pois se os anjos vão e vêm para socorrer os homens, os bem-aventurados, que são da nossa raça, não nos conheceriam nem poderiam mais condoer-se de nós em certas circunstâncias em que eles mesmos tiveram que sofrer?! Os espíritos, que nunca experimentaram dor alguma, sentem contudo as nossas dores; e os santos que passaram por grandes tribulações, não reconheceriam já o estado em que estiveram?!”
O Anjo da Escola, S. Tomás, demonstra que nem a contemplação da Essência Divina impedirá os bem-aventurados de sentirem as coisas sensíveis, de contemplarem as criaturas, e mesmo de operarem; nem este sentimento, esta contemplação e esta ação, os distrairá da beatífica vista de Deus. Não se daria isto em Nosso Senhor durante a sua peregrinação na terra?. Sem nada perderem deste divino gozo, os bem-aventurados poderão conversar com os seus parentes, com os seus amigos e com os mesmos anjos, como estes conversam entre si. Quando aplicamos fortemente, neste mundo, uma das nossas faculdades a um objeto difícil, todas as outras ficam sem força e ação. Mas, no Céu, cada uma das nossas potências terá toda a plenitude da perfeição de que é capaz.
A inteligência dos santos será iluminada pela luz da glória, e a sua vontade será fortificada pela pátria sobrenatural da caridade, a tal ponto que nenhum esforço terão a fazer para nunca perderem de vista a Divindade; mas contemplando-a e amando-a inteiramente, lhes será fácil também contemplar os globos celestes, conversar com os escolhidos e amar todos os bem-aventurados, como nos é fácil e natural neste mundo ver a luz, conversar ao mesmo tempo com os nossos parentes ou amigos, e amá-los ternamente. Mas os santos verão os condenados e os condenados verão os santos? Reconhecer-se-ão ao menos no juízo final. A Escritura não nos permite duvidá-lo, pois que nos mostra os maus exclamando, em presença dos bons: “São estes que outrora foram o objeto das nossas zombarias! Quão insensatos éramos!” (Sap., V, 3, 4.)
Segundo Honório, os justos verão os pecadores nos tormentos, para se regozijarem mais de se terem livrado deles.
Também os condenados, antes do juízo universal, verão os justos na glória para mais se afligirem de a terem desprezado. Mas os bons verão sempre os maus nos suplícios depois do juízo, entretanto que os maus nunca mais tornarão a ver os bons. Não se deve, porém, concluir daqui, que a bem-aventurança seja tanto uma visão do inferno, como do Céu. Só Deus pode ver tudo ao mesmo tempo. Os santos, bem como os anjos, não contemplam incessantemente as simples criaturas, nem todas ao mesmo tempo. Eles não vêem, pois, sem interrupção, as horríveis torturas dos condenados. O Senhor mesmo desvia delas, quando lhe apraz, os seus pensamentos e os seus olhos. Os anjos não têm feição alguma corpórea, e todavia reconhecem-se entre si, tanto como as três divinas Pessoas. Não podemos negar o fato, ainda que ignoremos o modo. Porque não admitiremos igualmente este reconhecimento entre as almas dos bem-aventurados, antes da ressurreição da carne? Porventura a alma de Jesus Cristo morto e sepultado, quando desceu ao limbo, não foi reconhecida dos patriarcas, dos profetas e de todos os justos do Antigo Testamento de quem ela se dignava ser consoladora? E como os teria consolado, se não fosse vista, ouvida e reconhecida por eles? Pode mesmo dizer-se com Monsenhor Malou, cujas palavras citamos na carta que serve de introdução a este livro: “As almas despojadas de seus corpos revestem formas intelectuais que as inteligências separadas da carne podem perceber, distinguir e conhecer”. Finalmente, até que ponto se conhecem os santos entre si? O abade de Claraval diz em geral: “Os bem-aventurados então ligados entre si por um amor tanto maior quanto menor é a distância em que se acham do próprio amor que é Deus.
Nenhuma suspeita pode introduzir a divisão nas suas fileiras, porque entre eles nada há de oculto: o raio da verdade que tudo penetra não o permite”.
Antes de S. Bernardo, tinha dito um grande papa, que o coração dos bem-aventurados será brilhante como o ouro, e transparente como o cristal, de sorte que se conhecerão entre si melhor no Céu do que durante a sua vida na terra.
Antes de S. Gregório, dizia também o ilustre Bispo de Hipona: “Nesta sociedade dos santos, verão todos reciprocamente os pensamentos que só Deus vê agora. Assim como quereis que neste mundo se veja o vosso rosto, também querereis que no outro se veja a vossa consciência. Todos os espíritos bem-aventurados formarão somente uma cidade, um coração e uma alma; e, nesta perfeição da nossa unidade, os pensamentos de cada um de nós não serão ocultos aos outros”.
Contudo, a condição dos homens não deve diferir, sob este ponto de vista, da condição dos anjos. Ora, um sábio teólogo prova que estes puros espíritos têm uma linguagem que, sem ser sensível ou corporal, é todavia mui inteligível; mas que os seus pensamentos não chegam ao conhecimento uns dos outros, senão tanto quanto eles querem. É necessário que um ato da sua vontade dirija este pensamento ou esta “palavra espiritual” àquele a quem lhe agrada que seja conhecida. Podem assim falar a uns sem falar a outros e sem ser entendidos ou compreendidos por todos. Pois a linguagem angélica não parece ser outra coisa mais do que o destino ou a direção dum pensamento, por um ato de vontade a algum destes puros espíritos que só então o conhece.

29 de janeiro de 2015

No Céu nos Reconheceremos.

S E X T A C A R T A
O homem conhece os anjos, ou a união dos anjos e dos homens no Céu
I
 Deus renovará o Céu e a terra para que gozemos dos seres materiais. – Comparação de S. Tomás. – Comparação de S. João Crisóstomo. – Quanto mais nos fará ele gozar dos puros espíritos! – No Céu, estaremos colocados entre os anjos. – As crianças formarão como que um décimo coro. – Visão de santa Francisca Romana.

