29 de setembro de 2017

As Mais Belas Histórias do Cristianismo - Parte 4

4. SÃO PEDRO, PRÍNCIPE DOS APÓSTOLOS

Um simples chamado de Jesus e a pronta acolhida de um rude pescador, foi o bastante para que no lago do mar de Genesaré se iniciasse a história de uma das mais fulgurantes figuras do cristianismo, aquele que fora constituído por Cristo a pedra sobre a qual edificaria ele a sua Igreja: A história de Simão, cujo nome Cristo mudou em Pedro (Kephas = a rocha).

Desde o chamado, permaneceu sempre, ao lado de Jesus Nazareno, embora fraquejasse no momento da Paixão do Redentor e o negara diante daqueles que o acusavam de comparsa do galileu. Nascera
em Betsáida, nas proximidades do lago de Genesaré e com seu irmão mais moço, André, se dedicava ao ofício de pescador. Morava em Cafarnaum e era casado.

Foi dos primeiros discípulos de Jesus atendendo ao seu convite: "Segui-me e eu vos farei pescadores de homens" (Mat. IV, 19).

Abandonou sua profissão, sua família e o Senhor o pôs á frente dos doze apóstolos. No Colégio Apostólico foi sempre o seu porta-voz. Em São Mateus (XVI, 16) o vemos em nome dos apóstolos professar a divindade de Cristo: "Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo!" E mais tarde, quando em Cafarnaum, diante da promessa da Eucaristia feita por Cristo, muitos dos discípulos, escandalizados com sua pregação, o abandonaram, a uma pergunta sua aos apóstolos, se eles também não queriam se afastar, foi Pedro quem tomando a palavra lhe respondeu: "Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna." (João VI, 68-69). Acompanhando a Nosso Senhor, nele encontramos o apóstolo privilegiado: na ressurreição da filha de Jairo, na Transfiguração do Tabor e na agonia do Horto das Oliveiras.

Homem rude, ignorante, quer nada conhecia além de seu ofício, suas palavras irrefletidas e seus atos precipitados são conseqüência desta sua pouca formação e de seu gênio irrequieto e vivo. A negação do Senhor na Paixão foi uma sublime lição para ele, que se humilhou, chorou amargamente sua culpa, e passou a dominar sua fraqueza e seu caráter, tornando-,e humilde e digno da confiança daquele a quem negara.

Cristo lhe confiou, depois da Ressurreição, a missão de Pastor Supremo, o primado em sua Igreja. Sem contestação, ocupa daí para frente o primeiro lugar.

Rocha inabalável sobre a qual edificou Cristo a sua Igreja, em Pedro encontramos o homem admirável, que conduziu com segurança os primeiros tempos do cristianismo.

Cheio do Espírito Santo, como os demais apóstolos, faz o primeiro sermão de Pentecostes, de efeito maravilhoso, pois três mil pessoas se converteram nesta ocasião e foram batizadas.

Agraciados com o dom dos milagres, os apóstolos realizavam fatos prodigiosos, o que serviu para confirmar a sua missão apostólica e a verdade daquilo que pregavam. Assim devia ser no início da Igreja, para que a nova doutrina se difundisse mais facilmente, não obstante as muitas perseguições e grandes obstáculos.

O Pentecostes foi o grande milagre que transformou inteiramente os apóstolos. Já não eram mais os tímidos e rudes homens da Galileia, incrédulos e cheios de falsas noções acerca do Messias, mas homens espirituais, desprendidos do mundo, dispostos ás mais árduas virtudes, ao perigo de suas vidas. O batismo do fogo do amor de Deus consumiu neles o velho homem e tudo o que era terreno e os transformou em homens de Deus, outros "Jesus Cristos".

"Pedro e João subiam ao templo para a oração da hora de noa" (Atos III, 1). Ainda traziam em seus corações as emoções da primeira pregação de Pedro e o maravilhoso efeito com a conversão de tantos judeus. Pelos caminhos, traçavam e combinavam as grandes providências em relação aos milhares de fiéis que já viviam em comunidade. A porta do templo, viram um coxo de nascimento que lhes estendeu a mão, pedindo-lhes uma esmola. Não traziam dinheiro, mas iriam socorrer aquele pobre de um modo mais satisfatório, restituindo-lhe a cura, a perfeição física, para que pudesse ganhar a vida pelo seu trabalho. "E Pedro lhe disse: Não tenho prata, nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda." (Atos III, 6). Os efeitos dêste milagre foram surpreendentes, pois Pedro se aproveita do espanto e admiração da grande multidão que se convenceu do prodígio e lhes fala de Jesus Cristo, em nome de quem fez o milagre, o mesmo predito pelos profetas e crucificado em Jerusalém, e os chama à penitência e à conversão. Os dois apóstolos são conduzidos à prisão pelos sacerdotes, magistrados do templo e saduceus, descontentes com suas pregações e seu anúncio.

No dia seguinte, admirados da constância dos apóstolos, soltam-nos, reconhecendo o milagre realizado, notório a todos os habitantes de Jerusalém, e que não poderiam negar.

E Pedro continuou a sua missão, dignificando o primado que lhe foi conferido por Cristo, e conduzindo com fé e energia a barca da Igreja que já lutava contra as ondas furiosas da incredulidade da violência de muitos.

De um lado, o povo que começava a reconhecer a missão divina dos apóstolos, e muitos eram os que "traziam os doentes para as ruas, e punham-nos em leitos e enxergões, a fim de que ao passar Pedro, cobrisse ao menos a sua sombra alguns deles e ficassem livres de suas enfermidades. Concorria também muita gente das cidades vizinhas a Jerusalém, trazendo enfermos e vexados dos espíritos imundos, os quais eram curados todos" (Atos V, 15-17).

Do outro lado, os sacerdotes, os magistrados, os homens do poder que não admitiam a influência dos apóstolos sobre a multidão, a mesma que exercera o Nazareno, e cuja liderança julgavam ter destruído com a sua crucifixão e morte.

Deste modo, são feitos prisioneiros várias vezes, açoutados, e nada consegue fazer com que se calem: "Deve-se obedecer antes a Deus que aos homens" (Atos V, 29).

"Porém, saíam da presença do conselho contentes por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus. E todos os dias não cessavam de ensinar e de anunciar Jesus Cristo no templo e pelas casas." (Atos V, 41-42).

Pedro é novamente encarcerado por ordem de Herodes Agripa, terceiro a tomar este nome malsinado, que recrudesceu a perseguição que, iniciada com a morte de Santo Estêvão, não cessara de todo. Antes, o mesmo rei já maltratara alguns da Igreja e matara à espada Tiago, irmão de João, que foi o primeiro apóstolo a dar o seu testemunho de sangue.

Na prisão, Pedro estava constantemente guardado por um grupo de soldados, e dormia, com as mãos ligadas por cadeias. Os guardas à porta vigiavam o cárcere. Mas Deus, de um modo prodigioso, vai libertar através de um anjo o seu apóstolo, cuja missão ainda não estava terminada.

Reunidos, os fiéis faziam por ele incessantes preces. Na noite que precedia o dia marcado para sua execução, o apóstolo foi de repente despertado por um Anjo que lhe mandou levantar-se, "caindo-lhe as algemas das mãos".

Acompanhando o Anjo, transpôs ele a porta de ferro da prisão e chegou à rua, onde o anjo se afastou dele.

Pedro compreendeu que não era um sonho, mas, sim, uma realidade, e apressadamente dirigiu-se à casa de Maria, uma das santas mulheres, mãe de Marcos, o Evangelista, onde os fiéis ainda estavam reunidos; admirados e cheios de alegria viram a Pedro que batia à porta. Moradia afastada de Jerusalém, aí se ocultou Pedro, gozando de tranquilidade neste recanto propício para um fugitivo.

Para onde teria seguido depois, os Atos não nos contam, e o autor certamente não quis trair o seu esconderijo. Apenas se lê no cap. XXII,17: "E tendo saído, foi para outra parte".

Herodes, que se decepcionara ao ver que seu prisioneiro desaparecera, é pouco depois ferido por um anjo de Deus, e torturado de horríveis dores, roído de vermes, o tirano morreu.

Pedro se dirigira várias vezes a Antioquia, cidade grega, uma das primeiras do império, onde os cristãos buscavam abrigo, fugindo à perseguição de Herodes. "A palavra de Deus crescia e multiplicava-se" (Atos XII, 24). Antioquia tornava-se a sede da nova fé. Daí se espalhará a Palavra de Deus em todas as direções, e o cristianismo olhará para horizontes mais vastos e mais largos, ultrapassando os limites da Terra Prometida e avançando sempre até tornar-se universal.

Em Roma vai centralizar-se para sempre a doutrina cristã, e os séculos vão conhece-la como a Cidade Eterna, a Capital do Catolicismo. Talvez a semente evangélica para aí levada por peregrinos piedosos que se converteram à fé cristã, ou por algum missionário vindo de Antioquia, fizesse com que surgisse a primitiva comunidade cristã, que depois se desenvolveu extraordinariamente. A tradição católica, porém, atribui a Pedro a gloriosa fundação da Igreja de Roma, e liberais como Harnack, protestantes como Lietzmann, afirmam que muito antes que Paulo desembarcasse em Pozzuoli, o homem que contribuiu para a fundação da comunidade romana fora Pedro, "'a velha rocha".

Já não mais se duvida de que o Príncipe dos Apóstolos tenha estado em Roma como seu primeiro Bispo e de que aí tenha ocorrido o seu martírio. Estudos dos citados historiadores comprovam a concordância dos documentos literários de que Pedro tenha se estabelecido em Roma, mais ou menos por espaço de 25 anos, hipótese também dada por outros historiadores, católicos ou não, do ano 42 a 67, quando de seu martírio, conforme Euzébio.

Juntamente com S. Paulo, vai Pedro coroar sua vida santa e apostólica com morte gloriosa. O Senhor os reúne no mesmo triunfo, a eles que com tanta galhardia combateram o bom combate pela sua causa. Vão ser martirizados estes dois gigantes de apostolado e santidade, no mesmo dia e na mesma cidade que com seus trabalhos apostólicos ganharam para Deus. Ó Roma feliz, és consagrada pelo sangue glorioso dos dois Príncipes!

Foi quando Nero, o hipócrita, cruel, covarde e corrupto Imperador romano, movia atroz perseguição aos cristãos, acusados de terem ateado um incêndio em grande parte da cidade, incêndio que se deveu aos caprichos do próprio Nero, como a história o registra.

Fortificando e consolando os fiéis perseguidos, foram os dois apóstolos lançados na prisão, para depois serem martirizados. Pedro, que era judeu, condenado a ser pregado na cruz e Paulo, cidadão romano, a ser degolado.

Julgando-se indigno de morrer como o Divino Mestre, pede e obtém Pedro ser crucificado de cabeça para baixo. Assim morre Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, constituindo alicerce da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sobre ele se levantaram as grandes colunas da cristandade e Pedro continua vivo na sucessão gloriosa e ininterrupta dos Papas que continuam legitimamente a sua missão na Chefia da Igreja Católica, de amor, de verdade e paz; conduzindo os povos à verdadeira vida e salvação que trouxe Cristo à humanidade.

