18 de março de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

CAPÍTULO X

Jesus é coroado de espinhos e tratado como rei de teatro

Então os soldados do governador, conduzindo Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a corte. E despindo-o cingiram-lhe um manto carmesim e tecendo uma coroa de espinhos lha puseram sobre a cabeça e na sua mão direita uma cana” (Mt 27,27-29). Continuemos a considerar os bárbaros tormentos que os soldados fizeram nosso amabilíssimo Senhor sofrer. Reunindo toda a corte, colocam-lhe sobre os ombros uma clâmide purpúrea (era um manto velho que os soldados usavam por cima das armas) como manto real, nas mãos uma cana figurando o cetro e na cabeça um feixe de espinhos, parodiando a coroa, mas que, como um capacete, lhe cingia toda a cabeça. E já que os espinhos com a só colocação não entravam na cabeça já tão atormentada pelos golpes dos azorragues, servem-se da cana e, cuspindo-lhe ao mesmo tempo no rosto, cravam-lhe na cabeça com toda a força a tão cruel coroa: “E cuspindo-lhe tomavam a cana e lhe batiam na cabeça” (Mt 27,30). Ó espinhos, ó criaturas ingratas, que fazeis? assim atormentais o vosso Criador? Por que, porém, invectivar os espinhos? Ó pensamentos iníquos dos homens, fostes vós que atravessastes a cabeça de meu Redentor. Sim, meu Jesus, nós com nossos consentimentos perversos tecemos a vossa coroa de espinhos. Agora eu os detesto e os odeio mais do que a morte ou outro mal qualquer. E a vós me volto novamente, humilhado, ó espinhos, consagrados pelo sangue do Filho de Deus, transpassai a minha alma e fazei-a sentir sempre a dor de ter ofendido um Deus tão bom. E vós, Jesus, meu amor, que tanto padeceis para me desprender das criaturas e de mim mesmo, fazei que eu possa dizer em verdade que não sou mais meu, mas só de vós e todo vosso. Ó meu Salvador afligido, ó Rei do mundo, a que vos vejo reduzido? a representar o papel de rei de teatro e dor: a ser o ludíbrio de toda a Jerusalém! O sangue ocorre a flux da cabeça transpassada do Senhor, sobre sua face e seu peito. Ó meu Jesus, eu admiro a crueldade dessa gente que não se satisfaz com vos ter esfolado dos pés até à cabeça, e agora vos atormenta com novos ultrajes e desprezos; admiro, porém, mais a vossa mansidão e o vosso amor, que tudo sofre e aceita por nós com tanta paciência. “Que injuriado não injuriava, recebendo maus tratos não fazia sequer ameaças, porém se entregava àquele que o julgava injustamente” (1Pd 2,23). Devia realizar-se a predição do profeta de que nosso Salvador devia ser saciado de dores e ignomínias: “Oferecerá a face ao que o ferir, fartar-se-á de opróbrios” (Lm 3,30). Mas vós, soldados, não estais ainda satisfeitos? “E dobrando o joelho diante dele, motejavam dele dizendo: Eu te saúdo, rei dos judeus, e davam-lhe bofetadas” (Jo 19,3). Depois de tê-lo atormentado dessa forma e vestido como rei de teatro, ajoelhavam diante dele e o escarneciam dizendo: Nós te saudamos, ó rei dos judeus, e levantando-se com risos e escárnios, davam-lhe bofetadas. Ó Deus! a cabeça sagrada de Jesus já estava toda dolorida pelas feridas feitas pelos espinhos e por isso qualquer movimento lhe causava dores mortais e toda bofetada ou pancada lhe causava um sofrimento horrendo. Ao menos tu, minha alma, reconhece-o como supremo Senhor de tudo, como ele é em verdade, e agradece-lhe e ama-o como verdadeiro rei de dor e de amor, pois é para esse fim que ele padece e sofre por ti.


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Dia 18/3 - Quando julgar alguém, seja extremamente caridoso.

