29 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 521 e 522

E VAI AOS TEATROS E CINEMAS?

1. Um pai, amigo dos teatros, disse a sua filha que se preparasse porque iriam juntos ao teatro.
A moça, que havia pouco deixara o colégio, onde só aprendera bons costumes, respondeu com modesta" franqueza:
— Papai, eu tomei a resolução de nunca por os pés num teatro. Este meu propósito é inabalável.
O pai, admirado e comovido, respondeu:
— Minha filha, fizeste muito bem; aprovo o teu propósito.
Quantos pais serão capazes de dar semelhantes respostas?
2. Um jovem conde apresentou-se na casa de uma nobre senhora, para pedir-lhe a mão da filha. A augusta senhora, entre outras coisas, disse-lhe:
— Sr. conde, quero que saiba o seguinte: minha filha nunca leu uma novela e jamais em sua vida entrou num teatro. Serve- lhe para esposa?
A resposta do jovem conde não podia deixar de ser afirmativa. Não é de hoje que a inocência da donzela é muito mais procurada e estimada do que os trapos de rainhas dos teatros e salões.
Quantas mães poderiam dizer o mesmo?...

Aviso: Missa Tridentina do dia de sábado na Capela do Hospital Militar

Prezados Leitore, Salve Maria!

Excepcionalmente no dia de amanhã (sábado) a missa será no horário das 18:30 horas.
Após a missa haverá conferência com o Padre Renato Coelho no mesmo local.

Um grande abraço em Cristo.

Administração do Blog São Pio V

28 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 520

A SENHORA LÊ NOVELAS?

Numa missão que se pregava em Marselha, na Franca, uma senhorita foi confessar com um dos missionários.
Perguntou-lhe o confessor se não lia novelas, e ela respondeu que sim, mas só para passar o tempo, pois as novelas não lhe faziam mal nenhum.
— Bem — replicou o missionário; mas, antes disso, a senhora não era mais piedosa?
— Muito, sr. Padre.
— Mas nunca lia novelas?
— Naquele tempo não, sr. Padre.
— E, certamente, era mais obediente, rezava mais e melhor e recebia sempre os Sacramentos, não?
— Sim, sr. Padre.
— E não escutava novelas?
— Não, sr. Padre.
— Como então diz que as novelas não lhe fazem mal? Então elas não lhe arrebataram tantos costumes piedosos e tantas e tão delicadas virtudes? Quem não vê e não sente que as novelas dissipam o espírito, fazem perder tempo precioso e incutem ideias e pensamentos perigosos?
A verdadeira piedade e a leitura ou audição de novelas são incompatíveis: ou uma coisa ou outra. Depois de tais leituras, os livros espirituais parecem insípidos e aborrecidos; depois de seguir com a alma exaltada o herói da novela, a vida dos santos cai-nos das mãos; depois de impregnados das ideias mundanas, o Evangelho parece-nos uma loucura.
E ainda há gente que se admira de ter pouca fé, pouco amor de Deus?

27 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 519

QUE BELEZA DE SENTIMENTOS!

Era um menininho de seis anos que foi com sua mamãe visitar um pobre e levar-lhe alguma esmola.
Pedrinho — assim se chamava o pequeno — ao entrar naquela habitação, onde não havia mais que um cômodo, viu ali outro menino, pequeno como ele. Duas coisas ele estranhou: aquele menino não tinha cama e não tinha brinquedos.
— Mamãe — disse ao voltar para casa — se mandasses minha cama aquele menininho pobre que visitamos, como não ficaria contente o Menino Jesus!
— E tu, onde dormirás então? — perguntou a mãe.
— Eu — respondeu o pequeno com ar de satisfação — eu dormiria contigo na cama grande.
— Mas, então — replicou a mãe — tu sairias ganhando, e o Menino Jesus só está contente quando lhe oferecemos alguma privação, algum sacrifício.
O menino pôs-se a pensar e, dali a pouco, trazendo num avental todos os seus brinquedos, todos, menos um gatinho que miava ao apertar-se uma mola, disse:
— Mamãe, se mandássemos ao menino pobre estes meus brinquedos... que tal?
— Muito bem — respondeu a mãe — vem cá, quero abraçar-te. És muito bonzinho.
Na manhã seguinte, estando de novo juntos mãe e filho, dizia o pequeno:
— Mamãe, agora sim: o menino pobre deve estar contente com os meus brinquedos.
Mas aquela senhora, para ver até onde chegava a bondade do coração de seu filhinho, disse:
— Sim, estará contente; mas faz-lhe falta um gatinho que diga “miau, miau”, como o teu.
Compreendeu o menino o que ela lhe queria dizer; correu ao quarto, trouxe o gatinho e, entregando-o a sua mãe, disse-lhe em voz baixinha, quase soluçando:
— Ai está o meu gatinho... manda-o ao pobre... assim o Menino Jesus estará plenamente satisfeito.
Assim é que os filhos aprendem a amar e fazer bem aos pobres. Felizes as crianças, e felizes as mães que souberem formar em seus tenros corações tão lindos sentimentos!

26 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 518

REZAIS POR VOSSOS FILHOS?

Quantos pais, quantas mães rezam pela santificação de seus filhos? Entremos nos pormenores da vida...
O filho atrevido diz palavrões... O filho, teimoso e soberbo, não quis ir à Missa no domingo... O filho, libertino e sensual, entra em casa altas horas da noite, após ter arrastado a alma pelo lodo... O filho insolente lé diante de vossos olhos revistas imorais... traz nos bolsos postais e retratos escandalosos...
Das filhas sabeis que andam em companhias levianas, dão exemplos repugnantes; que são desobedientes, altivas e vaidosas; que sonham somente com diversões pecaminosas; bailes, cinemas e passeios...
E as mães sorriem a tudo e dormem tranquilas!...
E os pais palestram e jogam e não se incomodam!...
Conheci uma mãe que todos os dias fazia a Via-Sacra para que seu filho, de dezesseis anos, não cometesse pecado mortal.
Conheci uma mãe que comungava todas as manhãs para que seu filho, estudante, não se ajuntasse às más companhias.
Conheci uma mãe que tomava disciplina para conseguir que sua filha não arrastasse pela rua a honra e a alma.
Conheci um cristão exemplar que todas as noites passava meia hora em oração para expiar os pecados que seus filhos pudessem ter cometido no correr do dia.
Se alguém que acaba de 1er isto ainda sorri, eu só posso exclamar: — Pobres pais! perderam a razão e a fé.

