30 de janeiro de 2009

PADRE

O que é um padre?
(Padre J.Baeteman)

Sem dúvida é um homem como nós, porém um homem obrigado, pela vocação, a viver num plano superior, a tender à perfeição, mesmo à santidade; um homem condenado a viver só, sem família, a fim de ter o coração livre e sempre pronto à todas as dedicações; um homem que segundo a palavra do P. Chevrier, é "feito para ser comido"; um homem que não se pertence, mas que pertence a todos.

Como Cristo ele está na terra "para servir". E que servidão a sua! Dia e noite ele está à disposição dos que necessitam do seu ministério; passará horas a fio nisso... quantos padres têm perdido a saúde em conseqüência de estágios prolongados no confessionário! Em particular nas vésperas das festas, ás vezes eles entrarão ali ás seis horas da manhã para saírem já noite fechada! Em certos momentos, o seu pobre corpo não pode mais, a cabeça estala; mas eles têm de permanecer no seu posto. Estão ali "para servir". Ali ouvem confissões perturbadoras, ficam ligados a elas por um segredo terrível, a ponto de deverem morrer antes que revelarem o que ouviram. E, se uma epidemia estender suas devastações sobre o país, eles serão sempre os primeiros, e por dever, a ir à cabeceira dos doentes, ainda quando tivessem com isso de contrair o contágio e a morte. Devem "servir"!

No campo, é uma solidão esmagadora e, às vezes, a pobreza extrema... Nas cidades, o padre é "moído", da manhã à noite, pelos ofícios, pelos catecismos, pelos doentes, pelas visitas obrigatórias, pelos patronatos, etc...

E quantos que, á noite, ainda são obrigados a ocupar-se de círculos de estudos, de sessões a preparar, e o mais; expostos ainda a levantar-se se, durante a noite, os chamarem à cabeceira de um moribundo!

Na realidade, quando olhada sem "parti-pris", a vida do padre é simplesmente heróica.

O que os inimigos exprobram, sobretudo, não é o bem que ele faz, é vê-lo teimar em viver na cruz, como seu Mestre, condenando-lhes assim os costumes dissolutos! A ele, como a Cristo, eles bradam: "Desce da tua cruz!" Então talvez eles lhe perdoassem, se o vissem tornar-se como um deles. Mas o eleito de Deus obstinar-se-á na sua vida rude, crucificado, solitário; jamais descerá da sua cruz, jamais renunciará ao seu papel de Cristo. Por isto, será sempre perseguido pelas injúrias, pelos sarcasmos, pelos escárnios e pelo ódio.

Os jornais de 1937 noticiaram que, na Espanha, 50% dos padres haviam sido fuzilados, torturados, trucidados; em certas regiões a proporção foi até 90%.

...Um missionário da China, voltando à França depois de haver por milagre escapado a horríveis perigos, ao descer do navio, em Marselha, arrastava o seu pobre corpo gasto, amortecido. Uns operários passam por junto dele, e um deles, apontando-o aos outros, exclama: "Quando será que se jogará na água esse lepra?" Por que esse grito de ódio? Era um padre!

... A nossa batina designar-nos-á sempre aos punhais dos sicários e às balas dos desordeiros!
(Padre Baeteman - Mais perto de Ti, meu Cristo - pág. 249 a 252)

29 de janeiro de 2009

SAGRADA COMUNHÃO

COMUNHÃO NA BOCA, DE JOELHOS E DAS MÃOS DO SACERDOTE

CATECISMO ROMANO

"Devemos, pois, ensinar que só aos sacerdotes foi dado poder de consagrar a Sagrada Eucaristia, e de distribuí-la aos fiéis cristãos. Sempre foi praxe da Igreja que o povo fiel recebesse o Sacramento pelas mãos dos sacerdotes, e os sacerdotes comungassem por si próprios, ao celebrarem os Sagrados Mistérios. Assim o definiu o Santo Concílio de Trento; e determinou que esse costume devia ser religiosamente conservado, por causa de sua origem apostólica, e porque também Cristo Nosso Senhor nos deu o exemplo, quando consagrou Seu Corpo Santíssimo, e por Suas próprias mãos O distribuiu aos Apóstolos.

