31 de janeiro de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência IX


A INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO


Parte 1/7


Em 19 de junho de 1934, na Câmara dos Senhores, o conde José Karolyi, hoje junto de Deus, pronunciou um discurso, do qual citaremos algumas linhas nesta instrução.
"O estado húngaro sacrificou milhões e milhões para o futuro material, moral e nacional da  jovem geração, e contudo verificamos, com tristeza, que uma crise e uma decadência cada vez mais deploráveis, manifestaram-se na sociedade e na família. A falta esta na base da família, da sociedade, do estado. O número de divórcios é cada vez maior, e aumenta-se a quantidade de crianças que crescem sem pai e sem mãe. De que servem os numerosos sacrifícios pecuniários que o estado húngaro fez pela geração futura? De que serve a educação moral que ela recebe nas instituições e escolas, se, em casa, no seio da família ela não vê senão coisas que a escandalizam, e contempla muitas vezes uma vida em oposição ao exemplo moral? Segundo a história, a pureza da vida familiar, em todos os países, e em todas as nações, é a escala do progresso ou da decadência nacional.
Conforme as estatísticas nacionais, prossegue o orador, o número de divórcios em nossa Hungria mutilada, é exatamente quatro vezes maior que a cifra de 1913. As colunas de nossos jornais estão cheias de casos de divórcios, de escândalos familiares e de crimes, cometidos por crianças, homicídios e parricídios. Julgo que o governo e o parlamento não tem o direito de ver tudo isto sem agir. É preciso que o poder público e a legislação intervenham energicamente nesta explosão revolucionária das paixões humanas, e de irresponsabilidade!"
Assim falava este nobre coração, inquieto pela sorte de sua pátria.
Mas quando vemos os legisladores leigos contemplar, também consternados, as consequências prejudiciais que se originam do divórcio e dos abalos sofridos pela família, podemos imaginar a dor provada pela Igreja. Com efeito, é ela que em primeiro lugar deplora a perda destes incomensuráveis valores morais enterrados sob as ruínas do santuário familiar destruído.
É também esta solicitude que me conduz, nesta série de instruções sobre o casamento cristão, a consagrar três a este dogma fundamental do cristianismo, a indissolubilidade do casamento. Nos dois primeiros, mostraremos o grande ideal cristão: a indissolubilidade do matrimônio, e os motivos pelos quais nossa santa religião ainda hoje persiste imquebrantavelmente nesta ideia. No terceiro consideramos as calamitosas consequências desta triste aberração, o divórcio.
Em nossos dias, o número de divórcios eleva-se assustadoramente. Parece que a humanidade volta novamente para a poligamia dos tempos que precederam a vinda de Cristo, quando muito com esta diferença que naquela época se possuíam ao mesmo tempo tantas esposas quanto o permitiria sua situação de fortuna, ao passo que atualmente se pode tomá-las, uma após outra, enquanto houver ocasião de divorciar.
A Igreja, apesar desta calamitosa epidemia, e desta terrível falta de senso moral, continua com uma coragem inquebrantável a proclamar, defender e exigir a indissolubilidade do casamento.
Mas sobre que razão se apóia a religião católica, para manter com uma lógica rígida e grave a indissolubilidade do casamento? Tal é o ponto levantado nesta instrução.
Tríplice resposta. O casamento deve ser indissolúvel, pois é:
1 - da Vontade divina
2 - da própria essência do matrimônio
3 - do fim do matrimônio.
Há ainda um quarto argumento decisivo em prol da indissolubilidade: o interesse da humanidade. A exposição dos três primeiros exige tanto tempo que sou obrigado a deixar o quartp para a próxima instrução.

30 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 52

O QUE PODE O AMOR A FÉ CRISTA

2. Venâncio, rapaz de quinze anos, foi denunciado como cristão a Antíoco, governador da cidade de Camerino. Confessou sua fé sem fazer caso de promessas nem de ameaças. O governador mandou açoitá-lo e depois metê-lo no cárcere. Para ali mandou um homem enganador e astuto, chamado Átalo, o qual disse que também fora cristão, mas abandonara a fé por ver que era uma loucura privar-se dos bens presentes por uma esperança vã de futuros e deixar o que se possui pelo que nunca há de chegar. Repeliu-o Venâncio e desfez seus embustes.
Foi o Santo atirado aos leões que não lhe fizeram mal algum.
Sofreu inauditos tormentos. Cansavam-se os verdugos de atormentá-lo, e ele não se cansava de padecer por Jesus Cristo.
Por fim foi decapitado e entrou glorioso no céu.
Sua festa celebra-se em toda a Igreja a 18 de maio.

29 de janeiro de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência VIII


Parte 6/6


Quando o veneno penetra no organismo humano, ou falta um elemento essencial na alimentação, este organismo reage, dando sinais de dor. O homem torna-se corado ou empalidece, a febre, as palpitações, as fraquezas tornam-no incapaz para o trabalho. Se a sociedade atual, este grande organismo humano, tem palpitações, fraquezas e febre, uma das causas principais é que o veneno das idéias frívolas sobre o matrimônio penetrou em seu organismo. Falta-lhe a força nutritiva da família cristã.
Não permitamos este envenenamento, nem uma leviandade qualquer a respeito do matrimônio. Não podemos, nós católicos, participar desta anarquia, muito menos quanto ao matrimônio. Queremos que aí também reine a ordem. Uma ordem que repouse sobre as sólidas experiências dos séculos passados, sobre as leis da natureza e sobre as leis de Deus.
Queremos que a família seja, em miniatura, como um Estado bem governado, com divisão de trabalho, autoridade e obediência, honestidade e fidelidade ao dever. Queremos aí uma união tão forte, que só a morte possa rompê-la. Queremos que a bênção, a concórdia e o amor do trabalham nasçam desta instituição, que na realidade, hoje, é a fonte de tantas maldições, divisões e discórdias.
Pois reconhecemos que a família atual necessita realmente de reforma.
Mas isto não se dará pelo casamento de experiência ou de camaradagem, que nada mais são que estrumes orvalhados com o perfume das belas expressões literárias da licença e da frivolidade dos costumes, - mas sim pela fidelidade, honestidade e disciplina, colocando novamente o matrimônio na altura moral a que o elevou o único e verdadeiro reformador da humanidade, o Redentor do mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

28 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 51

O QUE PODE O AMOR A FÉ CRISTA

1. Em Damasco, na Síria, durante a perseguição religiosa de 1860, disseram os turcos a um menino cristão de catorze anos: “Ou você se faz muçulmano, ou lhe cortamos a cabeça” “Cortem-me a cabeça, se quiserem — respondeu o menino — mas eu sou e serei sempre cristão”.
No mesmo instante aqueles bárbaros cumpriram a ameaça e a Igreja contou com mais um mártir.

27 de janeiro de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência VIII


Parte 5/6


A base, o fundamento, a célula da sociedade humana é a família. Destruí-a e toda a sociedade se desmorona. Dissolvei a família, e os povos caem na imoralidade, a revolução é inevitável.
As leis de Cristo condenam, da maneira mais formal, a dissolução do casamento. Mas o homem moderno ouve, incessantemente, clamar a seus ouvidos que isto é a maneira antiquada de ver as coisas, e que os nervos inquietos do homem atual não suportam mais a fidelidade até a morte: Casai-vos, pois, ousadamente por experiência, e contraí casamentos de camaradagem, mesmo que clame a lei religiosa.
E os homens abandonam a sã razão, seguem estas fórmulas sedutoras, e no mundo inteiro aumenta o número de famílias abaladas e desfeitas.
E coisa curiosa, que vemos nós? Será, agora, mais feliz a humanidade? agora que há tantas mulheres abandonadas, após a "experiência" quanto os cogumelos após as chuvas, será a vida mais pacífica, mais alegre, mais perfeita que antes, quando não se conheciam estes novos e monstruosos termos?
Nada disto. Entre as ruínas do Santuário do lar, destruído, multiplica-se a má erva dos vícios vergonhosos, com os quais os nossos antepassados nem sequer sonharam.
Deus, sim, pode de diversos modos falar aos homens. Fala pelos mandamentos, enquanto ele escuta a sua razão. Quando, porém, a sã razão é desprezada e se calcam aos pés as leis divinas, e os homens correm cegamente para sua perdição, então ele permite este dilúvio que tudo arrebata, permite que a sombra infernal dos vícios vergonhosos tudo assole, a fim de que eles não possam mais, impunemente, calcar aos pés seus mandamentos.
c - E agora somente é que nós compreendemos bem por que a Igreja se opõe a estes novos gêneros de casamentos. Opõe-se porque todos eles ferem o dogma fundamental da indissolubilidade do matrimônio. Ora, como veremos, é da própria essência da religião cristã nunca permitir, sobre pretexto algum, que mãos criminosas se levantem contra esta lei. O matrimônio não é uma excursão de fim de semana, mas sim o ponto de partida de uma viagem, que se prosseguem em comum, para eternidade.
É um dos méritos inesquecíveis da Igreja católica, e a sociedade deve ser-lhe eternamente grata, por ter defendido corajosamente, em todas as épocas, a indissolubilidade do casamento, apesar do despotismo dos poderosos, dos raciocínios capciosos dos pseudo-filósofos, e das retumbantes palavras lançadas à multidão.
A Igreja teria evitado tantas calúnias, sarcasmos e ataques, não teria sofrido tantas perdas dolorosas se ao menos de quando em vez, nos casos mais graves, tivesse fechado os olhos sobre este ponto! Por causa da Reforma perdeu a metade da Alemanha. Podeis imaginar a dolorosa ferida que isto lhe causou. Mas pouco depois vem o divórcio de Henrique VIII da Inglaterra. E a igreja bastaria dizer uma só palavra: "declaro dissolvido o casamento de Henrique VIII". Nada mais que essa palavra, para não perder, depois da metade da Alemanha, toda a Inglaterra. A Igreja, porém, não disse esta palavra. Perdeu a Inglaterra, mas salvou o matrimônio.