25 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 517

MÃES, LEDE COM ATENÇÃO!

Era um anacoreta, que vivia nas solidões do deserto. Uma tarde, quando andava pelos arredores de seu rancho, ouviu ao longe um gemido doloroso. Para e escuta.... Era, sem dúvida, um ser humano que viera chorar por aqueles ermos solitários alguma grande desventura.
O servo de Deus corre para o sitio donde partiam aqueles gritos de dor. Sobre uma pedra estava sentada uma mulher vestida de luto. Tinha os cotovelos apoiados sobre os joelhos, a cabeça oculta entre as mãos, e chorava e dava gritos de dor; e, ás vezes, entre mudos soluços, corriam-lhe pelas faces as ardentes lágrimas de mãe.
— Mulher, por que choras? — interrogou tímido o anacoreta.
Levantando-se, como movida por uma mola, perguntou ela por sua vez:
— Sabes tu o que é uma mãe?
— Sim, tive uma mãe, que amei com todo o meu coração; mas, ai! já morreu.
— Pois bem, eu sou uma mãe, sou uma viúva; eu tinha um filho único, o mais amável entre os filhos dos homens; mas vieram os beduínos do deserto, arrancaram-me dos braços o meu filho e levaram-no consigo lá... lá longe... muito longe!... e seu dedo trêmulo indicava a imensidade do horizonte... e de seus olhos brotaram duas faíscas, que logo se apagaram afogadas num mar de lágrimas. E caiu morta nos braços daquele santo solitário!
Mães! mães! que lindos, que simpáticos, que amáveis eram os vossos filhos! Eu os saudei, como saúdo o sol que nasce esplendoroso atrás dos montes, como saúdo a flor que abre pela manhã sua linda corola sobre a haste gentil...
Qual era então o vosso sonho, o vosso sonho dourado? Ah! que vossos filhos fossem cheios de fé como vós, bravos defensores da santa Igreja, soldados heroicos de Jesus Cristo... Mas ai! vieram os beduínos do deserto, vieram os ímpios, arrebataram-lhes a fé e levaram-nos lá... lá longe... muito longe, para com eles engrossarem as fileiras dos incrédulos e dos inimigos de Cristo e de sua Igreja. E seu número crescia... crescia como as gotas do oceano, como as areias das praias.

Pobres mães! Chamai vossos filhos, fazei-os sentar-se ao redor de vós e dizei-lhes uma e mil vezes:
— Filhos, amai a Deus, amai a Jesus e Maria, amai e respeitai a santa Igreja!

24 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 516

NA CAPELA DO COLÉGIO

Mais de duzentas meninas e jovenzinhas enchiam a linda capela do Colégio de Nossa Senhora da Piedade. Como estavam recolhidas e atentas! Estavam em retiro espiritual.
Era o momento do sermão. Sentadas todas em seus bancos, imóveis como anjos ao redor do trono de Deus, tinham os olhos pregados naquele velho missionário que lhes falava com a doçura de uma criança e a convicção tão amarga de um ancião.
As vezes riam-se, as vezes choravam. Nos olhos de algumas notavam-se já os lúgubres reflexos dos remorsos; nos de outras, o vago e cândido olhar da inocência.
Naquela tarde o missionário de Deus, com seu Crucifixo ao peito, lembrava-lhes a grave obrigação que tinham de amar a Deus desde seus primeiros anos; de repente, com voz fogosa, mas impregnada de inefável bondade, apostrofou-as: “Que dizeis? Que me respondeis? Ai! uma voz tímida e envergonhada, lá do fundo do vosso coração, me responde: Mais tarde! mais tarde!... Ouvistes, ó meu Deus? Dizem sempre: Mais tarde! — Mais tarde! diz a menina entretida com seus jogos infantis... Mais tarde! diz a jovem, quando goza dos prazeres da juventude e quando toma estado... Mais tarde! diz a mulher casada, porque tem marido e filhos para zelar... Em todas as idades diziam: Mais tarde! E, enfim, essas velhas encurvadas sob o peso dos anos, essas velhas sem energias nem para o bem nem para o mal, essas velhas que o mundo vai empurrando como múmias para o cemitério, voltam-se a Deus e dizem: Agora, meu Deus, agora vos queremos amar! As energias da mocidade para o mundo e os achaques da velhice para Deus... Parece-vos bem isso?
As formosuras da juventude para o mundo e as rugas da velhice para Deus... Parece-vos bem isso?
As alegrias da mocidade para o mundo e os remorsos da velhice para Deus... Parece-vos bem isso?
O melhor vinho da juventude para o mundo e os resíduos asquerosos da velhice para Deus... Parece-vos bem isso?
Repito: Que vos parece? Está certo isso?
Mais tarde!... e quem sabe se não morrereis amanhã?
Então muita gente desfilará diante de vossa sepultura, onde vossa mãe estará chorando sobre vossos ossos descarnados, e o vosso anjo da guarda escreverá sobre o mármore que cobre vossos restos mortais: “Aqui jaz uma jovem... Morreu aos vinte anos... Pena que não tenha tido tempo de ser boa!”
Mais tarde!... E quando chegar o momento de vossa morte, quando quiserdes amar e servir a Deus e a morte erguer inflexível o seu alfanje, sentireis remorsos inexplicáveis e chorareis; mas o vosso anjo vos dirá: “Chorai como virgens loucas o que não soubestes fazer como virgens prudentes...”
O missionário calou-se.
As meninas choravam; e todas, no mais fundo do coração diziam: Hoje, meu Deus, hoje mesmo começaremos a vos amar. Sim, é justo que vos amemos e vos consagremos a nossa mocidade, e toda a nossa vida.
Que os Anjos digam: Amém! assim seja.