 SENHORA,
Deus não se contenta de nos conceder somente a bem-aventurança essencial, a visão e o gozo do bem incriado, que é Ele mesmo.Está tão longe de nos recusar a parte da bem-aventurança acidental, que é o conhecimento e o amor dos nossos parentes e amigos, que multiplicará as alegrias e prazeres para os olhos, língua, gosto, olfato, tato e ouvidos; numa palavra, para todos os sentidos do nosso corpo. “Renovará mesmo o Céu e a terra” (Isai. LXV, 17). – (Apoc., XXI, 1) para que gozemos tanto pelos nossos sentidos como pelo nosso espírito, dos seres privados de razão.
“Se os corpos, disse S. Tomás, nada mereceram por si mesmos, mereceu o homem por eles: mereceu que a glória lhes fosse dada, para aumentar a sua própria glória. Assim, quando alguém adquire uma nova dignidade, é justo que os seus vestidos recebam mais belos ornamentos em testemunho da sua nova glória”.
S. João Crisóstomo emprega duas outras comparações. “Quando um príncipe real, diz ele, toma posse do trono paterno, a ama que o criou não receberá novos benefícios, novas graças? Ora, as criaturas materiais, são nossas amas. Quando um filho deve aparecer em público revestido de alguma dignidade, não tem o pai cuidado para honrá-lo, de dar a seus criados um vestuário mais esplêndido? Assim também quando o nosso Pai celeste nos apresentar no mundo superior, com a branca toga da virilidade, com as insígnias devidas ao nosso grau, aumentará a nossa glória, revestindo dum brilho incorruptível os seres materiais que são nossos servos”. Quanto mais devem gozar os santos, assim antes como depois da ressurreição bem-aventurada, dos puros espíritos que dominam as outras criaturas, e com os quais temos, por parte da nossa alma, um verdadeiro parentesco? Nós já os amamos e honramos. Mas, além disso, então vê-los-emos e cada um de nós conhecerá o seu amável guarda.
Seremos colocados no Céu entre os coros angélicos, num lugar determinado pelo grau dos nossos merecimentos ou pela natureza das nossas virtudes. O quarto abade de Claraval, pregando de S. Bernardo, no ano de 1163, recordava-o aos religiosos como coisa conhecida de todos, e mostrava-lhes como o seu glorioso predecessor merecia ser provido a todas as ordens ou graus angelicais, pelas qualidades que desenvolvera e pelos ministérios que cumprira.
S. Tomás crê que algumas almas bem-aventuradas já têm os seus tronos nas graduações mais elevadas dos espíritos celestes, donde vêem a Deus mais claramente do que os anjos inferiores. Nenhum coro angélico será excetuado; mas todos verão, cedo ou tarde, os tronos vagos pela queda dos espíritos rebeldes ocupados pelos homens.
S. Boaventura partilha esta opinião, e pensa que os bem-aventurados que não chegam em merecimento ao nível dos anjos menos elevados em glória, formam uma décima ordem ou um décimo coro. Neste estão, sem dúvida, colocados os meninos que, arrebatados pela morte, não puderam ajuntar algum merecimento pessoal à graça do seu batismo: anjos benditos a quem suas mães invocam para se consolarem da pena de os não verem mais neste mundo, e que são os protetores de suas famílias. Portanto, de que mal se tornam culpadas tantas mulheres cristãs que recuam diante das dores do parto ou dos trabalhos da educação! E de que alegrias se não privam elas para sempre, recusando povoar o Céu de pequenos anjos, que viriam saudá-las à sua entrada na glória e formariam eternamente a sua corte?
Enquanto vós, mais feliz, vereis os vossos numerosos filhos, os vossos parentes e todos aqueles que amastes na terra, engrossar as fileiras dos anjos e ornar talvez cada um dos seus coros. Possa esta esperança consolar-vos, como consolou uma outra mãe aflita por causa da morte dos seus! Numa visão, Santa Francisca Romana viu subir algumas almas bem-aventuradas que iam tomar lugar no grau que Deus lhes assinalara na glória eterna: Todos os coros angélicos que estas almas atravessavam para chegar a uma ordem mais elevada, prodigalizavam-lhes os testemunhos do mais sincero amor e da mais viva alegria. Sempre assim é. Mas o coro onde a alma novamente chegada ocupa um trono, excede todos os outros em brilhantes felicitações e em transportes de alegria. Entoa um cântico de louvores e ações de graças em honra do Deus de bondade, e prolonga esta doce festa por muito tempo depois dela ter cessado nos outros coros.
Depois desta visão, todas as vezes que a Santa queria exprimir esta alegria dos anjos à chegada das almas bem-aventuradas, com esta admirável união da criatura humana com a criatura angélica, o seu rosto inflamava-se, e toda ela parecia derreter-se como a cera em presença do fogo. Com que alegria não terá sido acolhida, e até que ponto não terá subido a alma da vossa filha que possuía o nome da Rainha dos Anjos, e que foi ela mesma, na terra, um anjo de pureza e dedicação? Todas os dias ela pedia a vossa bênção, e à vista do seu retrato ainda a vossa mão se levanta para a abençoar. Agora é ela que, todos os dias, faz descer do alto do Céu, as bênçãos que pede para vós ao Senhor, todas aquelas que os santos desejam, bênçãos de sofrimento e de cruz, mas de paciência e de amor ao mesmo tempo. Gozai, pois, da sua felicidade que deve ser a vossa; porque Maria está mais bem colocada no Céu do que na terra, melhor entre os anjos do que entre os homens.


28 de janeiro de 2015

Sermão para o 3º Domingo depois da Epifania – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 5: Do Gradual ao Sermão

