13 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV

A  oração de Jesus foi atendida ;  a imolação  que se lhe  seguiu alcançou, para todo o gênero  humano,  graças abundantes de perdão, de justificação, de união, de vida, de alegria  e  de glória.
Depois  de ter dito que Jesus Cristo fora constituído Pontífice  supremo  da Humanidade desde a Sua Incarnação, S. Paulo  acrescenta imediatamente; «Com grandes gritos e lágrimas, Jesus Cristo, durante  a Sua vida terrestre, ofereceu orações e súplicas  Aquele  que  podia salvá - lo da morte ; foi atendido por causa da Sua piedade  para com o Pai : porque, embora fosse  Filho, aprendeu, por seu sacrifício, o que é obedecer. E agora que  chegou ao termo, salva para sempre os que seguem
Seus passos».
S. Paulo atribui ainda a nossa santificação  à oblação oferecida por Jesus, no momento em que entrava neste mundo ; porque esse oferecimento, encerrava em germe a satisfação final, que é a imolação do Calvário ;É em virtude desta vontade que somos santificados pela oblação que Jesus Cristo fez, uma vez por todas, do Seu próprio corpo».
Por isso, toda a graça, qualquer que seja, nos vem da cruz ; não há uma só que não seja paga com o amor e com o sangue de Jesus ; o sacerdócio de Jesus Cristo torna-o o nosso único Mediador, sempre atendido. Por isso, o Apóstolo, na sua viva convicção, exclama: «Deus, ao dar--nos Seu Filho, não nos deu tudo»? Quomodo non etiam cum  illo omnia nobís donavít. «Eis que nos tornamos ricos, diz ainda, tão abundantemente ricos, que, de ora em diante, nenhuma graça nos falta» :  Ita ut NIHIL,  vobis desit in  ULLA  gratia !
Ó que absoluta e inabalável confiança desperta em nós esta revelação ! Em Jesus Cristo achamos tudo, possuímos tudo, e, se o quisermos, nele nada nos faltará: é a nossa salvação, a fonte de toda a nossa perfeição e de toda a nossa santificação !
É  tão grande o nosso Pontífice, tão extenso o Seu sacerdócio, que atualmente ainda Jesus Cristo desempenha o papel de Mediador e continua o Seu sacrifício para a nossa santificação. Como assim?
É  aqui sobretudo que o mistério se torna inefável. O sacerdócio eterno de Jesus Cristo encerra profundezas ocultas, que S. Paulo e S. João nos deixam entrever, um na Epístola aos hebreus, outro no Apocalipse.
O Apóstolo, emprega expressões magníficas para exaltar o sacerdócio eterno de Jesus.. <entado à direita da majestade divina, no mais alto dos 
céus. Temos em Jesus. o Filho de Deus, um Pontífice excelente que penetrou nos céus. Jesus Cristo entrou por nós no santuário dos céus, como precursor, na qualidade de Pontífice supremo. Porque Ele vive e permanece eternamente, possui um sacerdócio que não tem fim . . . sempre vivo para interceder por nós ; está
elevado acima de todos. os céus. Temos. pois, um Pontífice supremo, sentado à direita do trono da majestade divina. como ministro único do verdadeiro santuário que mão do homem não construiu».
Todas estas notáveis expressões nos mostram que Jesus Cristo continua a ser no céu, eternamente, nosso Pontífice, e prolonga a Sua oblação por nós.
Sem dúvida, S. Paulo não esquece que há um só sacrifício. o da cruz: UNA  enim oblatione, consummavit in sempiternum sancrificatos. Não é possível existir outro ; este sacrifício é único e definitivo.
Mas. diz ele, do mesmo modo que no Antigo Testamento, todos os anos o Sumo Sacerdote, depois de ter oferecido o sacrifício no primeiro tabernáculo do Templo, penetrava sozinho. com o sangue da vítima. no segundo tabernáculo, no Santo dos Santos e, apresentando-se assim diante do Senhor, terminava a sua obra de Pontífice, - assim também, continua S. Paulo. Jesus Cristo, depois de ter oferecido o seu sacrifício na terra, entrou, uma vez por todas. por Seu próprio sangue, não
num tabernáculo edificado pela mão dos homens, mas no santuário da Divindade:  Per proprium  sanguinem introivit  semel in sancta ... Assim, consuma na glória o Seu divino papel de mediador:  Nunc autem semel in consummatíone saeculorum, per hostiam  suam  apparuit.
Que faz Jesus Cristo neste santuário?  Qual é a Sua obra?