23 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 515

AS RESOLUÇÕES DE CARMINHA

Carminha chegava do colégio. Era de ver como estava alvoroçada e contente!
— Mamãe — disse saltando sobre os joelhos da mamãe e abraçando-a com ternura — mamãe, se soubesses que coisas lindas nos contou hoje o Padre Capelão!...
— Pois quais foram essas coisas tão bonitas? — interrogou a mãe, vendo que a filhinha estava doidinha por contar-lhe tudo.
— Queres que te conte tudo?
— Sim, meu bem; vamos ver como me pregas teus sermões.
Pois ai vai.
E a inocente criança, sem exórdio nem preâmbulos, começou:
— Uma vez apresentaram-se à porta do céu muitas meninas, como eu assim, e saiu a recebê-las o Menino Jesus e disse-lhes:
— Vamos ver, meninas: do que é que vocês gostavam mais lá no mundo?
E uma disse:
— Eu gostava do teatro.
E outra:
— Eu, do cinema.
E outra acrescentou:
— Eu, dos bailes infantis.
Mais uma exclamou:
— Eu gostava de sair a passeio com os vestidos mais lindos.
E uma, que se chamava Carminha, como eu, estava calada e não falava, mas parecia um anjinho lindo, lindo mesmo. E então perguntou o Menino Jesus:
— E você, anjinho de doze anos, que é que você amava no mundo?
E Carminha respondeu:
— Eu no mundo só amei — como minha mãe me ensinou — a Deus, a Jesus, a Maria Santíssima, a Igreja, a meus pais e aos pobres.
Então o Menino Jesus tomou-a pela mão e meteu-a no céu, e depois trancou a porta; e então. vieram alguns diabos, muito pretos e muito feios, e agarraram as outras meninas e levaram-nas para o inferno... Agora, mamãe, vou contar-te as resoluções que tomei. É assim: “Para conservar, a inocência de meu coração amarei: a Deus — a Jesus — a Nossa Senhora — a Igreja — a meus pais e aos pobres”.
— Bravo, Carminha! Bravo! Sê fiel aos teus propósitos e o Menino Jesus te levará para o belo céu, a fazer companhia aos anjinhos de Deus.

22 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 514

COMO ESTUDAVAM GRANDES SÁBIOS

O grande astrônomo Leverrier, sem mais telescópios que os cálculos matemáticos, descobriu, vagando pelos espaço, um novo imenso planeta. Seu nome voou nas asas da fama, até os últimos recantos do mundo.
— Amigo — disse-lhe ao visitá-lo o Arcebispo de Paris, — agora sim que com toda verdade se pode dizer que o vosso nome chegou até aos astros.
— Aspiro a muito mais — respondeu gravemente o astrônomo.
— A muito mais? — replicou o Arcebispo.
— Sim — respondeu Leverrier levantando os olhos ao céu, — aspiro chegar até Deus.
Recamier, o médico famosíssimo a quem consultavam reis e imperadores e cujo olhar perscrutador penetrava todas as maravilhas do organismo humano, caía de joelhos e exclamava, pasmado de admiração: “Só a mão de Deus pode tecer no corpo humano tantas maravilhas. O médico que não vê isso está cego”.
Além disso, Recamier rezava todos os dias o santo rosário... e jamais começava uma operação cirúrgica sem rezar antes uma Ave-Maria.
Jovens estudantes, assim se estuda, e assim se pratica a medicina... Antes de tudo e acima de tudo, Deus!
Sabeis mais física do que o insigne Volta? Tendes feito mais descobertas que o prodigioso Ampere? Pois Volta atribuía sempre a Deus suas maravilhosas invenções, e Ampere ia quase todos os dias buscar na divina Eucaristia as luzes de que necessitava para sondar os arcanos da natureza.
Vede aquele homem que acaba de comungar e que, feliz com o tesouro que leva em sua alma, se retira a um canto da igreja e ali cruza as mãos sobre o peito e reza como se estivesse num êxtase sublime? Deixai-o, não perturbeis seu repouso; é um grande artista e veio inspirar-se em Cristo, fonte de toda beleza... Acompanhai-o e vede como toma a paleta e o pincel... Que traços! Que fisionomias! Que sombras! Que colorido!
Quem é? É um grande artista, é um grande cristão é João de Juanes.
— Deixe-me rezar mais um pouco — diz aquele homem ao sacristão de Sevilha, que, impaciente, quer fechar a igreja.
— Até quando?
— Mais um pouco; estou a terminar o meu rosário... Quem era aquele homem, ali ajoelhado até tarde?
Aquele homem era o grande Murillo, o pintor maravilhoso. Rezava!... Rezam também hoje essas centenas de pintorezinhos que só sabem traçar estúpidas caricaturas e nudezas pagãs? Ah se rezassem, a coisa seria outra!