Em nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo. Amém.
Ave Maria…
Aviso
A propósito de algumas palavras do Santo Padre – depois corrigidas, mas sem o mesmo efeito – e que fizeram das famílias católicas numerosas motivo de chacota.  É evidente que católicos não devem reproduzir como coelhos porque isso é impossível. Devem seguir a lei natural e da Igreja, o que leva a famílias numerosas. Nunca é lícito a um casal católico fazer uso de métodos contraceptivos ou consumar o ato conjugal de modo inapto à geração da prole. Aliás, fazer isso é um pecado mortal. A primeira finalidade do matrimônio é a geração dos filhos. Se, em determinado caso, a geração não pode se fazer em virtude de uma esterilidade natural ou pela idade, não há problema. O importante é que o ato seja em conformidade com a natureza que Deus nos deu, isto é, que ele seja apto para a geração dos filhos. Mesmo os chamados métodos naturais só podem ser usados licitamente quando existem razões graves para isso. Portanto, os católicos devem ter em alta conta uma família numerosa. Como diz o Salmo 126: “Eis que os filhos são um dom do Senhor, o fruto das entranhas é uma recompensa. Como setas na mão do guerreiro, assim são os filhos da juventude. Ditoso o homem que delas (dessas setas, que são os filhos) encheu a sua aljava (estojo para as setas).” O católico que tem uma família numerosa não é um coelho. Ele é, simplesmente, católico.
Sermão
Continuemos, caros católicos, o nosso breve percurso pelos ritos e orações da Missa no Rito Romano Tradicional.  Terminada a Epístola, o celebrante recita o Gradual e o Aleluia na mesma posição da Espístola, tocando o Missal ou porta-missal. Quando acaba de recitá-los, se a Missa é cantada, vai sentar-se, enquanto a Schola Cantorum canta essa parte. Essa parte da Missa, entre a Epístola e o Evangelho, é como um prolongamento do “Deo Gratias” com que se respondeu à Epístola. E como são belos esses cantos nessa parte da Missa e o canto gregoriano, em geral. Santo Isidoro de Sevilha diz: “o canto sagrado (gregoriano) produz um grande número de efeitos salutares: ele enfatiza a solenidade e a majestade do culto, eleva o espírito, alegra a alma e produz nela uma santa alegria, acalma as paixões, nos leva à devoção e ao arrependimento, chama as lágrimas, nos leva à conversão, nos eleva acima das coisas terrestres e nos faz mergulhar na meditação dos bens celestes.” Infelizmente, com o abandono do canto gregoriano, o canto atual nas nossas liturgias produz exatamente o inverso do que fala Santo Isidoro. Esse canto moderno que se usa nas liturgias tira a solenidade do culto, tornando-o profano, impede a elevação do espírito, deixando-o escravo da mera emoção, não nos leva à conversão, mas à satisfação da nossa sensibilidade e nos impede de meditar nos bens celestes, fazendo-nos meditar somente em nós mesmos e nos nossos gostos. Que falta faz na Igreja, caros católicos, o canto gregoriano, marcadamente presente em uma Missa cantada no Rito Romano Tradicional.
Entre a Epístola e o Evangelho, pode-se ter, dependendo do tempo litúrgico: 1) o Gradual e o Aleluia, 2) o duplo Aleluia, 3) o Gradual e o Trato. Em certas Festas, tem-se também a Sequência. Habitualmente, como na Missa de hoje, do Tempo depois da Epifania, tem-se o Gradual e o Aleluia. Na Septuagésima e na Quaresma, tem-se o Gradual e o Trato. No Tempo da Páscoa, tem-se o duplo Aleluia. Em algumas circunstâncias, tem-se só o Gradual.
Gradual. Entre os 150 Salmos, temos os sete salmos chamados graduais, que se denominam assim porque eram cantados nos degraus do Templo de Jerusalém. O nome dessa parte vem daí, mas também porque, em certo momento da história, eram cantados, nas Igrejas, nos degraus do altar ou nos degraus do ambão da Epístola. Esses degraus, que o cantor subia entre a Epístola e o Evangelho, significavam as virtudes pelas quais é preciso subir para praticar o Evangelho. Em geral, o texto do Gradual é tirado dos salmos, mas, às vezes, é tirado também de outros livros da Sagrada Escritura ou pode ser até mesmo de composição eclesiástica.
Trato, como mencionamos, canta-se após o gradual durante a Septuagésima e a Quaresma. Os autores medievais viam no Trato a tristeza dos judeus cativos na Babilônia, que, às margens do Eufrates, tinham suspendido os instrumentos musicais. Assim, o que o roxo significa para os olhos, o Trato significa para os ouvidos. Antigamente, se recitava o Salmo inteiro, como ainda se faz no 1º Domingo da Quaresma e no Domingo de Ramos.
Mas é o Aleluia que está geralmente presente junto ao Gradual nos textos das Missas. Aleluia é palavra do hebreu, transmitida sem tradução para o grego e para o latim. Aleluia quer dizer “louvai ao Senhor” e é uma expressão de alegria. Canta-se duas vezes Aleluia, segue o texto e canta-se novamente o Aleluia. Três vezes, pois três são as pessoas da Santíssima Trindade. Tripla a nossa alegria pela nossa criação, pela encarnação do Verbo e pela nossa redenção.  No tempo Pascal, entre a Epístola e o Evangelho, só se canta o Aleluia, dobrado, pois multiplicada deve ser a nossa alegria com a ressurreição de Nosso Senhor. Nos tempos penitenciais, o Aleluia, como manifestação de alegria, é omitido. O Aleluia é continuação da ideia contida no Gradual. O canto da palavra Aleluia é bem prolongado, acompanhado de várias notas porque a alegria dos santos no céu é sem fim, nos diz São Boaventura. São João (Ap. 19, 1-4) diz que o aleluia é o canto dos céus: “depois disso, ouvi no céu como uma grande voz de uma grande multidão que dizia: aleluia. (…) E eles disseram uma segunda vez: aleluia. (…) E os 24 anciãos e os quatro animais se prostraram e adoraram Deus sentado sobre o trono dizendo: Aleluia, aleluia.” No Aleluia, a Igreja toma um pouco mais de liberdade e se limita menos aos textos dos Salmos.
Em certas Missas, pode haver, entre a Epístola e o Evangelho o que se chama Sequência. A Sequência, como o próprio nome diz, é sequência, é prolongamento do Aleluia, tratando do mistério celebrado na Santa Missa. Só subsistem cinco Sequências na liturgia romana tradicional: a Sequência de Páscoa (Victimae Paschali laudes), a de Pentecostes (Veni Sancte Spiritus), a de Corpus Christi (Lauda Sion), a de Nossa Senhora das Dores (Stabat Mater) e a da Missa de Requiem (Dies irae). Cada uma dessas Sequências são tesouros inestimáveis de doutrina e espiritualidade católicas.
Terminados o Gradual e Aleluia ou Trato, o celebrante se prepara para o Evangelho. Ele vai ao meio do altar, eleva os olhos para a cruz pela primeira vez durante a Missa, e recitas duas orações (Munda cor meum e Iube Domine benedicere), profundamente inclinado. Nelas, o sacerdote ou o diácono (na Missa solene) reconhece que é indigno de anunciar o Santo Evangelho e reconhece que precisa do auxílio divino. A oração Munda cor meum faz menção ao profeta Isaías, que se desesperava diante da sua missão de profeta por ter os lábios manchados, por ser pecador. Veio um serafim, e com um carvão tirado do altar tocou os lábios de Isaías dizendo-lhe: “tua iniquidade foi retirada e teu pecado foi perdoado”. Nessa oração, o padre pede a purificação dos lábios, mas também do coração, claro, pois nada adianta louvar a Cristo com os lábios se o coração está longe dele. Tendo pedido a purificação de seu coração e de seus lábios, o sacerdote pede a bênção divina, a fim de que o Senhor esteja em seus lábios, para que possa anunciar digna e competentemente o Santo Evangelho. Na Missa Solene, é o diácono que canta o Evangelho. Nessa Missa, o diácono coloca o Evangeliário sobre o altar. Ele coloca no altar, que é Cristo, como já falamos, para indicar que o Evangelho vem de Cristo, que aquilo que ele vai anunciar veio de Cristo. Em seguida, o diácono se ajoelha no primeiro degrau do altar e recita a oração Munda cor meum. Em seguida, pega o Evangeliário no altar e pede a benção ao sacerdote. Dada a bênção, o sacerdote coloca a mão direita sobre o Evangeliário e o diácono oscula a mão do padre. O sacerdote envia visivelmente o diácono para que ele cante o Evangelho. Ele dá a bênção ao diácono antes do canto do Evangelho, ao contrário do que ocorre na Epístola, em que ele dá a bênção ao subdiácono somente depois do canto. A Epístola, como dissemos, significa o Antigo Testamento. No Antigo Testamento, Nosso Senhor não enviou visivelmente ninguém, pois não estava entre os homens. Já no Novo Testamento, Nosso Senhor enviou visivelmente os Apóstolos. Depois da bênção, faz-se a procissão do diácono, subdiácono, turiferário, cerimoniário e dois acólitos. As velas e o incenso são marcas de honra dadas a Cristo. Velas e incenso acompanham o sacerdote na procissão de entrada e saída porque ele é outro Cristo. Velas e incenso acompanham o Evangelho porque é Nosso Senhor que está ali presente espiritualmente na sua Revelação. (Claro, presença muito distinta e inferior à presença substancial na Eucaristia, mas uma presença verdadeira). Na Missa Cantada, em torno do Evangelho estão o sacerdote, o cerimoniário, o turiferário e os acólitos. É bom lembrar que, na Missa, mesmo as leituras não têm por finalidade primeira a instrução, a catequese. Não, a finalidade das leituras é, antes de tudo, prestar culto a Deus, e venerar sua bondade ao nos revelar a sua própria vida. Por isso, as leituras são feitas em latim e não são feitas voltadas para o povo. A instrução é na homilia. As velas são a luz que os ensinamentos de Cristo representam para nossa inteligência. Cristo quer iluminar nossas inteligências com sua doutrina sublime. As velas são também fogo. Nosso Senhor quer colocar o fogo do amor a Ele em nossas almas. Ele mesmo falou que veio trazer o fogo ao mundo. O incenso representa o bom odor da doutrina, dos ensinamentos, dos exemplos e das virtudes de Cristo. O Incenso representa também o Sagrado Coração de Jesus, ardendo de caridade, querendo nos transmitir a vida da graça. O Evangelho é incensado com as mesmas honras que o Santíssimo Sacramento, com as mesmas honras que o sacerdote, com as mesmas honras que a Cruz. O Santíssimo Sacramento é o próprio Cristo. As outras coisas – sacerdote, Evangelho, cruz – estão intimamente ligados a Ele. Na Epístola, como dissemos, aquele que a canta é acompanhado só pelo cerimoniário, por uma só pessoa, o que significa a pequena quantidade de judeus que seguiram, de fato, as profecias, aceitando o Messias. No Evangelho, o Padre ou o diácono está cercado de quatro ou cinco pessoas, com muita solenidade, evidenciando a grande quantidade de pessoas que se converteram ao Evangelho. Como todos percebem, o Missal muda de lado no momento do Evangelho. O Evangelho é cantado para o norte, ao menos para o norte espiritual, já que o altar está voltado para o leste. Canta-se para o norte porque era sobretudo para o norte que o Evangelho tinha que ser anunciado nos tempos antigos, pois no norte estavam os pagãos, os bárbaros, no mundo então conhecido. Voltado para o norte, para os países gelados dos infiéis, que devem ser embrasados pela pregação apostólica. Na Missa cantada ou rezada, é impossível que o Missal, que está sobre o altar, esteja completamente voltado para o norte. Ele fica, então, na diagonal. Na Missa Solene, durante o canto do Evangelho, o livro é sustentado pelo subdiácono, é o Antigo Testamento que dá a base ao Novo Testamento. O subdiácono representa também aqueles judeus que aceitaram Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para iniciar o Evangelho, diz-se ou canta-se o Dominus Vobiscum. Em seguida vem o Sequentia ou Initium Sancti Evangelii secundum… Faz-se, nesse momento, um dos mais antigos sinais da cruz de que se tem notícia. O sacerdote faz um sinal da cruz no início do texto do Evangelho que será cantado, para nos lembrar de que o Evangelho é o Evangelho de um Deus crucificado. Em seguida, ele faz um sinal da cruz na testa, porque não devemos ter vergonha do Evangelho, mas confessá-lo. O que está na testa é evidente, vide o dito popular: “está escrito na sua testa”. Por isso, o santo crisma se recebe na testa, quando a pessoa se torna soldado de Cristo e, por isso, as cinzas se recebem na testa, pois é um lugar que nos expõe aos outros. Portanto, sinal da cruz na testa: não se envergonhar do Evangelho e aderir inteiramente a ele. Faz-se o sinal da cruz na boca, para poder confessar o Evangelho e transmiti-lo. No coração, para que o Evangelho seja impresso no nosso coração, para que nossa vontade possa amá-lo profundamente, colocando-o em prática. Também os fiéis fazem esse sinal da cruz na testa, na boca e no peito. O sacerdote se volta para o Evangelho, que se torna o centro da Igreja. No final do Evangelho, o sacerdote oscula o início do texto, em sinal de adesão completa ao que acabou de ser dito. Ao beijar/oscular o Evangelho, ele pede também que os nossos delitos sejam perdoados. O Evangelho na Santa Missa é um sacramental que perdoa as faltas veniais, se estamos arrependidos delas. Na Missa Solene, é o subdiácono que carrega o Evangelho para que o padre o oscule, simbolizando os judeus que se converteram pela pregação do Evangelho e que se dirigiram a Cristo. A reverência ao Evangelho é tanta que o subdiácono ao levá-lo ao padre, para que ele o oscule, não faz nenhuma genuflexão ou reverência ao santíssimo, apesar de passar diante do sacrário. Alguns ainda ousam dizer que a Sagrada Escritura não é devidamente venerada na liturgia tradicional. Ao contrário, ela é venerada com grandes honras, mas sempre abaixo, claro, do Santíssimo Sacramento. Na Missa Solene, o sacerdote é incensado. No final do Evangelho, diz-se Laus tibi Christe, “Louvor a Vós, ó Cristo”, por ter habitado entre os homens e por ter falado com eles.  O Evangelho se ouve de pé, pois é o Evangelho também da Ressurreição. De pé, para mostrar a determinação e prontidão em praticar o que foi lido. De pé, prontos para o combate por Cristo. De pé, prontos para pregar o Evangelho depois de ouvi-lo.
Depois do Evangelho, pode vir o sermão. Ele é obrigatório aos domingos e festas de preceito. Na liturgia tradicional, o sermão não faz parte do rito da Missa propriamente dito. Por isso, o sacerdote tira o manípulo para pronunciar o sermão, pois o manípulo se usa exclusivamente na Missa. Convém que o sermão se faça de lugar alto, pois a doutrina que deve sair da boca do sacerdote deve ser uma doutrina celestial. Esse lugar elevado é também um lembrete ao sacerdote de que sua pregação não será eficaz por causa da sua eloquência, mas por causa da origem celestial dela.  Esse lugar elevado é igualmente um lembrete ao sacerdote de que a eficácia da sua pregação dependerá também da altura de suas virtudes. A elevação do púlpito de onde o padre profere o sermão indica, ainda, que ele tem autoridade para ensinar. Esse lugar significa as montanhas sobre as quais Nosso Senhor tantas vezes subiu para pregar as verdades eternas.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

