30 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 215

O CASTIGO NÃO TARDOU

Em Charleroi, na Bélgica, os padres jesuítas pregavam uma missão. Um jovem assistia a todos os sermões, com o único fim de os estorvar; de sorte que o pároco se viu obrigado a expulsá-lo da igreja. Então o jovem, que parecia endiabrado, arranjando uma buzina de caçador, tocava-a durante o sermão, passeando diante da igreja. Um dia, porém, quando ia começar a música, sentiu uma dor aguda e muito esquisita no pescoço, e viu-se obrigado a recolher-se à sua casa. Dois médicos chamados com urgência não souberam explicar a procedência daquele incômodo nem acertaram com nenhum remédio. O infeliz morreu naquela mesma noite no meio de horríveis sofrimentos.

29 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

I

Transportemo-nos à gruta de Belém; contemplemos essa criancinha reclinada num presépio. Que é ela aos olhos dum profano, dum habitante da pequena cidade que o acaso aí levasse depois do nascimento de Jesus?
 É apenas uma criança que acaba de nascer; deve a vida a uma mulher de Nazaré; é um filho de Adão como nós, pois os seus pais o inscreveram nos registros do recenseamento; podemos seguir as circunstâncias da sua genealogia, de Abraão a David, de David a José e a sua Mãe. Mas não é mais do que um homem; ou antes, virá a ser um homem, porque, por ora, não passa duma criança, débil criança cuja vida se sustenta com um pouco de leite.
 Eis o que se mostra aos sentidos nessa criancinha estendida sobre palha. Muitos judeus nada mais viram nela. Ouvireis mais tarde os seus compatriotas, atônitos com a sua sabedoria, indagar onde a foi buscar; porque, a seus olhos, nunca passou de «filho dum carpinteiro»; Nonne hic est fabri filius?
 Mas, aos olhos da fé, a vida que anima este Menino é uma vida mais alta do que a vida humana; é a vida divina. Que nos diz a fé a este respeito? Que revelação nos faz?
 Diz-nos a fé, numa palavra, que esta criança é o próprio Filho de Deus. É o Verbo, a segunda Pessoa da adorável Trindade, é o Filho que recebe do Pai a vida divina por inefável comunicação: Sicut Pater habet vitam in semetipso,  sic dedit et Filio habere vitam in semetipso. Possui a natureza divina com todas as suas infinitas perfeições. Nos esplendores dos céus, in splendoribus sanctorum, Deus gera este Filho por uma geração eterna.
· É a esta filiação divina de Jesus Cristo no seio do Pai que, em primeiro lugar, se dirige a nossa adoração; é ela que exaltamos na Missa da meia noite. Ao romper do dia, o santo Sacrifício celebrará a Natividade de Jesus Cristo em nossas almas.
 A Missa da meia noite, toda envolta em mistério, começa por estas palavras cheias de gravidade: Dominus dixit ad me; Filius meus es tu, ego hodie genuite. Eis a exclamação que se escapa da alma de Jesus Cristo unida à pessoa do Verbo e que revela à terra, pela primeira vez,· o que os céus ouvem desde toda a eternidade: «Disse-me o Senhor: És o meu Filho, hoje te gerei». Este «hoje» é, primeiramente, o dia da eternidade, dia sem aurora nem ocaso.
 O Pai celeste· contempla agora o Filho incarnado. O Verbo, por se ter feito homem, não deixa de ser Deus; filho do homem, permanece Filho de Deus. O primeiro olhar que repousa em Jesus Cristo, o primeiro amor que o cerca, é o olhar e o amor do Pai: Diligit me Pater. Que contemplação e que amor! Jesus Cristo é o Filho único do Pai; eis a Sua glória essencial; é igual e «consubstancial ao Pai, Deus de Deus, luz de luz». «Por ele todas as coisas foram feitas e nada foi feito sem Ele». «Foi por este Filho que os séculos foram criados; sustenta todas as coisas pelo poder da Sua palavra. Foi Ele quem, no princípio, tirou do nada a terra, e os céus são obra das Suas mãos; envelhecerão como uma veste, serão mudados como uma capa; mas Ele é sempre o mesmo e os seus anos são eternos».
 E este Verbo fez -se carne: «Et Verbum caro factum est».
Adoremos o Verbo que incarnou por amor de nós: Christus natus est nobis, venite adoremus ... . Um Deus toma a nossa humanidade: concebido pela misteriosa operação do Espírito Santo no seio de Maria, Jesus Cristo é gerado da mais pura substância do sangue da Virgem, e a vida que dela recebe torna.-O semelhante a nós: Creator generis humani de virgine nasci dignatus est, et procedens homo sine semine.
 Eis o que nos diz a fé: este Menino é o Verbo de Deus incarnado; é o Criador do gênero humano, feito homem: Creator generis humani; precisa dum pouco de leite para se alimentar, Ele que sustenta as avezinhas do céu:
 Parvoque lacte pastus est
 Per quem nec eles esurit. 
Contemplai essa criancinha deitada no presépio. De olhos fechados, adormecida, exteriormente não manifesta tudo o que é: aparentemente é igual a todas as outras crianças; e, no entanto, enquanto Deus, enquanto Verbo eterno, julgava as almas que diante dele compareciam. «Como homem, está reclinado na palha; como Deus, sustenta o universo e reina nos céus»: Jacet in praesepio et in caelis regnat. Este menino que vai crescendo - Puer crescebat ... et proficiebat aetate  - é Aquele que é eterno e cuja natureza divina não conhece mudança»: Tu idem ipse es, et anni tui non deficient. Aquele que nasceu no tempo é também Aquele que existe antes de todos os tempos; Aquele que se manifesta aos pastores de Belém é Aquele que, do nada, criou as nações, «diante de quem elas são como se não existissem» .
Palamque fit pastorisbus
 Pastor creator omnium .
Como vedes, aos olhos da fé, há duas vidas nesta criança; duas vidas indissoluvelmente unidas de maneira inefável, porque a natureza humana pertence ao Verbo de tal forma que existe só uma pessoa, a do Verbo, que sustenta com Sua própria existência divina a natureza humana.
 Sem dúvida, esta natureza humana é perfeita, perfectus homo; nada lhe falta no que toca à Sua essência. Este Menino tem uma alma como a nossa, um corpo semelhante ao nosso, faculdades -inteligência, vontade, imaginação, sensibilidade - como as nossas; é, em verdade, um dos nossos, cuja existência se vai revelar, durante trinta e três anos, bem autenticamente humana. Só o pecado Lhe será desconhecido: Debuit per omnia fratribus similari absque peccato. Esta natureza humana, que é perfeita em si mesma, conservará a atividade própria, o seu esplendor de origem.
 Entre estas duas vidas de Jesus Cristo - a divina, que possui sempre por Seu nascimento eterno no seio do Pai, e a humana, que começou a possuir no tempo por Sua lncarnação no seio duma Virgem - não há mistura nem confusão. O Verbo, tornando-se homem, permanece o que é, tomando da nossa raça o que não era; mas n'Ele o divino não absorve o humano, o humano não diminue o divino. A união é tal, como vos disse muitas vezes, que há uma só e única pessoa - a pessoa divina - e a natureza humana pertence ao Verbo, é a humanidade própria do Verbo; Mirabile mysterium declara- tur hodie: innovantur naturae,  Deus homo factus est: id quod fuit permansit et quod non erat assumpsit, non commixtionem passus neque divisionem .

28 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 214

O QUE PODE A NOSSA SANTA RELIGIÃO

A religião cristã é divina como divino é seu Fundador Jesus Cristo. A transformação radical, que não raro opera no espirito dos maiores delinquentes, é uma prova de sua divindade. A 24 de outubro de 1924 foi justiçado em Altford, na Suíça, um tal Clemente Bernet, condenado à morte por ter assassinado barbaramente uma menina. A sua morte foi verdadeiramente exemplar. Alguns dias antes da execução detestou o seu crime e recusou-se a pedir graça, preferindo com a morte expiar a sua culpa. Na manhã da execução Bernet confessou-se, comungou e ouviu duas missas. Chegado ao local onde estava erguida a guilhotina, pediu que lhe tirassem a venda dos olhos; em seguida, firme entre os dois sacerdotes que o assistiam, com voz clara, forte e calma declarou ter merecido aqueta morte, pois de outro modo não teria podido reparar o seu crime. Agradeceu o bom tratamento recebido na prisão e acrescentou: Sou feliz por ter encontrado o meu Deus e libertador, e de poder comparecer diante do Juiz eterno. Peço perdão e enfrento a morte com consciência, pois confesso os meus crimes dos quais me arrependo. Deus queira que todos os que se deixam induzir ao crime pensem na justiça suprema”.
Em seguida, Bernet ajoelhou-se, colocou o pescoço sob a luneta da guilhotina e exclamou: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”.

27 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

V I I 

O ADMIRABILE COMMERCIUM !
 (Tempo do Natal) 