De mais a mais, com o intuito de salvaguardar, sob todos os aspectos, a dignidade de tão augusto Sacramento, não se deu unicamente aos sacerdotes o poder de administrá-lo: como também se proibiu, por uma lei da Igreja, que, salvo grave necessidade ninguém sem Ordens Sacras ousasse tomar nas mãos ou tocar vasos sagrados, panos de linho, e outros objetos necessários à confecção da Eucaristia.

Destas determinações podem todos, os próprios sacerdotes e os demais fiéis, inferir quão virtuosos e tementes a Deus devem ser aqueles que se dispõem a consagrar, a ministrar, ou a receber a Sagrada Eucaristia".

CATECISMO MAIOR DE SÃO PIO X

"No ato de receber a sagrada Comunhão, devemos estar de joelhos, com a cabeça medianamente levantada, com os olhos modestos e voltados para a sagrada Hóstia, com a boca suficientemente aberta e com a língua um pouco estendida sobre o lábio inferior. Senhoras e meninas devem estar com a cabeça coberta".

MISSAL ROMANO (Forma Extraordinária)
O Missal Romano determina que a partir do momento da consagração, o sacerdote deve manter juntos os dedos indicador e polegar, de tal forma que, ao elevar o cálice, ao virar as páginas do missal ou ao abrir o sacrário, aqueles dedos toquem somente a Hóstia consagrada. No final da missa, o sacerdote passa com a patena sobre o corporal e limpa-o para dentro do cálice, para que possa ser recolhida e consumida com reverência a menor Partícula que possa ter aí ficado. Após a comunhão, as mãos do sacerdote são lavadas sobre o cálice com água e vinho – consumidos reverentemente, impedindo que alguma Partícula seja profanada.

SANTO TOMÁS DE AQUINO

"Pertence ao sacerdote distribuir o Corpo de Cristo por três motivos. Primeiro, porque é ele que consagra na pessoa de Cristo. Assim como Cristo consagrou o seu corpo na Ceia, assim também distribuiu-o aos discípulos. Por isso, assim como pertence ao sacerdote consagrar o Corpo de Cristo, assim também o de distribui-lo.

Segundo, porque o sacerdote se constitui intermediário entre Deus e o povo. Portanto, como lhe pertence apresentar a Deus as oferendas do povo, assim também lhe pertence distribuir ao povo os dons divinamente santificados.

Terceiro, porque por respeito à Eucaristia, nada a deve tocar que não esteja consagrado. Por isso, consagram-se os corporais, os cálices, igualmente as mãos do sacerdote para tocarem este sacramento. Não é lícito, pois, a ninguém mais tocá-lo, a não ser em caso de necessidade, por exemplo se cair no chão ou em outro caso semelhante"
(Suma Teológica, III, q.82, a.III).

"Depois da consagração, o celebrante une os dedos, isto é o polegar com o indicador, que tocaram o Corpo consagrado de Cristo, para que, se alguma partícula aderira a eles, não desprenda. Manifesta o respeito devido ao sacramento" (Suma Teológica, III, q.83, a.VI, ad5).

SÃO FRANCISCO DE SALES

"Começa já na véspera do dia da comunhão a te preparar com repetidas aspirações do amor divino e deita-te mais cedo que de costume, para te levantares também mais cedo. Se acordas durante a noite, santifica esses momentos por algumas palavras devotas ou por um sentimento que impregne tua alma de felicidade de receber o divino esposo; enquanto dormes, ele está velando sobre o teu coração e preparando as graças que te quer dar em abundância, se te achar devidamente preparada. Levanta-te de manhã com este fervor e alegria que uma tal esperança te deve inspirar, e depois da confissão aproxima-te com uma grande confiança e profunda humildade da mesa sagrada, para receber este alimento celeste, que te comunicará a imortalidade. Depois de pronunciares as palavras: "Senhor, eu não sou digno ...", já não deves mover a cabeça ou os lábios para rezar ou suspirar; mas, abrindo um pouco a boca e elevando a cabeça de modo que o padre possa ver o que faz, estende um pouco a língua e recebe com fé, esperança e caridade aquele que é de tudo isso ao mesmo tempo o princípio, o objeto, o motivo e o fim".