No Céu nos Reconheceremos.

III -  Podemos mesmo excitar-nos ou animar-nos pela esperança de nos unirmos a um amigo junto de Deus. – Grandes santos foram sensíveis a esta esperança. – Confissão de S. Francisco Xavier. – União sobrenatural de dois corações. – Gradação no parentesco espiritual das almas. – Fraternidade inteiramente espiritual e de escolha.

Podeis ainda ir mais longe. Depois de vos terdes primeiramente consolado, de alguma sorte, pela firme esperança de que a vossa amiga oraria mais eficazmente por vós, se fosse a primeira a subir ao Céu, regozijar-vos-eis também de ali vos reunirdes a ela com o pensamento, e lhe direis: Estaremos um dia reunidas no Paraíso, sim, reunidas junto de Deus: quanto mais nos amaremos então! Mas talvez se encontre alguém que tente repelir violentamente todos estes sentimentos dum coração amoroso, dirigindo-vos esta censura: “Quê! animar a vossa coragem e excitar-vos a sustentar generosamente os combates deste mundo, em parte pela esperança de vos repousardes no Céu sobre o coração das pessoas que amais, não será uma clara e grosseira imperfeição?”
Respondei que os maiores santos foram sensíveis, ainda mais do que vós, a esta esperança, e que desejavam gozar, ainda na eternidade, dos castos abraços de seus amigos. O apóstolo das Índias e do Japão confirma isto mesmo por sua confissão, feita ao fundador da Companhia de Jesus.
“Dizeis, escrevia S. Francisco Xavier a Santo Inácio, no excesso da vossa amizade por mim, que desejaríeis ardentemente ver-me ainda uma vez antes de morrer. Ah! só Deus, que vê o interior dos nossos corações, sabe quão viva e profunda impressão causou em minha alma este doce testemunho do vosso amor para comigo. Cada vez que me lembro dele, e isto acontece muitas vezes, involuntárias lágrimas me rebentam dos olhos; e se a deliciosa idéia de que poderia abraçar-vos ainda uma vez, se apresenta ao meu espírito (porque, por mais difícil que isto pareça à primeira vista, não é coisa que a santa obediência não possa efetuar), encontro-me num instante surpreendido por uma torrente de lágrimas que nada pode fazer parar”.
“Peço a Deus que se nos não pudermos tornar a ver na terra, gozemos unidos, na feliz eternidade, do repouso que se não pode encontrar na vida presente. E efetivamente, não nos tornaremos a ver na terra senão por meio de cartas; mas, no Céu, ah! será face a face! E então, como nos abraçaremos!”. Com efeito, quem poderá descrever os transportes de alegria que dois amigos experimentarão, um pelo outro, no Céu, depois de se terem mutuamente excitado à perfeição, e de terem verificado estas palavras da Escritura: “O amigo fiel é um remédio que dá a vida e a imortalidade, e aqueles que temem o Senhor encontram um tal amigo” (Eccl., VI, 16). Escutai, sobre esta amizade dos santos, um autor que merece ser citado ainda uma vez: “Dominado, neste mundo o nosso coração pelas sensíveis impressões, e não julgando o mais das vezes senão por elas, nem sempre se dá conta exata das delícias desta união sobrenatural das almas. Admite-as pela fé, mas são-lhe mistério; mostra-se-lhe ordinariamente insensível, porque as não compreende. Algumas vezes, contudo, desprende-se do oceano da divina graça um como raio que, rompendo a nuvem dos sentidos, vem iluminar certas almas privilegiadas e dar-lhes um ante-gosto destas inefáveis uniões que são, à vista das da natureza, o que seria um perfume emanado do Céu ao pé dos mais esquisitos perfumes da terra.
Vê-se algumas vezes, e mesmo não é raro, na vida dos santos, uma alma unida a outra por uma destas misteriosas atrações, fortes e serenas, que admiram e confundem a natureza. A alma que assim ama, vê na sua amiga uma companheira duma beleza inexplicável, cujos espirituais encantos ela aprecia como tipo divino, em conformidade do qual fora feita. Vê nela a imagem de Deus, e só esta imagem; emprega todos os meios, ofertas, sacrifícios e orações, para que ela se torne cada vez mais semelhante ao modelo, para assim aumentar a sua amabilidade e amá-la ainda mais. São como duas irmãs, saídas à luz no mesmo dia, do lado de Jesus no Calvário, pelos mais dolorosos sofrimentos. No Céu, este parentesco espiritual terá uma graduação análoga à da natureza: uma hierarquia de pais, de filhos, de irmãos e de irmãs. “Os bem-aventurados verão um pai em todo o homem que, pela efusão do seu sangue, de seus suores e orações, os tiver, de perto ou de longe, gerado em Jesus Cristo; e este homem contará tantos filhos muito amados quantas as almas que tiver lucrado para o seu Deus. Oh! quanto será bela esta paternidade! Quão ricos e preciosos serão os tesouros da sua fecundidade! O cego mundo apieda-se destas almas sobre-humanas que, calcando aos pés os atrativos e as seduções da natureza, renunciam às alegrias mais legítimas da família; e não vê que, em troco do seu sacrifício, Deus as dotará com uma outra família, que lhes fará gozar duma felicidade e de consolação incomparavelmente mais doces do que jamais sentiu alguma mãe da terra. Um dia seremos testemunhas disto, e veremos quanto estas almas eram mais dignas de inveja do que de compaixão. Assim, a glória terá a sua doce fraternidade, formada entre duas ou mais almas por vínculos próprios e pessoais. Esta especial fraternidade nascerá primeiramente dessas ligações que uma comunidade de deveres, de regras e de práticas, forma entre todos os filhos do mesmo pai ou da mesma mãe espiritual.
Nascerá, em segundo lugar, daquelas cadeias mais particulares que uma comunhão de boas obras e de orações forma por si entre duas almas, unidas uma à outra por um atrativo comum para com Deus: simpatia de todo o ponto celeste, afeição inteiramente divina de dois corações, dando-se o ponto de reunião no Coração de Jesus, cioso da perfeição um do outro, e pondo todo o ardor do seu zelo em procurá-la e aumentá-la”. Tendes admirado, Senhora, tendes abençoado esta fraternidade inteiramente especial, esta doce e santa amizade, unindo sob a vossa vista maternal, duas almas que pareciam ser-vos igualmente queridas, e que honravam a Virgem das Virgens mais ainda imitando a sua piedade do que possuindo o seu nome. Agora que uma delas, vossa filha por natureza, subiu ao Céu, a outra ficou junto de vós como filha por adoção. A sua presença é-vos deliciosa, como muitas vezes me dissestes, porque crêdes encontrar nela a vossa filha muito querida. Encontrá-las-eis unidas no Paraíso, encontrá-las-eis continuando a santa intimidade da sua recíproca afeição, encontrá-las-eis, finalmente, rivalizando para convosco em respeito e amor.A vossa própria felicidade aumentará muito à vista desta venturosa união.