 A VINDA do Filho de Deus ao mundo é um acontecimento tão importante, que Deus quis prepará-lo durante séculos; ritos e sacrifícios, figuras e símbolos, tudo faz convergir para Jesus Cristo;anuncia-O pela boca dos profetas que se sucedem de geração em geração.
 Mas agora é o próprio Filho de Deus quem nos vem instruir: Multifaríam multisque modis olim Deus loquens patribus ... novissime locutus est nobis in Filio. 
Porque Jesus Cristo não nasceu somente para os judeus da Judeia que foram Seus contemporâneos; foi para todos nós, por amor de todos os homens, que desceu do céu: Propter nos et propter nostram salutem descendit de caelis. A graça que mereceu por Sua natividade, quer distribuí-la por todas as almas.
 Por essa razão, a Igreja, guiada pelo Espírito Santo, apropriou-se dos anseios dos patriarcas, das aspirações dos antigos justos, dos votos do povo eleito, para os colocar em nossos lábios e com eles encher os nossos corações; quer preparar-nos para a vinda de Jesus Cristo, como se esta novidade se fosse renovar sob os nossos olhos.
 Assim, vede como, ao comemorar a vinda do seu divino Esposo ao mundo, a Igreja desenvolve o esplendor das suas pompas, como faz resplandecer o brilho das suas luzes para celebrar o nascimento do «Príncipe da Paz, do Sol de Justiça», que desponta «no meio das nossas trevas para iluminar todo o homem» que vem a este mundo; concede aos sacerdotes o privilégio, quase único no ano, de oferecer três vezes o santo sacrifício da Missa.
 Se estas festas são magníficas, são também cheias de encanto. A Igreja evoca a lembrança dos Anjos que cantam nos ares a glória do recém-nascido; dos pastores, almas simples, que vêm adorá-Lo no presépio; dos Magos que acodem do Oriente para Lhe render os seus preitos e oferecer-Lhe ricos presentes. 
E, no entanto, como toda a festa neste mundo, esta solenidade, mesmo com o prolongamento da sua oitava, é efêmera; passa. Seria para uma festa dum dia, por esplêndida que fosse, que a Igreja reclamaria de nós tão longa preparação? Certamente que não! Qual então o motivo? É porque sabe que a contemplação deste mistério contém para nossas almas uma graça especialíssima.
 Disse-vos, ao encetar estas conferências, que todo o mistério de Jesus Cristo não constitui apenas um fato histórico que se realizou no tempo, mas encerra também uma graça própria, de que se devem alimentar as nossas almas para dela viverem. 
Ora, qual é a graça intima do mistério da Natividade? Que graça é essa, para cuja recepção a Igreja tanto se esmera em nos preparar? Que fruto devemos colher da contemplação de Jesus Menino?
 A própria Igreja no-lo indica na primeira Missa, da meia-noite. Depois de ter oferecido o pão e o vinho, que dentro de alguns instantes serão transformados, pela consagração, no corpo e no sangue de Jesus Cristo, resume os seus votos nesta oração: «Dignai-Vos aceitar, Senhor, a oblação que Vos apresentamos na solenidade deste dia e fazei, por Vossa graça, que por meio desta permuta santa e sagrada, nos tornemos participantes da Divindade, à qual pelo Verbo, está unida a nossa substância humana.
 Pedimos para ter parte nessa Divindade a que está unida a nossa humanidade. Produz-se uma espécie de troca; Deus, ao incarnar, toma a nossa natureza humana; dá-nos, em paga, uma participação da Sua natureza divina.
 Este pensamento, tão conciso na Sua forma, é mais claramente expresso no mesmo lugar da segunda Missa: «Fazei, Senhor, que as nossas oferendas sejam conformes aos mistérios da Natividade que hoje cantamos, afim de que, como o Infante que acaba de nascer na natureza humana se manifesta igualmente Deus, assim esta substância terrena (que Ele a Si une) nos comunique o que n'Ele é divino». 
Tornar-nos participantes da Divindade a que foi unida a nossa humanidade na pessoa de Jesus Cristo e receber esse dom divino por esta mesma humanidade, tal é a graça ligada à celebração do mistério deste dia.
 Como vedes, é um comércio humano divino; o Menino que hoje nasce é ao mesmo tempo Deus, e a natureza humana que Deus toma de nós deve servir de instrumento para nos comunicar a Sua Divindade: Sicut homo genitus idem refulsit et Deus sic NOBIS haec terrena substantia CONFERAT quod DIVINUM est. As nossas ofertas serão «conformes aos mistérios significados pelo nascimento deste dia», se, pela contemplação da obra divina em Belém e pela recepção do Sacramento eucarístico, participarmos da vida eterna que Jesus Cristo nos quer comunicar pela Sua Humanidade. «Ó admirável comércio! cantaremos no dia da oitava. O Criador do gênero humano, revestindo um corpo e uma alma, dignou-se nascer duma Virgem e, aparecendo na terra como homem, fez-nos participar da Sua Divindade»: O admirabile commercium ! CREATOR generis humani, ANIMATUM CORPUS SUMENS, de virgine nasci dignatus est: et procedens homo sine semine, LARGITUS EST NOBIS SUAM DEITATEM. 
Demoremo-nos, pois, alguns instantes a admirar, com a Igreja, esta permuta entre a criatura e o Criador, entre o céu e a terra, permuta que constitui todo o fundo do mistério da Natividade. Consideremos os seus atos e a sua matéria; sob que forma se realiza: veremos em seguida quais os frutos que poderemos tirar dele e quais as obrigações que daí derivam para nós. 

26 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 213

O CRUCIFIXO EM TODAS AS SALAS

A imagem de Jesus crucificado sempre mereceu um lugar de honra nos lares e escolas, porque ele é o Mestre por excelência. Há umas duas ou três dezenas de anos os estudantes da Escola Politécnica de Lemberg, cidade da Polônia, fizeram questão que a imagem do Crucificado fosse colocada em todas as salas de aula. Um belo gesto que merece ser imitado.

25 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV

Quais são essas disposições? Podem resumir-se em quatro.
Pureza  de  coração.  Vejamos: quem estava mais bem preparado para a vida do Verbo lncarnado à
terra? Era, sem dúvida, a Virgem Maria. No momento em que o Verbo veio ao mundo, achou o coração desta Virgem perfeitamente preparado e capaz de receber as liberalidades divinas de que a queria cumular. E quais eram as disposições desta alma?
Com certeza as possuía todas, e no mais alto grau de perfeição. Uma, porém, resplandece nela com brilho particular: a sua pureza virginal. Maria é Virgem : preza tanto a sua virgindade, que chama para ela a atenção do Anjo, quando este lhe propõe o mistério da Maternidade divina.
Não somente ela é Virgem, mas a sua alma é sem mácula. A Liturgia revela-nos que o desígnio de Deus, ao conceder a Maria o privilégio único da Imaculada Conceição, era «preparar para o Verbo uma morada digna d'Ele» : Deus qui per immaculatam Virginis  conceptionem, dignum Filio tuo  HABITACULUM PRAEPARASTI . Maria devia ser a Mãe de Deus : e esta dignidade eminente exigia que ela fosse, não somente Virgem, mas que a sua pureza fosse maior do que a dos Anjos e
fosse um reflexo dos santos esplendores em que o Pai gera o Filho: In spendoríbus sanctorum . Deus é santo, três vezes santo ; os Anjos, os Arcanjos, os Serafins cantam essa pureza infinita: Sanctus, Sanctus, Sanctus.  O seio de Deus, de brilho imaculado, é a morada natural do Filho único de Deus : o Verbo está sempre in sinu Patrís: mas, incarnando, quis também, por inefável condescendência, ser in sinu Virginis Matris; era mister que o tabernáculo que lhe oferecia a Virgem Lhe lembrasse, por sua pureza incomparável, o seio eterno onde, como Deus, vive sempre: Christi sinus erat in Deo Patre divinitas, in Maria Matre virginitas.
A primeira disposição que atrai Jesus Cristo é uma grande pureza. Nós, porém, pecadores que somos, não podemos oferecer ao Verbo, a Jesus, essa pureza imaculada que ELE tanto ama.  O  que poderá substituí-la em nós? A humildade.
Deus possui em Seu seio o Filho das Suas complacências,  mas aperta também ao seio outro filho - o filho pródigo.  É o próprio Nosso Senhor quem no-lo diz. Quando, depois de seus desvarios, o filho pródigo volta para seu pai, se humilha no pó e reconhece que é miserável e indigno, imediatamente, sem uma censura, o pai o recebe nas entranhas da sua misericórdia:  Misericordia motus.
Não esqueçamos que o Verbo, o Filho, só quer o que o Pai quer ; se Ele incarna e aparece no mundo, é para procurar os pecadores  e  levá-los de novo ao Pai: Non veni vocare justos sed  peccatores.  Isto é tão verdade que Nosso Senhor, mais tarde, com grande escândalo dos fariseus, andará na companhia dos pecadores, sentando-se  à  mesma mesa com eles, e permitirá que a Madalena Lhe beije os pés e Lhos regue com as suas lágrimas.
Se não temos a pureza da Virgem Maria, peçamos ao menos a humildade da Madalena. o amor da contrição  e  da penitência.  <<Ó  Jesus, eu não sou digno de que entreis em mim : o meu coração não será para Vós morada de pureza ; a miséria habita nele, mas eu reco­nheço e confesso essa miséria : vinde libertar-me dela.  ó Vós que sois a verdadeira  misericórdia ;  vinde liber­-tar-me, ó Vós que sois a omnipotência» ! Veni ad líbe ..
randum nos, Domine Deus virtutum !  Semelhante oração, de par com o espírito de penitência, atrai Jesus Cristo, porque a humildade que se abaixa no seu nada presta homenagem  à  bondade e ao poder de Jesus:  Et eum, qui venit ad me, non ejicíam foras.
Todavia, a consideração das nossas enfermidade não nos deve desanimar, pelo contrário. Quanto mais sentirmos a nossa fraqueza, tanto mais devemos abrir a nossa alma  à  confiança,  porque a salvação vem unicamente de Jesus Cristo.
Pusillanimes, confortamini et nolite timere, ecce Deus noster veniet et salvabit nos :  «Vós que tendes  o  coração atribulado, cobrai ânimo, não temais : eis aí Deus, o  nosso  Deus, que nos vem salvar». Vede a confiança dos judeus no Messias. Para eles, o Messias era tudo; n'Ele se resumiam todas as aspirações de Israel. todos os votos do povo, todas as esperanças da raça : contemplá-Lo devia contentar toda a ambição ; e ver o estabelecimento do Seu reino devia satisfazer todos os
anelos. Por isso, vede como eram impacientes e cheios de confiança os desejos dos judeus: «Vinde, Senhor, não tardeis»: <
Com quanto maior razão se verifica isto para nós que possuímos Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Oh! se compreendêssemos bem o que é a santa Humanidade de Jesus, teríamos nela confiança inquebrantável ; nela residem todos os tesouros de ciência e de sabedoria ; nela habita a própria Divindade : esse Homem Deus que vem a nós, é o Emmanuel, é «Deus conosco», é nosso irmão mais velho. O Verbo desposou a nossa natureza ; tomou sobre Si as nossas enfermidades para experimentar o que é o sofrimento : vem a nós para que tomemos parte na Sua vida divina ; possui todas as graças que podemos esperar, e possui-as em plenitude para no-las conceder.
Eram magníficas as promessas que, pela voz dos profetas, Deus fazia ao Seu povo para excitar nele o desejo do Messias. Muitos judeus, porém, entendiam essas promessas no sentido material e grosseiro dum reino temporal e político. As graças prometidas aos judeus que esperavam o Salvador eram apenas a imagem das riquezas sobrenaturais que temos em Jesus Cristo ; a  maior parte dos israelitas viviam de símbolos terrenos ; nós vivemos da realidade divina. isto é, da graça de Jesus. A Liturgia do Advento fala-nos, sem cessar, da misericórdia. da redenção, da salvação, da liberdade, da luz, da abundância, da alegria, da paz: «Eis que o Senhor vai chegar: no dia do Seu nascimento, o mundo será inundado de luz : exulta, pois, de alegria, Jerusalém, porque o teu Salvador vai aparecer»; «a paz inundará a nossa terra quando Ele se mostrar». Jesus Cristo traz consigo todas as bênçãos que possam encher uma alma.  Cum illo omnia no bis donavit .
Deixemos, pois, os nossos corações abandonarem-se, com absoluta confiança Àquele que vai chegar. Seremos deveras agradáveis ao Pai, crendo que Seu Filho Jesus pode tudo para a santificação das nossas almas. Proclamamos assim que Jesus é Seu igual e que o Pai «tudo Lhe entregou». Uma tal confiança não pode ser frustada. Na Missa do primeiro Domingo do Advento,
a Igreja chega a no-lo garantir por três vezes: «Aqueles que em Vós esperam, Senhor, não serão confundidos» :  Qui te exspectant non confundentur.
Esta confiança manifestar--se-á sobretudo em  desejos ardentes de ver Jesus Cristo em nós para reinar mais ainda:  Advenia:t regnum tuum !  A Liturgia desenvolve em nós estes desejos. Ao mesmo tempo que põe diante dos nossos olhos e nos faz reler as profecias, sobretudo as de Isaías, a Igreja leva aos nossos lábios as aspirações e anelos dos antigos justos. Ela quer ver-nos preparados para a vinda de Jesus Cristo às nossas almas, assim como Deus queria que os judeus estivessem dispostos para receber o Seu Filho: «Enviai, Senhor, Aquele que prometestes. Vinde, Senhor, vinde perdoar os pecados do Vosso povo ! Senhor, manifestai a Vossa misericórdia e fazei aparecer o autor da nossa salvação!  Vinde libertar- nos, Senhor, Deus todo poderoso!  Excitai o Vosso poder e vinde».
A Igreja faz-nos constantemente repetir estas aspirações, faça-mo-las nossas, apropriemo-nos delas com fé e Jesus Cristo nos enriquecerá com as Suas graças.
Sabeis muito bem que Deus é senhor dos Seus dons , Ele é soberanamente livre e ninguém pode pedir­-Lhe contas das Suas preferências, mas,  na aplicação ordinária da Sua Providência. «Ele guia.-se pelas súplicas dos humildes que Lhe expõem as suas necessidades» : Desiderium pauperum exaudivit Dominus.  Jesus Cristo dá-se na medida do desejo que temos de O receber  e os desejos aumentam a capacidade da alma  que os exprime:  Dilata os tuum,  et  implebo illud .
Portanto, se queremos que a celebração da Nativi­dade de Jesus proporcione grande glória à Santíssima Trindade, que seja uma consolação para o Coração do Verbo Incarnado, uma fonte de abundantes graças para a Igreja e para nós, procuremos purificar os nossos corações, tenhamos uma humildade cheia de confiança, e sobretudo dilatemos a nossa alma pela grandeza e veemência dos nossos desejos.
Peçamos também à Virgem Maria que nos faça participar dos sentimentos que a animavam durante os dias abençoados que precederam o nascimento de Jesus.
A Igreja quis - e nada mais justo- que a Liturgia do Advento estivesse cheia do seu pensamento ; faz-nos sem cessar cantar a «divina fecundidade duma Virgem, fecundidade admirável que enche de pasmo a natureza» : Tu quae genuístí, natura mirante, tuum sanctum genitorem, virgo prius ac  posterius .
O  seio virginal de Maria era um santuário imaculado, donde ela fazia subir o incenso puríssimo da sua adoração e das suas homenagens.
É  verdadeiramente inefável a vida interior da Santíssima Virgem durante aqueles dias. Vivia em união íntima com o Menino Deus que trazia no seio. A alma de Jesus estava, pela visão beatífica, mergulhada na luz divina ; essa luz irradiava sobre a Mãe : Maria aparecia, na verdade, aos olhos dos Anjos, como «a mulher revestida do sol» :  Mulier amicta sole,  irradiando as claridades celestes, resplandecendo com os raios de luz de seu Filho. Quanto os seus sentimentos estavam
à  altura da sua fé ! Como ela resumia bem em si - mas excedendo tudo, conferindo a tudo, pela pureza e intensidade dos movimentos da alma, um valor que nunca tinham atingido - todas as aspirações, todos os anelos, todos os votos da humanidade, na expectativa do seu Salvador e seu Deus !  Que santo ardor em seus desejos ! Que certeza inquebrantável na sua confiança ! Que
zelo no seu amor ! 
Esta humilde Virgem é a rainha dos patriarcas, pois é da sua descendência, e o Filho que deve dar
à luz é Aquele que resume em Sua pessoa toda a magnificência das antigas promessas.
É  também a rainha dos profetas, porque deve gerar o  Verbo de que falavam todos os profetas, porque seu Filho realizará todas as profecias e anunciará por Si mesmo a todos os povos «a boa nova da Redenção» .
Peçamos-lhe humildemente que nos faça partilhar das suas disposições. Ela ouvirá a nossa prece : teremos a alegria imensa de ver Jesus Cristo nascer de novo em nossos  corações, pela comunicação duma graça mais abundante, e poderemos, como a SSma Virgem, posto que em menor escala, apreciar a verdade destas pala­vras de S. João:  «0  Verbo era Deus. ..  E  o Verbo se
fez  carne  e  habitou entre nós : vimo-Lo  cheio de graça e da Sua plenitude todos nós recebemos - graça sobre graça».