História simples e rica de encantos de um pescador do lago de Genesaré que por ordem de Cristo lançou suas redes ao mar e elas se encheram de peixes. Depois, Cristo pelo seu poder e amor o transformou. Suas redes se estenderam ao mar, não mais do lago de Genesaré, mas do mundo todo, e ele se tornou pescador de homens.

A barca da Santa Igreja está repleta de almas que ele conduz à salvação em meio às tempestades, aos vendavais da travessia. Lutas e conquistas de 20 séculos de cristianismo. A Igreja é divina, e o poder humano não pode destruí-la. "'As portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mat. XVI,18). Pedro é a rocha, o fundamento da Igreja.

"Tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja" (S. Mat. XVI, 18).

28 de setembro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

VI

E aqui abordamos um ponto como não se encontraria melhor para terminar esta conferência, e é a razão profunda dessa admirável disposição da Providência que determina que a obra da nossa santidade se elabore na fraqueza e nas provações.
Dizia S. Paulo: «É à graça que deveis a vossa salvação, e não às vossas próprias obras, para que ninguém se glorie de si mesmo».
Quem merece então todo o louvor? A quem devemos a glória da nossa santidade? A Jesus Cristo.
Ao expor o plano divino aos seus caros fiéis de Éfeso, o Apóstolo indica-lhes o fim supremo com estas palavras: Deus ordenou assim de antemão todas as coisas «para que fosse exaltada a munificência da Sua graça»: In laudem gloriae gratiae suae.
Foi «para manifestar aos olhos de todos as abundantes riquezas da Sua graça» que Deus nos predestinou a sermos co-herdeiros do Seu Filho: Ut ostenderet abundantes divitias gratiae suae in bonitate super nos in Christo Jesu.
Neste mundo, tudo devemos a Jesus, que, pelos Seus mistérios, nos mereceu todas as gracas de justificação, de perdão, de santificação de que temos necessidade; Jesus Cristo é o princípio da nossa perfeição. Como a cepa distribui a seiva nutritiva pelos ramos para os tornar frutíferos, assim Jesus Cristo derrama incessantemente a Sua graça por todos aqueles que Lhe estão unidos. É esta graça que anima os Apóstolos, ilumina os Doutores, sustenta os Mártires, torna constantes os Confessores, adorna as Virgens com a sua incomparável pureza.
No céu, toda a glória dos Santos procede igualmente desta mesma graça; todo o esplendor do seu triunfo se alimenta nesta fonte única; por estarem tintas do sangue do Cordeiro é que as vestes dos eleitos são tão resplandecentes; e o grau da sua santidade mede-se pelo grau de semelhança com o divino modelo.
Por isso, no princípio desta magnífica solenidade de Todos os Santos, em que se reúnem num só louvor todos os eleitos, a Igreja convida-nos a adorar Aquele que, sendo seu Senhor, «é ao mesmo tempo a sua corôa: "IPSE est corona sanctorum omnium».
No céu compreenderemos que todas as misericórdias de Deus têm o seu ponto de partida no Calvário;  que o sangue de Jesus é o preço da infinita bem aventurança de que gozaremos para sempre. Não nos esqueçamos de que na Jerusalém celeste seremos inebriados de felicidade divina; mas a plenitude desta felicidade será paga a cada instante pelos méritos do sangue de Jesus Cristo. «A torrente de felicidade que inundará eternamente esta cidade de Deus», terá a sua fonte no sacrifício do nosso divino Pontífice. Será para nós uma alegria imensa reconhecê-la e cantá-la a Jesus: «É a Vós que tudo devemos; a Vós seja dada toda a honra, todo o louvor, toda a ação de graças»!
Como todos os eleitos, lançaremos aos Seus pés as nossas coroas para proclamar que d'Ele as recebemos.
É a este fim último que se dirige todo o mistério de Cristo, Verbo Incarnado. Deus quer que o Seu próprio Filho Jesus seja para sempre exaltado, porque é o Seu próprio e único Filho, objeto das Suas complacências;  porque este Filho, sendo Deus como é, Se aniquilou para santificar o Seu corpo místico: Propter quod et Deus exaltavit illum.
Compenetremo-nos, pois, com profunda fé, destes pensamentos divinos. Quando comemoramos os Santos, exaltamos o poder da graça que os elevou a tais alturas; nada mais agradável a Deus, pois que com esses louvores nos unimos ao mais íntimo dos Seus desejos, que é glorificar o Filho: Clarificavi et iteram clarificabo. Procuremos também nós realizar, com o auxílio dessa mesma graça, o pensamento de Deus sobre cada um de nós.
É a esta conformidade perfeita que se reduz toda a santidade.
Em todas estas conferências me esforcei por vos mostrar até que ponto o Pai nos une ao Seu Filho Jesus; procurei colocar diante de vossos olhos o nosso divino modelo, ao mesmo tempo tão incomparável e tão acessível; vistes que Jesus Cristo viveu cada um desses mistérios para nós, que nos une de modo muito íntimo para que, pouco a pouco, reproduzamos em nós, sob a ação do Seu Espírito, os Seus traços inefáveis e para que nos assemelhemos a Ele segundo o decreto da nossa predestinação.
Não deixemos nunca de contemplar este modelo. Jesus Cristo é Deus aparecido vivo no meio de nós para nos mostrar o caminho e nos conduzir à vida. Porque Ele próprio disse que a vida eterna consiste em proclamar, por palavras e obras, que o Pai é o verdadeiro Deus e Ele Deus como o Pai, mas vindo ao mundo na nossa carne para reconduzir a humanidade para Deus.
Se, durante a nossa existência, seguirmos fielmente a Jesus, se, em cada ano, O contemplarmos com fé e amor, no ciclo dos Seus mistérios, procurando imitá-Lo e conservar-nos unidos a Ele, podemos estar certos de que a oração incessante que Ele, na Sua qualidade de único Mediador, dirige por nós ao Pai, será ouvida; pelo Seu Espírito, gravará em nossas almas a Sua imagem viva; o Pai reconhecer-nos-á, no último dia, como membros do Filho da Sua predileção e far-nos-á coherdeiros Seus.
Entraremos nessa sociedade que Jesus Cristo, nosso divino chefe, quis constituir pura e resplandecente. No dia do triunfo final, deve, segundo a expressão de S. Paulo, apresentar este reino ao Pai, como maravilhoso troféu da Sua graça omnipotente. Assim possamos todos nós juntar-nos neste reino para maior alegria das nossas almas e glória do nosso Pai dos céus!
In laudem gloriae gratiae suae.

VERBUM MANENS APUD PATREM,
VERITAS ET VITA,
INDUENS SE CARNE,
FACTUS EST VIA.
(8

27 de setembro de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora Noiva. 


Parte 8/8

Uma palavra aos pais.
A vossa filha cresce e chega o momento em que deve escolher um estado de vida.
Então mais do que nunca, deveis recordar que sois os representantes de Deus e que não deveis contrariar os planos divinos.
O vosso dever então não é impor aos filhos a vossa vontade, é ajudá-los a encontrar a vontade divina, para que a cumpram.
Não estorveis a vossos filhos o caminho por onde Deus quer que vão. Fareis com que sejam desgraçados na vida e pondes em perigo a sua salvação eterna.
Se destina vossa filha para o matrimônio, ajudai-a a procurar o companheiro que Deus lhe tem destinado.
Põem-se às vezes os pais a deliberar sobre o jovem que acompanha a sua filha e as visitas dessas deliberações são por vezes muito terrenas.
Em primeiro lugar colocam-se os valores materiais; os valores morais ou não contam, ou colocam-se num plano secundário.
A nossa filha tem tanto dinheiro, pode aspirar a mais. E se em vez de olharem ao dinheiro, tivessem em conta as virtudes morais, teriam que chegar a outra conclusão: a nossa filha não merece tanto.
Se os pais aconselhassem as filhas com fins elevados e as filhas imitassem a Santíssima Virgem nas suas relações, abundariam muito mais os lares semelhantes ao da Sagrada Família.
Porém sucede o contrário, multiplicam-se os divórcios, as infidelidades conjugais, as discórdias internas que tornam impossível a convivência dos esposos.
Não se pode edificar um edifício sólido sobre alicerces falsos.
Escolhei os alicerces do vosso lar com todo o cuidado, que a vossa conduta mereça a bênção de Deus no momento de contrair matrimônio, e tereis um lar feliz, semelhante ao da Santíssima Virgem.

26 de setembro de 2017

As Mais Belas Histórias do Cristianismo - Parte 3

3. SANTO ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR DO CRISTIANISMO


Das mais belas do cristianismo é a história de Estêvão, diácono escolhido pelos apóstolos, o primeiro a derramar o sangue por Cristo, inaugurando a série gloriosa e ininterrupta de uma legião de mártires que no decorrer dos séculos se imolariam pela fé e por Cristo.

Protomártir do cristianismo, em Estêvão admiramos a força e o valor do jovem que não recua diante de seus inimigos, e, favorecido pela graça de Deus, deixa que se derrame seu sangue novo e que seus
membros sejam lapidados pelos judeus em plena primavera da vida.

As queixas dos helenistas contra os hebreus, de que suas viúvas eram desprezadas nas distribuições quotidianas, foram o motivo que levou os apóstolos a proporem aos demais fiéis a escolha de diáconos que se encarregariam de distribuição material. Foram escolhidos em numero de sete: Estêvão, Filipe, Procor, Nicanor, Tímon, Parmenas e Nicolau, grego convertido.

A primeira missão destes homens era a administração material da comunidade; depois ocupar-se-iam também da pregação na ajuda aos apóstolos, que sobre eles impuseram as suas mãos, chamando sobre eles a graça do Espírito Santo.

Estes homens, mais novos, de ampla visão, de grandes iniciativas, menos apegados às tradições judaicas, vão dar um grande impulso e vigor à consolidação da doutrina no seio da Igreja nascente.

A história de Estêvão mostra-nos a atividade e ação vigorosa dos diáconos. "E a palavra do Senhor frutificava, e multiplicava-se muito o número dos discípulos em Jerusalém." (Atos VI, 7).

Decidido em seus argumentos, de poder atrativo em suas eloqüentes pregações, Estêvão, helenista, encarna um espírito novo, pronto a confundir os velhos crentes, cujas teorias e crenças combate acremente, com firmeza e inteligência, sem que eles lhe possam oferecer resistência.

Conduzem-no até o Sinédrio, acusando-o de blasfemar contra o lugar santo e a lei, contra Deus e Moisés. Aí, perante o príncipe dos sacerdotes, em discurso rigoroso e entusiasmado, acusa a nação que fora predestinada, mas se mostrara infiel, censurando os antepassados de Israel que mataram os que prediziam a vinda do justo, e aos fanáticos judeus de terem sido os traidores e homicidas daquele que trouxera a salvação.