27 de janeiro de 2015

No Céu nos Reconheceremos.

II -  Flor duma especial e santa amizade no Paraíso. – Durar assim para sem-pre é também da verdadeira amizade, segundo S. Jerônimo. – A santa amizade é o prelúdio ou o gozo antecipado do Céu, segundo S. Francisco de Sales. – Cé-lebre visão de S. Vicente de Paulo. – A continuação da amizade depois da morte consolou S. Gregório Nazianzeno, Santo Agostinho e S. Cipriano.

 Talvez vos pareça que só tenho falado, até aqui, dessa geral amizade que existirá no Céu entre todos os religiosos que vivem na mesma comunidade. Mas não se aplicará com mais razão, tudo o que tenho dito, a essa flor duma especial e santa amizade, que o tempo vê algumas vezes germinar entre dois corações pela virtude do sangue de Jesus Cristo? Crede firmemente que esta flor, depois de ter feito as vossas delícias na terra, continuará a exalar o seu perfume na bem-aventurada eternidade, para embalsamar a corte celeste e dar aos santos mais uma alegria. Os doutores consideram ainda como essencial à amizade, o poder seguir-nos assim até ao seio de Deus.
A afeição que não possa entrar onde nada penetrará que não seja puro, é indigna do nome de amizade. Diz S. Jerônimo: Amicitia quae desinere potest, vera nun-quam fuit – a amizade que pode acabar nunca foi verdadeira. Logo que ela não pode ser eterna, não é real; desde que não merece durar sempre, só é aparente ou impura. A verdadeira, a sincera, a virtuosa e santa amizade sobrevive a todas as separações da morte, para reunir nas sublimidades do Céu, no ápice da bem-aventurança, os corações e as almas que ela unia neste vale de lágrimas e de misérias. Quem não leu estas linhas em que S. Francisco de Sales considera a verdadeira amizade como prelúdio ou ante-gosto do Céu? “Se a vossa mútua e recíproca comunicação, diz ele, se transforma em caridade, em devoção, em perfeição cristã, ó Deus, quanto será preciosa a vossa amizade! Ela será excelente, porque vem de Deus, excelente porque tende a Deus, excelente porque o seu liame é Deus, excelente porque durará eternamente em Deus. Oh! como é bom amar na terra como se ama no Céu, e aprendermos a querer-nos mutuamente nesta vida como nos queremos e nos amaremos eternamente na outra!
O delicioso bálsamo da devoção destila-se dum dos corações no outro, por uma contínua participação, de sorte que se pode dizer que Deus derramou sobre esta amizade a sua bênção e a vida, por todos os séculos dos séculos. Esta casta união nunca se converte senão em uma união de espíritos, mais perfeita e pura, imagem viva da bem-aventurada amizade que se exerce no Céu”. É um exemplo desta bem-aventurada amizade o próprio fundador e a fundadora da Visitação. S. Vicente de Paulo foi dela testemunha, numa célebre visão que refere nestes termos:
“Tendo esta pessoa (ele mesmo) notícia da perigosa enfermidade da nossa defunta, ajoelhou para orar a Deus por ela; e imediatamente depois, apareceu-lhe um pequeno globo como de fogo, que se elevava da terra, e ia reunir-se, na região superior do ar, a um outro globo maior e mais luminoso, e ambos reunidos se elevaram mais, entraram e derramaram-se noutro globo infinitamente maior e mais luminoso do que os outros; e foi-lhe interiormente dito que este primeiro globo era a alma da nossa digna mãe (Santa Chantal), o segundo, a do nosso bem-aventurado pai (S. Francisco de Sales), e o terceiro, a Essência Divina; que a alma da nossa digna mãe se tinha reunido à do nosso bem-aventurado pai, e ambas a Deus, seu soberano princípio. Além disso, a mesma pessoa, que é um padre, celebrando a santa missa pela nossa digna mãe, como se de repente tivesse recebido a notícia do seu feliz passamento, e estando no segundo Memento em que se ora pelos mortos, pensou que faria bem em orar por ela; e viu novamente a mesma visão, os mesmos globos e a sua união”solar, repetindo:Quando a morte vos arrebatar alguma pessoa querida, não tenhais, pois, algum escrúpulo de vos consolar, repetindo: Ela não me esquece; ora por mim e vela sobre mim. Permanecemos unidas! Assim se consolava S. Gregório Nazianzeno depois da morte de S. Basílio, seu perfeito amigo:
“Agora, dizia ele, Basílio está no Céu. É lá que oferece por nós os seus antigos sacrifícios e recita pelo povo novas orações. Porque, indo-se desta vida, não nos deixou inteiramente. Vem ainda algumas vezes advertir-me por meio de visões noturnas, e repreende-me quando me desvio do meu dever”.
Santo Agostinho também se consolava do mesmo modo, depois que um dos seus amigos foi transportado pela morte à eterna bem-aventurança. “É aí, escrevia ele, que vive o meu Nebrídio, ele, meu doce amigo, ele, vosso filho adotivo, ó Senhor! É aí que ele vive, é aí que sacia à vontade a sede da sabedoria. Contudo, não penso que ele esteja inebriado desta sabedoria até ao ponto de se esquecer de mim. E, como se esqueceria ele, visto que vós mesmo, Senhor, vós, de quem se inebria o meu amigo, vos lembrais de nós?”. A mesma consolação tomava um santo bispo, escrevendo a um santo Papa, prevendo a morte que não podia tardar em feri-los:
“Lembremo-nos um do outro, em toda a parte e oremos sempre um pelo outro, adocemos nossos pesares e angústias com o nosso mútuo amor; enfim, se um de nós, por um efeito da bondade divina, preceder o outro no Céu, que a nossa amizade dure ainda junto do Senhor, e que a nossa oração não cesse de solicitar a misericórdia do nosso Pai, em favor dos nossos irmãos e irmãs”.

26 de janeiro de 2015

No Céu nos Reconheceremos.

Q U I N T A  C A R T A

Reconhecimento dos amigos ou a amizade no Céu 

I -  Todos os santos se têm comprazido no pensamento de reconhecer e amar ainda no Céu os seus amigos. – Sentimentos do B. Etelredo. – Palavras do P. Rapin. – Santo Ambrósio. – 0 Santo Cura d'Ars. 