24 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 209 a 212

O AMOR A JESUS CRUCIFICADO

1. A venerável Margarida do SS. Sacramento, na idade de sete anos, já frequentava a escola das Ursulinas. Durante a aula, sem que alguém o notasse tomava o crucifixo do rosário de sua mestra, apertava-o ao coração e, de vez em quando, beijava-o com amor.

2. S. Tomás de Aquino perguntou um dia a S. Boaventura de onde tirava ele .aqueles tesouros de ciência espirituais de que estavam cheios os seus escritos. São Boaventura, apontando para o Crucifixo que estava sobre a sua mesa de trabalho, disse: “Esta é a minha biblioteca!” Realmente, os primeiros religiosos de S. Francisco não tinham bibliotecas, mas uma grande Cruz, aos pés da qual se reuniam para meditar e orar; e era dali que partiam a pregar e converter os pecadores.

3. Era costume de S. Paulo da Cruz ter o Crucifixo sempre diante dos olhos, quando, em sua cela, orava, lia ou escrevia. Quando saia de casa levava sempre o crucifixo sobre o peito. Quando estiverdes no vosso quarto — escrevia ele — tomai o Crucifixo, beijai-lhe as sagradas chagas com grande afeto, e dizei-lhe que vos faça algum pequeno sermão. Escutai o que vos dizem aqueles cravos, aquele sangue divino. Oh! que sermão!”

4. S. Afonso, contemplador assíduo e amantíssimo de Jesus Crucificado, dizia: “Quando se tem nas mãos o Crucifixo, já não se quer descer da cruz. Quem contempla as chagas de Jesus esquece as próprias feridas. Oh! como é belo morrer abracado à Cruz!”