17 de março de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

CAPÍTULO IX

Jesus é flagelado numa coluna

“Pilatos então tomou Jesus e mandou açoitá-lo” (Jo 19,1). Vendo Pilatos que os dois meios empregados para não condenar aquele inocente, isto é, remetê-lo a Herodes e apresentá-lo junto com Barrabás, não tinham dado resultado, escolhe um outro meio, o de castigá-lo e depois mandá-lo embora. Convoca, pois, os judeus e diz-lhes: “Apresentastes-me este homem... e interrogando-o diante de vós não achei nele culpa alguma, nem tão pouco Herodes... Portanto, depois de castigado, o soltarei” (Lc 23,14-17). Vós me apresentastes este homem como delinqüente; eu, porém, não encontro nele crime algum, nem Herodes o descobriu. Contudo, para contentar-vos, eu o farei castigar e depois o porei em liberdade. Ó Deus, que injustiça! Ele o declara inocente e ainda assim lhe destina o castigo. Ó meu Jesus, vós sois inocente, mas não eu, e desde que quereis satisfazer por mim a justiça divina, não é injustiça mas é mesmo justo que sejais punido. Mas qual é o castigo a quem condenas esse inocente, ó Pilatos? A ser flagelado! Destinas, pois, a um inocente uma pena tão cruel e vergonhosa? Mas assim esse fez. “Pilatos se apoderou de Jesus e o mandou flagelar” (Jo 19,1). Contempla agora, minha alma, como depois dessa tão injusta sentença os carrascos se laçam com fúria sobre o manso Cordeiro e o conduzem aos gritos e alegria ao pretório e o amarram à coluna. E que faz Jesus? Ele, todo humilde e submisso, aceita por nossos pecados aquele tormento tão doloroso e ignominioso. Eis como já se armam com os azorragues e, dado o sinal, levantam o braço e começam a flagelar de todos os lados aquele corpo sacrossanto. Ó carrascos, vós vos enganastes, não é ele o réu, sou eu quem merece esses golpes. Aquele corpo virginal aparece ao princípio todo lívido e em seguida começa a jorrar sangue de todas as partes. E tendo os carnífices dilacerado todo o seu corpo, continuam impiedosamente a golpear as feridas e ajuntar dores a
dores. “E sobre a dor das minhas chagas acrescentaram novas chagas” (Sl 68,27). Ó minha alma, serás tu também do número daqueles que com olhos indiferentes contemplam a Deus flagelado? Considera, sim, as dores, mas ainda mais o amor com que este teu doce Senhor padece esse grande tormento por ti. Certamente Jesus pensava em ti na sua flagelação. Ó Deus, se ele não tivesse sofrido mais que um golpe por amor de ti, deverias arder em amor por ele, dizendo: um Deus se compraz em ser flagelado por meu amor! Ele, porém, chega, por teus pecados, a se deixar dilacerar todas as carnes, como já o predissera Isaías: “Ele, porém, foi vulnerado por causa de nossas iniqüidades” (Is 53,5). Além disso, segundo o mesmo profeta, o mais belo de todos os homens já não tem mais beleza. “Não existe nele beleza nem formosura: nós o vimos e ele não tinha mais aparência” (Is 53,2). Os flagelos o deformaram tanto que se não o conhece mais. “O seu rosto se achava como encoberto e parecia desprezível e por isso nenhum caso fizemos dele” (Is 53,3). Ficou reduzido a um estado miserável, que parecia um leproso coberto de chagas dos pés até à cabeça: “Nós o reputamos como um leproso e ferido por Deus e humilhado” (Is 53,4). E por que isso? porque nosso amante Redentor quis sofrer aquelas penas que nos eram devidas: “Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores” (Is 53,4). Seja para sempre louvada a vossa bondade, ó meu Jesus, que quisestes ser tão atormentado para livrar-me dos tormentos eternos. Oh! pobre e infeliz do que não vos ama, ó Deus de amor. Mas, enquanto os carrascos o flagelam tão cruelmente, que faz nosso amável Salvador? Ele não fala, não se lamenta, não suspira; mas com toda a paciência oferece tudo a Deus para torná-lo misericordioso em nosso favor: “Como Cordeiro mudo ante o que o tosquia, assim não abriu ele a sua boca” (At 8,32). Ah, meu Jesus, inocente cordeiro, esses bárbaros não vos cortam a lã, mas a pele e as carnes. Mas esse é o batismo de sangue que durante vossa vida tanto haveis desejado: “Tenho de ser batizado com um batismo e em que ansiedade me sinto eu até que ele se cumpra” (Lc 12,50). Levanta-te, minha alma, e lava-te naquele sangue precioso em que está toda banhada aquela terra afortunada. E como poderei eu, meu doce Salvador, duvidar do vosso amor, vendo-vos todo chagado e dilacerado por mim? Sei que cada uma de vossas chagas é um testemunho certíssimo do afeto que me tendes. Sinto que cada uma de vossas feridas me pede amor. Bastaria uma só gota de vosso sangue para me salvar, mas vós quisestes dá-lo todo, sem reserva, para que eu sem reserva me dê todo a vós. Sim, meu Jesus, eu me dou todo a vós sem reserva, aceitai-me e ajudai-me a vos ser sempre fiel.


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Dia 17/3 - Pense somente no que está fazendo e faça-o bem.