28 de janeiro de 2009

MODO DE AJUDAR À MISSA


MODO DE AJUDAR À MISSA
(Fonte: Missal Quotidiano e Vesperal, por Dom Gaspar Lefebvre)

Não se pretende dar aqui um cerimonial completo, mas apenas as indicações mais necessárias que possam servir de guia a qualquer pessoa que benevolamente se apresente ou seja solicitada para ajudar à Missa.

Quanto ao formulário, veja-se o Ordinário da Missa.

1. À chegada ao altar: o acólito faz genuflexão no plano, à esquerda do celebrante; está de pé até este descer do altar.

2. Orações ao pé do altar: de joelhos à esquerda do celebrante. Benze-se ao mesmo tempo que ele. Depois de este ter recitado o Confiteor, volta-se para ele, com a cabeça ligeiramente inclinada, e diz Misereatur; inclina-se, e recita o Confiteor, conservando-se inclinado até ao Amen depois do Misereatur dito pelo celebrante. Quando o celebrante sobe ao altar, ajoelha-se no primeiro degrau.

3. Depois da Epístola: responde Deo gratias; vai à direita do celebrante, espera que ele termine o Gradual, etc.; pega no Missal, e passa-o para o lado esquerdo do altar (lado do Evangelho), fazendo genuflexão ao passar pelo meio. Depois de responder Gloria tibi Domine, passa para o lado direito (lado da Epístola).

4. Durante o Evangelho: de pé no plano, voltado para o celebrante.

5. Credo: de joelhos, no primeiro degrau.

6. Ofertório: de pé no último degrau, do lado da Epístola, apresenta as galhetas (primeiro a do vinho, depois a da água); depois ministra ao Lavabo, deitando água nas mãos do celebrante e apresentando-lhe o manustérgio.

7. Até a consagração: de joelhos no primeiro degrau, do lado direito. Ao Sanctus, toca por três vezes a campainha. Quando o celebrante estender as mãos sobre o cálix, dá um sinal de campainha, sobe e ajoelha-se no bordo do supedâneo, à direita; levanta a casula e toca três vezes a campainha a cada uma das duas elevações.

8. Depois da consagração até à Comunhão: de joelhos no primeiro degrau do lado direito. Toca três vezes a campainha ao Domine non sum dignus.

9. Comunhão: se houver fiéis para comungar, enquanto o celebrante toma o Preciosíssimo Sangue, recita o Confiteor, inclinando-se profundamente; comunga, se houver de comungar, antes dos outros fiéis, ajoelhado no supedâneo.

10. Depois da Comunhão: sobe à direita do celebrante com as galhetas, e deita vinho no cálix que este lhe apresenta; retira-se para o último degrau do lado da Epístola, e deita-lhe água e vinho nos dedos; pousa as galhetas na credência, e vai buscar o Missal para o lado da Epístola; apresenta ao celebrante o véu do cálix. Depois, vai-se ajoelhar no primeiro degrau do lado esquerdo, como no princípio da Missa.

11. Último Evangelho: de pé; depois de responder Gloria tibi Domine, passa para o lado direito; genuflecte às palavras Et Verbum caro factum est. Havendo um último Evangelho especial (neste caso o celebrante deixará o Missal aberto), passa o Missal para o lado do Evangelho.

12. Últimas orações: de joelhos, à direita do celebrante.

13. Ao retirar-se: fazer genuflexão diante do altar.

A EUCARISTIA, NECESSIDADE DO NOSSO CORAÇÃO
São Pedro Julião Eymard

"Porque está Jesus Cristo na Eucaristia? Tal pergunta, se pode ter muitas respostas, tem no entanto uma que a todas resume: Jesus Cristo está na Eucaristia porque noa ama e quer que nós o amemos. O Amor, eis a razão de ser da instituição da Eucaristia.