23 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

III

Temos a felicidade de crer nesta luz que vai doravante «iluminar todo o homem que vem a este mundo»; vivemos ainda na bem aventurada «plenitude dos tempos» : não estamos, como os Patriarcas, privados de ver o reino do Messias. Se não somos do número dos que contemplaram Cristo em pessoa, ouviram as Suas palavras  e  O viram passar fazendo o bem por toda a
parte, temos a ventura insigne de pertencer «às nações de que David cantou que seriam a herança de Jesus Cristo».
E, no entanto, o Espírito Santo que dirige a Igreja e é o principal autor da nossa santificação, quer que todos os anos a Igreja consagre um período de quatro semanas para avivar a lembrança da admirável duração das preparações divinas e empregue todos os meios para que as nossas almas se conservem nas disposições interiores em que viviam os judeus fiéis, à espera do Messias.
Diz-me- eis talvez: «Essa preparação para a vida de Jesus Cristo, esses desejos, essa expectativa, tudo isso era excelente para as almas dos justos que viviam no Antigo Testamento : agora, porém, que Jesus Cristo veio, para que é precisa essa atitude que parece não corresponder à verdade»?
Por muitas razões.
Primeiramente, Deus quer ser louvado e glorificado em todas as Suas obras.
De fato, todas têm o cunho da Sua infinita sabedoria:  Omnia in sapientia fecisti: todas são admiráveis, tanto em suas preparações como na sua realização. E isto é ainda mais verdadeiro tratando-se das que têm por fim direito a glória do Seu Filho, porque «a vontade do Pai é que o Seu Filho seja louvado para sempre». Deus quer que admiremos as Suas operações e Lhe agradeçamos o ter assim preparado, com tanta sabedoria e poder, o reinado do Seu Filho entre nós. Penetramos nos pensamentos divinos, quando recordamos as profecias e promessas da Antiga Aliança.
Depois, Deus quer que encontremos nestas preparações uma confirmação da nossa fé.
Se deu tantos sinais, tão diversos e tão exatos, tantas profecias, tão numerosas e tão claras, é para que reconheçamos como Seu Filho Aquele que as realizou na Sua pessoa.
Vede como, no Evangelho, o próprio Nessa Senhor convidava os Seus discípulos a esta contemplação:  Scru­tamini Scripturas:  «Examinai a fundo as Escrituras», lhes dizia ( as Escrituras  eram, então, os livros do Antigo Testamento) examinai-as bem, vereis que estão cheias do meu nome: porque «tudo o que foi escrito de mim nos salmos e nos profetas, tudo deve ser cum­prido»:   Necesse est impleri omnia quae scripta sunt in prophetis et psalmis de me.  Logo depois da Ressurreição, ainda O veremos explicar aos discípulos de Emaús, para lhes fortalecer a fé e dissipar  a  tristeza, o que as Escrituras diziam d'Ele, «começando em Moisés, e percorrendo todos os profetas»:  Et incipiens a Moyse et omnibus prophetis. interpretabatur illis in omnibus scripturis quae de ipso erant . - Assim que, quando lemos as profecias que a Igreja nos apresenta durante o
Advento, digamos com toda a nossa fé, como os primeiros discípulos de  Jesus: «Achamos Aquele que os profetas anunciaram>>. Diga-mo-lo ao próprio  Jesus Cristo: «Sim, Vós sois, na verdade, Aquele que há de vir : nós o cremos e Vos adoramos, a Vós que, para salvar o mundo, Vos dignastes incarnar  no seio duma Virgem»: Tu ad liberandum suscepturus hominem non honrruisti
virginis uterum .
Esta profissão de fé agrada sobremaneira  a  Deus ; não nos cansemos de a repetir. Nosso Senhor poderá dizer-nos como aos Apóstolos: «Meu Pai ama-vos, porque acreditastes que sou o Seu enviado».
Há, enfim, uma terceira razão, mais profunda e mais íntima ;  Jesus Cristo não veio especialmente para os habitantes da  Judeia, Seus contemporâneos, mas para todos nós, para todos os homens, para os homens de to­das as nações e de todos os séculos. Não cantamos nós no  Credo : Propter  NOS  et propter  NOSTRAM  salutem descendit de caelis?  A «plenitude dos tempos», não está
ainda encerrada ; durará enquanto houver eleitos para salvar.
Foi somente à Igreja que Jesus Cristo, depois da Sua Ascensão, deixou a missão de O gerar nas almas. «Sois meus filhos, dizia S. Paulo, o apóstolo de Jesus Cristo no meio das nações : eu vos gero em Jesus Cristo, para que Ele seja formado em vós». A Igreja, guiada nisto pelo Espirito Santo que é o Espírito de Jesus, tra­balha nesta obra, fazendo-nos contemplar em cada ano o mistério do seu divino Esposo. Pois, como vos disse ao iniciar estas conferências, todo o mistério de Jesus Cristo é vivo ; é, não somente uma realidade histórica cuja lembrança recordamos, mas uma solenidade que contém em si mesma uma graça própria, uma virtude especial que deve fazer-nos viver a própria vida de Jesus Cristo, de quem somos os membros, e compartilhar de todos os Seus estados.
Ora a Igreja celebra no Natal a natividade do seu divino Esposo : tamquam sponsus procedens de  thalamo suo :  e nas semanas do Advento quer preparar-nos para a graça da vinda de Jesus Cristo a nós.  É  um advento todo interior e misterioso que se faz na fé, mas que é muito fecundo.
É  verdade que Jesus Cristo  já  vive em nós pela graça santificante que nos faz nascer filhos de Deus; mas a Igreja quer que esta graça se renove e que viva­mos uma vida nova, mais livre do pecado, que sejamos menos imperfeitos, mais desprendidos de nós mesmos e das criaturas:  Ut nos Unigeniti tui nova per carnem nativitas liberet quos sub peccati jugo vetusta servítus tenet : quer principalmente fazer-nos compreender que Jesus Cristo, em paga da humanidade que recebe de nós, far-nos-á quinhão da Sua Divindade e nos tomará para Si mais completamente, mais inteiramente, mais perfeitamente: será como que a graça dum novo nascimento divino em nós:  Ut tua gratia largiente,per haec sacrosancta commercia, in illíus inveniamur forma, in quo tecum est nostra substantia.
Foi esta graça que nos mereceu o Verbo Incarnado com o Seu nascimento em Belém ; mas, se é verdade que Ele nasceu, viveu e morreu por todos nós - Pro omni­bus mortuus est Christus - também é verdade que a aplicação dos Seus merecimentos e a dispensação das Suas graças se realiza em cada alma na medida dessas disposições.
Não participaremos das graças tão abundantes que nos traz a Natividade de Jesus Cristo, senão na medida das nossas disposições. A Igreja sabe-o perfeitamente ; por isso, nada descura para que as nossas almas tenham essa atitude interior que a vinda de Jesus delas reclama. Não somente a Igreja nos diz pela voz do Precursor: «Preparai os caminhos», porque «Ele está próximo»: Prope est jam Dominus;  mas como Esposa atenta aos desejos do Esposo, como mãe preocupada com o bem estar dos seus filhos, lembra-nos e dá-nos os meios de realizar essa preparação necessária. Transporta-nos, para assim dizer, à Antiga Aliança para que nos apropriemos, num sentido todo sobrenatural, dos sentimentos dos judeus fiéis que suspiravam pela vinda do Messias.
Se nos deixarmos guiar por ela, as nossas disposições serão perfeitas e a solenidade do nascimento de Jesus produzirá em nós todos os frutos de graça, de luz e de vida.

22 de novembro de 2016

Fotos da Missa de Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos

 
 
  

Tesouro de Exemplos - Parte 208

VÍTOR HUGO, MONTALEMBERT E A IGREJA

O célebre poeta e deputado Vítor Hugo acabava de fazer violento discurso na câmara contra a Sé Apostólica. Montalembert, o não menos célebre autor de “Os Monges do Ocidente”, levantou-se imediatamente e respondeu com outro discurso que se tornou famoso. Citemos apenas o seguinte:
“Meus senhores. O discurso que acabais de ouvir já recebeu o merecido castigo com os aplausos da oposição”. A essas palavras, a esquerda interrompe-o furiosamente. Durante cinco minutos, o orador não pode falar. Depois, retomando o fio do discurso, disse: “Uma vez que a palavra “castigo” vos feriu, retiro-a e em lugar dela ponho “recompensa”.
É nesse discurso que se leem estas célebres palavras: “Pode-se negar a força da Santa Sé, mas não a sua fraqueza, que constitui a sua força invencível... Permiti-me uma comparação familiar. Quando um homem é condenado a lutar com uma mulher, se essa mulher não é a última das criaturas, pode afrontá-lo impunemente. Ela diz: “Batei-me, mas ficareis desonrado e não me vencereis”. Pois bem; a Igreja é uma mulher, e muito mais que uma mulher, é uma mãe. Sim, é uma mãe, a mãe da Europa, a mãe da sociedade moderna. Seja alguém embora um filho revoltado, um filho ingrato, um filho desnaturado, é sempre seu filho; e vem o momento, em que esta luta parricida se torna insuportável ao gênero humano e aquele que a determinou cai abatido, seja pela derrota, seja pela reprovação unânime da humanidade”. /
Jamais naquele recinto discurso algum foi tão aplaudido como o de Montalembert.

21 de novembro de 2016

Contribua - Associação Civil São Pio V

Prezados Amigos, Salve Maria!

Um dos objetivos na constituição da Associação Civil São Pio V é auxiliar no custeio das vindas dos Padres do Instituto Bom Pastor para a cidade de Curitiba, especialmente o Padre Renato Coelho, favorecendo aos fiéis na assistência à Missa Tridentina. Como é de conhecimento, o Padre Renato recebeu do Arcebispo Metropolitano de Curitiba Dom José Antônio Peruzzo autorização para o seu apostolado em Curitiba. No entanto, os fiéis devem prover as necessidades do sacerdote para manutenção do seu apostolado.

Atualmente as missas são rezadas na Capela da Polícia Militar, gentilmente cedida pela Associação da Vila Militar - AVM.

Para manter o apostolado em questão, temos muitos gastos, entre eles:
a) Passagens aéreas de ida e volta entre São Paulo e Curitiba;
b) Despesas bancárias para manutenção da conta corrente da associação no Banco do Brasil;
c) Coffee-break's oferecido nas palestras proferidas pelos Padres;
d) Velas utilizadas nas missas;
e) Carvão utilizado para o incenso;
f) Incenso;
g) Hóstias para a consagração;
h) Vinho canônico;
i) Serviços de contabilidade da associação; e
j) Serviços gráficos para materiais utilizados nas missas, congressos, palestras, divulgação, entre outros.

Salientamos que existem outros gastos na vinda dos padres, atualmente é mantido por um benfeitor da associação, como deslocamentos na cidade, alimentação, pousada, entre outros.

Diante dos fatos citados anteriormente, pedimos encarecidamente, dentro da possibilidade de cada um, contribuir mensalmente para a Associação Civil São Pio V, através do Banco do Brasil (001); Agência: 2823-1; Conta corrente: 46792-8 e CNPJ: 24.449.288/0001-44. Informamos que as doações apresentadas pelos fiéis na coleta do ofertório, são destinadas para as necessidades da Capela da Associção da Vila Militar - Polícia Militar, não sendo direcionada para a Associação Civil São Pio V e nem para os sacerdotes do IBP - Instituto Bom Pastor.

Por menor que seja sua contribuição, com certeza nos ajudará a cobrir nossas despesas para manutenção do apostolado tão profícuo do Padre Renato Coelho em Curitiba.