Para os judeus aquilo fora mais do que uma provocação e vociferam contra ele, enraivecendo-se.

Estêvão, tranqüilo, fixa no céu os seus olhos, "onde vê a glória de Deus e Jesus que estava em pé à direita de Deus. E disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé à mão direita de Deus" (Atos VII, 55).

As pedras cortam seu corpo jovem de verdadeiro atleta da fé.

Arrastam-no com violência para fora da cidade e o apedrejam. As pedras cortam o seu corpo jovem de verdadeiro atleta da fé. A um canto um estudante fariseu contempla toda a cena, guardando as roupas dos carrascos: era Saulo. Estêvão ainda encontra fôrças para orar: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, posto de joelhos, clamou em alta voz, dizendo: "Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu no Senhor" (Atos VII, 58-59).

Estêvão, para conquistar a coroa de seu nome (Stefanos = a coroa), combateu com as armas do amor: o amor que venceu os judeus que o assassinavam; o amor na prece pelos que o lapidavam, intercedendo pelos seus algozes. O ódio cruel de Saulo foi transformado pelo amor da oração de Estêvão, e aquele que fora seu perseguidor na terra, é hoje o seu companheiro no céu.

Esta a história de Santo Estêvão que deu ao cristianismo 0 primeiro testemunho de fidelidade. Com singeleza e inspiração os Atos dos Apóstolos nos descrevem o seu martírio, cujo sangue foi semente fértil de um cristianismo pujante, a cada instante selado como sangue vigoroso de milhares e milhares de mártires, num testemunho vibrante de fé e da verdadeira vida da Igreja, de quem foi Santo Estêvão o protomártir, o primeiro da série gloriosa que proclama a grandeza da vida futura no céu. Pela sua posse, cheios de fé nas palavras de vida eterna do Divino Mestre, na esperança de alcançarem a glória e se unirem para sempre ao seu Deus pela caridade, sacrificam a sua vida, tudo que lhes passa dar a terra, e se oferecem a Deus como verdadeiras vítimas imoladas no altar da renúncia e do amor cristão.

No sangue .do santo levita Estêvão, "a Igreja oferece as primícias do martírio a Cristo, o Rei dos Mártires."

25 de setembro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

v

Que conclusões práticas tiraremos destas benéficas verdades da nossa fé?
Primeiro, devemos celebrar com todo o fervor as solenidades dos Santos. Honrar os Santos é proclamar que eles são a realização dum pensamento divino, obras-primas da graça de Jesus. Deus põe neles as Suas complacências, porque são os membros já gloriosos do Seu amado Filho; fazem parte já daquele reino resplandecente, conquistado por Jesus para glória do Pai: Et fecisti nos Deo nostro regnum.
Depois, devemos invocá-los. É certo que Jesus Cristo é o nosso único Mediador: «Um só Deus, um só Mediador entre Deus e os homens», diz S. Paulo; é só por Ele que temos acesso junto do Pai. No entanto, Jesus Cristo, não para diminuir a Sua mediação mas para a dilatar, quer que os príncipes da corte celestial Lhe apresentem os nossos votos, que Ele mesmo apresentará ao Pai.
Além disso, os Santos têm o mais ardente desejo do nosso bem. No céu, contemplam a Deus, a vontade deles está inefavelmente unida à Sua; por isso, querem, como Ele, a nossa santificação. Depois, formam conosco um só corpo místico; e, como tais, são, segundo a expressão de S. Paulo, «os membros dos nossos membros»; têm para conosco uma caridade imensa, haurida na sua união com Jesus, único chefe desta sociedade de que eles são o escol e na qual Deus marcou o nosso lugar.
A estas relações de homenagens e orações que nos unem aos Santos, devemos acrescentar os nossos esforços para nos tornarmos semelhantes a eles. O nosso coração deve estar animado, não dessas veleidades inconstantes que nada conseguem, mas dum desejo firme e sincero de perfeição, duma vontade eficaz de corresponder aos desígnios misericordiosos da nossa predestinação divina em Jesus: Secundam mensuram donationis Christi.
E que é preciso para isso? Que meios empregaremos para realizar uma obra tão considerável, tão gloriosa para Cristo e tão fecunda para nós?
Conservar-nos sempre unidos a Jesus Cristo. Ele mesmo o disse: «Quereis produzir abundantes frutos? chegar a grande santidade? Permanecei em mim, como os ramos permanecem unidos à sepa». E como nos conservaremos unidos a Ele? Primeiro, pela graça santificante que nos faz membros vivos do Seu corpo místico; depois, por aquela intenção reta, frequentemente repetida, que nos faz «procurar em tudo», na vocação em que nos colocou a Providência, «a vontade do nosso Pai dos céus"; esta intenção orienta toda a nossa atividade para a glória de Deus, em união com os pensamentos, sentimentos e vontades do Coração de Jesus, nosso modelo e nosso chefe. Quae placita sunt ei facio semper. « Faço sempre o que Lhe é agradável"; e a fórmula, em que Jesus resumia todas as Suas relações com o Pai, traduz excelentemente toda a obra da santidade humana.
E as nossas misérias? - direis. Não devem de forma alguma levar-nos ao desânimo. As nossas misérias são bem reais; conhecemos bem as nossas fraquezas, as nossas escravidões; mas Deus conhece-as inda melhor do que nós. E o sentimento reconhecido, confessado, da nossa fraqueza, dá honra a Deus. Porquê? Porque há em Deus uma perfeição que é talvez a chave de tudo o que nos acontece neste mundo: é a misericórdia. A misericórdia é o amor em face da miséria; se não houvesse
misérias, não haveria misericórdia. Os Anjos proclamam a santidade de Deus; nós, porém, seremos no céu os testemunhos da misericórdia divina; coroando as nossas obras, Deus coroa o dom da Sua misericórdia: Qui coronat te in misericordia et miserationibus. E é a ela que exaltaremos por toda a eternidade, no meio da nossa beatitude: Quoniam in aeternum misericordia ejus.
Além disso, não devemos desanimar por causa das provações e contradições. Estas serão tanto maiores e mais intensas, quanto mais alto nos chamar Deus. Porquê esta lei?
Porque é o caminho por onde passou Jesus; e porque, quanto mais unidos a Ele quisermos estar, mais nos devemos assemelhar a Ele no mais profundo e íntimo dos Seus mistérios. Como sabeis, S. Paulo reduz toda a vida interior ao «conhecimento prático de Jesus, e de Jesus crucificado». E Nosso Senhor mesmo diz-nos que o « Pai, que é o divino vinhateiro, poda o ramo para dar mais fruto»: Purgabit eum ut fructum plus afferat. Deus tem a mão poderosa, e as Suas operações purificadoras descem a profundidades só dos Santos conhecidas; pelas tentações que permite, pelas adversidades que envia, pelo abandono e solidão terríveis que por vezes produz na alma, sujeita-a à prova para a desapegar das coisas criadas; escava-a para a esvaziar de si mesma; «persegue-a, atormenta-a para a possuir»; penetra até ao âmago, «esmigalha os ossos», como diz Bossuet, «para reinar sozinho».
Feliz da alma que se abandona às mãos do Eterno Obreiro! Pelo seu Espírito, todo de fogo e amor, que é o «dedo de Deus», o divino Artista gravará nela a imagem de Cristo, para a tornar semelhante ao Filho da Sua dileção, segundo o desígnio inefável da Sua Sabedoria e da Sua misericórdia.
Porque Deus põe a Sua glória em nos fazer felizes. Todos os sofrimentos que permite ou envia são outros tantos títulos de glória e felicidade celestes. S. Paulo declara-se incapaz de descrever o esplendor da glória e a imensidade da ventura que são a corôa do menor dos nossos sofrimentos suportados com a graça divina.
Eis por que ele tanto animava os seus fiéis. Vede, dizia ele, de quantas precauções se rodeiam aqueles que tomam parte nos jogos e corridas do estádio! quantas privações se impõem! quantos esforços fazem! E tudo isto para quê? Para receber aplausos que duram uma hora, para gozar duma glória efêmera e sempre disputada, para ganhar uma corôa corruptível. Ao passo que nós, se lutamos, é por uma corôa incorruptível, por uma glória sem fim, por uma alegria imperecível.
Nestes momentos, férteis em graças, a alma está, sem dúvida, mergulhada na dor e sofrimento, na aridez e secura. Mas é preciso manter-se firme sob os golpes do Pontífice supremo. Deus põe o lenitivo da Sua graça na própria amargura da cruz. Vede S. Paulo. Ninguém mais do que ele viveu da união íntima com Deus em Cristo; quem, pois, o poderia separar de Jesus?  E eis que, por permissão divina, Satanás insulta e atormenta com seus golpes a alma e o corpo do Apóstolo. Por três vezes S. Paulo chega á bradar a sua angústia a Jesus. E que lhe responde Ele? «Basta-te a minha graça, porque a sua força nunca se manifesta com tanto brilho como nas dificuldades de que deve triunfar»: Sufficit tibi gratia mea, nam virtus in infirmitate perficitur.

24 de setembro de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora  Noiva.


Parte 7/8

Dirá a jovem: "Esse é o meu desejo; escolher para marido um jovem ideal". Porém é preciso perguntar à rapariga: "Mas tu mereces ter por marido um jovem ideal?"
Merecerias, se fosses uma jovem perfeita.
José, o homem santo, destinou-o Deus a Maria a mulher mais santa.
Se à jovem se diz que escolhe bem antes de casar, ao jovem diz-se outro tanto.
Diz-se-lhe que não se deixe seduzir pelos encantos de uma beleza exterior, que murcha com os anos, e que nada vale quando faltam as virtudes morais e domésticas que deve ter uma mãe, uma esposa e uma dona de casa.
Temor de Deus, piedade sólida, pureza, modéstia, espírito de sacrifício, diligência, sobriedade, arte de governar a casa e administrar o dinheiro.
Se queres ter um marido semelhante ao da Virgem Santíssima procura imitar as virtudes desta.

23 de setembro de 2017

As Mais Belas Histórias do Cristianismo - Parte 2

2. AS PRIMEIRAS COMUNIDADES

Cristo ressuscitado aparecera pela última vez aos seus discípulos momentos antes de sua ascensão para o Pai.

Pedra recebera a confirmação do Primado na Igreja, após a tríplice profissão de amor. "Apascenta as minhas ovelhas."

A Igreja estava estabelecida e Pedro constituído o seu fundamento e rocha inabalável, o Pastor Supremo.

Jesus dá aos seus Apóstolos as últimas recomendações e ordens: "Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado" (S. Marcos XVI, 15-16). "E o Senhor Jesus, depois que (assim) lhes falou, elevou-se ao céu e está sentado à direita de Deus" (S. Marcos XVI, 19).

Os Apóstolos abatidos pela separação do Mestre, porém confiantes na sua proteção, voltam para o Cenáculo, à espera do cumprimento da promessa de Cristo: A vinda do Divino Paráclito."

