13 de janeiro de 2009

A TRADIÇÃO DOS SINOS NAS IGREJAS

Texto de sua Reverendíssima, Mons. Jean-Joseph Gaune, disponibilizado por Santiago Fernandez, em seu blog Orações e Milagres Medievais.

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Como todas as grandes e belas coisas, é à Igreja que devemos o sino.

O sino nasceu católico, por isso a Igreja o ama como a mãe ama o seu filho. Ela benze o metal de que é feito.

Logo que ele veio ao mundo, a Igreja o batizou e fez dele um ente sagrado.

Com razão, porque o sino é destinado a cantar tudo o que há de santo e de santificante na terra e no céu.

Pelas orações e cerimônias que o acompanham, o batismo vai dizer-lhe a sua vocação.

A Igreja sempre teve em muito respeito o sino, o que se mostra com novo esplendor nas preces e nas cerimônias do seu batismo.

Reunidos os fiéis em roda do sino, suspenso a alguns metros acima do solo, o bispo em hábitos pontificais chega majestosamente, acompanhado do clero e seguido do padrinho e da madrinha do sino.

Em nome de Deus, de quem é ministro, o bispo chama sobre essa maravilhosa criatura a virtude do Espírito Santo, que a torna fecunda no primeiro dia da criação.

Certo de ser atendido, o bispo asperge o sino, ao qual confere o poder e o dever de afastar de todos os lugares, onde seu som repercutir, as potências inimigas do homem e de seus bens: os demônios, as trombas, o raio, o granizo, os animais maléficos, as tempestades e todos os espíritos de destruição.

Vejamos sua missão positiva.

A sua voz proclamará os grandes mistérios do Cristianismo, aumentará a devoção dos cristãos, para cantar novos cânticos na assembléia dos santos, e convidará os anjos a tomar parte nos seus concertos.

O sino fará tudo isto, porque esta missão lhe é confiada em nome d'Aquele que possui todo o poder no céu e na terra.

Cada badalada faz retinir ao longe os dois mistérios de morte e de vida - alpha e ômega - mistérios necessários para orientar a vida do homem, consolar as suas esperanças.

Não admira, pois, que o bispo, dirigindo-se ao próprio sino, o dedique a um santo ou a uma santa no paraíso, e lhe diga, com uma espécie de respeitosa ternura: “Em honra de São N., a paz doravante seja contigo, caro sino”.

Como o sino deve ter um nome, é preciso também que ele tenha um padrinho e uma madrinha.

O nome é gravado no sino, abaixo da cruz em relevo, que o marca com o selo de Nosso Senhor e o consagra ao seu alto culto.

Daí vem um fato pouco notado: o amor dos verdadeiros filhos da Igreja ao sino, e o ódio que lhe têm os inimigos de Deus.

Uma das mais doces alegrias de nossos pais, ao saírem da Revolução Francesa, foi ouvir os sinos, que haviam emudecido durante muitos anos.

Este incontestável poder do sino contra os demônios do ar justifica a virtude que ele goza, de dissipar os ventos e as nuvens, de afugentar diante de si o granizo e o raio, de conjurar as tempestades e os elementos desencadeados, pois que todas essas perniciosas influências da atmosfera provêm muito menos de coisas naturais do que da maldade desses gênios maléficos.

Nossos pais, na hora do perigo, faziam ouvir ao Pai Celeste, ao som dos sinos, seu primeiro grito de alarme. O Senhor não permanecia muito tempo insensível à voz do seu povo.

A corda que serve para tocar o sino, essa corda que sobe e desce sem cessar, indica o trabalho do pregador, e é também imagem da nossa vida.

( Mons. Jean-Joseph Gaume, “L’Angelus au dix-neuvième siècle”, Editions Saint-Remi, 2005)


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