Agradecemos antecipadamente por sua ajuda

Rezem por nós

Associação Civil São Pio V

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

II

Já admiramos quão profundos são os caminhos da Sabedoria divina em preparar o mistério da vinda do Homem Deus. Mas há mais.
Enquanto, por uma série de maravilhas, conserva intactas, no povo escolhido, as promessas primitivas, confirmando-as e desenvolvendo-as sem cessar por meio de profecias ; enquanto faz servir os próprios cativeiros sucessivos do povo judeu, que se tornará por vezes infiel, para levar o conhecimento dessas promessas até às nações estrangeiras, a Sabedoria eterna dirige igualmente
os destinos dessas nações.
Sabeis como, durante esse longo período de quarenta séculos, Deus, que «tem na Sua mão os corações dos reis» e cujo poder é igual à Sua Sabedoria, ergue e derruba, um após outro, os mais vastos impérios. Ao império de Ninive, que se estende até ao Egito, faz suceder o de Babilônia: depois, segundo predisse Isaías, «chama Ciro Seu servo», rei dos Persas, e coloca em suas mãos o cetro de Nabucodonosor; depois de Ciro é Alexandre que Ele faz senhor das nações ; até que, finalmente, transfere para Roma o império do mundo, império cuja unidade e paz servirão os desígnios misteriosos da difusão do Evangelho.
Está chegada a «plenitude dos tempos»; o pecado e o erro inundam o universo ; o homem sente a
fraqueza em que o retém o seu orgulho ; todos os povos estendem os braços para esse libertador tantas vezes prometido, há tanto tempo esperado: Et veniet desideratus  cunctis gentibus.
Chegada essa plenitude, Deus coroa todos esses preparativos, enviando S. João Baptista, o último dos profetas, mas que Ele tornará maior do que Abraão, maior do que Moisés, maior do que todos os outros, como Ele próprio declara:  Non surrexit  inter  natos mulierum major ]oanne Baptista .  É  Jesus Cristo quem o diz. E porquê?
Porque Deus quer fazer dele o arauto por excelência, o próprio Precursor de Seu Filho muito amado: Propheta Altissimi voc:aberis .  Para realçar ainda mais a glória desse Filho que vai enfim introduzir no mundo, depois de tantas vezes O ter prometido, Deus compraz-se em fazer sobressair a dignidade do Precursor que deve testemunhar que a luz e a verdade apare­ceram já sobre a terra:  Ut testimonium perhiberet de lumine.
Deus quer que ele seja grande, porque a sua missão é grande, porque foi escolhido para preceder de tão perto Aquele que há-de vir. Deus mede a grandeza dos santos pela aproximação que eles têm com Seu Filho Jesus.
Vede como Ele eleva este Precursor para mostrar mais uma vez, pela excelência deste último profeta, qual a dignidade do Seu Verbo. Escolhe-o duma estirpe especialmente santa : um Anjo anuncia a sua vinda, im­põe-lhe o nome e marca a extensão e a importância da sua missão ; Deus santifica-o no seio da mãe : operam­-se prodígios em torno do seu berço, a ponto de as ditosas testemunhas dessas maravilhas perguntarem entre si, admiradas: «Quem será este menino»? 
Mais tarde, a santidade de João manifestar-se-á tão grande, que os judeus virão perguntar-lhe se ele é o Cristo esperado. João, porém, tão favorecido de graças divinas, protesta que é apenas enviado para ser a voz a bradar: «Preparai o caminho do Senhor, que está aí a vir».
Os outros profetas só viram o Messias de longe : este vai apontá-Lo com o dedo e em termos tão claros, que todos  os  corações sinceros  o  compreenderão;  «Eis  o  Cordeiro de Deus», eis Aquele que é objecto de todos os desejos do gênero humano, porque vem apagar os pecados do mundo:  Ecce  Agnus Dei .  «Ainda não  O conheeis, apesar de estar no meio de vós»:  Medius  vestrum stetit  quem  vos  nescitis.  «Ele é maior do que eu, pois era antes de mim: é tão grande, que eu não sou digno de Lhe desatar as correias dos sapatos; tão grande, que vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre Ele; eu vi-0 e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus». Que mais dirá? «Ele vem do céu, está acima de todos;  e  do que viu e ouviu, disso dá testemunho; Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus, porque Deus não Lhe dá o Seu Espírito por medida; o Pai ama o Filho e tudo pôs nas Suas mãos. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanece sobre ele» .
São estas as últimas palavras do Precursor. Com elas acabará de preparar as almas para receberem  o Messias. Com efeito, quando o Verbo lncarnado, único que pode dizer as palavras do alto, porque está sempre in sinu Patris ,  iniciar a Sua missão pública de Sal­vador, João desaparecerá; não voltará a dar testemunho da verdade, senão pela efusão do seu sangue.
Chegou finalmente o Cristo que ele introduziu. Ele é essa luz da qual João dava testemunho, e todos aqueles que crerem nessa luz terão a vida eterna. É somente a Ele que devemos agora dizer: «Senhor, para quem iremos? Só Vós tendes palavras de vida».

20 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 207

PÃO E PARAÍSO

S. Filipe Néri, numa excursão fora de Roma, viu um camponês que arava o seu campo. Cumprimentou-o amavelmente, como quem queria um dedinho de prosa, e disse:
— Amigo, que é que está fazendo?
— Trabalhando, padre. Preparo a terra para plantar.
— Oh! sim, trabalha porque espera uma bela colheita... Deus lhe dê uma muito abundante; mas diga-me: É só por isso que trabalha?
— Não, padre; tenho mulher e filhos. Trabalho para eles.
— E por outro motivo, não?
— Sim: há anos que tenho a esperança de fazer alguma economia e comprar uma casa...
— Ótimo, meu amigo! mas espero que trabalhe por outro fim também...
— Mas qual, padre? Talvez para beber todos os domingos quatro copos do nosso excelente vinho romano?
— Bem! Bem! não tinha pensado nisso. E não trabalha, então, por nenhum outro fim?
O camponês olhou para o padre, como que dizendo: que eu saiba, nenhum outro fim...
— Então, meu amigo, você não trabalha para o céu? Bom homem, filhos e mulher, casa e vaquinha não o acompanharão ao outro mundo. Diga a Deus que aceite as suas fadigas, as suas penas, o seu trabalho, enfim, pela salvação da alma, por um cantinho no Paraíso, e Deus o recompensará. Recorde-se sempre, meu amigo: Pão e Paraíso!

19 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

I

Sabeis que foi logo depois do pecado dos nossos primeiros pais, na origem da raça humana já rebelde, que Deus começou a revelar o mistério da Incarnação. Adão e Eva, cheios de vergonha e desespero pela falta que haviam cometido, prostram-se diante do Criador e não ousam levantar os olhos ao céu. E eis que, antes mesmo de pronunciar a sentença que os expulsa do paraíso terrestre, Deus lhes faz ouvir as primeiras palavras de perdão e esperança.
Em lugar de serem amaldiçoados e expulsos para sempre da presença de Deus, como foram os Anjos rebeldes, eles terão um Redentor que aniquilará o poder que o demônio sobre eles adquiriu. E como o pecado deles começou pela prevaricação da mulher, esta Redenção será operada pelo filho duma mulher:  lnimicitias ponam inter te et mulierem, et semen tuum et semen illius: ipsa
conteret caput tuum.
É o que se chama o «Prato-evangelho»: a primeira palavra da salvação. É a primeira promessa da Redenção, a aurora das misericórdias divinas para com a terra pecadora, o primeiro raio dessa luz que deve um dia vivificar o mundo, a primeira manifestação do mistério oculto em Deus desde toda a eternidade.
Depois desta promessa, toda a religião da raça humana e, mais tarde, toda a religião do povo escolhido se concentra em volta «desse fruto da mulher», desse semen mulieris  que deve libertar os homens.
À medida que os anos passam e os séculos se sucedem. Deus confirma a Sua promessa, repete-a com mais solenidade. Assegura aos patriarcas, Abraão, lsaac e Ja­cob. que é da sua raça que sairá o fruto abençoado:  Et benedicentur in semine tuo omnes gentes terrae;  mostra a Jacob moribundo que é da tribo de Judá que sairá «Aquele que deve vir, o objeto das aspirações de todos os povos»:  Donec veniat qui mittendus est, et ipse erit exspectatio gentium.
As nações, esquecendo as revelações primitivas, abismam-se insensivelmente no erro. Deus escolhe então um povo que será o depositário das Suas promessas; durante séculos lembrará  a  este povo essas promessas: renová-las-á, tornando-as cada vez mais claras e abundantes: será a era dos profetas.
Se percorrerdes os oráculos sagrados dos profetas de Israel, vereis que os traços com que Deus pinta a  pessoa do Messias futuro e nota os caracteres da Sua missão são, por vezes, tão opostos, que parece não ser possível encontrarem-se na mesma pessoa. Os profetas ora atribuem ao Redentor prerrogativas que só podem convir a um Deus, ora predizem para esse Messias um
acervo de humilhações, de contradições, de enfermidades e de sofrimentos que não mereceria padecer o último dos homens.
Constantemente encontrareis este contraste surpreendente.
Vejamos. por exemplo, David, o rei querido do coração de Deus. O Senhor jura firmar-lhe a sua raça para sempre: o Messias será da família real de David. Deus mostra-o a David como «seu Filho  e seu Senhor: seu Filho pela Humanidade que tirará um dia duma virgem da sua estirpe ; seu Senhor pela Divindade. David contempla-O nos esplendores santos, gerado  eternamente antes do romper da aurora, Pontífice supremo segundo Melquisedeque, sagrado para reinar sobre nós pela Sua doçura, pela Sua verdade e pela Sua justiça»; numa palavra, «o próprio Filho de Deus, a quem serão dadas em herança todas as nações»: Dominus dixit ad  me:  Filius meus es tu, ego hodie ge­nui te: postula a me et dabo tibi gentes haereditatem tuam. S. Paulo faz notar aos hebreus que estas prerrogativas são próprias só dum Deus.
Mas David contempla «as Suas mãos e pés traspassados, as suas vestes repartidas, a túnica deitada  à sorte: vê-O  saciado de fel e vinagre» . Depois, eis de novo os atributos divinos: «A corrupção do túmulo não  O  atingirá: mas, vencedor da morte, sentar-se-á  à  direita. de Deus».
Este contraste não é menos notável em Isaías, o grande Vidente, tão preciso e facundo, que poderíamos chamar-lhe o quinto Evangelista; dir-se-ia que relata fatos já passados e não que profetiza acontecimentos futuros.
O  profeta, transportado aos céus, proclama «inenarrável» a geração deste Messias:  Generationem ejus qui enarrabit.  Dá-lhe nomes que jamais homem algum teve: «Será chamado o Admirável,  o  Deus forte, o Pai do século futuro, o Príncipe da Paz ; gerado duma virgem, será chamado Deus conosco,  Emma­nuel. Isaías descreve-O  «levantando-se  como uma aurora brilhante como um facho» ;  vê-O «dar vista aos cegos, ouvido aos surdos, fala aos mudos, andar aos coxos» ; mostra-o constituído < chefe e preceptor das nações pagãs» ; vê «os ídolos caírem diante dele», e ouve Deus prometer com juramento que «diante deste Senhor todo o joelho se dobrará e toda a
língua confessará o Seu poder».
E,  no entanto, este Redentor, que o profeta assim exalta, há de ser acabrunhado de tais sofrimentos, aniquilado por humilhações tais, que será considerado como o último dos homens, como um leproso, castigado por Deus e abismado no opróbio; levado à  morte como um cordeiro, posto no rol dos malfeitores, porque aprouve ao Senhor esmagá-lo com a enfermidade.
Podereis confrontar, na maior parte dos profetas, esta oposição de termos com que descrevem as grandezas e o aniquilamento, a força e a fraqueza, os sofrimentos e a glória do Messias. Vereis com que condescendente sabedoria Deus preparava os ânimos para a revelação dum Homem Deus, ao mesmo tempo Senhor supremo adorado por todas as nações e Vítima dos pecados do mundo.
A economia da misericórdia divina, como sabeis, baseia-se inteiramente na fé; esta é a «base e a raiz de toda a justificação». Sem fé, nem a própria presença material de Jesus Cristo poderia produzir nas almas a plenitude dos Seus efeitos.
Ora a fé é-nos comunicada pela ação interior do Espírito Santo que acompanha a exposição das verdades divinas, feita pelos profetas e pregadores:  Fides ex auditu .
Lembrando tantas vezes as Suas primitivas promessas, revelando pouco a pouco, pela voz dos profetas. os traços do Redentor futuro, quis Deus fazer brotar nos corações dos justos do Antigo Testamento as disposições necessárias para que a vinda do Messias lhes apro­veitasse. E assim, quanto maior era a fé e a confiança dos justos da Antiga Aliança nas promessas anunciadas pelos profetas, mais eles ardiam no desejo de as ver realizadas, e mais preparados estavam para receber a abundância das graças que o Salvador devia trazer ao mundo.
Foi por isso que a Virgem Maria, Isabel, Zacarias, Simeão, Ana e as outras almas fiéis que viviam no mundo no momento da vinda de Jesus Cristo, O reconheceram e imediatamente foram inundados das Suas graças.
Vedes como Deus quis preparar os homens para a vinda de Seu Filho  à  terra. S. Pedro podia com razão dizer aos judeus que eles eram «os filhos dos profe­tas, e S. Paulo podia escrever aos hebreus «que antes de os ensinar por Seu próprio Filho. Deus falara a seus pais pela voz dos profetas, muitas vezes e de diversas maneiras  » :  Multifariam multisque  modis.
Por este motivo, os judeus fiéis esperavam constantemente o Messias. A sua fé mostrava.-lhes na pessoa daquele Redentor um enviado divino, um rei, um Deus, que devia acabar com as misérias e aliviá.-los do peso das suas faltas. Só têm uma aspiração: «Enviai, Senhor, aquele que há-de vir>>. Só têm um desejo: contemplar a face do Salvador de Israel. O Messias prometido era o objeto para o qual convergiam todos os anelos, todos os desejos, todo o culto e toda a religião da Antiga
Aliança; o Antigo Testamento é um Advento prolongado, cujas orações se resumem neste apelo de Isaías: Emitte Agnum, Domine, Dominatorem terrae: «En­viai, Senhor, o Cordeiro que há de reinar sobre toda a terra ; que os céus derramem o orvalho e nos dêem o justo>>:  Rorate caeli desuper, et nubes pluant justum: « Abra-se a terra e germine o Salvador » ;  Aperiatur terra et germinet Salvatorem !