26 de janeiro de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência VIII


A IGREJA REJEITA ESTAS "REFORMAS" DO CASAMENTO



Parte 4/6

Após tudo isto será fácil compreender por que a Igreja condena estas "reformas" do casamento.
Rejeita-as, porque seus argumentos não provam. Condena-as também, pelas suas consequências calamitosas.
A) É preciso reconhecer que este ou aquele argumento é tão objetivo, tão aceitável, que, à primeira vista, se poderia facilmente ficar abalado. Examinando-se, contudo, a coisa mais profundamente, percebe-se a sua falsidade.
Entre outros raciocínios, conhecidos e aparentemente admissíveis, eis um por exemplo: "É bem verdade que nós nos juramos fidelidade, na vida e na morte. Tornou-se, porém, evidente que não fomos criados um para o outro. Durante anos procuramos nos acostumar um com o outro, mas a situação piorava cada vez mais. E hoje temos, um para com o outro, uma aversão insuperável, tão forte que a vida comum é uma perpétua mentira, uma disputa incessante. Não será mais honesto separarmo-nos do que continuar enganando o mundo, e simulando farisaicamente uma fidelidade e um amor que não existe?"
a - Em primeiro lugar, reconhecemos que o caso apresentado é possível! "Uma aversão insuperável"! Que palavras terríveis nos lábios de um cristão! Em que corações surgiu esta aversão, após o casamento? Naqueles cujo amor antes do matrimônio era insensato. Aconteceu, com efeito, que nestes o atrativo, o entusiasmo e exaltação, que repousavam sobre as sensações puramente exteriores, desapareceram após o casamento, e se transformaram em ódio. Porque tudo o que se baseia nas qualidades físicas sujeitas a mudanças transforma-se também com elas. Semelhante amor e semelhante acorde diminuem, a medida que decrescem a beleza, a saúde, a juventude, e algumas vezes também a fortuna, a reputação e os sucessos dos esposos.
Quem, contudo, realiza um matrimônio, sobre bases tão vacilantes, não tem o direito de se admirar se, no decurso dos anos, tudo isso desapareça, dando lugar a uma "aversão insuperável", de que falamos. Poderiam eles vencer esta aversão por uma conduta sábia, e um domínio de si, mas estas palavras de há muito estes esposos arrancaram de seu vocabulário.
b - Precisamos tratar ainda de uma outra questão. Uma vez que em um matrimônio, realizado sobre fundamentos puramente exteriores e sensuais, esta "aversão conjugal" realmente pode existir, não resulta dai que elas são livres, por esta razão, de faltar ao grande ideal da indissolubilidade do matrimônio?
Em absoluto.
Daí resulta a grande advertência que a Igreja não cessa de fazer: Não vos decidais nunca a casar-vos levados ou pela beleza exterior, ou pelo encanto físico, ou pela situação ou pela riqueza. Pois só não desaparece com a beleza física e com a juventude o amor que se baseia em valores morais. Esse amor, através dos anos, aumenta-se, transfigura-se, espiritualiza-se cada vez mais, porque não é o semblante exterior, sujeito à mudança e à velhice, que nele se ama e sim o ser intimo, a alma imutável, que não envelhece, mas embeleza cada vez mais.
B) Consideremos, além disso, as consequências catastróficas destes casamentos, para toda sociedade.
a - Aqueles que com tanto entusiasmo falam da necessidade de "reformar o matrimônio", e de "estabelecê-lo sobre novas bases, deveriam ver claramente como trabalham desatinadamente, para a ruína dos mais santos valores.
É horroroso, com efeito, pensar na decadência moral, que feriria a humanidade, se um dia essas formas frívolas que tantos, hoje, apregoam cegamente, mas que felizmente não seguem, fossem realmente postas em prática. Se hoje há ainda moralidade e honestidade entre os homens, ao menos o quanto possível, e se na vida conjugal atual se encontram, ainda, concórdia, paz, alegria e compreensão mútua, tudo isto tem por princípio o respeito religioso, com que vossos ancestrais rodeavam o casamento.
Que perspectivas, porém, nos aguardam se estes frívolos projetos de reforma conseguissem laicizar totalmente o casamento, e extirpar suas raízes religiosas, e reduzir realmente a união mais santa de suas criaturas humanas, ao plano de casamento de experiência ou de camaradagem?
Que caos moral reina já, hoje, no mundo neste domínio, e como se voltou para o paganismo! É supérfluo falar disto! Uma senhora da sociedade esta com o seu quarto marido, mas tem o hábito de se encontrar ocasionalmente com os três precedentes e entreter-se gentilmente com eles, pois, com efeito, "não se tratava senão de casamento de experiência". Tal senhor esta com sua terceira esposa, permanecendo em boa amizade com as outras duas, pois trata-se apenas de "casamento de experiência".
b - Não penseis que hoje é somente o padre que fala em mim, para deplorar este desprezo frívolo pelas leis de Deus. Não. Seria obrigado a chegar à mesma constatação, se eu temesse, unicamente, pelo futuro da humanidade, se as minhas palavras fossem somente ditadas pela solicitude e pelo amor ao futuro de nosso povo.

25 de janeiro de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência VIII


Parte 3/6


Creio que dissemos bastante sobre o "casamento de experiência".
B) Há pessoas, que acham a ideia do "casamento de experiência" contraditória em si mesma, mas não querem admitir a forma cristã do matrimônio. Experimentam recorrer a uma outra fórmula. É o casamento de camaradagem. "Não sejamos esposos à moda antiga, mas vivamos como bons camaradas, um ao lado do outro".
Por inocente que pareça esta expressão romanesca, somos obrigados a ver claramente que o "casamento de camaradagem" não é menos perigoso que o de "experiência".
a - O casamento de camaradagem despreza em primeiro lugar, totalmente, o caráter feminino e, na verdade, quer transformar a natureza da mulher. Vós me compreendeis certamente se afirmo que o traço fundamental da natureza feminina é um certo grau de entusiasmo pelo qual olha com admiração aquele que ela ama, porque é mais forte, e maior que ela, podendo sentir-se tranquila em seu amor que a protege. Isto não vem do capricho do homem, mas da experiência dos séculos, que se expressa nos seguintes conselhos: o marido, o quanto possível, deve ser maior que sua mulher, mas pela instrução deve ser-lhe absolutamente superior.
Este desejo natural, que a mulher tem, de querer "admirar" seu marido, prova o absurdo daquela afirmação de que as relações entre marido e esposa consistem numa simples camaradagem.
b - Mesmo que tomássemos a palavra no bom sentido, e disséssemos que em todo o matrimônio ideal o marido e a mulher, em certo sentido, são como bons camaradas que se ajudam, se encorajam, se consolam e se distraem mutuamente, mesmo, então, não pensamos que tudo isto possa chamar-se "casamento de camaradagem". Aí, com efeito, a mulher não se coloca no mesmo nível que o marido, ela não é mais que um joguete entregue ao prazer do homem, que a conserva enquanto quer, e dela pode usar.
Não é menos evidente que este casamento não poderá dar, um dia, filhos. A mulher, pois, esta obrigada, por causa dos instintos egoístas de seu marido, a renunciar aos seus desejos naturais mais profundos e que para ela significam o cúmulo de sua felicidade terrestre: a maternidade. Respondei-me, não é brincar odiosamente com as palavras, chamar "camarada" um ser tão egoísta?
Esta "camaradagem" não satisfaz nem sequer o homem. É o que nos diz a vida com seus terríveis exemplos. Acontece frequentemente que o homem acaba cansando-se desta liberdade de procedimento, característica do casamento de camaradagem, e quer contrair um verdadeiro matrimônio. Sim, é o que acontece muitas vezes. Mas o que raramente acontece é ele casar-se com sua antiga "camarada". Ele a conhece muito bem, e sabe que ela não é digna de um verdadeiro matrimônio.
Nestes matrimônios "estilo novo", a mulher expõe-se à mesma sorte da folha arrancada à árvore: o vento brinca com ela, durante um certo tempo, leva-a, fá-la voltear, girar, mas, finalmente, deixa-a irremediavelmente cair na lama do caminho.
c - "Mas a Igreja não quer, então, compreender que a evolução cultural da humanidade tende para uma liberdade cada vez maior?" objetam os fervorosos adeptos deste casamento. "As velhas formas rígidas da vida conjugal não podem mais corresponder a esta aspiração crescente de liberdade".
Como este raciocínio é inexato e superficial! A característica do domínio cultural intelectual é o encadeamento cada vez maior das tendências indisciplinadas do homem. Faremos exceção só neste ponto? Quantas leis complicadas, que prescrições, que regras de decência, e de convenção social reprimem, dentro de nós, o livre impulso de nossos instintos e de nossas paixões! O homem criou todas estas leis e estas prescrições, no decurso de seu desenvolvimento cultural, gradativamente, compreendendo aos poucos que elas são indispensáveis à vida social.
A forma cristã do casamento não corresponde às aspirações humanas de liberdade? O homem não é livre senão na medida em que domina, em si, as tendências animais. Não é notável que as numerosas cerimônias e convenções de decoro e as inúmeras cerimônias e convenções sociais se encontram hoje, precisamente, no povo que é também o mais livre, os ingleses? A forma exterior e a liberdade interior de maneira alguma se contradizem. Ao contrário, são o sustentáculo inabalável da parte mais preciosa e mais nobre do nosso eu.