A Ressurreição de Cristo dissipara em seus espíritos qualquer dúvida e já não são os mesmos homens tímidos e covardes que se reuniram no Cenáculo após os acontecimentos da Paixão.

Nos Atos dos Apóstolos encontramos preciosíssimo documento das primeiras atividades apostólicas, e da vida desta primeira comunidade que é a sementeira da doutrina cristã. O autor dos Atos (1, 15) diz que o número de fiéis reunidos era de cento e vinte. S. Paulo (I Cor. XV, 6) escreve serem mais de quinhentos os irmãos que viram a Cristo Ressuscitado. E os Apóstolos iniciam os seus trabalhos. Pedro se levanta e propõe se escolha dentre os irmãos reunidos um substituto para Judas.

Tendo o Colégio Apostólico apresentado dois candidatos, "José, que era chamado Bársabas, o qual tinha por sobrenome o justo, e Matias, tiraram seus nomes à sorte, e caiu a sorte em Manas e foi associado aos onze Apóstolos" (Atos 1, 23-26).

Depois da descida do Divino Espírito Santo, quando Pedro fez o primeiro discurso, contam-nos os Atos que, duma só vez, três mil pessoas se converteram, e mais tarde, este número se elevava a cinco mil.

Nada conhecemos sobre a organização da Igreja. Entretanto, podemos fazer uma ideia de que ela se tenha estabelecido como sociedade organizada, como se prova pelos sucessos alcançados. O próprio Cristo demonstrara aos seus Apóstolos, durante a sua pregação evangélica, o seu esfôrço de organização, e lhes dera princípios sólidos e métodos de ação. "Foi Cristo, conforme expõe Daniel-Rops, o mais sábio dos fundadores, o mais completo dos educadores, e o mais eficaz homem de ação. Deu aos seus discípulos um ensino concreto, digno .de uma escola de quadros ou dum curso de propaganda e, enfim, ensinou-lhes uma tática".

Não sabemos com precisão quais os ritos e práticas da primitiva vida religiosa. Pela leitura dos Atos dos Apóstolos encontramos três ritos que caracterizavam as primeiras comunidades: o batismo, a imposição das mãos e a refeição em comum.

O batismo era indispensável para aqueles que se tornavam cristãos e por ele eram admitidos no seio da comunidade.

Pedro em seu primeiro discurso prega a necessidade do batismo: "cada um de vós seja batizado em nome d.e Jesus Cristo para remissão de vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos II, 38) .

Após o batismo fazia-se a cerimônia da imposição das mãos. este costume, cujos exemplos já os encontramos no Antigo Testamento, era familiar a Jesus, como vemos nos Evangelhos.

A imposição das mãos feita pelos Apóstolos seria a transmissão dos dons que receberam do Espírito Santo, dons de luz, fortaleza, sabedoria e graça.

Por fim, a refeição em comum: "E perseveravam na doutrina dos Apóstolos, na comum fração do pão e nas orações," (Atos II, 42). Entende-se aqui a verdadeira refeição, pois no versículo 46 o texto é formal: "files tomavam o seu alimento". Se as refeições em comum indicam sempre entre os judeus uma cerimônia de união, quando se partia o pão, consagrando-o ao Senhor, no uso cristão há um sentido bem superior. É a relação que deveria existir entre estas cerimônias e a lembrança de Cristo.

Os esforços destas primeiras comunidades são no sentido de colocar em prática tudo aquilo que aprenderam de Jesus.

Muitos de seus membros conheceram a Nosso Senhor e recordam as passagens mais belas de sua existência.

Reunidos em vida comum, os fiéis levavam uma existência de união fraterna e de santidade. "E a multidão dos que criam tinha um só coração e uma só alma; e nenhum dizia ser sua cousa alguma daquelas que possuía, mas tudo entre eles era comum" (Atos IV, 32). Aos pés dos Apóstolos depunham todo dinheiro apurado na venda de seus bens. E os Atos, que descrevem a atitude corajosa e desprendida -de José chamando o Barnabé, que vendeu tudo que tinha, o seu campo, e depôs aos pés dos Apóstolos o seu preço, narram a atitude vergonhosa e fraca de dois esposos, Ananias e Safira, que retiveram parte do apurado na venda de seus bens, mentindo haverem entregue tudo, e que foram fulminados pela justiça divina.

Cada vez maior era o número de fiéis e este desenvolvimento vai exigir das autoridades judaico-religiosas as mais severas atitudes. Após a cura do paralítico realizada por Pedro junto ao Templo, os Apóstolos são levados aos tribunais, proibidos de pregar e ensinar a doutrina cristã. "Não podemos deixar de falar das cousas que temos visto e ouvido", (Atos IV, 32) foi a resposta firme dos Apóstolos.

A severidade é cada vez maior para com a comunidade cristã. A luta das autoridades em Jerusalém e demais localidades é no sentido de obstar por todos os meios a propaganda da mensagem cristã.

Vão se iniciar as perseguições, pois é necessário aniquilar esta doutrina que anuncia já ter vindo o Messias Salvador, na pessoa de Cristo, que fora crucificado pelos judeus. Os milagres de Cristo confirmam a sua divindade; os milagres operados pelos Apóstolos afirmam o seu poder e :a realidade da doutrina que anunciam, mas as autoridades judaicas estão ofuscadas pela ambição e pelos crimes.

Perseguidos em Jerusalém, os fiéis de Cristo vão se espalhar, levando consigo o facho da doutrina evangélica que há de incendiar primeiramente o Império Romano, depois o mundo todo, no fogo da caridade e do verdadeiro amor de Cristo.

Assim se contam os primeiros dias dos cristãos em Jerusalém, berço da primeira comunidade, ainda reunidos os Apóstolos, que pouco depois partiam na conquista do mundo para Jesus Cristo.

22 de setembro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV

Desta doutrina brotam os sentimentos que devem animar-nos na busca da santidade; profunda humildade em razão da nossa fraqueza, confiança absoluta em Jesus Cristo. A nossa vida sobrenatural oscila entre estes dois polos: dum lado, devemos ter a convicção íntima da nossa incapacidade para atingir a perfeição sem o auxílio de Deus; do outro, devemos estar possuídos de
inabalável esperança de tudo encontrarmos na graça de Jesus Cristo.
Porque é sobrenatural, porque Deus, soberanamente senhor dos Seus desígnios e dos Seus dons, a colocou acima das exigências e direitos de toda a natureza criada, a santidade a que somos chamados é inacessível sem a graça divina. Nosso Senhor o disse: «Sem mim nada podeis fazer»: Sine me NIHIL potestis facere. Santo Agostinho observa que Jesus Cristo não diz: «Sem mim não podeis fazer grande coisa»; mas sim: «Sem mim nada podeis fazer que vos leve à vida eterna».
S. Paulo explicou minuciosamente esta doutrina do nosso divino Mestre: «Somos incapazes de, por nós mesmos, quasi ex nobis, ter um só pensamento que valha para o céu; neste ponto, todo o nosso poder vem de Deus»: Sufficientia nostra ex Deo est; é Ele quem nos dá o poder de querer e de levar todas as coisas ao seu fim sobrenatural: Deus est qui operatur in vobis et velle et perficere, pro bona voluntate. Assim que, sem a graça divina, nada podendo fazer em ordem à nossa santidade.
Devemos então desanimar? Pelo contrário! A convicção íntima desta incapacidade não deve levar-nos ao desânimo, nem servir de desculpa à nossa preguiça. Se nada podemos sem Cristo, «com Ele tudo podemos»: Omnia possum in eo qui me confortat. «Tudo posso, é ainda S. Paulo quem o diz, não por mim mesmo, mas por Aquele que me fortalece». Sejam quais forem as nossas provações, dificuldades, fraquezas, podemos, por Jesus Cristo, chegar à mais elevada santidade.
Porquê? Porque n'Ele estão «contidos todos os tesouros de ciência e sabedoria», «porque n'Ele habita
a plenitude da Divindade» e porque, sendo nosso chefe, tem o poder de nos tornar participantes desses tesouros. É «dessa plenitude de vida e santidade que recebemos», de tal modo que, «em matéria de graças, nada nos falta»: Ita ut nihil vobis desit in ulla gratía!
Que confiança nos não dá a fé nestas verdades! Jesus Cristo pertence-nos, n'Ele encontramos tudo: Quomodo non etiam eum illo omnia nobis donavit? O que há então que possa impedir-nos de ser santos? Se no dia do Juízo final Deus nos perguntar: Porque não atingistes a santidade a que Eu vos chamava? - não poderemos responder: «Senhor, a minha fraqueza foi enorme, as dificuldades insuperáveis, as provações acima das minhas forças». Pois Deus nos replicará: «Por vós mesmos, é certo que nada podíeis fazer, mas Eu dei-vos o meu Filho; n'Ele nada vos faltou do que vos era necessário, a Sua graça é omnipotente e por ela podíeis unir-vos à própria fonte da vida ».
É tão verdade isto! Um grande gênio, talvez o maior que o mundo jamais conheceu, um homem que
passou a sua mocidade nos desregramentos, que esvaziou a taça dos prazeres, cujo espírito se deixou prender a todos os erros do seu tempo, Agostinho, vencido pela graça, converteu-se e chegou a uma sublime santidade. Um dia (é ele quem o conta ), solicitado pela graça, mas preso ainda por suas más inclinações, via meninos, donzelas, virgens brilhar pela pureza, viúvas veneráveis por suas virtudes; e parecia-lhe ouvir um meigo convite que lhe dizia: Tu non poteris quod isti, quod istae? «O que fazem estes meninos, estas virgens, não poderás tu fazê-lo também? O que eles são, não o poderás tu também ser?» E, apesar do turbilhão das paixões, dos longos hábitos do vício, Agostinho entregou-se à graça, e a graça fez dele, para toda a eternidade, um dos mais magníficos troféus.
Quando celebramos a solenidade dos Santos, devemos repetir, no nosso íntimo, as palavras que Santo Agostinho ouvia: Tu non poteris quod isti, quod istae ? Que motivos temos nós para não tender para a santidade? Oh! bem sei: cada um é tentado a dizer: «Tenho tal dificuldade, sinto tal contradição, não poderei ser santo»; mas podeis estar certos de que todos os Santos «encontraram a mesma dificuldade, sentiram a mesma contradição», e outras ainda muito maiores que as vossas.
Assim, pois, ninguém pode dizer: a santidade não é para mim. O que a pode tornar impossível? Deus deseja-a para nós; quer que sejamos santos para Sua glória e para nossa alegria: Haec est voluntas Dei, sanctificatio vestra. Deus não brinca conosco. Quando Nosso Senhor nos diz: «Sede perfeitos», sabe o que reclama de nós e que nada nos exige acima das nossas forças, uma vez que nos apoiemos na Sua graça.
Aquele que pretendesse lá chegar por suas próprias forças, cometeria o pecado de Lúcifer, que dizia: «Eu me elevarei, colocarei o meu trono nos céus, serei semelhante ao Altíssimo». Satanás foi abatido e precipitado no abismo. ·
Mas nós, que diremos? que faremos? Teremos a mesma ambição que este orgulhoso; desejaremos chegar ao termos visado par este soberbo. Mas, ao passo que ele o pretendia conseguir por si mesmo, nós proclamamos que sem Jesus Cristo nada podemos. Diremos que é por Ele e com Ele que podemos penetrar nos céus. «Ó Jesus, tenho tanta fé em Vós, que Vos creio assaz poderoso para fazerdes o prodígio de elevar uma criatura ínfima como eu, não só até às hierarquias dos Anjos, mas até ao próprio Deus; é unicamente por vós que podemos atingir essas culminâncias divinas. Aspiro com todas as veras da minha alma a essa sublimidade a que nos predestinou o Vosso Pai; desejo ardentemente, como o pedistes para nós, partilhar da Vossa própria glória, participar da Vossa própria alegria de Filho de Deus; aspiro a essa suprema felicidade, mas unicamente por Vós; desejo passar a eternidade a cantar os Vossos louvores e a repetir sem cessar com os eleitos: Redemisti nos, Domine,
in sanguine tuo. Sim, Senhor, fostes Vós que nos salvastes; foi o Vosso precioso sangue, derramado sobre nós, que nos abriu as portas do Vosso reino, nos preparou um lugar na incomparável sociedade dos Vossos Santos: a Vós louvor, honra e glória para sempre»!
A alma que vive sempre nestes sentimentos de humildade e confiança, dá grande glória a Jesus Cristo, porque toda a sua vida é o eco desta palavra do Salvador: «Sem mim nada podeis fazer»; porque proclama que Ele é a fonte de toda a salvação e de toda a santidade, e assim Lhe dá toda a glória.
«Ó Deus, diremos com a Igreja numa das suas mais admiráveis orações, creio que sois todo poderoso, que a Vossa graça é eficaz para me elevar, apesar de miserável como sou, a um alto grau de santidade; creio que sois igualmente misericórdia infinita, e que, se muitas vezes vos abandonei, o Vosso amor, cheio de bondade, nunca me abandona: é de Vós, ó meu Deus, Pai celeste, que vem todo o dom de perfeição; é a Vossa graça que faz de nós servos fiéis que Vos são agradáveis por obras dignas da Vossa Majestade e do Vosso louvor; fazei que, desapegado de mim mesmo e das criaturas, possa correr sem embaraço pelo caminho da santidade, onde o Vosso Filho, qual gigante, nos precede: para que, por Ele e com Ele, possa alcançar a felicidade que nos prometestes»! 
Os Santos viviam estas verdades; por isso chegaram às alturas em que hoje os contemplamos. A diferença que existe entre nós e eles não está no maior número de dificuldades que temos a vencer, mas no ardor da sua fé na palavra de Jesus Cristo e na virtude da Sua graça, como também na sua mais ardente generosidade. Se quisermos, podemos recomeçar a experiência: Jesus Cristo é sempre o mesmo, igualmente poderoso e magnânimo na distribuição da Sua graça; só em nós encontra obstáculos à efusão dos Seus dons.
Almas de pouca fé, porque duvidamos de Deus, do nosso Deus?