18 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 206

SE AINDA HOUVER LUGAR

Um florista recebeu ordem de confeccionar urna coroa para um funeral. Na fita deveria escrever: “Descansa em paz! Adeus!” Duas horas mais tarde, o florista recebe um telefonema: Queira acrescentar à inscrição da fita: “no céu”, se ainda houver lugar.
No dia seguinte, os convidados para o enterro, surpreendidos e maravilhados, podiam ler na fita: “Descansa em paz! adeus no céu, se ainda houver lugar!”
Esforcemo-nos, pois, por merecer o Céu; se assim o fizermos, certamente ainda haverá lá um lugar para nós!

17 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

V I
PREPARAÇÕES  DIVINAS
(Tempo do Advento)

A FONTE  de todas as bênçãos de Deus sobre nós está  na  escolha que Ele fez das nossas almas,
desde a eternidade, para as tornar <
Diz S. Paulo «que esta adoção nos foi dada pela graça de Jesus Cristo, enviado por Deus na plenitude dos tempos» :  At ubi venit plenitudo temporis misit  Deus Filium suum factum  ex muliere  . . .  ut adoptionem  fíliorum reciperemus.
Este desígnio eterno de Deus <
Como sabeis, foi durante quatro mil anos que Deus quis preparar a humanidade para a revelação deste mistério. Por que razão demorou Deus tantos séculos a vinda do Seu Filho ao meio de nós? Nós, simples criaturas, não podemos penetrar o último porquê das condições em que Deus realiza as Suas obras ; Ele é o Ser infinitamente soberano «que não precisa de conselhei­ro». Mas é também «a Sabedoria personificada, que tudo regula com medida e equilíbrio, com força e doçura», Podemos, no entanto, examinar humildemente algumas das conveniências que Ele manifesta em Seus mistérios. Era preciso que os homens, que haviam pecado por orgulho  - Eritis sicut dii - fossem por uma prolongada experiência da sua fraqueza e da amplitude da misericórdia de Deus obrigados a reconhecer a necessidade absoluta que tinham dum Redentor em aspirar ardentemente pela sua vinda.
Com efeito, toda a religião do Antigo Testamento se resume neste brado que saía sem cessar do coração dos patriarcas e dos justos fiéis : «Céus, mandai-nos o vosso orvalho!  Abra-se a terra e dê-nos o Salvador» ! A ideia deste Redentor futuro abrange toda a Antiga Lei ; todos os símbolos, todos os ritos e sacrifícios o representam:  Haec omnia in figura contingebant illis: para Ele convergem todos os votos e todos os desejos. Segundo  a  bela expressão dum autor dos primeiros séculos, o Antigo Testamento trazia Jesus Cristo em suas entranhas :  Lex  Christo gravida erat. A religião de Israel era a espectativa do Messias libertador.
Além disso, a grandeza do mistério da Incarnação e a majestade do Redentor exigiam que a Sua revelação só aos poucos fosse feita. O homem, logo depois do pecado, não era digno de receber nem capaz de acolher  a manifestação plena do Homem-Deus. Por isso, Deus, com uma economia cheia de sapiência e, ao mesmo tempo, de misericórdia, só pouco a pouco, pela voz dos profetas, revelou este inefável mistério. Quando a humanidade estivesse suficientemente preparada, o Verbo,
tantas vezes anunciado, tantas vezes prometido, há tanto tempo esperado, surgiria em pessoa neste mundo para nos instruir:  Multifariam multisque modis olim Deus loquens patribus in prophetis ... novissime locutus est  nobis  ín  Fílio.
Indicar-vos-ei, pois, alguns traços dessas divinas preparações para a Incarnação. Veremos com que prudência Deus dispôs o gênero humano para receber a salvação; teremos então ensejo de agradecer ao «Pai das misericórdias» ter-nos feito viver «na plenitude dos tempos» - que ainda dura - em que concede aos homens o dom inestimável do Seu Filho.

16 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - 205

SEDE VELHACOS

S. Filipe Néri, que vivia rodeado de rapazes; disse-lhes um dia:
— Meus caros, se estiverdes bem atentos tenho uma bela coisa para dizer-vos.
— Diga, diga, padre Filipe — repetiram-lhe os rapazes cheios de curiosidade.
— Pois bem; eu vos digo que há neste mundo muitos loucos e muitos velhacos.
— Que quer o sr. dizer com isso, padre Filipe?
— É muito simples: os velhacos são os que, vivendo no meio do mundo, trabalham sempre para o céu; loucos, porém, são aqueles que se afadigam pelas coisas da terra e caminham para a perdido eterna.

15 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

v

Expondo segundo  S. Paulo a obra de Jesus Cristo Pontífice no céu não esgotamos as maravilhas do sacerdócio de Jesus.
O  céu tem a sua oblação eminente inefável mas contínua e gloriosa. O Verbo Incarnado não quis deixar o mundo sem lhe legar igualmente um sacrifício. É  a santa Missa, que recorda e reproduz ao mesmo tempo dum modo místico, a imolação do Gólgota.
O  sacrifício da cruz é o único sacrifício, como já disse ; é inteiramente suficiente ; mas Nosso Senhor quis que ele se renovasse para aplicar os seus frutos às almas.
Esta verdade será exposta mais pormenorizadamente quando contemplarmos o mistério da Eucaristia. Por agora, só quero dizer-vos como o nosso Pontífice per­petua o Seu sacrifício na terra.
Jesus Cristo escolhe certos homens a quem dá uma participação real do Seu sacerdócio. São os padres que o Bispo consagra no dia da ordenação. Com as mãos estendidas sobre a cabeça daquele que vai consagrar o Bispo invoca o Espirito Santo, pedindo-lhe para que desça à sua alma. Naquele momento poder-se-iam repetir ao sacerdote as palavras do Anjo a Maria: Spiritus Sanctus  superveníet  in  te.  O  Espírito Santo envolve-o para assim dizer e opera nele uma semelhança
e uma união tão estreita com Jesus que como Jesus Cristo se torna sacerdote para a eternidade. A tradição cristã denominou o sacerdote «outro Cristo» : é escolhido para ser em nome de Jesus Cristo, mediador entre o céu e a terra. a esta uma realidade sobrenatural Vede: quando o sacerdote oferece o sacrifício da Missa que reproduz o sacrifício do Calvário identifica-se com Jesus Cristo. Não diz: «isto é o corpo de Cristo, isto é o sangue de Cristo». Se assim o fizesse, não haveria sacrifício. Mas diz : «isto é o meu corpo, isto é o meu sangue».
Desde aquele momento, o sacerdote, consagrado a Deus pelo Espírito Santo, torna-se, como Jesus Cristo, Pontífice e Mediador entre os homens e Deus, ou antes, é a mediação única de Jesus Cristo que se prolonga na terra, através dos tempos, pelo ministério dos sacerdotes. O padre oferece a Deus, em nome dos fiéis, sobre o altar, o sacrifício eucarístico ; do altar distribui ao povo
a Vítima sagrada, o pão da vida, e, com ele, todos os dons e todas as graças.
O altar é, na terra, o centro da religião de Jesus, como o Calvário é o remate e a culminação da Sua
vida. Todos os mistérios da existência terrestre de Jesus convergem, como já disse, para a imolação da cruz ; todos os estados da Sua vida gloriosa aí vão haurir o seu esplendor.
É por isso que a Igreja não comemora nem celebra mistério algum de Jesus sem oferecer o santo sacrifício da Missa. Todo o culto público organizado pela Igreja gravita em torno do altar ; o conjunto de leituras, orações, louvores e homenagens, que se denomina Ofício divino, em que a Igreja descreve  e  exalta os mistérios do Seu celeste Esposo, foi por ela regulado para enquadrar o sacrifício eucarístico.
Seja, pois, qual for o mistério de Jesus que cele­bremos, não podemos, depois de o termos contemplado e.  meditado com a Igreja, participar nele de modo mais perfeito nem prepara- nos melhor para dele colhermos os frutos, do que assistindo com fé e amor ao sacrifício da Missa e unindo-nos, pela Comunhão, à  Vítima divina por nós imolada sobre o altar.
Conta-se na vida de Maria d'Oignies que Nosso Senhor costumava, nas diferentes festas, aparecer-Ihe no Santíssimo Sacramento  vestido de harmonia  com  o mistério que se celebrava.
Nada temos a invejar-lhe. Pela Comunhão, Jesus Cristo não se mostra somente à alma vem a ela comuni­ca-lhe todo com a Sua Humanidade de Pontífice mise­ricordioso que conhece as nossas fraquezas, com a virtude da Sua Divindade que nos pode elevar até Ele, à direita do Pai. Vem a nós, não para se nos manifestar, mas para rogar ao Pai em nós e conosco : para Lhe oferecer homenagens divinas e unir a essas homenagens as nossas súplicas: vem principalmente para realizar no íntimo das nossas almas, por Seu Espírito, o fruto de cada  um  dos Seus mistérios.
Já deveis  ter  notado como a ação de graças que segue a santa oblação e á Comunhão (postcommunio) toma uma expressão diversa segundo os diferentes mistérios. Que significa isto, senão que Jesus Cristo, pela Comunhã, quer despertar em nós os pensamentos e sentimentos que experimentou vivendo o mistério celebrado nesse dia e aplicar-nos, consequentemente, os frutos particulares e as graças próprias desse mistério?  É o que a Igreja pede na  postcommunio  da festa do Rosário, em que soleniza a união da Mãe do Verbo Incarnado com todos os mistérios do Seu Filho Jesus. Que pede ela na oração da Missa? Lembra a Deus que «Seu Filho único nos mereceu as recompensas da salvação eterna pela Sua vida, morte e Ressurreição» ; depois roga-lhe «que, ao
honrar estes mistérios, imitemos o que eles contêm e obtenhamos o que prometem ».  Concede . . . ut haec mysteria recolentes, et imitemur quod continent et quod promíttunt assequamur. Pensamento idêntico inspira a  postcommunio  da festa : «Fazei, Senhor, que alcancemos as graças inerentes aos mistérios cuja memória celebramos»:  Ut mgsteriorum quae recolimus virtus percipiatur.
É assim que, pouco a pouco, se realiza a nossa identificação com Jesus : Hoc enim  sentite  in vobis quod et in Christo Jesus .  Não é esta a própria fórmula da nossa eterna predestinação :  Conformes fieri imaginis Filii ?
Tais sãos  os  traços essenciais da pessoa e da obra de Jesus Cristo .
O Verbo eterno, por nós feito carne, torna-se. pelos Seus mistérios e pelo Seu sacrifício, nosso Pontífice e nosso Mediador. Mediador que conhece as nossas necessidades, porque foi homem como nós ; Mediador omnipotente, porque é Deus com o Pai e o Espírito Santo; Mediador cuja meditação é incessante, no céu, pela Sua oblação eterna, na terra pelo sacrifício eucarístico.
Jesus Cristo realiza esta obra por nós : pro nobis. Jesus, pelo Seu sacrifício, não nos salva senão para nos associar à Sua glória.
Ó Senhor, quem descobrirá quão inefáveis são os desígnios da Vossa sabedoria? Quem celebrará a grandeza do dom que nos fazeis? Quem Vo-lo agradecerá dignamente?