Já não pode merecer, é verdade ; a hora de  merecer cessou para Ele no momento em que exalou o derradeiro suspiro na cruz ; mas o tempo de nos aplicar os Seus méritos dura sempre. E é o que faz  Nosso Senhor. Está sempre diante do Pai para interceder por nós: Ut  appareat  NUNC  vultui Dei pro nobis. Aí, «sempre vivo»,  semper vivens,  porque «a morte já não tem império sobre Ele, oferece incessantemente por nós ao Pai o Seu sacrifício já consumado, mas que subsiste na Sua pessoa ; mostra-Lhe as cinco chagas, cujas cicatrizes quis conservar, chagas que são o penhor e o atestado solene da Sua imolação na cruz ; em nome da Igreja, de que é Chefe, une à Sua oblação ás nossas adorações, as nossas homenagens, as nossas orações, as nossas súplicas e ações de graças. Estamos constantemente presentes no pensamento do nosso compassivo Pontífice; constantemente  põe em ação, para a nossa santificação, os Seus merecimentos, as Suas satisfações
e o Seu sacrifício.
Por isso, há no céu, e haverá até ao fim dos séculos, um sacrifício celebrado em nosso favor por Jesus Cristo, dum modo eminente e sublime, mas em perpétua continuidade com a imolação da cruz:  Per hostiam suam apparuit.
Compreenderemos assim como, depois de ter entrevisto as grandezas e o poder deste sacrifício, S. Paulo nos dirige esta insistente exortação: «Já que temos em Jesus, o Filho de Deus, um excelente Pontífice que subiu aos céus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé». Que fé? A fé em Jesus Cristo, Mediador supremo, a fé no valor infinito do Seu sacrifício e dos Seus merecimentos,  a fé na ilimitada extensão do Seu divino crédito. Aproximemo-nos, pois, continua o Apóstolo, aproxime-mo-nos com segurança  - Adeamus  ergo cum fiducia - do trono da graça para alcançarmos misericórdia e sermos socorridos em tempo oportuno.
Com efeito, que graça pode-rá recusar-nos este Pontífice que sabe compadecer-se das nossas fraquezas, das nossas enfermidades e dos nossos sofrimentos, pois que, para assemelhar-se a nós, os experimentou todos : este Pontífice tão poderoso que, sendo Filho de Deus, trata com o Pai de igual para igual: VOLO  Pater; este Pontífice que se quer unir connosco como, num corpo, a cabeça com os membros? Que graças de perdão, de perfeição e de santidade não pode esperar uma
alma que procura sinceramente essa união pela fé, pela confiança e pelo amor? Não é Jesus «o Pontífice dos bens futuros»? Não tem o poder de operar infinitamente para além de tudo o que pedimos e concebemos»?
É por isso que, em todo o seu culto a Igreja, que melhor do que ninguém conhece o seu Esposo, não dirige oração alguma ao Pai celeste, não Lhe pede uma só graça sem marcar a sua súplica com o sinal da cruz, sem ter por intermediário Jesus Cristo, nosso Salvador e nosso Pontífice:  Per Dom:inum Nostrum Jesum  Christum.  Na Igreja,  esta  fórmula é de todos os dias, de todas as horas. É a proclamação incessante da mediação universal de Cristo ; mas é também a mais explícita e a mais solene confissão da Sua Divindade, porque a Igreja acrescenta imediatamente: «Que vive e reina convosco, ó Pai, e com o Vosso comum Espírito, por todos
os séculos dos séculos».

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