20 de setembro de 2017

COMUNICADO IMPORTANTE!

ATENÇÃO

Prezados Leitores, Salve Maria!

1. O Blog São Pio V é um blog independente, criado em 28/12/2008 por um grupo de pessoas, com a finalidade de publicar textos sobre a Doutrina e Espiritualidade Católica. Posteriormente começamos a utilizar o blog para a divulgação das Missas no Rito Tridentino em Curitiba, e por último divulgar as atividades do Apostolado do Instituto do Bom Pastor - IBP em Curitiba, como palestras, sermões, congressos, horários de missas, confissões, entre outros, apostolado mantido na Capela Nossa Senhora Aparecida da Associação da Vila Militar;
2. O Blog São Pio V apoia através de seus link's e compartilha publicações, vídeos-aulas e outros assuntos de natureza católica de sites, blogs e canais amigos, sempre com o objetivo de oferecer conteúdo verdadeiramente Católico;
3. Como já é de conhecimento de grande parte de nossos leitores e amigos, a Associação Civil São Pio V foi fundada para dar apoio humano, material, financeiro, entre outros, visando fomentar o oferecimento por parte de sacerdotes que celebram a Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano, sendo que atualmente, com maior ênfase, nas atividades desenvolvidas pelo IBP em Curitiba, sob a responsabilidade do Padre Renato Coelho;
4. Um pouco da nossa história: A quase dez anos atrás o grupo de fiéis denominado São Pio V - Fiéis Católicos de Curitiba, pediu ao Monsenhor Luiz (falecido recentemente) da Igreja da Ordem para celebrar Missas no Rito Tridentino, o qual foi prontamente atendido. O Monsenhor foi o segundo sacerdote de nossa cidade à atender nossas solicitações e oferecer Missas na Forma Extraordinária do Rito Romano. Posteriormente, o Padre Paulo da Paróquia Imaculada Conceição, também atendeu nossa solicitação para rezar Missas no Rito Tridentino. Por muitos anos tivemos duas Missas Tridentinas aos domingos, sendo uma na Ordem e outra na Imaculada Conceição. Após alguns anos, o nosso grupo ficou com a responsabilidade de dar assistência às missas celebradas pelo Padre Paulo na Paróquia Imaculada Conceição no Guabirotuba. O Padre Paulo parou de rezar as missas tridentinas na metade do segundo semestre de 2014, em função do agravamento de sua doença, vindo a falecer em 2015. Salientamos que outros padres chegaram a rezar missas para os fiéis na Forma Extraordinária do Rito Romano, entre eles Padre Alberto, Padre Adilson, Padre Adriano e por último o Padre Anderson Bonin, o qual atualmente celebra Missas Tridentinas na Igreja da Ordem no Apostolado mantido pelo Coral Gregoriano da Igreja da Ordem.
5. Cabe informar que as Missas celebradas na Ordem, atualmente, não tem nenhum vínculo com o apostolado do IBP, mantido na Capela Nossa Senhora Aparecida da Associação da Vila Militar, divulgado pelo Blog São Pio V e apoiado pela Associação Civil São Pio V;
6. O Apostolado do IBP em Curitiba tem autorização formal do nosso Arcebispo Dom José Antônio Peruzzo;
7. A utilização da Capela Nossa Senhora Aparecida foi possível através de uma parceria com a Associação da Vila Militar, Associação Civil São Pio V e Instituto do Bom Pastor, sendo utilizada para os Ofícios Litúrgicos, Catequeses, Palestras, Congressos, ensaios do Coral e de Acólitos, Oração do Santo Terço, Procissões e outras atividades ligadas a vida Católica, coordenadas e oferecidas pelo Instituto do Bom Pastor - IBP. As atividades do Instituto são compartilhadas com as atividades do Padre Alceu, o qual oferece missas na Forma Ordinária do Rito Romano.
8. Em função da parceria mantida pela Associação Civil São Pio V, Instituto do Bom Pastor e Associação da Vila Militar, quaisquer outras atividades nas instalações da Capela Nossa Senhora Aparecida devem ser aprovadas pelo Padre Renato, pela AVM e Associação Civil São Pio V.
9. A obtenção de informações sobre as atividades na Capela referente ao apostolado do IBP, devem ser feitas diretamente à administração da Associação Civil São Pio V (saopiov@gsaopiov.com) e ao Padre Renato do IBP. Nenhuma outra pessoa está autorizada a fornecer informações sobre o apostolado. Entendemos como imprudente acreditar em opiniões, comentários e suposições sobre o andamento das atividades do Instituto na Capela, por parte de pessoas que não tem nenhum vínculo formal com o Apostolado em questão. O comportamento citado apenas gera dúvidas e inquietações onde não existem.
10. Quando da realização de atividades promovidas pelo IBP e Associação Civil São Pio V, pessoas não devem divulgar palestras (de "filósofos', "professores", padres, etc), missas (resistência, grupos cismáticos, padres em situação irregular em sua diocese, etc), congressos, formação de grupos (sacra milícia, etc), falsas aparições (medjugorje, etc), venda de livros, distribuição de panfletos, entre outras coisas, sem a devida anuência do Instituto e da Associação Civil São Pio V.
12. O que podemos encontrar no apostolado do IBP na Capela:
       a. Missas no Rito Tridentino;
       b. Atendimento de confissões;
       c. Direção espiritual;
       d. Catequese verdadeiramente católica;
       e. Congressos;
       f. Palestras;
       g. Canto Gregoriano;
       h. Escola de Acólitos;
       i. Procissões;
       j. Novenas;
       k. Oração do Santo Terço;
       l. Meditação da Via Sacra;
      m. Disponibilização de livros de boa doutrina;
      n. Entre outras.
13. Salientamos que a responsabilidade pelo texto acima é exclusiva do Blog São Pio V.