SENHORA,
 Além do estreito círculo da família, pode a amizade estender a vasta esfera das nossas afeições. O Homem-Deus quis ter amigos na terra, e dignou-se reuni-los em volta de si no Céu. A seu exemplo, os mais santos personagens deixaram dilatar o amor de seu coração; todos tiveram amigos escolhidos entre mil, e todos se têm regozijado com o pensamento de os reconhecerem e amarem ainda na eterna glória. Também escreveram admiráveis páginas a respeito da verdadeira e perfeita amizade, que é toda espiritual. Apenas vos citarei uma que diz particular respeito ao nosso assunto. É do bem-aventurado Etelredo ou Aelredo, contemporâneo de S. Bernardo e abade da ordem dos Cistercienses, na Inglaterra. É uma conversa com um amigo Aelredo. Suponhamos que não haja neste mundo pessoa alguma além de vós, e que todas as delícias, com todas as riquezas do universo, estejam à vossa disposição, ouro, prata, pedras preciosas, cidades muradas, acampamentos fortificados por torres, grandes edifícios, esculturas e pinturas. Suponhamos ainda que estejais restabelecido no antigo estado, e que todas as criaturas vos sejam submissas como ao primeiro homem. Pergunto-vos: Todas estas coisas poderiam ser-vos agradáveis sem um companheiro? Gualter. Não, por certo. Aelredo. Mas se tivésseis somente um companheiro cuja língua ignorásseis, cujos costumes desconhecêsseis, e cujo coração e espírito vos fossem ocultos? Gualter. Se, por qualquer sinal, eu não pudesse saber se sim ou não ele era meu verdadeiro amigo, desejaria antes estar só do que ter um tal companheiro.
Aelredo. Mas se houvesse alguém a quem amásseis como a vós mesmo e que vos amasse também do mesmo modo, sem que nenhum de vós o pudesse duvidar, todas as coisas que até ali vos apareciam amargas não se vos tornariam doces e suaves? Gualter. Sim, certamente. Aelredo. Não será ainda verdade que quanto maior fosse o número de tais amigos, mais feliz vos julgaríeis? Gualter. É muito verdade. Aelredo. Eis precisamente a grande e admirável felicidade que esperamos gozar no Céu. Deus operará, Deus derramará, entre si e a criatura que tiver elevado ao Paraíso, entre os graus, ou ordens que tiver distinguido, entre todos os predestinados que tiver escolhido, uma tão grande amizade, uma tão grande caridade, que se amarão reciprocamente como a si mesmos. Resultará deste mútuo amor o regozijar-se cada um com a felicidade do próximo tanto como com a sua própria. Assim a felicidade de cada um será comum a todos, e a soma destas bem-aventuranças, será própria a cada um. Ali nenhum pensamento será oculto, ali nenhuma afeição se dissimulará, tal é a eterna e verdadeira amizade que tem princípio na terra e se completa no Céu; que na terra pertence a um pequeno número, porque também aqui são poucos os bons, mas que no Céu pertence a todos, porque todos ali são bons. Neste mundo é necessário experimentar nossos amigos, porque os sábios estão misturados com os tolos; no Céu não há necessidade de se ser provado, porque todos gozam duma perfeição angélica e quase divina. Procuremos, pois, encontrar semelhantes amigos, que nos amem e a quem amemos como a nós mesmos, que nos descubram todos os seus segredos, e a quem descubramos todos os nossos, que sejam firmes, estáveis e constantes em todas as coisas.Com efeito, pensais vós que se encontre alguém entre os mortais que não queira ser assim amado? Gualter. Não creio. Aelredo. Se vísseis alguém, vivendo no meio dum grande número de homens e tendo-os a todos por suspeitos, temendo-os mesmo como se quisessem atentar contra a sua vida, não amando pessoa alguma e crendo não ser amado por ninguém, não o consideraríeis o mais desgraçado de todos? Gualter. Sem dúvida.
Aelredo. Não negareis, pois, que o mais feliz será aquele que habita e repousa no coração daqueles entre os quais vive, que os ama a todos e que é igualmente amado, sem que esta suavíssima tranqüilidade seja diminuída pela suspeita ou repelida pelo temor. Gualter. Muito bem, certissimamente. Aelredo. Se é difícil que todos obtenham esta felicidade no presente, ao menos o futuro no-la reserva; e julgar-nos-emos tanto mais felizes no Céu, quanto maior for o número de semelhantes amigos que tivermos na terra. Antes de ontem passeava eu em volta do mosteiro, enquanto meus irmãos reunidos e assentados formavam a mais amável companhia, e como se estivera no meio das delícias do Paraíso, admirava as folhas, as flores e os frutos destas místicas árvores. Não divisando nesta multidão pessoa alguma que não amasse, e de quem não tivesse a segurança de ser amado, fiquei inundado duma tão grande alegria que excedia a todos os prazeres deste mundo. Sentia o meu coração entornar-se em todos, e os corações de todos entornarem-se em mim, de sorte que dizia com o Profeta:
“Oh! como é bom; oh! como é agradável viver unidos como irmãos (Ps. CXX11, 1)”. Estes sentimentos do bem-aventurado Aelredo justificam estas palavras de um autor mais moderno: “Ah! se eu tivera expressões assaz ternas e fortes para descrever a doçura das castas e espirituais amizades que terão lugar no Céu, onde não se amará senão pelo espírito, e para explicar todas as santas ternuras, que os bem-aventurados terão uns para com os outros, e as comunicações amorosas em que os impuros vapores da carne e todo o comércio vergonhoso dos sentidos não terão parte; que prazeres e que delícias não faria eu sentir às almas puras que só aspiram ao gozo destas celestes afeições, que farão uma das grandes felicidades da outra vida, porque estarão misturadas com o gozo do mesmo Deus, e com as inefáveis doçuras de seus divinos abrasamentos! Que poderá aqui haver de delicioso aos sentidos que mereça ser comparado a estes prazeres? Se uma amizade sincera, honesta, fiel e inocente faz muitas vezes a doçura desta vida, que fruto se não tirará destas espirituais amizades, que se praticarão no Céu, acompanhadas de todas estas circunstâncias?
E se um amigo seguro e fiel pode, na terra, tornar um outro amigo feliz, qual será a felicidade da vida eterna, onde todos os bem-aventurados serão verdadeiros amigos?”.
Ora, uma das alegrias destes verdadeiros amigos será reconhecerem-se na Igreja Triunfante, assim como na Igreja Militante é também uma das suas alegrias vazarem o coração no seio uns dos outros. Assim pensava Santo Ambrósio, quando comentava estas palavras de Nosso Senhor: “Vós sóis meus amigos, porque vos revelei tudo o que aprendi de meu Pai” (Joan., XV. 15). “Por estas palavras, diz ele, deu-nos, o Salvador, a forma da amizade que devemos seguir. É necessário que revelemos ao nosso amigo todos os segredos que se encerram no nosso coração, e que não ignoremos também os seus. Abramos-lhe, pois, o nosso coração, e que ele nos abra igualmente o seu.
Um amigo nada tem de oculto. Se ele é sincero, patenteia o seu espírito, como Jesus patenteava os mistérios de seu Pai”. Assim pensava esse humilde e santo padre de nossos dias, que foi um grande apóstolo sem sair da sua pobre aldeia onde a multidão o visitava quando vivo e o visita ainda depois da sua morte. Eis aqui algumas das suas consoladoras frases: Com quem estaremos no Paraíso? Com Deus que é nosso Pai, com Jesus Cristo que é nosso Irmão, com a Santíssima Virgem que é nossa Mãe, com os anjos e os santos que são nossos amigos. Um rei dizia com bastante pesar em seus últimos momentos: “É necessário, pois, que eu deixe o meu reino a fim de ir para um país onde não conheço ninguém!
É que ele nunca tinha pensado na felicidade do Céu. É preciso desde já arranjarmos verdadeiros amigos, a fim de os tornarmos a encontrar depois da morte; e não teremos receio, como este rei, de não conhecermos ninguém”. Não disse o próprio Salvador: “Empregai as riquezas injustas em obter amigos, a fim de que, quando morrerdes, eles vos recebam nos eternos tabernáculos?” (Luc. XVI. 9).

25 de janeiro de 2015

No Céu nos Reconheceremos.

III -  Conformidade de sentimento e de linguagem em todos os lugares. – S. Cipriano. – S. Teodoro Estudita. – Elogio que faz de sua mãe. – Cartas de consolação que ele escreve. – Pura alegria dos esposos no Céu. – Santa Francisca Romana e seu filho Evangelista. – Alegria dos pais e dos filhos no Paraíso.