21 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 513

HISTÓRIA DE UM INFELIZ

Já ouviste falar do famoso Lamennais? Era jovem sacerdote. Tomou a pena e escreveu, e o mundo inteiro saudou-o como novo e invencível defensor da santa Igreja. Que estilo enérgico e brilhante! Que lógica severa e contundente! Que eloquência magnífica e vigorosa! Parecia que o gênio de Tertuliano se levantava do túmulo para condenar com punho de ferro os erros do século dezenove.
O Papa quis conhecer aquele jovem cuja fama cem trombetas apregoavam. Lamennais pôs-se a caminho Ao atravessar a Suíça passou uma noite num convento de Padres Redentoristas, e falou-lhes, com aquela palavra que seduzia e fascinava, de seu planos de defesa da Igreja Católica... Ouviam-no com assombro.
No dia seguinte, depois da partida do famoso peregrino, o Reitor da Comunidade, que era um santo, perguntou a seus religiosos:
— Que pensam os srs. desse jovem sacerdote?
— É um sábio, é um novo atleta da fé — responderam.
— Ai! — replicou o ancião, movendo tristemente a cabeça
— um sábio é verdade; mas me causa medo.
— Medo? De quê?
— De que se perca.
— De que se perca?... Como assim?...
E o santo religioso em tom de profunda convicção, exclamou:
— Estuda muito, mas... não reza... não reza!
Alguns dias depois, Lamennais conversava com o Papa, o qual, após a entrevista, disse aos Cardeais: “Que homem!... É uma inteligência de demônio!” E que demônio! Levantou a voz contra a autoridade da Igreja, julgou-se mais sábio que o próprio Deus, e os raios da excomunhão caíram-lhe sobre a cabeça. Retorceu-se o herege Como Lúcifer, mas humilhar-se, nunca. Infeliz!
De sua sombria solidão lançava todos os dias aos quatro ventos páginas Ímpias em que derramava todo o veneno de sua alma orgulhosa. Morreu como morreria Lúcifer, se a morte pudesse feri-lo com sua foice. “Não coloqueis sobre o meu túmulo uma cruz; pesa-me demasiado!” — dizia agonizando.
Jovens estudantes, estudai; mas estudai com humildade. O orgulho tem sido a ruína de muitos.

20 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 512

AH! SE EU FOSSE COMO ELA!...

Lede e meditai. Uma alma, na primavera da vida, perderá sua piedosa mãe. Com ela talvez tivesse percorrido sem deslize a espinhosa senda da juventude; mas sem ela, ai! pobre jovem! caiu e, cegada pelas paixões, alucinada pelo mundo e seduzida pelo demônio, ia rolando de abismo em abismo, de vergonha em vergonha...
Um dia, estando num jardim, apanhou um papel levado ali pelo vento e leu:
— E tua mãe?
— Morreu, sr. padre.
— Era boa?
— Ah! minha mãe... Fosse eu como ela!... Era uma santa!
— Então, não duvides, ela está no céu.
— Oh! sim, ela está no céu. Mas, ai! desde que ela faleceu, o mundo... minhas amigas... o demônio... meu caráter... Ai! sou uma desgraçada! Se minha santa mãe o soubesse?!
— Minha filha, tua mãe, do céu onde está, sabe tudo, vê tudo.
— Será, padre, que ela me vê?
— Sim. Segundo a nossa fé, tua mãe te ama no céu quase infinitamente mais do que te amava neste mundo. De lá segue os teus passos, ouve tuas palavras, vê tuas ações, sonda os teus pensamentos.
— Meu padre, tenho medo! Morro de vergonha!
— Escuta bem, pois raramente se pensa nisto. Tua mãe no céu, ao ver-te cometer um pecado, se pudesse sofrer, sentiria tamanha tristeza, que no mesmo instante morreria.
— Então, pecando, sou assassina de minha mãe?
—. Sim, da mesma forma que és assassina de Deus.
— Ai! de mim! Ai! mil vezes tenho pecado! Mil vezes tenho sido assassina de minha mãe!
— Não te esqueças, porém, minha filha: se rezas, comungas, lês um livro espiritual, praticas uma obra de caridade, tua mãe, ao contemplar-te do céu, sente tanta alegria, que, se pudesse morrer, morreria de gozo.
A folha de papel estava rasgada e aquela jovem pecadora não pode 1er mais. Contam, porém, testemunhas oculares que desde aquele dia se operou uma mudança completa naquela alma.
Não é mais a pecadora. Tornou-se a cópia da mãe.

19 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 511

MAMÃE, SERÁ ASSIM O FOGO DO INFERNO?

Em princípios do século passado vivia na cidade de Amiens, na Franca, um menino chamado Luís Francisco de Bauvais, cuja inocência era o encanto de quantos o conheciam. Um dia, quando estava se aquecendo ao pé do fogo em companhia de sua mãe:
— Mamãe? — perguntou-lhe, — será assim o fogo do inferno?
— Meu filho — respondeu-lhe a piedosa mãe, — o fogo do inferno é muito mais quente e abrasador; este, comparado com aquele, não é mais que fogo pintado.
— E se eu caísse nele? — acrescentou aquele anjinho tremendo de medo.
— O inferno, meu filho, foi feito só para os pecadores. Se fugires do pecado, nada terás que temer.
Aos catorze anos morreu aquele menino admirável e, envolta a sua alma na alvíssima veste da inocência, voou para o céu.
O pensamento do inferno, a lembrança daquele fogo abrasador é meio eficaz e poderosíssimo de conservar a inocência ou de recuperar a graça de Deus, quando perdida.

18 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 510

A “FLOR DO BOSQUE”

S. Agostinho, chorando os erros e desvarios de sua mocidade, escreveu: “O nome de Jesus Cristo permaneceu sempre no fundo do meu coração; sem este nome, nenhum livro por profundo que fosse, era capaz de encher a minha alma; sempre ficaram no fundo do meu ser fibras delicadíssimas, que só esse nome sabia tocar e comover profundamente”.
— Será certo, senhor bispo, que Jesus Cristo morreu por mim? — perguntava um dia a seu catequista uma pobre órfãzinha.
— Minha filha — respondeu o prelado — Jesus morreu por ti e por todos os homens.
— Mas, — insistiu a pequena, — pensava Ele em mim? Agora Ele me vê? Sabe o meu nome?
— Sim, minha filha, — respondeu o santo catequista; — Jesus, quando sofria e morria, pensava em ti e em todos os homens; e agora sabe o teu nome e vê se és boa ou má.
A menina ficou pensativa... Foi a um bosque vizinho, colheu algumas flores, vendeu-as e com o produto adquiriu um crucifixo e, contente com aquele tesouro, retirou-se a seu bosque favorito, e ali passava horas e dias meditando na Paixão de seu Jesus. Roma toda a conhecia e amava. Como se chamava aquela jovenzinha? Ninguém o sabia: todos a chamavam a “Flor do bosque”.
Um dia a santa menina desapareceu. Foram procurá-la. Encontraram-na em sua querida solidão. Estava morta e recostada sobre um leito de folhas verdes sob os ramos de loureiros odoríferos. Suas mãos juntas apertavam ainda sobre o coração seu querido crucifixo...
Parecia um anjo adormecido!
Oh! como Jesus crucificado sabe atrair os corações!