Sem ela, o Amor de Jesus Cristo seria apenas um Amor de Morte, passado, esquecido dentro em breve – e isso sem culpa de nossa parte. Só a Eucaristia satisfaz plenamente as leis e as exigências do amor. Jesus Cristo, dando-nos nela provas de Amor infinito, tem direito de ser nela amado.

Ora, o amor natural, tal qual Deus pôs nos corações, requer três coisas. A presença ou sociedade de vida, a comunhão de bens, a união perfeita.

I

A ausência é a aflição, o tormento da amizade. O afastamento diminui e, ao ser prolongado, dissipa a mais forte amizade. Estivesse Nosso Senhor ausente, afastado, o amor que lhe temos passaria, em virtude do efeito dissolvente dessa mesma ausência. É da essência, da natureza do amor humano reclamar, para viver, a presença do objeto amado.

Olhai para os pobres Apóstolos, enquanto Nosso Senhor jaz no túmulo, para os discípulos de Emaús, que confessam terem quase perdido a fé. Não gozam mais da presença do divino Mestre.
Ah! Não nos tivesse Nosso Senhor deixado outro legado de seu Amor senão Belém e o Calvário e quão depressa o teríamos esquecido! Que indiferença! O amor quer ver, ouvir, conversar, apalpar.

Nada substitui o ente querido, nem lembrança, nem dons, nem retratos; nada disso tem vida. E quão bem sabia Nosso Senhor que nada poderia tomar seu lugar, pois carecemos dele mesmo. Não nos basta então sua palavra? Não, já não vibra, já não ouvimos as tocantes expressões dos lábios do Salvador. E seu Evangelho? É um testamento. E o Sacramentos, não dão ele Vida? Só o autor da Vida poderia entretê-la em nós. E a Cruz? Ah! Sem Jesus quão triste é! E a esperança? Sem Jesus é uma agonia. Os protestantes têm tudo isso e quão frio e quão glacial é o protestantismo!

Poderá então Jesus reduzir-nos a um estado tão triste, qual o de viver e combater sozinhos? Ah! Sem Jesus, presente entre nós, seríamos por demais desgraçados. Exilados, sós no mundo, obrigados a privar-nos dos bens, das consolações terrestres, enquanto aos mundanos é dado satisfazerem todos os seus desejos, a vida se tornaria insuportável.

Mas com a Eucaristia! Com Jesus em nosso meio, quantas vezes sob o mesmo teto, dia e noite, a todos acessível, a todos esperando na sua morada sempre aberta; admitindo as crianças, chamando-as com acentuada predileção, a vida torna-se menos amarga. É o pai amoroso, rodeado dos filhos. É a vida de sociedade com Jesus.

E que sociedade, quanto nos engrandece e nos eleva! E quão fáceis são as relações de sociedade, de recurso ao Céu, a Jesus Cristo em pessoa! Convivência suave, simples, familiar e íntima, assim Ele a quis.

II

O amor quer comunhão de bens, quer tudo possuir em comum. Quer partilhar da felicidade e da infelicidade. É-lhe natural, instintivo dar, dar com alegria, com júbilo. E com que profusão, que prodigalidade concedera Jesus Cristo, no Santíssimo Sacramento, seus merecimentos, suas graças, sua própria glória! Que desvelo em dar, sem jamais recusar!

Dá-se a si mesmo, a todos e a todo momento, espalhando pelo mundo as Hóstias consagradas para que todos os seus filhos as recebam. No deserto, dos cinco pães multiplicados, sobraram doze cestas cheias, e todos deles participaram.

Jesus-Eucaristia quereria envolver o mundo na sua nuvem sacramental, fecundar os povos com essa água vivificante, que, depois de ter desalterado e reconfortado o último de seus eleitos, se perderá no oceano eterno. Ah! Jesus-Hóstia é nosso, todo nosso!