14 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 204

COMO MORRE UM IMPERADOR

Na madrugada de 2 de setembro de 1558, sentiu o imperador Carlos V que suas forças estavam esgotadas e que ia morrer. Tomando a si mesmo o pulso, moveu a cabeça como se dissesse: Tudo está acabado. Pediu então aos frades presentes que rezassem as ladainhas e orações dos agonizantes, e a seu mordomo que acendesse os círios bentos. Pediu ao arcebispo Carranza que lhe desse o crucifixo, que servira à Imperatriz na passagem suprema da vida à morte, levou-o aos lábios e apertou-o duas vezes contra o peito. Em seguida, tendo na mão direita o círio bento, e estendendo a esquerda para o Crucifixo, que lhe apresentava o arcebispo, disse: “Este é o momento!” Pouco depois, pronunciou ainda o nome de Jesus e expirou, exalando dois ou três suspiros. Assim acabou — escreve Quijada, em sua dor e admiração — o mais notável dos homens que tem havido e haverá.

13 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV

A  oração de Jesus foi atendida ;  a imolação  que se lhe  seguiu alcançou, para todo o gênero  humano,  graças abundantes de perdão, de justificação, de união, de vida, de alegria  e  de glória.
Depois  de ter dito que Jesus Cristo fora constituído Pontífice  supremo  da Humanidade desde a Sua Incarnação, S. Paulo  acrescenta imediatamente; «Com grandes gritos e lágrimas, Jesus Cristo, durante  a Sua vida terrestre, ofereceu orações e súplicas  Aquele  que  podia salvá - lo da morte ; foi atendido por causa da Sua piedade  para com o Pai : porque, embora fosse  Filho, aprendeu, por seu sacrifício, o que é obedecer. E agora que  chegou ao termo, salva para sempre os que seguem
Seus passos».
S. Paulo atribui ainda a nossa santificação  à oblação oferecida por Jesus, no momento em que entrava neste mundo ; porque esse oferecimento, encerrava em germe a satisfação final, que é a imolação do Calvário ;É em virtude desta vontade que somos santificados pela oblação que Jesus Cristo fez, uma vez por todas, do Seu próprio corpo».
Por isso, toda a graça, qualquer que seja, nos vem da cruz ; não há uma só que não seja paga com o amor e com o sangue de Jesus ; o sacerdócio de Jesus Cristo torna-o o nosso único Mediador, sempre atendido. Por isso, o Apóstolo, na sua viva convicção, exclama: «Deus, ao dar--nos Seu Filho, não nos deu tudo»? Quomodo non etiam cum  illo omnia nobís donavít. «Eis que nos tornamos ricos, diz ainda, tão abundantemente ricos, que, de ora em diante, nenhuma graça nos falta» :  Ita ut NIHIL,  vobis desit in  ULLA  gratia !
Ó que absoluta e inabalável confiança desperta em nós esta revelação ! Em Jesus Cristo achamos tudo, possuímos tudo, e, se o quisermos, nele nada nos faltará: é a nossa salvação, a fonte de toda a nossa perfeição e de toda a nossa santificação !
É  tão grande o nosso Pontífice, tão extenso o Seu sacerdócio, que atualmente ainda Jesus Cristo desempenha o papel de Mediador e continua o Seu sacrifício para a nossa santificação. Como assim?
É  aqui sobretudo que o mistério se torna inefável. O sacerdócio eterno de Jesus Cristo encerra profundezas ocultas, que S. Paulo e S. João nos deixam entrever, um na Epístola aos hebreus, outro no Apocalipse.
O Apóstolo, emprega expressões magníficas para exaltar o sacerdócio eterno de Jesus.. <entado à direita da majestade divina, no mais alto dos 
céus. Temos em Jesus. o Filho de Deus, um Pontífice excelente que penetrou nos céus. Jesus Cristo entrou por nós no santuário dos céus, como precursor, na qualidade de Pontífice supremo. Porque Ele vive e permanece eternamente, possui um sacerdócio que não tem fim . . . sempre vivo para interceder por nós ; está
elevado acima de todos. os céus. Temos. pois, um Pontífice supremo, sentado à direita do trono da majestade divina. como ministro único do verdadeiro santuário que mão do homem não construiu».
Todas estas notáveis expressões nos mostram que Jesus Cristo continua a ser no céu, eternamente, nosso Pontífice, e prolonga a Sua oblação por nós.
Sem dúvida, S. Paulo não esquece que há um só sacrifício. o da cruz: UNA  enim oblatione, consummavit in sempiternum sancrificatos. Não é possível existir outro ; este sacrifício é único e definitivo.
Mas. diz ele, do mesmo modo que no Antigo Testamento, todos os anos o Sumo Sacerdote, depois de ter oferecido o sacrifício no primeiro tabernáculo do Templo, penetrava sozinho. com o sangue da vítima. no segundo tabernáculo, no Santo dos Santos e, apresentando-se assim diante do Senhor, terminava a sua obra de Pontífice, - assim também, continua S. Paulo. Jesus Cristo, depois de ter oferecido o seu sacrifício na terra, entrou, uma vez por todas. por Seu próprio sangue, não
num tabernáculo edificado pela mão dos homens, mas no santuário da Divindade:  Per proprium  sanguinem introivit  semel in sancta ... Assim, consuma na glória o Seu divino papel de mediador:  Nunc autem semel in consummatíone saeculorum, per hostiam  suam  apparuit.
Que faz Jesus Cristo neste santuário?  Qual é a Sua obra?


Já não pode merecer, é verdade ; a hora de  merecer cessou para Ele no momento em que exalou o derradeiro suspiro na cruz ; mas o tempo de nos aplicar os Seus méritos dura sempre. E é o que faz  Nosso Senhor. Está sempre diante do Pai para interceder por nós: Ut  appareat  NUNC  vultui Dei pro nobis. Aí, «sempre vivo»,  semper vivens,  porque «a morte já não tem império sobre Ele, oferece incessantemente por nós ao Pai o Seu sacrifício já consumado, mas que subsiste na Sua pessoa ; mostra-Lhe as cinco chagas, cujas cicatrizes quis conservar, chagas que são o penhor e o atestado solene da Sua imolação na cruz ; em nome da Igreja, de que é Chefe, une à Sua oblação ás nossas adorações, as nossas homenagens, as nossas orações, as nossas súplicas e ações de graças. Estamos constantemente presentes no pensamento do nosso compassivo Pontífice; constantemente  põe em ação, para a nossa santificação, os Seus merecimentos, as Suas satisfações
e o Seu sacrifício.
Por isso, há no céu, e haverá até ao fim dos séculos, um sacrifício celebrado em nosso favor por Jesus Cristo, dum modo eminente e sublime, mas em perpétua continuidade com a imolação da cruz:  Per hostiam suam apparuit.
Compreenderemos assim como, depois de ter entrevisto as grandezas e o poder deste sacrifício, S. Paulo nos dirige esta insistente exortação: «Já que temos em Jesus, o Filho de Deus, um excelente Pontífice que subiu aos céus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé». Que fé? A fé em Jesus Cristo, Mediador supremo, a fé no valor infinito do Seu sacrifício e dos Seus merecimentos,  a fé na ilimitada extensão do Seu divino crédito. Aproximemo-nos, pois, continua o Apóstolo, aproxime-mo-nos com segurança  - Adeamus  ergo cum fiducia - do trono da graça para alcançarmos misericórdia e sermos socorridos em tempo oportuno.
Com efeito, que graça pode-rá recusar-nos este Pontífice que sabe compadecer-se das nossas fraquezas, das nossas enfermidades e dos nossos sofrimentos, pois que, para assemelhar-se a nós, os experimentou todos : este Pontífice tão poderoso que, sendo Filho de Deus, trata com o Pai de igual para igual: VOLO  Pater; este Pontífice que se quer unir connosco como, num corpo, a cabeça com os membros? Que graças de perdão, de perfeição e de santidade não pode esperar uma
alma que procura sinceramente essa união pela fé, pela confiança e pelo amor? Não é Jesus «o Pontífice dos bens futuros»? Não tem o poder de operar infinitamente para além de tudo o que pedimos e concebemos»?
É por isso que, em todo o seu culto a Igreja, que melhor do que ninguém conhece o seu Esposo, não dirige oração alguma ao Pai celeste, não Lhe pede uma só graça sem marcar a sua súplica com o sinal da cruz, sem ter por intermediário Jesus Cristo, nosso Salvador e nosso Pontífice:  Per Dom:inum Nostrum Jesum  Christum.  Na Igreja,  esta  fórmula é de todos os dias, de todas as horas. É a proclamação incessante da mediação universal de Cristo ; mas é também a mais explícita e a mais solene confissão da Sua Divindade, porque a Igreja acrescenta imediatamente: «Que vive e reina convosco, ó Pai, e com o Vosso comum Espírito, por todos
os séculos dos séculos».