17 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 509

MAJESTADE, FALTAM MÃES!

Calem-se os filósofos! Napoleão tem a palavra.
Falava certo dia o grande imperador Napoleão I com a sábia e famosa Madame Campan sobre os meios que se deveriam empregar em França, para formar uma geração nova de princípios sãos, de alma sã, de coração nobre e são.
Começou o general a traçar, planos e a expor sistemas com o mesmo tino e segurança com que andava nos campos de batalha. Escutava-o com atenção e sem dizer palavra a inteligente senhora; e quando ele parou de falar, disse ela com nobre liberdade:
— Majestade, a meu ver, uma coisa falta em França para que meninos e jovens saiam bem educados e consigamos essa brilhante regeneração que todos desejamos.
— Qual? — perguntou o imperador.
— Majestade, faltam mães.
Napoleão ficou um instante pensativo, e logo, compreendendo toda a extensão daquelas palavras, disse:
— Tendes razão: faltam mães. É, pois, necessário formar boas mães, que metam nos corações dos filhos as ideias cristãs, as verdades da fé, e a França estará regenerada.
Faltam mães! Não poderia ter acrescentado: faltará pais?
Nessa ocasião, o grande imperador, que as vezes recuperava o senso cristão que perdia nos campos de batalha e nos esplendores do trono, ao entregar seu filho aos cuidados da virtuosa senhora de Montesquieu, disse:
— Senhora, entrego-vos este meu filho, sobre o qual repousam os destinos da França e talvez de toda a Europa; fazei dele um grande cristão.
E houve alguém que, ao ouvir essas palavras, pôs-se a rir. Napoleão, porém, indignado, disse-lhe:
— Sim, senhor; eu sei o que digo; é preciso fazer de meu filho um bom cristão, porque, do contrário, não será bom francês.
E Napoleão não era, afinal, um reacionário nem um clerical; mas era um homem inteligente e sensato.

16 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 508

AS MÃES DEVEM SALVAR OS FILHOS

Aquela era uma pobre mãe. Seu filho, aquele filho em cujo coração desde os mais tenros anos infundirá o santo temor de Deus, agora, aos vinte, dominado pelas paixões, seduzido pelos amigos, desapareceu de casa. Sobre a mesa do quarto deixou uma ímpia e ingrata carta, e sobre a carta a medalha de congregado mariano. Pobre mãe! Quem poderá compreender a grandeza de sua dor? Chorava inconsolável, e com ela choravam também duas virtuosas filhas, único bem que neste mundo lhe restava.
Um dia, numa visita, confiou sua imensa pena a um religioso. Este ouviu-a com atenção e, depois, disse:
— Compreendo, minha senhora, a sua dor: seu filho morreu para Deus, o que é pior do que se tivesse morrido para este mundo; mas, creia-me, esse filho sairá do abismo, e voltará ao bom caminho quando a sra. o quiser.
— Quando eu quiser?
— Sim; mas há de querer deveras.
— Quero deveras, Padre.
— E quer com toda a sua alma?
— Quero, Padre, com toda a minha alma.
— E é preciso querer com a energia do desventurado que, ao rolar por um precipício, agarra-se a tudo que encontra; e com o entusiasmo do soldado que, para reconquistar a sua bandeira, assalta a trincheira inimiga mesmo quando o sangue está a correr de suas feridas.
— Sim, Padre, é assim que eu quero!
— Pois bem; continue sendo sua mãe; continue educando-o mesmo de longe; chore muito, reze mais, faça penitência, escreva-lhe cartas ardentes. Que suas filhas a ajudem, a acompanhem, a sustentem, e o filho pródigo voltará.
E o filho pródigo voltou, e com sua volta, reinou a paz e a felicidade naquela família cristã.
Salvou-se porque sua mãe o quis.

15 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 507

A JOVEM QUE SOFRIA ACESSOS DE LOUCURA

Filha única de pais honestos, que ganhavam a vida cultivando sua pequena propriedade, aquela jovem era a mais tranquila e religiosa do mundo. Uma tarde esperava em vão o pai que partira de madrugada para um povoado vizinho. Sozinha com a mãe, ao pé da lareira apagada, vivera horas de sobressalto, julgando ouvir a cada instante os passos do pai; em seguida saíra para fora e, rodeando a casa, chamava-o continuamente.
— Voltará amanhã cedo — dissera-lhe a mãe — mas o sol saíra e entrara e o pai não aparecera. Pesquisaram, interrogaram os amigos e conhecidos, mas tudo em vão. O silêncio tornava-se mais profundo, o mistério mais indecifrável.
Aconteceu que, por aquele tempo, se achava Geraldo na cidade vizinha (Lacedônia) e a mãe aflita foi consultá-lo. O Santo tinha de comunicar-lhe a triste notícia, mas a voz parava-lhe na garganta e a palidez da face aumentava. Finalmente, teve de falar e dizer aquela senhora que seu marido tinha sido assassinado e que a confirmação oficial chegaria logo. A senhora, voltando para casa sob o peso daquele cruel infortúnio, fechou-se na sua dor, e em poucos dias foi reunir-se ao marido.
A jovem, nesse breve espaço de tempo, órfã de pai e mãe, pôs-se a girar pela casa deserta da manhã à noite, chamando pelos pais e não comia, não dormia, não trabalhava. Por fim, com as mãos cruzadas sobre os joelhos, passava horas perdidas, a olhar para um ponto distante. Se as amigas tentavam distraí-la, perguntava-lhes ansiosamente:
— Para onde foi minha mãe? Estará salva?... Como? Não sabeis que morreu desesperada? Deus lhe terá perdoado?... E continuava a fazer perguntas, parecendo que os olhos lhe sal- tavam das órbitas.
As amigas lembraram-se de recorrer a Geraldo. Ele foi visitá-la:
— Coragem! — disse-lhe — tua mãe está no purgatório. Faze quarenta Comunhões por sua alma e ela irá para o céu.
A jovem acalmou-se e por quarenta dias foi vista na igreja a orar com grande fervor. Mas, no quadragésimo dia, reapareceu a crise. Pareceu-lhe ver naquele dia a mãe, que cercada de luz, feliz e radiante, desaparecia como um sonho. Aquela visão, em vez de a consolar, roubou-lhe toda a alegria; e só perguntava por que fora a mãe tão má indo para o céu e deixando-a só e desesperada. Aquele pensamento tornou-se uma obsessão, uma ideia fixa. Então rangia os dentes, enfurecia-se, sofria convulsões violentas e proferia blasfêmias horríveis.
Chamaram de novo a Geraldo. Veio imediatamente e encontrou a pobre criatura naquele estado de prostração em que costumava ficar após os acessos de loucura. Tocou-lhe na fronte sem que ela reagisse; mas, apenas deixou de sentir aquela mão benéfica, que acabava de traçar sobre ela o sinal da cruz, começou a cantar belos cânticos em louvor de Nossa Senhora.
Estava curada. Não teve mais acessos dali em diante e voltou ao seu natural alegre e feliz.