III

O amor tende essencialmente à união entre os amantes, à fusão de dois seres num só ser, de dois corações num só coração, de dois espíritos num só espírito, de duas almas numa só alma (...)

Jesus submete-se a essa lei de amor por Ele mesmo estabelecida. Depois de ter compartilhado do nosso estado e de nossa vida, dá-se-nos ele na comunhão, incorporando-nos a Ele.

União, cada vez mais perfeita e mais íntima, das almas, segundo a maior ou menor vivacidade dos desejos. "In me manet, et ego in eo". Permanecemos nele e Ele em nós. Fazemos um só com Ele, até consumir-se no Céu, na união eterna e gloriosa, a união inefável, começada na terra pela graça e aperfeiçoada pela Eucaristia.

O amor vive, pois, com Jesus presente no Santíssimo Sacramento do altar, compartilha de todos os bens de Jesus, une-se a Jesus e assim satisfazem-se as exigências de nosso coração, que mais não pode pedir".

27 de janeiro de 2009

AS CINCO QUALIDADES REQUERIDAS PARA TODAS AS ORAÇÕES - S. TOMÁS DE AQUINO

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“O PAI NOSSO E A AVE MARIA”

SERMÕES DE S. TOMÁS DE AQUINO


PRÓLOGO


AS CINCO QUALIDADES REQUERIDAS PARA TODAS AS ORAÇÕES


1. — A Oração Dominical, entre todas, é a oração por excelência, pois possui as cinco qualidades requeridas para qualquer oração. A oração deve ser: confiante, reta, ordenada, devota e humilde.


2. — A oração deve ser confiante, como São Paulo escreve aos Hebreus (4, 16): Aproximemo-nos com confiança do trono da graça, a fim de alcançar a misericórdia e achar a graça para sermos socorridos no tempo oportuno.


A oração deve ser feita com fé e sem hesitação, segundo São Tiago. (Tg 1,6): Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... Mas peça-a com fé e sem hesitação.


Por diversas razões, o Pai Nosso é a mais segura e confiante das orações. A Oração Dominical é obra de nosso advogado, do mais sábio dos pedintes, do possuidor de todos os tesouros de sabedoria (cf. Cl 2, 3), daquele de quem diz São João (I, 2, 1): Temos um advogado junto ao pai: Jesus Cristo, o Justo. São Cipriano escreveu em seu Tratado da oração dominical: «Já que temos o Cristo como advogado junto ao Pai, por nossos pecados, em nossos pedidos de perdão, por nossas faltas, apresentemos em nosso favor, as palavras de nosso advogado».

A Oração Dominical parece-nos também que deve ser a mais ouvida porque aquele que, com o Pai, a escuta é o mesmo que no-la ensinou; como afirma o Salmo 90 (15): Ele clamará por mim e eu o escutarei. «É rezar uma prece amiga, familiar e piedosa dirigir-se ao Senhor com suas próprias palavras» diz São Cipriano. Nunca se deixa de tirar algum fruto desta oração que, segundo santo Agostinho, apaga os pecados veniais.

3. — Nossa oração deve, em segundo lugar, ser reta, quer dizer, devemos pedir a Deus os bens que nos sejam convenientes. «A oração, diz São João Damasceno, é o pedido a Deus dos dons que convém pedir».


Muitas vezes, a oração não é ouvida por termos implorado bens que verdadeiramente não nos convêm. «Pediste e não recebeste, porque pediste mal», diz São Tiago. (4,3).


É tão difícil saber com certeza o que devemos pedir, como saber o que devemos desejar. O Apóstolo reconhece, quando escreve aos Romanos (8, 26): Não sabemos pedir como convém, mas (acrescenta), o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis.


Mas não é o Cristo que é nosso doutor? Não foi ele que nos ensinou o que devemos pedir, quando seus discípulos disseram: Senhor, ensinai-nos a rezar? (Lc 11, 1).