24 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 50

COMO PREGAVA SÃO VICENTE

Vicente Ferrer percorria nas asas de seu ardente apostolado cidades e vilas. Quando sua voz cheia de santa unção ameaçava castigos ou prometia prêmios eternos, os ouvintes rompiam em soluços e de seus olhos brotavam lágrimas de arrependimento. Ninguém resistia á sua palavra de fogo. Uma vez teve de pregar diante de um grande senhor numa festa solene e aparatosa. Vicente esqueceu-se naquele dia de beber em suas fontes costumeiras e consultou autores, folheou livros eruditos e preparou períodos eloquentes. O sermão saiu de seus lábios perfeito, magnífico.
Aquele grande senhor quis ouvi-lo de novo no dia seguinte. O Santo, arrependido de sua vaidade da véspera, foi prostrar-se, como era seu costume, aos pés do Crucifixo, e preparou-se na meditação e na presença de Deus. Subiu ao púlpito e pregou. Sua palavra foi como sempre cheia de calor e de unção.
Terminado o sermão, disse-lhe o grande senhor:
— Hoje gostei mais do seu sermão; o senhor falou com outra convicção e com outro ardor...
— Senhor — replicou humildemente o Santo — ontem pregou Vicente, hoje pregou Jesus Cristo! Sapienti sat...

23 de janeiro de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência VIII


 CARICATURAS DO CASAMENTO


Parte 2/6


O matrimônio cristão é a união, até a morte entre um homem e uma mulher. É contra esta forma de casamento que, em nossos dias, se emprega uma forte propaganda, favorecendo duas novas modalidades de casamento. Um é o casamento de experiência, e outro, o casamento de camaradagem.
A) O "Casamento de experiência"! Não refletistes na aterradora frivolidade que se oculta nesta última palavra?! Experimenta-se um automóvel, e se aparece um novo tipo de carro, troca-se o antigo pelo novo. Pode-se, contudo, trocar uma mulher, como se troca um automóvel, segundo a moda?
a - "Casamento de experiência"! Bastaria apenas refletir um pouco, para se compreender a sua impossibilidade e a sua loucura. Não se pode casar por um ano, por dois anos, com o fim "de experimentar durante este tempo".
Porque o que se experimenta durante este tempo não é um casamento.
O casamento, com efeito, compreende essencialmente a união total, e a fusão completa de dois seres exige, pois, necessariamente um sentimento de permanência, a consciência da indissolubilidade, a exclusão do temor, de que, um dia, possa mudar. A estabilidade pertence à  própria essência do matrimônio.
Mas como podem eles fazer experiência desta estabilidade, se não se decidem eles próprios à estabilidade, pois que, para eles, isto não é senão uma "experiência"?
É, pois, perfeitamente claro que aquilo que se chama casamento "por experiência" não é a experiência de um verdadeiro casamento, mas sim a experiência egoísta de prazeres superficiais sensuais, a fuga ante o dever, e uma ausência total de pensamentos e energias que decorrem do verdadeiro matrimônio.
b - Não será, porém, uma aventura ligar-se por juramento a uma coisa que a gente não sabe se poderá conservar? dizem os defensores de casamento de experiência: Como poderá alguém jurar a um outro guardar-lhe fidelidade, na vida e na morte, na felicidade, como na desgraça, se não experimentou antes como será aquela existência com outros esposos?
Este argumento parece plausível, mas é totalmente superficial e em nada cientifico. A mais recente psicoterapia, de fato, dá razão à forma cristã do casamento. Esta ciência provou que uma resolução firme e enérgica exerce uma ação benéfica, purificadora e fortificadora sobre a inteligência e a vontade, movimentando valores, que, sem isto, ficariam inativos; convocando para a luta, contra o domínio dos sentidos e as seduções que se possam apresentar, todas as suas qualidades, adormecidas em nós. O juramento solene de fidelidade acompanha-nos, como o anjo da guarda, durante toda a vida, encoraja-nos, fortifica-nos, ensina-nos a renúncia, o perdão, a vigilância! Feito este juramento, devo obedecer. Não posso agir de outra maneira.
c - Ao contrário, a ideia que existe em nosso intimo, "as coisas poderiam ser de outro modo, por que esforçar-nos?", tira-nos, em grande parte, o gosto da vigilância do domínio de nós, da renúncia, da indulgência. A convicção de que posso romper o meu casamento dá liberdade aos caprichos, às fantasias, aos instintos, e aos desejos ocultos em todo homem.
Uma profunda psicologia oculta-se nessa declaração do concílio de Trento, pela qual a graça sacramental do matrimônio "remata o amor, fortifica a unidade indissolúvel e santifica os esposos" (Sessão 24). A graça aumenta realmente as forças naturais, a tal ponto, que o homem fortificado pela graça sacramental do matrimônio é capaz de guardar a fidelidade perpétua, o que não se daria com a natureza humana entregue a si mesma.
d - Ninguém, pois, tem o direito de dizer de si mesmo o que infelizmente tanto dizem com facilidade para se escusarem; "Não tenho culpa, se eu não posso guardar a fidelidade conjugal; eu sou polígamo por natureza, é minha constituição".
Que fórmula inocente de desculpar o desencadeamento dos mais baixos instintos!
Sois polígamo por natureza e por constituição? Que direitos, e que atitudes tomaríeis, se um dia, diante de vós que sois chefe de escritório, diretor de usina, ou rico banqueiro, um caixa honesto assim se escusasse: "Desculpai-me, senhor, não vos escandalizeis com os meus desfalques, porque vós sabeis que sou desonrado por natureza, é minha constituição". E que faríeis, se um dia, vosso filho, levado pela mentira, assim se desculpasse: "Não te zangues, papai, é meu temperamento, é uma tendência hereditária de meus antepassados".
Que dizeis disto? Certamente ninguém tem o direito de apelar para a sua "constituição", quando mente ou quando rouba, assim como ninguém pode dar a mesma desculpa, quando viola a fidelidade conjugal. Deveria antes reconhecer que o que lhe falta é a coragem de lutar contra a natureza que o arrasta ao pecado, e que existe em todos os homens e não unicamente nele.

22 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 49

COMO MORRE UM AVARENTO

Em Paris, estava um velho avarento estendido em seu leito de agonia. Trabalhara sem cessar durante toda a vida, não só nos dias úteis mas também nos domingos e festas de preceito, e isso para amontoar riquezas e mais riquezas. A sua divisa parece ter sido esta: “Ouro, por ti eu vivo; por ti eu morro!”
Como estava prestes a expirar, pediu que lhe colocassem nas mãos muitas moedas de ouro. Fizeram-lhe a vontade e, assim, expirou. As moedas rolaram pelo chão. Estava morto, afinal, o gozo do ouro...
Em nós, deve morrer o pecado. É palavra de S. Paulo: “Nós, cristão, devemos estar mortos para o pecado”

21 de janeiro de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

CONFERÊNCIA VIII

A''REFORMA" DO MATRIMÔNIO


Parte 1/6


Não há ninguém no mundo que não esteja a par da crise em que se debate a família moderna. Não há quem não perceba as convulsões por que passa a sociedade atual, porque a base da vida social, a família, vacila sob nossos pés. Mesmo que os jornais e os livros não falassem da "crise da família", mesmo que as assembleias, conferências, círculos de amigos, não se ocupassem deste tema, nós seríamos obrigados a constatar esta grande crise, pelos projetos fantasiosos de reforma com que alguns querem resolver este problema urgente.
O cristianismo possui o grande remédio, para curar esta enfermidade mortal, remédio do qual já falamos, nas instruções precedentes, e do qual falaremos ainda nas que se seguirem. Hoje, consagremos a nossa instrução ao exame destes fantasiosos planos de reforma, não porque eles possam resolver alguma coisa, mas para vermos claramente em que abismo moral pode cair a humanidade, em que situação difícil ela fica, quando, procurando uma solução, extingue o facho do Evangelho.
Hoje, quero:
1 - citar alguns exemplos destes matrimônios "estilo novo", e em seguida,
2 - mostrar por que a Igreja rejeita estas caricaturas do casamento.

20 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 48

MORREU COM OS BRAÇOS EM CRUZ

Em 1937, na perseguição comunista, uma distinta senhora de Málaga (Espanha) foi presa pelos vermelhos. Sabendo que ia morrer, entregou a uma companheira uns objetos de ouro que levava consigo escondidos, e disse-lhe:
“Isto é para o Exército espanhol”. Depois, despedindo-se, pediu a todos que lhe perdoassem suas culpas e subiu ao caminhão com outras sete senhoras, das quais três eram freiras. No momento de ser fuzilada, ajoelhou-se e, segurando com ambas as mãos o Crucifixo, gritou: “Viva Cristo-Rei! Viva a Espanha!”
Os vermelhos arrancaram-lhe das mãos à viva força o Crucifixo e o atiraram com raiva ao chão. No momento, porém, da descarga, aquela santa senhora abriu os braços em cruz, a fim de morrer como o Redentor.