 Mas esquecia-me de que prometera percorrer todo o horizonte da Igreja, para vos mostrar a sua conformidade de sentimentos e de linguagem sobre todos os pontos. Na África, eis S. Cipriano que foi educado no paganismo, e só abraçou a continência depois da sua conversão. Eleito Bispo de Cartago e condenado ao martírio, consolou os fiéis por ocasião duma epidemia que então grassava e que os ameaçava de morte. Que lhes disse ele? Dirigiu-lhes palavras que a Santa Igreja recorda aos seus sacerdotes, na oitava da festa de Todos os Santos. Ei-las: “Visto que vivemos na terra como estrangeiros e viajantes, suspiremos pelo dia que nos conduzirá à nossa habitação e nos reintegrará no Reino dos Céus. Qual é aquele que, estando exilado, não se apressaria a voltar à sua pátria? Qual é aquele que, obrigado a regressar por mar aos lares pátrios, não desejaria ardentemente um vento favorável, a fim de poder mais cedo abraçar aqueles que lhe são queridos?
A nossa pátria é o Paraíso, e os patriarcas, nossos antepassados, já aí nos precederam. Apressemo-nos, pois, e corramos para ver a nossa pátria e saudar os nossos maiores! Somos esperados por um grande número de pessoas que nos são queridas; somos desejados por uma grande multidão de parentes, de irmãos e de filhos que, seguros da sua imortalidade, se conservam ainda solícitos pela nossa salvação. Ir vê-los, ir abraçá-los, ah! que alegria para nós e para eles!”
Entre os gregos, em Constantinopla, um dos campeões mais intrépidos da ortodoxia contra os iconoclastas do Oriente, S. Teodoro Estudita, tinha entrado em religião na idade de vinte e dois anos, sob a direção dum tio materno, a quem sucedeu no governo. Teve a ventura de fazer, na presença de todos os religiosos, o elogio fúnebre de sua mãe, panegírico que o cardeal Mai traduziu e publicou, elogio que um coração amoroso não pode ler sem uma profunda comoção. Apenas soube que a sua enfermidade era mortal, escreveu-lhe uma carta afetuosa e consoladora, em que chegou a dizer:
“Ó minha mãe, se me retivessem somente cadeias de ferro, o amor que vos consagro as quebraria, e teríeis a alegria de me ver ainda. Mas, vós o sabeis, outros vínculos me retêm, vínculos que era indigno de gozar; e posso somente fazer-me representar junto de vós, por alguém que vos é agradável e querido”. No elogio que dela fez, diz que esta mãe, verdadeiramente cristã, ia todas as noites, quando seus filhos estavam deitados, fazer sobre eles o sinal da cruz; conta como ela levou após de si para a vida religiosa seu marido, três filhos, uma filha e três cunhados; diz com que docilidade ela foi mais tarde submissa a ele próprio. Teodoro termina a exposição das admiráveis virtudes desta heróica mulher, por este brado dum coração ternamente filial:
“Oh, minha mãe e minha filha, oh vós que fostes duas vezes minha mãe, quanto desejo tornar-vos a ver! Vós habitais com todos os santos, no meio das solenidades e das alegrias do Céu; habitais com os nossos irmãos que tanto amáveis nesta vida. Ah! não vos esqueçais de mim que sou o mais pequeno de vossos filhos; mas orai, orai por mim com mais instância do que em tempo algum. Dirigi-me, fortalecei-me e preservai-me de todos os perigos do pecado. Visitai-me por uma presença espiritual – Spiritali praesentia visita – e fazei ainda por mim o que fazíeis na minha infância: conduzi, observai como me levanto, como me deito, observai as agitações da minha alma e do meu corpo, a fim de que, depois da presente vida, obtenha estar com meus discípulos debaixo da vossa proteção, e ocupar um lugar convosco à direita de Jesus Cristo nosso Deus”. Este ilustre confessor da fé consolou muitas famílias aflitas. A um pai que tinha perdido todos os seus filhos, escrevia:
“Vossos filhos não estão perdidos, mas antes existem sãos e salvos para vós; e quando chegardes ao termo desta vida temporal, torná-los-eis a ver cheios da mais pura e santa alegria”. Também escrevia a uma viúva:
“O Deus que vos tirou do nada para dar-vos a existência, o Deus que vos conduziu a uma idade florescente para vos unir a um homem ilustre, saberá unir-vos ainda outra vez a ele pela ressurreição. Olhai, pois, a sua partida como uma viagem. Não vos resignaríeis se um rei da terra a ordenasse? Resignai-vos, portanto, com esta ausência, pois muito bem sabeis que aquele que ordenou esta viagem é o verdadeiro Rei, o único Rei do universo. Exorto-vos a isso, e espero que possuireis novamente vosso marido no dia do Senhor”. A um homem que acabava de perder sua mulher dirigiu também as seguintes linhas:
“Foi para junto de Deus que enviastes uma tão digna esposa; não será isto bastante para vossa consolação? E que é o que deveis procurar agora? Deveis trabalhar para encontrar no Céu, no momento fixado pela Providência, esta excelente companheira que se regozijará convosco, por todos os séculos, na participação de bens inefáveis”7. Sem dúvida, aqueles que na terra se acharem ligados pelo vínculo matrimonial, subindo ao Céu, serão como os anjos: Neque nubent, neque nubentur (Matth. XXII, 30). Mas, despidos de toda a sensualidade, gozarão sempre do casto prazer do espírito, e se recordarão que, na terra, não só foram dois corações num e duas almas numa, como os primeiros cristãos (Act., VI, 32), mas também uma só carne, como os nossos primeiros pais (Gen., II, 24; - Matth., XIX, 6). Na Itália, Santa Francisca Romana foi casada, teve filhos e, depois de viúva, fez-se religiosa. Despertando do sono ao romper da aurora de certo dia, levantava seu coração para Deus, e abaixava os olhos para sua jovem filha que dormia perto dela. De repente, viu o seu quarto cheio duma nova luz, no meio da qual apareceu um de seus filhos que, havia um ano, tinha falecido. A sua estatura e todo o seu exterior era o mesmo que quando vivo; mas a sua beleza era incomparavelmente mais arrebatadora: chamava-se Evangelista. Este filho, sempre amoroso, aproximou-se de sua mãe, e saudou-a com profundo respeito e uma graça encantadora. Que fez então Francisca, transportada duma inexplicável alegria? O que toda a mãe teria feito: estendeu ávidos os braços para estreitar ainda uma vez contra o peito este filho querido. E que lhe disse? O Céu é a lembrança de tua mãe: Num matris suae meminisset in coelis.
– “Ó minha mãe, respondeu Evangelista, vede se penso em vós e se vos amo! Não divisais um outro menino, de pé, a meu lado, duma beleza muito superior à minha? É meu companheiro no coro dos arcanjos, pois o meu lugar no Céu é no segundo coro da hierarquia angélica. Todavia, este arcanjo está colocado na glória em grau superior ao meu, e contudo, Deus vo-lo dá. Deus vai deixa-lo ocupar junto de vós o meu lugar e o de minha irmã Inês que, muito brevemente, voará ao Paraíso, para aqui gozar comigo das alegrias eternas. Este celestial espírito vos consolará na vossa peregrinação, vos acompanhará assiduamente e permanecerá dia e noite ao vosso lado, de maneira que o possais ver com os vossos próprios olhos”.
Este colóquio durou por espaço de uma hora; e, antes de se ausentar, o filho pediu a sua mãe licença para regressar ao Céu, deixando-lhe o arcanjo.
Se já lestes a vida de Santa Francisca Romana, composta por um nobre e zeloso católico da vossa província, não podeis ignorar o importante papel que desempenhou junto desta santa mulher, o arcanjo, este celestial companheiro, devido às orações dum filho que a precedera na pátria dos escolhidos. Deus é sempre admirável em seus santos (Ps. LXVII, 36). O que acabais de ver, mostra que o não é menos pela delicadeza das consolações de que inunda o seu coração, do que pela grandeza das provas ou dos milagres de que se serve para os conduzir à perfeição ou para fazer brilhar a sua santidade. Em volta deles, disse um orador francês, que foi confessor de Henrique IV, em volta deles estarão seus parentes, seus amigos, seus aliados e todos aqueles que lhes forem iguais em glória: todos, muito nobres, muito santos, muito sábios, muito opulentos, muito afáveis, muito eminentes, muito agradáveis de condição, de excelente temperamento, de belas maneiras, de inteligência, de coração, de discrição e de todas as virtudes; todos, lírios sem más ervas, rosas sem espinhos, ouro sem liga, grão sem palha e trigo sem joio! E, ainda que o seu número seja grande, todos se conhecem reciprocamente, e conversam com tanta familiaridade como se o seu número fosse pequeno. Então o filho agradecerá a seu pai a sã instrução que lhe tiver procurado, e a filha a sua mãe os bons exemplos que lhe tiver dado. Deus vos recompensa, minha muito querida e digna mãe, dirá a filha, Deus vos inunda para sempre de felicidade por tantos cuidados, que tivestes de mim! Sois minha mãe e duplamente minha mãe; porque me destes a vida temporal e a eterna. Foi por meio de vós que a divina bondade me tornou tão feliz.
– Bendito seja Deus, minha filha, bendita sejas tu nele para sempre! A tua bem-aventurança é um apanágio da minha, e esta é uma adição da tua; amemos o Senhor e louvemo-lo incessantemente. Felizes as entranhas que te geraram e o seio que te amamentou, e um milhão de vezes bendito ainda mais Aquele de quem possuímos todas as coisas! Glória a Ele, honra, luz e bênção em todos os séculos dos século. Eis aqui, Senhora, a conversa que tereis, eis a felicidade que gozareis tantas vezes quantos filhos tiverdes. Todavia, Deus não se contentará somente com vos consolar pelas alegrias da família que recomporá no Céu; mas ainda multiplicará vossas consolações pelas doçuras da amizade que ali transplantará.

24 de janeiro de 2015

No Céu nos Reconheceremos.

II -  A segurança de se reconhecerem os parentes no Céu tem consolado todos os santos. – O B. Henrique Suso. – S. Tomás de Aquino. – S. Francisco Xavier. – Santa Tereza. – O seu pensar a respeito da felicidade de uma mãe. – Felizes as pais que têm filhos religiosos.