Os bens que ele nos ensina a pedir, na oração, são os mais convenientes. «Se rezamos de maneira conveniente e justa, diz Santo Agostinho, quaisquer que sejam os termos que empregamos, não diremos nada mais do que o que está contido na Oração Dominical».


4. — Em terceiro lugar, a oração deve ser ordenada, como o próprio desejo que a prece interpreta.

A ordem conveniente consiste em preferirmos, em nossos desejos e preces, os bens espirituais aos bens materiais, as realidades celestes às realidades terrenas, de acordo com a recomendação do Senhor (Mt, 6,33): Procurai primeiro o reino de Deus e sua justiça e o resto — o comer, o beber e o vestir — ser-vos-á dado por acréscimo.

Na Oração Dominical, o Senhor nos ensina a observar esta ordem: primeiro pedimos as realidades celestes e em seguida os bens terrestres.


5. — Em quarto lugar, a oração deve ser devota.


A excelência da devoção torna o sacrifício da oração agradável a Deus. Em vosso nome, Senhor, elevarei minhas mãos, diz o Salmista, e minha alma é saciada como de fino manjar.


A prolixidade da oração, no mais das vezes, enfraquece a devoção; também o Senhor nos ensina a evitar essa prolixidade supérflua: Em vossas orações não multipliqueis as palavras; como fazem os pagãos, (Mt 6,7). S. Agostinho recomenda, escrevendo a Proba: «Tirai da oração a abundância de palavras; no entanto não deixeis de suplicar, se vossa atenção continua fervorosa».


Esta é a razão pela qual o Senhor instituiu a breve oração do Pai Nosso.


6. — A devoção provém da caridade, que é o amor de Deus e do próximo. O Pai Nosso é uma manifestação destes dois amores.


Para mostrar nosso amor a Deus, o chamamos «Pai» e para mostrar nosso amor ao próximo, pedimos por todos os homens justos, dizendo: «Pai nosso», e empurrados pelo mesmo amor, acrescentamos: «perdoai as nossas dívidas»


7. — Em quinto lugar, nossa oração deve ser humilde, segundo o que diz o Salmista (Sl. 101, 18): Deus olhou para a prece dos humildes.


Uma oração humilde é uma oração que certamente será ouvida, como nos mostra o Senhor, no evangelho do Fariseu e do Publicano (Lc 18, 9-15) e Judite, rogando ao Senhor, dizia: Vós sempre tivestes por agradável a súplica dos humildes dos mansos.


Esta humildade está presente na Oração Dominical, pois a verdadeira humildade está naquele que não confia em suas próprias forças, mas tudo espera do poder divino.

Santa Missa

O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
Catecismo Maior de São Pio X

A Eucaristia não é somente um Sacramento; é também o sacrifício permanente da Nova Lei, que Jesus Cristo deixou à Igreja, para ser oferecido a Deus pelas mãos dos seus sacerdotes.

O sacrifício, em geral, consiste em oferecer a Deus uma coisa sensível, e destrui-la de alguma maneira, para reconhecer o supremo domínio que Ele tem sobre nós e sobre todas as coisas.
Este sacrifício da Nova Lei chama-se a Santa Missa.

A Santa Missa é o sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de pão e de vinho, em memória do sacrifício da Cruz.

O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece pelas mãos dos sacerdotes seus ministros sobre os nossos altares, mas, quanto ao modo como é oferecido, o sacrifício da Missa difere do sacrifício da Cruz, conservando todavia a relação mais íntima e essencial com ele.

Entre o Sacrifício da Missa e o sacrifício da Cruz há esta diferença e esta relação: Jesus Cristo sobre a Cruz se ofereceu derramando o seu sangue e merecendo para nós; ao passo que sobre os altares Ele se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os frutos da sua Paixão e Morte.

Outra relação do Sacrifício da Missa com o da Cruz é que o Sacrifício da Missa representa de modo sensível o derramamento do Sangue de Jesus Cristo na Cruz; porque em virtude das palavras da consagração só o Corpo de nosso Salvador se torna presente debaixo das espécies de pão, e debaixo das espécies de vinho só o seu Sangue; entretanto, pela concomitância natural e pela união hipostática, está presente, debaixo de cada uma das espécies, Jesus Cristo todo inteiro, vivo e verdadeiro.