19 de janeiro de 2016

Sermão Domingo da Epifania - Padre Renato Coelho IBP


Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.


Hoje festejamos a solenidade da Epifania, no domingo que se segue ao dia da Epifania que é o dia 6 de janeiro. A epifania é a manifestação de Deus para o mundo. Seu nascimento se torna público, tanto para os judeus, representados pelos pastores, como para os pagãos, representados pelos Reis Magos, Magos aqui significando Sábios, não feiticeiros...

Para cada um, o conhecimento do nascimento do Messias aparece de modo diverso. Para os judeus, na forma de anjos que cantam a glória de Deus, gloria in excelsis Deo, para os Reis Magos, na forma de uma estrela muda, que os guia misteriosamente em direção do Messias.

O anjo é uma criatura intelectual, e é mais nobre para o homem, também criatura intelectual, ser tratado por outra criatura intelectual. No entanto, para mostrar as trevas do paganismo, o homem pagão é tratado como sendo uma criatura irracional, que não é guiada por idéias e princípios, mas por símbolos, luzes, brilhos e sentimentos. Esse homem pagão se assemelha bastante ao homem moderno, que dificilmente entende um argumento racional, um silogismo, mas prefere conduzir sua vida de acordo com o que “brilha mais”. Por isso o homem moderno tem tanta veneração pelo cinema, onde tudo brilha a todo momento, e sua parte intelectual é deixada de lado. 

Alguns pesquisadores, embora não fosse preciso de pesquisa para isso, estudaram que as pessoas comuns tomam posições políticas e morais (ou mudam de posição) com bases em filmes que assistem mais do que por outros meios de formação. Nada mais fácil do que endoutrinar uma massa por meio de imagens e “brilhos” ao invés de discursos e argumentos. 

Nada mais humilhante para um católico do que se deixar levar pelos sentimentos e não pela razão, preferindo se guiar como faz um animal, que tem fome, sede, busca se reproduzir e não pensa nas coisas do alto. Se o nosso fim é a terra e nada podemos fazer para progredir, então que vivamos como os porcos! Mas se o Messias veio nos curar as feridas e nos mostrar que o nosso fim é o Céu, então rejeitemos de todo o coração esse estilo de vida pagão, que é visto tão facilmente nas ruas da cidade.

Por outro lado, a misericórdia de Deus quer levar todos os homens ao Messias, judeus e pagãos, para que todos se reconheçam miseráveis diante de Deus e reconheçam que precisam do Messias para curar suas feridas na alma. Deus quer que saíamos da condição de pagãos ou de servos, como eram os judeus no Antigo Testamento, para sermos então filhos adotivos de Deus, isto é, católicos, e assim, co-herdeiros do Céu.

Mas infelizmente muitos católicos parecem não compreender isso. Desprezam o título de filhos adotivos de Deus e buscam com o seu coração a vida de servos ou de pagãos. Há filhos que criticam os pais, naquilo que os pais simplesmente fazem de lhes transmitir os ensinamentos da religião católica, e nisso demonstram amar mais a condição de pagão do que a condição de católico, pois ser católico hoje implicaria em ser “esquisito”, “fechado”, “fora de moda” ou “exagerado”. 

Tais filhos crescem materialmente, mas deixam muito a desejar no crescimento espiritual. Há pais que só ficam espantados se o filho apresentar alguma anomalia no seu crescimento e desenvolvimento biológico, mas não ficam alarmados ao os verem crescer, mantendo-se ainda em estado infantil - ou até mesmo fetal - de vida espiritual. Há uma desproporção entre o crescimento religioso e o crescimento humano. Há jovens na faixa dos 16, 17, 18 anos de idade com progresso religioso estacionado nos 4, 5 anos de idade! O que impressiona ainda mais nesse congelamento espiritual é que, com o avanço da idade, também avança o pecado original, que se torna cada vez mais visível interna e externamente na vida de cada um. Mas como combater as tentações de alguém com 16, 17 anos, usando os meios para se combater as tentações próprias de uma criança de 5, 6 anos? Se alguém com 17, 18 anos, pensa na vida espiritual do mesmo modo que pensava quando tinha 5, 6 anos de idade, então há aí um problema. Com 5, 6 anos de idade, uma criança não se preocupa em mortificar sua visão, pois não vê necessidade nisso. Mas quem com 17, 18 anos não vê a utilidade de se evitar a olhar certas coisas e evitar as curiosidades, demonstra não saber distinguir o bem do mal, a virtude e a força para fazer o bem daquilo que favorece o pecado original e suas más inclinações. Para uma criança de 5, 6 anos, bastava rezar com a família, uma oração ou outra, por exemplo, antes de dormir. Para alguém de 17, 18 anos, principalmente no mundo atual, limitar sua vida espiritual apenas a isso, sem ter a iniciativa de dizer um terço todo dia, ou de fazer uma leitura de algum santo, demonstra preferir voltar à condição de servo, de pagão, e não de continuar a ser filho adotivo de Deus e de continuar a progredir na vida católica.

Como dizia São Paulo ao povo que catequizava por um longo tempo: “a julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Todavia, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da palavra de Deus; e vos tornastes tais, que precisais de leite em vez de alimento sólido! Ora quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma doutrina profunda, porque ainda é criança, mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal” (Hb 5, 12 seg.). Um pai ou mãe de família ficaria espantado ao ver algum de seus filhos de 15, 16, 17, 18 anos andando de chupeta por aí. Mas curiosamente, não ficam espantados ao vê-los agindo como bebês espirituais.

Há o jeito fácil e o jeito difícil de aprender as coisas, sobretudo no campo espiritual. Aqui está sendo proposto o jeito fácil, a vida normalmente ensina do jeito mais difícil. Como dizia um ditado: “Deus perdoa sempre os que pedem com sinceridade; os homens, às vezes; a natureza, nunca”. É preciso mostrar aos jovens os valores da vida católica e os fins elevados a se buscar. Que busquem estudar algo para poderem ensinarem aos outros. Trabalhem e ganhem bem para poderem ajudar financeiramente os outros. Evitem o mal e façam o bem!

Termino citando mais uma vez S. Paulo: “desvencilhemo-nos das cadeias do pecado. Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador da nossa fé, Jesus. Em vez do gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente aquele que sofreu tantas contrariedades dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado. Estais esquecidos da palavra de ânimo que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezeis a correção do Senhor. Não desanimeis, quando for repreendido por Ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho (...) mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos. Aliás, temos na terra nossos pais que nos corrigem e, devemos olhá-los com respeito. Com quanto mais razão não devemos nos submeter ao Pai de nossas almas, o qual nos dará a vida? Os primeiros, nos educaram para pouco tempo, segundo a sua própria conveniência, ao passo que este o faz para o nosso bem, para nos comunicar a sua santidade. 

É verdade que toda correção parece, na hora, um motivo de pesar mais do que de alegria. Mais tarde, porém, obtém aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de paz”. (Hb 12: 1 seg.). 

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

18 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 47

S. ANTONIO DE PÁDUA E A CRUZ

S. Antônio de Pádua, ainda menino, servia de acólito na igreja da Sé, em Lisboa. Um dia, estando no coro, apareceu-lhe o diabo em forma horrível. Ó menino, sem se amedrontar, fez devotamente o sinal da cruz na grade. O diabo fugiu no mesmo instante. A cruz ficou impressa no mármore, como se este fora de cera.

17 de janeiro de 2016

Missa 1º Domingo Depois Do Natal - Padre Renato Coelho IBP

MISSA DO 1o DOM DEPOIS DO NATAL

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

José e Maria estavam maravilhados sobre o que diziam de Jesus. Em primeiro lugar um anjo lhes fala, depois os pastorezinhos e os reis sábios, e agora o velho Simeão. E Simeão faz uma profecia, ele declara que Jesus será a causa da queda e do erguer-se de muitos.
Mas não estamos no ano da misericórdia? Jesus não é misericordioso? Como, então, é dito que Ele virá para ser a causa da queda de muitos?
Jesus será a causa da queda daqueles que não acreditaram Nele, daqueles que pela própria estultice serão confundidos diante da Luz de Cristo, que não aceita desculpas mentirosas ou falsos silogismos para justificar o injustificável. Ele não veio abolir a Lei, mas aperfeiçoá-la. Quem vive mal, tem em Jesus uma oportunidade para mudar de vida, de erguer-se, mas não de continuar no mal em que está. Quem, apesar de todos os meios de obter misericórdia por meio de Cristo e de Sua Igreja, recusar mudar de vida, condição necessária e prévia para receber qualquer misericórdia da parte de Deus, está fadado a não recebê-la, e assim ficar reservado para si apenas a Ira Divina. Tais são ditos “indignos da misericórdia” de Deus, como o são os maus anjos e demais condenados ao inferno (Suplemento à Suma Teológica, q.99, a.2, ad 1).
Cristo faz cair aqueles que o veem como uma pedra de tropeço. E nesse sentido Cristo colocará um sinal de contradição para muitos, e esse sinal é a Cruz, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Também é dito que essa profecia se aplica em especial ao povo judeu (cf. S. Gregório de Nisa, Catena Aurea), que cairá depois da vinda de Cristo, sendo privados de seus privilégios iniciais, sofrendo mais gravemente que os outros povos, pois recusaram receber o Messias. 
Se tememos a Cruz de Cristo, se tememos a cruz em nossas vidas, então Cristo é para nós uma pedra de tropeço, na qual cairemos com todas as consequências nocivas dessa queda. Mas se vemos em Cristo a cruz da vitória, a cruz que com sua graça conseguimos carregar com fé, então ele será para nós força para nos erguemos e andarmos, carregando a nossa cruz até o destino final onde Deus nos espera como que com ansiedade. São Paulo não recusa sua cruz, mas diz querer completar aquilo que Cristo deixou para nós da Sua Cruz, bem como castigando a si mesmo, com medo de ele mesmo vir a ser excluído do número dos eleitos, mesmo após ter pregado Cristo aos outros (cf. 1 Cor 9, 27).
É um mistério, mas também é uma forma de misericórdia, a Cruz de Cristo. Como que com uma simples cruz podemos obter um bem infinito que é o Céu? Mesmo após termos fechado o caminho pelas ofensas infinitas feitas a Deus? E isso é misericórdia, carregar o jugo leve da Cruz, com fé, esperança e caridade, que após um curto e pequeno incômodo, ganhamos a indizível alegria do Céu (cf. 2 Cor 4, 17).