 Esta certeza de uma especial união com os nossos parentes na eterna bem-aventurança, é uma consolação tão pura e tão doce que tem chegado a fazer as delícias dos próprios santos. Por todos os ventos do Céu, do Oriente, do meio dia, do Ocidente e do Setentrião, nos chegam vozes que testemunham esta verdade.
A Alemanha apresenta-nos, entre muitos outros, o B. Henrique Suso, religioso da Ordem de S. Domingos. O seu nome era Henrique Besg, mas preferiu o nome de Suso, que era o de sua mãe, para honrar a sua piedade e recordar-se dela incessantemente. Esta virtuosa mãe morreu numa Sexta-feira Santa, à mesma hora em que Nosso Senhor foi crucificado. Henrique estudava então em Colônia. Ela apareceu-lhe durante a noite, toda resplandecente de glória: “Meu filho, lhe disse, ama com todas as tuas forças o Deus onipotente, e fica bem persuadido de que ele nunca te abandonará em teus trabalhos e aflições. Deixei o mundo; mas isto não é morrer, pois que vivo feliz no Paraíso, onde a misericórdia divina recompensou o imenso amor que eu tinha à Paixão de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. – Ó minha santa mãe, ó minha terna mãe, exclamou Henrique, amai-me sempre no Céu, como fizestes na Terra, e não me abandoneis jamais nas minhas aflições!”
A bem-aventurada desapareceu, mas seu filho ficou inundado de consolação. Em outra ocasião viu a alma de seu pai, que tinha vivido muito apegado ao mundo. Apareceu-lhe cheia de sofrimentos e aflições, fazendo-lhe assim compreender os tormentos que sofria no Purgatório, e pedindo-lhe o socorro das suas orações.
Henrique derramou tão ferventes lágrimas que alcançou quase logo a sua entrada no Paraíso, donde ele veio agradecer-lhe a sua felicidade.
Os gauleses poderiam reivindicar, quase tanto como os italianos, o Anjo da escola. A alma de S. Tomás de Aquino não estava absorvida pela ciência, mas a caridade conservava em seu coração um lugar distinto para seus irmãos e irmãs segundo a natureza. Durante a sua estada em Paris, uma de suas irmãs lhe apareceu para dizer-lhe que estava no Purgatório. Pediu-lhe que dissesse um certo número de missas, esperando que a bondade de Deus e a intercessão de seu irmão a livrariam das chamas. O Santo pediu aos seus alunos que orassem e dissessem missas pela alma de sua irmã. Depois disto, quando ele estava em Roma, tornou-lhe a aparecer, dizendo que estava livre do Purgatório e já gozava da glória do Céu, por virtude das missas que ele tinha dito ou feito dizer. “– E quanto a mim, minha irmã, exclamou o Santo, nada sabeis?” – Quanto a vós, meu irmão, sei que a vossa vida é agradável ao Senhor. Vireis muito breve reunir-vos a mim; mas o vosso diadema de glória será muito mais belo do que o meu. – E onde está meu irmão Landulfo? – Está no Purgatório. – E meu irmão Reinaldo?
– Está no Paraíso entre os mártires, porque morreu pelo serviço da Santa Igreja”.Na Espanha, encontramos S. Francisco Xavier, partindo para as Índias, e passando perto do castelo de seus pais. Excitaram-no para que entrasse em casa de sua família, representando-lhe que, deixando a Europa para talvez nunca mais a ver, não podia honestamente dispensar-se de visitar os seus naquela ocasião, e de dizer um último adeus a sua mãe que ainda vivia.
Não obstante todas estas solicitações, o Santo seguiu caminho direto, e somente respondeu que se reservava para ver seus pais no Céu, não de passagem e com o pesar que os adeuses causam ordinariamente, mas para sempre e com uma alegria verdadeiramente pura.
Encontramos a ilustre reformadora do Carmelo, a seráfica Teresa de Jesus. Dentro das grades do seu convento, apesar da austeridade da sua vida, cultivava em seu coração as puras afeições da família; e esperava que o Deus que promete o cêntuplo a quem deixar tudo pelo seu nome (Math., XIX, 29), lhe restituiria centuplicado o amor dos seus parentes no Céu. Uma tarde, Teresa, encontrava-se tão incomodada e aflita que julgava não poder fazer oração, e tomou o seu Rosário para orar verbalmente sem algum esforço de espírito. Que fez Nosso Senhor para a consolar? Ela mesma no-lo diz por estas palavras:
“Tinham decorrido apenas alguns instantes, quando um arrebatamento veio, com irresistível impetuosidade, roubar-me a mim mesma. Fui transportada em espírito ao Céu, e as primeiras pessoas que vi foram meu pai e minha mãe”.
Sabeis, Senhora, que uma igual graça foi concedida à Senhora Acaria, que depois veio a ser carmelita no mesmo convento de Pontoise, onde uma de vossas irmãs ora por vós e se santifica entre as filhas de Santa Teresa, e que é agora honrada sob o nome de Beata Maria da Encarnação? Ela viu um dia seu esposo, um ano depois dele ter falecido, no meio dos santos do Paraíso. Deus compraz-se em tomar o coração da esposa cristã, como recebeu em suas mãos o pão no deserto (Marc. VI., 41), para o multiplicar, abençoando-o tantas vezes quantas lhe dá filhos, que estão esfaimados do seu amor, aos quais ela deve saciar, não só para glória do Senhor, mas também para a sua própria felicidade. Santa Teresa louva uma piedosa senhora que, para ter posteridade, praticava grandes devoções e dirigia ao Céu ferventes súplicas. “Dar filhos à luz que, depois da sua morte, pudessem louvar a Deus, era a súplica que incessantemente dirigia ao Céu. Sentia muito não poder, depois do seu último suspiro, reviver em filhos cristãos, e oferecer ainda por eles ao Senhor um tributo de bênçãos e de louvores”. A austera carmelita diz de si mesma: “Penso algumas vezes, Senhor, que vos comprazeis em derramar sobre aqueles que vos amam a preciosa graça de lhes dar, em seus filhos, novos meios de vos servir.”
Diz ainda: “Demoro-me muitas vezes neste pensamento: Quando estes filhos gozarem no Céu das eternas alegrias, e conhecerem que as devem a sua mãe, com que ações de graças lhe não testemunharão o seu reconhecimento, e com que reduplicada ventura se não sentirá palpitar o coração desta mãe em presença da sua felicidade!”. Eis o que pensaram, eis o que disseram, a respeito da família recomposta no Céu, santos que têm direito à auréola da virgindade, e que passaram nalguma Ordem ou comunidade religiosa quase toda a sua vida. Livrai-vos, pois, de acreditar que o filho que, desde seus primeiros anos, se consagra a Deus para sempre, olvide seu pai, sua mãe e seus irmãos. Pelo contrário, o seu coração torna-se o depósito da caridade. Se, pelas fendas das paixões, ela se escapasse de todos os outros para só deixar neles a indiferença e o esquecimento, o seu guardaria este precioso tesouro para incessantemente o derramar por todos os canais da virtude. Tanto o religioso ancião, como o jovem, é ouvido muitas vezes pelo seu bom anjo durante o silêncio do sacrifício ou da oração, dizendo ao Senhor: Memento, lembrai-vos de meus parentes que ainda vivem; memento, lembrai-vos de meus parentes que já morreram; e abençoai uns e outros para além de quanto o meu coração pode desejar. Feliz mãe que tivestes a ventura de poder dar a Jesus dois filhos e duas filhas para glória do seu nome e amor do seu Coração; não temais que estes filhos sejam infiéis ao quarto preceito da lei divina. Frutos separados da família, os religiosos, voltam-se muitas vezes, pela mesma força da sua tendência à perfeição da caridade, para a árvore que os produziu, a fim de a louvar e abençoar. Todas as bênçãos, temporais ou espirituais, que lhe obtêm de Deus, serão conhecidas somente no Céu.

23 de janeiro de 2015

Oração do Terço

Prezados leitores, Salve Maria!



Para quem mora em Curitiba ou na região Metropolitana, e para quem está de passagem pela cidade, comunicamos que haverá Oração do Terço no dia 23/01/2015:

Local: Capela Nossa Senhora Aparecida - Capela da Polícia Militar
Endereço: Av. Marechal Floriano Peixoto, 2057 - Rebouças - Curitiba - Paraná (fica entre as ruas Almirante Gonçalves e Baltazar Carrasco dos Reis)

Horário do Terço: 19:30 horas

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