14 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 506

PERDERÁ A FALA APÓS O CASAMENTO

Certa vez, um sacerdote pediu a S. Geraldo, o grande benfeitor dos pobres e doentes, que fosse com ele até certa aldeia. Ocultou-lhe, porém, o motivo da viagem até que, lá chegados, pararam diante da casa de um tal Bartolomeu Melchiona, que, havia muitos anos, no dia do casamento, perdera completamente a fala. Era homem inteligente e bom, diziam, e achara um bom casamento, mas os invejosos tinham posto nele um feitiço, que parecia ser obra do demônio.
Convencidos de que se tratava do demônio, os parentes levaram-no de um santuário para outro, mas, a despeito dos santos, o demônio continuava no corpo do pobre homem.
— Ora — dizia a S. Geraldo aquele sacerdote, — é preciso dar glória a Deus, livrando o enfermo e restituindo a alegria a uma família desolada.
Enquanto assim falava, chegaram à porta de Bartolomeu e Geraldo saudou a família reunida, dizendo:
— Louvados sejam Jesus e Maria!
— Hoje e sempre! — responderam eles.
— E tú por que não respondes? — perguntou Geraldo a Bartolomeu.
— É mudo — responderam os outros; — fizeram-lhe feitiço.
— Que feitiço! que nada! eu o farei falar — exclamou Geraldo.
E dirigindo-se a Bartolomeu:
— Em nome de Deus ordeno-te que fales.
A estas palavras, o mudo abre a boca, move a língua e fala desembaraçadamente e até melhor do que antes do casamento. Após um instante de surpresa, o pequeno grupo formado pela família e por alguns curiosos prorromperam num longo aplauso:
— Viva o Santo! Viva o Santo!
Geraldo quis fugir aquelas manifestações, mas o sacerdote, tomando-o pelo braço, conduziu-o a casa paroquial, para uma alegre refeição. O miraculado tomou parte na mesma, cantou a pedido de Geraldo, e todos puderam verificar que aquela voz recuperada por um milagre era clara e bela.
O poder do Santo era realmente grande, e a sua caridade ainda maior.

13 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 505

MORTE DE UMA MÃE

Chamava-se Leonor de Bergh, duquesa de Bouillon. Lede o que ela fez e o testamento que deixou aos filhos e vereis que poucas mães haverá como esta.
Ficara viúva com cinco filhos e cinco filhas; e, como seus parentes eram hereges calvinistas, a piedosa mãe pós todo seu empenho em ensinar aos filhos a verdadeira fé crista. Com que talento a explicava, com que ardor a defendia! E quando lhes dizia que deviam estar dispostos até a derramar o sangue por ela, isto é, pela fé cristã, fazia-o com tal fervor, que todos os filhos, entusiasmados, respondiam:
“Não temas, mamãe, antes morreremos todos que faltar à nossa fé!”
E choravam de emoção aqueles benditos filhos!
A nobre viúva, compreendendo que, embora jovem, o seu fim estava próximo, e temendo, como prudente, pela fé e pela virtude daqueles filhinhos de sua alma (que ia deixar no mundo expostos a tantos perigos), redigiu um testamento, que lhes leu com solene dignidade e inefável ternura, regando-o com suas lágrimas. Entre outras coisas, dizia o seguinte:
“Dez filhos me deu Deus, e eu os amei por Ele e para Ele. Ensinei-lhes a amar a Nosso Senhor e todo meu empenho consistiu em gravar em seus corações a fé de meu divino Salvador. Deus agora me chama a si e eu volto a ele, pressurosa, porque é dono da vida e da morte; tranquila, porque chorei meus pecados; confiada, porque ele mesmo morreu pela minha salvação; contente, porque bem depressa vão terminar as penas e dores da vida; felicíssima, porque espero ver meu Deus, sim, vê-lo e gozá-lo por toda a eternidade.
Meus amadíssimos filhos ficam no mundo! Ponho-os nas mãos de meu Senhor Jesus Cristo e sob o manto e proteção de sua e minha Mãe, a Virgem Santíssima.
Nomeio o rei, o parlamento e todos os bispos seus tutores honorários, rogando-lhes com lágrimas nos olhos que velem, não por seus bens temporais, mas por sua fé e por sua alma.
Mando a meus cinco filhos e cinco filhas que se reúnam algumas vezes e leiam juntos este testamento, para que com sua leitura se fortaleçam na fé católica.
Peço-lhes de joelhos, pelo amor que sempre me tiveram,. que leiam o Evangelho e estudem muito a doutrina cristã para que, se tiverem de viver entre hereges, saibam defendê-la e conservá-la intacta. Se algum chegar a trair a sua fé, quero que os outros não o considerem como irmãos, mas como injuria e afronta da família”.
E todos assinaram o testamento.
Antes de exalar o último suspiro, a duquesa, com suavíssima ternura e heroica firmeza, dizia: “No último dia, quando todos ressuscitarmos, eu vos procurarei, e se algum tiver faltado à sua fé, eu lhe direi: Vai-te, maldito! vai-te, pérfido e traidor! faltaste a Deus, à Igreja e a tua mãe... Vai-te, não te reconheço por filho”.
Isto é heroico, é sublime! Isto é ser mãe!