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

16 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 46

O PODER DA CRUZ

O caso que vou contar é engraçado, mas dá-nos uma preciosa lição sobre o poder da santa cruz.
Tinham os monges de certo convento o sagrado dever de descer todos os dias à igreja e, ali, sentando-se o Abade em sua grande cadeira de superior, e eles nos bancos do presbitério, cantavam os louvores de Deus.
Sucedeu que, um dia, o santo Abade Leufrido se achava adoentado em seu pobre leito e não pode descer para presidir ao oficio em sua igreja. O demônio, que vive rodeando também os santos e servos de Deus, achou que era chegada a ocasião de todos os monges lhe prestarem reverência. Tomou, pois, o hábito e a figura do Abade, desceu com os outros ao presbitério e sentou-se depressa na grande cadeira com ar de importância. Todos os monges fizeram-lhe reverência; mas um deles, chegando atrasado por vir da cela do Abade, viu com espanto outro Leufrido ali sentado.
Volta imediatamente à cela abacial, e diz alvoroçado:
— Dom Abade, que é isso? Estais ao mesmo tempo em dois lugares? Acabo de encontrar-vos sentado no presbítero, e estais aqui.... que é isso?
Caiu o Abade na conta do diabólico estratagema e, sentindo-se com forças bastante, vai à igreja depressa; mas, antes de entrar, no presbitério, traça o sinal da cruz em todas as portas e janelas. Entra, depois, no presbitério e, armado de um bom chicote molhado em água benta, começa a açoitar o fingido Abade.
O demônio foge espavorido e Leufrido segue-o. O demônio quer passar por uma porta e, embora esteja aberta, volta correndo; aproxima-se de uma janela, e não consegue passar, porque em toda parte encontra pela frente o sinal da cruz. O Abade surra a valer; os monges riem-se a bandeiras despregadas; e o diabo escapa, afinal, por uma chaminé! É que o santo se esquecera de fazer ali o sinal sagrado...
Leufrido tomou, então, a palavra e explicou aos religiosos que Deus permitira aquela cena para que eles conhecessem o poder da Cruz e, nas tentações, não deixassem de benzer-se com o sinal sagrado, que o demônio tanto teme e detesta.

15 de janeiro de 2016

Missa Do Dia De Natal - Padre Renato Coelho IBP

MISSA DO DIA DE NATAL (3a missa do Natal)

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Esta é a missa principal do Natal, embora também se possa cumprir o preceito tanto na Missa do Galo como na Missa da Aurora.
Depois de toda a espera do Advento, devemos agora receber dignamente Jesus em nossas vidas. Desde o começo do ano litúrgico, falamos dessa grande vinda do Messias. Nas antífonas do ofício divino (das primeiras vésperas) do 1º domingo do Advento, cantamos que o Senhor vem de longe. No 2º domingo do Advento, cantamos o desejo mais ardente que a Igreja tem pelo seu Salvador, pois com pressa Ele está vindo para a sua salvação. No 3º domingo, cantamos que o Senhor está próximo. No 4º domingo, cantamos que toda criatura irá ver a salvação de Deus, incluindo nisso as antífonas Ó, de expectativa e admiração, das últimas vésperas que precedem o Natal, bem como a novena  de Natal, ambas anunciando e preparando as pessoas para a iminência desse grande dia.
Lemos que não havia espaço para Ele em Belém, por isso São José e Nossa Senhora tiveram que ir num presépio, para que ela pudesse dar à Luz de modo milagroso, sem dor. Não acreditem nessas representações que imaginam Nossa Senhora ter um parto como as demais mulheres, não procede da tradição católica.
E nós, agora que Jesus Encarnou, temos nós espaço para Ele?
Deus também bate na porta de nosso coração para buscar um lugar para ficar, mas estamos dispostos a abrir essa porta? No Evangelho lemos que Deus veio para os seus, mas os seus não o receberam. Temos espaço para Deus em nossas vidas? Já não a enchemos com outras coisas? É curioso que quanto mais crescemos na tecnologia, com meios mais velozes de locomoção e comunicação, menos tempo temos para Deus. Para as pessoas em geral, incluindo os católicos, a questão de Deus não parece algo urgente. Podemos sempre deixar isso para depois, para mais tarde. Rezar o terço? Agora não... E isso não é apenas para o que concerne o nosso coração. Temos nós espaço para Deus em nossos pensamentos? Ou pensamos e raciocinamos como se Deus não existisse? No nosso dia-a-dia, Deus ocupa algum espaço? No que nos diferenciamos dos pagãos? Ao menos no nosso modo de vestir com modéstia, no nosso modo de falar e agir, Deus e sua Lei devem distinguir um cristão de um pagão. Ser católico não implica em apenas ir na Missa, é muito mais que isso. A religião católica deve influenciar tudo, absolutamente tudo, em nossas vidas.
E quando não temos espaço para Deus, também não temos espaço para o nosso próximo, pois estamos focados apenas nos nossos próprios interesses mesquinhos.
Sejamos vigilantes para podermos escutar com atenção quando Deus bate em nossas portas com suavidade e insistência. Deus quer que sejamos sempre cada vez mais santos, por isso se não escutamos Deus agir em nossas vidas, é porque há muito barulho ao nosso redor, muita distração, já que Deus continuamente está batendo em nossas portas suavemente, pedindo para entrar cada vez mais profundamente em nossos corações.
Peçamos a Nossa Senhora pela nossa conversão, para que paremos de olhar apenas para os nossos interesses e voltemos nossa atenção para os interesses de Deus.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

14 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 45

POR QUE A MORTIFICAÇÃO?

São Nilo, antes de sua conversão, pecara contra a santa pureza. Converteu-se. E desde a sua conversão jamais comeu carne, jamais bebeu vinho ou outra bebida, alcoólica. Comia somente legumes e frutas, bebia somente água. Renunciou, igualmente, ao seu leito macio e dormia sobre tábuas.
A sua penitência, a sua mortificação foi sincera, foi perseverante; nunca mais recaiu nas antigas faltas.
Dizem os mestres espirituais que o uso de muita carne torna o homem sensual e propenso ao pecado; o vinho por sua vez, e em geral as bebidas alcoólicas, são a causa de graves tentações impuras.

13 de janeiro de 2016

Missa do Galo - Padre Renato Coelho IBP

MISSA DO GALO:

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Nesta noite comemoramos o nascimento de Jesus em Belém. Podemos agora colocar o menino Jesus em nossos presépios, simbolizando que ele nasceu e está conosco. O presépio pode ficar montado até o dia da epifania, quando acrescentamos os reis magos ao cenário, ou até mesmo até o dia 2 de fevereiro, festa da apresentação de Jesus no Templo, ou Festa da Candelária.
Esta é a primeira de 3 missas que o sacerdote pode celebrar no dia do Natal, simbolizando respectivamente: o nascimento eterno de Jesus no seio da Trindade, o nascimento temporal de Jesus em Belém e o nascimento místico de Jesus nas almas.
Hoje, em especial, escutamos o Glória com o soar dos sinos, pois é justamente o canto dos anjos do dia de Natal feito aos pastores judeus. No Credo, mais especificamente durante as palavras “Et incarnatus est”, o sacerdote ressalta também a particularidade dessas palavras para o Natal, colocando-se também de joelhos no altar e inclinando a cabeça. Parte do texto do cânon da Missa, bem como o próprio prefácio também são especialmente feitos para o Natal.
Tudo isso é feito para simbolizar a importância do Natal, dia em que a espera do Messias terminou, ainda esperar pelo Messias seria um ato de ignorância própria daqueles que ainda habitam nas trevas e ainda não O conheceram quando Ele veio habitar entre nós.
Devemos estar alegres por podermos reconhecer que a Luz de Cristo já chegou, basta agora abrir-nos para ela, pois mais importante do que Deus estar conosco apenas presencialmente é nós estarmos com Deus, e estamos com Deus quando somos batizados e não temos nenhum pecado grave não confessado desde a última confissão.
Jesus nos aparece como um bebê incapaz de qualquer coisa por si próprio, exigindo de nós uma iniciativa, uma santa iniciativa de fazermos as coisas por Ele. Não devemos ficar sentados esperando Deus agir em nós. Nós devemos agir junto com Deus, pedindo a Ele a força para fazer o bem e evitar o mal, e não recusar a graça atual quando ela se apresentar nas situações do dia-a-dia. Uma palavra inútil que evitamos falar ou escrever para não fazer o bebê Jesus chorar, um agrado que fazemos ao conversar com sua Mãe, Maria Santíssima, na oração do terço, serve para ver o bebê Jesus sorrir. Tudo isso são coisas que podemos fazer pensando em Jesus enquanto bebê.
Meditemos nesse Natal, não tanto no presente que queremos receber, mas no presente que podemos dar a Ele, seja evitando que o bebê Jesus chore, seja fazendo-o sorrir com um gesto bom nosso.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
====================================