19 de setembro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

III

Devemos ir para Deus ao modo d'Ele; não seremos santos senão na medida em que nos adaptarmos ao plano divino. Indiquei-vos as linhas principais deste magnífico plano; vejamos mais minuciosamente como Jesus Cristo é para nós fonte de toda a santidade.
Suponhamos uma alma que, num impulso de genero­sidade, sob a inspiração do Espírito Santo, ajoelha diante do Pai dos céus e Lhe diz: «Pai, amo-Vos, desejo apenas a Vossa glória; quero, no tempo e na eternidade, glorificar-Vos pela minha santidade; que devo fazer? Mostrai-me o que esperais de mim». Que lhe responderia o Pai? Mostrar-lhe-ia o Seu Filho Jesus Cristo e dir-lhe-ia: «Eis aqui o meu Filho dileto, o objeto das minhas complacências; ouve-O». Depois retirar-se-ia, deixando aquela alma aos pés de Jesus.
E que nos diz Jesus? Ego sum via, et veritas, et vita - « Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida". Três palavras, de sentido muito profundo, que eu quisera meditar convosco e que deveriam ficar gravadas no fundo dos nossos corações.
Desejas ir para o meu Pai? pergunta Jesus. Queres unir-te Aquele que é a fonte de todo o bem e o princípio de toda a perfeição? Muito bem; sou eu quem faz nascer este desejo no teu coração; mas «não o podes realizar senão por mim»: Ego sum via: nomo venit ed Patrem nisi per me.
Como sabeis, há uma distância infinita entre a criatura e o Criador, entre aquele que tem o ser só por participação e Aquele que é o Ser subsistente por si mesmo. Tomai o anjo mais elevado nas hierarquias celestes; entre ele e Deus há um abismo que força alguma criada pode transpor.
Deus, porém, lançou  uma ponte sobre este abismo. Jesus Cristo, Homem-Deus, liga o homem a Deus. O Verbo faz-se carne; n'Ele, uma natureza humana está unida à Divindade; as duas naturezas, divina e humana, estão unidas num amplexo tão íntimo, tão indissolúvel, que há uma só pessoa, a do Verbo, na qual subsiste a natureza humana. O abismo de separação está suprimido.
Jesus Cristo, como Deus que é, um com o Pai, é o caminho que nos conduz a Deus. Portanto, se queremos ir para Deus, esforcemo-nos por ter uma fé ilimitada no poder que Jesus tem de nos unir ao Pai. Pois que diz Nosso Senhor? «Pai, quero que onde Eu estiver, estejam também os meus discípulos»: Pater, volo ut ubi sum ego, et illi sint mecum. E onde está Cristo? «No seio do Pai».
Quando a nossa fé é viva e nos entregamos inteiramente a Jesus, Ele arrasta-nos consigo, faz-nos penetrar in sinu Patris. Porque Jesus é ao mesmo tempo o caminho e o termo; é o caminho pela Sua Humanidade - via qua imus; é o termo pela Sua Divindade - patria quo imus. É isto que torna este caminho tão seguro: é perfeito e contém em si o próprio termo.
É coisa excelente fazer na oração atos de fé na virtude omnipotente que Jesus tem de nos levar para o Pai. «Ó Cristo Jesus, creio que sois verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que sois um caminho divino, de infinita eficácia para me fazer transpor o abismo que me separa de Deus; creio que a Vossa santa Humanidade é perfeita, tão poderosa que pode, apesar das minhas misérias, faltas e fraquezas, atrair-me para onde Vós estais, para o seio do Pai. Fazei que eu ouça as Vossas palavras, siga os Vossos exemplos, e nunca me separe de Vós»!
E uma graça preciosa ter encontrado o caminho que conduz ao termo; mas é preciso também caminhar na luz. Este termo é sobrenatural, superior às nossas forças criadas; por isso, a luz que deve banhar o nosso caminho com a sua claridade deve igualmente vir-nos do alto.
Deus é tão generoso que Ele próprio será a nossa luz no céu, e a nossa santidade consistirá em contemplar a luz infinita, haurir no seu esplendor a fonte de toda a vida e de toda a alegria: In lumine tuo videbimus lumen.
Neste mundo, não nos é acessível esta luz por causa do seu fulgor; os nossos olhos são tão fracos que a não podem suportar. E, no entanto é-nos necessária para chegarmos ao termo. Quem será a nossa luz? Jesus Cristo. Ego sum veritas: «Eu sou a verdade». Só Ele nos pode revelar as claridades infinitas. «E Deus saído de Deus, Luz gerada da Luz»: Deus de Deo, lumen de lumine. Verdadeiro Deus, «Ele é a própria Luz, sem sombras nem trevas»: Deus lux est, et tenebrae in eo non sunt ullae; esta luz desceu aos nossos vales, atenuando sob o véu da humanidade o brilho infinito dos seus raios. Os nossos olhos tão fracos poderão contemplar esta luz divina que se oculta e ao mesmo tempo se revela sob a fraqueza duma carne passível: Illuxit in cordibus nostris . . . in facie Christi Jesu; «ela iluminará todo o homem que vem a este mundo»: Lux vera quae illuminat omnem hominem venientem in hunc mundum.
Jesus Cristo, Verbo eterno, ensina-nos a olhar para Deus e no-Lo revela. Diz-nos: Eu sou a Verdade; se crerdes em mim., não só aprendereis a conhecer a Verdade sobre todas as coisas, mas estareis com a Verdade; «aquele que me segue não caminha nas trevas, mas possuirá a luz da Vida».
Então, que devemos fazer para caminhar na luz? Guiar-nos pelas palavras de Jesus, pelas máximas do
Evangelho; considerar todas as coisas à luz das palavras do Verbo Incarnado. Jesus diz-.nos, por exemplo, que «os bem aventurados que  possuem o Seu reino são os pobres de espírito, os mansos, os que choram, os corações puros, os pacíficos, os que sofrem perseguição por amor da justiça". Devemos crer n'Ele, unir-nos a Ele por um ato de fé, depor a Seus pés, como uma homenagem, o assentimento da nossa inteligência à Sua palavra; esforçar-nos por viver na humildade, na mansidão, na pureza, por viver em paz com todos, por suportar as contradições com paciência e confiança.
Se vivermos assim na fé, o espírito de Cristo apossar-se-á pouco a pouco da nossa alma, a qual, afastando as luzes puramente naturais do seu juízo próprio, tudo verá pelos olhos do Verbo: Erit tibi Dominus in lucem. Vivendo na verdade, irá sempre avançando no caminho; unida  à Verdade, viverá do Seu Espírito; os pensamentos, os sentimentos, os desejos de Jesus tornar-se-ão os seus pensamentos, os seus sentimentos, os seus desejos; nada fará que não esteja inteiramente de acordo com a vontade de Cristo. Não está nisto a base de toda a santidade?
Não basta, porém, ter encontrado o caminho, caminhar na luz: é mister ainda o alimento que nos sustente na nossa peregrinação. Este alimento de vida sobrenatural é ainda Jesus Cristo quem no-lo dá: Et vita.
A vida infinita está em Deus: Apud te est fons vitae. A torrente desta vida inefável e subsistente encheu, com a plenitude da sua virtude, a alma de Cristo: Sicut Pater habet vitam in semetipso,  sic dedit et Filio habere vitam in semetipso.
E que faz o Filho? «Vem-nos fazer participar dessa vida divina»: Ego veni ut vitam habeant, et abundantius habeant.  «Assim como Eu vivo da vida que o Pai me comunica, assim aquele que me come viverá por mim»: Et qui manducat me, et ipse vivet propter me.
Viver esta vida divina é a santidade. Efetivamente,  afastar desta vida tudo o que a pode destruir - pecado, infidelidades, apego às criaturas, vistas puramente naturais - , fazê-la desabrochar pelas virtudes da fé, esperança e caridade que nos unem a Deus, é para nós, como já vos disse, o duplo elemento da santidade.
Sendo o próprio Jesus Cristo a Vida, torna-se nossa santidade, porque é Ele a própria fonte: Christus
Jesus factus est nobis . . . sanctificatio.  Dando-se a nós pela Comunhão, dá-nos a Sua Humanidade, a Sua Divindade; ativa o amor; transforma-nos pouco a pouco n'Ele, de modo que não vivamos já por nós, mas por Ele e para Ele. Estabelece entre os nossos desejos e os Seus, entre as nossas vontades e as Suas, tal semelhança, tal harmonia, que «já não somos nós que vivemos, mas é Ele que vive em nós»: Vivo autem, jam non ego: vívít vero in me Christus.  Não há fórmula mais expressiva do que estas palavras do Apóstolo para resumir toda a obra da santidade.

18 de setembro de 2017

Mensagem de Agradecimento do Seminarista do IBP Lucas Altmayer Vianna

Prezados Amigos, Salve Maria!

Entre os dias 7 e 10 de setembro de 2017, promovemos uma arrecadação direcionada ao Seminarista Lucas do IBP, conforme mensagem entregue aos fiéis que frequentam as Missas na Capela Nossa Senhora Aparecida da Associação da Vila Militar, para atender as despesas como a renovação do visto de permanência na França, que está num valor de 1200 reais aproximadamente, além dos gastos com a mensalidade, passagens aéreas, gastos pessoais com os estudos e o seminário.
Diante da arrecadação efetuada naqueles dias e depositadas na conta corrente do seminarista, logo na semana seguinte, recebemos mensagem de agradecimento do seminarista Lucas, a qual copiamos a seguir:

"Gostaria de agradecer imensamente a doação que realizaram em meu favor, para ajudar nos gastos deste ano, foi muito providencial e um sinal claríssimo de que Deus não abandona nunca aqueles que deixam tudo para segui-lo. Gostaria de pedir que agradeça ao grupo São Pio V, e a cada um em particular. Ficaria imensamente contente de poder agradecer em particular a todos os que ajudaram, e pretendo fazer isto o quanto antes. Mas desde já, muito obrigado ao grupo de Curitiba. Deus lhe pague muitíssimo e contem com minhas orações permanentes, que embora pobres estarão sempre presentes! Muito obrigado! Seminarista Lucas Altmayer Vianna"

Aproveitamos a publicação para deixar os dados bancários do Seminarista Lucas, para aqueles que desejam fazer novas contribuições.

Caixa Econômica Federal
Operação:013
Conta: 00017165-0
Agência: 0514
Lucas Altmayer Vianna
CPF: 02995214001

Padre Daniel Pinheiro - IBP, Vídeo-Aula, Fundamentos do Matrimônio - 2. Amor de sacrifício

17 de setembro de 2017

As Mais Belas Histórias do Cristianismo - Parte 1

1. A PRIMITIVA IGREJA

A época mais sublime da história de 20 séculos de cristianismo é sem dúvida a Igreja dos Primeiros Tempos, a história dos três primeiros séculos cristãos. Fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja desde a sua origem demonstrou a sua divindade.

Cristãos pela graça de Deus, membros do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, nos orgulhamos de nossos antepassados que foram os primeiros cristãos, e na Igreja Primitiva vamos buscar os mais
belos exemplos que nos inspiram uma verdadeira vivência do cristianismo.

O quadro que nos apresenta a Igreja nos primeiros dias de sua existência é um programa para todos os tempos.

Os primeiros cristão, os convertidos dos primeiros dias, nos contam os Atos dos Apóstolos, "perseveravam na doutrina dos Apóstolos, na comum fração do pão e nas orações" (Atos, II, 42). As instruções dos Apóstolos constituem o fundamento da jovem comunidade: é a pregação da fé, o magistério, a fé na Igreja docente, na Igreja Apostólica.

Assim é a Igreja ainda hoje, com os fiéis submissos ao Santo Padre, Pontífice Romano, na pessoa de quem Pedro permanece vivo na chefia da Igreja. É a Igreja "Una", que surge aos nossos olhos, em gérmen, pequena semente que se tornou a gigantesca e frondosa árvore da Igreja Católica.

A fração do pão e as orações demonstram a Igreja "Santa", a que santifica os seus membros em seus ofícios divinos, e em sua vida diária, especialmente pela celebração da Eucaristia, o sacrifício da Nova Aliança, que fortalece os fiéis para quem a Eucaristia é o centro da vida de comunidade.

A solicitude cordial animava a comunidade, manifestando um amor fraterno, o mais autêntico. "E todos os que criam estavam unidos, e tinham tudo em comum" (Atos, II, 44) .

Esta vida da primitiva comunidade era devida à plenitude do Espírito Santo, que descera pouco antes sobre os Apóstolos, infundindo, na Igreja um alento de vida.

A alegria reinava em todos os corações, os milagres e prodígios marcavam a presença de Cristo na vida da primitiva Igreja. Humildes e firmes em sua fé, os cristãos eram por todos admirados, como
homens interiormente transformados, distintos dos demais.

Assim, Cristo comunicava á jovem Igreja extraordinária força de expansão e conquista, e cada vez maior era o número dos cristãos.

Com as perseguições iniciadas em Jerusalém, as comunidades começaram a se espalhar e o Evangelho de Cristo penetrava por toda parte.

