18 de janeiro de 2009

Sobre o comportamento durante a Oração e a Santa Missa - S. Thomas More

A Tristeza de Cristo

traduzido por Patricia Medina

(Sobre o comportamento durante a Oração e a Santa Missa)


Imagine, por sua vez, que você cometeu um crime de alta traição contra este ou aquele príncipe deste mundo [mortal] que tem a sua vida nas mãos, mas que é tão misericordioso que está preparado a abrandar sua ira por causa de seu arrependimento e humilde súplica e que, para comutar a pena de morte numa multa pecuniária ou mesmo para suspendê-la completamente, exige que você dê sinais convincentes de grande vergonha e arrependimento.


Ora, quando você for trazido a presença do príncipe, fale com ele despreocupadamente, casualmente, sem a menor apreensão. Enquanto o príncipe permanece no mesmo lugar e o escuta com atenção, passeie aqui e ali enquanto discorre sobre seu pedido. Então, quando estiver cansado de andar para cima e para baixo, sente-se numa cadeira ou, se a cortesia lhe exigir que conceda ajoelhar-se, o faça, não sem antes mandar que alguém venha e lhe ponha uma almofadinha sob os joelhos ou, melhor ainda, lhe traga um genuflexório com um lugar para descansar os cotovelos.


Em seguida, boceje, se espreguice, espirre, cuspa sem se importar, ou mesmo arrote os resquícios de sua gula. Resumindo, aja de tal forma que ele possa ver claramente pelo seu rosto, sua voz, seus gestos e toda sua conduta corporal que, enquanto fala com ele, você pensa em outra coisa. Agora, me digam, que sucesso você poderia esperar de tal pedido?


Certamente deveríamos considerar uma loucura defender-nos de tal modo perante um mero príncipe mortal contra uma acusação que traz consigo a pena de morte. E, no entanto, tal príncipe, uma vez tendo destruído nosso corpo, já não poderia fazer mais nada. E nós achamos razoável, após ter cometido toda espécie de crimes ainda mais sérios, implorar o perdão - de forma tão desprezível - do rei dos reis, Deus mesmo, que quando tiver destruído nossos corpos tem o poder de mandar, corpo e alma, ao inferno?

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