O Sacrifício da Cruz é o único sacrifício da Nova Lei, porque por ele Nosso Senhor aplacou a Justiça Divina, adquiriu todos os merecimentos necessários para nos salvar, e assim consumou da sua parte a nossa redenção. São estes merecimentos que Ele nos aplica pelos meios que instituiu na sua Igreja, entre os quais está o Santo Sacrifício da Missa.

Oferece-se a Deus o Sacrifício da Missa para quatro fins:
1º. para honrá-Lo como convém, e deste ponto de vista o sacrifício é latrêutico;
2º. para Lhe dar graças pelos seus benefícios, e deste ponto de vista o sacrifício é eucarístico;
3º. para aplacá-Lo, para dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados, para sufragar as almas do Purgatório, e deste ponto de vista o sacrifício é propiciatório;
4º. para alcançar todas as graças que nos são necessárias, e deste ponto de vista o sacrifício é impetratório.

O primeiro e principal oferente do Santo Sacrifício da Missa é Jesus Cristo, e o sacerdote é o ministro que em nome de Jesus Cristo oferece este sacrifício ao Pai Eterno.

Foi o próprio Jesus Cristo que instituiu o Santo Sacrifício da Missa, quando instituiu o Sacramento da Eucaristia, e disse que fosse ele feito em memória da sua Paixão.

O Santo Sacrifício da Missa oferece-se só a Deus. A Missa celebrada em honra da Santíssima Virgem Maria e dos Santos é sempre um sacrifício oferecido só a Deus; diz-se, porém, celebrada em honra da Santíssima Virgem e dos Santos para louvar a Deus neles pelos dons que lhes concedeu, e para alcançar, pela intercessão deles, em maior abundância, as graças de que necessitamos.

Toda a Igreja participa dos frutos da Missa, mas particularmente: 1º. o sacerdote e os que assistem à Missa, os quais se consideram unidos ao sacerdote; 2º. aqueles por quem se aplica a Missa, e podem ser vivos ou defuntos.

Para ouvir bem e com fruto a Santa Missa são necessárias duas coisas: 1º. modéstia exterior; 2º. devoção interior.

A modéstia exterior consiste particularmente em estar modestamente vestido, em observar o silêncio e o recolhimento, e em estar, quanto possível, de joelhos, excetuando o tempo dos dois evangelhos, que se ouvem estando de pé.

O melhor modo de praticar a devoção interior ao ouvir a Santa Missa abarca o seguinte:
1º. unir, desde o começo, a própria intenção à do sacerdote, oferecendo a Deus o Santo Sacrifício para os fins por que foi instituído;
2º. acompanhar o sacerdote em cada uma das orações e ações do Sacrifício;
3º. meditar a Paixão e Morte de Jesus Cristo e detestar, de todo o coração, os pecados que Lhe deram causa;
4º. a comunhão sacramental, ou ao menos a espiritual, ao tempo em que o sacerdote comunga.

A Comunhão espiritual é um grande desejo de se unir sacramentalmente a Jesus Cristo, dizendo por exemplo: "Meu Senhor Jesus Cristo, eu desejo de todo o meu coração unir-me a Vós agora e por toda a eternidade"; e fazendo os mesmos atos que se fazem antes e depois da Comunhão sacramental.

A recitação destas orações [o Rosário, por exemplo] não impede ouvir com frutos a Missa, desde que haja um esforço possível de seguir as cerimônias do Santo Sacrifício.

É coisa boa rezar também pelos outros quando se assiste à Santa Missa; e até o tempo da Santa Missa é o mais oportuno para rezar pelos vivos e pelos mortos.

Terminada a Missa, devemos dar graças a Deus por nos ter concedido a graça de assistir a este grande sacrifício e pedir-Lhe perdão das faltas cometidas enquanto a assistíamos.