Roma, a capital do Império Romano, foi escolhida para ser também a capital do cristianismo. Mas a Igreja, antes da conquista definitiva da Urbs e do Império, teve que travar tremenda luta contra o paganismo, acabando por renovar a sociedade pagã, tornando-a cristã. Não foi uma luta qualquer e de duração curta, mas uma batalha de três séculos, cuja vitória engrandeceu o heroísmo e a fé dos cristãos, que derramaram o seu sangue na mais autêntica revolução que o mundo já presenciou e que culminou com a vitória da Cruz que dobrou a espada dos tiranos e cruéis perseguidores.
Milhares e milhares de mártires se imolaram por Cristo no testamento de sangue que confirmava o testemunho de suas palavras e de sua fé, numa série consagradora que teve no Diácono Estêvão o primeiro nome, protomártir do cristianismo.

Passadas as opressões e perseguições, o cristianismo conheceu a sua vitória, quando o Imperador Constantino colocou a Cruz como brasão de glória do exército romano.
Novas lutas surgiram, mas a Igreja estava definitivamente implantada no coração da humanidade, cuja conquista o mundo reconheceu, e solidamente fortalecida na fé e constância dos primeiros séculos.

É a Igreja dos Mártires que foram dignos e de seu fundador, o Rei dos Mártires; a Igreja dos Santos que demonstram a vitalidade de sua doutrina e moral; a Igreja dos Sábios, cujas páginas belíssimas formaram a notável Literatura Cristã de todos os tempos, fonte inesgotável de saber e inteligência em sua origem.

É a Igreja instituída por Jesus Cristo, e que desde a sua origem demonstrou não ser obra humana, mas de Deus, que se assentou sobre a rocha inabalável que é Pedro, na sucessão ininterrupta dos Papas que a conduzem com sabedoria e santidade, traçando-lhe os luminosos caminhos de salvação.

O estudo e meditação da vida da primitiva comunidade nos inspirem autêntica vida cristã para os tempos de hoje, para que o mundo cristão de nosso século se volte ao espírito da Igreja Primitiva, ao espírito que logrou a vitória sobre o mundo, à fé e heroísmo daqueles dias, se volte para Cristo, Senhor da Igreja, ontem como hoje, e por toda a eternidade.

16 de setembro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

II

Perguntar-me-eis: Como chegar a esta santidade tão agradável a Deus, tão gloriosa para Jesus e, para
as nossas almas, fonte inexaurível de eterna alegria, cuja imensidade não podemos imaginar? «Não foi dado ao coração humano, diz S. Paulo, descobrir a beatitude que Deus reservava para os que O amam ». Que caminho seguir para chegar a esse feliz estado em que a alma contemplará toda a Verdade e gozará da plenitude de todo o Bem?
Esta pergunta é de capital importância: mas, antes de lhe responder, quero indicar o carácter próprio da nossa santidade. Com efeito, não podemos escolher com toda a segurança o nosso caminho, sem primeiro termos reconhecido o fim a atingir; e se compreendermos bem o carácter que, no plano de Deus, deve revestir a nossa santidade, o caminho a seguir para lá chegarmos não terá segredos para nós .
Qual é então esse carácter? Qual a qualidade essencial que Deus reclama da nossa perfeição?
É ser sobrenatural.
Conheceis esta verdade, que longamente expliquei noutra parte; é, porém, tão vital, que não será sem
interesse voltarmos a ela por uns instantes.
Como vos tenho dito muitas vezes, a aurora das misericórdias divinas para conosco data da escolha
eterna que Deus, livre e amorosamente, fez de nós, para que fôssemos santos. Elegit nos . . . ante mundi consititutionem ut essemus sancti.
Consideremos por um momento esta eleição.
Sabemos que o Eterno Pai contemplou sempre e contempla incessantemente o Verbo, o Filho; n'Ele,
vê-se totalmente a si mesmo, com as Suas infinitas perfeições, pois este Verbo único exprime, numa linguagem divina, tudo o que Deus é. Os nossos pensamentos são finitos, limitados, mesquinhos, e, para os exprimirmos, temos de recorrer a uma grande variedade de palavras. Deus, com uma só palavra, exprime duma só vez o Seu pensamento que é infinito; compreende-se a si próprio no Verbo.
Para conhecermos cabalmente uma coisa, diz algures S. Tomás, devemos conhecer as múltiplas imitações de que essa coisa é susceptível. Deus, que se compreende perfeitamente a si próprio, vê no Verbo todos os diferentes modos por que as criaturas poderão refletir ou reproduzir as Suas perfeições. Deus não lançou as coisas no espaço ao acaso; não criou por virtude de uma força cega; Inteligência infinita, fez tudo segundo os planos concebidos na Sua eterna sabedoria. Ao contemplar o Verbo, Deus vê, com um único olhar, a multidão ilimitada dos seres possíveis, e, desde toda a eternidade, decidiu escolher, nessa multidão, criaturas que em si realizassem e manifestassem exteriormente, posto que em medida limitada, as infinitas perfeições do Verbo.
Na ordem atual da economia divina, Deus previu que o homem, a quem fizera rei da criação terrestre, se não conservaria à altura da sua eleição e se afastaria do plano traçado pelo Criador para o unir a si. A Sabedoria divina não foi tomada de improviso; para levantar o homem decaído, o Seu pensamento deteve-se, antes de mais nada, n'Aquele que S. Paulo chama o «Primogênito de toda a criatura» - Primogenítus omnis creature - o Verbo Incarnado.
O Pai contemplou o Verbo lncarnado; viu nesta Humanidade hipostaticamente unida à Divindade o resumo, a síntese cabal de toda a perfeição criada; revelou-nos no Tabor que este Homem-Deus era a obra-prima dos Seus pensamentos e «o objecto das Suas complacências»: Hic est Filius meus dilectus in quo mihi bene complacui.
Esta Humanidade de Cristo exprime exteriormente o Verbo divino, sob forma terrestre; foi escolhida. livremente, por amor.
Mas há mais. Deus quis dar ao Seu Cristo um cortejo: a «multidão inumerável» dos Santos. Os Santos são outras tantas reproduções do Verbo, sob uma forma menos perfeita. Cada um de nós encontra o seu ideal no Verbo; cada um de nós devia ser para Deus uma interpretação especial de um dos aspectos infinitos do Verbo. Por isso, cantamos de cada Santo: «Não se encontrou outro semelhante a ele»: Non est inventus similis illí. Não há dois Santos que interpretem e manifestem
Jesus Cristo com igual perfeição.
Quando estivermos no céu, contemplaremos, no meio de indizível alegria, a Trindade beatíssima. Veremos o Verbo, o Filho, proceder do Pai como protótipo de toda a perfeição possível; veremos que Deus associou ao Seu Cristo outros tantos irmãos, que em si reproduzem as perfeições divinas, manifestadas e tornadas tangíveis na Humanidade de Cristo. De modo que Jesus Cristo é "o primogênito duma multidão de irmãos» que devem ser semelhantes a Ele: Ut sit ipse primogenitus in multis fratribus.
Nunca nos esqueçamos destas palavras de S. Paulo: «Deus escolheu-nos em Seu Filho Jesus»: Elegit nos in ipso. Neste decreto eterno encontramos a origem da nossa verdadeira grandeza. Quando, pela nossa santidade, realizamos o pensamento de Deus a nosso respeito, tornamo-nos para Ele como que uma parte da glória que Ele tem em Seu Filho Jesus: Splendor gloriae; somos como que o prolongamento, os raios dessa glória, quando nos esforçamos, cada qual em seu lugar e a seu modo, por interpretar e realizar em nós o ideal divino, cujo exemplar único é o Verbo Incarnado.
Tal é o plano divino; tal a nossa predestinação: «sermos conformes com o Verbo Incarnado, Filho de
Deus por natureza e nosso modelo de santidade»: Praedestinavit (nos) conformes fieri imaginis Filii Dei.
Deste decreto eterno, desta predestinação cheia de amor, provém, para cada um de nós, a série de todas as misericórdias, que recebemos. Para realizarmos este plano, para executarmos os Seus desígnios sobre nós, Deus dá-nos a graça, participação misteriosa da Sua natureza; por ela, tornamo-nos, em Seu Filho Jesus que no-la mereceu, verdadeiros filhos adotivos de Deus.
E assim já não teremos para com Deus apenas simples relações de criaturas; não devemos apenas unir-nos a Ele pelas homenagens e deveres duma religião natural, baseada na nossa qualidade de seres criados; sem nada destruir destas relações nem diminuir estes deveres, entramos em relações mais íntimas com Deus, relações de filhos, que criam em nós deveres especiais para com um Pai que nos ama: Estote imitatores Dei sicut filii carissimi. Relações e deveres inteiramente sobrenaturais, visto excederem as exigências e direitos da nossa natureza e que só a graça de Jesus torna possíveis.
Compreendeis agora qual o carácter fundamental da nossa santidade. Não poderemos ser santos, se o não formos segundo o plano divino: isto é, pela graça que devemos a Jesus Cristo; é esta a condição primordial. É por isso que esta graça se chama santificante. E isto é tão verdade, que fora desta graça não há salvação possível.
No reino dos eleitos só entram as almas que se assemelham a Jesus. Ora a semelhança fundamental que com Ele devemos ter só pela graça se realiza.
Já vedes que foi o próprio Deus quem fixou o carácter da nossa santidade; querer dar-lhe outro é, como  diz S. Paulo, «bater no ar» - Aerem verberans.
O próprio Deus fixou o caminho que devemos seguir; não o seguir é extraviar-se e, finalmente, perder-se: Ego sum via; nemo venit ad Patrem nisi per me. Finalmente, Deus assentou o fundamento de toda a perfeição, fora do qual não se edifica senão sobre a areia: Fundamentum aliud nemo potest ponere praeter id quod positum est, quod est Christus Jesus.
Isto é verdade da salvação, como o é da santidade: não tem outro princípio nem encontra outro apoio senão na graça de Jesus Cristo.

