19 de janeiro de 2016

Sermão Domingo da Epifania - Padre Renato Coelho IBP


Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.


Hoje festejamos a solenidade da Epifania, no domingo que se segue ao dia da Epifania que é o dia 6 de janeiro. A epifania é a manifestação de Deus para o mundo. Seu nascimento se torna público, tanto para os judeus, representados pelos pastores, como para os pagãos, representados pelos Reis Magos, Magos aqui significando Sábios, não feiticeiros...

Para cada um, o conhecimento do nascimento do Messias aparece de modo diverso. Para os judeus, na forma de anjos que cantam a glória de Deus, gloria in excelsis Deo, para os Reis Magos, na forma de uma estrela muda, que os guia misteriosamente em direção do Messias.

O anjo é uma criatura intelectual, e é mais nobre para o homem, também criatura intelectual, ser tratado por outra criatura intelectual. No entanto, para mostrar as trevas do paganismo, o homem pagão é tratado como sendo uma criatura irracional, que não é guiada por idéias e princípios, mas por símbolos, luzes, brilhos e sentimentos. Esse homem pagão se assemelha bastante ao homem moderno, que dificilmente entende um argumento racional, um silogismo, mas prefere conduzir sua vida de acordo com o que “brilha mais”. Por isso o homem moderno tem tanta veneração pelo cinema, onde tudo brilha a todo momento, e sua parte intelectual é deixada de lado. 

Alguns pesquisadores, embora não fosse preciso de pesquisa para isso, estudaram que as pessoas comuns tomam posições políticas e morais (ou mudam de posição) com bases em filmes que assistem mais do que por outros meios de formação. Nada mais fácil do que endoutrinar uma massa por meio de imagens e “brilhos” ao invés de discursos e argumentos. 

Nada mais humilhante para um católico do que se deixar levar pelos sentimentos e não pela razão, preferindo se guiar como faz um animal, que tem fome, sede, busca se reproduzir e não pensa nas coisas do alto. Se o nosso fim é a terra e nada podemos fazer para progredir, então que vivamos como os porcos! Mas se o Messias veio nos curar as feridas e nos mostrar que o nosso fim é o Céu, então rejeitemos de todo o coração esse estilo de vida pagão, que é visto tão facilmente nas ruas da cidade.

Por outro lado, a misericórdia de Deus quer levar todos os homens ao Messias, judeus e pagãos, para que todos se reconheçam miseráveis diante de Deus e reconheçam que precisam do Messias para curar suas feridas na alma. Deus quer que saíamos da condição de pagãos ou de servos, como eram os judeus no Antigo Testamento, para sermos então filhos adotivos de Deus, isto é, católicos, e assim, co-herdeiros do Céu.

Mas infelizmente muitos católicos parecem não compreender isso. Desprezam o título de filhos adotivos de Deus e buscam com o seu coração a vida de servos ou de pagãos. Há filhos que criticam os pais, naquilo que os pais simplesmente fazem de lhes transmitir os ensinamentos da religião católica, e nisso demonstram amar mais a condição de pagão do que a condição de católico, pois ser católico hoje implicaria em ser “esquisito”, “fechado”, “fora de moda” ou “exagerado”. 

Tais filhos crescem materialmente, mas deixam muito a desejar no crescimento espiritual. Há pais que só ficam espantados se o filho apresentar alguma anomalia no seu crescimento e desenvolvimento biológico, mas não ficam alarmados ao os verem crescer, mantendo-se ainda em estado infantil - ou até mesmo fetal - de vida espiritual. Há uma desproporção entre o crescimento religioso e o crescimento humano. Há jovens na faixa dos 16, 17, 18 anos de idade com progresso religioso estacionado nos 4, 5 anos de idade! O que impressiona ainda mais nesse congelamento espiritual é que, com o avanço da idade, também avança o pecado original, que se torna cada vez mais visível interna e externamente na vida de cada um. Mas como combater as tentações de alguém com 16, 17 anos, usando os meios para se combater as tentações próprias de uma criança de 5, 6 anos? Se alguém com 17, 18 anos, pensa na vida espiritual do mesmo modo que pensava quando tinha 5, 6 anos de idade, então há aí um problema. Com 5, 6 anos de idade, uma criança não se preocupa em mortificar sua visão, pois não vê necessidade nisso. Mas quem com 17, 18 anos não vê a utilidade de se evitar a olhar certas coisas e evitar as curiosidades, demonstra não saber distinguir o bem do mal, a virtude e a força para fazer o bem daquilo que favorece o pecado original e suas más inclinações. Para uma criança de 5, 6 anos, bastava rezar com a família, uma oração ou outra, por exemplo, antes de dormir. Para alguém de 17, 18 anos, principalmente no mundo atual, limitar sua vida espiritual apenas a isso, sem ter a iniciativa de dizer um terço todo dia, ou de fazer uma leitura de algum santo, demonstra preferir voltar à condição de servo, de pagão, e não de continuar a ser filho adotivo de Deus e de continuar a progredir na vida católica.

Como dizia São Paulo ao povo que catequizava por um longo tempo: “a julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Todavia, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da palavra de Deus; e vos tornastes tais, que precisais de leite em vez de alimento sólido! Ora quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma doutrina profunda, porque ainda é criança, mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal” (Hb 5, 12 seg.). Um pai ou mãe de família ficaria espantado ao ver algum de seus filhos de 15, 16, 17, 18 anos andando de chupeta por aí. Mas curiosamente, não ficam espantados ao vê-los agindo como bebês espirituais.

Há o jeito fácil e o jeito difícil de aprender as coisas, sobretudo no campo espiritual. Aqui está sendo proposto o jeito fácil, a vida normalmente ensina do jeito mais difícil. Como dizia um ditado: “Deus perdoa sempre os que pedem com sinceridade; os homens, às vezes; a natureza, nunca”. É preciso mostrar aos jovens os valores da vida católica e os fins elevados a se buscar. Que busquem estudar algo para poderem ensinarem aos outros. Trabalhem e ganhem bem para poderem ajudar financeiramente os outros. Evitem o mal e façam o bem!

Termino citando mais uma vez S. Paulo: “desvencilhemo-nos das cadeias do pecado. Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador da nossa fé, Jesus. Em vez do gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente aquele que sofreu tantas contrariedades dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado. Estais esquecidos da palavra de ânimo que vos é dirigida como a filhos: Filho meu, não desprezeis a correção do Senhor. Não desanimeis, quando for repreendido por Ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho (...) mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos. Aliás, temos na terra nossos pais que nos corrigem e, devemos olhá-los com respeito. Com quanto mais razão não devemos nos submeter ao Pai de nossas almas, o qual nos dará a vida? Os primeiros, nos educaram para pouco tempo, segundo a sua própria conveniência, ao passo que este o faz para o nosso bem, para nos comunicar a sua santidade. 

É verdade que toda correção parece, na hora, um motivo de pesar mais do que de alegria. Mais tarde, porém, obtém aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de paz”. (Hb 12: 1 seg.). 

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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