12 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 504

A BONDADE DE MARIA

S. Jerônimo Emiliani, fundador, dos Somascos, foi um dos inúmeros devotos de Maria, que experimentaram de maneira singular a sua excessiva clemência e bondade.
Nobre patrício veneziano, dedicou-se à carreira militar e caiu nas malhas do vicio. Ora, aconteceu que, tendo-lhe sido confiada a defesa de uma praça forte e sendo esta tomada de assalto pelos inimigos, Jerônimo foi aprisionado, carregado de cadeias e metido em medonho cárcere. Na incerteza em que se achava sobre a sua sorte, sentiu vivos remorsos de sua vida anterior, e estava para entregar-se ao desespero, quando lhe surgiu à mente a figura dulcíssima de Maria, a auxiliadora dos cristãos e o refugio dos pecadores. A ela dirigiu-se, pois, cheio de confiança, prometendo-lhe, se o livrasse do cárcere, ir ao seu santuário e depositar aos pés as suas cadeias.
E — o prodígio admirável! — no mesmo instante viu a prisão inundada de vivíssima luz, e a Virgem que vinha por suas próprias mãos desatar-lhe as cadeias. Libertado de maneira tão prodigiosa, Jerônimo tomara o rumo de Treviso, levando ás costas o cepos e correntes para colocar no santuário de Maria; mas, encontrando todos os caminhos ocupados pelos inimigos, estava na iminência de cair de novo prisioneiro, quando, pedindo o auxílio de Nossa Senhora, esta o fez passar por entre os soldados sem ser notado.
Chegando a Treviso, foi imediatamente ajoelhar-se aos pés do altar de Nossa Senhora para agradecer-lhe todas as graças que recebera. Colocou sobre o altar os instrumentos de seus suplícios, e, daquele dia em diante, abandonando a carreira das armas, dedicou-se inteiramente ao serviço de sua Senhora e benfeitora, em cuja honra rezava cada dia o Oficio e outras devoções. Foi esse o principio de sua conversão e de sua vida santa.

11 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 503

MARIA E SEU SERVO S. BERNARDO

S. Bernardo, insigne doutor da Igreja, foi um dos mais fervorosos devotos de Maria, cujas grandezas e prerrogativas ilustrou com o fulgor de sua doutrina e de sua pena.
Desde seus tenros anos começou a distinguir-se por suas virtudes. Era ainda pequeno, quando, numa noite de Natal, foi favorecido com uma visão celeste. O Menino Jesus apareceu-lhe e dignou-se instruí-lo acerca do grande mistério da Encarnação. Dessa visão originou-se aquela sua terníssima devoção, aquele seu ardentíssimo amor à Mãe do céu, devoção e amor que, depois, extravasaram nos admiráveis sermões que escreveu em honra de Nossa Senhora.
Maria Santíssima, por sua vez, mostrou predileção especial por seu servo, cumulando-o de favores extraordinários. E assim, a devoção à Rainha do céu, principio de tantos bens para as almas, produziu na de Bernardo o maravilhoso efeito de fazê-lo compreender que a sabedoria do mundo é loucura perante Deus, razão porque, jovem de vinte anos de idade, abandona todo o conforto da casa paterna e ingressa no convento dos cistercienses.
Com tanto fervor se consagrou a Deus que conseguiu arrastar consigo vários parentes e amigos, que antes queriam dissuadi-lo da vocação. Bernardo tornou-se um modelo de virtudes. Dado como era à leitura e meditação dos Livros Sagrados, conquistou em pouco tempo aquele tesouro de ciência e de santidade que o colocou entre os maiores luminares da Igreja. Os Sumos Pontífices várias vezes recorreram a ele para importantes e delicadas missões, como pacificar discórdias e reprimir abusos e desordens, negócios esses que o Santo, com o auxilio da grande Mãe de Deus, levou a bom termo.
Finalmente, consumido pelas fadigas e penitencias, mas rico de méritos para o céu, dormiu no Senhor a 20 de agosto de 1174.

10 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 502

A CURA DO PAPA INOCÊNCIO VIII

Entre as imagens milagrosas, por meio das quais Deus se compraz em manifestar o grande poder de Maria Santíssima em beneficio dos míseros filhos de Eva, deve-se colocar a imagem da Anunciação de Florença. As curas corporais e outras graças ali obtidas pela intercessão de Nossa Senhora são tão numerosas que a narração das mesmas ocupa vários volumes. Entre os fatos mais estupendos, é digno de especial menção o que se deu com o papa Inocêncio VIII.
Fazia muito tempo que este Papa jazia enfermo, dilacerado por dores atrozes, sem que os médicos, apesar de todo esforço, conseguissem algum resultado. Perdida toda esperança, o Papa aguardava a morte de uma hora para outra.
Aconteceu que, nessa ocasião, foi visitá-lo o Cardeal Protetor dos Servos de Maria, o qual narrou ao caro enfermo as maravilhas operadas por Nossa Senhora da Anunciação, de Florença, em favor de seus devotos servos, e exortou-o a confiar n’Aquela que é a “saúde dos enfermos”. Ao ouvir aquela exortação, sentiu-se o doente tomado de viva confiança no poder e bondade de Maria; e fez o voto de mandar à Mãe de Deus o seu retrato, se ela fosse servida livrá-lo daquelas horríveis dores. Pois bem, qual não foi a consolação de Inocêncio, o assombro dos médicos e a alegria de Roma, quando, pouco depois, se verificou que o Papa estava completamente curado!
Cheio de gratidão pelo inesperado favor, chamou um excelente pintor e mandou reproduzir sobre a tela a trágica cena de sua enfermidade. Logo que ficou pronto o quadro, remeteu-o a Florença, para ser colocado na igreja da Santíssima Virgem, em testemunho perene da graça alcançada. Quis, além disso, o augusto Pontífice, em homenagem à milagrosa Imagem, estender a todas as igrejas principais dos Servos de Maria o privilégio de celebrar solenemente na noite de Sábado Santo a santa Missa em honra da excelsa Mãe de Deus.