12 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 203

A COMUNHÃO DOS UNIVERSITÁRIOS

Entre as Universidades católicas dos Estados Unidos, a de “Nossa Senhora” de Indiana é sem dúvida uma das mais prósperas e mais bem organizadas.
O fato seguinte põe em relevo o espirito que reina entre os seus 1.200 alunos: mais de 500 comunhões são distribuídas diariamente na igreja da Universidade. E não se trata de formalismo. Para comungar os estudantes devem levantar-se bem mais cedo que os outros que não comungam. Além disso, mormente aos domingos, até há pouco, tinham de ficar em jejum até 10 horas.
Isto numa grande Universidade norte-americana! Poderia servir de exemplo a alunos e professores do nosso Brasil católico.

11 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

III

O  oferecimento que Jesus Cristo fez de Si mesmo foi pleno, total, contínuo ; compreendeu, porém. diferentes atos.
Em primeiro lugar, a  adoração.
Na Santíssima Trindade, o Filho é todo de Seu Pai, atribuindo-Lhe, para assim dizer, tudo o que é. Desde que o Verbo se fez carne, a Humanidade que a Ele se uniu, foi arrastada por essa inefável corrente que leva o Filho ao Pai. Mas como a Humanidade é criada, inferior à Divindade, este movimento traduz-se nela pela adoração. E esta adoração é intensa e perfeita ; desde o instante em que a Humanidade, em Jesus Cristo, se uniu ao Verbo, abismou-se em profunda adoração, num aniquilamento de si mesma, diante da majestade divina do Verbo eterno, cujas infinitas perfeições contemplava pela visão beatífica.
Havia a  ação de graças.
É certo que de todas as graças e de todas as misericórdias que Deus pode fazer, a maior, a mais eminente, foi concedida à Humanidade de Jesus : «Deus esco-­lheu-a, predestinou-a entre todas,  prae consortibus tuis, para ser a Humanidade do Seu Filho, para a unir, numa incompreensível união, ao Seu Verbo ; é uma graça única, que ultrapassa tudo o que o espírito humano pode conceber em matéria de comunicação da Divindade com a criatura.
Por isso, a alma de Jesus, saturada, por esta união, das delícias da própria Divindade, transbordava de ações de graças. Se nós mesmos, às vezes, não sabemos como exprimir ao Pai celeste a abundância da nossa gratidão, qual não deve ter sido o reconhecimento da alma de Jesus pela graça inefável que lhe era feita,  por todos os incomparáveis privilégios que deviam  resultar da sua união com o Verbo, não somente a título pessoal, mas como chefe do corpo místico?
Há  em seguida a  expiação.
A raça da qual o Verbo toma uma humanidade para a unir a Si é uma raça pecadora e decaída ; o Verbo desposou um corpo de pecado,  in similítudinem camis peccati .
Por certo que o pecado nunca o atingiu pessoalmente:  Tentatum autem per omnia pro similitudine,
absque peccato. Ele é o Cristo, isto é, o Pontífice por excelência, o Pontífice, diz S. Paulo, «tal qual nos era necessário, para que o Seu oferecimento fosse agradável a Deus : santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores e elevado acima dos céus. Mas o Pai carregou sobre Ele com os pecados de todos os homens: Posuit in eo iniquitatem omnium nostrum; segundo a enérgica expressão do Apóstolo, «Jesus tornou-se pecador por nós; e, por este motivo, o oferecimento
que fez de Si mesmo ao Pai, no momento da Incarnação, comprendia a pobreza do presépio, os aniquilamentos da vida oculta, as fadigas e as lutas de vida pública, os terrores da agonia, as ignomínias da Paixão e os tormentos duma morte sanguinolenta:  Semetipsum exinanivit
formam servi accipiens ... humiliavit semetipsum, factus obediens usque ad mortem, mortem autem crur:is. «Apesar de ser Deus, Jesus Cristo não quis valer-se da Sua igualdade com Deus ; mas humilhou-se a Si mesmo, tomando pela Incarnação a condição duma natureza criada, tornado-se semelhante aos homens : e, mostrando-se sob o aspecto dum homem, humilhou-se ainda, fazendo-se obediente até à morte da cruz».
Esta morte no Calvário era uma expiação de valor infinito, não só porque Jesus Cristo era Deus, mas também porque os Seus aniquilamentos atingiam o !imite da humilhação. «Jesus Cristo. morrendo na cruz, aceitou rornar-se para nós um como que refugo,  um  maldito»: Opprobium hominum et abjectio plebis :  e este aniquilamento extraordinário a que devia descer para  expiar o pecado desejou-o a alma de Jesus desde a sua entrada neste mundo, com tudo quanto encerrava de
humilhação, de sofrimento e de ignomínia.
Enfim. há neste oferecimento a  impetração,  isto é, a  súplica.
Nada nos diz o Evangelho acerca da oração de Jesus Cristo por nós na Incarnação, nem mesmo durante a  Sua vida pública, embora nos diga que Jesus «passava a noite  em  oração»: Erat pernoctans in oratione Dei .
S . João conservou-nos, porém,  o  texto da prece de Jesus por Seus discípulos e por nós, feita no momento de dar início à Paixão e consumar  o sacrifício ; é  a oração sacerdotal de Jesus. O Evangelho não encerra página mais bela do que esta. E como duvidar de que esta oração é o resumo e o eco final de todas as que Jesus Cristo fizera ao Pai durante a Sua vida?
«Pai. é chegada a hora : glorifica o teu Filho a fim de que o teu Filho te glorifique a ti ; porque lhe deste poder sobre , todo o homem para que comunique a todos os que lhe deste a vida eterna. Manifestei o teu nome aos homens que me confiaste... Sabem agora que tudo o que me deste vem de ti. . .  É por eles que rogo  .. .porque são teus. Pai santo, guarda-os em teu nome para que sejam um como nós ... Faço esta oração, enquanto estou no mundo. para que eles tenham em si  a  plenitude da minha alegria ... Não te peço que os  tires  do mundo, mas que os livres do mal. .. Vou oferecer-me em sacrifício por eles para que sejam verdadeiramente santificados ... Não peço somente por eles, mas  também  por todos os que, por meio da sua palavra, hão de crer em mim, para  que  todos  sejam  um assim, como tu, Pai, o és em mim  e eu em ti... Pai, quero que aqueles que me deste, aonde estou, também eles estejam comigo. para que vejam a  minha  glória ,  a glória que me deste, pois fui amado por ti antes da criação do mundo».
Que prece ! E  de que coração ela  brotou : Do coração de  Jesus. supremo Pontífice de toda a Humanidade, nosso Pontífice, no  momento  em  que se vai tornar a nossa  hóstia : Oh !  por que havemos tantas vezes de duvidar do poder de Jesus Cristo? Para quê desanimar, quando  Jesus,  verdadeiro Deus e verdadeiro homem, dirigiu tal  oração ao Pai, no  momento de O glorificar
infinitamente, imolando-se pelos  nossos pecados?
Jesus  Cristo  repetiu ainda por nós esta oração: «Pai, livra do mal  aqueles que  me  deste . . . para que tenham a  minha  alegria . . .   e  a tenham plenamente  . .  .para  gozarem da minha glória . . . e serem  um  em nós».

10 de novembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 202

TRIUNFO EUCARÍSTICO EM CHICAGO

Há anos o romancista Guilherme Stead escreveu um livro intitulado: “Se Cristo viesse a Chicago”. A conclusão era: “Fá-lo-iam parar, na estação!” É difícil o papel de profeta, mormente quando se trata de predizer catástrofes e ruína final à Igreja de Jesus Cristo. Nisso enganaram-se Herodes e Nero e Juliano Apóstata, e enganou-se também o Sr. Stead.
Com efeito, em junho de 1926, dirigiu-se Cristo em pessoa, sob as espécies eucarísticas, a Chicago e não o fizeram parar na estação, mas ali recebeu as maiores manifestações, ali o Congresso Eucarístico foi um dos grandes triunfos de Jesus Cristo.
Eis os dados estatísticos do seu triunfo: Peregrinos vindos de todas as partes do mundo 1.300.000; Cardeais 12; Delegados apostólicos 3; Arcebispos 57; Bispos 257; Prefeitos apostólicos 3; 500 Monsenhores e 6.000 sacerdotes. Entre 11 e 19 de junho chegaram a Chicago mais de 800 trens especiais e cerca de 122.000 automóveis. As despesas de viagem e alojamento dos peregrinos foram mais de 100 milhões de dólares; 5.000 foram as despesas das autoridades em cartazes e avisos; 26.000 operários trabalharam vários meses na preparação de todo o necessário.
Na primeira Missa no Stádium estiverem presentes 250.000 pessoas e 62.000 meninos cantaram a “Missa de Angelis”. No terceiro dia do Congresso as Comunhões distribuídas chegavam já a quatro milhões. Na noite do dia 22, 200.000 homens estavam alinhados no Stádium banhado por um mar de luzes e 200.000 vozes entoaram o hino americano implorando a bênção de Deus para a sua grande pátria. Cessado o canto, cada um dos fiéis acende a sua tocha e a levanta bem alto quando a Hóstia divina abençoa aquela imensa multidão. Ai está: o apóstolo de Satanás predisse que Jesus não iria além da estação de Chicago; entretanto, foi nessa cidade, e nesse país, na sua maioria protestante, que Jesus teve um dos seus maior.es triunfos. Na procissão de encerramento acompanharam Jesus-Hóstia nada menos de um milhão e duzentas mil pessoas.
Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera!