Irmãzinha querida, não seja uma menina triste, ao ver que não a compreendem, que a julgam mal, que a esquecem, mas imite a toda gente esforçando-se por fazer como os outros, ou melhor, fazendo em relação a si o que os outros lhe fazem, isto é, esqueça tudo o que não é Jesus, esqueça-se a si mesma por amor dele!...
Irmãzinha querida, não diga que é difícil, se falo assim, a culpa é sua, disse-me que amava muito a Jesus, e nada parece impossível à alma que ama.
Os apóstolos sem Nosso Senhor trabalharam toda a noite e não apanharam peixe, mas o seu trabalho era agradável a Jesus. Ele queria provar-lhes que só Ele nos pode dar alguma coisa. Queria que os apóstolos se humilhassem... "Moços, diz-lhes ele, não tendes nada para comer?"
"Senhor, respondeu São Pedro, pescamos toda a noite sem nada apanhar". Se ele tivesse apanhado alguns peixinhos, Jesus não teria talvez feito o milagre, mas não tinha nada, por isso Jesus depressa encheu a sua rede de tal maneira que quase se rompia.
É isto realmente característico de Jesus: "Ele dá como Deus, mas quer a humildade do coração".
RETORNO PROGRESSIVO DAS ATIVIDADES DO APOSTOLADO DO IBP EM CURITIBA
Meu Bem-Amado, teu exemplo me convida a me abaixar para desprezar a honra; eu quero ficar pequenina para te agradar e me esquecendo encantarei teu Coração.
Minha paz está na solidão, e nada mais te peço. Agradar-te é minha única ambição, e minha felicidade és tu, Jesus!
Tu, o grande Deus que o universo adora, tu vens a mim, prisioneiro dia e noite; tua doce voz a cada instante me implora, e repetes: "Tenho sede! Tenho sede de amor!..."
Jesus não precisa de nossas obras, mas unicamente de nosso amor, pois o mesmo Deus que declara não ter necessidade de dizer-nos, quando está com fome, não se acanha de mendigar um pouco de água à Samaritana. Tinha sede... Mas, quando disse: "dá-me de beber", era o amor de sua pobre criatura que o Criador do Universo reclamava. Tinha sede de amor... Oh! sinto mais do que nunca. Jesus está com sede. Entre os discípulos do mundo encontra só ingratos e indiferentes; entre seus próprios discípulos, infelizmente, só encontra poucos corações que a Ele se entreguem sem reserva, que compreendam toda a ternura e seu amor infinito.
Compreendi que a verdadeira grandeza reside na alma, não no nome, porque no dizer de Isaías: "O Senhor dará OUTRO NOME aos seus eleitos". E São João também o diz: "O vencedor receberá uma pedrinha branca, na qual está escrito um NOME NOVO, só conhecido por quem o recebe". Só no Céu, portanto, saberemos quais são nossos títulos de nobreza. Então, cada qual receberá de Deus o louvor que merece. E quem na terra quis ser o mais pobre, o mais esquecido, por amor de Jesus, será o primeiro, o mais nobre e o mais rico!...
O que não será quando recebermos a Comunhão na eterna mansão do Rei dos Céus?... Veremos, então, que já não se acabará a nossa alegria, que já não haverá tristeza de separação, e que, para levar uma lembrança, não nos será preciso picar furtivamente as paredes santificadas pela presença divina, pois que sua casa será a nossa por toda a eternidade. Ele não nos quer dar sua casa na terra. Contenta-se em no-la mostrar, para que nos faça amar a pobreza e a vida oculta. Aquela que nos reserva é seu Palácio na glória, onde já não o veremos, oculto, na aparência de uma criança ou de uma hóstia branca, mas tal qual é, na força de seu infinito resplendor!
Oh! como ele deseja ser reduzido a nada, desconhecido de todas s criaturas, pobrezinho, não deseja mais nada senão o esquecimento... Não os desprezos, as injúrias, seria glorioso demais para um grão de areia. Se o desprezassem tinha que ser visto, mas o esquecimento!... Sim, desejo ser esquecida e não só das criaturas, mas também de mim mesma, queria tanto ficar reduzida ao nada, que não tivesse mais desejo algum...
A glória de Jesus, eis tudo! A minha abandono-lhe e se parecer esquecer-me, pois bem, ele é livre, porque já não me pertenço a mim, mas a ele... ele cansar-se-á mais depressa de me fazer esperar do que eu de o esperar!...
Não sinto vaidade quando sou julgada lisonjeiramente. Pois digo isto de mim para comigo: Uma vez que tomam por imperfeições meus pequenos atos de virtude, poderão também enganar-se da mesma maneira, tomando por virtude o que não passa de imperfeição.
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É verdade, na leitura de certas histórias de cavalaria, nem sempre eu captava desde logo o lado autêntico da vida. O Bom Deus, porém, logo me fazia intuir que a verdadeira glória é a que dura eternalmente, não havendo, para sua consecução, necessidade de realizar obras aparatosas, mas de esconder-se e praticar a virtude, de maneira a não saber a mão esquerda o que faz a direita...
Jesus é um tesouro escondido, um bem inestimável que poucas pessoas sabem encontrar porque ele está escondido e o mundo gosta do que brilha. Ah! se Jesus tivesse querido mostrar-se a todas as almas com os seus dons inefáveis, sem dúvida, nem uma só o teria repelido; mas ele não quer que o amemos pelos seus dons. É ele mesmo que deve ser nossa recompensa. Para encontrar uma coisa escondida é preciso esconder-se também; a nossa vida deve ser pois um mistério! É necessário parecermo-nos com Jesus, cujo rosto estava velado...