9 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 501

A ESTÁTUA DE MARIA EM VIENA

Em 1629, Fernando III, imperador da Áustria, viu seu império seriamente ameaçado pelos exércitos suecos, que avançavam orgulhosos de suas vitórias e conquistas. Confiante no socorro de Maria, o imperador, mandou erguer na maior praça de Viena uma coluna magnífica, ornada de emblemas, que representavam o mistério da Imaculada Conceição de Maria. Nos quatro ângulos do pedestal via-se um anjo armado, calcando aos pés um monstro, símbolo da vitória de Maria sobre o pecado original; no topo da coluna elevava-se a estátua da Mãe de Deus, no ato de esmagar. a cabeça da serpente infernal; e em baixo lia-se esta inscrição: “A Deus Ótimo Máximo, soberano Senhor do céu e da terra, pelo qual reinam os reis; à Virgem Mãe de Deus, concebida sem a mancha do pecado original, e pela qual os príncipes comandam); eleita neste dia, por devoção especial, Padroeira da Áustria, Fernando III imperador, confia e consagra tudo que possui: a sua pessoa, os filhos, os povos, os exércitos, as províncias; e em perpétua memória desta devoção erigiu esta estátua". Festa mais solene do que a celebrada ao inaugurar-se aquele esplêndido monumento jamais se vira; foi como o triunfo da Imaculada Conceição de Maria.- O pio imperador acompanhado de seu filho Fernando IV, rei da Boêmia e da Hungria; de sua filha Mariana da Áustria, rainha da Espanha; de vários embaixadores, de toda a nobreza, de todas as comunidades religiosas, de todo o clero, e seguido de imensa multidão de povo, pôs-se em procissão e, chegados ao pé do monumento, pronunciou o seu voto em voz alta, edificando a corte e o povo por sua sincera piedade.
Este pio e esplêndido ato de devoção, realizado em honra da Rainha do céu, foi tão agradável à soberana Senhora que, dali a poucos dias, se viram os efeitos de sua maternal proteção. De fato, tendo-se o imperador dirigido a Egra, cidade vizinha do inimigo, conseguiu sustar as rápidas conquistas dos suecos. Em seguida obrigou-os a retirarem-se e concluiu uma paz gloriosa e duradoura para todo o império austríaco.

7 de junho de 2018

Tesouro de Exemplos - Parte 500

COMO PENSAVA AQUELA MENINA

Uma menina de Tetuan, depois de alguns dias de instrução, dizia à sua catequista: “Senhorita, a mim me parece que a gente, ao sair da igreja, devia caminhar para trás, para não dar as costas a Nosso Senhor. A senhora não acha que devia ser assim?”
Na verdade, sair da igreja como anjos seria de rigor para todos. Do contrário, que fizestes dentro da igreja? E se estivestes como anjos diante de Jesus, por que sair como pagãos?

2 de junho de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

A Alma da Virgem Santíssima


Parte 3/7

A graça santificante é a joia de mais valor nos céus e na terra!
A que mais custou a Deus. Todas as riquezas do mundo custaram-lhe uma só palavra: "Faça-se"e foram feitas. O Filho de Deus quis reaver para os homens a graça santificante que tinham perdido, e para a recuperar fez-se homem e morreu na cruz.
O que é então a graça santificante?
O homem material dificilmente compreende a natureza e o valor das coisas espirituais e menos ainda das divinas. E a graça santificante é um ser divino. Alguma coisa assim como a luz que brota do sol da divindade e penetra na alma e a ilumina tornando-a mais formosa que a catedral de Leão, com as suas paredes transparentes de vidros de cores, quando a luz do sol a invade por todos os lados.
A graça é uma imagem viva de Deus que fica impressa na alma, como fica impresso no papel fotográfico o rosto de uma pessoa. A alma com a imagem de Deus impressa parece-se tanto com Deus, que Deus reconhece-a como sua filha. A alma com essa luz divina é tão formosa, que a Santíssima Trindade vem morar nela; e ali vive satisfeita como no palácio do céu, como um pai com o seu filho.
Se nos fosse possível contemplar uma alma com a graça santificante, ajoelharíamos diante dela crendo ser Deus. Essa graça deu-a Deus a sua Mãe num grau incalculável.
Quando o anjo São Gabriel veio saudar Maria, chamou-a "a cheia de graça". Esta mesma afirmação a pôde fazer em todos os instantes da sua vida: quando foi concebida, quando nasceu e quando morreu.
Dir-me-eis então: logo a graça da Virgem Santíssima não pôde crescer, porque desde o primeiro instante da sua conceição a sua alma estava cheia dela. É que a plenitude da alma da Santíssima Virgem era relativa nas diversas fases da sua vida. Pode-se dizer que ia aumentando à medida que crescia a sua dignidade. Ao ser concebida, Maria estava destinada a ser Mãe de Deus. Esta dignidade de destino exigia nela certa plenitude de graça e Deus concedeu-lha.
Quando Jesus Cristo encarnou nas suas entranhas, sendo na realidade a Mãe do Filho de Deus, esta dignidade exigia na sua alma maior quantidade de graça e Deus concedeu-lha.
No momento de consumar com seu Filho a redenção do mundo e de ser proclamada Mãe dos homens, a sua nova dignidade e os seus merecimentos exigiam maior plenitude de graça e Deus concedeu-lha.
Apresentam-se portanto várias questões ao analisar a graça da alma da Santíssima Virgem.
Quanta graça teve no momento da sua conceição? Como cresceu essa graça?
Quanta teria no fim da sua vida?