6 de janeiro de 2009

O RITO DA EUCARISTIA

BREVE EXPLICAÇÃO SOBRE O RITO DA MISSA
SANTO TOMÁS DE AQUINO
(Suma Teológica, III, q.83 a.4)

4. As palavras proferidas na celebração deste sacramento [a Eucaristia] são adequadas? Sim

"Já que neste sacramento [a Eucaristia] está compreendido todo o mistério de nossa salvação, ele é celebrado com maior solenidade que todos os outros.

Diz o livro do Eclesiástico: "Vigia teus passos, quando vais à Casa de Deus" (Eclo IV, 17); e "Antes de fazer a oração, prepara-te" (Eclo XVIII, 23); por isso, a celebração deste mistério é precedida, primeiro, por certa preparação para realizar dignamente o que vai seguir. A primeira parte desta preparação é um louvor a Deus, que se faz no "intróito" conforme o dito do salmista: "Quem oferece o louvor como sacrifício me glorifica, e toma o caminho no qual lhe mostrarei a salvação de Deus" (Sl XLIX, 23). Este "intróito" é freqüentemente tirado dos Salmos, ou, pelo menos, é cantado com um salmo, porque como Dionísio ensina, os salmos abarcam, sob forma de louvor, tudo quanto está contido na Sagrada Escritura. A segunda parte da preparação comporta uma lembrança da miséria presente e pede-se a misericórdia de Deus, rezando o "Kyrie eleison" ("Senhor, tende piedade"), três vezes a Deus Pai, três vezes à Pessoa do Filho, dizendo "Christe eleiron" ("Cristo, tende piedade"), e três vezes à Pessoa do Espírito Santo, repetindo "Kyrie eleison". Esta tríplice invocação se diz contra a tríplice miséria da ignorância, da culpa e da pena ou para significar que todas as Pessoas divinas existem em mútua relação. A terceira parte da preparação comemora a glória celeste para onde tendemos depois da miséria presente, dizendo "Gloria in excelsis Deo" ("Glória a Deus nas alturas"). O glória é cantado nos dias de festa, nos quais se recorda a glória celeste. Ele é omitido nos ofícios de luto, que rememoram a nossa miséria. Enfim, a quarta parte da preparação contém a "orationem" ("oração"), que o sacerdote recita pelos fiéis, para que possam dignamente celebrar estes mistérios.

Em segundo lugar, antecede à celebração uma instrução dos fiéis, pois este sacramento é um "mistério de fé". Esta parte do ensinamento se faz de uma maneira preparatória pela doutrina dos Profetas e dos Apóstolos, que é lida na igreja pelos leitores e subdiáconos. Depois de tal "lectionem" ("leitura"), o coro canta o "graduale" ("gradual"), que simboliza o progresso da vida, e o "alleluia" ("aleluia"), que simboliza a alegria espiritual. Nos ofícios de luto, canta-se o "tractus" ("trato"), que simboliza o gemido espiritual. Tudo isso deve atingir o povo, graças ao ensinamento, de que se falava. Os fiéis instruídos de maneira perfeita pelos ensinamentos de Cristo contidos no Evangelho, que é lido pelos ministros de ordens maiores, isto é, pelos diáconos. E porque cremos em Cristo, como a verdade divina, segundo o que está em João: "Se eu digo a verdade, por que não me acreditais?" (Jo VIII, 46), depois da leitura do Evangelho, canta-se o "symbolum fidei" ("símbolo da fé"), pelo qual os fiéis mostram sua adesão pela fé à doutrina de Cristo. O credo é cantado nas festas daqueles que são mencionados nele, como nas festas de Cristo, da Bem-aventurada Virgem, dos Apóstolos, que deram fundamento a esta fé e em festas semelhantes.

Assim, portanto, o povo, preparado e instruído, aproxima-se da celebração do mistério. Este é oferecido enquanto sacrifício, consagrado e consumido enquanto sacramento. Com efeito, em primeiro lugar, realiza-se a oblação; em segundo, a consagração da matéria oferecida; em terceiro, a sua recepção. Dois atos acompanham a oblação, a saber o louvor do povo no canto do "offertorii" ("ofertório"), pelo qual se simboliza a alegria dos oferentes; e a "oratio" ("oração") do sacerdote, que pede que a oferenda dos fiéis seja aceita por Deus. Daí, Davi dizer: "quanto a mim, foi na retidão do meu coração que ofereci voluntariamente tudo isto, e agora vejo com alegria teu povo, aqui presente, fazer-te essas ofertas espontâneas" (I Cr, 18); e em seguida reza dizendo: "Senhor Deus, conserva as disposições do coração de teu povo".