15 de setembro de 2017

Sermão para o 13º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão e Vídeo] A gratidão para com Deus e a cura dos 10 leprosos



Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Um deles, ao ver-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz.”
Eram dez leprosos, nove judeus e um samaritano, que vieram ao encontro de NSJC. Pararam a certa distância como prescrevia a lei mosaica (Lev. 13, 45-46). Prescrevia a lei essa distância para evitar o contágio de outras pessoas com a lepra. A lepra, significa espiritualmente, a alma em estado de pecado mortal. Se a lepra vai destruindo a carne, o pecado mata a alma e a devora, tirando-lhe as forças. O pecador fica, assim, distante de Deus, porque se afastou do Senhor pelo seu pecado.
Erguem, então, a voz. Erguem a voz porque estão à certa distância, prescrita pela lei, mas erguem a voz para mostrar também a grave necessidade em que se encontram. E erguem a voz unidos para mais facilmente mover a bondade e a compaixão de Jesus. É uma oração pública, pois Deus quer que rezemos não só individualmente, o que é essencial, mas também publicamente. Devemos rezar também em sociedade porque Deus é o criador não só dos indivíduos, mas também da sociedade, ao criar o homem como animal social, isto é, como um ser que precisa de seus semelhantes para poder viver adequadamente. Clamam: “Jesus, Mestre, tende compaixão de nós.” Clamam Jesus, porque é Ele a salvação deles, o nome Jesus significa Salvador, lembremos. Pedem ao Senhor misericórdia, para que Ele os tire da miséria dessa doença e desse sofrimento. Ao pedir misericórdia, reconhecem o poder de Cristo, homem e Deus. Chamam-no Mestre, pois Nosso Senhor veio nos salvar pelo seu sacrifício e pela sua doutrina, pelos seus ensinamentos. Erro comum hoje afirmar que Nosso Senhor nada veio afirmar, mas apenas começar um vago sentimento ou movimento religioso. Erro comum mesmo entre alguns que se denominam conservadores. Nosso Senhor Jesus Cristo veio ensinar uma doutrina clara.
Nosso Senhor responde: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes.” Os leprosos, quando ficavam curados, deviam apresentar-se ao sacerdote para que esse declarasse a pureza deles. Nosso Senhor, ao dizer aos dez leprosos para que se mostrem aos sacerdotes, afirma que vai curá-los antes que cheguem lá. E eles foram prontamente, acreditando, então, que Nosso Senhor Jesus Cristo iria curá-los. Demonstraram uma fé sincera e uma pronta obediência, além de grande confiança no Mestre.
Ainda no caminho, ficaram curados. Os dez ficaram curados. Apenas um voltou. E foi justamente o samaritano. Voltou glorificando a Deus em alta voz e prostrou-se aos pés de Nosso Senhor, que aproveita a ocasião para manifestar a ingratidão dos outros nove que haviam sido curados. Ubi sunt? Onde estão os outros nove? Esse que voltou, ao agradecer a Deus, ao se prostrar diante de Nosso Senhor, ficou curado não somente de sua lepra, mas teve a sua alma curada: “levanta-te e vai, a tua fé te salvou.” Era esse o objetivo de Jesus Cristo ao curar os dez: que pudessem ter a alma purificada, que se convertessem a Deus. São inúmeras as lições dessa parte final do Evangelho. Vemos que a cura lhes foi dada para que se convertessem a Deus, assim como tudo o que Deus nos dá é para que melhor o sirvamos. Devemos usar tudo o que temos unicamente para melhor servir a Deus. O fato da cura dos leprosos e a volta do único estrangeiro, do único que não era judeu, mostra a difusão e aceitação do cristianismo entre os pagãos, enquanto a maior parte dos judeus recusou Nosso Senhor. Vemos que o samaritano volta glorificando a Deus em alta voz. Com alta voz tinha clamado pela cura. Com alta voz agradece. É preciso ter o mesmo fervor para pedir favores a Deus e para agradecer por tudo o que nos deu e dá. Quantas vezes existe grande fervor ao pedir, mas pequeno fervor ao agradecer a Deus.
A grande lição do Evangelho de hoje é a gratidão que devemos ter para com Deus. Devemos ser reconhecidos a Deus pelos inúmeros benefícios que nos dá. Muitas vezes, quando tudo vai bem, esquecemos de agradecer a Deus ou agradecemos muito pouco. Quando as coisas vão mal, esquecemos que também as cruzes vêm das mãos de Deus, esquecemos que também elas são graças, e esquecemos de tudo o que Deus já nos fez. E no lugar de glorificar a Deus, murmuramos. Quantas graças Deus nos dá e ficamos indiferentes, apenas nos lembrando de pedir mais graças, esquecidos de agradecer a Deus. Quantas graças de boa inspiração, de arrependimento. Quantos benefícios na ordem temporal e espiritual. Quantas vezes nos livrando de perigos e ciladas de todos os tipos, dando provas sem fim de sua bondade sem medida. Mas, em geral, somos dos nove que não voltaram. Onde estão as nossas ações de graças dirigidas a Deus por tudo que nos deu? Não está dito dos nove que a fé deles os salvou, apenas daquele que voltou agradecido. Devemos agradecer e glorificar a Deus, como fez o samaritano. Glorificar a Deus não tanto com as palavras quanto com as obras. Nossa gratidão a Deus deve ser mais efetiva do que afetiva. Nossa gratidão não pode ser um mero sentimento. A gratidão que deve encher a nossa alma – gratidão sobretudo pela misericórdia que até esse momento deus tem exercido para conosco – deve ser uma gratidão manifestada também com as obras, observando, guardando as suas palavras e os seus mandamentos. Gratidão efetiva a Deus em nossas orações e em nossos obras. Gratidão a Deus com toda a nossa vida.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

14 de setembro de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 406

UMA IRONIA DE PIO IX

No tempo de Pio IX, vivia em Roma uma estrangeira, que possuía um belo nome, uma aparência graciosíssima e uma grande fortuna. Os seus costumes porém, deixavam não pouco a desejar quanto ao comportamento e a seriedade. Uma vez, em pleno carnaval, a senhora lembrou-se de pedir uma audiência ao Papa. Pio IX acedeu de boa vontade e, introduzida a visitante, depois de conversar com ela amavelmente, perguntou-lhe:
— A senhora pretende demorar-se ainda muito em Roma?
— Somente até quarta-feira de cinzas — respondeu ela — para ter a honra de receber a cinza das mãos de Vossa Santidade.
— Como? — exclamou o Papa. — Quereis tomar a cinza em Roma? Siga um conselho meu, sra. Vá de preferência a Nápoles. O Vesúvio está em erupção. Lá encontrará cinzas em quantidade suficiente. Nós aqui não temos bastante para a senhora.

13 de setembro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

I

A primeira razão que temos de aspirar à santidade, é «a vontade de Deus»: Haec est voluntas Dei sanctificatio vestra.  Deus quer, não só que nos salvemos, mas também que sejamos santos. E qual o motivo desta vontade de Deus? «É que Ele próprio é santo»: Sancti estote, quoniam ego sanctus sum. Deus é a própria santidade; nós somos criaturas Suas; Ele quer que a criatura reproduza a Sua imagem: mais ainda, quer que, «na nossa qualidade de filhos, sejamos perfeitos, como Ele, nosso Pai celeste, é perfeito»: Estote perfecti, sicut et Pater vester caelestis perfectus est. É o preceito de Jesus.
Deus encontra a sua glória na nossa santidade. Não esqueçamos nunca esta verdade: cada grau de santidade a que chegarmos, cada sacrifício que fizermos para a adquirir, cada virtude que com seu brilho ornar a nossa alma, será eternamente uma glória para Deus.
Diariamente cantamos, e parece-me que cada dia com mais satisfação: Tu solus sanctus, Jesu Christe 
 - «Só Vós sois Santo, ó Jesus Cristo»; e, por isso, sois a grande glória de Deus. Durante toda a eternidade Jesus Cristo dará uma glória infinita ao Pai, mostrando-Lhe as Suas cinco Chagas, magnifica expressão de soberana fidelidade e perfeito amor com que «sempre cumpriu o que o Pai reclamava d'Ele": Quae placita sunt ei facio semper.
O mesmo se dá com os Santos. Estão «diante do trono de Deus», e incessantemente Lhe dão alegria.
O zelo ardente dos Apóstolos, o testemunho dos Mártires purpureado de sangue, a profunda ciência dos Doutores, a radiante pureza das Virgens constituem outras tantas homenagens agradáveis a Deus.
Nesta « multidão que ninguém pede contar", cada Santo brilha com particular fulgor; e Deus olhará
com eterna complacência para os esforços, lutas, vitórias desse Santo, que são quais outros tantos troféus aos pés de Deus, a honrar as Suas infinitas perfeições e a reconhecer os Seus direitos.
É, portanto, para nós ambição legítima trabalhar com todas as forças para adquirir esta glória. que Deus recebe da nossa santidade; devemos aspirar ardentemente por fazer parte dessa sociedade bem-aventurada, em que o próprio Deus pôs as Suas complacências. É para nós motivo de não nos contentarmos com uma perfeição medíocre, mas de visarmos incessantemente a corresponder, o mais perfeitamente possível, ao desejo de Deus: Sancti estote, quia ego sanctus sum.
Outra razão é que, quanto mais elevada for a nossa santidade, mais exaltaremos o valor do sangue de Jesus.
Diz S. Paulo que «Jesus Cristo se entregou inteiramente à morte, e morte da cruz, para santificar a Igreja e fazer dela uma sociedade resplandecente, sem mácula nem ruga, santa e imaculada».  Foi este o fim do Seu sacrifício.
Ora uma das causas mais vivas de aflição para o Coração de Jesus durante a agonia no Horto das Oliveiras, foi a perspectiva da inutilidade do Seu sangue para tantas almas que haviam de rejeitar o dom divino: Quae utilitas in sanguine meo?  Jesus Cristo compreendia que uma só gota daquele sangue seria suficiente para purificar o mundo e santificar multidões de almas: mas, para obedecer ao Pai. consentiu, com indizível amor, em derramar até à última gota este sangue que continha a virtude infinita da Divindade. E, no entanto, temos de dizer: «Que utilidade resultou do derramamento deste sangue» ?
A grande ambição que faz palpitar o Coração de Jesus é glorificar o Pai; por isso, o seu mais veemente desejo - quomodo coarctor - era dar a vida para atrair ao Pai inúmeras almas que produzissem muitos frutos de vida e de santidade: In hoc clarificatus est Pater meus, ut fructum PLURIMUM afteratis.
Mas quantos há que compreendam o ardor do amor de Jesus? Quantos correspondem aos desejos do Seu Coração? Tantas almas que não cumprem as leis divinas! Outras guardam os mandamentos; mas pouquíssimas são as que se entregam a Jesus e à ação do Seu Espírito com essa plenitude que leva à santidade.
Felizes das almas que se abandonam sem reserva à vontade divina! Inteiramente unidas a Cristo, que é a vide, «produzem abundantes frutos e glorificam o Pai celeste»: proclamam sobretudo a virtude do sangue de Jesus.
Senão, vede. Qual é o cântico entoado pelos eleitos, que S. João nos mostra no Apocalipse prostrados diante do Cordeiro? "Fostes imolado e, pelo Vosso sangue, nos resgatastes para Deus, de toda a tribo, de toda a língua, de todo o povo, de toda a nação . . . A Vós glória e louvor»! Os Santos confessam que são os troféus do sangue do Cordeiro, troféus tanto mais gloriosos quanto mais eminente é a sua santidade.
Procuremos, pois, com todo o ardor das nossas almas, purificar-nos cada vez mais no sangue de Jesus, produzir esses frutos de vida e santidade que Jesus Cristo nos mereceu pela Sua Paixão e morte. Se formos santos, os nossos corações exultarão, durante toda a eternidade, com a alegria que daremos a Jesus Cristo, cantando os triunfos do Seu divino sangue e a omnipotência da Sua graça.