12 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 44

A TENTAÇÃO E O SINAL DA CRUZ

S. Margarida, mártir, era uma donzela de rara beleza.
Aos dezesseis anos de idade, dirigiu-se a seu pai, que era pagão, e disse-lhe: “Meu pai, quero confiar-lhe um segredo. O senhor é sacerdote dos ídolos; eu, porém, sou batizada e creio em Jesus Cristo”. Imediatamente apoderou-se daquele homem um furor selvagem. Atirou-se sobre a filha, como uma fera e logo mandou mete-la no cárcere. Na prisão apareceu-lhe o demônio, murmurando-lhe ao ouvido: “Ora, vamos, não seja tola... Você é jovem e bela. Aí bem perto a espera um noivo pagão, rico e nobre; com ele você viverá dias felizes. Abandone a Jesus”.
Quereis saber o que fez Margarida nessa terrível tentação, nesse perigo iminente de perder a sua alma? Devotamente fez o sinal da cruz, e no mesmo instante o demônio desapareceu. Aproximou-se dela o Anjo da Guarda e consolou-a. Passados alguns dias foi Margarida conduzida ao lugar do martírio. Diante daquela juventude radiante, daquela formosura encantadora, o algoz ficou comovido e a espada vacilou em sua mão. Iria ele desistir de dar o golpe? Iria ela perder, a palma do martírio? Margarida fez o sinal da cruz e disse: “De o golpe, irmão; a cruz é minha força!”
Inclinou a cabeça e colheu a palma do martírio.
A cruz deu-lhe a Vitoria.

11 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 43

VERDADEIRA EDUCADORA

Aos 20 de março de 1869 morria no Tirol (Austria) uma educadora por nome Joana da Cruz. Depois que ela deu o último suspiro, todos diziam:
“Morreu uma santa! sim, morreu uma santa!”
Os que haviam frequentado a sua escola gostavam de contar a impressão que sentiam cada vez que a viam entrar na classe. “Parecia-nos — diziam — que era Jesus que entrava.
Falava como Jesus. Comportava-se como Jesus. De seus olhos e de todo o seu ser resplandecia a imagem de Jesus”.
Aquela santa educadora revestira-se realmente de Jesus Cristo.

10 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 42

O MATERIALISMO HODIERNO

A geração atual, desprezando os valores do espirito, nenhum interesse mostra pela civilização ou pela cultura. O culto exagerado do corpo manifesta por demais os eczemas da alma. O resultado é o seguinte:
A geração hodierna vê que os jornais dedicam páginas inteiras aos desportos, e algumas linhas aos progressos científicos e aos assuntos religiosos. Por esses jornais (e são eles os culpados!) vê-se como um futebolista, um campeão de boxe, um astro ou estrela de cinema absorvem por completo a atenção mundial. Há sábios trabalhando no silêncio de seus gabinetes e ninguém por eles se interessa. Perguntai aos rapazes de hoje onde fica Atenas ou Sidney, Dublin ou Granada, e responderão com indiferença: não sei! Perguntai-lhes, porém, onde está Hollywood, e seus olhos brilharão de entusiasmo. Perguntai ao ginasiano quem era Miguel Angelo, Pasteur, Marconi, não sabe; perguntai-lhes quem era Greta Garbo, Pola Negri, Rodolfo Valentino, e saberão até o dia em que morreram esses tais. Não sabem a distância que percorre a luz num segundo, mas sabem à maravilha o recorde de natação da última Olimpíada. Não sabem nem aproximadamente a posição ou a altura do Everest, mas sabem com exatidão os recordes dos saltadores. Não saberão dizer quantos Presidentes governaram o Brasil, mas dirão os nomes e a cor dos craques, do Palmeiras ou da Portuguesa.
Deixemos, por enquanto, a apreciação dos conhecimentos religiosos da geração que cresce, porque o ensino religioso nas escolas está mesmo em embrião.
Que será, meu Deus, desta geração materializada e sem ideal algum superior?

Missa Tridentina - Padre Renato - IBP


9 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 41

QUANTO VALE A ALMA

Vós, os que vendeis vossa alma por um nada (por um prazer momentâneo, pelas riquezas perecíveis, pelo fumo de uma honra vã, etc.), quereis saber o que ela vale? Não vo-lo direi eu; dir-vos-á um pobre índio que viveu nas florestas, mas teve a sorte de conhecer e abraçar a verdade católica. Morrera o Padre de Smedt; morrera, como S. Francisco Xavier, com o braço cansado de batizar pagãos e rodeado de urna coroa gloriosa de novos cristãos. Após a sua morte penetraram nas selvas, carregados de ouro e de mulheres, uns quantos missionários protestantes. Um deles, metodista, procurou conquistar para a sua seita o chefe da tribo do Yacamas, a quem batizara o venerável Smedt. Entre o pastor e o índio entabulou-se este diálogo:
— Quanto dinheiro queres para passares para a nossa religião protestante?
— Muito; respondeu o pele-vermelha.
— Quanto? Duzentos dólares?
— Muito mais.
— Quanto, então? 500.000 dólares?
— Muito mais ainda.
— Fala, dize a soma que queres e eu ta darei.
O índio fitou-o fixamente nos olhos, atirou às costas, sua manta de couro de búfalo e, levantando a mão ao céu, segredou-lhe ao ouvido:
— Dai-me o que vale a minha alma!

8 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 40

A RELIGIÃO MAIS ANTIGA

Na Inglaterra encontraram-se certa vez um protestante e um católico. Conversa vai, conversa vem, eis que o protestante, para mexer com o outro, pergunta:
— O senhor não ficaria triste de ver, depois de sua morte, suas cinzas misturadas na sepultura com as desses homens que o senhor considera hereges?
— Não, senhor, respondeu o católico; e sabe por quê? No meu testamento ordenarei que cavem a minha sepultura um pouco mais funda, e já as minhas cinzas se acharão misturadas com as dos católicos.

7 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 39

COMO FAZ BEM A HUMILHAÇÃO

Bem poucos conhecem, mesmo de nome, a São Telmo.
Chamava-se, antes, Pedro González. Era muito moço, mas seu tio, o bispo de Palência, fê-lo cônego daquela catedral. Era o jovem cônego muito vaidoso e gostava demais das honras e dignidades. Sua vida contrastava com a de seus colegas que andavam escandalizados com a sua conduta. Apesar disso consegue seu tio que ele seja eleito deão do cabido. A posse foi marcada para o dia de Natal.
Chegado esse dia, González vestiu um elegante traje cortesão e, montando um ginete magnificamente ajaezado, atravessou as ruas da cidade, com grande escândalo do povo.
Entretanto Deus, em seus insondáveis desígnios, queria servir-se da vaidade de González para impor-lhe uma profunda humilhação. Queria por esse meio levá-lo a melhores sentimentos, fazendo-o sentir quão frívolas e efémeras são as honras mundanas. Chegando a grande praça de Palência, quis fazer seu cavalo corcovear graciosamente, a fim de provocar admiração do público e arrancar-lhe aplausos. Largou o cavalo a toda brida, mas, no meio da carreira, o animal empacou, deu um pinote e lançou o cavaleiro no meio da lama.
A multidão acolheu a queda com uma estrondosa gargalhada. A vaia foi tremenda. O vaidoso deão, coberto de lama até aos olhos, não ousava levantar-se do chão.
Muito salutar foi, todavia, tamanha confusão. Erguendo os olhos ao céu, exclamou: Como? este mundo, a quem eu desejava agradar, zomba de mim!? Pois bem, eu me rirei dele, voltar-lhe-ei as costas, e mudarei de vida.
Abandonou tudo, fez-se dominicano e com o nome de Frei Telmo viveu e morreu como santo.

6 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 38

SALVEMO-NOS NA IGREJA

Os soldados cercam a fortaleza e estão ansiando por atacá-la.
— Soldados, brada o General, amanhá assaltaremos a fortaleza.
— Por onde, meu General?
— Pelo Norte; estai prontos a cumprir as minhas ordens.
Todos se calam e preparam as armas. No dia seguinte o General dá a ordem de assalto. Os soldados atiram-se como leões a muralha do Norte e tomam a fortaleza.
Alguns soldados, porém, por própria conta preferiram atacar pelo Sul e, porque desobedeceram as ordens do General, foram fuzilados no campo de batalha. Este é o poder do General; este é dever do exército.
Pois bem; a vida do homem sobre a terra é uma milicia.
Somos soldados de um exército, cujo General é o próprio Deus. Viemos a este mundo sem outro fim que este: conquistar o reino do Céu. Entretanto, Deus, o comandante supremo, diz: Fora da Igreja não há salvação!
É inútil queremos conquistar o Céu de outra maneira com nossas próprias idéias, nossos próprios métodos. Seremos vencidos e castigados, se não empregarmos os meios, as armas que Jesus Cristo nos dá em sua Igreja.