Continuando, a respeito da "consagração", que se realiza por força sobrenatural, os fiéis, antes de tudo, são incitados à devoção no "prefácio". Daí o sentido da admonição "sursum corda", "habemus ad Dominum" ("corações ao alto", "o nosso coração está em Deus"). Assim, depois do prefácio, os fiéis louvam com devoção a divindade de Cristo, unindo-se aos anjos, dizendo "Sanctus, Sanctus, Sanctus" ("Santo, Santo, Santo"); e a humanidade de Cristo, com as crianças, proclamando: "Benedictus qui venit" ("Bendito aquele que vem"). Prosseguindo, 1º. O sacerdote recorda, em silêncio, aqueles pelos quais o sacrifício da missa é oferecido, a saber a Igreja universal e aqueles que "detêm a autoridade" (I Tm II, 2), e especialmente "aqueles que oferecem o sacrifício e por quem ele é oferecido". 2º. "Ele recorda os santos", cuja intercessão invoca por aqueles que acabamos de indicar, ao dizer: "Communicantes et memoriam venerantes, etc." ("Unidos em comunhão, e venerando, etc."). 3º Conclui o seu pedido ao dizer: "Hanc igitur oblationem, etc." ("Dignai-Vos, pois, aceitar, Senhor, com bondade, esta oblação, etc."), afim de que seja salutar para aqueles por quem é oferecida.

Em prosseguimento, vem a própria consagração. 1º. O sacerdote pede o efeito da consagração, quando diz: "Quam oblationem tu Deus" ("Nós Vos pedimos, ó Deus, que Vos digneis abençoar esta oblação, etc."). 2º. Ele realiza a consagração por meios das palavras do Salvador, ao dizer: "Qui pridie, etc." ("E no dia anterior à Paixão, etc."). 3º. Ele se escusa por tal presunção, recorrendo à obediência à ordem de Cristo quando diz: "Unde et memores" ("Por isso, recordando, etc."). 4º. Pede que este sacrifício, que acaba de ser realizado, seja agradável a Deus, dizendo: "Supra quae propitio, etc." ("Dignai-Vos, Senhor, olhar com bondade e misericórdia para estes dons, etc."). 5º. Pede o efeito deste sacrifício e sacramento: primeiramente para quem vai participar dele, ao dizer: "Suplicces te rogamus, etc." ("Nós Vos suplicamos, etc."); depois para os defuntos, que já não podem participar, quando diz: "Memento etiam, Domine, etc." ("Lembrai-Vos também, Senhor, etc."); depois ainda e de modo especial, para os próprios sacerdotes que celebram, ao dizer: "Nobis quoque peccatoribus, etc." ("A nós também pecadores, etc.").
Em continuação, trata-se da "recepção" do sacramento. 1º. Antes de tudo, prepara-se o povo para recebê-lo. Isso se faz primeiramente pela oração comum de todo o povo, que é o Pai Nosso, no qual pedimos "panem nostrum quotidianum da nobis hodie" ("o pão nosso de cada dia nos dai hoje"); e também pela oração particular que o sacerdote recita pelos fiéis, ao dizer: "Libera nos, quaesumus, Domine" ("Livrai-nos, Senhor"). 2º. Esta preparação acontece também por meio da paz, que se dá dizendo: "Agnus Dei" ("Cordeiro de Deus"). Com efeito, este é o sacramento da unidade e da paz. Nas missas de defunto, em que este sacrifício é oferecido, não pela paz presente, mas pelo descanso dos mortos, omite-se a paz.

Dando continuação, segue-se a recepção do sacramento. 1º. Comunga o sacerdote. Depois ele distribui aos outros, porque, como diz Dionísio, quem distribui aos outros os mistérios divinos, deve antes participar deles.

Finalmente, toda a celebração da missa termina com a "ação de graças". Os fiéis exultam pela recepção do mistério, o que se exprime pela antífona da comunhão. O sacerdote o faz pela oração depois da comunhão, assim como Cristo, tendo celebrado a Ceia com os discípulos, "cantou os salmos" (Mt XXVI, 30)" (resp.).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.