Não procuremos nunca o que parece grande aos olhos das criaturas. Salomão, o rei mais sábio que houve sobre a terra, considerando os diferentes trabalhos que ocupam os homens debaixo do sol: a pintura, a escultura, todas as artes, compreendeu que todas essas coisas estavam sujeitas à inveja, exclamou que elas não são mais do que "vaidade e aflição de espírito".
A única coisa que não é invejada é o último lugar; só este último lugar é que não é vaidade e nem aflição de espírio...
Basta humilhar-se, suportar com doçura as próprias imperfeições: eis a verdadeira santidade. Demo-nos a mão, querida irmãzinha, e corramos para o último lugar, ninguém no-lo virá disputar...
Onde encontrar o verdadeiro pobre de espírito? "É preciso procurá-lo muito longe", diz o salmista. Não diz que se deva procurá-lo entre as grandes almas, mas "muito longe", isto é, muito baixo, no nada. Ah! fiquemos o mais longe possível de tudo o que brilha, amemos a pequenez, desejemos nada sentir. Então seremos pobres de espírito e Jesus virá procurar-nos, por mais longe que estejamos e nos transformará em chamas de amor...
O grão de areia quer a todo custo salvar almas... Jesus tem que lhe conceder esta graça, Veronicazinha, peça-a à Face luminosa de Jesus!... Sim, a Face de Jesus é luminosa, mas se, no meio das feridas e das lágrimas já é tão bela, que será então quando virmos no Céu?...
Oh! o Céu... O Céu! Sim, para ver um dia a Face de Jesus, para contemplar eternamente a maravilhosa beleza de Jesus, o pobre grão de areia deseja ser desprezado na terra... Querido Cordeiro, peça a Jesus que o seu grão de areia se aplique a salvar muitas almas em pouco tempo para voar rapidamente para a sua Face querida...
Reze pelo pobre grãozinho de areia. Que o grão de areia esteja sempre no seu lugar, isto é, debaixo dos pés de todos. Que ninguém pense nele, que a sua existência seja, por assim dizer, ignorada... o grão de areia não deseja ser humilhado, isto é ainda glorioso demais, visto que seriam obrigados a ocupar-se dele e ele só deseja uma coisa: "ser ESQUECIDO, tido por nada" Mas ele deseja ser visto por Jesus. Os olhares das criaturas não podem abaixar-se até ele, que ao menos a Face ensanguentada de Jesus se volte para ele... Não deseja senão um olhar, um só olhar!
Se fosse possível a um grão de areia consolar a Jesus, enxugar as suas lágrimas, como há um que o queria fazer...
Desejo abaixar-me humildemente e submeter minha vontade à das minhas irmãs, não contradizendo em coisa alguma e sem procurar saber se tem ou não o direito de dar-me ordens. Ninguém, ó meu Bem-Amado, tinha tal direito sobre vós, e entretanto vós obedecestes, não só à Santíssima Virgem e a São José, mas também a vossos carrascos. Mas é na Eucaristia que vos vejo levar ao extremo vosso aniquilamento...
Suplico-vos, Jesus, enviar-me uma humilhação cada vez que eu procurar elevar-me acima das outras. Bem sei, ó meu Deus, vós humilhais a alma orgulhosa, mas dais uma eternidade de glória àquela que se humilha. Quero por isso colocar-me no último lugar, condividir as vossas humilhações para "ter parte convosco" no reino dos céus.
Lembra-te que na solidão trabalhavas com tuas mãos divinas, viver esquecido era tua única ambição, rejeitavas o saber humano! Ó tu, que com uma única palavra podias encantar o mundo, quiseste esconder tua sabedoria profunda...
Tu pareceste ignorante! Ó Senhor onipotente, lembra-te!
Certo dia, em que desejava, de modo particular, ser humilhada, aconteceu que uma noviça tão bem se encarregou de me satisfazer, que logo me acudiu a lembrança de Semei a proferir imprecações contra Davi, e disse de mim para comigo: Pois, então, certamente é o Senhor que lhe manda dizer-me todas estas cousas... E minha alma saboreava, deliciosamente, o amargo alimento que com tanta fartura lhe era servido.
Assim se digna o Bom Deus cuidar de mim. Nem sempre pode dar-me o pão fortificante da humilhação exterior, mas de tempos em tempos me permite que me nutra com as migalhas que caem da mesa dos filhos. Oh! quão grande é sua misericórdia! Só no Céu poderei cantá-la.
Quero pôr em prática este conselho da Imitação: "Glorie-se este de uma coisa, e aquele de outra, quanto a ti não ponhas a tua alegria senão no desprezo de ti mesmo, na minha vontade e na minha glória", ou então: "Queres aprender alguma coisa que te seja útil? Deseja ser ignorado e tido por nada!"
Então disse de mim para comigo: " Para a tomada de Hábito vestiram-se com um belo vestido branco guarnecido de rendas e flores, quem pensou em dar-me um para as núpcias? Este vestido sou eu que devo prepará-lo sozinha, Jesus quer que ninguém me ajude, exceto ele mesmo, portanto com o seu auxílio vou pôr mãos à obra, trabalhar com ardor. As criaturas não verão meus esforços que ficarão escondidos no meu coração. Procurando fazer que se esqueçam de mim, não quererei outro olhar senão o de Jesus... Que importa, se pareço pobre e desprovida de inteligência e de talentos?...