5 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 37

A IGREJA INVENCÍVEL

Temeis pelo futuro da santa Igreja, quando considerais o ódio e o furor com que a combatem os seus inimigos?
Ah! não vos amedronteis! A história de ontem é a melhor garantia da história de hoje. Muito mais poderosos foram os inimigos da Igreja — plantinha tenra ainda — do que os perseguidores de hoje, quando ela — árvore frondosa e gigante — resiste impávida aos furacões.
Vede o que sucedeu quando Diocleciano foi desterrado e morreu como pobre velho desesperado... quando Galeno foi devorado pelos vermes e reconheceu num edito público a injustiça de seus ataques... quando Maxêncio se afogou no Tibre... quando Maximino expirou no meio de dores atrozes como as que fizera sofrer aos cristãos... quando Licínio caiu sob as armas de Constantino... a Esposa de Cristo (a Igreja) mostrava-se jovem e triunfadora, e saia das catacumbas para empreender suas conquistas vitoriosas, flutuando sobre sua cabeça uma bandeira branca e azul, na qual estavam gravadas as palavras da eterna Verdade: “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela!”

4 de janeiro de 2016

Sermão para o Domingo dentro da Oitava de Natal – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] As palavras de Simeão



Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Consideremos, caros católicos, as palavras de Simeão no Evangelho de hoje. O Evangelho começa após as famosas palavras de Simeão no Templo, ao reconhecer o Menino Jesus como o Salvador, quando seus pais, José e Maria, o trouxeram ao Templo para a sua apresentação. É nesse momento que o velho Simeão canta o belíssimo Nunc Dimittis: “Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra; porque os meus olhos viram a tua salvação, a qual preparaste ante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo.” É diante dessas palavras do velho Simeão que se admiravam José e Maria. Evidentemente, eles já sabiam de tudo isso. Por que, então, se admiravam? Porque os mistérios divinos nos causam admiração cada vez que os contemplamos. Cada vez que paramos para pensar nas verdades sobrenaturais nos admiramos e nos enchemos de novo entusiasmo para servir a Deus. A primeira lição que nos traz o Evangelho de hoje é, portanto, a necessidade de pensar nos mistérios, nas verdades sobrenaturais, para nos mantermos fervorosos na prática da religião.
Em seguida, o Evangelho nos diz que Simeão os abençoou. Aqui, isso significa que Simeão os felicitou. Por que o velho Simeão os felicitou? Primeiro, porque obedeceram à Lei de Deus, que prescrevia, então, que o filho primogênito fosse apresentado no Templo e consagrado a Deus. E obedeceram a essa lei sem estarem obrigados a ela, pois, evidentemente, o Menino Jesus já havia sendo consagrado a Deus desde o primeiro momento de sua concepção, em virtude da união, nEle, da natureza humana e da natureza divina, união que se faz na Pessoa do Verbo. Desde o primeiro instante, então, a humanidade de Cristo havia sido inteiramente consagrada a Deus. A Sagrada Escritura diz constantemente que aqueles que obedecem às leis de Deus serão abençoados. Assim, se queremos nós ser abençoados por Deus, devemos obedecer às leis que nos foram dadas por Nosso Senhor Jesus Cristo. É a segunda lição do Evangelho de hoje. Simeão abençoou-os também porque viu José e Maria cumprirem bem o papel de pais, oferecendo o Filho a Deus. Assim serão abençoados os pais que educarem os filhos para que sejam bons filhos de Deus. É a terceira lição do Evangelho de hoje.
Após isso, Simeão disse a Maria: “Eis que este Menino está posto para ruina e ressurreição de muitos em Israel.” Que Ele tenha vindo para a ressurreição de muitos está mais do que evidente. Nasceu no estábulo em Belém e morreu na Cruz para nos salvar. Todavia, como pode o Menino ser ruína de muitos quando Ele mesmo disse (Lucas 9, 56): “o Filho do homem não veio para perder as almas, mas para as salvar”? A resposta está dada no Evangelho de São João: “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nEle crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado porque não crê no nome do Filho Unigênito de Deus.” E continua o Evangelho de São João: “Nisso está a condenação: a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque suas obras eram más.” Nosso Senhor não veio, então, condenar ninguém, mas quem não crê nEle faz a sua própria ruína. Assim, podemos dizer que Ele está posto para a ruína de muitos. Podemos usar também a imagem de um padre jesuíta do século XVII, Matias Fabro. Ele dizia que Jesus é como uma escada, posta para que se possa subir. Todavia, alguns, usando essa escada indevidamente, podem também cair. Assim, Nosso Senhor está posto diretamente para a ressurreição de muitos. Mas aqueles que não aceitarem Jesus conhecerão a ruína, a condenação. Nosso Senhor pode ser para nós ruína ou ressurreição. É a quarta lição do Evangelho de hoje.
Simeão diz ainda que Nosso Senhor será um sinal ou alvo de contradição. Pela sua Encarnação, Natividade, Paixão, Ressurreição, presença na Eucaristia; pela sua vida sublime, pelos seus mandamentos e conselhos tão perfeitos, Nosso Senhor conheceu, conhece e conhecerá muitos adversários. Seja porque não quiseram submeter a sua inteligência à Verdade, seja porque, reconhecendo a Verdade, não quiseram segui-la, para poderem seguir suas paixões desordenadas. Preferem, então, continuar com uma vida cômoda a seguir a Verdade e ter que mortificar a carne. Devemos submeter nossa inteligência e nossa vontade a Cristo. É a quinta lição do Evangelho de hoje.
As últimas palavras do velho Simeão dizem que os pensamentos escondidos nos corações de muitos se revelarão. Com a vinda de Nosso Senhor e com a Redenção operada por Ele, não é possível ficar indiferente. Assim, também não é possível ficar indiferente ao Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja Católica. Ou se é contra ou se é favor. Trata-se, verdadeiramente, de um sinal de contradição. Contradição entre Cristo e o mundo, entre cristãos e mundanos. Não pode haver acordo entre Cristo e Belial, entre Cristo e o pecado. É a sexta lição do Evangelho de hoje.
Pouco antes dessas palavras finais, Simeão disse a Nossa Senhora que uma espada lhe transpassaria a alma. Uma espada para demonstrar que a dor de Maria seria longa. Não é uma adaga ou algo curto, mas uma espada, longa. A dor de Maria não duraria algumas horas, alguns dias ou alguns anos, mas duraria e durou, efetivamente, desde o momento da encarnação até o momento da Ressurreição de Cristo. Nossa Senhora já sabia o que deveria sofrer, mas as palavras de Simeão colocaram ainda mais claramente diante dela todo o sofrimento pelo qual ela deveria passar. Essa dor longa na duração é também profunda. Por isso, Simeão diz que é a alma de Maria que será transpassada pela espada. É a dor profunda da mais perfeita Mãe vendo os sofrimentos do seu divino Filho, desprezado pelos homens que Ele veio salvar. Nosso Senhora une seus sofrimentos aos de Cristo. Sétima lição do Evangelho de hoje: a corredenção de Maria, quer dizer a sua participação na obra da redenção de Cristo, em total dependência e subordinação a Ele, claro.
Quantas lições para aproveitarmos, caros católicos, nessa oitava de Natal. São algumas das lições dos Evangelhos da infância de Cristo.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

3 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 36

COMO AS MODAS PEGAM

Certo dia, um mau caçador perseguía no juncal duma lagoa numeroso bando de patos silvestres.
Ao vê-lo, fugiram todos. Um, porém, ficou embaraçado e sobre ele disparou o caçador a sua carga de chumbos. O tiro pegou-o no rabo. As penas voaram pelos ares, sobrando só duas, tesas e ridículas, na cauda do pato. Teve vergonha de voltar deformado para o meio de seus companheiros, porquanto zombariam dele e de sua desgraça.
Fugiu, pois, para longe e, em sua vida errante, encontrou-se, um dia, junto duma lagoa com outro bando de patos silvestres. Quando o viram chegar com aquelas duas únicas penas no rabo, os novos companheiros soltaram uma gargalhada e gritaram:
— Olhem que espantalho! donde terá ele escapado?
Um dos patos mais velhos disse sisudamente:
— Pois olhem, parece-me um tipo interessante; talvez venha de Paris e quiçá seja por lá a última moda entre os patos.
Foram perguntar ao recém-chegado, e o astuto (que ouvira a conversa) saiu galhardamente do apuro dizendo que, realmente, aquela era a última moda de Paris.
— E assenta admiravelmente, comentaram as patinhas mais novas. E dentro de poucos dias, essas patinhas (primeiro uma, depois as outras) foram arrancando as penas do rabo, deixando somente duas á moda do hospede.
As patas-mães, a principio, não gostaram muito da novidade; mas, pouco tempo depois, elas também arrancaram as penas do rabo e, pelos arredores da lagoa, só se viam patas desrabadas.
O pato ridículo triunfara em toda a linha.
Entre os homens, e mormente entre as mulheres, há muitas modas que se originaram á semelhança desta. Vieram através das modistas importadas de Paris ou do cinema semipagão. E como nos parecem ridículas!... Oh! quantos sacrifícios para servir á moda, e quão poucos para agradar a Deus!

2 de janeiro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 35

CATÓLICOS DE BATISMO

Há três classes de católicos, a saber: Católicos de batismo, isto é, homens de que se sabe que são católicos porque podem apresentar uma certidão na qual consta que, um dia, foram levados á igreja e batizados; fora disso nem por suas crenças nem por suas práticas poderá alguém reconhecer que são católicos.
Há católicos domingueiros. Ao chegar o dia do Senhor, tomam o seu devocionário ou mesmo o seu missal, ou não levam nada, e vão á igreja para ouvir missa tarde e rápida (sem sermão nem instrução) e feito isso estão quites com Deus toda a semana.
Há católicos de todos os dias. Sabem que ninguém pode ser verdadeiramente católico, quando não o é todas as horas, e se não impregnam de espirito católico todas as suas obras, e se não se comportam como tais em toda ocasião, ordenando sua vida segundo a santa vontade de Deus.
Por que não havemos de ser católicos de verdade? Por que os católicos de batismo são legião, os domingueiros são muitos, e poucos, pouquíssimos os de todos os dias?

Sermão para o 4º Domingo do Advento – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A Encarnação na plenitude dos tempos


Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
Ave Maria…
O Evangelho de hoje começa nos informando de alguns dados históricos relativos ao Império Romano, à situação política na Judéia, na Galiléia e na região da Terra Santa. Informa-nos também a respeito de quem eram os pontífices dos judeus. Está evidente que São Lucas – em bom historiador que investigou diligentemente tudo desde o princípio, como ele mesmo fala no início de seu Evangelho – quer nos dizer com precisão o momento em que o Precursor começa a sua pregação pública. Ele quer nos deixar claro também que tudo o que se passa no Evangelho é verdadeiramente histórico, algo realmente ocorrido naquela região e na época em que viviam essas pessoas. Cita, então, personagens com funções importantes, de quem a história guarda registros precisos da época e do local em que atuaram.
Convém, então, considerar um pouco melhor a situação em que se encontravam o mundo pagão e o mundo judaico no período em que Nosso Senhor vem viver entre nós para operar a nossa redenção. Antes de tudo, devemos compreender que Deus é o Mestre da história, que Ele governa tudo com a sua Providência perfeita. Deus cria os homens e não os abandona. Deus não abandona os homens nem as sociedades, mas os governa e dirige todas as coisas para que as suas perfeições se manifestem ao longo da história. E, como sempre, permite os males em vista de bens muito superiores. Devemos ter uma concepção cristã da história. Devemos perceber o dedo da Providência no emaranhado dos fatos históricos e ver como Deus dirige também as nações sem prejuízo para a liberdade dos homens que a compõem. Foi Santo Agostinho que aprofundou, com muita propriedade, a visão cristã que devemos ter da história.
Com essa visão cristã da história, podemos considerar o momento histórico do nascimento de Cristo. Evidentemente, a Providência escolheu o momento mais conveniente para o nascimento do Menino Deus, a plenitude dos tempos como diz São Paulo (Gal. 4,4), quando o mundo havia chegado na plenitude de sua preparação para recebê-lo. Consideremos o tempo do nascimento de Jesus nos seus dois principais componentes – o Império Romano e o Povo Judeu – e vejamos como preparam a vinda do Salvador. A preparação para a vinda do Messias se fez por aspectos negativos, quer dizer, pelas graves deficiências que exigiam uma solução, e por aspectos positivos, quer dizer, por aspectos que favoreciam a vinda de Cristo.
Comecemos pelo Império Romano, pelo mundo pagão e pelo aspecto negativo, pelas suas deficiências. Religiosamente, o mundo pagão estava em grande decadência. A mistura de inúmeras religiões, com as mais diversas origens, levava muitos ao ateísmo e muitos outros à superficialidade e ao culto de supostos deuses com paixões desenfreadas. O culto envolvia muitas vezes impurezas e grandes crueldades. O estado religioso do mundo pagão era uma calamidade. Também o pensamento no mundo romano havia declinado muito. As duas filosofias dominantes eram o epicurismo e o estoicismo. O epicurismo professava a satisfação das paixões e a fuga da dor, o aproveitamento mundano da vida. O estoicismo era panteísta e professava o erro de que qualquer sentimento era necessariamente ruim. Acreditavam também no destino, destruindo a liberdade humana, e negavam a existência da alma. Portanto, também no campo do pensamento, o mundo romano-pagão estava em considerável decadência. Navida social, a família estava muito longe de sua perfeição. O pai era muitas vezes como um tirano, podendo, por exemplo, reconhecer ou rechaçar seu filho recém-nascido. A mulher, conforme a lei romana, podia também divorciar-se frequentemente, ao ponto que Sêneca dizia que as matronas romanas contavam seus anos de vida pelos maridos que haviam tido. A família, base da sociedade, estava destroçada. A vida moral, diante de tudo isso, era lamentável. São Paulo e mesmo alguns autores pagãos descrevem muito bem a situação, que culmina nas práticas contra a natureza (homossexuais). Dois fatores que muito contribuíam para a dissolução moral eram o luxo e as diversões excessivas, nos dizem os historiadores. A situação da humanidade pagã era dramática. Era necessária a vinda do Salvador.
O Império Romano, por outro lado, também preparou positivamente a vinda de Cristo. A unidade dada pelo Império Romano ao mundo conhecido e a unidade da língua, um grego mais popular chamado coiné, colocou nas mãos dos apóstolos de Cristo um meio incomparável para poder propagar o Evangelho em territórios imensos. Havia, até mesmo pelo cansaço com as inúmeras religiões, certa aspiração pelo monoteísmo. Essa aspiração foi favorecida também pelo contato dos pagãos com os judeus, que estavam presentes nas principais cidades do Império Romano. Esses gentios que simpatizavam com os judeus foram, no mais das vezes, aqueles que formaram os primeiros núcleos cristãos com a pregação dos apóstolos. Apesar da já mencionada decadência na filosofia, muitos elementos verdadeiros permaneceram e ajudaram na aceitação e na disseminação da Verdade, com V maiúsculo, que é Cristo.
Povo judeu, constituído por Deus para preparar o mundo para a vinda de Cristo, fez isso positivamente guardando as verdades reveladas por Deus, professando a existência de um só Deus e seus principais atributos: santidade, bondade, misericórdia, justiça, eternidade, onipresença, sem mescla de imperfeições. Preparou o mundo para a vinda do Salvador também praticando o culto prescrito por Deus, sem impurezas e sem sacrifícios humanos. Um culto que prefigurava o sacrifício do Salvador. Na época da vinda de Cristo, embora já houvesse considerável decadência entre os judeus, o ensinamento oficial continuava correto. A família, apesar de certas imperfeições, era muito mais sólida do que entre os pagãos. Havia pessoas muito santas entre os judeus e que esperavam a vinda do Messias: Nossa Senhora, São José, São Zacarias, Santa Isabel, Simeão e Ana, para dar alguns exemplos. O povo judeu preparou também positivamente a vinda de Cristo pela influência exercida pelos judeus da diáspora sobre os pagãos. Os judeus da diáspora eram aqueles que não estavam na terra prometida, mas em outras partes do mundo. Esses judeus prepararam muitos para o monoteísmo, para uma vida moral mais elevada, para a vinda do Salvador. Não por acaso, vários autores pagãos atestam a existência da expectativa pela vinda do Messias prometido aos judeus no primeiro século de nossa era ou no século precedente, como Virgílio, Suetônio e Tácito. Assim, na época de Cristo, o povo judeu prepara positivamente o mundo para a vinda de Cristo.
Todavia, o povo judeu preparou a vinda de Cristo também pelo aspecto negativo. Na época de seu nascimento, as autoridades judaicas encontravam-se já muito corrompidas. Os dois grupos principais, saduceus e fariseus, não favoreciam o florescimento religioso. O grupo dos saduceus, formado principalmente por sacerdotes, era materialista, negando também a imortalidade da alma. Os fariseus inventavam suas próprias tradições, colocando sobre os homens um sem número de práticas arbitrárias e faziam algumas coisas para aparecer diante dos homens enquanto deixavam de fazer as mais importantes. Eram hipócritas. Também essa decadência entre os judeus clamava pela vinda do Messias, do Salvador.
São Paulo, no início de sua Epístola aos Romanos mostra bem como nessa época o mundo estava mergulhado nas trevas. Era possível ver claramente como a vinda do Salvador era necessária para remediar isso. Na sombra das trevas, era preciso que viesse a Luz das Nações, Cristo. Nosso Senhor nasce no meio da noite, da escuridão, para dissipá-la. Por outro lado, vários elementos favoreciam essa vinda porque facilitavam a difusão da doutrina de Cristo de modo ordenado.
Nosso Senhor vem ao mundo na plenitude dos tempos. Não convinha, de fato, que o Verbo se Encarnasse logo depois do pecado original. Se Ele tivesse feito assim, a humanidade daria pouquíssimo valor ao Redentor, sem perceber a gravidade do pecado e sem perceber a necessidade que tem do Salvador. Não convinha, por outro lado, que o Verbo se encarnasse próximo ao fim do mundo, pois os homens poderiam cair em desespero.
O Verbo encarnou-se, então, na plenitude dos tempos, no momento conveniente, para mais favorecer a nossa salvação. É Deus o Senhor da história, que dispõem todas as coisas de maneira suave e forte de acordo com a sua Sabedoria infinita, que dispõe mesmo o emaranhado dos episódios históricos.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.