16 de março de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

CAPÍTULO VIII

Jesus é conduzido a Pilatos e daí a Herodes, sendo-lhe Barrabás preferido “Chegada a manhã, entraram em conselho contra Jesus para entregá-lo à morte, e preso o conduziram e entregaram ao governador Pôncio Pilatos” (Mt 27,1-2). Pilatos, depois de muita interrogações, feitas ora aos judeus ora ao Salvador, conhece que Jesus era inocente e que as acusações eram unicamente calúnias. Por isso, sai fora e diz aos judeus que não encontra motivo para condenar aquele homem (Jo 18,38). Vendo, porém, os judeus tão empenhados em dar a morte e ouvindo que Jesus era da Galiléia, para sair-se do embaraço, remeteu-o a Herodes (Lc 23,7). Herodes sentiu uma grande alegria por ter diante de si a Jesus Cristo, esperando presenciar algum dos muitos prodígios feitos pelo Senhor, como lhe haviam relatado. Pôs-se, pois, a crivá-lo de perguntas. Jesus, porém, se cala e nada responde, repreendendo assim a vã curiosidade daquele temerário (Lc 23,9). Pobre da alma à qual o Senhor não fala mais. Meu Jesus, era isso que eu merecia, depois de me haverdes chamado tantas vezes ao vosso amor com tantas vozes piedosas e eu não vos ter dado ouvido. Mereceria, sim, que não me falásseis mais e me abandonásseis: não o façais, porém, meu caro Redentor; tende piedade de mim e falai-me: “Falai, Senhor, porque vosso servo vos escuta”. Dizei-me, Senhor, o que quereis de mim, que eu quero obedecer-vos em tudo e contentar-vos. Mas, vendo Herodes que Jesus não lhe respondia, desprezou-o e, tratando-o de louco, mandou que o revestissem com uma veste branca e o ludibriou, no que foi acompanhado por sua corte inteira, e assim vilipendiado e encarnecido o reenviou a Pilatos. “Herodes, porém, com os da sua guarda, desprezou-o e fez escárnio dele, e, mandando vesti-lo com uma túnica branca, o reenviou a Pilatos” (Lc 23,11). Jesus é então levado pelas ruas de Jerusalém, revestido com aquela veste de escárnio. Ó meu Jesus, desprezado, ainda faltava esta injúria: ser tratado como louco! Ó cristãos, contemplai como o mundo trata a Sabedoria eterna! Bem-aventurado aquele que se preza de ser tratado como louco pelo mundo e não quer saber de nada mais senão de Jesus crucificado, amando os sofrimentos e desprezos e dizendo com S. Paulo: “Porque não entendi eu saber entre vós coisa alguma senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Cor 2,2). O povo hebreu tinha o direito de pedir ao governador romano a libertação de um réu na festa da Páscoa. Por isso Pilatos propõe-lhe Jesus e Barrabás, dizendo: “A quem quereis que eu solte, a Barrabás ou a Jesus?” (Mt 27,21). Pilatos esperava certamente que o povo preferisse Jesus a Barrabás, homem celerado, homicida e ladrão público, odiado por todos. Mas o povo, instigado pelos chefes da sinagoga, pede, de repente, sem nenhuma deliberação, a Barrabás. “E eles disseram: Barrabás”. Pilatos, surpreendido e ao mesmo tempo indignado, vendo preferido um tão grande celerado a um inocente diz: “Que hei então de fazer de Jesus? Todos responderam: Seja crucificado. E Pilatos: Mas que mal fez ele? E eles gritavam ainda mais: seja crucificado” (Mt 27,23). Ah, Senhor, assim procedi eu quando pequei: eu me propunha então que coisa era preferível, ou renunciar a vós ou àquele vil prazer. E eu respondia: Quero o prazer e não me incomodo de perder a Deus. Assim disse eu então, meu Senhor. Agora, porém, digo que prefiro a vossa graça a todos os prazeres e tesouros do mundo. Ó bem infinito, ó Jesus, eu vos amo acima de todos os bens: só a vós quero e nada mais. Assim como foram propostos ao povo Jesus e Barrabás, do mesmo modo foi proposto ao eterno Padre quem ele queria livre, seu filho ou o pecador. O eterno Pai responde: Morra meu Filho e salve-se o pecador. É o que atesta o Apóstolo: “Não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” (Rm 8,32). Sim, a tal ponto, diz o próprio Salvador, amou Deus o mundo que para salvá-lo entregou aos tormentos e à morte seu Filho unigênito (Jo 3,16). Por isso exclama a Igreja: Ó admirável condescendência de vossa piedade! Ó inapreciável predileção de vossa caridade! para remirdes o escravo, entregastes o Filho! (Hino Exultet). Ó santa fé de um homem que crê essas coisas, como poderá deixar de ser todo fogo para amar um Deus que ama tanto as criaturas! Oh! tivesse eu sempre diante dos olhos esta imensa caridade de Deus.